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Ir. Regina Pedro: “O carisma das POM é um dom do Espírito Santo ao povo de Deus”

A Diretora Nacional das Pontifícias Obras Missionárias no Brasil, ir. Regina da Costa Pedro, proferiu a última conferência do 5º Congresso Missionário Nacional, na manhã desta terça-feira: A presença das obras na Igreja do Brasil. As Pontifícias Obras Missionárias são organismos oficiais da Igreja vinculados ao Dicastério para a Evangelização e atualmente se consolidam como uma rede mundial de oração e caridade em apoio à missão da Igreja. Para a ir. Regina, as obras existem “para intensificar a animação, a formação e a cooperação missionária em todo o mundo”. Durante sua exposição, ir. Regina apresentou a história das quatro Obras Pontifícias: Pontifícia Obra para a Propagação da Fé, Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária (IAM), Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo e a Pontifícia União Missionária. “Elas não nasceram juntas e nem nasceram pontifícias”, ressaltou. A identidade e o carisma das POM A Diretora seguiu apresentando a identidade e o carisma das POM, pontuando que nasceram do povo de Deus, que suscitam oração e caridade em todo o mundo e que são pontifícias, ou seja, instrumentos de serviço à Igreja. Radicadas na realidade de cada Igreja local, as Pontifícias Obras refletem o mistério da diversidade e da unidade da Igreja, constituída em 130 países. Sobre o carisma, ir. Regina destacou que é um dom do Espírito Santo ao povo de Deus para despertar ainda mais a consciência de que a missão ad gentes é o paradigma da ação evangelizadora de todas as comunidades cristãs. “É um movimento espiritual na Igreja inteira e a serviço da Igreja inteira”, ressaltou e concluiu: “Este carisma compromete as POM e, por meio dela toda a Igreja, a deixar-se guiar pelo Espírito”. “Uma pessoa encarregada para as POM, não necessariamente um sacerdote” Na conferência, ir. Regina alertou para a necessidade de uma reestruturação das Pontifícias Obras Missionárias, em todo o mundo e inclusive no Brasil. “Esta necessidade é ainda mais urgente após a reforma da Cúria Romana”, pontuou. Ela relatou a sua alegria pelo documento que orienta a reforma mundial das POM, que prevê a nomeação de “uma pessoa encarregada para cuidar das missões e, em particular das POM” – não necessariamente um sacerdote. Pontualmente, entre as reformas mais necessárias estão a constituição de uma instância intermediária para implantação, animação e coordenação, entre as POM e as dioceses. Além disso, as POM Brasil também refletem a constituição da Obra de São Pedro Apóstolo, ainda não consolidada no país. Ainda sobre as mudanças que precisam acontecer, ir. Regina destacou a falta de organização das POM em muitas dioceses do Brasil e explicou que essa responsabilidade cabe especialmente aos bispos e aos Conselhos Missionários nas diversas instâncias – Nacional, Regional, Diocesano e Paroquial. O 5º Congresso Missionária Nacional A Diretora Nacional das Pontifícias Obras Missionárias concluiu sua exposição partilhando os frutos que espera colher deste 5CMN: Que ele contribua na revitalização do Programa Missionário Nacional, ajudando a gerar diretrizes missionárias para a Igreja no Brasil. Que ele ofereça pistas para que as POM possam realizar seu serviço de ajudar cada Igreja local a ser missão a partir do seu território e até os confins da terra. Ela finalizou confiando estes sonhos “à ação criadora e recriadora do Espírito e à intercessão de Maria, Mãe Missionária, para que se tornem realidade na caminhada de conversão missionária da Igreja peregrina em terras brasileiras”. Painel Temático A Conferência foi seguida pelo painel temático com os Secretários das Obras no Brasil: ir. Antonia Vania de Sousa (Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária), pe. Genilson Sousa (Pontifícia Obra para a Propagação da Fé) e pe. Antônio Niemiec (Pontifícia União Missionária). Victória Holzbach, assessora de comunicação CNBB Sul 3

Estevão Raschietti: Missão não é um processo de conquista, é acolhida e abertura aos outros

A missão ad gentes além-fronteiras está sendo um pano de fundo do 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro. Uma ideia presente na reflexão do padre Estevão Raschietti, tomada do Livro dos Atos dos Apóstolos. Segundo o missiólogo, “o título da novela dos Atos dos Apóstolos seria Até os Confins do Mundo”, e o subtítulo, “Quem quiser salvar a sua identidade cultural, vai perdê-la; mas, quem perder a sua identidade cultural por causa de mim, vai encontrá-la”. A Missão em Lucas O padre xaveriano iniciou suas palavras analisando a missão em Lucas partindo do texto de Atos e do texto evangélico. Uma missão que em Lucas, a diferença de Mateus, é Testemunho. Não é fazer, é ser; não é envio, e atração. Ele apontou três significados dos confins da terra, mostrando a progressão de uma saída, manifestando uma ideia de totalidade e apontando para um compromisso eclesial. É uma caminhada sofrida e titubeante da primeira comunidade em se abrir aos não-judeus. Os pagãos podem ser também merecedores das promessas de Deus ao seu povo, sem se converter ao judaísmo. Não é um processo de conquista e sim de acolhida e de abertura aos outros. Esses confins do mundo causaram muitos problemas. A Missão torna Igreja o movimento de Jesus Na medida que adere a missão, o movimento de Jesus se torna “Igreja”. “Essa missão, na sua origem, não foi de conquista e nem de ruptura, mas de profundo e sofrido desprendimento, de exílio, de abertura, de proximidade, de progressiva acolhida dos outros”, segundo Raschietti. Confins que também significa os últimos, que tem um sentido de finalidade e de totalidade espaço-temporal. Segundo o xaveriano, “a