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Manaus será a sede do 14º Mutirão Brasileiro de Comunicação, em 2025

O 13º Mutirão Brasileiro de Comunicação (Muticom) foi concluído com a Santa Missa do XV Domingo do Tempo Comum, na tarde deste sábado, 15 de julho. O evento, no Centro de Convenções de João Pessoa, no estado da Paraíba, iniciou na quinta-feira, 13 de julho, com o tema: “Comunicar para a cultura do encontro”. Ao final da celebração aconteceu o anúncio da cidade-sede que irá acolher o 14º Muticom, em 2025. Acolhendo uma das pautas levantadas durante o Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom), em 2022, o evento será realizado em Manaus, capital do estado do Amazonas. Além do anúncio, na Missa foi feita a leitura da carta-compromisso fruto do 13º Muticom. “Motivados pela força transformadora do Evangelho, comprometemo-nos a trilhar este caminho, assumindo a escuta como condição essencial para nos encontrarmos em todos os ambientes e base para um mundo mais unido e reconciliado.” A Missa que concluiu o 13º Muticom foi presidida por dom Valdir José de Castro, e concelebrada por diversos bispos, padres e diáconos que participaram do encontro. “Precisamos semear a semente da Palavra pelos diferentes meios, mas sobretudo, com a própria vida. Mas, antes, precisamos deixar que a Palavra germine em nós”, refletiu o presidente da celebração e da Comissão da CNBB para a Comunicação. O bispo ainda refletiu que o Muticom não é um ponto de chegada, mas de partida. “A cultura do encontro é o único caminho que temos para uma sociedade de humanidade e fraternidade”. Sobre o 13º Muticom O Muticom, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Episcopal para a Comunicação, e pela Arquidiocese da Paraíba, reuniu mais de 500 pessoas presencialmente. Outras 70 pessoas participaram das conferências e seminários de forma remota, além dos agentes da Pastoral da Comunicação (PASCOM) que puderam acompanhar a transmissão pelas rádios e pela TV Aparecida.  Na quinta-feira, 13 de julho, aconteceu a palestra magna, com o tema: “Comunicar para a cultura do encontro”, com a presença virtual do biógrafo do Papa Francisco, Austen Ivereigh. Ele ressaltou o perfil reformador de Francisco, bem como os desafios da sinodalidade proposto pelo líder da Igreja Católica. A sexta-feira, dia 14 de julho, foi permeada pela conferência “Rumo à Presença Plena: a cultura do encontro no ambiente virtual”, com a assessoria de dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB. Logo depois, um painel refletiu os resultados de uma pesquisa que retrata os influenciadores digitais, a partir de seus desafios e perspectivas. Os pesquisadores Fernanda Medeiros, Aline Amaro da Silva, Alzirinha Rocha de Souza e Vinicius Borges fizeram o paralelo entre a realidade dos profissionais que atuam nas redes sociais e os influenciadores da fé. O sábado, 15 de julho, teve outras duas conferências: “amizade social na era da informação”, com a jornalista e vaticanista Mirticeli Medeiros e “ecologia integral e cultura do bem viver”, por Márcia Maria Oliveira. Na tarde de ambos os dias, o debate foi realizado por meio de seminários. Entre os assuntos abordados de forma segmentada estiveram: comunicação e mobilização social, cultura do encontro e povos originários, literacia midiática e cidadania, catequese digital, algorética e inteligência artificial. A edição atualizada do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, lançada em maio de 2023, também ganhou espaço nestas oficinas. Fonte: Felipe Padilha – PASCOM Brasil

Mauricio López: “É necessário reafirmar o papel das mulheres para curar este planeta destruído”

As perspectivas teológico sinodais e territoriais para o futuro da Amazônia foi o tema de reflexão de Mauricio López Oropeza no 35º Congresso da SOTER que está acontecendo de 11 a 14 de julho. Uma meditação que teve como porta de entrada a oração com Pierre Teilhard de Chardin, afirmando: “mergulhei no mistério de Deus como uma expressão da vida que, paciente e permanentemente, se entrelaça nas fendas mais inesperadas. A vida é um fluxo que se move à medida que a consciência se eleva e se avança em direção a uma verdadeira comunhão universal”. Mauricio López definiu a vida como “a soma de retículas associadas umas às outras, buscando a expansão da fraternidade em nosso planeta finito, mas que no amor sempre abre infinitas possibilidades”, e a Deus como “uma exibição de grandeza indomável naquilo que está sempre presente ali e pelo qual passamos em uma cegueira sistemática que nos impede de amar a beleza, que nos impede de respeitar o delicado equilíbrio de tudo e a fonte de esperança para o amanhã”. Segundo o diretor do Centro de Programas e Redes e Ação Pastoral do Conselho Episcopal de América Latina e do Caribe, “somos chamados a ser veículos, receptáculos, do poder de Deus e do mistério da vida em propagação que busca se expandir apesar da morte. Estamos matando todas as expressões da vida radial expansiva para controlar os mercados por uma visão tola de ganho momentâneo que fica nas mãos de muito poucos”. Por isso, ele vê necessário nos projetar em direção a “um Cristo cósmico e universal como meta última de nossa vida e da existência de cada ser, de cada povo, de todos os povos e de nossa Querida Amazônia”.   