O desencanto com a Política é uma atitude cada vez mais presente na sociedade atual. Essa realidade tem que nos levar a refletir e encontrar caminhos que possam ajudar a encantar a Política. O filósofo grego Aristóteles definiu a política como “um meio para alcançar a felicidade dos cidadãos”, mas o exercício da política nos mostra que muitas vezes se busca a felicidade de pequenos grupos e não do conjunto da cidadania.
Falência do modelo comunitário
A última análise de conjuntura do Grupo de Análise de Conjuntura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – Padre Thierry Linard, apresentada nesta semana, fala de “crise humanista e a falência do modelo comunitário”. Segundo o texto “essa crise é marcada por um profundo esvaziamento dos princípios de solidariedade, corresponsabilidade e cuidado coletivo”, elementos que tem a ver com a tradição cristã.

A consequência é “a vulnerabilidade em que vivem milhões de brasileiros”, uma situação que deve piorar diante das pressões de grupos de poder político e econômico que pretendem recortar os gastos sociais para perpetuar privilégios de pequenos grupos e aumentar a brecha social em um país secularmente marcado pela desigualdade. Eles não se importam com a falta de moradia, as condições precárias do Sistema Único de Saúde, da educação pública, do sistema de mobilidade urbana.
A lógica do Estado mínimo
“Essa conjuntura reflete os efeitos acumulados das políticas de exclusão, que, ao longo de décadas, operaram por meio da fragmentação social e da negação de direitos”, afirma o texto, que mostra que “a lógica do Estado mínimo, a desresponsabilização do poder público e a crescente influência de interesses privados nos espaços de decisão corroem a capacidade de resposta coletiva aos problemas comuns”.
Nos deparamos com instâncias de poder político que não buscam a melhor política. Uma expressão acunhada por Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti, onde ele mostra que a política é um elemento crucial para alcançar a fraternidade universal e promover a amizade social, tendo como objetivo o verdadeiro bem comum e a caridade social. Uma política que valorize a geração de trabalho e renda, a inclusão social, a diversidade e a caridade social como elementos fundamentais na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e voltada para o bem de todos.

Política que se tornou politicagem
Uma proposta que atualmente é ignorada na política brasileira, que se tornou politicagem, que de forma mesquinha responde a pressões e inércias viciosas, a interesses imediatos que nunca favorecem os mais pobres, que não são expressão de amor para com os outros, que ignora o sofrimento de tantas pessoas que se esforçam em sobreviver.
A polémica em torno ao Imposto sobre Operações Financeiras, às emendas parlamentares e tantas outras situações presentes no atual panorama político brasileiro, são claros exemplos dessa politicagem que pretende acabar com a melhor política, deixando de lado sua função transformadora, seu cuidado com o que é público, a busca da felicidade de todos.
Editorial Rádio Rio Mar