Depois de
citar o texto do Evangelho que diz: “Enquanto estavam em Belém, completaram-se
os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou
e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc
2,4-8), o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia lembrando
que “aos domingos depois da missa, crianças vem para receber a benção. Quando
me abaixo e fico à altura de olhos nos olhos, elas se aproximam, normalmente
sorriem. É o que celebramos nesta vigília de Natal. Deus abaixou-se para que dele
pudéssemos nos aproximar. Abaixou-se, colocou-se olhos nos olhos, para que o
pudéssemos ver, sentir o seu perfume, perceber a suavidade de seu respiro.”
O arcebispo
incidiu e que “aproximou-se! Deixou-se envolver com faixas, panos e reclinado
na manjedoura. Aproximou-se: nasceu pobre, peregrino, na simplicidade, no quase
abandono! Nasceu escondido, no meio da noite, fora da cidade, sem casa, aos cuidados
de Maria e José, em meio de animais. Aproximou-se, recebendo como berço, como
lugar para repouso e acolhimento a manjedoura dos animais. Aproximou-se na fragilidade,
na nossa humanidade, revelando o seu rosto. No nosso rosto, Deus veio
mostrar-se, tornou-se visível. Veio ao nosso encontro na fraqueza, na ternura
de uma criança, na singeleza e inocência e fraqueza da nossa humanidade; Deus feito
menino, proximidade!”
Segundo o cardeal
Steiner: “O ‘Deus próximo’ fala-nos de humildade. Não é um ‘grande Deus’
distante… não. Está próximo. É de casa. Aproximou-se iluminando os que viviam
à margem, os esquecidos, os pastores. Naquela noite, Aquele que não tinha um
lugar para nascer é anunciado àqueles que não tinham lugar nas mesas e nas ruas
da cidade. Os pastores foram os primeiros a receber a Boa Notícia da
proximidade de Deus.”
Recordando
as palavras de Papa Francisco na Vigília do Natal de 2017, ele disse: “Pelo seu
trabalho, eram homens e mulheres que tinham de viver à margem da sociedade. As
suas condições de vida, os lugares onde eram obrigados a permanecer,
impediam-lhes de observar todas as prescrições rituais de purificação religiosa
e, por isso, eram considerados impuros. Traía-os a sua pele, as suas roupas, o
seu odor, o modo de falar, a origem. Neles tudo gerava desconfiança. Homens e
mulheres de quem era preciso estar distante, recear; eram considerados pagãos
entre os crentes, pecadores entre os justos e estrangeiros entre os cidadãos. A
eles – pagãos, pecadores e estrangeiros – disse o anjo aproximou-se deu a bela
notícia: “Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo
o povo: ‘Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias
Senhor’ (Lc 2, 10-11).”
“Abaixou-se como ‘recém-nascido envolvido em
faixas e deitado numa manjedoura’ (Lc 2,12). E os que se aproximaram na
possibilidade do abaixamento de Deus, ficaram maravilhados a ponto de Lucas
afirmar: ‘os pastores voltaram louvando e glorificando a Deus por tudo o que
tinham ouvido e visto (Lc 2,20). Ouviram anjos, mas viram Deus menino: pobreza,
singeleza, silêncio, respiro, suspiro. No meio da noite pelo abaixamento, viram
que havia uma semelhança entre Deus e eles. No abaixamento de Deus, não eram
mais marginalizados, empobrecidos, indignos, desfavorecidos. Agora não mais sós
a cuidar dos rebanhos. Eram filhos e filhas amados de Deus. Deus se fez filho
como nos anunciava profeta: “um filho nos foi dado”, refletiu o cardeal.
Ele afirmou: “O esperado das nações, o
implorado por gerações, hoje celebrado nas palavras do profeta como o nascido
menino, o filho que nos foi dado (Is 9,5). Deus se abaixou a tal ponto que se
fez nosso filho, na sua filiação somos todos filhas e filhas de Deus. Deus
gerado em nossa humanidade. A humanidade, por desejo e ação de Deus, foi capaz
de gerar Deus. Agora não mais distante, mas proximidade, carne da nossa carne,
para dizer o quanto ama, pois sinal de bondade e de misericórdia.”
“Agora Ele mesmo no meio de nós, como um de
nós, não outro de nós. Um de nós, como nós, pequeno, necessitado, dependente,
necessitado de amor materno, paterno. Custa-nos crer que Deus seja tão próximo
de nós, que se tenha abaixado a tal ponto que o podemos tomar nos braços,
abrigá-lo, acariciá-lo, sentir o seu perfume. Às vezes nos é penoso confessar
que Deus seja apenas uma criança, tenha o nosso corpo, que participa das nossas
necessidades, da finitude humana”, destacou o presidente do Regional Norte1 da
CNBB.
