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Cardeal Czerny: “As estruturas hierárquicas da Igreja não têm nada a temer do processo de escuta”

Os migrantes foram os protagonistas da conferência de imprensa de 19 de outubro, dia em que a Assembleia Sinodal trabalhou em círculos menores. Estavam presentes o Cardeal Michael Czerny, Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Dom Daniel Ernest Flores, Bispo de Brownsville (EUA), um dos presidentes delegados do Sínodo, Dom Anton Dabula Mpako, Arcebispo de Pretória e Ordinário Militar da África do Sul, e o Padre Khalil Alwan, da Igreja Maronita. Momento de oração pelos migrantes e refugiados O motivo dessas presenças está relacionado ao Momento de Oração pelos Migrantes e Refugiados em torno do monumento aos migrantes na Praça de São Pedro com a presença do Papa Francisco. Uma oração que é “uma oportunidade maravilhosa para rezar e colocar em prática o que estamos tentando entender e valorizar no Sínodo”, de acordo com o Cardeal Czerny, que destacou o simbolismo dos participantes da Assembleia Sinodal caminhando juntos até o monumento e estar “em frente a esta imagem que representa todas as pessoas vulneráveis de todos os tempos, para rezar juntos”. Uma Assembleia Sinodal que, nas palavras do prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, “concentrou-se no contexto de uma Igreja que está tentando caminhar de forma coral“, definindo o Sínodo como um caminho compartilhado que acompanha as pessoas mais vulneráveis, por exemplo, aquelas que são forçadas a se deslocar de seus locais de origem.  Migrantes nos Estados Unidos, no Líbano e na África do Sul Os presentes compartilharam a realidade dos migrantes na fronteira entre os Estados Unidos e o México, na África do Sul e no Líbano. Uma experiência compartilhada por Dom Daniel Flores, que começou destacando os dons e as experiências presentes em todas as dioceses do mundo, algo que ele compartilhou em relação à sua diocese, por onde passa um grande número de migrantes e onde a situação é muito complexa. Em uma diocese com poucos recursos materiais, “o coração das pessoas é muito generoso”, enfatizou o prelado. O bispo de Brownsville insistiu que eles agem proporcionando a todos a dignidade que lhes corresponde, querendo responder às necessidades, porque “todos merecem viver uma vida digna”. Um trabalho que realizam em conjunto com outras dioceses, porque “é importante trabalhar juntos dentro da Igreja”, enfatizou. O representante da Igreja Maronita, que está participando de seu quarto sínodo, destacou a novidade do método e do conteúdo, com a participação de todas as categorias da Igreja. Em um país de 5 milhões de habitantes, 2 milhões de sírios vivem em campos de refugiados em condições desumanas no Líbano. A partir daí, ele denunciou a política migratória da União Europeia e as duras condições que a comunidade internacional impõe a um país pobre, mas que precisa ajudar os sírios com seus próprios recursos, provocando reações duras dos cidadãos locais. Uma situação que ele não hesita em descrever como uma tragédia humana, exigindo uma reação da comunidade internacional. Por sua vez, o Arcebispo de Pretória destacou o trabalho nos círculos menores e o fato de que em diferentes lugares “já existe um terreno fértil para a sinodalidade, já temos comunidades onde as pessoas participam dos processos de tomada de decisão”. Sobre a situação dos migrantes na África do Sul, onde a maioria dos 3,9 milhões de migrantes, de acordo com dados oficiais, embora na realidade ele diga que há muitos mais, chegam fugindo da pobreza, cujo clamor é ouvido pela Igreja Católica, embora eles estejam cientes de que é difícil ajudar a todos. A maioria dos migrantes é católica e eles os tentam dar assistência pastoral e integrá-los à comunidade, acompanhados por padres que falam a língua deles. Autoridade e sinodalidade Em resposta às perguntas dos jornalistas, o Bispo Flores afirmou que “o exercício da autoridade na Igreja deve estar enraizado em uma conversão do coração“, dizendo que o que mais o preocupa é “como podemos abrir as portas para um novo estilo, como podemos nos tornar um povo em serviço mútuo enraizado em Jesus”, insistindo que “ninguém está excluído, a conversão do coração é fundamental”. Uma sinodalidade que, na opinião de Dom Anton Dabula Mpako, “tem que coexistir com a estrutura hierárquica da Igreja”, dois lados da mesma moeda para os quais é necessário buscar como trabalhar juntos de forma conjunta e coral, enfatizou o prelado sul-africano. Para ele, “a sinodalidade é algo que tem um caráter único, a sinodalidade é algo que envolve a Igreja de Pedro, e todos nós temos que caminhar no mesmo nível, na sinodalidade”. Em uma Igreja sinodal como essa, “as estruturas hierárquicas da Igreja não têm nada a temer dos processos de escuta, é impossível que isso prejudique a natureza hierárquica da Igreja“, afirmou o Cardeal Czerny. Para o cardeal jesuíta, “a fé ativa e a esperança que vêm de uma escuta radical do sopro do Espírito nos ajudarão a entender como as estruturas funcionam e como podemos melhorá-las”, enfatizando que um dos elementos que provoca maior alegria na Sala Sinodal é que “não estamos falando sobre sinodalidade, estamos vivenciando-a”. A Igreja e os grupos LGBTQI Quando perguntado sobre a posição da Igreja em relação às questões LGBTQI, o bispo sul-africano apontou que “a posição da Igreja é muito clara”, dizendo que “queremos trabalhar com compaixão, sem discriminar, sem fazer com que se sintam excluídos“, lembrando as palavras do Papa Francisco, e pedindo uma compreensão da raiz antropológica dessa realidade, o que significa que não é fácil resolvê-la logo. Acima de tudo, ele insistiu que “é importante que as pessoas da comunidade LGBTQ se sintam em casa na Igreja”. Flores insistiu que em sua diocese a missão da Igreja é acolher as famílias que enfrentam dificuldades, pedindo aos voluntários que vejam o rosto de Jesus nas pessoas que ajudam, sem fazer perguntas sobre orientação sexual ou política, como Cristo fez, chamando-os a seguir seus passos. O mesmo bispo enfatizou a importância dos esforços que estão sendo feitos na Sala Sinodal para “entender o que o meu vizinho está dizendo”, o que não é fácil, insistindo que “temos que estar cientes da…
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Coragem e criatividade do bispo que quer que as mulheres participem das decisões

