Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Autor: cnbbnorte1blog@gmail.com

Encerra-se o Sínodo Digital, que “nos encoraja a ir cada vez mais longe, sempre testemunhas do Evangelho”

Como parte das atividades da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano, de 2 a 27 de outubro, o Sínodo Digital foi encerrado na tarde deste domingo, 20 de outubro, Dia Mundial das Missões. No túmulo de Pedro Na Capela Clementina, ao lado do túmulo de Pedro, com a participação de missionários digitais de mais de 50 países, foi realizada uma celebração da Palavra presidida pelo subsecretário da Secretaria Geral do Sínodo, Dom Luis Marín de San Martín. Às 16 horas, em Roma, o Secretário do Dicastério para a Comunicação, monsenhor Lucio Ruiz, deu as boas-vindas aos participantes, lembrando que “há exatamente dois anos nos reunimos neste mesmo lugar, a Capela Clementina, nas grutas da Basílica Vaticana, exatamente sobre a Tumba do Apóstolo Pedro, a pedra sobre a qual Jesus construiu a sua Igreja”. Como então, além do subsecretário do Sínodo, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, também estava presente. Uma celebração que quer “manifestar a universalidade católica, nossa unidade e comunhão com o Papa e com toda a Igreja“, disse Lucio Ruiz. Foi um longo caminho, com encontros de oração, assembleias sinodais digitais, encontros presenciais e virtuais, em todo o mundo, com o festival de influenciadores católicos em Lisboa, participando das assembleias sinodais, com mil iniciativas missionárias. Um caminho que continuará com a experiência de “A Igreja te escutaok”, que “continua em seu humilde caminho de serviço à unidade”, conforme declarado no Relatório Síntese da Primeira Sessão. São obras que fazem parte do grande fluxo missionário da Igreja, que tem sua origem no envio de Jesus, porque “todos os cristãos são missionários, cada um em seu lugar, cada um com sua vocação particular, cada um na cultura e todos nos ambientes”. Habitando o mundo digital como cristãos Reconhecendo que “a tecnologia digital torna as distâncias mais curtas e os espaços menores“, Luis Marín enfatizou que “o que realmente une é a proximidade do coração daqueles de nós que acreditam em Jesus Cristo. Ele não é uma ideia, um mandato ou um conceito, e muito menos um avatar, uma identidade meramente virtual. Ele é uma pessoa viva. Ele é a razão de nossa vida, aquele que a preenche com significado”. Nessa perspectiva, ele enfatizou que “o mundo digital deve ser habitado por cristãos. Ele não nos encerra em bolhas de segurança, em redutos de fantasia, mas nos impulsiona a ir mais longe, sempre testemunhas do Evangelho”, agradecendo o trabalho daqueles que chamou de “pioneiros de um novo mundo”, por “evitar o localismo e tornar possível uma rede, uma família, que transcende as fronteiras”. O subsecretário do Sínodo vê a missão digital como algo com “status de cidadania na Igreja de hoje”, que está sendo realizada de várias maneiras para construir um continente sem fronteiras geográficas. O bispo agostiniano destacou o ir e convidar, mostrando que isso supõe abandonar e assumir atitudes diversas, compartilhar e dar testemunho, destacando que “não se trata de criar grupos seletos, elites arrogantes e autossuficientes, mas de acolher os discípulos do Ressuscitado” e, para isso, “manchar-nos com o pó do caminho, com a lama da história”. Um chamado a “colaborar para realizar o sonho de uma Igreja coerente e aberta, inclusiva e misericordiosa, próxima e solidária, envolvida e corresponsável, fraterna e alegre, a Igreja do Evangelho, a Igreja de Jesus, que é uma família, uma casa comum”. A celebração incluiu vários testemunhos de pessoas cujas vidas foram tocadas graças à Missão realizada em ambientes digitais, seguida de um momento de preces, no qual foram ouvidas vozes de 10 países, e a oportunidade de compartilhar os presentes recebidos por meio da Missão Digital, com cada pessoa escrevendo esses frutos em sua tela, com base na pergunta: “Quando você foi em missão nas redes, o que encontrou?” Refletindo sobre o significado da missão Paolo Ruffini enfatizou a importância de nos encontrarmos “neste lugar que nos chama a uma contínua conversão, humildade e testemunho”, no Dia Mundial das Missões, “para refletir sobre o significado da nossa missão e a do povo de Deus como um todo“, para fazer um balanço do fato de sermos discípulos missionários, dos talentos, vocações e carismas recebidos, da realidade do mundo e da Igreja, das atitudes de cada um de nós. Para falar sobre o significado da missão, Ruffini se referiu a São Paulo e a assumir suas atitudes “ao construirmos, repararmos e lançarmos nossas redes digitais“. Isso para “servir, tornar-se tudo para todos, ser verdadeiramente um, construir comunidade”, e “nunca cair na tentação de uma missão unilateral, no personalismo daqueles que falam e não ouvem”, e buscar o “nós” e não o “eu”, “escolher sempre a comunhão e não a distinção”. Ele agradeceu aos participantes “por serem um exemplo de uma forma diferente de estar nas redes sociais, de viver e evangelizar a cultura digital”, pedindo “que o Senhor nos ajude a ser o sal e o fermento do nosso tempo, com a mesma humildade do sal e do fermento”. Continuar a proclamar o Evangelho nas ruas digitais Finalmente, após a Consagração Mariana e a Bênção, os dois membros da Assembleia Sinodal como representantes do Sínodo Digital, Ir. Xiskya Valladares e José Manuel Urquidi, deram seus testemunhos. Foi uma assembleia em que muitos participantes descobriram “que queriam saber mais”, como afirmou a religiosa. Isso levou ao fato de que, na Segunda Sessão, “quase todas as mesas trataram do assunto com grande profundidade. Agora se fala que, para ser uma igreja sinodal em missão, também devemos estar na missão digital”, o Papa Francisco e os bispos estão cientes dessa realidade, que ela vê  como obra do Espírito Santo. Para continuar no caminho, ela pediu para continuar trabalhando, “continuemos a proclamar o reino de Deus pelas ruas digitais, sem perder a esperança, sem nos cansarmos”, contando com a companhia e a bênção do Senhor. Por sua vez, Urquidi destacou a existência dessa nova fronteira missionária, aonde “devemos ir para inculturar o Evangelho“. Os bispos reconhecem “que, há algum tempo, há esforços…
Leia mais

