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“Igreja Sinodal com Rosto Magüta” realiza seu terceiro encontro de formação

O Projeto “Igreja Sinodal com Rosto Magüta” realizou de 11 a 13 de outubro na comunidade de Nazareth (Colômbia) seu terceiro encontro de formação, dos seis que fazem parte da programação, com a participação de 60 catequistas indígenas tikunas de Umariacú I y II e de Emaús (Brasil), de Nazaret, Progreso, Arara, Loma Linda y Santa Sofía (Colômbia) y de Yahuma y San José de Barranco (Peru). O propósito é inculturar o anúncio do Evangelho aos costumes e tradições desse povo nessa Triple fronteira. É importante lembrar que os encontros são realizados em língua tikuna. O tema abordado foi a Misericórdia, trabalhado quatro eixos: Misericórdia com os outros; Misericórdia com a criação; Misericórdia consigo mesmo; Misericórdia de Deus. O trabalho teve como ponto de partida a compreensão da misericórdia na cotidianidade, sendo relatadas histórias do povo Magüta que mostram a prática de obras de misericórdia. Com a ajuda dos sábios das comunidades, foi trabalhado a temática desde os elementos presentes na natureza, conhecendo assim os efeitos medicinais das plantas. Se questionando sobre o que é misericórdia, isso levou a se perguntar como isso é traduzido no cuidado da natureza seguindo o método ver, julgar, agir. Daí foram trabalhados alguns conselhos: ter misericórdia com a natureza; lembrar de que qualquer prejudica também nosso futuro ato contra a natureza; monitorar na comunidade os lugares que precisam de serem cuidados para preservar; incentivar os outros a cuidar da criação.   A temática foi trabalhada também em relação com cada um e cada uma, partindo de exemplos concretos da vida e da Palavra de Deus. Na reflexão foi mostrado o quão difícil é vencer obstáculos quando nos falta um membro o quando estamos com a saúde debilitada e a experiência de ser curados e curadas, sendo voltada a reflexão para a saúde e a vida plena. Uma reflexão que partindo do Evangelho, da cura do paralitico, mostrou o amor de Deus com todas as criaturas, querendo assim a vida, mas o pecado nos afasta dessa plenitude, interrompendo a vida e nos levando contra o Amor e a justiça de Deus, do próximo e da criação.  Para isso Deus nos oferece seu coração cheio de compaixão e misericórdia que acolhe a todos, perdoa e restaura nossas vidas.  Os cantos, danças, histórias, arte e tradições ficaram muito evidentes e foram a estrutura inspiradora para descobrir as “Sementes do Reino” presentes em todas as culturas, especialmente nesse povo cheio de vida e esperança. Os participantes destacaram a acolhida da comunidade local, recebendo quase todos os participantes nas casas das famílias. Igualmente foi avaliado positivamente o desenvolvimento do curso de formação, tanto nos conteúdos, na didática, nos compromissos e nos desafios para os próximos temas desse processo formativo que está cheio de expectativa, esperança e sentimentos de maior unidade como um só povo Magüta a partir da experiência de fé e da imensa delicadeza da presença de Deus nos povos amazônicos. Com informações da Irmã Maria das Dores Rodrigues e do Irmão Marco Antônio

Comunhão, corresponsabilidade e peregrinação às Catacumbas marcam a semana no Sínodo

A primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano, de 4 a 29 de outubro, teve mais uma semana. De segunda-feira, 9 de outubro, a sábado 14, os membros do Sínodo das Mesas Redondas concluíram o segundo Módulo, o B1, e iniciaram os trabalhos do B2, o terceiro módulo em que se divide o Instrumentum Laboris. Comunhão, o fundamento e a fonte do ser Igreja Ambos os módulos seguiram o mesmo esquema: uma introdução do relator geral, uma análise da perspectiva da espiritualidade e da teologia e vários testemunhos. No Módulo B1, que teve a comunhão como tema principal, o Cardeal Hollerich afirmou que “a Santíssima Trindade é a base de todas as comunhões” e insistiu que “todos são convidados a fazer parte da Igreja”. Por sua vez, o Padre Timothy Radcliffe apresentou a Igreja sinodal como “aquela em que somos formados para um amor sem posses”, e a teóloga Anna Rowlands disse que a comunhão é “o fundamento da realidade e a fonte do ser da Igreja”, convidando a pensar “na comunhão como a primeira e a última palavra de um processo sinodal”. A apresentação foi concluída com quatro testemunhos de como viver a sinodalidade no Brasil, nas Igrejas Orientais e no mundo asiático. Nesse caminho sinodal, somos chamados a descobrir que a diversidade nunca é uma ameaça, pois existem “maneiras diferentes de fazer as mesmas coisas”, como disse o Cardeal Tobin em uma coletiva de imprensa, insistindo para que seja “um Sínodo que seja livre para falar e enfatizar todas as grandes questões”. Um Sínodo no qual Liliana Franco disse não sentir “que há agendas ocultas”. Um caminho sinodal que, para se tornar realidade, é necessário passar do “eu” ao “nós”, para ser “uma orquestra sinfônica na qual cada um tem seu próprio instrumento“, como afirmou o Cardeal Lacroix, insistindo que “nos ajuda a descobrir a presença do Senhor em cada batizado”. Corresponsabilidade na missão Nesta Assembleia Sinodal, que segue o método de conversação espiritual nos chamados círculos menores ou comunidades de discernimento comunitário, distribuídas em 35 mesas redondas, dinâmica que está sendo muito elogiada pelos participantes, o respeito, a sensibilidade e a acolhida são necessárias para resolver o difícil e complexo que evidentemente