Novos caminhos são percorridos quando temos a coragem e a criatividade de seguir em frente. Ser uma Igreja sinodal não é fácil, ela encontra muita resistência, muitas vezes dentro da própria Igreja, que talvez devesse repensar suas leis para adaptá-las a essa nova maneira de viver a fé, proclamar o Evangelho e construir o Reino de Deus. Quando se quer, se pode Nesse sentido, podemos dizer que há testemunhos que nos desafiam e nos ajudam a entender que, quando se quer, se pode, que sempre há maneiras de superar obstáculos e seguir em frente, que uma Igreja sinodal na qual as mulheres entram nos espaços de tomada de decisão é viável e que há lugares onde isso acontece. No início dos trabalhos de cada um dos módulos em que se divide o Instrumentum Laboris da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, alguns dos presentes deram testemunhos mostrando como a sinodalidade se concretiza em todos os cantos do planeta, em uma Igreja que é católica, universal, presente nos confins da terra. A experiência do bispo Joly Em 11 de dezembro de 2021, o Papa Francisco nomeou Dom Alexandre Joly, até então Bispo Auxiliar de Rennes, como novo Bispo de Troyes, assumindo o cargo em 23 de janeiro de 2022. Em um momento em que o mundo se recuperava de uma de suas maiores crises das últimas décadas, causada pela pandemia de Covid-19, o jovem bispo de 52 anos, chegou a uma Igreja com uma grave situação financeira. Para enfrentar esse desafio, ele reagiu de forma sinodal, pedindo que uma decisão conjunta fosse tomada, embora tenha deixado claro que ele seria quem tomaria a decisão final. Isso, como o próprio bispo disse, porque “o que diz respeito a todos deve ser examinado por todos”. A Igreja pertence a todos, mesmo que às vezes seja difícil de entender e aceitar. Diante das dificuldades, criatividade e coragem No entanto, o que podemos considerar mais marcante no testemunho de Dom Joly foi como ele reagiu à consulta sobre a nomeação do novo Vigário Geral da diocese. Nas respostas, houve quem dissesse que um diácono ou um leigo deveria ser o vigário geral, algo que o Direito Canônico não permite e que, como eu disse antes, é algo que dificulta a realização de uma Igreja sinodal. Diante dessa situação, o bispo, com coragem e criatividade, sabendo da disponibilidade de uma leiga, que segundo o bispo “ela era reconhecida por todos por seu empenho e competência no serviço da diocese“, nomeou-a delegada geral, e ela passou a fazer parte do trio executivo da diocese, juntamente com o vigário geral e o bispo. Deixar para trás o aqui sempre foi assim O direito canônico proibia que ela fosse nomeada “vigária geral”, mas agora ela “atua como moderadora da Cúria para os serviços pastorais da diocese e supervisiona a transformação pastoral e missionária da diocese“, como enfatizou Dom Joly. Um exemplo claro de que, para avançarmos em uma Igreja sinodal, não podemos ter medo de enfrentar os desafios e deixar para trás o “aqui sempre foi assim”. O próprio bispo enfatizou para os participantes do Sínodo e para a Igreja universal – seu testemunho foi transmitido ao vivo – que “a presença de uma mulher ao meu lado, uma mulher reconhecida por todos e bem aceita em sua missão e responsabilidade, traz uma perspectiva muito positiva para a gestão da diocese“. Pouco a pouco, ele diz que estão sendo criados vínculos com o vigário geral e isso “permite uma preciosa circularidade entre nós três, mesmo que cada um tenha sua própria missão e seu próprio grau de responsabilidade”, concluiu o criativo e corajoso bispo de Troyes. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: “Na Amazônia, as mulheres insistem em mais formação para exercer melhor o seu ministério”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade iniciou em 18 de outubro os trabalhos do quarto Módulo, que trata da “Participação, responsabilidade e autoridade“. Pouco a pouco, alguns detalhes estão sendo conhecidos, entre eles o fato de que o Documento de Síntese, como informou Paolo Ruffini, “será breve e estará a serviço de um processo que continuará, será um texto de transição que conterá os pontos de consenso e aqueles em que não houve acordo”, bem como as questões abertas a serem respondidas. Um documento de síntese e uma carta ao povo de Deus O prefeito do Dicastério para a Comunicação insistiu que “a Síntese não é um Documento Final e tampouco é o Instrumentum Laboris da próxima assembleia” e terá uma redação simples. Também foi decidido redigir uma carta-mensagem para contar a todo o Povo de Deus a experiência dos participantes da Assembleia Sinodal. A coletiva de imprensa diária contou com a presença do Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, Arcebispo de Manaus, do Arcebispo Zbigņev Stankevičs, Arcebispo de Riga (Letônia), de Dom Pablo Virgilio S. David, Bispo de Kalookan (Filipinas), e de Wyatt Olivas, que, aos 19 anos, é o mais jovem participante do Sínodo. Uma Igreja com uma longa experiência de sinodalidade O cardeal Leonardo Steiner partilhou a experiencia da Amazônia, “uma Igreja que tem uma larga experiencia de sinodalidade, sem usar a palavra sinodalidade. Uma Igreja que procurou envolver todos os ministérios e todas as vocações na evangelização, nas discussões”. O arcebispo de Manaus destacou e presença nas assembleias dos indígenas, da Vida Religiosa, presbíteros, diáconos permanentes e bispos. Ele relatou a experiência sinodal na Arquidiocese de Manaus, com uma ampla participação no processo de escuta, o que serviu no para enviar para o atual Sínodo. Ele mostrou sua alegria em ver que “o sínodo está sendo um processo, não estamos buscando logo soluções, mas estamos nos exercitando na sinodalidade”, afirmando que é claro que deverá se chegar em conclusões e decisões. Um processo sinodal onde todos estão procurando entrar, “onde todos têm oportunidade de falar, se expressar, colocar suas ideias sempre para o bem da Igreja, sempre levando em consideração a missão da Igreja, que é anunciar o evangelho, anunciar o Reino de Deus. Todos nós nesse processo”. O cardeal agradeceu ao Santo Padre por “ter convocado um Sínodo e podermos assim refletir e nos exercitar na sinodalidade”. E para a Igreja da Amazônia “um incentivo a mais para continuarmos nesse caminho de buscar ouvir a todos e envolver a todos no processo evangelizador”. O arcebispo