Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Blog

Formação nos seminários: Primeiro grande consenso do Sínodo da Sinodalidade

O Sínodo sobre a Sinodalidade realizou nesta sexta-feira, 6 de outubro, com a presença do Papa Francisco, sua primeira Congregação Geral. Bem é verdade que a abertura, na tarde da última quarta-feira, adotou essa modalidade, mas hoje foi o primeiro dia em que os membros do Sínodo partilharam as reflexões partilhadas nos círculos menores, nas comunidades para o discernimento, e o primeiro grande tema de consenso é a formação nos seminários. Um sentimento geral entre a grande maioria dos presentes na primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que está sendo realizada no Vaticano de 04 a 29 de outubro. Grande preocupação do Papa Francisco A formação nos seminários é uma das grandes preocupações do Papa Francisco. Em novembro de 2022, em um encontro com os participantes do Curso para Reitores e Formadores de Seminários da América Latina, insistindo em colocá-la “no centro da evangelização”, que ela “tem um caráter eminentemente comunitário”, que as casas de formação sejam “verdadeiras comunidades cristãs” e que seja “uma formação de qualidade”. O Instrumentum laboris, base dos trabalhos dos membros da Assembleia Sinodal, afirma que “a promoção de uma cultura de sinodalidade implica a renovação do atual currículo dos seminários”, ressaltando que “a formação para uma espiritualidade sinodal está no centro da renovação da Igreja”. Isso implica, afirma o texto a necessidade de “uma renovação dos programas dos seminários, para que sejam mais sinodais e estejam mais em contato com todo o Povo de Deus”. Uma questão que aparece nas perguntas recolhidas no Instrumento de Trabalho, questionando sobre as diretrizes para uma reforma dos currículos de formação, buscando colocar a formação em relação mais estreita com os processos pastorais. O Instrumentum laboris pergunta pelas linhas a serem assumidas em vista dos seminaristas “crescer num estilo de exercício da autoridade próprio de uma Igreja sinodal”. Seminaristas com vida comunitária e no meio dos pobres São elementos que apareceram no debate das comunidades para o discernimento espiritual, insistindo na participação dos seminaristas na vida comunitária e em eles terem experiências com os mais pobres. Se busca que os futuros presbíteros sejam animadores da vida eclesial desde sua vivência, vida missionária e testemunho de vida sinodal, ressaltando o necessário desenvolvimento de uma mística da sinodalidade, de uma Igreja em saída, de uma formação arraigada nas realidades das quais procedem os seminaristas. O ponto de chegada deve ser que no final do processo formativo, os novos presbíteros sejam multiplicadores de uma eclesialidade que tem como fundamento a sinodalidade e assim fomentar processos eclesiais de comunhão, participação e missão em todos os membros do povo de Deus, superando assim um dos grandes pecados da Igreja segundo Francisco: o clericalismo, algo que atrapalha a sinodalidade. Diversidade de temáticas A primeira sessão da Assembleia Sinodal, onde é considerado de grande importância os momentos de silêncio após as intervenções, está acontecendo em clima de fraternidade, em uma atmosfera alegre, segundo foi partilhado pelo Dicastério para a Comunicação do Vaticano no briefing com os jornalistas acreditados, sendo vivenciado como uma oportunidade para partilhar experiências de diferentes contextos. Os 18 círculos menores que partilharam até o momento, dos 35 em que está dividida a Assembleia, colocaram outros temas: importância da participação das mulheres na Igreja, o reconhecimento do papel dos jovens, a escuta, o silêncio e a oração como um momento de discernimento. Outros temas que apareceram na Congregação Geral foi o papel dos ministérios ordenados em uma Igreja sinodal, a importância da Liturgia Dominical, de estar com os pobres e ser uma Igreja pobre, uma Igreja acolhedora, sobretudo com os migrantes, onde o bispo tem que assumir um papel de acompanhamento. O desafio é o surgimento de uma nova Igreja, que seja família, onde o poder seja transformado em serviço, onde seja assumido que a sinodalidade faz parte do DNA da Igreja. Para isso, se faz necessário rever a estrutura da Igreja, a estrutura das cúrias, o Direito Canônico, a pregação, o que mudar para se tornar uma Igreja acolhedora. Uma Igreja que deve se purificar de certos costumes que não estão em conformidade com o Evangelho. Uma Igreja desafiada a estar presente no mundo virtual, nas redes sociais, espaço de vivência habitual de muitas pessoas. Uma Igreja Samaritana, não é dos perfeitos, que ama todos os seus filhos e especialmente aqueles que vivem à margem da sociedade. Uma Igreja extrovertida, onde os pastores são paternos e maternos ao mesmo tempo, a fim de alcançar os corações de todos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner novo presidente do Cimi: “Grande testemunho de como evangelizar os nossos povos através da presença”