Papa Francisco canoniza 14 novos santos, que “viveram o estilo de Jesus: o serviço”

No Domingo Mundial das Missões, a uma semana da clausura da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que realiza em Roma sua Segunda Sessão de 2 a 27 de outubro, Papa Francisco presidiu a Eucaristia em que foram canonizados 14 novos santos: o Irmão Manuel Ruiz Lopez e sete companheiros, Francisco, Mooti y Rafael Massabki, José Allamano, Irmã Paradis Marie Leonie e a Irmã Elena Guerra, que, segundo o Santo Padre, “viveram o estilo de Jesus: o serviço”. Discípulos do Evangelho A eles se referiu Francisco em sua homilia como “discípulos do Evangelho”, destacando que “ao longo da história conturbada da humanidade, foram servos fiéis, homens e mulheres que serviram no martírio e na alegria, como o Irmão Manuel Ruiz Lopez e seus companheiros. Trata-se de sacerdotes e consagradas com o fervor da paixão missionária, como o Padre Giuseppe Allamano, a Irmã Paradis Marie Leonie e a Irmã Elena Guerra”. Em palavras do Papa, “a fé e o apostolado que realizaram não alimentaram neles desejos mundanos e avidez de poder; pelo contrário, eles fizeram-se servidores dos seus irmãos, criativos em fazer o bem, firmes nas dificuldades, generosos até ao fim”. Comentando o Evangelho do XXIX Domingo do Tempo Comum, lembrando a conversa de Jesus com Tiago e João, Francisco disse que “Jesus faz perguntas e, deste modo, ajuda-nos a discernir, porque as perguntas fazem-nos descobrir o que há dentro de nós, iluminam o que trazemos no coração. Dai o convite que ele fez a nos deixarmos interpelar pela Palavra do Senhor, tendo como ponto de partida as perguntas de Jesus: “O que queres que faça por ti?”; “podes beber o meu cálice?” São perguntas que mostram “o vínculo e as expectativas que os discípulos nutrem para com ele, com as luzes e sombras próprias de qualquer relação”, lembrou o Papa. Reconhecendo a ligação de Jesus com Tiago e João, ele disse que “têm pretensões. Manifestam o desejo de estar perto dele, mas apenas para ocupar um lugar de honra, para desempenhar um papel importante”, segundo relata o texto evangélico: “na sua glória, se sentarem um à sua direita e outro à sua esquerda”. É por isso que “torna-se evidente que pensam em Jesus como um Messias vitorioso e glorioso e esperam que Ele partilhe a sua glória com eles. Veem em Jesus o Messias, mas pensam nele segundo a lógica do poder”, sublinhou Francisco. Duas perguntas para ver as intenções Segundo o Papa, “Jesus não se detém nas palavras dos discípulos, mas vai mais fundo, escuta e lê o coração. E durante o diálogo, por meio de duas perguntas, procura trazer à tona o desejo que está por detrás daqueles pedidos”. Na primeira pergunta: “Que quereis que vos faça?”, o Santo Padre destaca que “esta interrogação revela os pensamentos dos seus corações, traz à luz as expectativas escondidas e os sonhos de glória que os discípulos cultivam secretamente”. Imaginando a pergunta de Jesus: “Quem queres que eu seja para ti?”, o Papa destacou que “assim, desmascara o que eles realmente desejam: um Messias poderoso e vitorioso que lhes dê um lugar de honra”. Com a segunda pergunta: “Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o batismo com que Eu sou batizado?”, o Papa disse que “Jesus desmente esta imagem de Messias e ajuda-os, deste modo, a mudar de olhar, isto é, a converterem-se”. Segundo ele, “Revela-lhes, desta maneira, que não é o Messias que eles pensam que é; é o Deus de amor, que se abaixa para chegar aos que estão em baixo; que se faz fraco para levantar os fracos; que trabalha pela paz e não pela guerra; que veio para servir e não para ser servido. O cálice que o Senhor vai beber é a oferta da sua vida, que nos foi dada por amor, até à morte e morte de cruz”. O escravo de todos Nesse momento, o Santo Padre lembrou que “à sua direita e à sua esquerda estarão dois ladrões, suspensos na cruz como Ele e não instalados confortavelmente em lugares de poder; dois ladrões pregados com Cristo na dor e não sentados na glória. O rei crucificado, o justo condenado torna-se escravo de todos: este é verdadeiramente o Filho de Deus!”. Prosseguindo com o comentario, ele destacou que “vence não quem domina, mas quem serve por amor”, lembrando que “é o que nos recorda também a Carta aos Hebreus. No texto aparece que “neste momento, Jesus pode ajudar os discípulos a converterem-se, a mudarem de mentalidade”, mostrando que frente ao poder dos grandes, “não deve ser assim para aqueles que seguem um Deus que se fez servo a fim de chegar a todos com o seu amor. Quem segue Cristo, se quiser ser grande deve servir, aprendendo d’Ele”. No Evangelho do dia, Francisco ve que “Jesus revela os pensamentos, os desejos e as previsões do nosso coração, desmascarando por vezes as nossas expectativas de glória, domínio e poder. Ele ajuda-nos a pensar já não segundo os critérios do mundo, mas segundo o estilo de Deus, que se faz último para que os últimos sejam erguidos e se tornem os primeiros”. O serviço é o estilo de vida cristão Para o Papa Francisco, “muitas vezes, estas perguntas de Jesus, com o seu ensinamento sobre o serviço, são tão incompreensíveis para nós como o eram para os discípulos. Porém, seguindo-O, percorrendo os Seus passos e acolhendo o dom do Seu amor que transforma a nossa maneira de pensar, também nós podemos aprender o estilo de Deus: o serviço”. Uma dinâmica que ele convidou a aspirar: “não ao poder, mas ao serviço. O serviço é o estilo de vida cristão. Não se trata de uma lista de coisas a fazer, como se, uma vez realizadas, pudéssemos considerar terminado o nosso turno. Quem serve com amor não diz: ‘agora toca a outro’. Este é um pensamento de empregados, não de testemunhas”. Segundo o Santo Padre, “o serviço nasce do amor e o amor não conhece fronteiras, não faz cálculos, mas gasta-se e dá-se. Não…
Leia mais