de Manaus ressaltou o desejo da Amazônia de “ouvir as culturas da região, que são as culturas indígenas para podermos a partir da cultura apresentar o Evangelho, mas também a partir da cultura podermos fazer as nossas celebrações”. Um Espírito que quer renovar a Igreja Um Sínodo que é algo que empolga o jovem norte-americano, especialmente quando ele descobre o desejo do Papa de escutar a todos. Um processo que, no caso de Mons. Zbigņev Stankevičs, bispo em um país com dois milhões de habitantes, com 20% de católicos, apesar da relutância de alguns, o vê como “um sopro do Espírito Santo que quer renovar a Igreja”, insistindo que a principal tarefa do Sínodo é ouvir a todos, não apenas os católicos, e “tentar reconhecer o que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje“, sendo a chave os ensinamentos do Concílio Vaticano II e o chamado para despertar um senso de corresponsabilidade. Descobrir os dons e carismas de todos e ver como eles podem ser aplicados ao serviço da Igreja. Algo que ele também aplicou às mulheres e a seus dons específicos. Por sua vez, o bispo filipino se referiu aos muitos migrantes filipinos em todo o mundo e como sua presença é apreciada. Isso leva os bispos a se perguntarem se eles formaram essas pessoas em corresponsabilidade na missão, o objetivo deste Sínodo, chamando os leigos a perceberem sua corresponsabilidade na missão como o tema mais importante do Sínodo. Da mesma forma, como outros já fizeram, a disposição da Sala Sinodal em mesas redondas, ao contrário do outro Sínodo do qual ele participou, pois isso mostra “nossa igualdade, somos todos discípulos no Batismo, estamos destacando nossa igualdade como batizados“. Escutar o que as comunidades são e as necessidades Para o cardeal Steiner, “ouvir as comunidades nos dá noção do que as comunidades pensam, o que elas são, o que desejariam ser, e as necessidades que as comunidades têm”. Ele mostrou que “as nossas comunidades do interior, quase todas são dirigidas por mulheres, e as mulheres insistem em ter mais formação para poder exercer melhor o seu ministério, a sua liderança, e pedem ministérios próprios”, citando como exemplo o Ministério do Batismo, que faria possível a celebração do Batismo sem a presença do padre, destacando a cada vez maior consciências das comunidades de que “elas possam celebrar um sacramento como comunidade”. Em relação às comunidades indígenas, em Manaus há mais de 70 mil indígenas, com culturas e línguas diferentes, defendeu a necessidade de “ouvir para podermos perceber quais são as necessidades, quais são as sugestões, como fazer a celebração da Eucaristia, como estar ao lado deles, como cuidar do meio ambiente”. O cardeal denunciou a situação deplorável em que se encontra a Amazônia com a seca, onde “os grandes e famosos rios da Amazônia estão quase secos”, e junto com isso a fumaça e as queimadas. Uma Igreja ativa, samaritana, presente, misericordiosa, mas também consoladora O presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil enfatizou que “os indígenas nos ajudam a compreender essa realidade, essa relação própria com o meio ambiente. Eles nos alertam e nos ajudam a compreender a necessidade de fazer realidade o cuidado com o que o Papa Francisco chama de casa comum”. É por isso, que “ouvir as nossas comunidades desse modo sinodal nos ajuda muito a sermos uma Igreja ativa, samaritana, presente, misericordiosa, mas também consoladora”. Uma sinodalidade que “ajuda muito, porque as comunidades dizem como sermos uma Igreja, não…
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Participação, responsabilidade e autoridade: “Apresentando propostas concretas para avançar”

No dia 18 de outubro, a primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade entrou em seu quarto Módulo, que aborda o tema “Participação, responsabilidade e autoridade“, refletindo sobre os processos, as estruturas e as instituições necessárias em uma Igreja sinodal missionária. Como na abertura de cada Módulo, a Basílica de São Pedro foi palco de uma celebração, uma missa presidida por Dom Gintaras Grušas, Arcebispo de Vilnius (Lituânia) e Presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias. O Espírito Santo é o protagonista do crescimento da Igreja Em sua homilia, ele começou destacando a mentalidade sinodal da vida e obra de Lucas, a quem definiu como fiel, algo que desafia “a permanecermos fiéis em nosso compromisso de caminhar juntos na vida da Igreja”. Da mesma forma, o evangelista mariano por excelência, “frequentemente enfatiza o importante papel das mulheres na vida da Igreja e na proclamação da Boa Nova“, e “as características do coração de Jesus, que nos revela a imensidão da misericórdia divina de Deus”, de acordo com Dom Grusas. Para o arcebispo lituano, nos escritos de Lucas “o Espírito Santo é o protagonista na vida e no crescimento da Igreja, como deve ser na direção de nosso processo sinodal“. Analisando o texto do Evangelho do dia, destacou que “na proclamação do Reino, a igualdade de todos os batizados vem à tona”, refletindo sobre as instruções de Jesus aos discípulos. Finalmente, ele insistiu que “a sinodalidade, incluindo suas estruturas e reuniões, deve estar a serviço da missão evangelizadora da Igreja e não se tornar um fim em si mesma”. Devolvendo os frutos da Assembleia Sinodal à Igreja O Cardeal Hollerich, relator geral do Sínodo, já na Sala do Sínodo, pediu para devolver às Igrejas locais os frutos do trabalho, reunidos no Relatório de Síntese, e para reunir os elementos para concluir o discernimento no próximo ano, carregado de uma consciência mais clara do Povo de Deus sobre o que significa ser uma Igreja sinodal e os passos a serem dados para sê-lo. Isso se deve ao fato de que nossa Igreja “não é muito sinodal” e muitos “sentem que sua opinião não conta e que alguns ou uma única pessoa decide tudo”. O Arcebispo de Luxemburgo analisou as cinco planilhas do Módulo, insistindo que “essas são questões delicadas, que exigem um discernimento cuidadoso“, “porque tocam a vida concreta da Igreja e o dinamismo do crescimento da tradição”. Para dar continuidade, ele fez um apelo à participação, alertando que “a concretude também implica o risco de dispersão em detalhes, anedotas, casos particulares”. Tudo isso para “chegar a expressar convergências, divergências, questões a serem exploradas e propostas concretas