existe. Após uma visita às Catacumbas de Roma, momento em que os participantes da Assembleia Sinodal puderam respirar o ar dos primeiros cristãos, na sexta-feira iniciaram os trabalhos do terceiro Módulo, que visa aprofundar a corresponsabilidade na missão, buscando compartilhar dons e tarefas a serviço do Evangelho. Uma missão que pertence a todos os batizados, homens e mulheres, “o batismo das mulheres não é inferior ao dos homens“, disse o Cardeal Hollerich, que ressaltou a importância da missão no campo virtual. Reconhecendo as mulheres para o bem da Igreja Nesse sentido, a monja beneditina Maria Grazia Angelini, inspirada nas atitudes de Jesus e na vida das primeiras comunidades cristãs, definiu o maior reconhecimento e a promoção da dignidade batismal das mulheres como algo não mundano, “mas para o bem da Igreja”. Algo que se expressa na “Corresponsabilidade sinodal na missão evangelizadora“, um aspecto que foi apresentado pelo teólogo argentino Carlos Galli. O que essa corresponsabilidade implica na prática foi apresentado nos testemunhos, que refletiram sobre o papel das mulheres na Igreja, cujo caminhar “está cheio de cicatrizes, de situações que envolveram dor e redenção”; sobre a missão no ambiente digital, “um território ideal para uma Igreja sinodal missionária, na qual todos os batizados assumem a corresponsabilidade de evangelizar“; e sobre o ministério do bispo, chamado a promover “uma comunhão missionária dentro da Igreja diocesana” e “favorecer uma mentalidade moldada pelo pensamento sinodal”. Uma Congregação Geral, a da sexta-feira 13, que pela primeira vez na história, uma mulher, a religiosa mexicana Dolores Palencia, que viveu seus mais de 50 anos de vida religiosa nas periferias, assumiu o papel de presidenta delegada em uma assembleia sinodal. “Uma experiência muito profunda, muito comovente, estar sentada na mesma mesa redonda com o Papa”, segundo a religiosa da Congregação de São José de Lyon, para quem esse serviço a ajuda a “perceber que essa é uma maneira de viver para sempre e no futuro a corresponsabilidade que todos nós temos como batizados”, e ela o vê como “um símbolo dessa abertura e desse desejo de que todos nós caminhemos em igualdade e juntos“. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: “A seca que estamos vivendo na Amazônia é dramática”. “Unamo-nos e nos ajudemos”

A combinação de diversos fenómenos, dentre eles o “El Niño”, e da falta de cuidado do ser humano, cada vez mais empenhado no avanço de uma economia que mata, tem provocado graves consequências para o bioma amazônico, um dos mais importantes para a sobrevivência do Planeta. A seca extrema dos rios da Amazônia, uma das maiores dos últimos tempos, o aumento da temperatura e a poluição do ar pelos muitos incêndios, tornam a situação insustentável. Situação de emergência A grande mortandade de peixes, o que coloca em risco a cadeia alimentaria nas comunidades ribeirinhas, o desabastecimento de alimentos pela dificuldade para o transporte, a falta de água potável, se tornou algo comum. Dos 62 municípios do Estado do Amazonas só dois estão em situação normal, com 42 em estado de emergência e 18 em alerta. Diante da situação que a Amazônia está passando, o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da CNBB, tem se pronunciado, afirmando que “a seca que estamos vivendo na Amazônia é dramática, os rios diminuíram, os igarapés secaram, as comunidades estão isoladas, a fumaça tomou conta de várias regiões de nossa Amazônia”. Solidariedade com os necessitados Diante dessa realidade, o cardeal Steiner insiste em que “nós queremos manifestar nossa solidariedade para com as comunidades, as pessoas, as famílias”. O presidente do Regional Norte1 da CNBB disse incentivar “para que haja solidariedade e nós todos como cristãos saiamos ao encontro das pessoas que mais necessitam, mas também saiamos ao encontro da natureza, que neste momento está profundamente necessitada”. Em sua mensagem, o arcebispo de Manaus chamou a “participar do SOS Amazônia”. Essa campanha está sendo incentivada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Rede Eclesial Pan-amazônica (REPAM-Brasil) e a Cáritas. O chamado que Dom Leonardo Steiner está fazendo é a “participar para diminuir a angústia, diminuir a dor, e neste momento de dor nos sentirmos mais fraternos, mais solidários”. Finalmente, ele faz um pedido: “vamos no futuro cada vez mais cuidar da nossa casa comum, a nossa casa comum que está sendo destruída”. Nesse sentido, a última exortação apostólica do Papa Francisco, Laudate Deum, publicada recentemente, no dia 04 de outubro de 2023, considerada a segunda parte, um complemento da Encíclica Laudato Si´, publicada em 2015, se torna um instrumento importante, que deve ser estudado e assumido pelos cristãos, mas também por toda a humanidade. É por isso, que o cardeal Steiner encerrou sua mensagem dizendo: “Unamo-nos e nos ajudemos”. Luis Miguel Modino, assessor de comunição CNBB Norte1

Ir. Dolores Palencia: “Presidir a Assembleia Sinodal é um símbolo de abertura e o desejo de que todos nós caminhemos em igualdade e juntos”