São José Allamano: a santidade vinda da periferia

O fundador dos Institutos dos Missionários da Consolata e das Irmãs Missionárias da Consolata, o Beato José Allamano, será canonizado no Dia Mundial das Missões, em um Sínodo que tem a missão como foco da Segunda Sessão de sua Assembleia Sinodal, e após o reconhecimento de um milagre ocorrido em uma missão que mostra o valor da interculturalidade na proclamação do Evangelho, a Missão Catrimani. Uma missão para cuidar da vida Nesse lugar, no meio da selva amazônica, perto da fronteira entre o Brasil e a Venezuela, a Consolata chegou em 1965, para realizar uma missão diferente, que tinha como objetivo fundamental cuidar da vida de um dos povos mais numerosos e sofridos da Amazônia brasileira, o povo Yanomami, eternamente ameaçado e hoje morrendo lentamente em consequência dos ultrajes realizados pela mineração ilegal, que polui seus rios e os explora de várias maneiras. Se alguém defendeu e cuidou dos Yanomami da região de Catrimani, foram os missionários e missionárias da Consolata. Eles o fizeram por meio de um modelo de missão baseado no respeito e no diálogo, que se traduz em ações concretas em defesa da vida, da cultura, do território e da floresta, da Casa Comum. Uma missão fundada no silêncio e no diálogo que gera laços de amizade e alianças na perspectiva do bem viver. Um bem e um privilégio para a Igreja de Roraima. Uma referência não apenas para aqueles que seguem a espiritualidade de Allamano, mas também para a Igreja de Roraima, representada na canonização por seu atual bispo, Dom Evaristo Spengler, por um de seus antecessores, Dom Roque Paloschi, e por Dom Raimundo Vanthuy Neto, bispo da diocese de São Gabriel da Cachoeira, a diocese mais indígena do Brasil, que até o início de 2024 era padre da diocese de Roraima e participou da fase diocesana do processo de canonização. Junto com eles, religiosos e religiosas, leigos e leigas, entre eles indígenas Yanomami, que com a presença dos Missionários e Missionárias da Consolata descobriram a riqueza da espiritualidade fundada pelo novo santo. A Missão Catrimani “tem sido um caminho extraordinário, um bem e um privilégio para a Igreja de Roraima”, como disse Dom Roque Paloschi quando era bispo de Roraima, que também insistia na necessidade de respeitar e compreender as diferenças das culturas indígenas. O Cardeal Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Conselho Indigenista Missionário, e o atual bispo de Roraima, Dom Evaristo Spengler, insistiram nisso na coletiva de imprensa que antecedeu a canonização. Uma atitude de cuidado que é motivo de gratidão para os povos indígenas da Terra Yanomami, como reconheceu um de seus líderes, Julio Ye’kwana, na Sala Stampa do Vaticano. De fato, o milagre pelo qual José Allamano será canonizado pode ser visto como uma expressão do trabalho realizado pela diocese de Roraima. Em 7 de fevereiro de 1996, o Beato Allamano intercedeu em favor do indígena Yanomami Sorino, que vivia na Missão Catrimani. A cura milagrosa do indígena, em uma época em que a medicina tradicional e a ciência médica só podiam esperar sua morte, depois de ter sido atacado por uma onça, que abriu seu crânio, foi fruto da oração fervorosa das Irmãs Missionárias da Consolata, pedindo a intercessão de seu fundador, o Beato José Allamano, no primeiro dia da novena dedicada a ele. Uma recuperação milagrosa fruto da oração Após as orações das irmãs, o indígena Sorino teve uma recuperação milagrosa e vive até hoje na comunidade indígena. A diocese de Roraima iniciou o processo diocesano em 2021, e o Dicastério para as Causas dos Santos o concluiu em 23 de maio de 2024, aprovando o decreto de reconhecimento do milagre. É, sem dúvida, uma confirmação da escolha feita pelos Missionários e Missionárias da Consolata por esse tipo de missão, nem sempre compreendida e até rejeitada por alguns católicos. No atual processo sinodal, que tem debatido o tema da relação com outras culturas e religiões como forma de realizar a missão, o que aconteceu no processo de canonização do novo santo, fundador de dois institutos com um claro caráter missionário, pode ser visto como algo que mostra que a fecundidade do anúncio do Evangelho alcança frutos inesperados. Que São José Allamano continue a interceder pelos Yanomami e por todos os povos indígenas, tantas vezes vistos como gente da periferia, descartados por uma sociedade que coloca o lucro acima da vida das pessoas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O milagre de canonização de Allamano, “nos indica onde nós devemos estar, junto dos pobres”