para avançar”. O Concílio de Jerusalém e o Sínodo A passagem que narra o Concílio de Jerusalém foi fonte de inspiração para o padre Timothy Radcliffe em sua reflexão espiritual, “chamado a enfrentar a primeira grande crise da Igreja depois de Pentecostes“. Uma Igreja profundamente dividida, em uma crise de identidade. Comparando o que experimentou lá com o Sínodo, ele mostrou que o Espírito nos reúne “para descobrir a paz entre nós e para sermos enviados a proclamá-la ao nosso pobre mundo, crucificado por uma violência cada vez maior”. De acordo com o frade dominicano, “se nos reunirmos no nome forte da Trindade, a Igreja será renovada, embora talvez de maneiras que não sejam imediatamente óbvias”. A partir daí, ele falou de uma Igreja “na qual as mulheres já estão assumindo responsabilidades e renovando nossa teologia e nossa espiritualidade”, onde “os jovens de todo o mundo, como vimos em Lisboa, estão nos levando em novas direções, em direção ao Continente Digital”. Isso porque “a história da Igreja é uma história de criatividade institucional sem fim”, questionando: “O que está acontecendo com a voz profética das mulheres, que muitas vezes ainda são consideradas ‘hóspedes em sua própria casa’?“. Dignidade dos batizados antes das funções A introdução do campo da teologia foi feita por Dario Vitali, que começou com a afirmação da Lumen Gentium, que define a Igreja como “sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade do gênero humano”, enfatizando que “a primeira participação enfatizada pelo Concílio Vaticano II não é, de fato, a dos indivíduos, mas a de toda a Igreja, o Povo de Deus a caminho da realização do Reino“, refletindo sobre a importância de uma Igreja “sinal e instrumento da paz entre os povos”. Uma Igreja que quer ser um sacramento universal de salvação, de unidade salvífica. Analisando a eclesiologia do Vaticano II, lembrou que “antes das funções está a dignidade dos batizados; antes das diferenças, que estabelecem hierarquias, está a igualdade dos filhos de Deus”. Uma reflexão que leva ao entendimento de que “colocar o sacerdócio comum antes do sacerdócio ministerial significa romper uma relação assimétrica de autoridade-obediência que estruturou a Igreja piramidal“, defendendo a complementaridade e os ministros ordenados “a serviço do povo santo de Deus, que finalmente volta a ser o sujeito ativo da vida eclesial”. A partir daí, ele definiu a sinodalidade como “a própria communio da Igreja como o povo santo de Deus“. Daí a importância deste Módulo B3, “que mostra o caminho para iniciar a renovação de processos, estruturas e instituições em uma Igreja sinodal missionária”, em uma unidade dinâmica. Um processo que Vitali define como de saída e de entrada, afirmando que “não há contradição entre a dimensão sinodal e a dimensão hierárquica da Igreja: uma garante a outra e vice-versa”. Portanto, enfatizou o teólogo italiano, “o Sínodo é o ‘lugar’ e o ‘espaço’ privilegiados para o exercício da sinodalidade”. Por essa razão, ele pediu uma reforma teológica, para repensar a Igreja em chave sinodal, e uma reforma institucional, para garantir o exercício da sinodalidade, pensando – com paciência e prudência – nas reformas institucionais e decisórias necessárias. Experiências de sinodalidade Por fim, a Assembleia ouviu três testemunhos. Dom Alexandre Joly, bispo de Troyes (França), que começou contando as dificuldades financeiras que enfrentou quando foi nomeado bispo, o que exigiu uma decisão sobre os bens imobiliários da diocese, algo…
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Padre Radcliffe: “O que está acontecendo com voz profética das mulheres, consideradas hóspedes em sua própria casa?”

O Concílio de Jerusalém tem sido a fonte de inspiração para o Pe. Timothy Radcliffe em sua reflexão espiritual em preparação para o quarto Módulo da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que refletirá sobre “Participação, Responsabilidade e Autoridade“, abordando a questão dos processos, estruturas e instituições necessárias em uma Igreja sinodal missionária. Enfrentando a primeira grande crise da Igreja O dominicano refletiu sobre um Concílio “chamado a enfrentar a primeira grande crise da Igreja depois de Pentecostes”. Uma Igreja profundamente dividida, em uma crise de identidade. A partir daí, ele lembrou as palavras de Francisco em Lisboa, onde ele disse que “amadurecemos através das crises”, na medida em que as abraçamos com esperança. Igreja significa reunião, enfatizou Radcliffe, que questionou a necessidade de nos reunirmos “não apenas fisicamente, mas também em nossos corações e mentes”, se “estamos dispostos a ser atraídos para além de mal-entendidos e suspeitas mútuas“, se somos como o irmão mais velho “que fica do lado de fora, recusando-se a se reunir na alegria do retorno de seu irmão”. Trazendo paz a um mundo crucificado pela violência Em sua opinião, o Espírito Santo “nos reúne e nos envia, oxigenando a força vital da Igreja“, afirmando que “estamos reunidos para descobrir a paz entre nós e somos enviados para proclamá-la ao nosso pobre mundo, crucificado pela violência cada vez maior, na Ucrânia, na Terra Santa, em Mianmar, no Sudão e em tantos outros lugares”. A partir daí, ele refletiu sobre como ser um sinal de paz se estivermos divididos entre nós. Fazendo uma comparação entre o Concílio de Jerusalém e o Sínodo, reunidos em nome do Senhor, ele disse que isso “significa ter confiança de que a graça de Deus está atuando poderosamente em nós“. Para aqueles que lhe disseram que “este Sínodo não mudará nada”, ele disse que “isso é falta de fé no nome do Senhor”, pois “se nos reunirmos no forte nome da Trindade, a Igreja será renovada, embora talvez de maneiras que não sejam imediatamente óbvias”, vendo isso não como otimismo, mas como “nossa fé apostólica”. Uma identidade que reúne toda a Igreja dividida A partir do pensamento de Cornelius Ernst, ele observou que “a Igreja é sempre nova, como Deus, o ancião e a criança recém-nascida”. Analisando o Concílio de Jerusalém, o padre Radcliffe afirmou que “os discípulos se reuniram porque viram que Deus já estava fazendo algo novo. Deus os havia precedido. Eles precisavam alcançar o Espírito Santo. Ali ele destacou a atitude de Tiago, que baseou sua identidade “em um relacionamento de sangue com o Senhor”, por isso considerou maravilhoso “que seja ele quem