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3º Domingo da Páscoa: “Corremos o risco de não reconhecer Cristo caminhando ao nosso redor”

“No terceiro domingo da Páscoa, o Evangelho nos ajuda a questionar e refletir sobre como vemos os que estão ao nosso redor”, afirma Nazaré Silva comentando o Evangelho. Citando o texto que diz “Os discípulos, porém, estavam como que cegos, e não o reconheceram”, a jovem da Diocese de Roraima afirma que “diante da agitação do nosso dia a dia, corremos o risco de não reconhecer Cristo caminhando ao nosso redor, como os discípulos. Precisamos estar atentos e atentas para reconhecê-Lo!” “Sabendo que o mês de abril é marcado por uma causa muito especial: a conscientização do autismo. É importante nos questionamos: minha comunidade aceita crianças, adolescentes, jovens ou adultos atípicos?”, lembra Nazaré. Ela questiona: “Será que nossos espaços são espaços para receber e vivenciar o diferente?  Ou esperamos que todos ao nosso redor sejam iguais? O que nos falta para reconhecer Cristo naqueles que são atípicos?”. De novo citando o texto, onde diz: “Não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”, ela pede “que possamos reconhecer Cristo em cada pessoa, que nossas comunidades sejam espaços de respeito e valorização do diferente”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Tadeu Canavarros: Os bispos “não somos donos da Igreja, mas homens que se colocam na construção do serviço”

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está realizando de 19 a 28 de abril sua 60ª Assembleia Geral, que Dom Edmilson Tadeu Canavarros dos Santos define como “bastante empenhativa, sobretudo porque se torna exigente nesse processo e no ritmo que se estabelece”. Mas ao mesmo tempo, o bispo auxiliar de Manaus destaca que “a assembleia para mim sempre é uma grande oportunidade de encontro da Igreja no Brasil através dos pastores, que são os bispos, que representam cada parcela, cada lugar desse nosso imenso Brasil”. Um momento que é “sem dúvida satisfação de comunhão e de participação e de se sentir um todo. Isso nos alivia bastante naquilo que é realmente exigência da assembleia”, ressalta Dom Tadeu. Em relação com a sinodalidade, um tema presente na reflexão da 60ª Assembleia Geral da CNBB, essa “é uma realidade que se faz pelo caminho que cada diocese tem traçado, que é um caminho de continuidade com algumas perspectivas, sobretudo por exemplo o caminho de Iniciação à Vida Cristã, o caminho da reflexão bíblica, catequético, que cada vez mais se torna uma necessidade urgente para realmente atingir as pessoas nessa adesão e nesse verdadeiro encontro com Jesus Cristo que se dá mediante a Palavra, num caminho de fé mais progressivo, mais exigente, mais autêntico”. Nesse caminho sinodal, de ida e volta, em relação à Igreja de Manaus, que tem vivido seu próprio processo sinodal, Dom Tadeu vê como uma característica que chama bastante a atenção na Igreja onde ele é bispo auxiliar, “a participação dos cristãos leigos, e isso é muito interessante porque a proposta que vem, ela tem uma repercussão bastante positiva e ao mesmo tempo exigente de uma própria resposta singular dessa Igreja, o que nos ajuda e muito de fato a fazer esse caminho de ir ate as bases e das bases realmente construir esses itinerários de fé”. Em relação com o desafio da comunhão num episcopado tão numeroso e diversificado como o brasileiro, Dom Tadeu diz acreditar que “a primeira questão é aquilo que nós somos, não somos donos da Igreja, mas homens que se colocam na construção do serviço”. Nesse sentido, ele destaca que “a particularidade que tem é que a gente pode ser mudado de igreja para igreja nos ajuda também a gerar essa comunhão”. Junto com isso, o bispo auxiliar de Manaus afirma que outra questão importante “se dá pela fraternidade entre os bispos, a cada momento e a cada assembleia, sempre esse grande momento de encontro, de partilha, de conhecimento, de realmente travar um diálogo com aquele que pensa diferente, e como você colocar as suas ideias e ao mesmo tempo partilhar essas ideias, e ao mesmo tempo estar aberto a acolher o outro que é diferente”. Em relação com a eleição dos novos cargos, que se inicia nesta próxima segunda-feira, Dom Tadeu Canavarros pensa que “há uma consciência cada vez mais clara que os cargos, eles são meramente a serviço, a serviço da construção de uma Igreja que tem uma proporção continental como o Brasil, mas ao mesmo tempo a serviço da evangelização. Todos os cargos, e agora há essa troca, se você analisar bem o que significa isso, é estar a serviço dessa instituição para que realmente possa acontecer mais a evangelização em todos os cantos do nosso Brasil”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Odilo Scherer: “A Secretaria do Sínodo está olhando para a experiência e a prática sinodal na América Latina”