A Praça de São Pedro acolherá neste 20 de outubro, Domingo Mundial das Missões, no tempo em que é realizada a Segunda Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, que tem como desafio ser uma Igreja sinodal em missão, a canonização de 13 novos santos, dentre eles José Allamano, fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata. Deus se manifesta em quem achamos não participa da nossa fé O milagre reconhecido para a canonização de Allamano acontece na Amazônia, com Sorino Yanomami, um indígena da Missão Catrimani, onde o carisma da Consolata está presente desde 1965. Que o milagre tenha acontecido desse modo, “tem um significado muito importante, é para nós uma imensa alegria e satisfação”, segundo o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Em encontro com jornalistas na Sala Stampa vaticana, o cardeal Steiner lembrou que “talvez hoje o povo Yanomami seja o povo indígena mais sofrido no Brasil”. Um exemplo disso foram as dificuldades enormes enfrentadas no ano passado, quando mais de 500 crianças faleceram. Naquela ocasião, ele foi em Boa Vista, a capital do Estado de Roraima para verificar a situação e levar uma palavra do Santo Padre. O arcebispo de Manaus refletiu sobre o fato de o milagre ter acontecido no meio a um povo que a maioria não pratica a religião católica. Isso significa que “ali Deus está presente e se manifesta, se manifesta em alguém que nós achamos que não participa da nossa fé”, afirmou. Ele acrescentou que “nós somos muito agradecidos por Deus iluminar as nossas vidas com esse milagre e nos indicar o caminho onde nós devemos estar e com quem nós queremos estar. Se estivermos junto dos pobres, dos mais necessitados, estaremos no melhor lugar”. Agradecidos pela presença missionária da Consolata Para os Yanomamis a presença dos Missionários e Missionárias da Consolata no meio deles, é de grande importância e motivo de agradecimento, segundo testemunhou Júlio Ye’kwana, liderança indígena da Terra Yanomami, que relatou a realidade local, denunciando o sofrimento diante das graves consequências do garimpo ilegal e pelo Marco Temporal, que os povos indígenas do brasil estão enfrentando, diante do que consideram inconstitucional, “algo feio, um absurdo”. Diante dessa situação, ele pediu o apoio internacional para os moradores originários do Brasil. Uma diocese que fez opção pelos indígenas “A Igreja de Roraima fez uma histórica opção pelos povos indígenas, e isso lhe rendeu muitas ameaças e perseguições ao longo da história”, afirmou o bispo, dom Evaristo Spengler. Ele relatou a história da Igreja local, que desde o início percebeu a realidade dos povos indígenas, considerados propriedade pelos fazendeiros da região, eles eram marcados com o mesmo ferro do gado. Uma situação denunciada pelos missionários beneditinos, diante da qual eles sofreram ameaças físicas, tendo que se refugiar no meio dos povos indígenas. Desde 1948 estão presentes na diocese de Roraima os Missionários e as Missionárias da Consolata, que “continuaram e aprofundaram ainda mais essa opção pelos povos indígenas”, que haviam perdido as terras e a identidade, a língua e a cultura indígena, sublinhou o bispo. Diante disso, os Missionários da Consolata iniciaram um processo de resgate da cultura, da língua, da identidade e das terras, promovendo diversos projetos, uma dinâmica perpetuada ao longo dos anos. Dom Evaristo Spengler denunciou a grande e grave invasão dos garimpeiros, com forte apoio político e económico, da Terra Indígena Yanomami. Junto com isso, chegou o tráfico de armas, de drogas, a exploração sexual das mulheres indígenas, a destruição da floresta e contaminação dos rios, que teve como consequência a destruição do povo Yanomami, aumentando a mortalidade de crianças por causas evitáveis, por falta de cuidados. O bispo lembrou que nos últimos anos a Igreja de Roraima fez opção pelos migrantes, mais de um milhão nos últimos anos. Finalmente, dom Evaristo Spengler disse que “o milagre que aconteceu com o indígena Sorino Yanomami no dia 7 de fevereiro de 1996, livrando-o da morte por intercessão do beato José Allamano, foi um sinal de Deus, foi uma confirmação de que a missão da Igreja está do lado dos mais pobres, dos mais fracos, dos vulneráveis da sociedade, e que é por aí que passa o Reino de Deus”, concluiu. O coração aberto ao mundo A superiora das Missionárias da Consolata, Ir. Lucia Bortolomasi, destacou que o novo santo fundou uma congregação “com o coração aberto ao mundo”, para levar o Evangelho, a salvação, a consolação ao povo que não conheceu o Evangelho de Jesus Cristo”. A canonização leva a “descobrir a beleza desse carisma”, e assim “viver a santidade com o estilo de nosso fundador, um estilo simples, humilde, próximo do povo”, alguém que sempre dizia: “coragem e adiante”. Ao lado de quem habita as periferias O superior geral dos Missionários da Consolata, padre James Bhola Lengarin, destacou o testemunho sobre o povo Yanomami como “um momento de graça”, que desafia a ter o coração atento aos outros, àqueles que habitam as periferias do mundo, que são descartados pela nossa sociedade doente e sem valores. O superior destacou que Allamano enviou em missão não só padres, mas também leigos, para testemunhar a Palavra de Deus. Isso desafia a ir adiante, entregando a vida, sendo sinal de esperança para a humanidade.  Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Papa Francisco recebe mulheres e leigos do Sínodo, pouco ouvidos na história da Igreja

