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Dia: 19 de novembro de 2025

Patrícia Gualinga à COP30: “Pensem nas respostas urgentes que esta crise climática exige”

Patrícia Gualinga é uma das vice-presidentes da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), considerada no Sínodo sobre Sinodalidade como um exemplo dessa forma de ser Igreja. A líder indígena do povo Kichwa de Sarayaku, na Amazônia equatoriana, pede aos líderes da COP30 que “não pensem apenas em negócios, mas na resposta urgente que biomas como a Amazônia exigem, as respostas urgentes que esta crise climática exige”. A vice-presidente da CEAMA denuncia a situação climática na Amazônia e pede que se ouçam as vozes das mulheres e dos povos indígenas. Ela também pede respeito aos saberes tradicionais, aos direitos e ao cumprimento dos acordos. “Para os povos indígenas, o Papa Francisco foi uma surpresa muito positiva porque ele sentiu a Amazônia apesar de não ser da Amazônia, e a defendeu”, afirma Gualinga. Ela enfatiza a importância do Sínodo para a Amazônia, do qual participou. A líder indígena clama por “a resposta urgente que biomas como a Amazônia exigem, as respostas urgentes que esta crise climática demanda”. Dez anos após o Acordo de Paris e a Laudato Si’, dois marcos na luta contra as mudanças climáticas, o que significa realizar a COP na Amazônia? É altamente simbólico que ela aconteça aqui na Amazônia, pois já se fala em um ponto de não retorno na região, e acredito que seja urgente. Mesmo simbolicamente, a presença de povos indígenas neste bioma confere a ele um significado especial. No entanto, desde o Acordo de Paris, houve pouco progresso ou implementação das decisões tomadas, e isso nos levou a uma crise ainda maior. Esperamos que esta COP, realizada aqui no Brasil, realmente contemple a perspectiva do progresso necessário na proteção da Amazônia, com as vozes das mulheres, mas também com uma voz forte dos povos indígenas, para que eles possam estar no centro da tomada de decisões. Não podemos mais falar apenas sobre o meio ambiente, mas também sobre o aspecto social. E esperamos sinceramente que as negociações incluam pontos que ajudem a combater a crise que estamos vivenciando. E o que os povos indígenas exigem das Nações Unidas e dos diversos países em relação ao cuidado com nossa casa comum, ao cuidado com o planeta? Eles exigem algo que já existe: respeito aos seus direitos. Esse respeito existe, mas não tem sido cumprido. O primeiro ponto, e é muito importante, apesar de estar consagrado no direito internacional, não está sendo respeitado. Requer consentimento, não apenas consulta. Consentimento livre, prévio e informado, dado de boa-fé, com forte participação dos povos indígenas. Devem também considerar os impactos sociais que ocorrem na Amazônia. Deve haver um reconhecimento e uma valorização genuínos do conhecimento dos povos indígenas. Eles também precisam de acesso a financiamento para que possam implementar seus próprios planos de acordo com sua própria visão. Esses são alguns dos pontos que eles levantaram e que estão sendo discutidos atualmente. Deve haver inclusão; nós também devemos estar no centro da tomada de decisões. As negociações devem incluir a linguagem completa dos direitos e dos direitos coletivos. A partir das cosmovisões tradicionais, dos processos de pensamento dos povos indígenas, o que os povos indígenas querem enfatizar e o que precisa ser ouvido especificamente? Respeito ao conhecimento tradicional, sua não apropriação e sua valoração equitativa. Mas, ao mesmo tempo, esse conhecimento deve ser tratado com igualdade pela ciência, e não como mero conhecimento empírico. E isso é muito claro, porque o conhecimento ancestral contém muitas soluções que poderiam ser aplicadas se realmente quiséssemos combater a crise climática. Outro ponto que reivindicamos é: chega de combustíveis fósseis, chega de exploração de petróleo na Amazônia, chega de destruição causada pela mineração, chega de construção de estradas, porque isso acarreta muita destruição. Há uma demanda pelo reconhecimento do conhecimento ancestral, mas também pela proteção de nossos territórios. Muitos falam sobre a titulação e demarcação de terras, e isso precisa acontecer agora. Dez anos se passaram desde a publicação da Laudato Si’, escrita pelo Papa Francisco. O que o Papa Francisco representou para os povos indígenas, especialmente por meio da encíclica Laudato Si’ e do impulso