proclama essa nova identidade”, considerando de grande valor e fé dizer “nós, uma identidade que reúne toda a Igreja dividida”, uma Igreja de judeus e gentios, o que, de acordo com o dominicano, “levou tempo para ele, assim como levou para nós”. Um novo sentido de “nós”, que ele disse ter experimentado durante a guerra civil em Burundi, celebrando a Eucaristia quando viajou pelo país com dois de seus irmãos, um hutu e um tutsi. Nesse sentido, “nosso Deus já está dando vida a uma Igreja que não é mais primordialmente ocidental: uma Igreja que é católica oriental, asiática, africana e latino-americana”. Uma Igreja, insistiu ele, “na qual as mulheres já estão assumindo responsabilidades e renovando nossa teologia e nossa espiritualidade“. Uma Igreja na qual “os jovens de todo o mundo, como vimos em Lisboa, estão nos levando em novas direções, em direção ao Continente Digital”. Abraçando a graciosa novidade de Deus Radcliffe insistiu que, em vez de perguntar o que fazer, precisamos questionar o que Deus está fazendo, se aceitarmos sua graciosa novidade. A partir daí, observando a atitude de Tiago, ele afirmou que “o novo é sempre uma renovação inesperada do antigo”, de modo que “qualquer oposição entre tradição e progresso é totalmente estranha ao catolicismo“. “A história da Igreja é uma história de criatividade institucional sem fim”, enfatizou, citando exemplos ao longo da história. A partir daí, ele perguntou sobre as instituições necessárias “para expressar quem somos como homens e mulheres de paz em uma era de violência, habitantes do Continente Digital”. A partir do fato de que toda pessoa batizada é um profeta, ele perguntou como reconhecer e abraçar o papel da profecia na Igreja hoje, e mais concretamente: “O que está acontecendo com a voz profética das mulheres, que muitas vezes ainda são consideradas como ‘hóspedes em sua própria casa’?“. Por fim, ele lembrou que o Concílio de Jerusalém libertou os gentios de fardos desnecessários, de uma identidade dada pela antiga Lei. A partir daí, ele questionou “como tiraremos os fardos dos ombros cansados de nossos irmãos e irmãs de hoje, que muitas vezes se sentem desconfortáveis na Igreja”. Por exemplo, “aquela jovem que cometeu suicídio porque era bissexual e não se sentia bem-vinda”, dizendo esperar que “isso tenha nos mudado” e nos identifique com a Igreja na qual “todos são bem-vindos: todos, todos, todos“, lembrando as palavras de Francisco. Um caminho de volta à Igreja, à casa do Reino que cada pessoa começa onde quer que esteja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Hollerich: “Onde reina o clericalismo há uma Igreja que não se move, uma Igreja sem missão”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade iniciou nesta quarta-feira o Módulo B3, no qual refletirá sobre “Participação, responsabilidade e autoridade“. Isso vem depois de um trabalho que o Cardeal Hollerich, relator geral do Sínodo, descreveu como belo, emocionante e exigente. O Arcebispo de Luxemburgo alertou para duas tarefas a serem realizadas após o término da atual sessão da Assembleia: devolver às Igrejas locais os frutos do trabalho, reunidos no Relatório Síntese, e reunir os elementos para concluir o discernimento no próximo ano, carregado de uma consciência mais clara do Povo de Deus sobre o que significa ser uma Igreja sinodal e os passos a serem dados para sê-lo. Processos, estruturas e intuições em uma Igreja sinodal missionária A pergunta inicial do quarto módulo leva a uma reflexão sobre os processos, as estruturas e as instituições necessárias em uma Igreja sinodal missionária. Esse módulo tratará de questões de mudanças na vida do discipulado missionário e da corresponsabilidade. Tudo isso em uma Igreja que, nas palavras de Hollerich, “não é muito sinodal”, onde muitos “sentem que sua opinião não conta e que alguns ou apenas uma pessoa decide tudo”. A partir daí, ele analisou as cinco planilhas do Módulo que serão trabalhadas pelos Círculos Menores: a renovação do serviço da autoridade, afirmando que “onde reina o clericalismo há uma Igreja que não se move, uma Igreja sem missão“, algo que também pode afetar os leigos; a prática do discernimento em comum, perguntando como introduzi-lo nos processos de tomada de decisão da Igreja, em diferentes níveis, buscando um consenso que supere a polarização; a criação de estruturas e instituições que favoreçam a participação e o crescimento; a promoção de estruturas continentais, Assembleias Eclesiais, redes entre Igrejas locais, garantindo a unidade com Roma; a relação dinâmica entre sinodalidade, colegialidade episcopal e primazia petrina.   Questões delicadas Hollerich reconheceu que “essas são questões delicadas, que exigem um discernimento cuidadoso“, às quais serão dedicados os trabalhos deste Módulo e o ano que antecede a segunda sessão da Assembleia Sinodal. Questões delicadas “porque tocam a vida concreta da Igreja e o dinamismo do crescimento da tradição”, afirmando que “um discernimento errado poderia cortá-la ou congelá-la. Em ambos os casos, ele a mataria”. Nas palavras do Relator Geral do Sínodo, “é através da participação que podemos trazer a visão inspiradora para a terra e dar continuidade no tempo ao impulso da missão“, alertando que “a concretude também implica o risco de dispersão em detalhes, anedotas, casos particulares”. A partir daí, ele pediu para “fazer um esforço especial para manter o foco no objetivo que estamos buscando”, algo que está incluído nas perguntas para discernimento de cada parte, pedindo para evitar sair pela tangente. Convergências e divergências Sobre o trabalho dos grupos de discernimento comunitário, o cardeal pediu “para expressar convergências, divergências, questões a serem exploradas e propostas concretas para avançar“, solicitando aos facilitadores, a quem agradeceu por seu trabalho, “que não tenham medo de nos pressionar, mesmo que de forma um pouco decisiva, quando precisarmos deles para nos ajudar a não perder o foco”. Por fim, desejando “um trabalho frutífero neste Módulo, que beneficiará toda a Igreja“, ele enfatizou que “o discipulado missionário ou a corresponsabilidade não são apenas frases feitas, mas um chamado que só podemos realizar juntos, com o apoio de processos, estruturas e instituições concretas que realmente funcionem no espírito da sinodalidade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal López Romero: “Que o Sínodo passe, mas que a sinodalidade permaneça”