Igreja não é a luz das nações!”, ela “reflete a luz de Cristo”, o que faz com que a missão seja descentrada. “É Cristo e seu Evangelho que é luz das nações”, afirmou Raschietti. Ele insistiu em não engaiolar Jesus “em qualquer de nossas estruturas, cuja função é fazer com que as pessoas possam encontrar o Senhor”. A missão tem que passar de ser vista como “expansão” da Igreja para uma missão como “encontro” com as pessoas. Horizontes, fronteiras e periferias Hoje os confins da terra, em um mundo globalizado, têm a ver com horizontes, a Igreja a serviço de uma humanidade a caminho sempre mais além; fronteiras, também linhas de demarcação, de separação, de comunicação e de travessia, marcadas pelo colonialismo e dominação, o que demanda cruzar as fronteiras, aprender e desaprender, descalçar-se; e margens, periferias, uma Igreja que entra na casa dos pobres, como peregrina, para aprender do pobre, que habita as periferias, tecendo vínculos de amizade. Periferias que “não são um lugar fácil de se viver”. Estevão Raschietti destacou que “a missão até os confins da terra representa ao mesmo tempo a origem, a meta e o conteúdo de toda identidade e atividade eclesial. Representa o único mandato de Jesus a seus discípulos: não há outros”. Ele falou de três saídas: a Igreja saiu de seus templos para ir ao encontro dos pobres nas periferias (opção pelos pobres); de suas fronteiras para ir ao encontro dos outros, os indígenas e os afrodescendentes, suas culturas, seus projetos de vida; ao encontro dos pobres e dos outros em outros continentes, como cooperação intereclesial. Uma missão além-fronteiras, que a Igreja latino-americana e caribenha é chamada a assumir, mas “será que o Espírito nos dará a graça dessa ousadia?”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Fotos: Victória Holzbach

Padre Yerisco Marcelino: “A Missão ad Gentes é um sinal de que uma Igreja tem a maturidade da fé”

O padre Yerisco Marcelino é Missionário Xaveriano. Nascido na Indonésia, depois de cinco anos no México, mora no Brasil há dois anos. Em Belém (PA), ele trabalha na animação vocacional e na animação missionária. Ele nos fala sobre a Missão ad Gentes e sobre como promover essa missão além fronteiras. O que significa para o senhor a Missão ad Gentes? Missão ad Gentes significa ir além fronteiras, ir ao encontros dos outros. Esse espírito nasce da nossa congregação, o espírito xaveriano. Nosso fundador, São Guido Maria Conforti, ele sonhava que seus filhos, os xaverianos, efetivem a Missão ad Gentes, que é levar a Palavra àqueles que ainda não a conhecem. Uma Missão ad Gentes que segundo está sendo debatido no 5º Congresso Missionário Nacional quer ser assumida cada vez com mais força pela Igreja do Brasil. A Igreja do Brasil durante muitos anos recebeu missionários e missionárias de outros países, e aos poucos vai enviando presbíteros, religiosos, religiosas, leigos e leigas para a Missão ad Gentes. Como fomentar ainda essa Missão ad Gentes na Igreja do Brasil? Uma das falas deste Congresso que me chama muito a atenção é que a Missão ad Gentes é um sinal de que uma Igreja tem a maturidade da fé. Estou muito feliz que acompanhando os jovens na nossa casa de formação em Belém, tem muitos jovens que estão interessados e querem assumir a missão além fronteiras. Sair da sua cultura, do seu território geográfico, mas também sair para encontrar nas periferias pessoas que estão precisando. Recentemente a Igreja universal realizou a primeira sessão da Assembleia Sinodal, onde foi aparecendo a riqueza da diversidade. O senhor nasceu na Indonésia, passou pelo México, agora no Brasil, realidades muito diversas e realidades eclesiais muito diferentes. O que o senhor foi aprendendo, descobrindo, nesses diversos modos de vivenciar a fé, nessas diferentes culturas que ao longo da sua vida foi descobrindo? Eu nasci na Indonésia, cresci e realizei minha formação de base na Indonésia, continuei minha formação no México, e agora no Brasil. São três realidades diferentes na Igreja, na Indonésia, no México, no Brasil, mas temos só um Cristo que nos mostra onde queremos chegar. Para mim um ponto chave é a humildade. A humildade é um ponto chave para entrar na diversidade, seja cultural, seja na maneira de pensar, a humildade me ajuda bastante a entrar, a me adaptar a novas realidades. Lembro que quando quis aprender espanhol no México, se eu não tivesse humildade, eu não teria aprendido espanhol. Eu aprendi falar com as crianças, e a partir dessa experiência, eu refleti bastante que a humildade é uma janela para entrar na diversidade. Minha adaptação com a comida brasileira, a Igreja do Brasil, clima, comida, isso me ajudou bastante. O senhor fala da formação dos jovens da sua Congregação, sair da realidade, da própria cultura, sair da zona de conforto para ir a outros lugares. Sentem os jovens, os formandos, esse chamado de Deus para sair para a Missão ad Gentes? Não é fácil hoje encontrar jovens que tenham esse desejo cem por cento. Mas eu estou na casa de formação e essa é uma maneira para ajudar a impulsioná-los a sentir esse espírito de Missão ad Gentes. Esses jovens, temos três ou quatro jovens lá que se estão interessando com a Missão ad Gentes, com testemunhos onde eles dizem, padre, eu quero ir a servir as pessoas fora da minha realidade, eu quero ir a África, eu quero ir a Ásia, e esses jovens estão se interessando. Meu trabalho é animar e dar uma formação de verdade através do meu testemunho de vida, do que eu experimentei através da minha caminhada de vida. De tudo o que foi aprendendo, na Indonésia, no México, na partilha de diferentes realidades culturais e eclesiais, o que ainda carrega em sua bagagem e tenta partilhar em seu trabalho no Brasil? Aqui meu principal trabalho é como animador vocacional da nossa província Brasil Norte. Meu trabalho é de animação missionária e animação missionária vocacional. São dois trabalhos que parecem diferentes, mas são o mesmo caminho, ajudar os jovens a sentir esse chamado de ser missionários ad gentes. Também faço parte da Escola Missionária Vocacional, que a gente criou na arquidiocese de Belém e a diocese de Abaetetuba. Com o Comité Missionário Regional Norte 2 (COMIRE Norte 2), estamos criando essa Escola Vocacional Missionária que já temos realizado dois módulos neste ano. O objetivo desta Escola Missionária Vocacional é incentivar as lideranças, os jovens, que querem sentir e abraçar esse espírito missionário. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Victória Holzbach: “Na missão em sinodalidade, o leigo não é mão de obra na missão, mas protagonista na tomada de decisões”

