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Dia: 19 de outubro de 2023

Francisco convoca a Assembleia Sinodal a caminhar com os mais vulneráveis

Os participantes da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI do Vaticano de 4 a 29 de outubro, rezaram na tarde do dia 19 de outubro pelos migrantes e refugiados aos pés da imagem que os lembra, na qual está representada a Sagrada Família e que foi colocada na Praça de São Pedro anos atrás. Um sinal da necessidade de nos conscientizarmos, como Igreja, de uma das realidades que hoje causam mais dor à humanidade. Rezando pelo sofrimento dos migrantes e refugiados Com a presença do Santo Padre, a oração foi uma oportunidade para rezar por todos aqueles que perderam suas vidas ao longo das várias rotas migratórias, por suas famílias, por aqueles que sobreviveram e por todos os refugiados e migrantes que ainda estão a caminho. Na oração, Francisco pediu ao Senhor, “para quem ninguém é estrangeiro e ninguém está longe da ajuda”, que “olhe com bondade para os refugiados e exilados, para os homens e meninos separados, para que lhes conceda o retorno à sua terra natal e nos dê uma caridade eficaz para com os necessitados e estrangeiros”. A relevância da parábola do Bom Samaritano À luz da parábola do Bom Samaritano, que está no centro da encíclica Fratelli tutti, o Papa Francisco lembrou que “a estrada que levava de Jerusalém a Jericó não era um caminho seguro, assim como as muitas rotas migratórias não são seguras hoje”, questionando os muitos viajantes de hoje que se assemelham à parábola, que “partem enganados por traficantes inescrupulosos“. Lembrando os sofrimentos pelos quais passam, ele insistiu que “as rotas de migração de nosso tempo são povoadas por homens e mulheres feridos e abandonados que estão meio mortos; por irmãos e irmãs cuja dor clama pela presença de Deus”. Diante deles, “hoje, como naquela época, há aqueles que veem e passam, certamente procurando uma boa desculpa”. Para Francisco, a chave, o ponto de virada, é que “a compaixão é a marca de Deus em nossos corações“, algo que se concretiza na fraternidade. Tornando-nos próximos Seguindo o exemplo do Bom Samaritano, ele nos convidou a “nos tornarmos proximos de todos os viajantes de hoje, para salvar suas vidas, curar suas feridas, aliviar sua dor“. Nessa atitude, o Papa encontra “o significado dos quatro verbos que resumem nossa ação com os migrantes: acolher, proteger, promover e integrar”, que ele define como “uma responsabilidade de longo prazo”, pedindo que nos preparemos adequadamente para “os desafios da migração hoje, compreendendo suas criticidades, mas também as oportunidades que ela oferece, com vistas ao crescimento de sociedades mais inclusivas, mais belas e mais pacíficas”. Por fim, ele pediu para “multiplicar os esforços para combater as redes criminosas“, para “trazer as políticas demográficas e econômicas para o diálogo com as políticas de migração” e para “colocar os mais vulneráveis no centro”. Essa reflexão foi seguida por um momento de silêncio para oração pessoal e pedidos para fazer o bem e construir o Reino de Deus. Eles oraram pela Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos; por uma Igreja fiel à sua missão de Bom Samaritano e hospital de campanha para todos; pelas vítimas das rotas migratórias, para que os refugiados e migrantes não precisem mais embarcar em viagens perigosas e encontrar portas fechadas; e pela paz. Em seguida, após rezar o Pai Nosso e os participantes receberam bênção papal. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Czerny: “As estruturas hierárquicas da Igreja não têm nada a temer do processo de escuta”

Os migrantes foram os protagonistas da conferência de imprensa de 19 de outubro, dia em que a Assembleia Sinodal trabalhou em círculos menores. Estavam presentes o Cardeal Michael Czerny, Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Dom Daniel Ernest Flores, Bispo de Brownsville (EUA), um dos presidentes delegados do Sínodo, Dom Anton Dabula Mpako, Arcebispo de Pretória e Ordinário Militar da África do Sul, e o Padre Khalil Alwan, da Igreja Maronita. Momento de oração pelos migrantes e refugiados O motivo dessas presenças está relacionado ao Momento de Oração pelos Migrantes e Refugiados em torno do monumento aos migrantes na Praça de São Pedro com a presença do Papa Francisco. Uma oração que é “uma oportunidade maravilhosa para rezar e colocar em prática o que estamos tentando entender e valorizar no Sínodo”, de acordo com o Cardeal Czerny, que destacou o simbolismo dos participantes da Assembleia Sinodal caminhando juntos até o monumento e estar “em frente a esta imagem que representa todas as pessoas vulneráveis de todos os tempos, para rezar juntos”. Uma Assembleia Sinodal que, nas palavras do prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, “concentrou-se no contexto de uma Igreja que está tentando caminhar de forma coral“, definindo o Sínodo como um caminho compartilhado que acompanha as pessoas mais vulneráveis, por exemplo, aquelas que são forçadas a se deslocar de seus locais de origem.  