O Regional Norte 1
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil se reunia neste último sábado para
refletir sobre a Economia de Francisco e Clara. Trata-se de uma proposta do
Papa Francisco, que surgiu para provocar a reflexão de jovens até 35 Anos que
sonham, desejam dar alma a economia.
Estamos diante da possibilidade
de uma “economia encarnada nas mais diversas sociedades, que inclui e não
descarta, que integra e possibilita vivências de comunhão fraterna entre os
povos”, segundo a irmã Elis Alberta Santos, uma das assessoras do encontro. “Essa
economia trata de horizontalizar as lutas pelo direito da natureza e dos
empobrecidos, articulando essas lutas num só grito, por novas economias”,
segundo a religiosa.
A base da proposta
está na Laudato Si, e ao longo de mais de dois anos se vem refletindo nesse
caminho. Na Amazônia, a Economia de Francisco e Clara nos remete, segundo a Ir.
Elis, para uma leitura crítica da realidade. Segundo a religiosa, nascida em
Manaus, “é importante decolonizar mentes e corpos, a partir de uma releitura histórica de como os impactos coloniais afetaram
e ainda afetam cruelmente nossos territórios, desde pequenos lugares,
aldeias para a construção das grandes cidades”. Segundo a religiosa da Divina Providência, “o capitalismo
embasa todo o processo colonial e continua hoje invadindo e saqueando os
territórios indígenas”.
Tudo isso provocou
fortes consequências, levando muita gente da Amazônia a negar “a nossa própria
identidade”, consequência de “políticas assimilacionistas do estado nacional
brasileio que criou estratégias legais para que deixássemos de existir”,
segundo a Ir. Elis. Manaus é um claro exemplo disso, algo que tem provocado a
reflexão da Articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara. Daí surgem
questionamentos no campo ambiental, vítima de uma economia que mata.
A religiosa
interligava a experiência mística de São Francisco de Assis com “a nossa experiência
enquanto povo amazônico, do cuidado com a Mãe Terra, com o cosmo, com tudo que
nos compõe e com o que propõe o Papa Francsico a partir desse chamado de ‘realmar
a economia’ e no documento da Laudato Si que se entrelaça com Fratelli tutti”.
Segundo a
assessora do encontro, se faz necessário, recolhendo as palavras do Papa
Francisco, “dar voz aos pobres e vulneráveis na criação de novas políticas
econômicas para que se tornem protagonistas de suas vidas e de todo contexto
social”. A reflexão vai se concretizando nas vilas temáticas, nas casas de
Francisco e Clara, como espaços de comunhão fraterna, de vivência e imersão, que ajudem a
reconstruir novas interações ecológicas e econômicas, a partir de outras
lógicas, dialógicas e inclusivas, afirma a Ir. Elis. Também foi destacada a
Aliança Mulher Mãe Terra, relatando diferentes experiências em que isso vai se
concretizando na Amazônia e no Brasil.
As Vilas Temáticas
foram apresentadas pela Ir. Michele da Silva, quem mostrava que são subdivisões
em grupos temáticos, que podem ser considerados como “laboratórios de diálogo,
escuta e partilha de vida, com o propósito de encontrar soluções conjuntas e
caminhos alternativos para uma nova economia”. Trata-se de uma construção
conjunta entre os jovens e economistas experientes, “para pensar de forma
crítica e sustentável, soluções para os problemas do mundo contemporâneo”,
segundo a religiosa do Imaculado Coração de Maria.
Em cada realidade
local estão sendo construídas cada uma das vilas temáticas. A religiosa foi
apresentando-as, mostrando os elementos mais importantes de cada uma das vilas.
São 12 as vilas que fazem parte da Economia de Francisco e Clara: Finanças e
humanidade, buscando o bem-estar das pessoas, investimentos que trabalhem pelo
bem comum; Agricultura e Justiça, atenta às mudanças climáticas, direitos
trabalhistas e direito à água, o papel das mulheres; Energia e pobreza, transitando
para uma economia de baixo carbono; Lucro e vocação, um trabalho que ajude a desenvolver
os dons que cada pessoa tem.
Entre as vilas
temáticas também está Negócios em transição, buscando respostas diante da crise
ambiental, e provocando transições que não excluam os mais pobres e
vulneráveis; Gestão e dom, promovendo a gratuidade nos negócios e uma gestão
sustentável; Trabalho e cuidado, com novas perspectivas culturais da atividade
do trabalho, sustentadas na “ecologia humana integral”; Políticas e felicidade,
com novas dinâmicas, não sustentadas no individualismo; CO2 das desigualdades,
buscando semear uma nova economia, construir uma cultura de paz e bem, fomentar
o trabalho como atividade humana digna.
As vilas temáticas
também abordam as questões de Vida e estilo de vida, que não seja distante da
vida, que promova o não desperdiço e a equidade; Negócios e paz, um objetivo a
ser ativamente promovido; Mulheres pela economia, mais inclusiva, equitativa e
centrada nas pessoas, reconhecendo as capacidades das mulheres e criando novos
modelos organizacionais, novas ferramentas de inclusão e equilíbrio entre
trabalho e vida pessoal.
Na Amazônia, a Ir. Michele da Silva,
buscando uma terminologia mais inculturada, falava de construir “Malocas”. Para
isso se faz necessário identificar as iniciativas existentes, escuta das
pessoas que dinamizam essa economia, subsidiar essas iniciativas e ampliar o
trabalho, para que Economias alternativas, tenham espaço e fomentem um consumo
consciente. Junto com isso, construir as Malocas ou Aldeias com as temáticas
(grupos de estudo) ligadas a nossa realidade local. Também criar uma Casa ou
mais Casas de Francisco, como referencial da ECOFRAN Norte 1.
Do encontro participaram representantes
das pastorais, do conselho de leigos, da vida religiosa, mas também
representantes do mundo político e académico. Nas reflexões oferecidas pelos presentes
foi enfatizado a necessidade de abrir os encontros e reflexões sobre a Economia
de Francisco e Clara a espaços extra eclesiais, o que deve ajudar a espalhar
suas propostas e se enriquecer com ideias de outros coletivos que não
participam ativamente da vida da Igreja.