que deu à necessidade de cuidar de nossa Casa Comum, sobretudo dos territórios indígenas? Para os povos indígenas, o Papa Francisco foi uma surpresa muito positiva, pois ele sentiu uma profunda conexão com a Amazônia, mesmo sem ter sido amazônico, e a defendeu. Ele promoveu o Sínodo da Amazônia, motivando um diálogo territorial abrangente que levou ao Sínodo, uma resposta ao território. A encíclica Laudato Si’ captura a visão e a perspectiva de muitos povos indígenas, não de todos, pois não tem os meios para alcançá-los a todos, mas captura sua essência. O belo disso é que conecta a fé, a espiritualidade, de uma forma bíblica. Isso é algo que não se perderá da noite para o dia. Há um movimento crescendo paralelamente a isso, e ele deve, de alguma forma, envolver aqueles que realmente sentiram o impacto da Laudato Si’ em suas próprias vidas. Você fala de envolvimento. Você é uma representante dos povos indígenas como vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia. O que significa para os povos indígenas que a Igreja Católica, ao acompanhar a vida na Amazônia e tomar decisões sobre a própria Igreja na região amazônica, leve em consideração as vozes dos povos indígenas? É muito importante. O contexto eclesial não é o nosso mundo, mas é muito importante porque nos permite acompanhar e apoiar esse processo, que é inteiramente novo e muito complexo, pois envolve espiritualidade, mas também meio ambiente, questões sociais e os bispos, e não apenas os povos indígenas, mas também comunidades ribeirinhas, caboclos, agricultores e o povo das cidades como Belém. É sempre importante que essa visão holística e primordial dos povos indígenas, que vem da natureza, proporcione esse acompanhamento. Como indígena, como alguém que valoriza o legado do Papa Francisco, o que você diria à COP30 para ajudar a orientar decisões concretas? Eles não devem pensar apenas no aspecto comercial, mas na resposta urgente exigida por biomas como a Amazônia, as respostas urgentes exigidas por esta crise climática. E…
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Redes Climáticas Universitárias: Formar líderes mais generosos, inclusivos, com maior consciência ambiental

As universidades são instituições que estabeleceram Redes Climáticas, uma prática cada vez mais consolidada nos centros de ensino superior da América Latina. Seis reitores universitários refletiram sobre essa questão em 19 de novembro no Pavilhão de Ensino Superior para a Ação Climática, na Zona Azul da COP30, que está sendo realizada em Belém (PA), de 10 a 21 de novembro de 2025. Os palestrantes foram Juan Pablo Murra, do Tecnológico de Monterrey (México); Cicilia Maia, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Brasil); Anderson Pedroso, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Brasil); Carlos Greco, da Universidade Nacional de San Martín (Argentina); Antônio de Almeida, da Universidade Estadual de Campinas (Brasil); e Agustina Rodríguez Saa, da Universidade Nacional de Comechingones (Argentina). A RUC e sua reflexão sobre a dívida ecológica Algumas delas fazem parte da Rede de Universidades para o Cuidado da Nossa Casa Comum (RUC), uma rede que reúne universidades públicas e privadas, seculares e religiosas, garantindo a diversidade. A rede nasceu da encíclica Laudato Si’, dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e do Acordo de Paris. Em um encontro com o Papa Francisco em 2023, que impulsionou decisivamente essa rede, o pontífice as desafiou a formar líderes e fortalecer os laços com a comunidade local, promovendo o diálogo entre a ciência e outras formas de conhecimento. No encontro realizado no Rio de Janeiro em maio de 2025, a rede decidiu concentrar sua reflexão na dívida ecológica. O papel das universidades diante da gravidade da crise climática é crucial, enfatizou Juan Pablo Murra. Ele destacou que “seria um erro não se envolver no cuidado da nossa casa comum”. Isso deve ser feito por meio do ensino, da pesquisa e da defesa de direitos. Trabalhando em colaboração para transformar a partir do nível local e compartilhando experiências com outros. Pautas climáticas nos programas universitários Nesse sentido, nos deparamos com a necessidade de impactar através da educação universitária, incluir a pauta climática nos cursos de graduação e não só na pós-graduação, compartilhar experiências e informações nas redes universitárias, salientou Antônio de Almeida. Ele destacou o papel