Na
Solenidade de Todos os Santos o cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia
lembrando que “celebramos hoje a multidão de irmãs e irmãos que perfizeram o
caminho das bem-aventuranças! Bem-aventurados porque perseveraram, caminharam,
resistiram, permaneceram fiéis. Na fraqueza, na dor, na dúvida, na incerteza,
caminharam”.
Segundo o Arcebispo
de Manaus, “o que hoje admiramos e contemplamos é o conjunto da vida, o caminho
inteiro de santificação”. Ele destacou que “a Igreja na sua sabedoria e
admiração está, hoje, diante da ‘multidão imensa de gente de todas as nações,
tribos, povos e línguas que ninguém pode contar’”.
“Celebramos
todos os irmãos e as irmãs que viveram o Evangelho no amor numa vida simples,
dinâmica, ativa, amorosa, samaritana, consoladora, misericordiosa”, ressaltou o
presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Segundo
ele, “hoje, a festa da santidade! A santidade que não se manifesta em grandes
obras nem em sucessos extraordinários, mas em saber viver, fiel e diariamente,
as belezas do Reino de Deus”, lembrando as palavras do Papa Francisco que chama
a “uma santidade feita de amor a Deus e aos irmãos”, e que a santidade tem a
ver com o conjunto da vida.
Dom
Leonardo Steiner disse que “às vezes salientamos a oração, o sacrifício, a
piedade eucarística e muitos outros belos testemunhos de nossos santos e
santas, deixando de salientar o que é mais específico do seu dom à Igreja,
esquecendo que ‘cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir
e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho’,
segundo diz o Papa Francisco”. Ele afirmou que “o que devemos contemplar é o conjunto
da vida, o caminho inteiro de santificação, os reflexos de Jesus que
sobressaem, o todo de uma caminhada”.
O arcebispo
de Manaus ressaltou que “a santidade é um caminho: fazer-se, tornar-se bem-aventurado.
A palavra bem-aventurado, em hebraico ashréi, indica o caminho a ser
percorrido, um colocar-se em marcha guiado pelo sopro do Espírito, um deixar-se
afagar pelo Espírito, na fragilidade de nossa finitude, do existir. Guiados
pela força da Palavra de Deus e a força do Espírito, trilhamos as veredas, percorremos
caminhos, somos transformados, somos revestidos da felicidade, da
bem-aventurança”.
“É um
caminhar, um pôr-se a caminho. Não somos tomados pela felicidade, pela bem-aventurança
com antecedência, mas no caminhar, no seguir os passos de Jesus, vamos
recebendo a sua vida, a sua graça e beleza. A santidade, a felicidade, o sermos
bem-aventurados, santos não a recebemos de antemão, mas no caminhar, no marchar,
no servir”, afirmou o Cardeal Steiner.
O Arcebispo
de Manaus lembrou que são “Bem-aventurados os pobres em espírito”, destacando
“em marcha os humilhados, os humildes”. Segundo o cardeal, “de pé, em marcha os
despidos, os despojados, os espoliados, os que tudo perderam”. Eles são “aqueles
que na sua consciência pacificada de sua miséria e de seu nada, herdam a mais
eminente das graças divinas, o sopro sagrado, o Espírito Santo, o sopro
presente na pessoa, na casa ou no templo em que mora Javé”, lembrando as
palavras de André Chouraqui.
“Aqueles
que estão à margem da sociedade reinante, eles são vocacionados para herdar o
sopro sagrado, o que faz deles membros da comunhão escatológica anunciadora e
obreira, do mundo vindouro. Mulheres e homens, que em vivendo o Evangelho,
avançam pelo caminho da felicidade ou da infelicidade, o essencial é estar a
caminho, ir adiante. O ser pobre em espírito não é uma felicidade adquirida antecipadamente.
Na desilusão de tudo, na perda de tudo, mas coração aberto para a fecundação do
Espírito!”, enfatizou o cardeal Steiner.
