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Cardeal Steiner denuncia “A catarata da insensibilidade da alma que já não vê as necessidades do espírito e do corpo”

Cardeal Steiner denuncia “A catarata da insensibilidade da alma que já não vê as necessidades do espírito e do corpo”

“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte
e sentou-se… começou a ensiná-los em marcha os pobres de espírito”. Com as
palavras do Evangelho de Mateus começou o Cardeal Leonardo Steiner sua reflexão
do 4º Domingo do Tempo Comum. Lembrando também a segunda leitura, ele disse:
Considerai vós mesmos, irmãos, como fostes chamados por Deus”.

O
Evangelho, segundo o Arcebispo de Manaus, nos mostra que “somos vocacionados a
uma vida de plenitude”, lembrando que nas Bem-aventuranças “porque chamados a
viver o Reino de Deus, de sermos com Jesus, pobres em espírito, consolo, mansos
herdando a terra com bondade, termos fome e sede de justiça, sermos misericordiosos,
puros de coração, provedores da paz, herdeiros do Reino de dos Céus. Nas Bem-aventurados,
no alegrai-vos e exultai, nos damos conta, da vocação a que fomos chamados:
viver a graça do Reino de Deus, o modo de Deus
”.

Dom
Leonardo identificou a Bem-aventurança com a perseverança “pelo deserto da
injustiça, da perseguição”, mas também aqueles que são “perseverantes e
caminhantes na santificação e misericórdia
”, no consolo e na mansidão, na
liberdade e na pureza de coração. Um caminhar sem “jamais deixar de seguir
Jesus”, em um caminho onde “nos perfazemos bem-aventurados, bem-aventuradas,
felizes!”.
 

Segundo o cardeal, “as Bem-aventuranças definem nosso modo de
viver, de seguir a Jesus, de sermos os seus discípulos”. Para isso, temos que
entender que “sermos discípulos, discípulas de Jesus, é ser chamado a ser
bem-aventurado, bem-aventurada. Perseverar, caminhar, ousar fidelidade, não
olhar para trás quando na aflição, na pobreza, na fome, na perseguição, no
desconsolo, na injustiça. Perseverar, caminhantes no semear a paz, no espargir
misericórdia, no habitar a mansidão
. Movermos os pés e o coração quando os
olhos já não enxergam mais a Deus, ofuscados pela violência, ambição, paixão. Serão
purificados nossos olhos”.

O
desafio é viver “a lógica que o Reino de Deus nos oferece, pois oferece a
misericórdia, a sinceridade de coração, a luta pela paz, a perseverança diante
das perseguições, a pureza que deixa ver Deus”. Mas diante disso, ele
questiona: “O que soa aos nossos ouvidos na cotidianidade?”, respondendo que é “a
importância do eu, o egocentrismo, a força do dinheiro, do mercado, a
comodidade, o poder, a segurança, a ganância, o acúmulo, bem-estar. A
felicidade apresentada uma verdadeira ilusão, pois poder, liberdade aparente,
não satisfazem a existência de uma pessoa
”. Frente a isso a proposta de Jesus: “em
espírito generoso, acolhedor, solidário, realmente livre!”.
 

Refletindo
sobre a realidade, Dom Leonardo disse que “a vida nos é apresentada cheia de
sorrisos, de danças, de prazeres. Um lugar onde não existe nem fome nem dor,
nem choro nem lamento, sem aflição. Um mundo onde não há motivo e necessidade
de chorar
”. Isso contrasta com o felizes “os aflitos, porque serão consolados”.
Segundo o Arcebispo de Manaus, “somos sempre necessitados de consolo e seremos
felizes se formos consolo”.

Diante
do fato de vermos “que a força, a agressão, a violência são apresentadas como
solução da convivência humana”, Dom Leonardo lembrou o que nos diz Jesus: “os
mansos, possuirão a terra”, insistindo em que “os que realmente habitam, moram
na terra, no Reino de Deus são os mansos, não os agressores
”. Frente às “insinuações
da injustiça com suas artimanhas e depredações”, fez ver a proposta de Jesus: “Felizes
os que trilham o caminho da justiça e nela perseveram”.