da inovação para transformar conhecimento em desenvolvimento. Igualmente refletiu sobre as possibilidades que os recursos naturais na América Latina, uma região de paz, representam em prol de uma economia sustentável. O mundo universitário, que goza de grande capilaridade, através da pesquisa, se torna meio para resolver problemas comuns, segundo Cicilia Maia. Ele ressaltou a importância da COP30 como espaço para fortalecer redes, para estabelecer a colaboração entre países. Descobrir a missão comum Anderson Pedroso vê a RUC como um modelo muito interessante: universidades públicas e privadas unidas no ideal de cuidar da nossa casa comum. O reitor da PUC-Rio defendeu “derrubar muros e construir pontes entre as redes, que são comunidades, espaços de sacrifício pessoal para a criação de comunidade”. É necessário falar sobre a missão comum e descobrir que, como instituições autônomas, buscamos um objetivo comum. Ele também defendeu a compreensão das universidades como espaços que salvaguardam a democracia e os direitos de todos. Devem ser espaços que não dependem de governos, espaços para vivenciar a democracia e construir algo comum. Tudo isso se baseia no fato de que as universidades são “laboratórios vivos de experiência”. Como membro da RUC, Carlos Greco defendeu o enfrentamento da dívida ecológica, algo que considera fundamental. Para isso, são necessários processos colaborativos no desenvolvimento de atividades educativas, que conduzam à transmissão de conhecimento para a solução dos problemas da sociedade. “Trabalho diário que aumenta a consciência dos alunos sobre o conhecimento que se relaciona com a realidade”, com o cuidado com o planeta. Desafios Essas redes enfrentam alguns desafios, como a fragilidade das democracias e a desigualdade na América Latina, visto que “através da democracia, os grandes problemas da desigualdade e da dívida ecológica podem ser resolvidos”, afirmou Greco. Outro desafio, nas palavras de Anderson Pedroso, é superar o que o Papa Leão XIV chamou de “globalização da impotência”. Isso pode ser superado compartilhando o que está sendo feito e capacitando as pessoas a organizar a esperança com método, conteúdo e etapas. Capacitando-as para serem o melhor para os outros, formando líderes generosos que possam pensar globalmente. Entre os desafios está a vulnerabilidade socioeconômica de muitos estudantes, mas também entender que uma nação se desenvolve quando as pessoas são desenvolvidas, formadas. Isso precisa de um plano de ação definido, salientou Cicilia Maia. Mas também se torna um desafio as colaborações universitárias muito mais intensas para ter uma voz mais determinante na sociedade, como reconheceu Antônio de Almeida. Olhando para o Futuro O baixo investimento em ciência e tecnologia é visto como mais um desafio pelo reitor do Tecnológico de Monterrey. Isso dificulta a capacidade da universidade de olhar para o exterior, pensar no futuro e ter sua voz ouvida em fóruns globais. Olhando para o futuro, considerando que as universidades são atores sociais que promovem o bem-estar da sociedade, a Inteligência Artificial torna-se um elemento crucial nos processos educacionais, fomentando um DNA de inovação. O futuro da universidade demanda a inclusão de todos os coletivos, algo presente na Universidade Estadual de Campinas, com grande presença de indígenas. Isso ajudará a “criar lideranças mais generosas e inclusivas, com consciência ecológica mais forte”, destacou seu reitor. Cicilia Maia também enfatizou a importância da expansão, da democratização do ensino superior no Brasil nos últimos anos, com presença dos grupos vulneráveis. Isso provoca “uma troca de saberes que produz soluções mais duradouras”. Junto com isso forma indivíduos com capacidade ética e crítica para poder desenvolver seu entorno. A reitora brasileira defende incluir questões ambientais e de sustentabilidade na grade universitária no Plano Nacional de Educação do Brasil. Formar líderes mundiais Essas políticas de inclusão nas universidades brasileiras tiveram origem nas universidades católicas, afirmou o reitor da PUC-Rio. Pedroso acredita ser necessário investir mais em educação de qualidade com pesquisa estratégica de alto nível para o futuro. Isso requer colaboração entre todos os setores, público e privado, em diálogo, inclusive entre diferentes pontos de vista. Além disso, é crucial formar indivíduos…
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