O clero da diocese de São Gabriel da Cachoeira
participou de 15 a 18 de março do retiro anual, que tem sido encerrado com a
celebração da Missa dos Santos Óleos. O padre Walterson José Vargas, que
trabalha na diocese de Juazeiro – BA, ajudou os participantes, seguindo as reflexões
do cardeal Martini, a partir das figuras de Jacó e Francisco de Assis. Segundo
Dom Edson Damian, “os presbíteros fizeram um grande esforço”, destacando as meditações
do pregador, onde “além de um conteúdo profundamente bíblico e existencial, o
padre Walterson deu um testemunho de vida de como ele foi vivendo seu
ministério”.
O pregador considera que o retido “foram dias bons
para rever nossa caminhada à luz da vida de Jacó e de Francisco”. Lembrando as
reflexões que fizeram parte do retiro do clero da diocese de São Gabriel da
Cachoeira, destacava “a vida de Jacó entremeada por essas duas noites, a noite do
sonho da escada e a noite da luta com Deus, uma vida marcada por dificuldades
grandes, por dificuldades de ver quais eram as coordenadas de Deus na vida dele”.
Segundo o padre Walterson, “pouco a pouco, no sonho da
escada, ele tomou consciência da presença de Deus na vida dele, como uma
presença próxima, que o animava e que lhe dava forças para ir adiante, com a
promessa de que estaria com ele, de que o protegeria”. Isso foi complementado
com a reflexão sobre “a noite escura da luta com Deus”, acontecida antes do e
reencontro com o irmão que queria mata-lo”.
Essa reflexão “mostra como é nossa vida, que embora tenhamos
uma experiência forte de Deus, não deixa de ser marcada por lutas fortes com
Deus também”, segundo o pregador do retiro. Para ele, “o mais importante é a presença
de Deus na nossa vida, que nunca nos abandona e o imperativo de confiar nele
sempre, pôr nele toda nossa esperança e a nossa confiança”.
Falando da vida de Francisco de Assis, o pregador
destacou as meditações em torno aos estigmas e a perfeita alegria. Segundo ele,
os estigmas representam na vida do santo de Assis, “essa marca da Cruz de
Cristo na vida dele, de como ele carregou sempre essa lembrança do Cristo
Crucificado e olhou sempre a Cristo como humilde, pobre, ao qual ele seguia com
amor tão grande”, enfatizando que “as marcas nas mãos dele foram sinal perene desse
compromisso com Cristo sofredor e de atravessar com Cristo todas as cruzes e
todas as dificuldades”.
Ao falar da verdadeira alegria, que o padre Walterson
considera em continuidade com a anterior, “nós vimos como a verdadeira alegria,
ela está na participação em toda a vida de Cristo, incluída a sua paixão. Suportar
todos os sofrimentos, todas as lutas, junto com Cristo, carregar a Cruz com
Cristo”. O pregador resumia os dias de retiro dizendo que “foi um momento de aprofundamento,
de animação, deu para perceber que o clero se aprofundou bastante, participou
com alegria, com muito silêncio, com muita oração”.
Na Missa dos Santos Óleos, a Missa da Unidade, que
antecipa a Quinta-feira Santa, tem participado a maioria dos presbíteros, algo difícil
numa diocese onde as imensas distâncias e os escassos recursos fazem com que os
padres se encontrem só duas vezes por ano. Na sua homilia, o bispo local partia
da citação bíblica que diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me
ungiu para anunciar o Evangelho aos pobres”, afirmando que no Batismo e na
Crisma, “também nós fomos ungidos pelo mesmo Espírito que ungiu Jesus para
anunciar a Boa Nova aos pobres”. Dom Edson Damian destacava a importância da
celebração como momento em que “são abençoados os Santos Óleos para celebrar os
sacramentos que nos salvam”, afirmando que “o Espírito que recebemos no
Batismo, na Crisma, penetra em nós, permanece em nós e nos torna testemunhas do
Evangelho”.
Ele dizia aos presbíteros, que na celebração renovaram
suas promessas sacerdotais, que “somos ungidos para ungir, somos ungidos para
abençoar, ninguém se torna presbítero para si mesmo, mas para amar e servir a
todos”. O bispo também refletia sobre o significado da Eucaristia na vida do
presbítero, momento em que “ele é configurado com Cristo, para se conformar ao
Cristo que doa a se mesmo inteiramente”. O presidente do Regional Norte 1 da
Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, enfatizava que “Amar e servir
com Jesus é a missão que se torna ainda mais exigente em meio à tremenda e
cruel pandemia que já ceifou a vida de quase 300 mil irmãos e irmãs brasileiros”.
“Ungir, abençoar, aos que se desesperam de dor, de medo,
diante da tragedia que atinge milhares de irmãos e irmãs é nossa missão nesse
tempo”, segundo Dom Edson. Ele destacava a necessidade de ser uma Igreja
hospital de campanha, um oásis de misericórdia, uma casa de acolhida e
solidariedade. Também refletia sobre a importância da Campanha da Fraternidade
e a imagem do Papa Francisco em Fratelli tutti que nos diz que estamos todos no
mesmo barco, algo que cobra mais sentido no meio dos rios da Amazônia. O bispo
fazia um chamado a “abrir-se para a solidariedade, para a fraternidade, para a
partilha do que somos e temos”, afirmando que “os verdadeiros presbíteros são
aqueles que arriscam a vida para cuidar da vida, para salvar a vida”, fazendo
um convite a “renovar os compromissos sacerdotais e assumir a missão”, e a
tomar consciência da necessidade de cuidar da mãe Terra.
Dom Edson Damian destacava a importância do retiro e
da Missa da Unidade, para “retornando às comunidades viver com fidelidade nossa
doação, nossa entrega, nosso serviço para continuar a missão de Jesus”, insistindo
em que há “tanta gente golpeada e ferida nessa pandemia que precisa do nosso
amor, da nossa misericórdia”.