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade deu mais um passo adiante com o trabalho no terceiro Módulo, B2, que trata da corresponsabilidade na missão. Depois da apresentação dos principais elementos desta parte, o trabalho se desenvolveu nos círculos menores, nas comunidades para o discernimento comunitário, nas mesas redondas, uma organização e uma forma de trabalho cada vez mais elogiadas pelos membros da Assembleia, que neste sábado realizaram um novo encontro com os jornalistas. Os representantes foram a Ir. María de los Dolores Palencia Gómez, que nesta sexta-feira foi a primeira mulher a ser presidenta delegada de um Sínodo, Enrique Alarcón García, presidente do movimento FRATER España – Fraternidad Cristiana de Personas con Discapacidad, e o monge Mauro Giuseppe Lepori, Abade Geral da Ordem Cisterciense. Em seus mais de 50 anos de vida religiosa na Congregação de São José de Lyon, a mexicana Dolores Palencia, viveu quase sempre nas periferias, atualmente em um abrigo que acolhe migrantes de todo o mundo. Ela experimenta sua presença no Sínodo como uma graça, “uma maneira de aprender e desaprender, uma maneira de nos abrirmos a uma escuta muito atenta de cada pessoa, de cada realidade, de cada cultura“, a fim de “assumir naquelas palavras que escuto o que o Espírito está me dizendo” e, por meio do discernimento comunitário, “descobrir o que o Espírito está dizendo a todos nós, juntos, para servir e dar um passo adiante nesse desejo de nos tornar uma mensagem de esperança e uma proclamação do Evangelho no mundo”. Sobre sua função como Presidenta Delegada, ela a define como “uma experiência muito profunda, muito emocionante, de estar sentada na mesma mesa redonda com o Papa“. Algo que, segundo ela, a ajudou a “perceber que esse deve ser um modo de viver a corresponsabilidade que todos nós temos como homens e mulheres batizados para todo o sempre”. A religiosa lembrou as palavras de Paulo VI em Ecclesiam Suam, onde ele define a Igreja como diálogo, dizendo que isso é algo que está sendo vivido no Sínodo, o que ela considera uma graça. Ser a primeira mulher presidenta de uma Assembleia de Bispos “é um símbolo dessa abertura e desse desejo de que todos nós caminhemos em igualdade e juntos“. O reconhecimento das mulheres é uma alegria e uma responsabilidade, enfatizou ela, “ao sermos reconhecidas publicamente, temos que mostrar o que nós, mulheres, leigas e religiosas, podemos colocar a serviço do Evangelho e a serviço da esperança”. Enrique Alarcón vê a presença das pessoas com deficiência como um motivo de gratidão e surpresa, que encheu seu coração de alegria. As pessoas com deficiência não querem que isso seja um gesto decorativo, mas uma maneira de “tornar real o processo de sinodalidade“. Nesse sentido, ele destacou uma consulta feita pelo Papa por meio do Dicastério para os Leigos sobre o que pensam as pessoas com deficiência em relação à Igreja. Em seu discurso, ele denunciou o fato de que elas não podem participar da vida da Igreja, às vezes as barreiras arquitetônicas as impedem de entrar. Nos últimos tempos, ele vê uma mudança radical, “a Igreja nos escuta”, eles participaram do processo sinodal e estão deixando para trás visões paternalistas e assistencialistas, “o Papa nos trata como membros com plenos direitos, chamados a ser evangelizadores“, o que fez com que as pessoas com deficiência olhassem para a Igreja com uma visão diferente, vendo o Sínodo como uma possível revolução, que nos faz avançar em direção a “uma Igreja onde todos podem estar e onde todos nós podemos realizar nossa tarefa evangelizadora”. O Abade Geral da Ordem Cisterciense participa da Assembleia como representante da União dos Superiores Gerais, especificamente da Vida Monástica, dizendo que está aprendendo muito. A partir daí, ele pediu para seguir o caminho da sinodalidade e trabalhar com a comunhão sempre no centro, a comunhão da Igreja e do povo. Um Sínodo que chama à conversão e à escuta, para descobrir o sopro do Espírito na escuta mútua, para preparar espaços para o que o Espírito Santo pode dizer à Igreja hoje. Em contraste com o Sínodo de 2018, do qual também participou, ele destaca a importância das mesas redondas, uma ajuda muito forte para a escuta ativa, para intensificar os relacionamentos, algo importante que ele experimentou na presença em seu círculo menor de uma mulher palestina e seu sofrimento diante da atual guerra naquela região. O monge disse que está se tornando um ouvinte no qual é importante escutar um ao outro sem ser separado pelas palavras do outro. Isso está criando “uma comunhão, uma empatia básica que nos enche de esperança e espanto e estamos caminhando em direção a uma meta que é bela para a Igreja e é necessário deixar que nossos corações se convertam a Jesus Cristo”, enfatizou. Esse aspecto também foi destacado pela Ir. Dolores Palencia, que enfatizou o fato de que haverá uma segunda sessão da Assembleia Sinodal no próximo ano e a importância de retornar as reflexões às bases para enriquecê-las, também às periferias, para que elas mesmas tenham sua opinião e sejam levadas em consideração. Ela também enfatizou a ênfase na realidade dos migrantes que ele acompanha e que, como cristãos, devemos tocar a consciência das autoridades e da sociedade. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O batismo é graça para todos, não é um dom exclusivo de Deus para os homens