A missão ad gentes se concretiza na vida, no sair de homens e mulheres que enviados pela Igreja anunciam o Evangelho nos confins do mundo. Na Igreja do Brasil existem testemunhos dessa concretude da missão, como foi relatado por Victória Holzbach, coordenadora do Conselho Missionário Regional Sul 3 e a Ir. Eliane Santana, religiosa da Congregação de São José de Chambery e assessora da Comissão Missionária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no 5º Congresso Missionário Nacional que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023. A Igreja local responsável pelos missionários que envia É a Igreja que envia, enfatizou a Ir. Eliane Santana, dizendo que “a Igreja local é responsável por cada comunidade que foi enviada”. Essa Igreja local tem que se sentir parte, ter empatia, pois “a missão é forte se ela está dentro de uma proposta eclesial”, lembrando que ela foi enviada pela CNBB e a CRB para a missão em Timor Leste. Uma responsabilidade da Igreja local que segundo Victória Holzbach precisa de madurez para compreender essa responsabilidade, “uma Igreja que se coloca em saída, mas que também precisa acolher”, falando do missionário que volta da missão com a sacola cheia dos frutos que colheu no caminho e traz uma novidade para sua terra. Uma Igreja que envia para a missão o melhor que ela tem, que mesmo em sua pobreza não partilha a roupa rasgada e manchada, e sim a roupa de ir à missa no domingo, enfatizou a missionária leiga. Protagonismo feminino na missão Victória, que foi missionária em Moçambique no projeto missionário do Regional Sul 3, que em 29 anos já enviou 70 missionários e missionárias, contou a experiência de uma missão em sinodalidade, da qual fazem parte leigas, leigos, religiosos, religiosas e padres. O fato de viver em uma única casa, como equipe missionária, “é um sinal profético de uma Igreja disposta efetivamente à missão, onde se unem forças”, destacou. Isso porque uma Igreja sinodal não acontece por acaso, e sim a partir de estruturas para isso. Nessa missão em sinodalidade, o leigo não é mão de obra na missão, mas protagonista dos processos de tomadas de decisão, em pé de igualdade, destacando a importâncias das leigas nesse tempo de missão como Regional Sul 3. Uma perspectiva sinodal na missão que incomoda, “o protagonismo laical é desconfortante, especialmente se feminino”, ressaltou. Um protagonismo laical feminino que também foi enfatizado pela Ir. Eliane Santana, que insistiu em que a presença missionária não é só para os cristãos católicos e sim para todos, o que ela experimentou na missão em Moçambique, em uma região onde 80 por cento da população eram muçulmanos, algo que viveu como “uma partilha constante de vivência, de respeito, de integração, de luta por mais vida em conjunto”, afirmando que a pobreza do islâmico é a mesma do que a do cristão, e testemunhando que era bem melhor partilhar do que fazer pequenos guetos. Se inserir nas periferias Uma missão desafiada a se inserir nas periferias, e que tem que levar a descobrir que “somos enviados para amar aqueles que não se sentem amados, incluir aqueles que não são incluídos e chorar com aqueles que precisam chorar”, segundo a assessora da Comissão Missionária da CNBB. Ela chamou a ter a humildade de descobrir juntos, a não cair na resposta fácil, a buscar a unidade, que não é ser todo mundo igual e sim aceitar o diferente como ele é. Um desafio que tem a ver com a inclusão dos pobres, chamando a dar uma perspectiva de esperança para todos e para todas. Partindo da ideia de que Deus é ser em relação, Holzbach vê isso como algo que tem que levar a entender que “não existe missão só comigo”, o que demanda “se colocar como caminhante ou como aprendente”, que renuncia aos seus saberes para compreender que “o povo é que nos ensina”. Isso se aprende sentando-se com o povo, esquecendo do relógio, pois “não é o tempo que regula a missão”. Segundo a assessora de comunicação do Regional Sul 3, “é a vulnerabilidade que nos permite compreender e viver a experiência da providência”, superando a autossuficiência que impossibilita a providência agir. Estar junto com o povo Uma missão que é mais ser do que fazer, ressaltou Vitória, que destacou a importância de “estar junto com o povo e compreender o dia a dia”, algo que o fato de ser leiga lhe facilita, pois tem mais liberdade para passar um dia com uma família conversando, dado que o fato de ser leiga leva a conhecer mais as histórias do povo, dado que os padres muitas vezes têm que se dedicar a celebrar. Uma experiência do ser que é o que “também mais nos toca como consagradas”, segundo a Ir. Eliane. O que o povo recorda “é aquele momento que a gente estava chorando junto, ou que a gente simplesmente se sentou, abraçou e acolheu o sofrimento”, de viver momentos em que “a presença faz a pessoa se sentir importante, se sentir gente”, pois “ser Igreja é acolher”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Esmeraldo: “Para a vida missionária é imprescindível estar com as pessoas que vivem nas periferias e ser com elas periferia”

