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Dia: 13 de outubro de 2024

O cardeal sinodal envolvido em garantir que a luz da Igreja não falte aos pobres

Os cardeais de Francisco, ou melhor, a maneira como o atual pontífice entende o cardinalato, estão, em muitos casos, fora dos parâmetros tradicionais em que se entendia ser investido com a púrpura. Servos e não eminências Na carta que enviou àqueles que receberão o capelo em 7 de dezembro, ele diz: “Pés descalços, tocando a dura realidade de muitos cantos do mundo embriagados de dor e sofrimento devido à guerra, discriminação, perseguição, fome e numerosas formas de pobreza que exigirão tanta compaixão e misericórdia de vocês”. E acrescenta: “o título de servo (diácono) ofusque cada vez mais o de eminência”. A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade conta com a presença de um bom número de cardeais, que são vistos entrando na Sala Paulo VI e circulando por ela nos momentos em que a entrada é liberada para os jornalistas. Entre outros, fiquei impressionado com o esmoleiro pontifício, Cardeal Konrad Krajewski. Ele reativou a luz em um prédio ocupado Entre as muitas anedotas do cardeal polonês, há uma que é muito significativa. Em uma ocasião, informado sobre a grave situação de mais de 400 pessoas, incluindo muitas crianças, em um palácio romano ocupado, que estavam sem eletricidade e água quente, ele reativou pessoalmente o fornecimento de eletricidade do edifício, um gesto consciente das possíveis consequências que poderia enfrentar, na convicção de que era necessário fazer isso para o bem dessas famílias. Na segunda-feira passada, 7 de outubro, no Dia de Jejum e Oração convocado pelo Papa Francisco, foi o Esmoleiro Pontifício que promoveu a coleta e passou o cesto entre os participantes da Assembleia Sinodal, arrecadando 32.000 euros, aos quais a Esmolaria Pontifícia acrescentou outros 30.000, que foram enviados à paróquia de Gaza. Mais um gesto dos muitos que ele já fez, foi para Lesbos, para a Ucrânia, até mesmo dirigindo uma ambulância, e para tantos outros lugares onde muitos estão chorando e para os quais ele tem sido a carícia de Deus. Igreja pobre para os pobres Ele é um exemplo do que o Instrumentum Laboris da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal reflete em vista da plena renovação da Igreja em um sentido sinodal missionário, alertando “sobre a falta de participação de tantos membros do Povo de Deus neste caminho de renovação eclesial e sobre o cansaço da Igreja em viver plenamente uma relação saudável entre homens e mulheres, entre gerações e entre pessoas e grupos de diferentes identidades culturais e condições sociais, em particular os pobres e excluídos”. O Cardeal Krajewski é um bom exemplo dessa Igreja pobre para os pobres, desses pastores com cheiro de ovelha, da proposta que o Instrumentum Laboris faz, quando diz que “a vontade de ouvir a todos, especialmente os pobres, que o modo de vida sinodal promove, contrasta fortemente com um mundo em que a concentração de poder exclui os pobres, os marginalizados e as minorias”. Esse é o caminho a seguir e o cardeal sinodal polonês é uma luz que nos mostra para onde podemos e devemos ir. Na Igreja, também na Igreja sinodal, os pobres devem ser o foco principal, pois é isso que a tornará confiável. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Uma Igreja sinodal que nos leva a dialogar juntos pela paz

Os caminhos em uma Igreja sinodal são importantes e, nessa dinâmica eclesial, nutrir relacionamentos em um mundo ferido, promover o diálogo pela paz, colocar-se a serviço da sociedade para criar novas formas de ver e se relacionar com os outros, deixando de lado a autorreferencialidade, é de grande importância. Um mundo polarizado e fragmentado O mundo de hoje está cada vez mais polarizado e fragmentado, com guerras atrozes e conflitos violentos se tornando uma característica permanente da vida de muitos países e pessoas. Francisco tem alertado repetidamente que uma terceira guerra mundial está sendo travada em pedaços. Diante dessa situação, a Igreja deve sentir o chamado para caminhar junto, para viver a sinodalidade, para buscar a unidade na diversidade. Somente assim seremos testemunhas de Cristo, que, como nos diz Efésios, “fez dos dois povos um só e derrubou o muro que os separava”. Um dos desafios que a Igreja Sinodal enfrenta é ser uma testemunha autêntica e confiável no contexto global, para se tornar um lugar onde “a visão do profeta Isaías é vivida: ‘ser uma força para os fracos, uma fortaleza para os pobres em sua angústia, um refúgio na tempestade, uma sombra contra o calor’”, como afirma o Instrumentum Laboris para a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro de 2024. Novos horizontes do Espírito Uma Igreja que “abre seu coração ao Reino”, diz ainda o mesmo texto, e assume sua missão de promover a “amizade social”, proposta por Francisco em Fratelli tutti, que se caracteriza por não excluir ninguém, e a “fraternidade aberta” a todas as pessoas. Nessa perspectiva, quando todos os membros do Povo de Deus se deixam guiar pelo Espírito Santo, protagonista do processo sinodal, experimentamos com grande alegria e profunda gratidão que Deus, por meio de seu Espírito, nos abre novos horizontes. Assim, acolhemos com convicção, humildade e simplicidade o fato de que isso requer a disposição de todos os membros do Povo de Deus para uma conversão relacional permanente na Igreja, a fim de sermos testemunhas desses novos caminhos relacionais para o mundo. Somente dessa forma, com a graça de Deus, poderemos nos tornar cada vez mais uma Igreja verdadeiramente sinodal e esperançosa. Isso requer uma conversão permanente, que exige uma profunda mudança de mente e coração para caminharmos juntos com diferentes carismas e ministérios em uma corresponsabilidade diferenciada na missão da Igreja para promover uma prática sinodal autêntica. Não nos esqueçamos de que a sinodalidade precisa ser encarnada e inculturada nos diversos contextos das Igrejas locais e regionais, conforme expresso no Instrumentum Laboris. Assumir a prática de escutar Para alcançar credibilidade e coerência em nosso testemunho, essa prática sinodal deve ser realizada por todos, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas, enfim, todos os membros do Povo de Deus. Algo que pode e deve ser concretizado na “celebração de assembleias eclesiais em todos os níveis”, como proposto no Instrumentum Laboris da Segunda Sessão, já que essa é uma forma concreta de praticar a escuta e prestar a devida atenção ao sensus fidei fidelium. Finalmente, ninguém deve se esquecer de que a Igreja também é chamada a caminhar sinodalmente com os outros seres vivos da natureza. Neste momento crítico para nosso planeta, é imperativo ouvir o grito da terra e o grito dos pobres e nos comprometermos mais com o cuidado de nossa casa comum, pois “o mundo que nos acolhe está desmoronando e talvez se aproxime de um ponto de ruptura”, como Francisco nos diz na Laudato Deum. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1