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) realizou recentemente sua XXV Assembleia Geral, com o tema “Direitos Originários, Territórios Livres, Justiça e Paz como fontes do Bem Viver e Conviver”, onde foi eleita a nova presidência do Cimi, que vai conduzir a entidade pelos próximos quatro anos. Nova presidência O novo presidente do Cimi é o cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Junto com ele, fazem parte da diretoria, Alcilene Bezerra da Silva, missionária do Regional Nordeste, que será a vice-presidente e Luis Ventura Fernández, novo secretário executivo. Dom Leonardo Steiner sucede a Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho, que assumiu a presidência nos últimos oito anos, que destacou o trabalho do Cimi como “um serviço de amor aos pobres, da terra”. Ele animou a nova presidência, insistindo no longo trabalho pela frente que a Igreja do Brasil tem como missão junto aos povos originários, um caminho marcado pelas conquistas, lutas e retrocessos. Um organismo para ouvir e encaminhar as questões O novo presidente do Cimi, um dos membros da primeira etapa da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizado no Vaticano de 4 a 29 de outubro de 2023, em representação do episcopado brasileiro, destacou que “o Cimi é um organismo da CNBB, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fundado há mais de 50 anos tem prestado um grandíssimo serviço aos povos indígenas, tem ouvido suas causas, tem sido uma presença ativa através dos missionários e missionárias em muitas aldeias, tem conseguido reunir diversas comunidades indígenas, ouvi-las e encaminhar as questões, questões que dizem respeito à cultura, aos direitos, à questão da terra, a questão do Marco Temporal”. Segundo o cardeal Steiner, “o Cimi não presta só um serviço aos povos indígenas, presta um grande testemunho de como viver o Evangelho, de como evangelizar os nossos povos através da presença, uma presença de esperança, uma presença de consolo, uma presença de misericórdia”. Lideranças indígenas na XXV Assembleia Geral do Cimi. Foto: Hellen Loures/Cimi Continuarmos a servir “Conheci o Cimi, comecei a trabalhar junto do Cimi, a servir junto do Cimi quando bispo de São Félix do Araguaia. Como bispo de São Felix do Araguaia, junto com dom Pedro Casaldáliga conseguimos encaminhar diversas questões, que diziam respeito aos povos indígenas na prelazia de São Felix do Araguaia como a Terra de Marãiwatsédé, do Povo Xavante, e também a Terra do Urubu Branco, do Povo Tapirapé”, destacou o cardeal, lembrando da figura de um dos fundadores do Cimi. Em suas palavras, o novo presidente do Cimi, agradeceu “a confiança dos missionários e missionárias e dos indígenas que votaram na minha pessoa”, um agradecimento que também faz pela confiança na vice-presidente e no secretário. Dom Leonardo Steiner enfatizou que “vamos procurar continuar a servir, vamos procurar continuar a acompanhar os nossos povos indígenas, assim como foi feito pelas diversas presidências do Cimi através desses 50 anos”. Ele pediu que “Deus nos ajude a continuarmos a servir, Deus nos ajude a continuarmos a perceber onde estão as maiores dificuldades para podermos apoiar”. Presença bem faceja, misericordiosa e esperançada Finalmente, o novo presidente do Cimi ressaltou que “hoje graças a Deus os povos indígenas estão bastante organizados e nós queremos também ajudar a essas organizações a serem cada vez mais uma voz para que a voz dos povos indígenas possa ser ouvida na sociedade brasileira”. Invocando novamente a benção de Deus, o cardeal pediu “que nós possamos junto com os missionários e as missionárias ser essa presença bem faceja, misericordiosa e esperançada junto às comunidades indígenas, junto aos povos indígenas”. A assembleia do Cimi, segundo recolhe o Documento Final, definiu as prioridades para o biênio 2024 e 2025: Povos indígenas em contexto urbano e políticas de identidade; Terra, território e direito humano à água; Defesa da Constituição Federal de 1988 e da natureza como sujeito de direito. Para isso o Cimi vai incidir na formação, na promoção de encontros no campo da espiritualidade, das políticas públicas, de questões sociais, culturais e relacionadas com o mundo urbano. Igualmente a XXV Assembleia do Cimi manifestou seus esforços no apoio da demarcação das terras e lutas cotidianas em busca da consolidação dos direitos fundamentais. Um compromisso “profético, militante e missionário em defesa da vida em plenitude”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Usar a palavra com liberdade, um passo decisivo em uma Igreja sinodal