O Papa que gosta de escutar se reuniu neste sábado com dois grupos aos quais, ao longo da história, a Igreja não deu muita atenção: as mulheres e os leigos. Dois grupos representados nesta ocasião por aqueles que participam de várias maneiras da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano. As mulheres e os leigos hoje têm voz e voto A iniciativa, promovida por eles mesmos, foi aceita pelo Santo Padre. O atual pontificado deu passos em relação às mulheres e aos leigos, cada um os qualificará à sua maneira, porque as avaliações pessoais são sempre diferentes. Ninguém pode negar que, por exemplo, no Sínodo, as mulheres e os leigos agora têm voz e voto, o que é um sinal de alegria para eles, já que lhes foi dada a oportunidade de participar do processo de discernimento, uma dinâmica de grande importância na Igreja de hoje. É a própria Igreja que ganha com essa proximidade, pois as redes entre as várias vocações, ministérios e serviços são fortalecidas. Se quisermos que a missão da Igreja, o anúncio do Evangelho, a construção do Reino de Deus esteja presente entre nós, o batismo deve ser o ponto de partida, o Povo de Deus como um todo deve assumir esse chamado de Jesus aos seus discípulos. A escuta é de grande valor para Francisco No Sala Sinodal, nas mesas redondas, a presença de leigos e mulheres foi de grande importância. São eles que melhor conhecem a vida cotidiana da Igreja nas bases, os detalhes da missão diária. Escutar isso é algo de grande valor para o atual pontífice, porque é uma oportunidade de se aproximar do sensus fidei fidelium, o senso de fé dos fiéis, de todo o povo de Deus. O conteúdo das conversas mantidas durante a audiência não foi revelado, mas não há dúvida de que deve ter sido um momento de graça, um tempo de Deus para muitas pessoas, que terão descoberto nos poucos minutos ao lado do Santo Padre uma inspiração, uma forte motivação, não apenas em suas palavras, mas sobretudo em suas atitudes, em sua abertura para ouvir, o que o leva a chegar mais cedo às sessões do Sínodo e a sentar-se para atender à longa fila que se forma, na qual obviamente há espaço para mulheres e leigos. Uma reunião de vozes para uma Igreja sinodal e missionária De fato, alguém que participou da reunião afirma que “foi significativo ouvir as mulheres dos diferentes continentes, essa soma de vozes e sensibilidades unidas no desejo de ser uma Igreja sinodal e missionária. Todas tão diferentes e tão dispostas a caminhar juntas, a abrir portas, a comunicar a Boa Nova. É uma alegria sentir que somos irmãs”. Na Igreja de Francisco há espaço para todos, e todos são ouvidos, todos, todos, mesmo aqueles a quem a Igreja, ao longo de sua história, fez ouvidos moucos. Na Igreja sinodal, haverá muitas mulheres e muitos leigos que continuarão a trabalhar para avançar, para que esse modo de ser Igreja se estabeleça na base, nas comunidades, onde muitas vezes, mesmo que alguns queiram silenciá-los, eles continuam a testemunhar com suas palavras e seu modo de vida que vale a pena levar a Boa Nova até os confins da terra. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Sínodo se rejuvenesce escutando 150 estudantes universitários de vários países

A Sala Paulo VI, onde está sendo realizada a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, foi rejuvenescida na tarde de sexta-feira. 150 jovens de várias universidades de todo o mundo se reuniram com quatro membros da Assembleia Sinodal: o Secretário Geral do Sínodo, Cardeal Mario Grech, o Relator Geral, Cardeal Jean Claude Hollerich, o Bispo de Browsville (Estados Unidos), Daniel Ernesto Flores, e a Irmã Leticia Salazar, Chanceler da Diocese de San Bernardino (Estados Unidos). Ser uma Igreja que escute os jovens Os jovens fizeram algumas perguntas, começando com a melhoria dos processos de escuta, ao que o Cardeal Grech destacou o convite do Papa Francisco para ser uma Igreja sinodal, para escutar, uma dinâmica presente na vida da Igreja nos últimos anos. Nesse sentido, o Papa é alguém que prega pelo exemplo, tendo realizado vários encontros com jovens nos últimos anos por meio do projeto Building Bridges, no qual se reuniu com estudantes universitários de diferentes continentes. Para os jovens, é importante a proximidade da Igreja com aqueles que foram feridos e com aqueles que estão fora da Igreja, bem como com aqueles que participam de várias maneiras da vida da Igreja. Uma escuta que deve começar com a escuta do Espírito, algo que Hollerich vê como uma graça, um dom de Deus. A diversidade não é algo que desafia a fidelidade à tradição ou prejudica a verdade.  De fato, para o Bispo Flores, escutar o Espírito não é apenas ouvir o Povo de Deus, é também escutar a tradição da Igreja. Quando lhe perguntaram como o Sínodo passa da discussão para a ação concreta e tangível, a Ir. Salazar salientou que, quando ouvimos uns aos outros, estamos sonhando a Igreja juntos. A partir daí, ela fez com que os jovens vissem que isso não é uma ideia, é algo real: discernir juntos, viver a sinodalidade juntos. Uma dinâmica para a qual o Papa convocou toda a Igreja. Formação nos seminários As faculdades de Teologia e as dioceses são desafiadas a abordar questões concretas presentes em cada realidade. Nesse sentido, o bispo Flores afirmou que, em sua diocese, a migração é a nossa realidade, disse ele, o que faz da migração um problema teológico, um assunto a ser estudado. O bispo exigiu a necessidade de ir aonde as pessoas estão, de fazer a experiência, porque isso muda a perspectiva, já que ter uma pessoa real nos contando uma história real muda nossa perspectiva. A formação nos seminários é uma questão abordada em um dos 10 grupos de estudo criados pelo Papa, lembrou o Cardeal Grech. Um instrumento importante para revisar os programas de formação, disse ele, deixando claro que os alunos precisam ser ajudados a serem mais sensíveis. Nesse campo de formação, a religiosa destacou que, além de preparar os alunos para serem profissionais, eles devem ser treinados para serem eles mesmos, para serem melhores com as qualidades que Deus lhes deu, para que possam ajudar pessoas que não tiveram as mesmas possibilidades. De fato, quando o Espírito Santo abre a porta, encontramos uma pessoa real, porque Deus é uma realidade, acrescentou Hollerich. O desafio é que a educação, o estudo da Teologia, nos torna melhores. Conhecer a cultura onde o Evangelho é proclamado Sobre o diálogo inter-religioso e a sinodalidade, o Cardeal Hollerich, que foi missionário no Japão por mais de 20 anos, enfatizou a importância do diálogo em todas as suas dimensões. Em sua vida missionária no Japão, ele entendeu que, para proclamar o Evangelho naquele país, precisava estudar sua cultura e religião a fim de encontrar a melhor maneira de pregar. O Relator Geral do Sínodo lembrou que o Papa Francisco nos fala de fraternidade entre as religiões e nos diz que a justiça expressa o amor de Deus, referindo-se à justiça ecológica. Por isso, temos que caminhar juntos com todas as religiões e agir juntos pela justiça, porque isso faz parte da missão. De acordo com o cardeal de Luxemburgo, não se pode proclamar o altruísmo e viver de outra forma. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Luis Marín: No Sínodo, “não há varinhas mágicas, as coisas não mudam de um dia para o outro, são processos de renovação”