Migrantes nos Estados Unidos, no Líbano e na África do Sul Os presentes compartilharam a realidade dos migrantes na fronteira entre os Estados Unidos e o México, na África do Sul e no Líbano. Uma experiência compartilhada por Dom Daniel Flores, que começou destacando os dons e as experiências presentes em todas as dioceses do mundo, algo que ele compartilhou em relação à sua diocese, por onde passa um grande número de migrantes e onde a situação é muito complexa. Em uma diocese com poucos recursos materiais, “o coração das pessoas é muito generoso”, enfatizou o prelado. O bispo de Brownsville insistiu que eles agem proporcionando a todos a dignidade que lhes corresponde, querendo responder às necessidades, porque “todos merecem viver uma vida digna”. Um trabalho que realizam em conjunto com outras dioceses, porque “é importante trabalhar juntos dentro da Igreja”, enfatizou. O representante da Igreja Maronita, que está participando de seu quarto sínodo, destacou a novidade do método e do conteúdo, com a participação de todas as categorias da Igreja. Em um país de 5 milhões de habitantes, 2 milhões de sírios vivem em campos de refugiados em condições desumanas no Líbano. A partir daí, ele denunciou a política migratória da União Europeia e as duras condições que a comunidade internacional impõe a um país pobre, mas que precisa ajudar os sírios com seus próprios recursos, provocando reações duras dos cidadãos locais. Uma situação que ele não hesita em descrever como uma tragédia humana, exigindo uma reação da comunidade internacional. Por sua vez, o Arcebispo de Pretória destacou o trabalho nos círculos menores e o fato de que em diferentes lugares “já existe um terreno fértil para a sinodalidade, já temos comunidades onde as pessoas participam dos processos de tomada de decisão”. Sobre a situação dos migrantes na África do Sul, onde a maioria dos 3,9 milhões de migrantes, de acordo com dados oficiais, embora na realidade ele diga que há muitos mais, chegam fugindo da pobreza, cujo clamor é ouvido pela Igreja Católica, embora eles estejam cientes de que é difícil ajudar a todos. A maioria dos migrantes é católica e eles os tentam dar assistência pastoral e integrá-los à comunidade, acompanhados por padres que falam a língua deles. Autoridade e sinodalidade Em resposta às perguntas dos jornalistas, o Bispo Flores afirmou que “o exercício da autoridade na Igreja deve estar enraizado em uma conversão do coração“, dizendo que o que mais o preocupa é “como podemos abrir as portas para um novo estilo, como podemos nos tornar um povo em serviço mútuo enraizado em Jesus”, insistindo que “ninguém está excluído, a conversão do coração é fundamental”. Uma sinodalidade que, na opinião de Dom Anton Dabula Mpako, “tem que coexistir com a estrutura hierárquica da Igreja”, dois lados da mesma moeda para os quais é necessário buscar como trabalhar juntos de forma conjunta e coral, enfatizou o prelado sul-africano. Para ele, “a sinodalidade é algo que tem um caráter único, a sinodalidade é algo que envolve a Igreja de Pedro, e todos nós temos que caminhar no mesmo nível, na sinodalidade”. Em uma Igreja sinodal como essa, “as estruturas hierárquicas da Igreja não têm nada a temer dos processos de escuta, é impossível que isso prejudique a natureza hierárquica da Igreja“, afirmou o Cardeal Czerny. Para o cardeal jesuíta, “a fé ativa e a esperança que vêm de uma escuta radical do sopro do Espírito nos ajudarão a entender como as estruturas funcionam e como podemos melhorá-las”, enfatizando que um dos elementos que provoca maior alegria na Sala Sinodal é que “não estamos falando sobre sinodalidade, estamos vivenciando-a”. A Igreja e os grupos LGBTQI Quando perguntado sobre a posição da Igreja em relação às questões LGBTQI, o bispo sul-africano apontou que “a posição da Igreja é muito clara”, dizendo que “queremos trabalhar com compaixão, sem discriminar, sem fazer com que se