No Sínodo das mesas redondas é interessante ver as dinâmicas que querem ser introduzidas na Igreja, um modo de ser Igreja no qual Francisco tem muito a dizer, e ele o diz. Nesse sentido, recordando uma anedota que lhe aconteceu, ele disse que, em um Sínodo onde era relator, experimentou tensões com o cardeal secretário, que proibiu que certos temas fossem introduzidos na votação, o que levou o então cardeal Bergoglio a se queixar da falta de sinodalidade e do fato de que todos não podiam se expressar livremente. A Palavra como fruto da liberdade Isso nos leva a refletir sobre uma questão fundamental, especialmente em uma Igreja sinodal, na verdade, em todas as formas de ser Igreja, o que significa a palavra como fruto da liberdade. Uma Igreja que respeita a palavra de cada membro. É com base nessas pequenas intuições que se cria um espírito de comunhão e se constrói um modo de ser Igreja, algo que não é fácil de assumir nestes tempos, mas sem o qual é difícil prever um futuro promissor para a vivência da catolicidade. Somente dessa forma, com a possibilidade de usar a palavra livremente, pode-se progredir em uma sinodalidade na Igreja que, nas palavras do Santo Padre em seu discurso de abertura, “ainda não está madura“. Até certo ponto, em alguns órgãos eclesiais, perpetua-se o hábito de não permitir que todos se expressem livremente, algo que Francisco insiste em deixar para trás, e uma das razões pelas quais ele convocou este Sínodo sobre a sinodalidade. Tornar o Espírito presente em círculos menores Na medida em que o Espírito se fizer presente nessas mesas redondas, nos 35 círculos menores em que se organiza a sala sinodal, as vozes daqueles que se sentem rejeitados pela própria Igreja ou pelo mundo, estando ou não nessa sala, se sentirão acolhidas, pois não podemos nos esquecer de que este é um Sínodo da Igreja, com representantes das Igrejas do mundo inteiro, e ninguém deve ser a voz de si mesmo, mas de uma Igreja que já percorreu um caminho no processo de escuta e nas diferentes etapas que se realizaram. Uma Igreja sinodal deve ser uma Igreja com um olhar que abençoa, buscando desejar e construir o bem. E essa construção do bem deve ser um requisito para aqueles que estão sentados nas mesas redondas em que a sala sinodal está organizada. Aqueles a quem foi confiado, por meio do discernimento comunitário, encontrar novas maneiras de tornar uma Igreja sinodal uma realidade, não podem ser pessoas que colocam paus nas rodas. Apoiar as reformas do Papa Francisco, sempre com a liberdade de discuti-las na busca da construção do bem, não é negociável para aqueles que são membros do Sínodo. A metodologia do Sínodo A Igreja sinodal sonhada por Francisco é uma Igreja que acolhe os pequenos, os simples, uma Igreja que é o abraço de Deus, especialmente para tantos homens e mulheres que estão sobrecarregados, cansados, que se sentem perdoados por sua abertura à ação do Espírito. Há muitos dias pela frente para se olharem nos olhos e, assim, abrirem seus corações a pessoas diferentes, muitas delas estranhas umas às outras, mas que ganharão confiança para construir juntas, com uma metodologia que busca a Igreja para decidir em um espírito de comunhão, como Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, insistiu no briefing com os jornalistas realizado na Sala Stampa em 5 de outubro. Ruffini insistiu na confidencialidade e explicou a metodologia de trabalho até o final da primeira fase da Assembleia Sinodal. Um elemento fundamental é a conversa no Espírito, onde todos falam e escutam, uma possibilidade que também existirá nas congregações gerais, insistindo na liberdade com a qual Francisco quer que a Assembleia sinodal seja vivida, a fim de avançar no caminho da comunhão, um dos grandes desafios deste Sínodo sobre a sinodalidade, a partir de uma experiência espiritual. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Laudate Deum: “Não podemos deixar aos nossos filhos apenas bens, devemos deixar-lhes princípios, esforços para mudar o mundo”.

Refletir sobre a Laudato Deum a partir de diferentes testemunhos, em um ambiente privilegiado, os Jardins do Vaticano, foi o objetivo da coletiva de imprensa organizada um dia após o lançamento dessa exortação apostólica que o próprio pontífice apresenta como uma segunda parte da Laudato Si’, escrita há oito anos. Enfrentando a mudança climática Analisando diferentes aspectos do texto de Francisco, tanto presencial quanto virtualmente, foi aprofundado um texto que mostra as consequências da mudança climática, algo que impacta especialmente os mais desfavorecidos, segundo Giorgio Leonardo Renato Parisi, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 2021. Em sua reflexão, ele pediu que as mudanças climáticas sejam enfrentadas, reconhecendo que isso “exige um enorme esforço de todos“, destacando a necessidade de maiores esforços por parte dos países que mais poluem, pedindo acordos internacionais estáveis e verificáveis, mas também que uma nova cultura seja criada nas famílias, com o objetivo de gerar transformações. O físico italiano enfatizou a necessidade de levar recursos aos países menos desenvolvidos, dando como exemplo os painéis fotovoltaicos na África, onde não há recursos para isso, o que exige um pacto mundial global. Ele também pediu uma melhoria na educação, especialmente para as mulheres, nesses países. Por fim, ele destacou algumas das ideias do texto: falta de ação suficiente, superação de conflitos internacionais, necessidade de humanidade solidária e evitar pontos de ruptura. Uma conexão que vem de Deus Uma conexão que vem de Deus, como foi testemunhado da Índia, algo