“O Sínodo, como a fé cristã, é fundamentalmente uma experiência de Cristo, e se não formos a essa experiência não vivemos a fé cristã em toda a sua profundidade”, disse o subsecretário do Sínodo, Dom Luis Marín de San Martín, na Sala Stampa do Vaticano, analisando o processo sinodal pelo qual a Igreja está passando, algo que ele conhece de seu serviço na Secretaria do Sínodo. Processo sinodal, um filho do Vaticano II Em suas palavras, ele lembrou que “o processo sinodal é filho da eclesiologia do Vaticano II, sobretudo da Lumen Gentium”, insistindo que vale a pena reler e aprofundar esses documentos, e lembrando que é algo que “vem de mais longe, não é uma invenção, não é algo que o Concílio descobriu”. Diante dessa situação, Marín de San Martín assinalou que “a mudança que temos que fazer é que a Igreja é sinodal em sua essência, assim como a Igreja é missionária, assim como a Igreja é comunhão em si mesma”. Nesse sentido, ele disse que “isso vem da Igreja primitiva. É por isso que as fontes são a Sagrada Escritura, os Padres da Igreja, o Magistério, a história, o desenvolvimento canônico”, algo que ‘nos faz ver que a Igreja é essencialmente sinodal’. Um processo que depende de todos e de cada um Lembrando que “tudo isso é um processo”, o subsecretário do Sínodo exclamou: “como eu gostaria do que que tudo mudasse de um dia para o outro”. No entanto, “não há varinhas mágicas, as coisas não mudam de um dia para o outro, são processos de renovação, e dependerá de cada um de nós, de nossas paróquias, de nossas dioceses, de nossos grupos, tornar tudo isso concreto”. Diante desta dinâmica, o bispo agostiniano insistiu em que “todo este processo sinodal não pode ficar nos princípios, nas ideias, deve descer à prática, deve descer ao nosso mundo, deve descer à nossa realidade concreta”, destacando a importância das paróquias, das pequenas comunidades. Nesse sentido, ele lembrou a reunião de párocos, realizada em abril e maio, onde surgiu o tema. “Todo processo de renovação deve ser de baixo para cima, não de cima para baixo, deve vir de baixo para cima, da realidade, da vida cotidiana”, algo que ele disse acreditar estar sendo vivenciado no Sínodo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

A Assembleia Sinodal diz que o Mediterrâneo, assim como a Amazônia, merece um Sínodo

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade encerrou nesta sexta-feira o último módulo, o de Lugares. A partir de segunda-feira, quando os trabalhos forem retomados na Sala Sinodal, será a vez de abordar as conclusões. Descentralização e o papel das Igrejas Particulares De acordo com o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, a Assembleia Sinodal nas últimas horas tratou de dois tópicos: os critérios para definir uma descentralização saudável e o papel das igrejas particulares no contexto mais amplo da Igreja Católica e das Igrejas sub iudice. Nesse sentido, foi dito que a singularidade de cada igreja não deve ser vista como um desafio, mas como um dom especial. Ele se referiu à necessidade de garantir a revitalização das Igrejas Católicas Orientais e a possibilidade de celebração comum da Páscoa. Uma reunião dos 10 grupos de estudo criados pelo Papa em torno do Sínodo, uma reunião com os canonistas e outra com os jovens estão programadas para sexta-feira. Para a próxima semana, período de conclusões e redação do Documento Final, foi solicitado um clima de oração e retiro, e na segunda-feira, antes de retomar os trabalhos, será celebrada uma missa presidida pelo Cardeal Grech, secretário do Sínodo. Comunidades de base como um lugar privilegiado para a Igreja Com relação aos critérios para definir uma descentralização saudável, Sheila Pires citou a proximidade e a sacramentalidade, com o papel das comunidades de base como o lugar privilegiado da Igreja sendo enfatizado mais uma vez. Ela falou sobre o mundo digital e a necessidade de discernimento no mundo digital, de ser discípulos digitais. Houve um chamado para sermos resilientes, para não termos medo da pluralidade, o que não desvaloriza os ministérios e os lugares. Em relação às paróquias dentro da assembleia, ficou claro que a administração devora a dimensão missionária na paróquia, o que exige novas formas de ser paróquia. Levando em conta que a sinodalidade acontece nas realidades, há um apelo à escuta das pessoas que sofrem, à descentralização em vista da corresponsabilidade do Povo de Deus, à promoção dos leigos, à clareza das competências. Na Igreja, a Palavra de Deus está inserida em conceitos culturais específicos, o que exige inculturar o Evangelho, buscando a unidade na diversidade, em uma tensão que não é estática, mas dinâmica. Não se pode esquecer que o desafio sinodal está em acolher o que é diferente, mas a unidade não é um quebra-cabeça. Ela está em uma igreja que vive e cresce como qualquer outro organismo vivo. É por isso que a unidade no essencial e a diversidade no secundário são necessárias. Mais uma vez, o diaconato feminino foi discutido e o fato de as mulheres estarem presentes nos processos de tomada de decisão é importante, mas não suficiente. Sheila Pires relatou que a violência contra a mulher, a capacidade de inclusão e o cuidado com o meio ambiente foram mencionados. Caminho comum das Igrejas do Mediterrâneo O Papa Francisco confiou ao arcebispo de Marselha (França), Cardeal Jean-Marc Aveline, a tarefa de preparar o trabalho comum no Mediterrâneo. Uma iniciativa que começou em 2020 em Bari, na reunião de todos os bispos da bacia do Mediterrâneo, onde houve uma troca de situações em torno desse mar, que são muito diferentes. Um caminho que continuou com novas reuniões em Florença em 2022 e Marselha em 2023. O desejo do Papa de criar redes, de ouvir as igrejas em dificuldade, está sendo colocado em prática. Não se deve esquecer que o Mediterrâneo é uma região onde coisas dramáticas estão acontecendo, guerras, falta de liberdade, corrupção, migrantes tentando atravessar o mar, o que exige que trabalhemos juntos nesse contexto. Nesse sentido, o cardeal francês falou da existência de redes para ajudar os migrantes quando eles chegam, redes de faculdades de teologia, o trabalho comum dos santuários, redes de educação, espaços de diálogo entre jovens e bispos, com prefeitos, com pessoas de diferentes religiões. Essas são realidades que têm uma conexão com o processo sinodal. Trata-se de ver como a Igreja pode contribuir para a justiça e a paz nessa região, como ela pode fazer a sua parte, em uma região com três continentes e cinco margens. Uma realidade que exige diálogo ecumênico e inter-religioso, sobre rotas de migração, clima, tensões geopolíticas. Diante de tantos desafios, Avelline disse abertamente que, assim como foi realizado um Sínodo para a Amazônia, o Mediterrâneo também merece um Sínodo. O Sínodo como um caminho para a paz O caminho sinodal ajuda a resolver muitos problemas humanos em conjunto, disse o Cardeal Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba (Sudão do Sul), um país nascido em 2011, onde a conferência episcopal é formada juntamente com os bispos do Sudão. O cardeal lembrou a necessidade de as pessoas entenderem que as guerras que ocorreram foram travadas por pessoas que queriam ser livres. Nesse sentido, ele disse que ainda existem “situações pendentes que temos que enfrentar e resolver juntos, problemas humanitários muito sérios, criados por seres humanos”. A divisão do Sudão aumentou, os problemas aumentaram, os acordos de paz não estão sendo cumpridos e precisam ser atualizados. O Arcebispo de Juba lembrou a preocupação do Santo Padre, mas isso não impediu a continuidade de uma situação de instabilidade, que está aumentando como resultado da corrupção e da má administração dos recursos, em um país com enorme potencial. Ele vê o Sínodo como uma ajuda para o diálogo dos bispos com os políticos. Ele também relatou os problemas relacionados à mudança climática, que causa secas e inundações, referindo-se à recente visita do Cardeal Czerny. O Sudão do Sul está crescendo como Igreja e regredindo no campo social e político, o que exige mais diálogo. A situação é agravada pela falta de empregos e de lugares para morar. É necessário, a partir do Sínodo, “nos colocarmos a serviço do povo, diante de uma guerra que destrói tudo”. É por isso que, diante dos problemas, que são de todos, o diálogo é necessário. Um continente unido eclesialmente para servir melhor O Arcebispo de Bogotá…
Leia mais