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade conclui seu terceiro módulo nesta terça-feira, no qual foi discutida a corresponsabilidade na missão. O cardeal Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat, a professora Reneé Khöler-Ryan, diretora da Escola de Filosofia da Universidade de Notre Dame (Austrália), Dom Anthony Randazzo, bispo de Broken Bay (Austrália) e presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceania, e o jesuíta nigeriano Agbonkhianmeghe Emmanuel Orobator, reitor da Universidade de Santa Clara, na Califórnia (Estados Unidos), refletiram em coletiva de imprensa sobre o tema. O papel das mulheres como tema de destaque A Assembleia Sinodal lembrou o Dia de Jejum e Oração pela Paz na Terra Santa, “como uma força santa a ser oposta à força do demônio, à força da guerra”, nas palavras de Paulo Ruffini. Embora se insista que o tema do Sínodo é a sinodalidade, as palavras do prefeito do Dicastério para a Comunicação deixaram claro que o tema da mulher ocupou o centro deste módulo, algo que já ficou claro na introdução de sexta-feira, da qual todos os detalhes são conhecidos, pois são os únicos momentos em que se tem acesso irrestrito a tudo o que é dito na sala sinodal. Ruffini salientou que foi abordada a questão de como superar modelos clericais que podem dificultar a comunhão, mas acima de outras questões destacou em relação à corresponsabilidade, o tema deste módulo, a questão do diaconato feminino, sendo importante esclarecer a própria natureza do diaconato, a questão da linguagem inclusiva na Igreja, o papel da mulher, lembrando que Jesus tinha muitas mulheres ao seu redor. A participação das mulheres é importante, pois elas podem “ajudar a Igreja a encontrar seu vigor nesta época”, ressaltou. Missão dos bispos na Igreja sinodal Nesse campo, a participação das mulheres na homilia foi discutida, com Ruffini reconhecendo que “quando há mulheres nos conselhos pastorais, as comunidades são mais criativas“, tendo sido falado que “quando queremos falar é importante ter homens e quando queremos fazer coisas é importante ter mulheres”. Além disso, o tema do serviço em comunhão e a necessidade de ter todos os batizados. A Assembleia Sinodal, conforme relatado por Sheila Pires, secretária da Comissão de Comunicação, refletiu sobre o papel dos bispos na Igreja, que devem promover o diálogo ecumênico e inter-religioso, tendo sido solicitada uma maior participação nas consultas para a nomeação de bispos. Também foi observada a necessidade de todos os bispos adotarem um estilo sinodal, sua formação contínua, seu relacionamento com o clero e sua proximidade com as vítimas de abuso. Um fã da sinodalidade O Cardeal Cristóbal López Romero se declarou “um fã da sinodalidade”, enfatizando a importância de todo o processo sinodal, não apenas da Assembleia Sinodal. A partir daí, ele pediu que “o Sínodo passe, mas que a sinodalidade permaneça“. Em suas palavras, destacou o clima de espiritualidade na Assembleia, o processo de consulta e as diferentes etapas em todos os níveis que foram realizadas, a presença na Assembleia Sinodal de mulheres, leigos e sacerdotes, e a organização em mesas redondas, bem como o método de conversação no Espírito e a atmosfera franca, serena e fraterna que prevaleceu. Uma Assembleia Sinodal na qual ele insistiu que não é possível pretender falar sobre todos os temas. De fato, afirmando que os membros da Assembleia Sinodal levarão para casa a lição de casa no final desta primeira sessão, que ele definiu como um aquecimento, ele enfatizou que nenhuma proposta ou resolução é esperada nesta fase, e que entre esta e a segunda fase, prevista para outubro de 2024, o trabalho terá que ser feito nos diferentes níveis da Igreja. As ideias do Cardeal foram repetidas pelos outros convidados na coletiva de imprensa, enfatizando a importância de trabalhar a partir do mundo digital, especialmente em realidades onde as distâncias são enormes, como na Oceania, insistindo em não cair no isolamento. Um processo no qual é necessário “ir ao mais profundo do processo, para entender o fermento do que estamos vivendo“, como apontou o jesuíta nigeriano, que insistiu na importância do processo além do resultado, porque estamos diante “do mecanismo que nos guiará a novas formas de ser, de buscar novas formas”. Diaconato feminino Em relação ao diaconato feminino, Reneé Khöler-Ryan acredita que essa é uma das questões que merece mais consideração. Mas, ao mesmo tempo, como alguém que trabalha na Igreja, ela pediu para entender que as mulheres se concentram em coisas mais cotidianas, “não falamos todos os dias sobre o fato de não sermos sacerdotes”, pedindo para não se concentrar apenas nisso e esquecer as necessidades das mulheres em todo o mundo, preocupar-se, como mãe, com o que diz respeito à sua família, que seus filhos sejam educados na fé, tenham suas necessidades atendidas e um futuro em que possam ser bem recebidos na Igreja, o que ela considera ser o desejo de muitas mulheres em todo o mundo, pedindo que não se concentrem apenas em uma questão e se esqueçam das outras, que sejam mais abertas a várias questões. Uma Assembleia Sinodal em que há divergências, como reconheceu o Cardeal López Romero, embora tenha insistido que “não são muito perceptíveis, nem notórias, não é que haja uma briga, um fogo cruzado de tiros uns contra os outros”, algo que é ajudado pelo método de conversação no Espírito, que “faz com que sejamos muito respeitosos uns com os outros“, sem falar em resposta ao que o outro disse. Salientando que todos têm o mesmo tempo e a importância dos momentos de silêncio, ele enfatizou que “há muito mais coisas que nos unem do que nos separam”. Não esconder as divergências Para o arcebispo de Rabat, é possível que “quando chegarmos a questões mais concretas, as divergências se tornem aparentes“, ressaltando o pedido da Secretaria do Sínodo para que as divergências sejam destacadas, ajudando assim a superar a auto referencialidade. Para isso, uma experiência como essa ajuda muitos a abrir os olhos e a descobrir que a experiência dos outros pode modificar as visões. O padre Orobator reconheceu “muitas diferenças…
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Sentados na carteira da Igreja Sinodal para não ficarmos ancorados em ideologias, Deus nos fala nos diferentes