Toda Igreja local é responsável pela missão aos confins do mundo, uma reflexão presente na conferência de Dom Esmeraldo Barreto de Farias, bispo de Araçuaí (MG), no 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023. Retomar as intuições do Concílio Vaticano II O tema do 5º Congresso Missionário Nacional nos permite retomar as grandes intuições do Concílio Vaticano II, seu impulso missionário, e dos documentos do Magistério Latino-americano, sobretudo o Documento de Aparecida, “aprendemos que o dinamismo missionário é da natureza da Igreja e que somos chamados a assumi-lo como discípulos missionários de Jesus Cristo”, segundo o bispo, que destacou a necessidade do desenvolvimento de uma identidade missionária, que “não é um processo uniforme, nem todos os fiéis têm consciência dessa necessidade”. Dom Esmeraldo denunciou as “resistências à reflexão, à prática e à espiritualidade propostas pelo Vaticano II”, que se explicitam em uma mentalidade de cristandade, com um modelo eclesial piramidal e não de Igreja Povo de Deus e Corpo de Cristo, onde não se permitem atitudes críticas, com uma pastoral de manutenção, centrada no pároco e uma transmissão da fé na família. Nessa realidade também destacava a piedade popular, que “visava ajudar as pessoas das periferias urbanas e rurais a descobrirem a força do Evangelho em sua vivência cotidiana, unindo palavra e vida”. Caráter trinitário e existencial da missão Em sua reflexão sobre a responsabilidade da Igreja Local pela missão aos confins do mundo, o bispo de Araçuaí destacou o caráter trinitário e existencial da missão, os aportes do Vaticano II e o lugar e a responsabilidade da Igreja local como protagonista da missão, sinal de comunhão com a Igreja universal. “A missão tem sua origem no Deus-Trindade, no amor fontal de Deus”, enfatizou, até o ponto de que “Jesus Cristo assume a natureza humana para vincular todos e todas à sua missão”. O bispo ressaltou que “para a vida missionária no seguimento a Jesus Cristo e na contemplação da ação do Espírito Santo, é imprescindível estar com as pessoas que vivem nas periferias sociais, geográficas, existenciais e eclesiais e, ao mesmo tempo, ser com elas periferia”. Segundo ele, “escutar o clamor dessas periferias é descobrir, ouvir e acolher os apelos de Deus, estando aí como presença missionária e se deixando iluminar pela sua Palavra, acolhendo o que Ele diz através dessas pessoas, especialmente das que sofrem e são consideradas, na prática, descartáveis”. Um cuidado que brota do amor, como testemunhou Madre Teresa de Calcutá, de um amor que é “doar-se até doer”. Um olhar ampliado da missão Se faz necessário passar de um olhar restritivo a um olhar ampliado sobre a missão, algo que nasce do Vaticano II e seu modo de acolher a História, destacando a centralidade da Palavra de Deus, a ação do Espírito Santo, a renovação da Liturgia, a consciência de que a Igreja é Povo de Deus, a necessidade de partilhar as alegrias e esperanças de toda a humanidade e sobretudo dos pobres, das periferias. Para entender isso apresentou o novo modo de entender a missão nascido do Vaticano II, que “contribuiu para que a concepção de missão ganhasse amplitude de sentido”. Isso leva a descobrir que “a missão é o paradigma, o eixo que sustenta e nutre toda a Igreja, todo gênero humano e não um apêndice ou uma tarefa que se cumpre em terminados momentos e lugares. Após o Vaticano II, “a evangelização é e deve ser sempre missionária. A Igreja não vive para si mesma. Ela assume um movimento de saída de si mesma”, destacou o bispo, relatando os aportes dos diferentes papas do pós Concilio à reflexão missionária. “As palavras dos sucessores de Pedro sinalizam para as eclesiologias que emergem do Vaticano II: uma eclesiologia do Povo de Deus, uma eclesiologia de comunhão, ecumênica”, disse Dom Esmeraldo. Uma dinâmica assumida pelas conferências episcopais e as Igrejas locais, também no Brasil. Igreja universal como comunhão de Igrejas locais “O Vaticano II nos leva a refletir sobre o dinamismo missionário da Igreja local, sua responsabilidade e disponibilidade para a missão sem fronteiras”, disse o bispo, lembrando que “o Vaticano II considera a Igreja universal como uma comunhão de Igrejas locais”, e insistindo em que “quando se fala de Igreja Universal, não se trata de uma soma de igrejas locais que possam ser consideradas meras repartições administrativas de uma ‘sede principal’. A Igreja local só é Igreja quando faz comunhão com as demais Igrejas”. Uma Igreja local que “não é tanto o espaço físico enquanto tal, mas a comunidade-sujeito, espaço afetivo e de humanidade onde pessoas vivem a fé e manifestam sonhos, desejos, esperanças, com suas próprias raízes culturais e tradições”. Dom Esmeraldo analisou o chamado do decreto Ad gentes à responsabilidade e abertura da Igreja local à missão sem fronteiras, algo que tem que levar a “redescobrir o espírito de comunhão presente na Igreja primitiva e vivê-lo na experiência com as outras Igrejas locais, no sentido de solicitude e ajuda mútuas”. Essa Igreja local recebe um apelo à sinodalidade missionária, pois “não há dúvidas de que o caminho da sinodalidade é o que Deus espera da Igreja do nosso século. Um caminho que se inscreve nas pegadas do aggiornamento da Igreja proposto pelo Vaticano II”, e do atual processo sinodal. Uma Igreja que acompanha as vítimas Algo que chama a Igreja a acompanhar as vítimas das injustiças sociais e eclesiais, a promover e defender a dignidade da vida, a escutar o clamor dos pobres, excluídos e descartados, a dar prioridade a uma ecologia integral, a acompanhar os povos originários e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas. Um ser Igreja missionária que demanda “compreender bem em que consiste esta transformação missionária da Igreja”. O bispo insistiu em que “os cristãos leigos(as), nesse processo de renovação conciliar, são sujeitos e não objetos da evangelização”, o que chama à se sentir “corresponsável pelo modo de ser e agir da Igreja, e não colaborador do clero”, algo que demanda “avançar numa…