Há afirmações que, em caso de dúvida, é preciso pensar no que leva a elas. As palavras do Cardeal Hollerich, relator geral do Sínodo da Sinodalidade, na introdução ao trabalho sobre o Módulo B2, que propõe uma reflexão sobre a corresponsabilidade na missão, onde ele disse que “o batismo das mulheres não é inferior ao dos homens“, é um exemplo claro disso. Graça, possibilidade e envio para todos Perguntando às mulheres que participam da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que acontece no Vaticano de 4 a 29 de outubro, como elas reagiriam se alguém alegasse superioridade do “batismo masculino”, elas disseram que o seu “não é um batismo inferior, é o mesmo dom, é Deus Pai, Filho e Espírito Santo derramado totalmente com sua graça e seus dons, não é um dom exclusivo de Deus para os homens, é graça para todos, é a possibilidade para todos, é o envio para todos“. Embora afirmem que nunca esperariam ouvir alguém dizer que o batismo das mulheres é inferior ao dos homens, elas mesmas reconhecem que, na prática, na vida cotidiana de algumas comunidades eclesiais, pode-se dizer que é assim, “porque se fôssemos ver pelo que experimentamos como mulheres na Igreja, parece que o batismo dos homens vale mais do que o nosso. Eles têm poder, dão ordens, dominam tudo, a última palavra é sempre a do padre”. Fundamentos bíblicos e do Magistério A base para essa igual dignidade batismal vem da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja. No Gênesis, aparece que todo ser humano foi feito à imagem e semelhança de Deus, onde se destaca que ele os fez homem e mulher, o que significa que o batismo de homens e mulheres é exatamente o mesmo. De fato, no Evangelho, parece que Jesus convidou a todos igualmente, sem distinção, e deu a muitas mulheres um lugar de dignidade e preferência. Quando alguém afirma uma suposta superioridade do batismo masculino sobre o feminino, há mulheres que lhe dizem que “essa pessoa perdeu algumas páginas do Evangelho em sua Bíblia, ou fez uma leitura parcial do lugar das mulheres ao lado de Jesus e dos discípulos da primeira hora. Elas acompanhavam Jesus pelas cidades e aldeias, proclamando e anunciando as Boas Novas do Reino de Deus e ajudando-o com seus bens, como Lucas relembra no capítulo 8, versículos 1-3. Não há dúvida de que nós, mulheres, também somos consideradas ‘do caminho’, aquelas que abrem e abrem trilhas ao lado do Mestre”. No Magistério da Igreja, o Cardeal Joseph Ratzinger, em sua “Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo”, enquanto Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, propôs “rever os dados doutrinais da antropologia bíblica”. As mulheres insistem que “o magistério pontifício, através de numerosas e variadas intervenções, e a partir de diferentes abordagens – antropológica, teológica, eclesiológica, histórica, sociocultural, jurídica – nos mostrou o verdadeiro significado da vocação da mulher, e como a feminilidade pertence ao patrimônio constitutivo da humanidade e da própria Igreja, complementando necessariamente a missão do Povo de Deus“. A dignidade batismal rompe toda assimetria São mulheres, e não nos esqueçamos de seu importante papel na Sala Sinodal, que insistem que “a dignidade batismal nos torna irmãs, rompe toda assimetria e nos permite olhar nos olhos umas das outras sem distinção, com o único objetivo de tornar presente o reino de Deus e sua justiça”. Por isso, insistem que “todos temos a mesma dignidade, a identidade fundamental é a de filhos de Deus, e nessa categoria todos nos encaixamos”. “O grande desafio de nosso tempo, aqui e agora, é colocá-lo em prática“, insistem, ressaltando a importância da presença feminina, com a contribuição do que é próprio e característico da mulher. Para isso, é preciso entender que “os homens muitas vezes assumem isso porque muitas pessoas, inclusive nós, mulheres, reforçam isso”. A partir daí, um chamado à esperança, que está em “assumir nosso compromisso e tomar consciência de que nós, mulheres, pertencemos à Igreja e queremos espaço, mas não como disputa de poder, para não reproduzir o que os homens fazem conosco”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Diocese de Roraima inaugura Casa da Caridade, graças à ajuda do Papa Francisco

“O espírito do Senhor Deus me enviou a proclamar a Boa Nova aos pobres”. Nessas palavras do profeta Isaias encontramos a inauguração do ministério de Jesus e ao mesmo tempo o conteúdo do nosso ser e do nosso operar em favor dos pobres como batizados e batizadas, fazendo a verdade na caridade. (Ef 4,15). Nessas palavras a Igreja diocesana de Roraima encontrou novo alento para renovar seu compromisso profético com a opção preferencial pelos pobres através da realização do projeto pastoral da “Casa da Caridade”.  Graças à intervenção direta do Santo Padre, o Papa Francisco, foi restaurado o antigo mosteiro das Monjas beneditinas, considerado uma peça valiosa do patrimônio histórico-eclesial de Roraima, e hoje está sendo devolvido à Diocese e à cidade de Boa Vista como centro vital de toda a obra caritativa e social da Igreja católica de Roraima. O objetivo principal é o trabalho orgânico e sinodal de todas as pastorais, movimentos e serviços que trabalham na dimensão da Caridade para oferecer assistência aos mais pobres e um caminho de formação a toda a comunidade roraimense na pedagogia do amor, a partir da caridade de Cristo.  