sintam excluídos“, lembrando as palavras do Papa Francisco, e pedindo uma compreensão da raiz antropológica dessa realidade, o que significa que não é fácil resolvê-la logo. Acima de tudo, ele insistiu que “é importante que as pessoas da comunidade LGBTQ se sintam em casa na Igreja”. Flores insistiu que em sua diocese a missão da Igreja é acolher as famílias que enfrentam dificuldades, pedindo aos voluntários que vejam o rosto de Jesus nas pessoas que ajudam, sem fazer perguntas sobre orientação sexual ou política, como Cristo fez, chamando-os a seguir seus passos. O mesmo bispo enfatizou a importância dos esforços que estão sendo feitos na Sala Sinodal para “entender o que o meu vizinho está dizendo”, o que não é fácil, insistindo que “temos que estar cientes da…
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Coragem e criatividade do bispo que quer que as mulheres participem das decisões

Novos caminhos são percorridos quando temos a coragem e a criatividade de seguir em frente. Ser uma Igreja sinodal não é fácil, ela encontra muita resistência, muitas vezes dentro da própria Igreja, que talvez devesse repensar suas leis para adaptá-las a essa nova maneira de viver a fé, proclamar o Evangelho e construir o Reino de Deus. Quando se quer, se pode Nesse sentido, podemos dizer que há testemunhos que nos desafiam e nos ajudam a entender que, quando se quer, se pode, que sempre há maneiras de superar obstáculos e seguir em frente, que uma Igreja sinodal na qual as mulheres entram nos espaços de tomada de decisão é viável e que há lugares onde isso acontece. No início dos trabalhos de cada um dos módulos em que se divide o Instrumentum Laboris da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, alguns dos presentes deram testemunhos mostrando como a sinodalidade se concretiza em todos os cantos do planeta, em uma Igreja que é católica, universal, presente nos confins da terra. A experiência do bispo Joly Em 11 de dezembro de 2021, o Papa Francisco nomeou Dom Alexandre Joly, até então Bispo Auxiliar de Rennes, como novo Bispo de Troyes, assumindo o cargo em 23 de janeiro de 2022. Em um momento em que o mundo se recuperava de uma de suas maiores crises das últimas décadas, causada pela pandemia de Covid-19, o jovem bispo de 52 anos, chegou a uma Igreja com uma grave situação financeira. Para enfrentar esse desafio, ele reagiu de forma sinodal, pedindo que uma decisão conjunta fosse tomada, embora tenha deixado claro que ele seria quem tomaria a decisão final. Isso, como o próprio bispo disse, porque “o que diz respeito a todos deve ser examinado por todos”. A Igreja pertence a todos, mesmo que às vezes seja difícil de entender e aceitar. Diante das dificuldades, criatividade e coragem No entanto, o que podemos considerar mais marcante no testemunho de Dom Joly foi como ele reagiu à consulta sobre a nomeação do novo Vigário Geral da diocese. Nas respostas, houve quem dissesse que um diácono ou um leigo deveria ser o vigário geral, algo que o Direito Canônico não permite e que, como eu disse antes, é algo que dificulta a realização de uma Igreja sinodal. Diante dessa situação, o bispo, com coragem e criatividade, sabendo da disponibilidade de uma leiga, que segundo o bispo “ela era reconhecida por todos por seu empenho e competência no serviço da diocese“, nomeou-a delegada geral, e ela passou a fazer parte do trio executivo da diocese, juntamente com o vigário geral e o bispo. Deixar para trás o aqui sempre foi assim O direito canônico proibia que ela fosse nomeada “vigária geral”, mas agora ela “atua como moderadora da Cúria para os serviços pastorais da diocese e supervisiona a transformação pastoral e missionária da diocese“, como enfatizou Dom Joly. Um exemplo claro de que, para avançarmos em uma Igreja sinodal, não podemos ter medo de enfrentar os desafios e deixar para trás o “aqui sempre foi assim”. O próprio bispo enfatizou para os participantes do Sínodo e para a Igreja universal – seu testemunho foi transmitido ao vivo – que “a presença de uma mulher ao meu lado, uma mulher reconhecida por todos e bem aceita em sua missão e responsabilidade, traz uma perspectiva muito positiva para a gestão da diocese“. Pouco a pouco, ele diz que estão sendo criados vínculos com o vigário geral e isso “permite uma preciosa circularidade entre nós três, mesmo que cada um tenha sua própria missão e seu próprio grau de responsabilidade”, concluiu o criativo e corajoso bispo de Troyes. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1