No dia 8 de
novembro o padre Hudson Ribeiro foi nomeado bispo auxiliar da arquidiocese de
Manaus pelo Papa Francisco, algo que está vivenciando como “uma mistura de
emoções”, se sentindo “dentro de um processo de esvaziamento para a entrega,
esvaziamento de um tempo de resistência, de dizer não, de não querer”. Ele
reconhece que diante de propostas similares em outros momentos, “não me sentia
chamado, nem tampouco apto para isso”.
Não estou
no controle
Mas agora, “com
24 anos de padre, com um maior conhecimento do chão, resolvido com algumas
questões pessoais, da vida, sobretudo na conceição de liberdade, de autonomia.
mas acima de tudo de serviço e de entrega, o aspecto da insegurança, do medo e
de não saber o que vai acontecer para frente, porque é uma proposta, eles
encontram amparo na acolhida do meu coração, porque isso vai me mostrar que eu
não estou no controle da coisa”, insistiu o padre Hudson Ribeiro.
Uma
situação que olha desde o abandono, a confiança, a entrega, como caminho para
ir adiante. Destacando que Deus lhe chamou, que não foi ele que quis, diz
acreditar que o Espírito Santo conduz a Igreja, e que quando a Igreja chama é
Deus que o faz. Algo que o bispo auxiliar eleito vê como paradoxal, como algo
que está sempre em movimento, o que se concretizou no fato daqueles que foram
consultados ter acreditado, e que faz com que “aí no existe a possibilidade
para o não”, dado que o sim, ele é confirmado dentro dessa comunhão, do fato de
estar inserido na Igreja, com o povo, na fidelidade à proposta do Evangelho.
Um sim que
vai devagarzinho se dizendo, em pedaços. Isso leva a Mons. Hudson Ribeiro a
refletir sobre o aspecto transcendente de todo sim ou de todo não, onde ele
vislumbra o aspecto do abandono, da entrega, para compreender esse grande
Mistério do Amor de Deus que te chama pela Igreja a servir o povo.
Trabalho
pastoral e dimensão académica
O bispo auxiliar
eleito sempre conjugou o trabalho pastoral e a dimensão académica, e ele
reflete sobre a vocação que Deus lhe chamou desde um tripé, “que tem me feito
bem a não perder o norte”. Ele coloca como primeira opção o povo de Deus,
“sobretudo as pessoas mais sofridas, os mais empobrecidos, que tem sido uma
alerta para eu querer estudar, eu querer pesquisar, para querer me aprimorar
academicamente para poder melhor servir, e assim poder dar um sim mais
qualificado a Jesus, que está dentro desse tripé, com o povo, Jesus Cristo e a
Igreja”, insistindo em que não são colocados de forma hierárquica.
Mons.
Hudson Ribeiro destaca em que “eu sempre peço a Jesus Cristo que eu não perca a
fidelidade àqueles que são os preferidos do Reino”, algo que diz pensar, rezar,
estudar, se esforçar para que essa resposta chegue na pesquisa, no estudo, na
Academia, nos grupos que se envolve. Tudo isso em vista de “poder dialogar com
a sociedade, dialogar com a cultura, dialogar com gente que crê, com quem não
crê, gente que desperta de outro modo a capacidade para fazer o bem e para as
realidades de sofrimento, de vulnerabilidade”.
Dizendo
acreditar que a qualificação, o estudo, não é tudo, ele destaca que “ela abre
muitas chaves para a leitura e para outros encontros, para partir para outros
palcos, para outros areópagos, para outros cenários, para águas más profundas,
para outras margens, e ver que para problemas tão complexos que a humanidade
vive hoje, é preciso preparo”, ressaltando que “a formação, ela é extremamente necessária
para isso”.
O estudo
como único caminho para sair da pobreza
Um campo
que Mons. Hudson Ribeiro não quer abandonar, pois sente que “Deus me chamou
para isso”, destacando que “venho de uma família onde o estudo mudou,
transformou nossas vidas, a vida da minha família, dos meus irmãos”. Ele relata
a realidade de “uma família muito carente de muitas coisas…, minha mãe mal
escreve o nome, mas minha mãe incentivou a gente a estudar, a querer estudar”.
Nesse sentido, afirma que “desde criança eu entendi que romper uma situação
nossa de sofrimento, de pobreza, de ausência de um monte de coisas, o estudo
era o único caminho que a gente tinha”.