“Em marcha,
em movimento os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”, disse Dom
Leonardo, afirmando que “diante da violência que estamos a viver, diante dos
massacres, das guerras, da morte sem sentido, das crianças padecidas, das
famílias sem casa pela guerra, pela imigração forçada pela violência e morte,
diante da destruição do meio ambiente, da fumaça que nos sufoca, diante da irresponsabilidade
da nossa casa comum”, insistiu o presidente do Regional Norte1 da CNBB, dizendo
que repetimos as palavras de Jesus: “Em marcha, em movimento os pacificadores,
porque serão chamados filhos de Deus”.
“Os
pacificadores que semeiam a paz onde a discórdia, as notícias falsas, as
inverdades levam à morte. Sim, bem-aventurados aqueles que todos os dias, com paciência,
procuram semear a paz, são construtores de paz e não da destruição.
Bem-aventurados, porque verdadeiros filhos do nosso Pai que está no Céu, que
semeia sempre e unicamente a paz, o dom da convivência também com a natureza.
Aqueles que tornam o ar puro. Tudo porque o Pai desejou um mundo fraterno e,
por isso, enviou ao mundo o seu Filho como semeador, de paz para a humanidade”,
disse inspirado no Papa Francisco.
Lembrando
que são “Bem-aventurados os misericordiosos!”, o cardeal Steiner disse que “para
merecer a paz, para estar imbuídos pela paz, para sermos a paz: caminhar na misericórdia”.
Ele definiu os misericordiosos, seguindo as palavras de André Chouraqui como “aqueles
que assumem entre seus irmãos a função principal de Deus, que é a de ser a
matriz, o útero do Universo. O útero recebe, mantém e dá vida, oferece ao feto,
a cada segundo, tudo de que ele precisa para viver. Assim é Deus! Ele matricia
todo o Universo e cada um uma de suas criaturas. Quem é tomado pela
misericórdia, se coloca no caminho da misericórdia, ama, matricia o mundo.”
Segundo o
cardeal, “assim ressoam melhor as palavras de Jesus quando nelas percebemos o
movimento da transformação misericordiosa”, citando o texto de Mateus 25. “No
acolhimento, na matricialidade, esquecidos de que estamos a servir. Quando foi que
te vimos? Nem sequer nos demos conta que eras tu, Senhor. Sim apenas
misericórdia: Bem-aventurados!”.
Dom
Leonardo Steiner disse, inspirado no Papa Francisco que “as Bem-aventuranças
são o nosso caminhar, nosso marchar no crescer que nos identifica como
seguidores e seguidoras de Jesus. Somos chamados a ser bem-aventurados, a
estarmos a caminho, assumindo os sofrimentos e angústias do nosso tempo com o
espírito e o amor de Jesus. Bem-aventurados, felizes os que suportam com fé os
males que outros lhes infligem e perdoam de coração; felizes os que olham nos
olhos os descartados e marginalizados fazendo-se próximo deles; felizes os que
reconhecem Deus em cada pessoa e lutam para que também outros o descubram;
felizes os que protegem e cuidam da casa comum; felizes os que renunciam ao seu
próprio bem-estar em benefício dos outros; felizes os que rezam e trabalham pela
paz e a fraternidade; São portadores da misericórdia e ternura de Deus,
participam da ventura do amor que tudo mantém e transforma, santifica”.
Citando as
palavras do Apocalipse, o cardeal disse que “aqueles e aquelas que percorreram
o caminho na fidelidade, apesar da fraqueza. Deixaram-se lavar na misericórdia
de Deus e foram consolo e presença amorosa juntos aos mais necessitados.
Mulheres e homens que na cotidianidade buscaram viver os ensinamentos de Jesus.
Sim aqueles que lavaram e alvejaram suas vidas no sangue do Cordeiro”, pedindo
finalmente “a graça de permanecermos no caminho de Jesus, a graça de saber
chorar, a graça de ser mansos, a graça de servir a justiça e a paz, a graça misericordiosa
da matricidade, do cuidado de Deus”, e lembrando que “celebrando os santos,
sentimo-nos atraídos, chamados à santidade, atraídos a percorrer o caminho das
bem-aventuranças!”.