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Ir. Rosana Marchetti: “Na vivência com povos diferentes do meu, eu sou evangelizada e posso evangelizar”

A Ir. Rosana Marchetti, Missionária da Imaculada, nasceu na Itália e em 1998 foi enviada em missão ao Brasil, onde ficou até 2012. Depois de 10 anos em seu país natal retornou à arquidiocese de Manaus, onde faz parte da Coordenação Diocesana de Pastoral em 2022. A religiosa faz parte de uma congregação com um carisma claramente missionário e analisa a Missão ad Gentes desde a perspectiva da Vida Religiosa. Como a Vida Religiosa contribui com a Missão ad Gentes, como a Missão ad Gentes contribui com a Vida Religiosa?   A minha vocação nasceu na minha cidade na Itália, na Arquidiocese de Milão, e por causa desta grande paixão de anunciar o Evangelho a quem não conhece Jesus. Eu procurei uma congregação exclusivamente missionária, e nesta congregação eu fui formada, acompanhada para poder viver a missão ad gentes e a missão além fronteiras. Isso enriqueceu muito a minha vida, muito a minha dimensão da vida consagrada, pensando que na escuta e na vivência com povos diferentes do meu, eu sou evangelizada e ao mesmo tempo posso evangelizar, posso anunciar. A Vida Religiosa vivendo no meio dos povos, saindo do próprio país, por carisma, e entrando em outras realidades, recebe uma riqueza muito grande, recebe a capacidade de escutar, e também se deixar transformar por quem encontra, pelo povo no meio do qual vive. Sua Congregação, as Missionárias da Imaculada, promovem a missão nas igrejas onde vocês são enviadas. Como estão trabalhando aqui no Brasil a promoção da missão ad gentes? Como Congregação nos inserimos nas Igrejas locais, tentamos trabalhar na formação de lideranças, nas pastorais, acompanhando às vezes algum movimento, e nesta vivência nós falamos e vivemos a missão. Ajudamos a Igreja local a se abrir para a Missão ad Gentes e além fronteiras, através de nossa vivência, em primeiro lugar, de nossa paixão, e também da formação, ajudando o povo e as lideranças a entender que a missão é uma dimensão da vida cristã. Ajudando as lideranças a viver a missão lá onde estão, mas também a entender que a missão pode ser algo que nos chama a sair das nossas fronteiras, a sair dos nossos confins, a sair dos nossos países. Muitas vezes acompanhamos jovens, homens ou mulheres, que sentem essa paixão missionária com maior força, e ajudamos elas e eles no discernimento. Por exemplo, o padre Jaime da diocese de Parintins, que foi acompanhado por uma irmã e decidiu entrar numa congregação exclusivamente missionária que é o PIME, e agora está na Guiné-Bissau. Este acompanhamento, esta formação, tem sempre uma dimensão missionária. A senhora coloca o exemplo de alguém que saiu da Amazônia para ser missionário na África. A Igreja da Amazônia foi nutrida durante muito tempo de missionários e missionárias chegados de fora. Chegou a hora de missionários e missionárias da Amazônia ir comunicar a riqueza desta Igreja, uma Igreja sinodal, para outras igrejas no mundo todo? Sim, no Congresso Missionário Regional, que foi realizado em setembro se conversou muito sobre isso. Como os missionários que vieram, agora são chamados a acompanhar a caminhada ao lado da Igreja local e ajudar a Igreja local em todas as suas dimensões e expressões a assumir a missão. A Missão ad Gentes dentro da Igreja local, mas também a missão além fronteiras. Este desejo de alimentar a paixão missionária na Igreja local é muito presente no nosso ser uma congregação missionária. O PIME foi muito presente na Igreja de Parintins e formou muito clero local, acompanhou muitos jovens da diocese de Parintins que se tornaram sacerdotes diocesanos. Uma das características do PIME e também das Missionárias da Imaculada é favorecer que a Igreja local assuma a missão dentro da própria realidade, mas não podemos esquecer o além fronteiras.  Quais são as dificuldades, os desafios que essa missão encontra nas Igrejas locais para se concretizar? A primeira dificuldade é compreender em profundidade que a missão faz parte da vida da Igreja, é algo essencial. O Papa diz que se uma Igreja não é missionária não é Igreja. Assumir essa consciência não é fácil, porque muitas vezes tem comunidades que são fechadas, tem comunidades que não tem essa compreensão, e aí nós enfrentamos muitas vezes esse desafio, ajudar a Igreja a compreender que a missão não é de alguém, mas é de todos nós. O segundo desafio é ligado às questões sociais, tantas situações de pobreza, de vida não digna, de vida ameaçada nos desafia como pessoas. Se aproximar dessas realidades, se aproximar periferias, tentar compreender qual é o jeito certo de ser missionária nesse contexto, nessa periferia, ao lado dessa família, e uma vez que se ajuda a essa família, a essa comunidade, a se levantar, a encontrar saídas para essas situações de injustiça, de pobreza, ajudar a essa comunidade, a essas personas, que podem ajudar a outros. Dessa forma se tornam missionários. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

5º Congresso Missionário Nacional faz memória e caminha com os mártires da Amazônia