Profundamente importantes ao longo do processo foram as reflexões do Concilio Vaticano II e do São Paulo VI sobre a necessidade da criação de uma “cultura da Caridade” para a realização da civilização do amor. Assim como Cristo revelou ao mundo o rosto de Deus Pai acolhedor e misericordioso para com todos os seus filhos e filhas, a nossa inspiração e ação começa a partir dos Pobres pois a eles é destinado primeiro o anúncio da Boa Nova da salvação. Além disso, mesmo no meio da complexidade com que somos chamados a caminhar junto com eles, os pobres permanecem um “lugar teológico” no qual vislumbrar os traços típicos do rosto de Deus muitas vezes desfigurado “sem aparência e nem beleza alguma…” (Is 53,2.), seu chamado para a conversão. Essa vocação dirige-se a toda a igreja, animada pelo amor conforme São Paulo nos lembra em sua segunda carta aos cristãos de Corinto: “a caridade de Cristo nos pressiona”. Assim a missão da Igreja é tornar-se cada vez mais Casa acolhedora para todos os filhos de Deus, Ele que é pai dos órfãos e defensor das viúvas, do humilde e de quem clama a Ele. Para toda a comunidade cristã e de maneira especial para toda a igreja local a Casa da Caridade – Papa Francisco começa seu ministério a partir dos pobres. Esse não é nem uma escolha particular tampouco um compromisso de poucos, mas Fidelidade de todos ao projeto de Deus e exigência de radicalidade originada pelo batismo além de um dever de coerência entre a profissão de fé e o nosso estilo de vida… De fato quando nós rezamos a oração do Pai Nosso que sobe a Deus da Igreja que celebra e que anima seu anúncio na catequese, essa mesma invocação “pressiona” a comunidade toda a viver no amor como família de Deus assumindo sua mesma solicitude paterna e materna para com todo aquele que se sente perdido privado de todos os meios de sustentação ou simplesmente de toda a razão para viver e esperar. Viver o dom da comunhão como fruto do Espírito nos torna uma comunidade verdadeiramente Cristã, uma Igreja Sinodal.  Dessa forma é possível encarnar o Espírito das bem-aventuranças redescobrindo a essencialidade do anúncio e o radicalismo exigente do Evangelho e vivendo a comunhão fraterna contra toda a tentação de exclusão. Esse é o itinerário de conversão que a nossa igreja católica de Roraima, a partir da Casa da Caridade e a partir dos pobres, quer assumir para que os mesmos pobres nos levem a descobrir o rosto de Deus. E para que esse projeto de amor se torne realidade, caberá à mesma Casa da Caridade favorecer um verdadeiro caminho pedagógico para toda a igreja diocesana para que cada Cristão e cristã, batizado e batizada, encontre na opção preferencial pelos pobres a realização plena de seu compromisso batismal como profeta, sacerdote e Rei, uma Realeza que resplandece da natureza do nosso Senhor e Rei que não veio para ser servido, mas sim para servir. Dessa forma a Casa da Caridade se torna também uma catequese a partir do serviço direto aos pobres.  Temos Esperança que a nossa igreja diocesana, a partir da perspectiva Pastoral lançada pelo projeto da Casa da Caridade “Papa Francisco” possa se tornar cada vez mais uma igreja “família de Deus” que vive na comunhão Sinodal conforme a imagem do Mistério da Trindade que é a melhor comunidade e que dá consistência a todas as relações dentro e fora da igreja, entre pastores e fiéis e entre pastorais, grupos e movimentos. Queremos nos tornar sempre mais uma igreja povo Deus itinerante e Peregrino, que não fica cuidando da manutenção da cristandade, mas que olha para a realidade atual com paciência e terna compaixão para aprender a ouvir os apelos do mundo atual e com a confiança amorosa no espírito que a acompanha diuturnamente, sair de si mesma para encontrar novos rumos e novas respostas para a construção de um mundo mais justo fraterno e solidário.  Queremos que a Casa da Caridade encarne em si o compromisso de todo o Povo de Deus que está em Roraima assume para não deixar cair a profecia que caracteriza uma Igreja disponível a viver as bem-aventuranças e que, por isso mesmo, se faz pobre e sempre posicionada do lado dos mais pobres, como garantia de abertura e de acolhida e compromisso para a construção aqui nessa terra daquela Casa Comum que é sinal e antecipação do Reino de Deus.  Enfim queremos que essa Casa nos ajude sempre mais a sermos Igreja missionária na história e no território em que ela se encontra; uma igreja capaz de acolher, proteger, promover e integrar sempre mais o bem presente no mundo, na história e no coração de cada ser humano desprezado e marginalizado como um sinal da continuação da missão de Cristo Salvador e Libertador. Por isso será típico da Casa…
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Cardeal Hollerich: “O Batismo das mulheres não é inferior ao dos homens”

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está realizando sua primeira sessão na Sala Paulo VI de 4 a 29 de outubro, iniciou seus trabalhos no dia 13 de outubro sobre o terceiro Módulo, B1, que visa aprofundar a corresponsabilidade na Missão. Novo Pentecostes O trabalho começou com uma Eucaristia no Vaticano, presidida pelo Cardeal Ambongo, Arcebispo de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. Uma celebração que teve um claro sabor africano, na qual o presidente iniciou sua homilia afirmando que esse caminho sinodal, esse “novo Pentecostes”, é motivo de ação de graças a Deus e “renovará a Igreja na comunhão de seus membros e na participação ativa de todos na vida e na missão da Igreja“. Em suas palavras, ele convidou, seguindo a profecia de Joel, “a chorar e lamentar diante deste altar, diante do túmulo de São Pedro, por nossas fraquezas como Igreja”, vendo a melhor maneira de fazer isso como “ter a coragem de empreender o caminho do arrependimento e da conversão, que abre o caminho para a reconciliação, a cura e a justiça”. Da mesma forma, seguindo o Evangelho do dia, o cardeal africano pediu para ver “até que ponto o Maligno age e influencia nosso modo de ser e agir”. Para combatê-lo, propôs “as armas da sinodalidade, que