Na sinodalidade, o caminho é longo e os frutos virão quando Deus quiser.

Há mais de 20 anos, durante um retiro, Adolfo Chércoles, falando sobre o imediatismo da cultura atual, disse que hoje ninguém construiria uma catedral gótica, cuja construção levava décadas, até mesmo séculos, para ser concluída. O jesuíta estava se referindo à dificuldade que temos em plantar sabendo que não colheremos os frutos, uma atitude que tem aumentado ainda mais com o passar dos anos. O caminho e o tempo de Deus Na Amazônia, aprendi a entender que o espaço e o tempo podem ser compreendidos de forma diferente. Naquela imensidão de terra, de águas, onde em algumas regiões é possível navegar por seus rios sem encontrar ninguém além do Criador, sempre presente em tudo o que nos cerca, descobrimos que perto e longe, cedo e tarde são conceitos cuja percepção varia. O caminho e o tempo de Deus não são conceitos facilmente compreendidos e assumidos no momento histórico atual. O caminho de Deus é uma longa estrada, que deve ser percorrida lentamente, para ser desfrutada, ainda mais quando, em nossos passos, desfrutamos da companhia de outras pessoas, quando somos capazes de avançar juntos, encontrando um ritmo no qual todos nos sentimos à vontade. Os processos do Francisco Quando assumirmos que vale a pena percorrer o caminho mais longo, entenderemos a Igreja dos processos que Francisco propõe. Em certa ocasião, em um encontro com jesuítas chilenos, o Papa lhes disse que as propostas do Concílio Vaticano II só seriam assumidas 100 anos depois, algo que não é exagerado, pois, passados 60 anos, percebe-se que muitos dos elementos e dinâmicas fundamentais propostos nos documentos conciliares ainda estão um tanto distantes. A sinodalidade é uma dinâmica que favorece a missão, ajuda a compreender o sentido fundamental de ser Igreja, que é ser comunidade, caminhar juntos, viver a comunhão. Uma Igreja que restringe a participação se enfraquece, porque o envolvimento decisivo de todos os batizados e batizadas na missão é um caminho necessário para realizar o que pedimos todos os dias: “Venha a nós o vosso reino”, o Reino de Deus. Não perder a esperança Se as propostas do Concílio levarão 100 anos para serem adotadas, de acordo com o atual pontífice, podemos pensar que o processo sinodal não será algo que se fará de hoje para amanhã. Haverá momentos e lugares de progresso e outros em que as dificuldades forçarão a desaceleração do ritmo, mas isso não pode desencorajar aqueles que vivem na fé e na esperança. A questão fundamental é se na Igreja de hoje estamos prontos para construir a catedral gótica, se queremos construir para aqueles que virão depois de nós. Nesse sentido, o Papa Francisco, prestes a completar 88 anos, que provavelmente não colherá muitos frutos do processo sinodal que vem implementando ao longo de seu pontificado, é um verdadeiro testemunho de que, ao tomar atalhos, os perigos aumentam e o risco de não chegar se torna mais plausível, de que vale a pena construir uma catedral gótica, cuja beleza, apesar da demora em alcançá-la, é admirável. Ninguém é obrigado a tomar o caminho mais longo, mas quem escolhe atalhos não deve pensar que sua escolha é a única possível. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação 

Emilce Cuda: “América Latina ainda não perdeu a capacidade de sentir o sofrimento dos outros”