Aprofundar uma dimensão essencial no caminhar de uma Igreja sinodal foi o objetivo dos últimos dias na primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está acontecendo na Sala Paulo VI de 4 a 29 de outubro. O terceiro módulo do Instrumento de Trabalho, o módulo B1, que será encerrado nesta terça-feira, foi um chamado à corresponsabilidade na missão.  Deus fala nos diferentes A questão que se coloca é se os participantes do Sínodo terão conseguido responder à pergunta que foi o ponto de partida para a reflexão realizada na última sexta-feira: “Como podemos compartilhar dons e tarefas a serviço do Evangelho?“. Na coletiva de imprensa de segunda-feira, a irmã Patrícia Murray definiu a Assembleia Sinodal como um momento de “escutar o sopro da vontade de Deus entre diferentes vozes”, algo que realmente se aplica a tudo o que acontece em uma Igreja sinodal. À medida que a Assembleia entra em sua segunda metade, alguns se perguntam até que ponto o processo sinodal, a dinâmica da conversa no Espírito, está avançando e ajudando a escutar o sopro da vontade de Deus naquele que pensa diferente. O risco é aquele contra o qual Francisco sempre adverte, de que a ideologia fale mais alto do que o Espírito, de que posições fechadas, ancoradas no passado, que nos levam a preservar nosso status quo, seja ele qual for, queiram se impor na Sala Sinodal. De volta às carteiras da Escola Sinodal Estar aberto à novidade de uma nova forma de ser Igreja, uma Igreja sinodal, na qual é necessário sentar-se às carteiras para aprender seus segredos e conhecer seu funcionamento interno, é uma necessidade. É preciso assumir uma dinâmica sinodal para responder, por meio da escuta, do diálogo e do discernimento comunitário, aos clamores que o tempo presente está colocando em nossa caminhada eclesial, pessoal e comunitária, uma caminhada determinada pelo batismo. É nesse contexto que surge a necessidade de nos deixarmos iluminar pelo Espírito, que nos ajuda a transcender a realidade, transbordando, como diz Francisco com tanta frequência. Não podemos nos esquecer de que toda mudança precisa de uma conversão, e estamos diante de um Sínodo que pode ser considerado uma tentativa de reforma eclesial, conforme delineado no Concílio Vaticano II, mas que não foi realizado na medida em que deveria ter sido. Para isso, é essencial aprender a construir juntos, superando os laços pessoais e comunitários que nos impedem de romper, confrontando opiniões diferentes para encontrar, no discernimento comunitário, o rumo a seguir em meio a posições conflitantes, evitando o distanciamento que nos impede de continuar caminhando em uma direção comum, o que não podemos esquecer que é um objetivo óbvio de qualquer processo sinodal. Para continuar caminhando juntos, às vezes é necessário ter a coragem de pedir perdão, e isso é algo que às vezes não é fácil, mas é o que cura as feridas e nos permite continuar caminhando juntos, em uma verdadeira sinodalidade. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Ir. Patrícia Murray: “Estamos escutando o sopro da vontade de Deus entre diferentes vozes”

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade retomou seus trabalhos nesta segunda-feira, após a pausa do fim de semana. Desde a última sexta-feira, está sendo trabalhado o terceiro módulo do Instrumentum Laboris, que tem como tema a corresponsabilidade na missão, elemento fundamental em uma Igreja que quer ser sinodal. Nesta segunda-feira, o trabalho está sendo realizado na congregação geral, presidida pela segunda vez por uma mulher, a japonesa Momoko Nishimura, com a participação do Papa Francisco na primeira parte, que foi agradecido com um grande aplauso pela publicação de sua última exortação apostólica: “C’est la confiance”. Um teólogo, um bispo e uma religiosa A coletiva de imprensa do dia contou com a presença de Vimal Tirimanna, redentorista do Sri Lanka, assessor teológico do Sínodo e professor de teologia moral na Universidade Alfonsiana de Roma, Dom Zdeněk Wasserbauer, bispo auxiliar de Praga (República Tcheca), e Ir. Patrícia Murray, do Instituto da Bem-Aventurada Virgem Maria, que está participando do Sínodo como secretária da União das Superioras Gerais. Nos trabalhos das últimas horas, foi enfatizado o significado da sinodalidade, que é um processo de aprendizado contínuo, destacando a importância e a riqueza da diversidade, que deve ser preservada. O papel dos leigos na missão, a evangelização na era digital, sabendo que nos países mais pobres o acesso ao mundo digital é mais difícil, a formação permanente, a inclusão e o reconhecimento das mulheres, com a questão do diaconato para as mulheres sendo abordada, foram temas enfatizados. Processo sinodal vivido de forma clara Um Sínodo que está despertando otimismo no Pe. Tirimanna, que antes da assembleia tinha dúvidas, que diz ter superado após duas semanas de trabalho, sobre o equilíbrio entre a prática e a teoria, insistindo que a sinodalidade está sendo vivida, porque “é algo que se vê quando se desenvolve“. A atmosfera de oração constante que complementa o método de conversação no espírito contribuiu para isso, segundo o redentorista, que não hesita em afirmar que “o processo sinodal é algo que estamos vivendo claramente”. Como teólogo, ele enfatizou a eclesiologia da Lumen Gentium presente em um processo que ele vê como uma continuação do Concílio Vaticano II, cuja teologia está sendo revivida a partir de dois polos: o Povo de Deus e o Batismo. Nesse sentido, ele deu como exemplo a presença de muitas mulheres ao lado dos cardeais, afirmando que na Sala Sinodal está sendo oferecida a sinodalidade, razão pela qual ele insistiu que esse espírito deve ser levado para fora da Assembleia Sinodal. Criando espaços para a escuta e o acompanhamento Uma sinodalidade que, de acordo com a Ir. Pat Murray, tem sido vivida por mais de 20 anos nas decisões de muitas congregações religiosas. Expressando o desejo de que isso seja vivido na missão da Igreja, ela enfatizou a necessidade de criar espaços de escuta e acompanhamento, de assumir o método do discernimento comunitário como método eclesial, destacando a importância de ter duas sessões da assembleia e o trabalho entre elas, porque “estamos escutando o sopro da vontade de Deus entre diferentes vozes“. No trabalho sinodal, a religiosa destacou