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Padre Alfredinho: “Graças à Igreja o povo ainda está de pé, porque o governo o abandonou completamente”

Padre Alfredinho: “Graças à Igreja o povo ainda está de pé, porque o governo o abandonou completamente”

Multidão e compaixão tem sido os dois conceitos que alicerçaram
a partilha que o padre Alfredinho fazia nesta segunda-feira, 26 de julho com membros
do Serviço Pastoral do Migrante chegados de diferentes pontos do Brasil, principalmente
da Amazônia.

O encontro que aconteceu na paróquia São Geraldo de Manaus
pode ser considerado como um passo prévio do Seminário que vai acontecer de 27
a 29 de julho na capital amazonense, um seminário formativo para as equipes pastorais
do Serviço Pastoral do Migrante
, onde será avaliado o trabalho realizado,
haverá formação sobre legislação no campo migratório e serão colocadas
perspectivas para os próximos meses.

Em sua reflexão, o padre Alfredinho afirmava que “compaixão
não é dar coisas, é colocar o próprio tempo ao serviço de, estar com na hora da
paixão, estar com na hora do momento limite da vida
”. Partindo da passagem do
Evangelho em que Jesus vê a multidão cansada e abatida, disse que ele viu os
migrantes cansados e abatidos, e teve compaixão. Ele lembrava que em hebraico,
os sentimentos nascem das entranhas, afirmando que “estremeceram-se as
entranhas de Jesus diante das multidões cansadas e abatidas”, perguntando aos
presentes se isso tem acontecido com eles diante do sofrimento dos migrantes.



Diante da situação atual que vive o Brasil, o padre Alfredinho
afirmou que “graças à Igreja o povo ainda está de pé, porque o governo o abandonou
completamente
”. Por isso destacava que multidão e compaixão sempre vão de mãos
dadas
, juntando também a isso a solidão, uma realidade que se faz presente em
muitas pessoas.

Seguindo o tema da Semana do Migrante deste ano, se
perguntava: “Quem bate à nossa porta?” Segundo ele, são “as multidões cansadas,
abatidas, solitárias, de quem Jesus tem compaixão, de quem a Igreja tem
compaixão, de quem o SPM tem compaixão, de quem os agentes têm compaixão, e se
desdobram para oferecer pão, serviços, documentos, emprego, casa provisória,
alguma coisa”.

Onde existem multidões cansadas e abatidas,
manifesta-se a compaixão de Deus
, estremecem as entranhas de Deus”, sublinhava
o padre Alfredinho, afirmando que “só a compaixão é capaz de gerar palavras”.
As multidões que procuravam Jesus, o procuram hoje, e o encontram nos agentes
que cuidam dos migrantes, segundo o padre, mesmo diante das limitações e impotência
diante da grandiosidade da tragédia provocada pela pandemia, a migração, o
desemprego, que mostra uma tragédia muito grande para nossa pequenez.



O que faz a diferença neste momento é a compaixão,
insistia o padre Alfredinho, num mundo onde “o tecido social está podre”, algo
que está tentando ser revitalizado por aqueles que se empenham em “dar nome,
dar rosto, dar história e memória aos números
”. Diante disso, ele disse que a
tarefa da Igreja é “descobrir que por trás desses números existe um rosto, uma
história, uma família, uma memória, uma vida fraturada, ferida, que precisa de cuidado
especial
”. São números que batem à porta de todas as cidades, de todas as
fronteiras, de todas as casas, segundo o padre.

São “vidas feridas, vidas que não cicatrizaram, vidas
que sangram, vidas que tem os olhos grudados no chão pela vergonha
”, afirmava o
padre Alfredinho, lembrando daqueles que ficam nas filas pedindo o imprescindível
para sobreviver. Estamos diante de “pessoas feridas, fragmentadas,
desarrumadas, famílias quebradas
”, vidas que se tentam costurar, mesmo no meio das
impotências, debilidades, hostilidades e inimizades, rixas, invejas, ciúmes, o
que demanda caminhar juntos e superar as diferenças instaladas na sociedade e
na Igreja, que gastam nossas energias, que poderiam estar ao serviço dos caídos
à beira da estrada, das multidões cansadas e abatidas.

Ele insistia em que a postura do Serviço Pastoral do
Migrante é evangélica
, fazendo um chamado a estabelecer relações interpessoais
gratuitas
, com os olhos voltados para o horizonte, e não para nossos interesses,
que segundo ele, “são muito sutis, eles passam pela vaidade, elas passam pelos ciúmes,
eles passam pela inveja”. Ele chamava a trabalhar contra o vírus da pandemia, do
negacionismo, da violência, da polarização ideológica
… inclusive presente na
Igreja, onde existem agentes “levando o vírus para as instâncias da pastoral“.



Diante disso, o padre Alfredinho disse que “quem bate à
nossa porta quer nos ver, no mínimo, convergindo as forças para o projeto
social
”, algo não presente diante de tanta desafinação existente. Ele se
perguntava: “Diante de quem bate à nossa porta, nós oferecemos uma oportunidade
de cidadania
ou nós oferecemos um campo de conflitos ou de tensões?”, perguntando
também o que cada um tem a oferecer diante das multidões abatidas que batem à
nossa porta.

O grande desafio da Igreja hoje é conseguir traduzir o
rosto da misericórdia de Deus diante das multidões cansadas e abatidas
, algo
que mais ninguém vai fazer. Trata-se de mostrar aquilo que é a herança da
Igreja
, que nasce do Evangelho, que é a compaixão, que a herança que vai salvar
a Igreja, vai salvar o Povo de Deus. Por isso perguntava aos presentes “até que
ponto nós traduzimos essa compaixão
, até que ponto nós somos essa compaixão de
Jesus, até que ponto nós somos personificação conjunta dessa compaixão de Jesus?”.

Segundo o padre Alfredinho, “a melhor pátria, a melhor
cidadania que os migrantes têm hoje, é essa compaixão
”, que eles vão encontrar
nos agentes da Igreja. Por isso, questionava mais uma vez como estamos cuidando
dessa herança, cultivando o bem-estar do migrante e o cuidado de uns para com
os outros
nos pequenos detalhes, “gestos que não custam nada e fazem um bem
tremendo
”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1


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