O 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro quis lembrar na tarde deste domingo 12, aqueles que deram a vida pela Amazônia, muitos e muitas deles na missão. A Romaria dos Mártires da Amazônia, que contou com a participação das comunidades, áreas missionárias e paróquias da arquidiocese de Manaus, recordou a quem assumiu as consequências da profecia, sendo um momento para agradecer a Deus por seu compromisso missionário. Uma Igreja que faz memória e caminha com aqueles e aquelas que por fidelidade ao Evangelho deram sua vida pelos povos da floresta, pelo cuidado da casa comum. Nomes concretos, repetidos no percurso da Romaria, muitos conhecidos, mas também muitos homens e mulheres anónimos que viram ceifadas suas vidas a exemplo daquele que morreu na Cruz. Hoje ressuscitados continuam alimentando a profecia de uma Igreja em cuja memória permanecem vivos. Sede e saída Na homilia da missa, celebrada no mesmo local onde São João Paulo II celebrou a missa em sua visita a Manaus, Mons. Maurício Jardim destacou dois temas: a sede e a saída. Segundo o bispo de Rondonópolis-Guiratinga e presidente da Comissão para a Ação Missionária e a Cooperação Intereclesial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, “nossas sedes não se reduzem a sede de água e de coisas materiais, mas temos sede de infinito, de transcendência, de interioridade, de beleza”. Uma sede, que citando o cardeal Tolentino, “mostra-se no desejo de ser amado, olhado, cuidado e reconhecido”, que afirma que “a dor de nossa sede é a dor de nossa vulnerabilidade”. Dom Maurício Jardim disse que “é necessário acolher e integrar nossas sedes e nossas vulnerabilidades com olhos da fé”, isso porque “a sede também nos faz sair, procurar, encontrar”. Segundo o presidente da Comissão Missionária, “nós também viemos aqui neste congresso sedentos, a procura do noivo que nos fortalece na vida missionária. Viemos sedentos e desejosos para que nossas Igrejas locais sejam cada vez mais em permanente saída missionária”. O texto do Evangelho do 32º Domingo do Tempo Comum, segundo o bispo, nos convida a “sair de frente do espelho, sair de si mesmo, sair e ir ao encontro do noivo, sair da auto referencialidade; sair para tornar-se próximo dos que estão distantes nas periferias. Sair em direção aos confins do mundo. Sair para encontrar os que mais sofrem, o que estão a margem, a beira do caminho, nas praças, nas ruas, nos hospitais, nos presídios, nas periferias que mais necessitam da luz do evangelho. Sair para concretizar uma das prioridades do programa missionário nacional, refletida no dia de hoje, o compromisso profético social”, insistindo em que “nossa fé se encarna na realidade, nossa fé não é nas nuvens”. Missão ad gentes nas periferias do mundo O bispo lembrou as palavras do Papa Francisco na mensagem do Dia Mundial das Missões 2018, que situa a missão ad gentes nas periferias do mundo, nos últimos confins da terra, sem excluir o conceito territorial, geográfico. Ele disse que “com este congresso sonhamos impulsionar a missão ad gentes das Igrejas particulares, até os confins do mundo.  O Espírito Santo nos impulsiona a sair, avançando no processo de uma verdadeira conversão missionária”, uma missão que precisa diálogo, escuta, inculturação, testemunho, anúncio explícito de Jesus Cristo. Um sair que não pode esquecer “do óleo da interioridade, do seguimento, da escuta da Palavra e da prática do amor”. Igualmente, o presidente da Comissão para a Ação Missionária e a Cooperação Intereclesial, lembrou as palavras do Papa João Paulo II no dia 10 de julho de 1980 no mesmo local, quando ele se dirigiu aos povos originários: “Que seja reconhecido o direito de habitar as suas terras e dos antepassados na paz e na serenidade, sem o pesadelo que sejam desalojados em benefício de outros, mas seguros, no espaço vital de suas vidas, assim lhes será respeitada e favorecerá a dignidade de cada um de vocês como povo e como nação”. Um caminhar missionário para o que Dom Maurício Jardim pediu que “Deus nos ajude no caminho missionário da escuta e da interioridade, indo sempre em direção aos que mais precisam da luz do evangelho”. No final da celebração, o presidente da Comissão Missionária enviou o padre Josemar Silva, da arquidiocese de Florianópolis, enviado pelo Regional Sul 4 da CNBB para iniciar a missão na Arquidiocese de Nampula, onde iniciará sua missão junto ao Regional Sul 3 (Rio Grande do Sul), presente em Moçambique desde 1994. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Ir. Sônia Matos: “Na Amazônia o Espírito se move sobre águas”

O terceiro dia do 5º Congresso Missionário Nacional iniciou neste domingo com o compromisso de iluminar a missão a partir da Amazônia. “Em Gênesis se lê que o Espírito pairava sobre as águas. Na Amazônia o Espírito se move sobre as águas, na sua superficialidade e na sua profundidade”, garante a Ir. Sônia Matos. A religiosa participou, junto com o Mons. Raimundo Vanthuy Neto, do segundo painel temático deste 5CMN, com o tema “Da Amazônia aos confins do mundo”. “Mulher, amazônida, ribeirinha e religiosa”, foi como a ir. Sônia se definiu ao iniciar sua exposição. Ela alertou sobre o perigo de olhar para a Amazônia como ‘terra de missão’, como se estivesse vazia, sem caminho e sem história, não levando em conta as inúmeras potencialidades da realidade local e das experiências já existentes. A religiosa seguiu realçando a riqueza da realidade amazônica e afirmou que não é possível estudar em teorias a diversidade, a pluralidade e tudo aquilo que fala além das palavras: “É preciso compreender a Amazônia não a partir dos livros, mas a partir da leitura dos rios e das árvores que se entrelaçam em harmonia e resistência”, afirmou, concluindo que para compreender essa realidade é preciso que o missionário e missionária passe por uma ‘alfabetização dos símbolos, a partir de dentro”. Os confins do mundo estão em nossas Igrejas locais Mons. Raimundo Vanthuy Neto, bispo