a lógica circular empregada “que nos ajuda a aprofundar as questões”, além da profunda reflexão que os membros do Sínodo realizam antes de suas intervenções. Também ressaltou a necessidade de compreender “a amplitude do que estamos tratando, por causa das diferentes culturas, dos diferentes contextos, das diferentes perspectivas, das diferentes opiniões, das diferentes eclesiologias”. Por sua vez, o bispo auxiliar de Praga destacou a importância da exortação apostólica publicada neste domingo sobre a santa padroeira das missões, desejando relacioná-la com a Assembleia Sinodal, onde há “mais de 400 pessoas que querem o bem dos outros”. Com relação ao papel da missão, disse que “é a vontade de levar a salvação aos outros“, refletindo sobre um elemento presente na exortação, o ateísmo, algo que ele disse ter experimentado em seu país, que passou por um regime comunista. Nesse sentido, ressaltou que o Sínodo quer ser uma luz na escuridão do Terceiro Milênio. Primeira mulher na Comissão de Síntese Ir. Patrícia Murray é a primeira mulher a ser membro da Comissão de Síntese do Sínodo, algo que ela vê como uma honra e uma surpresa. Para ela, “essas nomeações são simbólicas, é uma indicação clara do fato de que as mulheres estão participando do nível de tomada de decisões“. Ela revelou que “o documento não deve ser muito longo, vamos dividi-lo em seções claras e teremos áreas em que serão feitas propostas, mas, ao mesmo tempo, muitas áreas para uma reflexão mais profunda, para um estudo mais profundo, para revisar os pontos mais candentes”. Como uma mulher que é membro da Assembleia Sinodal, ela destacou a capacidade das mulheres de ocupar seu espaço de maneira apropriada, tendo espaço apropriado para suas intervenções, observando também que muitos membros masculinos da Assembleia Sinodal estão falando sobre a importância do papel das mulheres na Igreja, que estão participando muito da Assembleia. Lidando com as feridas como Igreja Em relação à população LGBTQI, a religiosa insistiu que em muitas das mesas foi abordada a questão das feridas em nível individual e coletivo, “são questões tangenciais e ardentes”, chamando a enfrentar essas feridas como Igreja, “nossas formas pastorais e litúrgicas podem ser símbolos que ajudam a perdoar nessa direção”, destacou. Nesse sentido, ela disse que “há uma forte consciência da dor que foi causada, e isso não é esquecido”. De fato, “esta é uma questão candente em todo o mundo”, disse o padre Vimal Tirimanna, para quem no processo sinodal “todos estão incluídos”. O processo sinodal é “um esforço para garantir que ninguém seja excluído, Jesus quis incluir todos”, e é importante que o processo não se concentre apenas em um tema, mas que seja aberto em um Sínodo que tem como objetivo claro “criar uma cultura de encontro por meio da sinodalidade“, que assume todos os temas e pessoas, “trata-se de uma conversão radical no âmbito da Igreja, queremos uma cultura de escuta, de sinodalidade e de inclusão”. Espaço para todos no âmbito da…
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Sem uma Igreja com ministérios de homens e mulheres não há corresponsabilidade na missão

Uma Assembleia Sinodal que está entrando gradualmente em questões que são decisivas em uma Igreja que quer caminhar junto. Daí a importância do módulo que está sendo trabalhado durante esses dias, o Módulo B2, o terceiro do Instrumentum Laboris, no qual o tema é a corresponsabilidade na missão e leva a questionar a melhor forma de compartilhar dons e tarefas a serviço do Evangelho. A ministerialidade como uma dinâmica decisiva Nessa corresponsabilidade na missão, tudo o que se refere à ministerialidade desempenha um papel fundamental, uma dinâmica que é decisiva se quisermos tornar uma Igreja sinodal uma realidade, uma Igreja onde possamos caminhar juntos, em comunhão. A partir daí, pode-se afirmar que sem uma Igreja com ministérios assumidos por homens e mulheres não há corresponsabilidade na missão, dimensão que é decisiva nesse modo de ser Igreja para o qual o atual processo sinodal quer nos abrir. É verdade que estão sendo dados passos, que há sinais nessa direção, mas se eles não forem perpetuados no tempo e assumidos nas comunidades, paróquias, pastorais, movimentos, dioceses e outras estruturas eclesiais, continuarão sendo fogos de artifício. E isso não é uma coisa fácil de fazer, porque em muitos lugares ela não se quer levar adiante. Ser uma Igreja ministerial, uma Igreja em que a corresponsabilidade na missão é vivida por meio do sacramento do batismo, deixando para trás uma Igreja que é estruturada e funciona por meio do sacramento da Ordem Sagrada, não é do agrado de algumas pessoas. Uma Igreja sem clérigos que se empenha em ser clerical Especialmente na velha Europa, onde, apesar da falta de clérigos, a Igreja Católica insiste em ser clerical, ela não gosta dessa ministerialidade. De fato, muitas missas em Roma neste fim de semana não rezaram pelo Sínodo e pelo trabalho da Assembleia Sinodal. Uma atitude de não querer saber que também deve ter sido assumida em outros lugares. Há sacerdotes que chegaram a dizer em homilias que, com este Sínodo, Francisco quer provocar um cisma na Igreja, uma afirmação que provoca risos, mas também preocupação, primeiro por causa da falta de formação, e depois pelo fato de que eles não quer abrir mão do poder, de poder viver muito melhor do que eles viveriam sem desfrutar dos privilégios clericais que eles têm. O lado bom é que muitas pessoas não toleram mais essas posições e defendem um Papa que consideram seu. Mais uma vez, uma mulher presidente-delegada Nesta segunda-feira, como aconteceu na última sexta-feira, uma mulher, pela segunda vez na história dos sínodos, presidiu a sessão como presidente delegada nomeada pelo Santo Padre. Momoko Nishimura, do Japão, consagrada das Servas do Evangelho da Misericórdia de Deus, que caminha pela Sala Sinodal com a cuia de mate, um costume adotado durante seus seis anos de missão na Argentina, o que demonstra a importância de levar em conta a cultura local na missão. São sinais, passos lentos, mas sempre em frente, em direção àquela Igreja que, por mais que alguns insistam, está sendo gradualmente assumida como o caminho para encarnar o Evangelho hoje, uma Igreja de comunhão, participação e missão, a Igreja sinodal. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1