Dom Sérgio Eduardo Castriani, um
missionário que Deus nos enviou, homem da Palavra e de palavra. Já nos idos da
década de 70, em sua primeira nomeação para Amazônia, tornou-se um de nós,
amazônida, ribeirinho, indígena, foi adentrando nos rios, florestas e em nossos
corações. Exerceu várias funções na Congregação do Espírito Santo, ou
simplesmente Espiritanos, como conhecemos. Sendo Conselheiro Geral da
Congregação, no ano de 1997, tive a oportunidade de conhecer este Missionário,
Pe. Sérgio, em uma celebração na Comunidade de Santo Antônio, em Tefé. Não imaginava
que depois iria ter uma convivência tão próxima, relação filial, pois logo ele
chegaria como Bispo da Prelazia de Tefé, para suceder outro grande Missionário,
Dom Mário Clemente Neto, e eu estava na equipe de Coordenação de Pastoral da
Prelazia, com Pe. Domingos.
Desde que Dom Sérgio chegou à
Prelazia de Tefé, quando foi ordenado em 08 de agosto de 1998, ele permaneceu
conosco como o Bom Pastor daquela Igreja até sua transferência para
Arquidiocese de Manaus. Foram muitas as conversas, as partilhas, as
gargalhadas, os almoços, as celebrações, os encontros, os retiros, as
assembleias, as viagens pelos rios da Prelazia… uma vida partilhada. Depois,
com a transferência para Manaus, pensávamos que a distância nos separaria, os
contatos seriam menos frequentes, mais Dom Sérgio nunca esqueceu as missões por
onde passou. Até mesmo a primeira missão na década de 70 como padre jovem, Dom
Sérgio nunca esqueceu, era referência para ele, seja em suas homilias,
entrevistas, cartas, formações, retiros… onde quer que fosse, Dom Sérgio
nunca esquecia, era referência para ele os lugares por onde passou. Era um
homem que anunciava a Palavra com clareza, seja para a pequena comunidade ou
para os centros urbanos, era como nos Atos dos Apóstolos “… e todos ouviam e
entendiam em sua própria língua”.
Foram muitas as experiências com
este homem, que nos ensinou a amar a Igreja com todas as suas limitações, seus
pecados, e enxergar com misericórdia o irmão, a irmã. Experiências pastorais,
experiências pessoais. Destaco aqui a primeira experiência missionária com Dom
Sérgio, quando em 1999 fez sua primeira visita a Comunidade de Nossa Senhora
Aparecida, Município de Japurá, que na época pertencia a Paróquia Nossa Senhora
da Imaculada Conceição, Município de Maraã. A viagem no Barco Zé Bezerra até
Japurá, juntamente com um grupo de Casais e outro jovem chamado Antônio da
Pastoral da Juventude, uma longa viagem de 3 dias, foram dias de observação, de
aproximação, de aprofundamento das relações, de conhecer melhor este novo Bispo.
Uma convivência muito fraterna, de oração, de partilha, de sonhos, ouvir Dom
Sérgio naquela viagem iniciava uma relação de profunda confiança, amizade,
carinho paterno de pai e filho. No retorno no Barco Recreio Nossa Senhora da
Vitória, junto com o povo que viaja para Tefé, outra experiência, outra
oportunidade de melhor conhece-lo.
Depois destas experiências vieram
tantas outras naquela Igreja de Tefé, foram 14 anos convivendo quase que
diariamente com Dom Sérgio, mesmo quando estava em suas longas visitas
Pastorais nos rios da Prelazia, ele sempre dava um jeito de se comunicar
conosco. A saída de Dom Sergio se deu em 12 de dezembro de 2012, quando foi
nomeado para Manaus. Todos nós já imaginávamos que ele não ficaria muito tempo
na Prelazia. Apesar de na Igreja haver o sigilo na escolha dos bispos, sempre
haviam rumores. Apesar de Dom Sérgio dizer “fui nomeado Bispo da Prelazia de
Tefé, esta é a minha casa, é aqui que concluirei missão”, sabíamos que não é
bem assim, a ação do Espírito Santo não podemos prever, e veio a transferência
no dia da festa de Nossa Senhora de Guadalupe. Dom Sérgio recebeu de forma
oficial a nomeação em uma Comunidade chamada Gumo do Facão, no Rio Juruá,
Paróquia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, Município de Carauari. Momento
difícil para todos nós, que ficávamos “órfãos”, mais a Igreja nos proporcionou
o envio de outro Missionário, Dom Fernando.
Mais minha experiência com Dom
Sérgio não terminou com sua transferência, quis o Espírito que eu viesse
exercer a missão na Secretaria do Regional Norte 1 da CNBB, e pude continuar a
convivência próxima com Dom Sérgio, já em uma outra fase da vida dele. Agora que
o Homem da Palavra já tinha dificuldade na voz, se revela o homem de palavra,
que se revela sobretudo pelo testemunho. Destaco duas experiências com Dom
Sérgio nesta fase da vida dele, a celebração dos 60 anos da Paróquia de São
Benedito em Itamarati, na Prelazia de Tefé, que Dom Sérgio fez questão de estar
presente, juntamente com Dom Fernando Barbosa, Bispo da Prelazia de Tefé.
Tive a oportunidade de ficar com
Dom Sérgio, ajudando no que era necessário. Já na chegada o povo daquela cidade
estava esperando no aeroporto, a sensação era que as pessoas iriam “aparar” o
pequeno avião, pois quando aterrizou, avistamos uma pequena multidão na pista
do pequeno aeroporto. Depois em carreata, alguns carros, muitas motos, seguiam
o carro que Dom Sérgio era transportado.
Isso revela o quanto ele foi querido por onde passou. E a última
experiência que compartilho foi a participação dele no Encontro de preparação
para Sínodo em agosto de 2019 em Belém. A simples presença dele, o seu
testemunho, falava mais que qualquer coisa. Com o olhar e ouvidos atentos, ele participava
de todo o encontro.
Em muitos momentos da minha vida pessoal, Dom
Sérgio sempre se fez presente, como um pai a cuidar de seu filho. No momento da
perda do meu pai, do falecimento de minha mãe, ele possibilitou todo o apoio
que precisei, e tantos outros momentos de alegria, como no momento que eu e
minha esposa celebramos 20 anos de matrimonio, lá estava ele, se alegrando
conosco. Dom Sérgio chorava junto, se alegrava junto, e não foi somente comigo,
com minha família, assim foi com todo o povo que pastoreou, que tornaram seus
povos, ou como dizemos aqui, Dom Sérgio é nosso parente.
Dom Sérgio Eduardo Castriani,
homem da Palavra e de palavra, agora é o homem do testemunho, do silencio, que permanecerá
sempre conosco, habitando nossos corações, com seu testemunho, seu exemplo.
Nossa gratidão a Deus que nos enviou este missionário servo de Deus, que gastou
sua vida aqui, se tornou um de nós. Que seu corpo se transforme em semente a
germinar neste chão sagrado que tanto pisou e amou.
Andrade de Lima, Secretário Executivo CNBB Regional Norte 1