que deve nos levar a superar o orgulho destrutivo, a descobrir a conexão com um universo sagrado. A partir da experiência do país, foi feito um apelo para que se desenvolva um tipo diferente de economia, pois a Índia é capaz de produzir alimentos mais saudáveis a partir da proteção da terra, o que deve levar ao fim das práticas prejudiciais ao planeta, gerando soluções criativas, o que nos leva, com o Papa Francisco, a entender que o paradigma tecnocrático não é a solução, o que exige cuidar da Terra e do próximo como um caminho para o futuro. A Laudate Deum nos ajuda a descobrir o momento dramático em que vivemos, nas palavras de Carlo Petrini, que denunciou a falta de medidas decisivas por parte dos governos nos últimos anos, com “governos ineficazes e incapazes, que desenvolveram condições que levaram o meio ambiente a uma situação irreversível”. Isso exige ações para conter o desastre ambiental diante de uma situação difícil que não é fácil de administrar em nível institucional, o que representa uma situação extremamente crítica. Ele também pediu a condenação do negacionismo, que “está se tornando uma barreira contra a luta contra as mudanças climáticas”. Isso exige um impulso da sociedade civil que possa promover um clima diferente, daí a importância dos movimentos que nascem de baixo para cima, considerando o documento pontifício como “uma das últimas oportunidades para mudar o curso e tomar consciência de que não podemos olhar para o outro lado”. Agir agora A importância de nossa responsabilidade, de que temos que agir agora, foi abordada por Jonathan Safran Foer, que apontou a necessidade de despertar o mundo, de abrir os olhos para descobrir o que está acontecendo, dando como exemplo o que aconteceu com os judeus na Polônia ocupada pelos nazistas e a incapacidade de acreditar na verdade. Ele disse que “sabemos que a situação vai piorar, mas não nos sentimos envolvidos, estamos diante de uma história que não somos capazes de aceitar“. Daí a necessidade de enfrentar as situações, afirmando que aceitar a verdade não é fácil. De acordo com o escritor americano, “sabemos que estamos colocando em risco as gerações futuras, mas não estamos dispostos a mudar nosso comportamento“, afirmando que o que fazemos não é suficiente, mas não queremos considerar ações diferentes. Insistindo em mudanças no nível político, com mudanças estruturais, mudanças legais, aprimoramento de fontes renováveis, ele insistiu que temos que mudar pessoalmente, para ajudar as pessoas a serem mais poderosas na tomada de decisões concretas. Isso se deve ao fato de que “as revoluções coletivas nascem do indivíduo, a soma de diferentes decisões pode ajudar a mudar o mundo”. Ele também se referiu ao chamado alimento ético, a não ser catastróficos, a compromissos para evitar uma catástrofe e garantir o futuro, enfatizando que “não podemos deixar para nossos filhos apenas bens, temos que deixar princípios, esforços para mudar o mundo“. Líderes políticos a serviço dos combustíveis fósseis Os jovens, entre os quais se encontram hoje os mais comprometidos com o cuidado da casa comum, que é uma razão de esperança, testemunharam como estão se posicionando sobre as mudanças climáticas e o cuidado da casa comum. Luisa-Marie Neubauer, uma jovem ativista climática da Alemanha, testemunhou seu compromisso, juntamente com milhões de jovens nos Fridays for Futuro, com base no que vivenciou em sua cidade natal, Hamburgo. A jovem alemã disse estar assustada com “a maneira como nossos líderes respondem à crise”, empenhados em “atender aos interesses dos combustíveis fósseis e evitar mudanças reais”, um caminho que “coloca em risco nossa segurança planetária”. A jovem denunciou que os governos “em vez de responsabilizar aqueles que continuam a queimar combustíveis fósseis, os governos de todo o mundo começaram a criminalizar aqueles que defendem a terra e a vida”, dando exemplos disso. A partir daí, criticou a postura do Norte global, “uma crise de cultura, de uma humanidade que não conseguiu estabelecer uma relação profunda com nossos recursos naturais“. A isso se soma “a crise de esperança”, que a levou a se perguntar o que lhe dá esperança, destacando os apelos feitos na Laudato Deum nesse sentido, pedindo a todos que sejamos ativistas, nos moldes propostos pelo Papa, “uma revolução coletiva, cultural e espiritual”, na qual a Igreja Católica “se torne uma verdadeira aliada”. Destruímos nossas condições de existência Benoit Holgand, um católico praticante de 25 anos, membro do movimento “Lutte et Contemplation”, disse estar “ciente do perigo climático que estamos enfrentando”, demonstrando sua angústia diante de uma humanidade que “está destruindo suas próprias condições de existência”. Em…
Leia mais

Francisco abre o “Sínodo das Mesas Redondas” para ouvir o Espírito Santo