Segundo ele, “Nesta noite vemos e apalpamos a
proximidade de Deus, o abaixamento de Deus; como está próximo, pede-nos que estejamos
próximos uns dos outros, que não nos afastemos uns dos outros. Deus se fez
homem, próximo dos pastores, dos Magos, dos pobres, dos necessitados e foi para
todos, sinal de consolo, cura e salvação.” Lembrando novamente as palavras de
Papa Francisco, o cardeal disse: “Estar próximo aos últimos, curvar-se diante
de suas feridas, cuidar de suas necessidades, é lançar uma boa base na
construção de comunidades unidas e sólidas, para um mundo melhor e um futuro de
paz. É o próprio Cristo que vem ao nosso encontro nos pobres, para nos mostrar
o caminho para o Reino dos Céus, Ele que se fez pobre para nos enriquecer com
sua pobreza.”
Recordando que “desejávamos chegar a Belém,
porque Ele nos esperava. Agora ao contemplarmos o abaixamento de Deus, dobremos
reverentes e contentes os joelhos: um Filho nos foi dado!”, o arcebispo de
Manaus pediu: “dobremos os joelhos e reverentes e contemplantes acolhamos a
Criança envolta em panos e deitada entre animais, pastores e anjos. Dobremos os
joelhos diante de Deus indefeso, Deus gemido: Tu, colocado numa manjedoura,
és a Vida, vida da nossa vida. Necessitamos da terna fragrância do teu
amor, a fim de tornar-nos, esperança e paz para no mundo. Toma-nos sobre os
teus ombros frágeis de menino: amados por Ti, também nós amaremos as irmãs e os
irmãos. Então será Natal,quando pudermos confessar: ‘Senhor, Tu sabes tudo; Tu
sabes que eu te amo!’ (Jo 21,17), amando os irmãos.”
“Nesta noite, maravilhados com a presença do
Deus-criança, voltamos para as nossas casas, nossas famílias, admirados com
abaixamento de Deus. Com Ele na nossa humanidade, o levamos a todos para que
possam, por Deus ser tão próximo de nós, viver da admiração. Diante da singeleza,
da pobreza, da nadificação de Deus: proximidade, admiração, disponibilidade,
prostração, delicadeza, receptividade, adoração, gratuidade. Ao mostrarmos a
Jesus, digamos como os anjos aos pastores: ‘Não temais! Nasceu para vós o
Salvador’, o recém-nascido, nú, envolto em faixas e deitado numa manjedoura”,
sublinhou o cardeal Steiner.
Comentando a segunda leitura da celebração, ele
destacou “como foram alentadoras as palavras de Paulo a Tito na segunda leitura”,
citando o texto: “Ele se entregou por nós, para nos resgatar de toda a maldade
e purificar para si um povo que lhe pertença e se dedique a praticar o bem”
(11,14). Ao respeito, ele destacou que “No seu abaixamento nos elevou, nos
dignificou, nos deificou. Chegou nossa esperança e podemos manifestar a glória
da grandeza de Deus na fragilidade infantil de Belém.”
Igualmente, ele
chamou a recordar a vibração de Santo Agostinho diante do abaixamento de
Deus: “Saltem de júbilo os homens, saltem de júbilo as mulheres; Cristo nasceu
varão e nasceu de mulher, e ambos os sexos são honrados n’Ele. Pulai de prazer,
santos meninos, que escolhestes principalmente a Cristo para imitar no caminho
da pureza; brincai de alegria, virgens santas; a Virgem deu à luz para vós para
desposar-vos com Ele sem corrupção. Dai mostras de júbilo, justos, porque é o
natalício do Justificador. Fazei festas vós os fracos e enfermos, porque é o nascimento
do Salvador. Alegrai-vos, cativos; nasceu vosso redentor. Alvoroçai-vos,
servos, porque nasceu o Senhor. Alegrai-vos, livres, porque é o nascimento do
Libertador. Alegrem-se os cristãos, porque nasceu Cristo.”
“No meio da noite a nossa humanidade se faz
Luz, chegou nossa esperança. Na noite resplandece a luz! O nascer de Deus veio
iluminar nossas fragilidades, acender nossa esperança, acalentar nosso amor,
refazer nossas relações, ofertar perdões, aproximar vidas deserdadas,
desérticas”, disse o cardeal.
Finalmente, ele pediu que “Deus nos conceda a
graça de contemplarmos a glória e o esplendor de Deus no recém-nascido envolto
em nossos panos, panos de nossa humanidade. A Ele toda honra, todo louvor, toda
a ação de graças, todo afeto; nossas carícias e afetos”, e lembrou as palavras
de Isaías: “Senhor, te invocaram e esperam gerações. Fizeste crescer a alegria
e aumentaste a felicidade. Nos regozijamos com tua presença. Vieste como um
filho, Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, príncipe da
paz.”