Evangelizar não se reduz a algo metafísico, o importante é como fazê-lo, e a resposta é com palavras e gestos, tocando a carne sofredora de Cristo no povo, lavando os pés. Inspirada pelas palavras do Papa Francisco, a Secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, Emilce Cuda, iniciou sua intervenção na Tenda da Sinodalidade, onde ela e Alessandro Galassi abordaram a questão da Sinodalidade e dos Movimentos Populares. Fortalecendo a sinodalidade A teóloga argentina mostrou seu desejo de fortalecer a sinodalidade, em vista de uma mudança na Igreja, uma conversão estrutural, algo que responda ao fato de que a Igreja é uma reforma permanente, que deve levar a pregar o Evangelho de forma sinodal, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. O importante é fazer coisas concretas, o que pode ser feito pelo caminho longo, o caminho de Francisco, iniciando processos, algo que exige colaboração e paciência, porque não sabemos se veremos os resultados, com a fé de que outros continuarão o caminho, mesmo que seja longo. Em contrapartida, há o caminho curto, os atalhos, aqueles que nos pedem mudanças imediatas, mas que talvez não sejam possíveis agora, pois têm a ver com estruturas. Passando do mundo católico para o mundo secular, Cuda se referiu à solidariedade, que ela definiu como “uma forma concreta de dizer sinodalidade”. Referindo-se ao tema proposto, ela afirmou que o que hoje é chamado de movimentos populares é conhecido como comunidade organizada há mais de 100 anos. A partir disso, deduziu que “ser sinodal é uma maneira de pregar o Evangelho de forma organizada, de forma comunitária”. Algo que vai além do que Francisco chama de “individualismo comunitário”, que encerra as demandas sociais em suas próprias comunidades, lutando por suas próprias identidades, sem a capacidade de estabelecer laços de solidariedade. Fazer do sonho do outro o nosso próprio sonho O desafio é que todo um país, todo um continente, seja uma comunidade organizada, o que se consegue quando há solidariedade entre as demandas, quando há solidariedade e caminhamos juntos, acompanhando as demandas dos outros, de forma colaborativa e intergeracional, em rede, em diálogo, sentindo a necessidade do outro e tornando nosso o sonho do outro. Diante disso, o caminho mais curto é cada um seguir com sua própria demanda, narrativa, anseio, sem cair no desespero e na angústia de não ver resultados imediatos em minha própria vida. De fato, a semente não vê a planta, mas confia que ela se tornará uma planta. Emilce Cuda pediu a todas as comunidades organizadas que pensem em suas necessidades e sonhos sendo reconhecidos pelos Estados como direitos. Segundo ela, a solidariedade não pode ser algo individual. Por isso, o que vivemos nesse Sínodo “temos que valorizá-lo”, continuar trabalhando nessa sinodalidade, citando várias organizações latino-americanas nesse sentido, como CEAMA, CELAM, REPAM, REMAM, REGCHAG, Rede Clamor, que mostram a riqueza da capacidade de organização da América Latina, de resiliência, de recomeçar sempre, de sonhar. Um continente jovem que luta pela vida, que quer construir pontes com outros continentes, algo que a Santa Sé promoveu por meio da Comissão para a América Latina. A Europa deve aprender com a América Latina Uma experiência de sinodalidade que Alessandro Galassi começou a viver com o Sínodo para a Amazônia, e que foi descobrindo ao conhecer vários movimentos populares na América Latina, um continente para o qual a Europa deve olhar com muita atenção para aprender com os processos e como evoluíram esses movimentos populares. Em suas palavras, ele contou o que tem visto no Brasil, na luta pela defesa da água. Nessa perspectiva, o documentarista italiano vê a sinodalidade como a capacidade de estar junto e de levar adiante um processo, que ele vivência em seu trabalho. Galassi vê a esperança como um antídoto para o medo, para o desejo contemporâneo de viver. Como contraponto, ele define a esperança como o recebimento da mística, algo que vai além do otimismo, uma esperança que se combina com a coragem, exigindo dos europeus a coragem de olhar para a América Latina como um modelo para uma mudança de paradigma, que leva, diante de um Estado, à organização a partir de baixo. De fato, Galassi afirmou que os movimentos populares na Itália e na Europa de hoje precisam de uma mudança de rumo. Ele também refletiu sobre a migração e a mudança climática como algo que a causa, vendo no Papa Francisco o único líder capaz de encontrar uma chave para ler a realidade atual. Olhando para o futuro, ele enfatizou a importância dos espaços de ação, citando alguns exemplos, que ele vê como uma ponte para uma mudança de paradigma. Para isso, ele considerou a escuta como fundamental. Discernimento para escolher entre o caminho curto e o longo Para escolher entre o caminho longo e o curto, Emilce Cuda vê a necessidade de exercitar o discernimento. A teóloga falou sobre a realidade das periferias na América Latina, sobre a necessidade de descentralizar o Evangelho, de explicar em linguagem compreensível, especialmente aos jovens das periferias, o que é sinodalidade e solidariedade, para que eles entendam que “ou se unem ou morrem”, algo que muitas vezes são forçados a fazer pela realidade social, Ela deu vários exemplos de solidariedade com e entre os pobres na América Latina, onde “as pessoas têm misericórdia, têm compaixão, mesmo que estejam com raiva, mesmo que ouçam outras histórias”, porque “a América Latina ainda não perdeu a capacidade de sentir o sofrimento dos outros em seus corações”, o que se traduz em solidariedade organizada. Para Cuda, as virtudes teológicas são uma condição para pregar o Evangelho concretamente, já que a fé em Deus se traduz horizontalmente em confiança, que por sua vez é uma condição para a política. Contra isso há o medo, como aponta Fratelli tutti, onde o Papa adverte contra aqueles que aparecem com seu falso misticismo de salvação comunitária, que acontece quando estamos isolados, o que mostra a necessidade de fazer comunidade. Junto com isso, é necessário traduzir o amor de Deus no campo horizontal, na…
Leia mais