Homens e mulheres em uma mesa redonda para discernir, à luz do Espírito Santo, por meio da escuta e do diálogo, os caminhos para uma Igreja mais sinodal, uma Igreja de comunhão, participação e missão, a Igreja com a qual Francisco sonha para o século XXI. Todos nós sabemos o que significa sentar-se ao redor de uma mesa redonda, onde ninguém está à frente, onde não há lugar de destaque, onde todos e todas, as mulheres podem falar e decidir neste Sínodo, ter sua vez e sua voz respeitada. É impressionante ver a Sala Paulo VI repleta dessas mesas redondas, expressão de uma Igreja mais circular e menos piramidal, uma Igreja que responde melhor ao paradigma de comunidade que nos é apresentado nos Atos dos Apóstolos. O desafio é que isso seja levado aos muitos lugares da Igreja universal de onde vieram os 464 homens e mulheres presentes na sala sinodal. Mas, apesar das dificuldades, é algo que valerá a pena, porque ajudará a reconstruir a Igreja, esse pedido que Francisco de Assis recebeu um dia e que Francisco de Roma recebeu há pouco mais de 10 anos. O Papa tem tomado medidas ao longo de seu pontificado para criar essa Igreja que hoje está representada na Aula Paulo VI. Se há uma coisa em que ele é mestre, é em como ele mede os tempos, e não há dúvida de que este é o tempo certo, o tempo da Salvação, o tempo de Deus para tornar o Evangelho carne neste momento da história. Na medida em que se permitir que o Espírito Santo seja o verdadeiro, o grande protagonista deste Sínodo, serão dados passos fundamentais e irreversíveis neste modo de ser Igreja, tão antigo e tão novo. Não desviemos o foco, que ninguém queira assumir um protagonismo que não lhe pertence, é o tempo do Espírito de Deus, que quer soprar, à sua maneira, para continuar construindo, como vem fazendo desde o dia de Pentecostes, há quase 2.000 anos. Aqueles discípulos entenderam suas línguas e as levaram até os confins da terra. Ajudemos esses homens e mulheres sentados ao redor das mesas redondas a discernir, por meio da oração, da escuta e do diálogo, o caminho a seguir que a Igreja precisa tanto encontrar hoje. Este é o tempo do Sínodo, de caminharmos juntos, não deixemos que ninguém tente colocar obstáculos em nosso caminho, empurremos juntos para que possamos ir mais longe, movidos pelos sentimentos que nascem de Deus e que nos fazem descobrir a vida em sua plenitude. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: “Nós que somos da Amazônia estamos acostumados com uma Igreja sinodal”

“Estamos em Sínodo”, afirmou o Cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no primeiro dia da primeira etapa da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que reúne até 29 de outubro no Vaticano 464 representantes das Igrejas do mundo, dentre eles 13 brasileiros e brasileiras. Junto do Papa Francisco O dia começou com a celebração da Eucaristia, dando início à assembleia de um Sínodo que “já vem caminhando há muito tempo”, segundo o cardeal Steiner, que insistiu em que “nós participamos, nós demos as nossas sugestões, e agora estamos aqui, junto do Papa Francisco, dando os primeiros passos”. Dentre as expectativas, que disse ser muitas, o cardeal Steiner destacou “a alegria de nos encontrarmos com tantas pessoas de diversas culturas, de diversas regiões é muito grande”. O arcebispo de Manaus insiste na “confiança muito grande que se criou com o retiro de três dias que tivemos todos juntos fora de Roma”. Dom Leonardo Steiner destacou que “essa confiança vai nos ajudarmos a termos abertura suficiente para refletirmos e debatermos a questão da sinodalidade”. Um modo de ser Igreja sinodal O arcebispo de Manaus enfatizou que “nós que somos da Amazônia estamos acostumados com uma Igreja sinodal. Nós temos a participação dos leigos, a participação dos povos indígenas, dos padres, dos bispos, as nossas assembleias diocesanas, prelatícias, as nossas assembleias dos regionais, recordando sempre esse modo de ser Igreja, um modo de ser Igreja sinodal”. O cardeal Steiner afirmou que “é claro que nós daremos mais passos ainda, estaremos muito mais atentos para a questão da justiça, que faz parte da sinodalidade, a questão da casa comum, que faz parte da sinodalidade, nós ouviremos as sugestões de todas as outras igrejas particulares”. Ele pediu “que Deus nos ajude a termos um bom Sínodo e que nós ofereçamos a nossa experiência de fé, de caminhada da nossa Igreja, uma Igreja missionária, uma Igreja sinodal”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Laudate Deum: “Não se pode mais duvidar da origem humana das mudanças climáticas”