Ele definiu a territorialidade “como uma construção social e simbólica”, de “uma rede complexa de relações de interconhecimento, inter-reconhecimento e interdependência”, defendendo a interconexão de territórios, algo que reconhece nos exercícios de Santo Inácio, considerando o mundo “expressão de nossa humanidade pobre e esperançosa que nos mostra nossa finitude, nossas limitações e também nosso potencial”, nos permitindo “entender a noção de território ligada à premissa teológica que sustenta a contemplação da Encarnação. O caminho para a redenção ocorre em uma realidade material concreta, em um território”. Território relacionado a espiritualidade, origem e identidade dos povos, lhes fornecendo o “bem viver”. Algo que se alcança desde a ecologia integral. Em palavras de Mauricio López, “na territorialidade amazônica, especialmente a partir da cosmovisão dos povos originários, essa visão de interconexão e pertencimento ao todo sempre esteve presente em sua identidade e práticas”, algo muitas vezes irrelevante para as sociedades ocidentais e a Igreja Católica, em defesa da “suposta ‘verdade única’ e estabelecer o ‘progresso’, sempre a partir de uma visão dominante externa”. Nessa perspectiva, “o Sínodo para a Amazônia contribuiu para o desenvolvimento de novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral nesse e com esse território” segundo o auditor sinodal, buscando “criar as condições que permitam aos povos que habitam o vasto território amazônico viver com dignidade e olhar para o futuro com esperança”. O desafio diante da maior crise socioecológica planetária, é “abandonar os caminhos fracassados e reconhecer em outras tradições”.   Mauricio López ajudou a enxergar com alguns dados a riqueza e vulnerabilidade da vida da Amazônia, mostrando as ameaças aos povos da Amazônia, vindas dos Estados, que ignoram os tratados e leis assinados, e empresas estrangeiras. Frente a isso, desde sua experiência na REPAM relatou seis padrões para garantir o pleno exercício dos direitos dessas comunidades: o direito à autoidentificação e ao reconhecimento; o direito à autodeterminação; o direito à propriedade coletiva; as obrigações estatais de proteção; a proteção especial contra a discriminação étnico-cultural; e o direito a uma vida digna, conforme entendido nas cosmovisões indígenas. O conferencista destacou a importância das mulheres na Amazônia como voz profética, dizendo que “é necessário reafirmar o papel das mulheres nessa ruptura epistemológica que é exigida hoje para curar este planeta destruído”. Ele denunciou que “muitas mulheres, tanto na Igreja quanto na sociedade, são vítimas de injustiça estrutural e exclusão que parecem não ter fim”. Na Igreja da Amazônia, as mulheres representam 70% da presença missionária, mas ocupam apenas 30% dos cargos de liderança, afirmou, relatando os principais desafios enfrentados pelas mulheres na Amazônia: violência de diferentes tipos, falta de visibilização de seu papel, violação dos direitos, perda da cultura, falta de acolhida na Igreja, desigualdades na educação, saúde. Diante disso relatou a contribuição das mulheres para as sociedades amazônicas: resiliência, construção de diversos espaços de luta e resistência, reconhecimento das dores, força e organização, diálogo intercultural sobre igualdade de gênero, uma Igreja desde uma identidade de mulheres povo de Deus. Daí os horizontes para a conversão a partir das visões das mulheres, que faça realidade “uma igreja que seja irmã e aprendiz, não mais mãe e professora. Uma igreja inclusiva”, desconstruída, com raízes vivas das culturas. Recordando de novo as palavras de Teilhard de Chardin: “não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais tendo uma experiência humana“, Mauricio Lópeez ofereceu valores necessários para mudar a sociedade atual: gratuidade e reciprocidade, sinodalidade, territorialidade; apelos urgentes e inegociáveis: desigualdade pecaminosa, violação dos direitos humanos e superar uma abordagem funcional; transformação pessoal, comunitária e institucional: metanoia, alteridade e parresia.   Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Moema Miranda: Igreja na Amazônia, uma mística madalena, de mulheres que constroem novas possibilidades

O Congresso Internacional da SOTER, que tem reunido presencialmente e on-line mais de 600 congressistas de 11 a 14 de julho, tendo como foco a Amazônia, contou em seu último dia com a presença de Moema Miranda, que refletiu sobre “A Amazônia e a Igreja do Brasil: desafios para a ecologia integral e a ecoespiritualidade” Desde seu chamado a um olhar esperançoso, a uma esperança muito frágil que não se perde na catástrofe, mas também não nega essa catástrofe, Moema Miranda centro sua intervenção em três elementos: floresta, mundo, Igreja. A floresta, que ela vê como aquilo que está do outro lado, como “um grande acontecimento biotecnológico em que milhares de seres humanos se encontram e interagem”. Isso nos desafia a pensar no mundo em um mundo complexo, cada vez mais complexo. Diante disso a Igreja na Amazônia está motivada por uma mística de quem não arreda o pé, uma mística madalena, inspirada em mulheres que caminhando juntas puderam construir a possibilidade de hoje falar de uma Igreja que hoje constrói a possibilidade de novos vínculos, de novas alianças. Analisando a realidade, Moema Miranda disse que no tempo atual, “estamos passando a viver em uma terra que não conhecemos, um planeta cada vez mais complexo e com mais dificuldade”. Um mundo onde tudo está interligado pela lógica do capital, uma das imensas ameaças para a Amazônia brasileira, denunciando que 80% do desmatamento da Amazônia brasileira deve-se ao avanço da pecuária, algo que vai unido à ameaça crescente do avanço da mineração. A leiga franciscana definiu a floresta como “essa comunidade ecumênica da vida à qual nós podemos mudar o nosso olhar e aprender dela a conviver”. Uma floresta onde aqueles que a defendem são vítimas da perseguição, da violência e da morte. Situações que são provocadas pelo sistema capitalista, que se apresenta em diferentes modos e realidades, apresentando o novo conceito de “hidra capitalista”, em