Nascido em
Parintins, interior do Amazonas, ele migrou sendo criança com sua família
numerosa, são oito irmãos vivos dos 14 nascidos, para Manaus, reconhecendo que
“a Igreja deu esse sustento, a comunidade deu esse sustento todo, e olhar para
minha irmã Nazaré que estudava, era minha referência de estudo”. Foi no estudo que foi
se dando conta que conseguiu “um outro olhar da vida, o mundo”, e foi
percebendo “que era possível chegar um pouco mais perto das pessoas, poderia
ser feito outras leituras e aí eu achei que isso não poderia mais voltar
atrás”.
Uma
faculdade com grande potencial
Com relação
à Faculdade Católica do Amazonas, onde ele é diretor, o bispo auxiliar eleito
diz que “ela pode ser uma grande referência, um grande potencial de ajuda na
formação dos leigos, ajuda na formação dos futuros padres, ajuda na formação de
outras lideranças, pontes e conexões com outras instituições, diante de tantos
problemas, de tantos desafios que vive o povo, que vive a Amazônia, e que
desafia à Igreja a ser voz, ser vez, a poder apontar caminhos, ser sinal do
Amor de Deus transformador onde quer que estejamos”.
Afirmando a
necessidade de demostrar teimosia, atrevimento, garra, ele diz estar convencido
da necessidade da formação, vendo isso como algo que provocaria mudanças no
mundo e nos modelos de evangelização. Um convencimento que pode ser “uma grande
ilusão de algo que você não está preparado”, mas onde “você não encontra algo
palpável para se sustentar”, denunciando que “as pessoas, elas são muito
enganadas com muitas propostas ruins, de gente que fala bonito, mas que às
vezes não tem sustento naquilo que falam”.
Conteúdo e
convicção
Nesse
sentido, ele se refere a “certos modelos de padres, de pastores, de gente
religiosa, que a gente pode questionar o conteúdo, mas o modo como falam é de
muita convicção. O modo que falam, ele arrebata, ele conduz”, afirmando “que
bom seria se o modo, a conviç4ao de falar, fosse acompanhado do conteúdo, da
profundidade, a gente poderia transformar muita coisa”. Por isso, ele diz
acreditar muito que “esse campo do convencimento, do sentido que é dado e do
significado que se é dado àquilo que se faz, ele é capaz de tocar o coração,
capaz de arrebatar, capaz de convencer, capaz de aproximar”, algo procurado pelas
crianças e os jovens, o que se concretiza no crescimento dos influencers, de
tanta gente presente nas redes sociais, que considera, “um grito de pessoas que
estão em busca de referências”.
O bispo
eleito fala sobre a capacidade de Jesus de encantar, e reflete sobre “os
processos de motivação às novas vocações, de ajudar o seminarista que está
estudando a querer estudar, a querer ser transformado pelo estudo”. Nesse
sentido, ele ressalta que “quem o faz tem que estar muito convencido disso
também”, sendo assim aqueles que abrem a oportunidade, que acompanham, que
ajudam a ressignificar as situações.
Bispos
referentes em sua vida
“Nunca
pensei ou desejei ser bispo, mas os bispos da minha referência, que me
motivarão a querer acreditar no ministério sacerdotal, a responder à vocação,
sem dúvida nenhuma foram esses: Dom Helder, Dom Oscar Romero, Dom Paulo
Evaristo Arns, Dom Luciano Mendes, Dom Pedro Casaldáliga e Dom Luiz Soares
Vieira, esses para mim somaram tudo”, afirma. Mas ele se refere a um outro
bispo que “me deu um parâmetro de instrução, quanto era importante estudar, que
quando escrevia, eu dizia, isso ressoa dentro de mim, como se eu tivesse
escrito, isso é meu, eu vou escrever, o cardeal Martini”.
Mons.
Hudson Ribeiro relatou para finalizar um encontro com o cardeal Martini em
Milão, no tempo que ele estudava lá, onde disse haver tido a oportunidade de
ler os escritos do cardeal italiano, em quem destacou seu modo de olhar o
mundo, a cultura, a Igreja, o povo, insistindo em seu desejo que então teve de
“ser um pedaço desse homem”, pois “ele me inspira, ele existe”, algo que
experimentou em uma conversa ocasional com ele, onde em meia hora disse ter
participado de “uma conversa de uma vida”. Algo que lhe leva a insistir em que
“a gente precisa se convencer, se apaixonar e apaixonar as outras pessoas”.
Algo que vê como possível e que diz ter encontrado em pessoas que vê como
referências que “me fizeram acreditar, me fizeram enxergar Jesus com outros ângulos”,
pois “a pessoalidade, ela clama hoje”.