Após oito anos da Laudato si’ e depois de advertir “que não temos reações suficientes enquanto o mundo que nos acolhe está desmoronando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura”, o Papa Francisco lançou a Laudate Deum (baixar aqui), uma exortação apostólica dirigida “a todas as pessoas de boa vontade sobre a crise climática”, na festa de São Francisco de 2023. Uma crise da qual ele denuncia seus vários efeitos, lembrando que a Igreja tem repetidamente apontado que não é “uma questão secundária ou ideológica, mas um drama que prejudica a todos nós”. Consequências graves para todos O texto começa analisando a crise climática global, mostrando as “consequências muito graves para todos” do aumento da temperatura global. Apesar da zombaria de alguns, o Papa denuncia “o desequilíbrio global causado pelo aquecimento global”, que é visível em fenômenos extremos. Em suas palavras, ele desdenha a tentativa de culpar os pobres, ressaltando que “os poucos por cento mais ricos do planeta poluem mais do que os 50 por cento mais pobres de toda a população mundial”, e que “milhões de pessoas perdem seus empregos por causa das várias consequências da mudança climática”. A Laudato Deum afirma inequivocamente que “não há mais dúvidas sobre a origem humana – antropogênica – da mudança climática“, uma consequência do desenvolvimento industrial. Um desenvolvimento do poder econômico que está mais preocupado com o lucro do que com a crise climática. Isso está causando danos e riscos, como resultado do aumento da temperatura dos oceanos e do encolhimento do gelo continental, com um risco cada vez maior de “atingir um ponto crítico” do qual não há retorno. O Papa pede “responsabilidade pela herança que deixaremos para trás após nossa passagem por este mundo”. Paradigma tecnocrático Francisco analisa o paradigma tecnocrático, um tema já abordado na Laudato si’, que ele considera estar “por trás do atual processo de degradação ambiental”. Isso foi acentuado nos últimos anos pela inteligência artificial e pelos mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, nos quais ele vê “a ideia de um ser humano sem limites”, criando uma ideologia na qual “a realidade não humana é um mero recurso a seu serviço”, uma tecnologia que “causa arrepios na espinha”. Ele pede que se repense o uso do poder humano, citando exemplos históricos de seu mau uso e pedindo “uma ética sólida, uma cultura e uma espiritualidade que realmente o limitem”. O texto considera que “a vida, a inteligência e a liberdade humanas integram a natureza que enriquece nosso planeta e fazem parte de suas forças e equilíbrio internos”, citando as culturas indígenas como exemplo da interação humana com o meio ambiente. Ele disse que as culturas indígenas são um exemplo de interação humana com o meio ambiente e pediu “um repensar da questão do poder humano, qual é o seu significado, quais são os seus limites“. Benefício máximo com o menor custo Diante dessa realidade, ele reflete sobre o que chama de “o aguilhão ético”, denunciando o controle da opinião pública por aqueles que têm os maiores recursos. Uma lógica de lucro máximo ao menor custo que ignora a “preocupação com a casa comum e qualquer preocupação em promover os descartados da sociedade”, apostando na meritocracia e os privilégios de poucos, questionando assim o sentido da vida. O Papa denuncia uma política internacional fraca, afirmando o poder monopolizado por uma elite, que deve ser combatido por “organizações mundiais mais eficazes, dotadas de autoridade para garantir o bem comum global, a erradicação da fome e da miséria e a defesa segura dos direitos humanos elementares“.  O texto fala em “assegurar o cumprimento de certos objetivos inegáveis”. Reconfigurar o multilateralismo “de baixo para cima”. Daí a necessidade de reconfigurar o multilateralismo “de baixo para cima”, lembrando as palavras de Fratelli tutti, onde ele defende “a primazia da pessoa humana e a defesa de sua dignidade além de todas as circunstâncias”. Um multilateralismo para “resolver os problemas reais da humanidade”, sem procurar substituir a política e defendendo uma reconfiguração da diplomacia, procurando “responder a novos desafios e reagir com mecanismos globais aos desafios ambientais, sanitários, culturais e sociais, especialmente para consolidar o respeito aos direitos humanos mais básicos, aos direitos sociais e ao cuidado com a casa comum”, o que exige “um novo procedimento para tomar decisões e legitimar essas decisões“. Laudate Deum analisa o progresso e os fracassos das conferências climáticas, destacando algumas etapas significativas, alcançadas quando todos estavam envolvidos. A análise se concentra na última conferência realizada em Sharm El Sheikh, em 2022, que ele vê como “outro exemplo da dificuldade das negociações”, exigindo mudanças substanciais, não apenas “remendos”, e que o problema seja visto como “um problema humano e social em uma ampla gama de sentidos“. Para isso, ele pede uma transição energética eficiente, obrigatória e fácil de monitorar, que inicie um processo drástico e intenso com o comprometimento de todos. Antropocentrismo situado Por fim, ele aborda as motivações espirituais, especialmente dos católicos, algo que brota da fé, embora convide membros de outras religiões a fazer o mesmo. À luz da fé, ele cita as contribuições bíblicas nesse sentido, pedindo comunhão e compromisso diante de um paradigma tecnocrático que “pode nos isolar do mundo ao nosso redor e nos enganar, fazendo-nos esquecer que o mundo inteiro é uma ‘zona de contato’“. Em contraste com a visão de mundo judaico-cristã, ele propõe um “antropocentrismo situado”, que leva a “reconhecer que a vida humana é incompreensível e insustentável sem outras criaturas”, uma consequência da estreita conexão com o mundo ao nosso redor, algo que vem de Deus. É por isso que ele pede o fim da “ideia de um ser humano autônomo, todo-poderoso e ilimitado” e a compreensão de nós mesmos “de uma forma mais humilde e mais rica”. Francisco convida “cada um de nós a acompanhar esse caminho de reconciliação com o mundo que nos abriga e a embelezá-lo com nossa própria contribuição”, reconhecendo a importância decisiva das “grandes decisões na política nacional e internacional”. Uma mudança que será mais fácil com mudanças culturais, com um…