Numa
sociedade onde “somos tocados pela realidade das ofensas, das agressões, o
desprezo pela reconciliação, a surdez para com o perdão, a dureza com a
fraqueza do outro
”, Jesus nos diz: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia”, vendo a felicidade naqueles que se deixam comover
pela miséria e pelo sofrimento dos outros.

 

O
cardeal denunciou a “catarata da ignorância, da insensibilidade”, que tomou
conta dos nossos olhos. Ele insistiu em que “o Mistério não conta. Se significa
algo, conta ideologicamente como imposição de ideias, perdendo a grandeza da
fé, o crer”. É por isso que Dom Leonardo denuncia “a
catarata da insensibilidade da alma que já não vê as necessidades do espírito e
do corpo”,
algo que podemos ver no que “está a acontecer com nossos irmãos
e irmãs Yanomami”, que comparou com o acontecido no holocausto contra os judeus
, dizendo abertamente que “perdemos nossa humanidade. É que
perdemos o coração, vendemos a nossa alma. Só os puros de coração veem a Deus e
veem a dignidade da pessoa humana e suas necessidades”.

Em
nossos dias a força, a violência, é “vista como solução; a guerra como
dominação, subjugação”. Diante disso a proposta de Jesus é a paz, o que o leva
a questionar: “Porque a guerra, a destruição, a violência? Por que essa
matança?
”. Em relação com a justiça do Reino, Dom Leonardo disse que “gera muitas
vezes desconforto, desalojamento, perseguição. Mas, enquanto a justiça do Reino
for nossa causa, estamos umbilicalmente ligados e alimentados pela força do
Reino da verdade e da graça, do amor, da justiça e da paz”.

Refletindo
sobre o ser felizes dos que tem espírito de pobre, Dom Leonardo os identifica com
os que sabem viver com pouco, com o suficiente, com o que concede dignidade,
confiando sempre em Deus
”. Ele destacou a felicidade das “comunidades eclesiais
com a força e alma de pobre, porque estará atenta e a serviço dos necessitados
e viverá do Evangelho com mais liberdade”. Também, em relação aos sofridos, vê
felizes àqueles “que vivem com coração benévolo, cordial e clemente”. Isso o
levou a ver felicidade nas “comunidades eclesiais cheias de mansidão e
acolhimento, pois serão uma dádiva para o nosso mundo agressivo e violento”.

 

Sobre
a felicidade dos que choram, dos que padecem “injustamente sofrimentos,
rejeição e marginalização”, Dom Leonardo disse que “com eles pode-se criar um
mundo melhor, mais digno, mais fraterno
”, algo que também destaca nas comunidades
eclesiais que sofrem por ser fiéis a Jesus. O cardeal identificou os que tem
fome e sede de justiça nos que “não perderam o desejo de ser justos e
solidários, nem a força de construir um mundo mais digno e justo”, mas também
nas “comunidades eclesiais que buscam com força e vigor a justiça do Reino”,
insistindo em que “a justiça se levantará e nelas surgirá uma humanidade com
novo espírito”.

Em
relação aos misericordiosos “que atuam, trabalham e vivem movidos pela
compaixão”, o Arcebispo de Manaus disse que “são os que, na terra, mais se
parecem com o Pai do céu, com o Espírito Santo, consolador”, e em relação com as
comunidades eclesiais, são aquelas “das quais Deus arranca o coração de pedra e
lhe concede um coração de carne, a bondade”. Os que são felizes porque trabalham
pela paz, “com paciência e fé, buscando o bem para todos”, as comunidades “que
semeiam e espargem no mundo a paz e não discórdia, reconciliação e não a
divisão”
, são vistas pelo cardeal como “expressão da presença de Deus”. Uma felicidade
presente nos perseguidos por causa da justiça, que “respondem com mansidão e
suavidade às injustiças e ofensas. Eles nos ajudam a vencer o mal com o bem”.

Dom
Leonardo encerrou sua homilia lembrando as palavras do Papa Francisco em relação às Bem-aventuranças, onde diz que “O
discípulo de Jesus, dado que assume esta atitude, é uma pessoa humilde, aberta,
livre dos preconceitos e da rigidez”. Daí, ele convidou a que
“trilhemos as pegadas do Evangelho, perseveremos no caminho que Jesus nos
oferece e seremos bem-aventurados, feliz, plenificados, vivificados
”.

Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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