eleito para São Gabriel da Cachoeira (AM), seguiu o painel questionando “Onde estão os confins do mundo?” e afirmou: “Aqui, na Amazônia também estão os confins do mundo”. O painelista apresentou a realidade Amazônica, com 180 povos indígenas, 180 culturas e modos diferentes de viver e 160 línguas. Mons. Vanthuy alertou sobre a tentação de chegar neste contexto, na missão, e dizer ‘esse povo é muito diferente’ e seguiu com a provocação: “Mas diferente de quem? Quando o ponto de vista é a apenas o nosso, tudo será mesmo diferente”. Para mons. Vanthuy, um ponto fundamental para compreender a missão da Igreja no chão da Amazônia é a terra e a sua importância para a vida das populações indígenas e os povos amazônidas. “Por isso a Igreja ousou e ousa ficar ao lado deste povo na luta pelos territórios. Talvez essa foi e se tornará cada vez mais a ação mais urgente da Igreja”, realçou. Ele continuou com a apresentação do que acredita serem os três grandes ensinamentos dos povos da Amazônia à Igreja: a vida comunitária; a consciência da pertença a um povo, de que somos uns com os outros; e a percepção de que tudo está interligado – “descuidar de uma terra indígena e ficar míope às periferias de nossas cidades, é continuar o desequilíbrio”, concluiu. Victória Holzbach, assessora de comunicação CNBB Sul 3

Cardeal Steiner: “São as boas obras que nos transformam, abrem a porta”

“Manter as lâmpadas acessas, manter a luminosidade para o tempo da visitação”, disse o cardeal Leonardo Steiner no início da homilia do 32º Domingo do Tempo Comum. Segundo o arcebispo de Manaus, “a visitação pede luz. Luz, lâmpadas acessas, óleo para manter a luminosidade na noite. Luz, lâmpadas acessas que o Evangelho nos indica como sair, aguardar e participar; tudo na graça do encontro!” Falando sobre a noite, o cardeal destacou que “tem nuances diversos: descanso, espera, vigília, novo dia. A espera acontece o cansaço, a vigília tem o seu peso, o aguardar traz o seu fardo. Mas para quem vigia, o despertar do novo dia traz esperança, novo ânimo. Quando a noite é vigília e espera, ela mesma se faz luminosidade, pois esperança de encontro”. Analisando a parábola, ele disse que “a espera, a visitação do noivo, do amado ilumina a própria espera. E será as lâmpadas com o óleo da vigilância a abrir a porta e conduzir para a participação da vida do noivo. Toda a preparação, toda a dedicação, ilumina a noite, o aguardar. Todo fazer e a afazer iluminado pela expectativa da chegada do amado”. Diante do pedido ao Senhor que abrisse a porta, ele disse que “para aquelas que não levaram óleo para as lâmpadas, a porta se fechou. Estavam ausentes na festa das núpcias. Para as virgens cujas lâmpadas estavam abastecidas com óleo, a porta estava aberta e participaram das núpcias”, algo que iluminou com as palavras de Santo Agostinho, onde refletia em torno aos cinco sentidos. Seguindo essa reflexão, o cardeal enfatizou: “Todos os que buscam guardar os cinco sentidos, ter uma vida na justiça e na verdade, na caridade e perdão, na benignidade e gratuidade, são virgem. Guardar, aguardar, viver na liberdade, na transparência, na limpidez da fragilidade deixando-nos tomar sempre mais pela vida do Evangelho, é ser virgem. Virgens eram todas, e também nós, no movimento da espera, numa vida movimentada pela bondade e a misericórdia, na expectativa da vinda do Senhor. Seguidores e seguidoras de Jesus que entram na sintonia e harmonia da receptividade de sua visitação. Nos ‘rins cingidos’, está a virgindade! Nas ‘lâmpadas ace­sas’, as boas obras”. Entre as boas obras colocou “o bem, a bondade, a benignidade que ilumina a noite, a espera”, que definiu como “o óleo para as lâmpadas. O óleo que conserva a disposição e a disponibilidade para entrar pela porta aberta do amor, das núpcias. São as boas obras que nos transformam, abrem a porta e entramos para as bem-aventuranças como meditamos no domingo passado”. Uma passagem analisada pelo Papa Francisco, que insiste em que “a condição para estarmos prontos para o encontro com o Senhor não é apenas a fé, mas uma vida cristã rica de amor e de caridade pelo próximo”. O arcebispo de Manaus ressaltou que “o Evangelho de hoje nos interpela a mantermos nossas lâmpadas acessas, pois Jesus vem ao nosso encontro todos os dias e pede o nosso empenho e o nosso compromisso na construção de um mundo novo, o Reino. Ele nos questiona na miséria do pobre que nos interpela, no pedido de socorro da pessoa escravizada, na solidão da velhice abandonada, carente de amor e de afeto, no sofrimento do doente terminal abandonado por todos, no grito aflito de quem sofre a injustiça e a violência, no olhar dolorido de um imigrante, no corpo esquelético de uma criança com fome, nas lágrimas do oprimido. Somos convidados a superar nossa autossuficiência e a escutar os apelos do Senhor: em saída, com lâmpadas acessas. Assim nos tornamos como as virgens que trouxeram óleo consigo”. “Lâmpadas acessas para continuar teimosamente a propor a paz diante da violência da guerra, a propor o cuidado diante do descarte existencial, a propor uma convivência digna e edificante com o meio ambiente. Lâmpadas acessas, pois anunciamos a vinda do Esposo, o novo Reino. Lâmpadas acessas sinal de que acordamos para alegria da missão. Lâmpadas acessas que nos concede corações ardentes e a benção dos pés que se colocam a caminho”, segundo o cardeal Steiner. O “Ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora”, levou Dom Leonardo a afirmar que “a missão do tempo da visitação, do tempo da graça pede obras, um estilo de viver que alimenta, revigora, transforma, ilumina. A missão que nos foi confiada de despertar para horizontes realizadores, para um modo de vida que nos leva a estatura de Jesus”. Ele lembrou que “o Senhor está vindo