Leia mais

Sínodo da Sinodalidade: Buscando a Verdade pelos olhos de Jesus

No dia em que a Igreja celebra a festa de um de seus grandes santos, aquele a quem o Senhor pediu que reconstruísse sua Igreja, um de seus homônimos, Francisco de Roma, inicia uma nova que se espera frutífera, uma tentativa de promover uma Igreja sinodal, que não é algo novo, mas algo que tem sido dificultado há muito tempo. O que contribuir nesse caminho Uma tarefa que foi confiada a todos os batizados e que envolveu muitas vozes ao longo de um processo sinodal que começou há dois anos. Um tempo de escuta, de diálogo, que resultou em elementos que agora ajudarão no processo de discernimento, que nada mais é do que uma busca pela verdade em um mundo quebrado. Todos nós somos chamados a nos perguntar, mas especialmente os membros do Sínodo, o que temos a oferecer, o que temos a contribuir nesse caminho. Um caminho que deve ser percorrido sob as premissas da esperança e da alegria, que não podemos esquecer que são uma expressão clara da presença de Deus. É bom lembrar as palavras de Teilhard de Chardin, que diz que “ninguém pode acreditar em cristãos miseráveis que não transmitem significado, testemunho, verdade, beleza em sua visão do mundo“. Ou, em palavras menos poéticas, o apelo do Papa Francisco para que não sejamos “cristãos com cara de vinagre”. Sermos corajosos Fazemos parte de uma Igreja inspirada na Trindade, a melhor comunidade, a comunidade que se complementa, que é um sinal de harmonia, de uma sinodalidade que deve ser gerada na Igreja, para a qual este Sínodo é uma clara oportunidade. Mas precisamos ser corajosos, agir com parresia para seguir a voz do Espírito e responder aos desafios que o mundo de hoje está colocando para a Igreja, para que ela possa responder aos sinais dos tempos. É uma oportunidade de renascer, de superar medos, resistências e, fortalecendo o caminho do discernimento, encontrar a verdadeira Beleza. Para isso “não nos serve ter uma visão imanente, feita de estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas. Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar ou um plano de reforma. Não. Estamos aqui para caminhar juntos, com o olhar de Jesus“, como disse o Santo Padre em sua homilia na missa de abertura, que também contou com a presença dos novos cardeais que receberam o barrete no sábado, 30 de setembro. Recuperando o espírito do Concílio Um Sínodo que quer recuperar o espírito do Concílio, algo que Francisco deu uma piscadela ao citar as palavras de João XXIII no discurso de abertura do último Concílio: “Acima de tudo, a Igreja não deve se afastar do sagrado patrimônio da verdade recebido dos Padres; mas, ao mesmo tempo, deve olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo de hoje, que abriram novos caminhos para o apostolado católico”, palavras de grande relevância para o mundo de hoje. Esses novos caminhos são o grande desafio deste Sínodo. É um tempo de sinodalidade, de caminhar juntos, de superar “o espírito de divisão e de conflito” e de gerar espaços de comunhão, como o Papa assinalou. Para isso, o Sínodo é desafiado a “colocar Deus novamente no centro do nosso olhar, a ser uma Igreja que vê a humanidade com misericórdia. Uma Igreja unida e fraterna, que escuta e dialoga; uma Igreja que abençoa e encoraja, que ajuda aqueles que buscam o Senhor, que sacode saudavelmente os indiferentes, que põe em movimento itinerários para instruir as pessoas na beleza da fé. Uma Igreja que tem Deus em seu centro e, portanto, não divisiva internamente nem dura externamente”, disse Francisco. A grande questão é como conseguir isso, como ser uma Igreja acolhedora, cordial, amigável, sem medo de confrontos, uma Igreja que “se torne um colóquio”, como disse Paulo VI. Uma Igreja que não está sobrecarregada, que não é rígida nem morna, que não está cansada nem fechada em si mesma. Tudo isso sem esquecer que o Espírito é o protagonista. Quase um mês, até 29 de outubro, para progredir em tudo isso. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Amizade: O pressuposto fundamental de uma Igreja sinodal. Sem isso, ela não funciona