uma sociedade onde tem acontecido uma institucionalização do delito. Diante dessa realidade, ela fez a proposta de alternativas, que levem a descobrir que “a selva não é ameaça, a selva salva”, colocando como exemplo disso as quatro crianças perdidas na floresta amazônica na Colômbia durante 40 dias, que sobreviveram porque elas estiveram em sintonia com a natureza, com uma selva que em cada centímetro tem sua espiritualidade. A Igreja na Amazônia hoje habita um mundo muito diferente ao mundo de 1972, uma data de grande importância. Diante disso sua proposta é um caminho de volta para casa, que não é só uma casa, um tempo de reconstruir caminhos e reconfigurar nosso lugar. Nessa Igreja da Amazônia, Moema refletiu sobre a figura da Ir. Dorothy, que foi para a Amazônia porque se sentiu chamada pela floresta. Ela lembrou o testemunho de quem conviveu com ela, que vê seu sangue como “um sangue que fertilizou a terra”, e afirma que “ela foi plantada e continua a crescer, ela foi convertida em encantado, ela foi sendo ressignificada como vida e ela continua presente na caminhada, viva, criando novas formas de vida, de resistência, de barrar o fim do mundo”. A Ir. Dorothy é considerada por Moema Miranda como exemplo de uma espiritualidade encarnada, “o espírito dela continua presente”, vendo a religiosa como mártir e santa do povo da floresta, “ela foi chamada pela floresta e se fez uma com muitos outros”. É por isso que se faz necessária uma conversão à cosmofilia, a amar o cosmos. Uma atitude presente nos povos indígenas, destacando o trabalho realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que ajudou a recriar as identidades dos povos indígenas e a tomar consciência de seu ser indígenas, de povos diferentes, mas unidos. Ela também destacou um outro exemplo do trabalho da Igreja com os povos indígenas, o realizado pelas irmãzinhas de Foucauld com os Tapirapés, um povo condenado a desaparecer que ressurgiu com sua presença samaritana. Finalmente, Moema Mirando insistiu em que “uma releitura apocalíptica hoje nos coloca em disputa contra o império capitalista, que não tem a última palavra”. Diante disso, ela enfatizou que “Cristo aponta para a Amazônia, onde Ela já habitava antes da chegada daqueles que vieram destruir”, desafiando a estar dispostos a acreditar nos espíritos da floresta, se colocar na escuta daqueles que hoje ainda escutam as árvores. E fazê-lo como uma Igreja madalena, acolhedora, que não tem medo porque ama. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Semana Nacional de atualização para Formadores da OSIB aprofunda na dimensão humana afetiva

Será encerrada nesta sexta-feira 14 de julho a Semana Nacional de atualização para formadores que está acontecendo desde segunda-feira 10 em Guarulhos (SP) com a participação de 170 formadores e reitores de todo Brasil, com a assessoria do padre Deolino Pedro Baldissera, Salvartoriano, mestre em Psicologia Clínica com grande experiencia na área. O assessor disse ver a afetividade e a sexualidade como aspectos essenciais da vida humana, mas que podem ocorrer conflitos que impedem sua plena maturidade. Ele insistiu na necessidade de integrar a sexualidade e a afetividade no projeto de vida dos sacerdotes. Um encontro que acontece todos os anos no mês de julho, segundo Dom José Albuquerque de Araújo, bispo da diocese de Parintins e referencial da Organização dos Seminários e Institutos dos Brasil (OSIB). O bispo insistiu em que “assim como o ano passado estamos dando enfoque à dimensão humano afetiva como meta para uma sexualidade integrada”, destacando como muito bom o resultado alcançado no encontro. A temática da Semana Nacional de atualização está em comunhão com as Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil, documento de número 110 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e com o 3º Ano Vocacional da Igreja no Brasil. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Fotos Arquidiocese de São Paulo

Patricia Gualinga: “Reaprender com os saberes dos povos indígenas a se relacionar com a Natureza”

A contribuição dos povos da Amazônia para o futuro da humanidade tem sido objeto de debate no âmbito do 35º Congresso Internacional da SOTER, que com o tema “A Amazônia e o Futuro da Humanidade: Povos Indígenas, Atenção Integral e Questões Ecossociais”, decorre de 11 a 14 de julho, presencialmente, na sede da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, e on-line, com mais de 600 participantes inscritos. Uma contribuição do ponto de vista de duas mulheres, a líder indígena Patricia Gualinga, do povo Kichwa de Sarayaku, na Amazônia equatoriana, e Lady Anne de Souza, brasileira que trabalha na área da educação em Marabá (PA). Os povos indígenas habitam a Amazônia muito antes da chegada dos colonizadores, insistiu Patricia Gualinga, definindo como principal identidade a sua relação com a natureza, que consideram “um ser como nós”, uma premissa fundamental na sua luta para impedir a invasão das atividades extrativas. O povo Kichwa de Sarayaku tornou-se uma referência no direito internacional pela sua luta que levou à expulsão de uma empresa petrolífera do seu território, ganhando uma ação judicial que se tornou um paradigma. A líder indígena Kichwa deixou claro que “sem os povos indígenas não teríamos florestas“, daí a necessidade de resgatar a importância da presença dos povos indígenas na Amazônia, apelando à rutura com a forma de pensar que é compassiva para com os povos indígenas. Com eles há a Amazônia e um equilíbrio planetário, diante da investida externa e de uma história de incompreensão para com os povos indígenas, tachados de ignorantes por uma sociedade que não reconhece seu pensamento e cosmovisões milenares. Perante