“O
Evangelho proclamado nos fez ver a festa de casamento em Caná da Galileia, numa
pequena aldeia de montanha, a quinze quilômetros de Nazaré”, disse o arcebispo
de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner na homilia da missa do Segundo Domingo
do Tempo Comum. Ele lembrou que “na Galileia, o casamento entre as pessoas do
campo durava de vários dias. Familiares e amigos, juntos a celebrar: comiam,
bebiam, dançavam com ritmos próprios de casamento e cantando canções de amor.
Uma grande festa!”
Segundo
o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB Norte1), “o centro do Evangelho das Bodas de Caná é Jesus. Não
conseguimos ver o rosto da noiva, nem do noivo, como também não ouvimos a voz,
nem as ações de cada um. E na celebração do casamento vemos o primeiro sinal de
Jesus: ‘Este foi o início dos sinais de Jesus, em Caná da Galileia’”.
“Os
esponsais lembram uma relação nova: nova vida, novo início, novo horizonte.
Recordam a fecundidade, a prodigalidade, a partilha. Os esponsais, expressam o
que há de mais próprio e único em cada pessoa humana: o amor. O casamento como
o de Caná da Galileia, canta a presença do amor, e o amor revelado por Deus em
Jesus Cristo. As núpcias, os esponsais, como nos lembra a Sagrada Escritura,
falam, dizem, expressam, cantam a beleza, a nobreza, a singeleza, a
cordialidade, da relação de Deus com cada um de seus filhos e filhas. Deus, o
eterno amante em busca de seus amados, de suas amadas”, ressaltou o arcebispo.
“No
meio das danças, dos cantos, da festa, a mãe de Jesus percebe: ‘Eles não têm
mais vinho’”, mostrou o cardeal Steiner. Ele questionou: “Como vão prosseguir
cantando e dançando? Como continuar com a festa das núpcias?”, lembrando que “o
vinho era indispensável num casamento. O vinho era o símbolo mais expressivo do
amor e da alegria”. Ele recordou que diz uma tradição: “O vinho alegra o
coração”. Igualmente, disse que “o Cântico dos Cânticos eleva o vinho como
sinal de alegria e símbolo do amor: ‘o amor é mais doce do que o vinho. O
seu aroma é uma delícia! E o seu nome é como o melhor dos perfumes.
Ficamos alegres por você e nos lembraremos que o amor que você tem é mais
doce do que o vinho’ (1,1-8).” Daí o arcebispo perguntou: “O que acontece com
um casamento sem alegria e sem amor? O que se pode celebrar com o coração
triste e vazio de amor?”
“No
pátio da casa estão seis talhas de pedra. Nelas cabem cerca de 100 litros de
água em cada uma. Estão colocadas ali de maneira fixa, firme. Nelas se guarda a
água para as purificações. A piedade religiosa daqueles camponeses que procuram
viver puros diante de Deus. Antes das
de
Jesus diz aos que estavam servindo: Enchei as talhas de água”, recordou.
“Da
da
Indo e vindo
vazias na
de
A
na
os
a
enchendo as
de muitas
os que serviam encheram-nas até a boca”, afirmou.
Em
palavras do arcebispo, “o voltar-se para a fonte das águas é a possibilidade da
plenitude da purificação: transformação. Jesus faz o segundo convite: ‘Agora tirai e levai ao mestre-sala’.
E retiraram a
O
viera
saboroso,
o
que haviam colhido,
sofrido a
talhas. Sim
transformação.
os
fazem a
os
os
era o
O
cardeal Steiner enfatizou que “Jesus transforma a água em vinho, manifestando
novo amor e nova alegria naquelas pessoas que celebravam. O primeiro sinal: a
alegria de viver, de conviver, de celebrar! A graça do amor que deixa festejar
e fecundar a vida.”
Ele
lembrou que “Papa Francisco nos ensina: é bom pensar que o primeiro sinal que
Jesus realiza não é uma cura extraordinária nem um milagre no templo de
Jerusalém, mas um gesto que responde a uma necessidade simples e concreta das
pessoas comuns, um gesto doméstico, um milagre, discreto, silencioso. Ele está
pronto para nos ajudar, para nos aliviar. E assim, se estivermos atentos a
estes “sinais”, somos conquistados pelo seu amor e tornamo-nos seus discípulos.