requerem unidade, caminhar juntos, discernir na oração, escutar uns aos outros e escutar o que o Espírito tem a dizer à Igreja“. Um longo caminho percorrido juntos Na sala do Sínodo, que foi presidida pela Presidenta Delegada, Ir. María Dolores Palencia, outra novidade desta Assembleia Sinodal, os trabalhos começaram com a intervenção do Cardeal Hollerich, Relator Geral do Sínodo, que reconheceu que desde o início da Assembleia “caminhamos juntos e percorremos um longo caminho“. Ele recordou a peregrinação às catacumbas, “que nos permitiu entrar em contato mais próximo com os cristãos da comunidade primitiva e especialmente com os mártires”, que estão com a Igreja, “podemos senti-los caminhando conosco”. O cardeal luxemburguês recordou o título e a pergunta deste Módulo B2: “A corresponsabilidade na missão: como compartilhar melhor os dons e as tarefas a serviço do Evangelho?”, refletindo sobre a importância da missão, centrando-se no “continente digital”, que ele vê como “um novo território de missão”, questionando como evangelizá-lo. Em seguida, fez uma análise de cada uma dos cinco pontos da Seção B2: a necessidade de aprofundar o significado e o conteúdo da missão; a ministerialidade na Igreja; o papel das mulheres na Igreja, cujo batismo “não é inferior ao dos homens”; o papel dos ministérios leigos; o ministério dos bispos. A partir daí, ele fez um apelo para que sejamos corajosos e “demos um passo atrás para escutar autenticamente os outros, para abrir espaço dentro de nós mesmos para a palavra deles e para nos perguntarmos o que o Espírito está nos sugerindo por meio deles”. Mulheres e missão Maria Grazia Angelini, O.S.B., começou sua reflexão com uma pergunta forte: “Como a Igreja de nosso tempo pode cumprir melhor sua missão por meio de um maior reconhecimento e promoção da dignidade batismal das mulheres?“. Ela insistiu que “não se trata de promoção e reconhecimento em um sentido mundano, de direitos e desejos, mas do bem-estar da Igreja”, algo inspirado no estilo, nas palavras, nos silêncios e nas escolhas de Jesus, destacando o poder simbólico e inspirador do encontro de Jesus com a mulher anônima na multidão, algo que também acontece em muitas outras passagens. Ela vê no tema da missão do Sínodo um “reconhecimento das diferentes expressões dos ministérios”. Analisando o papel das mulheres nas primeiras comunidades, ela disse que elas não são meras figurantes, “elas abrem novos espaços para o Evangelho“, com as comunidades paulinas, nas quais “elas são inseridas em uma liturgia feminina ‘não ritual’, rompendo-a com a palavra do Evangelho”. O apóstolo foi acolhido, enfatizou a monja beneditina, “pela koinonia incomum das mulheres em oração, ao ar livre”, destacando as “novas linguagens inauguradas pelas mulheres, que Paulo não desprezou, mas aproveitou como um kairos”, citando como exemplo Lídia e seu papel proeminente no nascimento da Igreja na Europa, fazendo de sua casa “um espaço feito de pontes e não de muros”. A partir daí, insistiu que “o movimento originado pelo Evangelho, e a alma de todo verdadeiro caminho sinodal, gera relações novas e generativas”, onde as mulheres alimentam constantemente o dinamismo espiritual da reforma. A partir daí, enfatizou que “as mulheres são um elemento dinâmico da missão”, e as diaconias a serem assumidas pelas mulheres, a partir do “estilo, arriscado e revelador”, criado por Jesus “em seu modo de se relacionar com as mulheres”. Corresponsabilidade sinodal na missão A partir de uma perspectiva teológica, Carlos Galli refletiu sobre a “Corresponsabilidade Sinodal na Missão Evangelizadora”, partindo da pergunta “Como podemos compartilhar dons e tarefas a serviço do Evangelho?“. O teólogo argentino, inspirado na Constituição Episcopalis Communio, afirmou que “a Igreja sinodal é missionária. A Igreja missionária é sinodal”, uma ideia presente nos documentos do Concílio Vaticano II. A partir daí, ele refletiu sobre a corresponsabilidade de todos os batizados na missão, inspirado nos textos bíblicos e no Magistério da Igreja, insistindo que “o batismo e a fé são o fundamento da vocação universal à santidade e à missão”, destacando como os ministérios leigos enriquecem as comunidades cristãs. Isso torna necessária “a troca de dons e tarefas a serviço do Evangelho“, vendo o tornar-se missionário como um fruto da graça e a comunhão de bens como um modo de vida. Para o teólogo, “o trabalhador apostólico é o evangelizador evangelizado”, exigindo o compartilhamento de dons espirituais. Isso porque “o amor de Deus é muito mais do que o pecado”, afirmando que “a lógica do muito mais gera esperança”. Por fim, ele disse esperar que “pela ação do Espírito, onde abundar a comunhão, abundará a sinodalidade e onde abundar a sinodalidade, abundará a missão”. Missão das mulheres, no mundo digital e do bispo Uma reflexão que foi completada com testemunhos. A Ir. Liliana Franco, presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América…
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Missão digital: “Entrar em diálogo com uma população que é difícil de ver nas igrejas”

