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Mauricio López: “É necessário reafirmar o papel das mulheres para curar este planeta destruído”

Mauricio López: “É necessário reafirmar o papel das mulheres para curar este planeta destruído”

As
perspectivas teológico sinodais e territoriais para o futuro da Amazônia foi o
tema de reflexão de Mauricio López Oropeza no 35º Congresso da SOTER que está acontecendo
de 11 a 14 de julho. Uma meditação que teve como porta de entrada a oração com
Pierre Teilhard de Chardin, afirmando: “mergulhei no mistério de Deus como uma
expressão da vida que, paciente e permanentemente, se entrelaça nas fendas mais
inesperadas. A vida é um fluxo que se move à medida que a consciência se eleva
e se avança em direção a uma verdadeira comunhão universal”.

Mauricio
López definiu a vida como “a soma de retículas associadas umas às outras,
buscando a expansão da fraternidade em nosso planeta finito, mas que no amor
sempre abre infinitas possibilidades
”, e a Deus como “uma exibição de grandeza
indomável naquilo que está sempre presente ali e pelo qual passamos em uma
cegueira sistemática que nos impede de amar a beleza, que nos impede de
respeitar o delicado equilíbrio de tudo e a fonte de esperança para o amanhã”.

Segundo
o diretor do Centro de Programas e Redes e Ação Pastoral do Conselho Episcopal
de América Latina e do Caribe, “somos chamados a ser veículos, receptáculos, do
poder de Deus e do mistério da vida em propagação que busca se expandir apesar da
morte
. Estamos matando todas as expressões da vida radial expansiva para
controlar os mercados por uma visão tola de ganho momentâneo que fica nas mãos
de muito poucos”. Por isso, ele vê necessário nos projetar em direção a “um
Cristo cósmico e universal como meta última de nossa vida e da existência de
cada ser, de cada povo, de todos os povos e de nossa Querida Amazônia”.

 

Ele
definiu a territorialidade “como uma construção social e simbólica”, de “uma
rede complexa de relações de interconhecimento, inter-reconhecimento e
interdependência”, defendendo a interconexão de territórios, algo que reconhece
nos exercícios de Santo Inácio, considerando o mundo “expressão de nossa
humanidade pobre e esperançosa que nos mostra nossa finitude, nossas limitações
e também nosso potencial”, nos permitindo “entender a noção de território
ligada à premissa teológica que sustenta a contemplação da Encarnação. O
caminho para a redenção ocorre em uma realidade material concreta, em um território”.
Território relacionado a espiritualidade, origem e identidade dos povos, lhes
fornecendo o “bem viver”
. Algo que se alcança desde a ecologia integral.

Em
palavras de Mauricio López, “na territorialidade amazônica, especialmente a
partir da cosmovisão dos povos originários, essa visão de interconexão e
pertencimento ao todo sempre esteve presente em sua identidade e práticas”,
algo muitas vezes irrelevante para as sociedades ocidentais e a Igreja Católica,
em defesa da “suposta ‘verdade única’ e estabelecer o ‘progresso’, sempre a
partir de uma visão dominante externa
”.

Nessa
perspectiva, “o Sínodo para a Amazônia contribuiu para o desenvolvimento de
novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral nesse e com esse
território
” segundo o auditor sinodal, buscando “criar as condições que
permitam aos povos que habitam o vasto território amazônico viver com dignidade
e olhar para o futuro com esperança”. O desafio diante da maior crise
socioecológica planetária, é “abandonar os caminhos fracassados e reconhecer em
outras tradições”.

 

Mauricio
López ajudou a enxergar com alguns dados a riqueza e vulnerabilidade da vida da
Amazônia
, mostrando as ameaças aos povos da Amazônia, vindas dos Estados, que
ignoram os tratados e leis assinados, e empresas estrangeiras. Frente a isso,
desde sua experiência na REPAM relatou seis padrões para garantir o pleno
exercício dos direitos dessas comunidades: o direito à autoidentificação e ao
reconhecimento; o direito à autodeterminação; o direito à propriedade coletiva;
as obrigações estatais de proteção; a proteção especial contra a discriminação
étnico-cultural; e o direito a uma vida digna, conforme entendido nas
cosmovisões indígenas.

O conferencista
destacou a importância das mulheres na Amazônia como voz profética, dizendo que
“é necessário reafirmar o papel das mulheres nessa
ruptura epistemológica que é exigida hoje para curar este planeta destruído”
.
Ele denunciou que “muitas mulheres, tanto na Igreja quanto na sociedade, são
vítimas de injustiça estrutural e exclusão que parecem não ter fim”. Na Igreja
da Amazônia, as mulheres representam 70% da presença missionária, mas ocupam
apenas 30% dos cargos de liderança
, afirmou, relatando os principais desafios
enfrentados pelas mulheres na Amazônia: violência de diferentes tipos, falta de
visibilização de seu papel, violação dos direitos, perda da cultura, falta de
acolhida na Igreja, desigualdades na educação, saúde.

Diante
disso relatou a contribuição das mulheres para as sociedades amazônicas: resiliência,
construção de diversos espaços de luta e resistência, reconhecimento das dores,
força e organização, diálogo intercultural sobre igualdade de gênero, uma
Igreja desde uma identidade de mulheres povo de Deus. Daí os horizontes para a
conversão a partir das visões das mulheres, que faça realidade “uma igreja que
seja irmã e aprendiz, não mais mãe e professora. Uma igreja inclusiva”, desconstruída,
com raízes vivas das culturas.

Recordando
de novo as palavras de Teilhard de Chardin: “não somos seres humanos tendo
uma experiência espiritual; somos seres espirituais tendo uma experiência
humana
“, Mauricio Lópeez ofereceu valores necessários para mudar a sociedade
atual: gratuidade e reciprocidade, sinodalidade, territorialidade; apelos
urgentes e inegociáveis: desigualdade pecaminosa, violação dos direitos humanos
e superar uma abordagem funcional; transformação pessoal, comunitária e institucional:
metanoia, alteridade e parresia.

 


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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