sempre e por isso, nos movimentamos nas boas obras, no obrar da sabedoria. Não no receio e cautela, mas na alegria e júbilo porque Jesus está por vir e nós podemos entrar e participar do banquete sua vida. Ele está sempre por vir, pois deseja nos oferecer a vida plena, a plenitude da vida; um amor inaudito, insuperável, que nos faz perceber o amor matricial do Pai. A caminho, nos mantemos na atenção reverente e quase infantil da espera de que Ele está por vir. Assim, na atenção e disponibilidade de abrir a porta quando aquele que esperamos bater, e abrir. “Estar preparado” passa por fazermos da nossa vida as boas obras, em cada instante, um dom aos irmãos, no serviço, na partilha, no amor, ao jeito de Jesus”. Na primeira leitura, o presidente do Regional Norte1 da CNBB descobre “o modo manter as lâmpadas acesas, termos o óleo necessário para a visitação”, afirmando que “a sabedoria se antecipa, dando-se a conhecer aos que a desejam e buscam. Nos antecipamos às núpcias deixando nos guiar nas obras pela Sabedoria. A sabedoria conduz os passos, suporta a noite e se alegra com as núpcias”. Na segunda Leitura destacou que “nos desperta para um encontro definitivo, as núpcias eternas”, destacando que “o nosso viver é uma antecipação da eternidade. Viver na liberdade do hoje que encaminha o amanhã: a eternidade. Assim, o hoje se apresenta com o sabor e a cor da esperança. Esperamos com serenidade a chegada do esposo, do amado. Temos o óleo das boas obras de cada dia, uma…
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Mons. Zenildo Lima: “Superar uma história com traços de colonização e moldar-se numa perspectiva de encarnação”

O 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro, apresenta os contextos da localidade e da abrangência global em perspectiva de encontro, espaços que, em chave missionária, apontam para a dinâmica de deslocamento, segundo Mons. Zenildo Lima. O bispo auxiliar eleito da Arquidiocese de Manaus, que receberá a ordenação episcopal no dia 15 de novembro, na missa de encerramento do Congresso, destacou dois princípios: o dinamismo da Revelação Cristã que historicamente situada se apresenta com pretensão de universalidade e o princípio da parte pelo todo, assumido na ocasião do Sínodo da Amazônia. Intervenção de Deus na história Mons. Zenildo Lima refletiu sobre a revelação desde o acontecimento do êxodo, “uma situação de opressão e libertação experimentada por um povo”, diante da qual o povo tem “consciência da intervenção de Deus nesta história”. Uma realidade que ajuda a ver toda ação missionária como uma comunicação que liberta, e não como uma imposição religiosa. Abordando a questão da parte pelo tudo desde a perspectiva do Sínodo para a Amazônia, onde Mons. Zenildo Lima foi auditor, ele lembrou a perspectiva recolhida no Documento Preparatório, apresentando as reflexões daquele processo sinodal como “relevantes para a Igreja universal e para o futuro de todo o planeta.” Uma reflexão que parte da Encarnação, fazendo um chamado a na Igreja da Amazônia, “superar uma história com traços de colonização e moldar-se numa perspectiva de encarnação”. Uma reflexão que tem a ver não só com uma questão eclesial, senão também social, cultural e ecológica. Processo colonial com um alto custo para os povos da floresta O assessor, seguindo o Texto Base do Congresso, refletiu sobre o processo colonial na região amazônica, que teve “um custo muito alto para estes povos da floresta”, uma dinâmica ainda presente, que fez com que “nos últimos 50 anos, a região amazônica ficou mais perto da destruição irreversível”. Uma realidade social que atingiu também o anúncio missionário, “envelopado com os traços do catolicismo europeu auto presumido como modelo de fé para todo o mundo”, destacou Mons. Zenildo Lima, refletindo sobre “as inúmeras contradições no início do processo evangelizador nestas terras”. Na história da Igreja da Amazônia, os encontros de Santarém 1972 e 2022 ajudam a entender a Encarnação do Verbo e a Encarnação da Igreja. O bispo auxiliar eleito apresentou a encarnação como método, caminhos de encarnação que no Sínodo para a Amazônia aparecem como caminhos de inculturação e interculturalidade, de protagonismo dos povoa amazônidas. Uma encarnação que “tornou-se também e primeiramente um processo de escuta!”, segundo aparece no Documento Final do Sínodo para a Amazônia. Um anúncio do Verbo que se fez carne “A evangelização na Amazônia será sempre um anúncio do Verbo que se fez carne, será sempre uma proposta do encontro com Jesus”, insistiu Mons. Zenildo Lima. Mas ao mesmo tempo, ele disse que “não cabe em nós o rótulo de termos abandonado o Evangelho para cuidar de questões sociais”. A Igreja da Amazônia é uma Igreja que se faz carne e assume a evangelização libertadora, que diferentemente das novas potências colonizadoras, quer “exercer sua atividade profética com transparência, e apresentar o Cristo com todo seu potencial libertador”, segundo diz o Documento Final do Sínodo para a Amazônia. Com relação à missão ad gentes, na Igreja da Amazônia ainda falta “uma proposta mais sistematizada de comprometimento com o envio missionário ad gentes”, afirmou. Mons Zenildo Lima apresentou algumas implicações para as Igrejas locais da Amazônia frente ao apelo da missão ad gentes, que deve estar marcada pela ousadia, a escuta, a samaritaneidade, a inculturação e a intefculturalidade, a comunidade e a decolonização. Uma missão que será fecunda ela seja fundamentada em uma vida doada, e que “em regiões e situações de disputas e conflitos apresenta-se como martírio, nas regiões e situações de escassez de direitos e de cuidados, expressa-se como uma solidariedade obediente até a morte, e morte de cruz”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1