as contribuições da Amazônia e dos seus povos para o atual modelo climático global, Gualinga afirmou que “o mínimo que os governos devem fazer é valorizar os povos indígenas e não insistir em abrir a fronteira extrativa“, insistindo em valorizar os conhecimentos dos povos indígenas. “Está na hora de ouvir os povos indígenas porque senão não teremos ações e esperanças que possam contribuir para a humanidade”, disse. Junto com isso, ela pediu uma mentalidade aberta, quebrando paradigmas para se aproximar dos povos indígenas, “para reaprender com os conhecimentos dos povos indígenas a se relacionar com a natureza”. “Um indígena que perde a relação com a natureza perde sua força, sua identidade, daí a importância do território“, destacou Patrícia Gualinga. Segundo ela, “a luta dos povos indígenas não é mais uma luta local, mas uma contribuição para a humanidade”. Isto porque estão a cuidar de espaços de vida para todo o Planeta Terra e a evitar uma crise planetária global. A vice-presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), que foi recentemente recebida em audiência pelo Papa Francisco, juntamente com outras duas indígenas que ocupam cargos nas presidências da CEAMA e da REPAM, diz suspeitar que a sua presença nesta conferência pode ser motivada pelo fato de ter cobrado a histórica falta de acompanhamento da Igreja como instituição aos povos indígenas. Ela destacou o poder de incidência da Igreja e do Papa Francisco, que ela vê como um porta-voz global que ajuda a avançar nos processos de cuidado com a Amazônia. Ela também destacou a importância do Sínodo para a Amazônia, onde foi auditora, reconhecendo que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Segundo a líder indígena, a Igreja não entendeu esse processo de relação com a natureza, apesar de ter uma figura de grande relevância nesse campo, como São Francisco de Assis, insistindo que a Igreja tem muitos argumentos para defender a Amazônia. No que diz respeito às organizações indígenas na Amazônia, reconheceu que foram historicamente patriarcais, mas que nos últimos anos as mulheres ganharam espaço, contribuindo com a sua visão, apesar da resistência dentro das suas próprias estruturas. Enquanto indígena, pediu que não fossem minimizados, que não nos dissessem o que temos de fazer, que não houvesse planos vindos de cima, mas sim planos e decisões prioritárias enquanto povos. Isto implica esforço e determinação por parte dos nossos povos, que são muitas vezes tentados pelos governos e pelas empresas, segundo Gualinga, que denunciou o assassínio contínuo de líderes indígenas na região amazónica. Por último, sublinhou a importância do conceito de floresta viva, que definiu como o reconhecimento de que a natureza é um ser vivo consciente, sujeito de direitos. Não é uma reserva, mas um lugar que tem de ser administrado pelos povos indígenas a partir da sua cosmovisão, porque estes espaços destruídos têm consequências graves e é necessário que permaneçam intactos para o bem da humanidade, insistindo no reconhecimento da irmã terra, da floresta, a partir do reconhecimento da visão sagrada dos povos indígenas, capaz de identificar a fonte da vida na natureza. Isto porque “a maior contribuição de um povo indígena é o seu conhecimento da natureza”. Desde Marabá, Estado do Pará, na Amazônia brasileira, Lady Anne de Souza, que começou recordando as palavras de Paulos VI: “Cristo aponta para a Amazônia”, fez um chamado a ter “um olhar amoroso para a Amazônia, para os povos, para uma Amazônia que luta e se organiza para defendê-la e evangelizá-la”. La educadora, que trabalha na Secretaria Municipal de Educação de Marabá, fez um chamado a “escutar com o coração o clamor dos povos da Amazônia e começar a construir um caminho com um olhar cuidadoso que leva à esperança”. “Fazer isso desde a educação, uma educação dialoga com os saberes, especificidades, temporalidade, cultura”, enfatizou. Ela denunciou o fechamento de escolas na Amazônia, o que dificulta a construção do futuro, defendendo que “é direito de todos uma educação voltada para suas especificidades”. Por isso, se faz necessário aplicar o que está no papel e construir a educação desde as especificidades locais, denunciando a exclusão escolar que de fato acontece. Ressaltando que “é preciso sempre debater e discutir sobre o direito à educação, para que todos possam ter seus direitos garantidos”, refletiu sobre a importância do Pacto Educativo Global, uma proposta do Papa Francisco que vê como motivo de esperança para a educação na Amazônia, tendo lançado a Aliança Educativa, que trabalha de forma ecumênica…
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Sem a Amazônia, o futuro da humanidade se complica e muito

A humanidade tem futuro sem a Amazônia? Poderíamos dizer que essa pergunta se faz necessária diante da atual conjuntura planetária. Essa reflexão está presente no 35º Congresso Internacional da SOTER, a Sociedade de Teologia da Religião que está acontecendo nesta semana, e que aborda o tema: “A Amazônia e o futuro da humanidade”. O Sínodo para a Amazônia voltou os olhares da Igreja e da sociedade planetária para a região amazônica e ajudou a tomar consciência da necessidade de novos caminhos para uma ecologia integral, para o cuidado da casa comum, dos biomas, especialmente de um bioma com uma importância decisiva para o cuidado com a vida, como é o bioma amazônico. Por isso, podemos dizer que sem a Amazônia, o futuro da humanidade se complica e muito. As riquezas da Amazônia são enormes e uma Amazônia preservada é bem mais interessante do que uma Amazônia depredada, inclusive do ponto de vista econômico, uma ideia defendida recentemente por um dos grandes cientistas brasileiros, Carlos Nobre, mas