Dois especialistas nesse campo deram seu testemunho sobre a missão digital aos participantes da Assembleia Eclesial, que está sendo realizada na Sala Paulo VI e que, em 13 de outubro, iniciou os trabalhos do Módulo B2, o terceiro do programa, refletindo sobre a corresponsabilidade na missão. A Igreja te escuta O leigo mexicano José Manuel de Urquidi González e a religiosa nicaraguense radicada na Espanha, Xiskya Lucia Valladares Paguaga, compartilharam suas experiências do chamado Sínodo Digital, por meio do projeto “A Igreja te escuta“, que definiram como uma iniciativa realizada por uma rede de missionários e evangelizadores digitais, com o acompanhamento do Dicastério para a Comunicação e da Secretaria Geral do Sínodo, uma experiência voltada exclusivamente para a periferia. Eles destacaram três frutos: a missão digital se tornou um elemento importante na consulta global do Sínodo a partir de outubro de 2021, com 150 mil participantes, 30% não crentes e afastados, com frutos na etapa continental; a criação da própria consciência da missão digital, apesar do pouco apoio institucional, que despertou “a consciência de que fazíamos parte de algo que poderia ser chamado de missão digital”, algo que vem envolvendo os bispos, citando como exemplo o encontro durante a JMJ em Lisboa com 577 missionários de 68 países; a crescente consciência da Igreja de que a missão digital não é apenas um instrumento para realizar a evangelização, mas é “um espaço, um território… um novo mundo para a Igreja de comunhão e missão“, para citar as palavras do Cardeal Tagle. O ambiente digital é uma cultura A irmã Xiskya insistiu que “o ambiente digital é uma cultura, um ‘lugar’ onde as pessoas – todos nós – passamos grande parte de nossas vidas”, que “tem sua própria linguagem e modos de agir” e onde “para que a semente do Evangelho cresça ali, ela precisa ser inculturada“. Uma cultura na qual “encontramos irmãos e irmãs que anseiam pelo anúncio”, onde ela disse que há “muitos que precisam de esperança, que precisam curar suas feridas, que precisam de uma mão, que precisam de Deus”. A religiosa insistiu que o mundo virtual na Igreja não é apenas para “comunicar o horário da missa ou convidá-los a visitar a catedral”, mas um espaço de encontro, escuta e acompanhamento, que exige sair de nós mesmos. Lembrando que “diz-se que estamos em um momento de transformação na Igreja, que o modelo herdado não funciona mais para falar com a era digital”, ele fez a proposta de que “a Igreja deve ser construída a partir das periferias”, considerando a cultura digital como uma “nova Galileia”. Uma nova Galileia Isso em um mundo digital “no qual precisamos saber onde estão as armadilhas e os truques”, de acordo com Urquidi. Um território para o qual “o mesmo Espírito que, por meio deste sínodo, nos convida a abraçar a missão nesta nova Galileia” está nos conduzindo. Isso requer “escuta humilde, acompanhamento e diálogo, bem como um bom conhecimento do tesouro de nossa fé, o que nos permite entrar em diálogo com uma população que é difícil de ver nas igrejas”, de acordo com o mexicano. A partir daí, ele enfatizou que “eles são aqueles que deixaram a Igreja feridos por tanta discriminação, ou ficaram entediados com nossa pregação, ou não entendiam nosso idioma, ou talvez nunca tenham colocado os pés em uma igreja. Mas eles ainda estão procurando. Pessoas que, no anonimato da virtualidade, podem “superar o constrangimento e a distância, ou simplesmente ser capazes de fazer perguntas”, ressaltando que “entrar em diálogo com elas requer tempo, paciência e muito amor”. E isso porque, em um evangelizador digital, “o que importa é sua capacidade de ouvir e dialogar”. Urquidi vê o ambiente digital como “um território ideal para uma igreja sinodal missionária na qual todos os batizados assumem a corresponsabilidade pela evangelização“. Isso em redes onde “tudo é provisório, fluido, incompleto”, onde “é oferecido o rosto misericordioso, que tenta entender a linguagem para transmitir uma Vida”. A partir daí, ele chamou a sonhar que um dia todas as dioceses terão suas equipes de “missionários digitais” enviadas por seus bispos; e que o ministério da escuta digital para encontrar o irmão que sofre será uma parte normal da vida da Igreja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Liliana Franco: “O caminho das mulheres na Igreja é cheio de cicatrizes”

Alguns não entendem a importância da missão das mulheres na Igreja, mas para isso é preciso aprender com Jesus, sua disposição de “ver e sentir as mulheres, elevá-las, dignificá-las, enviá-las”, como ressaltou Liliana Franco na abertura dos trabalhos do terceiro Módulo, que fala sobre ser corresponsáveis na Missão, algo que as mulheres sabem muito, apesar das muitas rejeições e desprezos recebidas, porque são elas que sustentam a fé em muitas comunidades ao redor do mundo. Aprendendo com as atitudes, os critérios e o estilo de Jesus Não podemos nos esquecer de que “a verdadeira reforma vem do encontro com Jesus, no eco de sua Palavra, no aprendizado de suas atitudes e critérios, na assimilação de seu estilo“. Isso é algo que se concretiza em mulheres comuns, como Dona Rosa, que, aos 70 anos de idade, sai todos os dias para visitar os doentes da vizinhança, certificando-se de que eles tenham comida e uma vida digna. Alguém que, por muitos anos, também lhes levava a comunhão, não o faz mais porque o novo pároco lhe disse que a comunhão será levada pelos ministros da Eucaristia, homens que foram equipados com um uniforme colorido.  