Há outra caraterística distintiva do sinal de Caná: o vinho melhor. Geralmente,
o vinho que se oferecia no final da festa era o menos bom; também hoje se faz
desta forma, naquele ponto as pessoas já não distinguem muito bem se é um bom
vinho ou um vinho ligeiramente regado. Jesus, ao contrário, certifica-se de que
a festa se conclua com o melhor vinho. Deus quer o melhor para nós,
Ele quer que sejamos felizes. Ele não estabelece limites nem cobra juros. No
sinal de Jesus, não há lugar para segundos fins, para pretensões em relação aos
noivos. Não, a alegria que Jesus deixa no coração é alegria plena e abnegada.
Nunca é uma alegria diluída!”, citando suas palavras no mesmo domingo do ano
2022.
“O
casamento em Caná é um convite para vivermos com sabor, de modo compassivo,
fraterno, amoroso. É uma inspiração para buscar caminhos mais humanos, mais
sóbrios, mais partilhados, numa sociedade que busca o bem-estar afogando o
espírito e matando a compaixão. O texto pode despertar o gosto por uma vida
mais elevada, mas equânime em pessoas vazias de interioridade, pobres de amor,
necessitadas de esperança. Um convite a sair para as periferias do espírito e
geográfico, para manifestar o verdadeiro sentido viver com prazer!”, ressaltou.
Ele
disse que “a vida do amor se expressa em um movimento próprio. É essencialmente
entrega e cuidado, cuidado e entrega na gratuidade. Esse ir à fonte e voltar,
voltar à fonte, sempre e continuamente, cotidianamente, é o caminho de
maturação no amor. É um longo processo transformativo, vigoroso-suave. Esse
cuidado e entrega que sai, não se acomoda, não se acostuma como a repetições,
mas criativo, dinâmico, é um movimento que desperta dos esquecimentos e
distrações. Vai em busca de renovação, volta à fonte do primeiro amor. Volta à
fonte do encontro, do despertar, da atração, da iluminação de uma possibilidade
de vida.”
Segundo
o cardeal Steienr: “Vivemos numa sociedade onde o amor desinteressado,
gratuito, vai se diluindo. Frequentemente, o amor se reduz a um intercâmbio
mútuo, prazenteiro e útil, onde cada pessoa busca seu próprio interesse. A
dos
da vida, percebendo a
a
o
dá
o amor! “Falta o
o
acontece a
desaparece o
a
Falta o amor!”
“O
Evangelho a nos indicar que o amor que dá sentido à vida tem seus contratempos,
é exigente, é caminho. E, por isso eleva e transforma os dias, desperta para a
graça da festa verdadeira. O amor ao próximo como alguém digno de ser amado de
maneira generosa, despretensiosa, gratuita. O amor é um vinho que renova,
suaviza e transforma as relações, pois movimento plenificado das núpcias do
amor: o vinho da alegria, a dança e canto de quem foi tomado pelo enamoramento.
O outro a plenificar a vida, transformando-a na graça da participação do
banquete da vida”, destacou.
“Irmãs e irmãos, as Bodas de Caná, tem um significado maior que um
simples milagre de Jesus. Nada mais triste do que dizer: Não têm
mais vinho. Somos provocados a superar a água conservada em talhas de pedra:
uma fé triste, vazia. Somos convidados a cuidar da alegria e do amor. Da
alegria da vida e do amor entre nós! O encher as talhas é um cuidado
escondido, delicado, cheio de benevolência, cordialidade e gratuidade. Nesse
servir e sair e voltar é que somos maturados, transformados no amor.
Especialmente nas nossas relações familiares, mas também tu-eu. O caminho da
fonte é Jesus que nos conduz às Núpcias do Cordeiro imolado”, disse o arcebispo.
Finalmente,
ele fez um pedido: “Não falte o vinho da benevolência e da cordialidade entre
os esposos, nas nossas famílias. Não falte o vinho na vida de cada um de nós
para permanecermos fiéis no amor que nos convida à maturidade humano-divina. Amém.”