algo que não é entendido por muita gente, inclusive por muita gente que mora na Amazônia. No Congresso da SOTER eu tive uma intervenção onde fazia um chamado a visualizar as riquezas, algo que pode ajudar a superar os preconceitos presentes em muitas mentalidades no Brasil e no mundo afora. A vida que encerra a floresta e os povos que a habitam podem nos ajudar a priorizar aquilo que é decisivo na vida e no futuro da humanidade. Isso é algo que não pode ser calado, escondido, invisibilizado. Esse também é um desafio para a Igreja que está na Amazônia, uma Igreja encarnada e libertadora, que acompanha a vida e culturas presentes na região desde a interculturalidade, uma atitude decisiva no futuro da região e em consequência da humanidade como um todo. Entender que a diversidade cultural, os distintos olhares e compreensões da realidade, enriquecem a vida de todos e todas os que se aproximam dessas realidades se torna um desafio cada vez mais urgente. O que fazer cada um de nós e todos juntos como sociedade, como Igreja? Como evitar o risco de entrar em dinâmicas que coloquem em grave perigo o futuro da humanidade? Como promover uma toma de consciência pessoal e comunitária em favor do cuidado? Quais os passos a serem dados para ter um olhar diferente, que fomente o cuidado em relação à Amazônia e aos povos que a habitam? É tempo de parar e juntos encontrar caminhos concretos que ajudem no futuro da humanidade. O tempo tem se tornado uma ameaça, que só será vencida com o empenho de todos, também com meu empenho, com seu empenho. Não podemos continuar olhando para o outro lado, e ainda menos apoiando iniciativas que coloquem em risco o futuro da humanidade, o teu futuro, o meu futuro, o nosso futuro. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

Espiritualidade, ecologia, migração: Se conectar às raízes que vem das espiritualidades ancestrais e nos sonhos para as próximas gerações

Espiritualidade, ecologia e migração foram os pontos refletidos pela professora Márcia de Oliveira e o padre Dário Bossi dentro do 35º Congresso da SOTER que conta com a participação de mais de 600 congressistas presenciais e on-line e acontece de 11 a 14 de julho. Tendo como ponto de partida a migração venezuelana no território amazônico, uma realidade muito presente em Roraima, o Estado onde a professora Márcia mora, ela refletiu sobre o que essas mobilidades nos ensinam enquanto Igreja na região. A professora da Universidade Federal de Roraima enfatizou que “a migração não é um problema, são irmãos e irmãs que precisam de acolhimento, uma oportunidade para toda a Igreja repensar sua missão”. Não podemos esquecer o processo de deslocamento que envolve o mundo inteiro, um terço da humanidade vive fora de seu território de referência, enfatizou a professora, que também relatou o processo de migração interna na Amazônia, com um 46% da população indígena deslocada de seus territórios para a periferia das cidades. Um deslocamento que acontece de forma obrigatória, sem a pessoa ter o direito de escolher a decisão de migrar, segundo a professora. Diante dessa realidade chamou a ver o migrante como um lugar teológico, “acolhê-los não é uma escolha, é um mandato evangélico, sendo um desafio eclesial de grande relevância”, disse Márcia de Oliveira. Acolher na perspectiva cristã, como algo profundo, “não é apenas atender e mandar embora, acolher por amor e por cuidado, não por medo, por desprezo”. A professora fez um chamado a ter respeito pela dignidade do migrante, algo que pede o Papa Francisco, questionando os muros construídos que impedem os migrantes viver com dignidade mundo afora. A Amazônia é atualmente uma rota migratória, disse a professora, e seguindo aquilo que o Papa Francisco pede, a Igreja é chamada a ser “uma comunidade para acolher, proteger, promover e integrar”. Isso diante de uma sociedade onde o migrante é bem-vindo na medida em que ele esquece sua cultura e não queira ser diferente. Para isso, um ponto central é “acolher com compaixão, uma acolhida que brota da sinceridade do coração”. Márcia de Oliveira recordou o dito por Bauman, quando fala de interesses políticos e econômicos que não se importam com a vida das pessoas e da capacidade da sociedade moderna de produzir deslocamentos e não se responsabilizar por isso. Diante disso, a acolhida aos migrantes é um dever da sociedade, de rompimento do esquema capitalista e tudo o que gera essa injustiça. A Doutrina Social da Igreja mostra a necessidade do acolhimento como atitude de transformação, e nessa perspectiva lembrou a falta de cuidado da Casa Comum como causa da migração. Isso tem que levar a acolher com compaixão, a praticar a acolhida com solicitude que parte do próprio Jesus, refletindo sobre a espiritualidade do exilio da Sagrada Família. Igualmente a superação das desigualdades para gerar pertencimento e a atitude de acolhida como algo que inclui todas as dimensões na Igreja. O padre Dário Bossi partiu da reflexão sobre algumas lições sobre a espiritualidade amazônica que podem nos ajudar a crescer na busca de sentido. Nesse sentido, defendeu a importância de se conectar às raízes que vem das espiritualidades ancestrais, perceber que na luta por resistência isso é garantia de vida, que as espiritualidades são a forças, pois vinculam com as forças ancestrais e nos sonhos para as próximas gerações. Nessas espiritualidades amazônicas colocou a escuta, indignação e a conversão e profecia como um tripé, colocando o exemplo de pessoas concretas em que o missionário comboniano vê essas atitudes. Como exemplo de escuta colocou Berta Cáceres, á líder ambiental indígena hondurenha, que afirmava que “eles estão com medo de nós porque nós não estamos com medo deles, e junto com isso: “venceremos, foi o rio que me disse”. Uma escuta ampla, que no Sínodo nos levou a entender o desaprender, reaprender e aprender, afirmou Bossi, uma escuta que se faz celebração e contemplação. Como referência de indignação colocou Edvard Dantas Cardeal, da comunidade de Piquiá de Baixo, no Maranhão, exemplo de uma pessoa anônima que lutou contra a mineração na Amazônia, que afirmava que “a beleza dessa luta é que a gente não cansa, e quando houver uma derrota a gente reage com mais ânimo e convicção!”