Apesar de tudo, ela continua a andar pelas ruas de seu bairro, visitando os doentes, sendo um verdadeiro conforto para os mais frágeis. Martha, que terminou seu doutorado em teologia com notas melhores do que as de seus colegas homens, mas a Pontifícia Universidade na qual se formou decidiu que não poderia lhe dar um diploma canônico por ser mulher, e que o seu seria um diploma civil. Mas é uma conquista, pois até poucos anos atrás, as mulheres em seu país não podiam estudar teologia, apenas ciências religiosas. Essas são cenas recorrentes, pois muitas mulheres não têm lugar no conselho paroquial ou diocesano, apesar de seu trabalho pastoral diversificado e valioso. A razão é que “a missão das mulheres é muito maternal, básica e pastoral, e os objetivos dos Conselhos são, para elas, mais administrativos e estratégicos“. Situações de dor e redenção A partir daí, a presidenta da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina e do Caribe fez uma forte denúncia: “o caminho das mulheres na Igreja está cheio de cicatrizes, de situações que envolveram dor e redenção, um enredo pascal, no qual o que é evidente e definitivo foi o amor de Deus; amor que permanece além dos esforços de alguns para tornar invisível a presença e a contribuição das mulheres na construção da Igreja”. Isso levou a religiosa a afirmar que “a Igreja tem o rosto de mulher“, citando muitos exemplos disso. De fato, “a Igreja, que é mãe e mestra, é também irmã e discípula, é feminina, e isso não exclui os homens, porque em todos, homens e mulheres, habita a força do feminino, da sabedoria, da bondade, da ternura, da força, da criatividade, da parresia e da capacidade de dar vida e de enfrentar as situações com ousadia”. Uma Igreja feminina tem a força da fecundidade Daí seu apelo para que “todos nós, mulheres e homens, sejamos chamados a ser ventre, lar, carinho, abraço, palavra… Uma Igreja feminina tem a força da fecundidade.  Aquilo que lhe é dado pela Ruah”. A religiosa, que participou da equipe que preparou o relatório da Etapa Continental na América Latina e no Caribe, mostrou cinco perspectivas do rosto de “uma Igreja missionária, que bate ao ritmo do feminino” é uma Igreja com essas perspectivas: A Pessoa de Jesus e o Evangelho são os que chamam; pelo Batismo todos são portadores da mesma dignidade; a opção pelo cuidado de todas as formas de vida é a opção pelo Reino; uma nova forma de estabelecer relações torna possível uma identidade renovada: mais circular, fraterna e irmã; acredita-se no valor dos processos, prioriza-se a escuta e reconhece-se que a fecundidade é fruto da graça, da ação do Espírito. A religiosa deixou claro que “no coração do desejo e do imperativo de uma maior presença e participação das mulheres na Igreja, não há ambição de poder ou sentimento de inferioridade, nem uma busca egocêntrica de reconhecimento, há um clamor para viver em fidelidade ao plano de Deus, que quer que no povo, com o qual fez uma aliança, todos sejam reconhecidos como irmãos”, pedindo participação e corresponsabilidade igualitária no discernimento e na tomada de decisões, com base na dignidade comum que o batismo dá a todos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo visita as Catacumbas para respirar o ar dos primeiros cristãos

Uma peregrinação para respirar o ar dos primeiros cristãos, que viviam uma Igreja sinodal, pode ser considerada um dos objetivos da peregrinação que os participantes da Assembleia Sinodal fizeram ao final dos trabalhos do segundo módulo do Instrumentum Laboris. Pacto das Catacumbas Dom Pasquale Iacobone, presidente da Pontifícia Comissão para a Arqueologia Sagrada, que cuida das catacumbas, destacou a importância da visita para o caminho sinodal. Não em vão, à importância do lugar nos primeiros séculos deve ser acrescentada a profecia do lugar no Concílio Vaticano II, com o famoso Pacto das Catacumbas, um avanço da Igreja pobre e para os pobres de Francisco, e no Sínodo para a Amazônia, com o Pacto para o Cuidado da Casa Comum, outro elemento fundamental no Magistério do atual pontífice. As Catacumbas, como destacou o presidente da Pontifícia Comissão para a Arqueologia Sagrada, desempenharam um papel fundamental na Igreja primitiva, um lugar de peregrinação ao qual as pessoas vinham de toda a Itália e do norte da África para venerar Pedro e Paulo, um lugar localizado na estrada pela qual os dois apóstolos chegaram à capital do Império. De acordo com a tradição, foi nesse local que foi encontrada a primeira imagem da Concórdia de Pedro e Paulo, na qual os dois apóstolos se abraçam. Ajuda no caminho sinodal Uma imagem que assume um significado especial em uma Igreja sinodal, pois representa o caminho comum de duas tradições cristãs que se reconciliam e, superando suas diferenças, se abraçam e começam a caminhar juntas. Esses são testemunhos que hoje podem iluminar o caminho da Igreja universal, algo que não é fácil nestes tempos de polarização, tensões e divisões, e superar essa dinâmica é um dos desafios da Igreja Sinodal. Esse foi o local onde milhares de cristãos foram sepultados nos primeiros séculos, entre eles vários papas e centenas de mártires, sendo o local de sepultamento de vários santos. Entre outros, São Sebastião, Sisto II, Santa Cecília, Nereu e Aquiles. Essas vidas dedicadas são um verdadeiro testemunho para a Igreja, também para a Igreja de hoje e para uma Igreja sinodal. Tudo isso foi colocado nas mãos de Deus em uma celebração na Basílica de São Sebastião, presidida pelo Cardeal Hollerich, relator geral do Sínodo, na qual os participantes do Sínodo foram chamados a confiar no Senhor, pedindo para assumir a radicalidade de seguir o Senhor e que este momento de oração, como todos os que estão sendo vividos no Sínodo, possa ser uma força para anunciar o Evangelho hoje. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1