Foto: Vatican Media Em uma Igreja formada por homens e mulheres, somos chamados a refletir sobre os sentimentos humanos a fim de compreendê-la. Um dos sentimentos mais fortes em nossa vida, que todos nós já experimentamos em momentos diferentes e com pessoas diferentes, é o da amizade, que podemos considerar um pressuposto fundamental em uma Igreja sinodal. Amizade para o fluxo do discernimento Na véspera da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade, ter esses sentimentos de amizade pode ser decisivo para que o processo de discernimento flua. A amizade é um sentimento que nos aproxima dos outros, que me faz olhar para eles com outros olhos, que gera empatia, uma atitude que não pode ser negligenciada em uma sociedade, também em uma Igreja, que está dividida. Os membros do Sínodo estão sendo desafiados a orar sobre isso, para que essa amizade possa gerar sentimentos de unidade, condição necessária para caminharmos juntos, para sermos uma Igreja sinodal. Sentimentos que devem estar acima de pensamentos e posições diferentes, pois para ser amigo não é essencial pensar tudo da mesma forma. Mas é verdade que, com bons amigos, é mais fácil chegar a um terreno comum que nos permita continuar avançando juntos, sentindo sua presença como algo que nos enriquece. Uma presença que cura Na Igreja, essa amizade se traduz em comunhão, um dos elementos presentes neste Sínodo, uma comunhão que nos remete a Deus, mas também aos outros, aos amigos, como uma presença que nos cura, que nos dá a mão na dificuldade, que nos ajuda a entender o que, a princípio, é difícil para nós, que nos dá a possibilidade de tecer redes comuns. No final das contas, aqueles que participam da Assembleia Sinodal o fazem em representação da Igreja que lhes confiou essa missão. Seja de uma conferência episcopal, seja de uma das sete regiões em que o Sínodo foi dividido para a etapa continental, seja por delegação do Papa Francisco, que convocou aqueles cuja presença ele considerou necessária, incluindo pessoas que pensam de forma diferente, mas que ele não considera inimigas. Um Sínodo que deve ser uma forma de tornar realidade o que muitos consideram “amizades impossíveis“. A sinodalidade deve ser um instrumento que possibilite o encontro com aqueles com quem a escuta, o diálogo e o discernimento em comum levam à descoberta de riquezas interiores que nossos simples sentimentos humanos não nos permitiram perceber. O grande desafio é entrar na dinâmica do “nós” e, para isso, é necessário concretizar aquela amizade que alimenta nossa vida, que nos ajuda a superar nossas dúvidas juntos e a dar passos adiante juntos, entre nós e com o Deus que, em Jesus, se torna nosso melhor amigo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Medos do Sínodo: “Se for de Deus, vocês não conseguirão destruí-los”

O Sínodo sobre a sinodalidade, o Sínodo sobre a Igreja, sobre como ser Igreja neste momento da história em que nos coube viver, desperta desconfianças e medos, típicos de quem não espera nem quer que “o Sínodo seja um kairós de fraternidade, um lugar onde o Espírito Santo purifique a Igreja de tagarelices, ideologias e polarizações“, palavras do Papa Francisco na oração ecumênica realizada no dia 30 de setembro para confiar ao Espírito Santo os trabalhos da primeira sessão da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a ser realizada de 4 a 29 de outubro de 2023. O espírito dos Atos dos Apóstolos Estamos diante de um Sínodo que podemos dizer que nos leva de volta ao espírito dos Atos dos Apóstolos, uma época em que também havia temores por parte daqueles que se consideravam os únicos conhecedores das coisas de Deus, que não entendiam as novas formas de se relacionar com Ele. A resposta do fariseu Gamaliel é algo que é relevante para o momento que a Igreja vive com o atual Sínodo: “Digo-lhes agora, portanto, que se afastem desses homens e os deixem. Pois se essa ideia ou esse trabalho for dos homens, será destruído; mas se for de Deus, vocês não conseguirão destruí-los. Para que vocês não se vejam lutando contra Deus”. Em uma Igreja que é católica, universal, diversa, em uma Igreja na qual “há espaço para todos, todos, todos”, sentar-se para escutar, dialogar e discernir juntos não pode ser motivo para ninguém ter medo. O medo é o oposto da fé Ou talvez seja, porque me lembro das palavras de dom Pedro Casaldáliga, que disse que “o medo é o contrário da fé“. Falar de fé é ter Deus como uma referência constante em nossas vidas, como aquele em quem realmente confiamos, como o Pai misericordioso que sabemos que sempre estará lá para nos dar uma mão quando nossa falta de fé nos fizer afundar em águas tempestuosas, como aconteceu com Pedro, mas também com tantos homens e mulheres ao longo da história, com você e comigo. Quantas vezes sentimos aquela mão que nos ajudou a aumentar nossa fé… O desafio é querer caminhar e sentir a necessidade de fazer isso juntos, todos juntos. Ver a lista dos membros do Sínodo, especialmente aqueles 50 que foram nomeados pessoalmente pelo Papa Francisco, nos ajuda a entender que ele não tem medo do que alguém possa dizer, que a sinodalidade é um diálogo entre todos, também com aqueles que pensam de forma diferente, mas sempre tendo claro que nosso pressuposto fundamental é que somos irmãos na fé e que estamos diante de algo que pertence a Deus. Que ninguém se esqueça de que “se for de Deus, vocês não conseguirão destruí-los”, e temos muitos argumentos para dizer que o Sínodo sobre a Sinodalidade é de Deus. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1