. O padre Bossi fez um chamado a se Indignar diante do colapso da Criação, da falta de água, do lixo nos oceanos, do aumento constante das temperaturas. Uma necessidade em um tempo decisivo que deve levantar nossa indignação, vendo o papel das religiões, como um instrumento que “não pode ser uma fuga moral, as Igrejas não podem se distanciar dos gritos”. Finalmente, no campo de conversão e profecia colocou o líder indígena Ailton Krenak, que afirma que a conversão primeira é a apertura à pluralidade, fazendo ver que “nós não somos as únicas pessoas interessantes neste mundo”. A partir desse chamado, citou algumas atitudes de conversão: reverência diante do recebido; reconciliação, regeneração, rearmar vínculos, laços; volta à simplicidade, sobriedade feliz, bem-viver; conversão ao bem comum, para desmontar a doença da possessão individual acima do coletivo.  Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: Amazônia, uma Igreja que se evangeliza a si mesma “na força laical, ministerial, da mulher, de indígenas, de missionários e missionárias”

O 35º Congresso Internacional da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – SOTER, que está sendo realizado na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais de 11 a 14 de julho, com o tema “A Amazônia e o Futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais”, contou com a reflexão do cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, tendo como tema: “Amazônia: Evangeliza-te a ti mesmo”. Uma reflexão que não pode ignorar o território e o bioma, mas também a atitude que está ou deve estar presente na Igreja da Amazônia: “A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área. Penso no acolhimento que a Igreja na Amazônia oferece hoje aos imigrantes haitianos depois do terrível terremoto que devastou o seu país”, recordando as palavras do Papa Francisco aos bispos brasileiros durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro (2013). Uma oportunidade em que o Papa fez um chamado a buscar o “rosto Amazônico” da Igreja que está na Amazônia, com sacerdotes adaptados à realidade, corajosos, com parresia. Uma Igreja missionária, que assume a missão que Jesus confiou, destacou o cardeal, “uma Igreja que evangeliza e uma Igreja que se deixa evangelizar”. E para isso ele propôs alguns documentos para ser “uma Igreja aberta, responsável, servidora, samaritana, escutadora; uma Igreja atenta a toda a realidade onde se encontra”. Dom leonardo analisou o conceito de evangelização, destacando a importância da Exortação Pós Sinodal Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, que apresenta a evangelização como “levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade”, e pergunta “quem é que tem a missão de evangelizar?”, respondendo que é o Povo de Deus, dado que “existe uma ligação íntima entre a Igreja, a comunidade, e a evangelização”. O cardeal mostrou uma dupla orientação na Igreja que é enviada a evangelizar: “evangelizar não é um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial”, e junto com isso, “se cada um evangeliza em nome da Igreja, nenhum evangelizador é senhor da sua ação evangelizadora”. Uma evangelização que ele intui, “tem a dinâmica de sair e receber”. Na Igreja da Amazônia tem um papel fundamental, segundo o arcebispo de Manaus, o Encontro de Santarém, como momento decisivo no caminho para uma Igreja que evangeliza a si mesma. Uma oportunidade para a Igreja da Amazônia fazer um caminho próprio após o Concilio Ecumênico Vaticano II e a Conferência de Medellin. Em 1972, os bispos da Amazonia brasileira se encontraram para refletir e discutir, o que foi recolhido no “Documento de Santarém”, que segundo o cardeal, “ele deu impulso e vida à ação evangelizadora na Amazônia”, insistindo em que “Santarém firmou uma Igreja encarnada e libertadora!”. Se firmou um caminho que “proporcionou frutos de encarnação e de profecia na evangelização junto aos povos da Amazônia”, destacando “a audácia profética recolhida no Documento de Santarém”, inspirando a Igreja da Amazônia “no seu modo de ser e de agir”, com “Comunidades de Base onde as leigas e os leigos foram assumindo um protagonismo”. Reflexões que ele considera as sementes do Sínodo para a Amazônia, e que deu passo a sucessivos encontros onde “foi nascendo o desejo do encontro entre as Igrejas da Pan-amazônia”, um processo que levou ao Sínodo para a Amazônia, onde “percebe-se o desejo da Igreja que está na Amazônia assumir a missão de evangelizar a partir do chão em que ela se encontra”. 50 anos depois de Santarém, a Igreja da Amazônia se reuniu no mesmo local, assumindo as orientações da Querida Amazônia, mas também uma Igreja que evangeliza desde a encarnação na realidade e libertação da realidade, uma Igreja que para se evangelizar a se mesma “tem a grandeza da inculturação e da interculturalidade”, insistiu o cardeal Steiner, uma Igreja que “tem a marca da evangelização integral e libertadora”, que é servidora. Dom Leonardo analisou a Querida Amazônia desde a hermenêutica da totalidade, insistindo desde o conceito de rosto amazônico em “traços que pudessem visibilizar a Igreja que está na Amazônia”, buscando não impor e sim despertar para a fé, para a vida do Evangelho. Uma Igreja que tem a encarnação a “expressão das culturas, religiosidades, a relação com o meio ambiente e eliminação das exclusões”. O arcebispo vê na “hermenêutica da totalidade a possibilidade de uma Igreja evangelizar”, definindo os quatro sonhos da exortação pós-sinodal como “quatro dimensões da realidade amazônica, essenciais para uma Igreja frutuosa, misericordiosa, consoladora, inculturada, transformadora, libertadora, ilumina o todo da Amazônia ou a Amazônia na sua totalidade. Os sonhos apresentados ajudam a perceber a vida e o ser da Igreja que está na Amazônia”. O cardeal propôs alguns sinais para responder ao tema da conferência: “Amazônia: Evangeliza-te a ti mesmo”. O primeiro, uma Igreja discipular missionária e sinodal, com a missionariedade como fundamento; uma Igreja servidora, profética e defensora da vida; uma Igreja do cuidado da criação, sempre atenta ao clamor da obra criada, o cuidado com a Casa Comum; uma Igreja sinodal, com a participação dos batizados, das expressões de Igreja; uma Igreja da escuta, do diálogo, de uma realidade que na Amazônia é multirreligiosa, multicultural e multiétnica; Igreja dos mártires, expressão da fidelidade à missão recebida e a verdade do Evangelho vivida com radicalidade. O cardeal chamou a estar juntos a caminho, considerando a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), como elemento para a Igreja da região avançar nesse Evangeliza-se a si mesma. Dom Leonardo insistiu na necessidade de desenvolver “Linhas de Pastoral de Conjunto com rosto amazônico, tendo como horizonte a encarnação e libertação, a comunhão e a participação”. Ele insiste na necessidade de muita escuta no caminho para uma Igreja com rosto amazônico, vendo a busca do rito amazônico, como elemento que “deverá ajudar na visibilização do modo de ser amazônico”, chamando a ir além de um rito litúrgico, buscando “visibilizar as manifestações…
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Paulo Suess: Fomentar o protagonismo dos povos da Amazônia e com seu exemplo contribuir no futuro da humanidade

A Amazônia é o foco da reflexão do 35º Congresso da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER) que acontece em Belo Horizonte de 11 a 14 de julho, com mais de 600 participantes, entre os presentes na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), e aqueles que participam on-line. O tema em discussão é: “A Amazônia e o futuro da humanidade: povos originários, cuidado integral e questões ecossociais”. Uma reflexão que teve como ponto de partida o Sínodo para a Amazônia, diante do qual Paulo Suess questionou se tem sido uma oportunidade perdida. Ele, que foi perito na assembleia sinodal refletiu sobre como o Sínodo para a Amazônia pode contribuir para o futuro da humanidade, advogando pela descolonização das práticas e exigências pastorais e teológicas da Igreja, e o fomento do protagonismo dos povos da Amazônia e com seu exemplo contribuir no futuro da humanidade. Analisando a realidade, o teólogo afirmou que os povos da Amazônia ainda são tutelados pela Igreja, defendendo a necessidade de tirar essa tutela para fortalecer seu protagonismo numa nova civilização. O que deve se procurar, defendeu Suess, é junto com os habitantes da Amazônia contribuir para o futuro da humanidade a partir das reflexões durante o Congresso. Ele definiu a Amazônia como uma região multicultural e multirreligiosa, cobiçada pela sua beleza e riqueza, insistindo em que a defesa da vida na Amazônia exige proteção política e novos caminhos eclesiais onde seus destinatários sejam acolhidos como protagonistas. Afirmando a necessidade de na Amazônia passar do evento ao processo, Suess vê o Sínodo para a Amazônia como tentativa de repensar a presença da Igreja na Amazônia, uma Igreja que segundo o professor ainda não renunciou a seu centralismo. O Sínodo para a Amazônia é visto como um processo de reflexão sobre o passado, presente e futuro da Igreja católica na Amazônia e no mundo, retomando o que foi refletido nos encontros dos bispos da Amazônia, iniciados em 1952, se centrando nos dois encontros de Santarém, em 1972 e 2022. O primeiro incorporou na Amazônia as reflexões do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín, com propostas retomadas 50 anos depois, insistindo na encarnação e libertação, para assim reforçar os caminhos traçados em 1972 e pelo Documento Final do Sínodo para a Amazônia: encarnação e libertação, protagonismo das lideranças leigas na Igreja da Amazônia, ampliar os espaços para uma presença feminina, que a voz das mulheres seja ouvida e participem na toma de decisões. Os dois encontros de Santarém fazem parte, segundo Paulo Suess, da gradualidade de uma reflexão eclesial e da prática sinodal que atravessa um país e um continente até envolver a Igreja universal. Ele analisou brevemente quatro documentos presentes nesse processo sinodal: Documento preparatório, Instrumentum Laboris, Documento Final e Querida Amazônia, vendo a essência do Sínodo nos novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral, algo definido pelo Papa Francisco na convocatória do Sínodo em outubro de 2017. Isso numa realidade determinada pelos desafios das distancias geográficas e a diversidade cultural, fazendo um chamado a evitar generalizações injustas, discursos simplistas e conclusões a partir das nossas mentes. Se faz necessário assumir as perspectivas dos direitos dos povos e das culturas, algo que está no Concílio e não aconteceu ainda, segundo Suess. Ele vê uma clara diferença entre os três primeiros sonhos da Querida Amazônia e o sonho eclesial, afirmando que a exortação pós-sinodal é uma carta de amor, que não propõe conversões como o Documento Final, e sim sonhos, e que no sonho eclesial não encontram repercussão os encaminhamentos do Documento Final do Sínodo para a Amazônia, que criou uma nova modalidade com um ministério compartilhado entre o Papa e os delegados no Sínodo. Com relação aos resultados do Sínodo, Paulo Suess abordou a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e o Rito amazônico. A CEAMA foi uma proposta do Papa Francisco diante do pedido da assembleia sinodal no Documento Final de criar um organismo episcopal permanente para dar continuidade ao Sínodo, sendo fundada para transformar desafios pastorais em respostas práticas, segundo o professor. Ele insistiu na necessidade de envolver as comunidades e refletiu sobre a lentidão para tomar decisões o que faz com que tudo fica em sonhos. Com relação ao Rito amazônico, buscando uma pastoral menos colonial, ele vê uma dificuldade, dada a não homogeneidade de culturas e ritos na Amazônia. Para isso defendeu a presença e protagonismo de ministros locais, e fez ver a falta de ampla participação dos povos. Daí a necessidade de ritos amazônicos que respondam à diversidade cultural, questionando se um Rito amazônico não significa repetir um novo colonialismo, uma espécie de nova língua geral, que foi criada para facilitar a catequese. Igualmente refletiu sobre a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, uma proposta do Papa diante do pedido de uma VI Conferência Geral do Episcopado, com ampla participação do povo de Deus de toda América Latina y Caribe, querendo retomar propostas não realizadas de Aparecida, com uma maior participação do conjunto do povo de Deus. Algo que não se concretizou segundo Paulo Suess, pois não teve participação substancial do povo de Deus, questionando a ausência de um Documento Final, uma marca registrada na Igreja da América Latina y Caribe. Concluindo, o assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário defendeu não ter sido em vão os desafios experimentados por ocasião do Sínodo para a Amazônia e da Primeira Assembleia Eclesial de América Latina e do Caribe. Mesmo com as dificuldades que surgem do Direito Canônico para a recepção da eclesiologia do Vaticano II, a sinodalidade vai além do exercício da colegialidade episcopal, questionando as reservas episcopais que faz “do sensus fidei fidelium um processo de consultações sobre consultações”, afirmando fazer “do Espírito Santo um placebo (paliativo) sem consequências pastorais palpáveis”. É por isso, que “as discussões, nestes dias, podem mostrar que o Sínodo para a Amazônia não foi oportunidade perdida”, respondendo assim à pergunta planteada por ele mesmo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encontro de secretários e secretárias dos regionais da CNBB em Belo Horizonte: formação, confraternização, convivência

Os secretários e secretárias executivos dos 19 regionais em que se divide a Conferência Nacional dos Bispos de Brasil (CNBB) estão reunidos de 10 a 14 de julho na Casa de Retiro Santíssima Trindade, em Belo Horizonte (MG) para um encontro de formação e partilha. Em representação do Regional Norte1 participa a Ir. Rose Bertoldo, secretária executiva do nosso Regional. Segundo a religiosa, “o encontro dos regionais com a CNBB Nacional sempre é um momento muito forte de troca de experiências, e este encontro que acontece sempre no mês de julho tem uma dinâmica de conhecer o Regional que recebe e fazer alguns estudos mais específicos da realidade da CNBB naquilo que diz respeito ao papel das secretárias e dos secretários regionais”. Este é o primeiro encontro com a nova presidência da CNBB, que é representada por Mons. Ricardo Hoepers, bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que irá assessorar os momentos de formação. Sua presença no encontro é vista pela secretária executiva do Regional Norte1 como “um momento para ver as demandas que cada regional tem, e alinhar algumas questões que são pertinentes com relação aos regionais”. Dentre os elementos a serem abordados, a Ir. Rose Bertoldo cita “a questão da prestação de contas, relatórios, enfim aquilo que é específico de cada regional”. Junto com isso destaca no encontro o fato de ser “um momento de celebração, de confraternização, de convivência entre os secretários e secretárias”. Finalmente, a religiosa destaca como objetivo específico do encontro, “o aprofundar nosso papel, mas também celebrar e conviver”. Os participantes do encontro conheceram em um primeiro momento a realidade do Regional Leste2, formado pelas dioceses do Estado de Minas Gerais, e da própria arquidiocese de Belo Horizonte que os acolhe, contando com a presença de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, que até o mês de abril deste ano foi presidente da CNBB. Ao longo do encontro, os participantes irão conhecer diferentes pontos da Arquidiocese de Belo Horizonte, como é o Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis, o Mercado Central, a Basílica Nossa Senhora de Lourdes, o Santuário Nossa Senhora do Rosário, em Brumadinho, onde será abordado o tema da Ecologia Integral e Mineração, tendo um contato com os atingidos pelo crime ambiental, que tirou a vida de 270 pessoas e irreparáveis danos socioambientais, onde estará presente Dom Joel Maria dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. No programa também aparece uma visita à cidade histórica de Sabará, que contará com a presença de Dom Geovane Luís da Silva, bispo da Diocese de Divinópolis e referencial para a Comissão Bens Culturais da Igreja do Regional Leste 2. Os secretários e secretárias também terão oportunidade de partilhar sobre seu trabalho nos 19 regionais da CNBB. Tudo isso em um encontro que será encerrado no dia 14 com uma celebração eucarística. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1