“A Secretaria do Sínodo está olhando para a experiência e a prática sinodal que já nós temos na América Latina, para se beneficiar dessa prática na realização desta Assembleia do Sínodo que é um pouco mais complexa do que as outras assembleias do Sínodo, justamente por causa da impostação que o Papa Francisco deu”, afirmou o Cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e vice-presidente primeiro do Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (Celam), na 3ª coletiva de imprensa da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que acontece em Aparecida (SP) de 19 a 28 de abril de 2023. O Cardeal Scherer insistiu em que “se antes eram consultados os episcopados, as Conferências Episcopais, para a preparação das assembleias, a preparação do texto de trabalho, agora o Papa quis que o Povo de Deus todo fosse consultado, que a consulta chegasse às bases, às comunidades, às paróquias, às organizações eclesiais e também àqueles que não frequentam a Igreja, mas se identificam de alguma forma com a fé católica e o caminho da Igreja católica”. O vice-presidente primeiro do Celam falou da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe que o Celam organizou e onde ele participou, que definiu como “uma grande experiência sinodal, porque já usou este método sinodal que o Papa está propondo para toda a Igreja, ouvir o Povo de Deus”, sendo realizado em todos os países da América Latina e do Caribe foi feito esse trabalho de escuta, de interação, de síntese em vários níveis até que se chegou na Assembleia Eclesial. Dom Odilo ressaltou que essa Assembleia Eclesial “não foi só de bispos e padres, a maioria dos participantes da Assembleia foram leigos e leigas”, e teve de especial que aconteceu durante a pandemia, com a maioria dos participantes on-line. Segundo o cardeal, foi “uma metodologia que funcionou, se fizeram discussões plenárias, reuniões de grupos, celebrações, sem ser presencialmente”, definindo a experiência como “uma coisa fantástica”. Ele disse ter a percepção de que “a Igreja, queira estar em um lugar ou em outro, é a mesma Igreja, que é o que Papa está querendo fazer perceber, nós somos uma Igreja, uma Igreja que deve caminhar junto, não dividida, dispersa, mas ter a percepção de que ela é uma Igreja unida, com as suas múltiplas facetas e diversidades, a partir das culturas locais, das situações locais, dos problemas locais, mas é uma Igreja, em torno da mesma fé, do mesmo Cristo, do mesmo Evangelho e da mesma missão”. Isso não é algo novo na Igreja do continente, destacou o arcebispo de São Paulo, lembrando que na Conferência de Puebla, em 1979, o tema era “Igreja Comunhão e Participação”, e desde então essa preocupação está presente em todo o continente, insistiu. Nesse sentido, o vice-presidente do Celam lembrou que “nas visitas à Secretaria do Sínodo ouvimos claramente que o Sínodo está olhando para América Latina, querendo aprender da América Latina como levar adiante esta proposta sinodal do Papa Francisco”. As palavras do Cardeal Scherer aconteceram num dia em que os bispos refletiram sobre as Diretrizes para a Ação Evangelizadora que estão sendo elaboradas em vista de ser aprovadas em 2025, insistindo na importância da escuta. Junto com isso foi apresentado o percurso da Igreja do Brasil no processo sinodal, uma temática presente na coletiva de imprensa, onde Dom Ricardo Hoepers afirmou que está sendo “um tempo favorável, o Santo Padre quer mostrar ao mundo a importância desta unidade eclesial”. O bispo de Rio Grande (RS) vê o processo sinodal como espaço de escuta filial ao Espírito Santo, não é um parlamento ou um lugar de reivindicação. “Esta experiência sinodal de escuta trouxe riquezas para nossas dioceses, para dar uma luz maior e uma caminhada em plena unidade”, insistiu o bispo. A Igreja do Brasil se prepara para o Jubileu Ordinário de 2025, que tem como lema “Peregrinos da esperança”, sendo apresentadas as diversas comissões criadas e o chamado do Vaticano a dar ênfase ao lema e logotipo do Jubileu, que será preparado em 2023, com a retomada das 4 constituições do Vaticano II com os “Cadernos do Concílio”, e 2024, ano da oração com escolas de oração e a publicação de notas para a oração. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Percurso brasileiro no Sínodo 2021-2024: Processo cíclico entre o Povo de Deus, as Igrejas locais e a Igreja Universal

Um elemento que marca, ou deveria marcar, a vida da Igreja em todos os níveis é o Sínodo 2021-2024, que recentemente encerrou a Etapa Continental. Dentro dos trabalhos da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que está acontecendo em Aparecida (SP) de 19 a 28 de abril de 2023, foi apresentado o percurso brasileiro no atual Sínodo, conduzido pela Equipe Nacional de Animação do Sínodo, uma equipe sinodal, com três bispos, cinco padres diocesanos, dois religiosos, duas religiosas e duas leigas. Essa equipe, em nome da qual Mariana Venâncio apresentou o caminho percorrido, tem desenvolvido um trabalho de dinamização e assessorias para a realização da etapa diocesana, elaborando posteriormente a Síntese Nacional, feita a partir das sínteses diocesanas, que foi entregue em 15 de agosto de 2022 à Secretaria Geral do Sínodo. Posteriormente, foi essa equipe que organizou a participação brasileira na Etapa Continental, incluindo uma nova escuta e nova síntese. Como foi lembrado, o Sínodo 2021-2024 foi iniciado com a Fase diocesana, realizada entre outubro de 2021 e agosto de 2022, dando passo à Etapa Continental, que foi encerrada em 31 de março. Com o resultado das assembleias continentais será elaborado o Instrumento de Trabalho para a primeira sessão da Assembleia Sinodal a ser realizada de 4 a 29 de outubro de 2023, que está sendo produzido e deve ficar pronto no final do mês de maio. Os bispos representantes da CNBB serão eleitos nesta 60ª Assembleia Geral. Um processo que em outubro de 2024 terá sua segunda sessão da Assembleia Sinodal.  No Brasil foram 261 as dioceses que enviaram suas sínteses, o que representa um 93% do total, que foram a base para a elaboração da Síntese Nacional, junto com outros aportes. Todo o processo sinodal, ele é cíclico, segundo foi indicado, superando assim os processos lineares, se falando de um processo de restituição que leva a um diálogo entre o Povo de Deus, as Igrejas locais e a Igreja Universal, como foi enfatizado. A Etapa Continental na América Latina e Caribe se concretizou em 4 assembleias, participando o Brasil da Assembleia do Cone Sul, realizada em Brasília de 6 a 10 de março. Essas assembleias foram dinamizadas pela equipe escolhida pelo Celam, que produziu entre 17 e 20 de março a Síntese Continental, que expressou o discernimento realizado nas 4 assembleias, um texto que foi lido de 21 a 23 de março pelos secretários gerais e presidentes das Conferências Episcopais, enviado à Secretaria do Sínodo, e que está disponível no site do Celam. O processo cíclico vai marcar todas as fases do Sínodo como aconteceu na consulta diocesana para a Etapa Continental em torno a três questões: experiências novas ou iluminadoras, tensões ou divergências substanciais e prioridades, temas recorrentes ou apelos à ação, um trabalho respondido por 183 dioceses brasileiras, um número menor pela rapidez com que foi realizado e a época em que aconteceu, em tempo de férias. Os delegados brasileiros levaram para a Etapa Continental do Sínodo dez prioridades: espiritualidade eclesial centrada na pessoa de Jesus; alargar a tenda; laicato, com especial atenção às mulheres e juventudes; formação para sinodalidade; estruturas de comunhão e participação; diálogo com a sociedade, ecumenismo e diálogo inter-religioso; Igreja missionária a serviço da caridade; comunicação e mundo digital; superação da ideologização da fé; conversão pastoral e evangelização. Da Assembleia Continental foi destacado a metodologia da Conversa Espiritual. Os participantes foram divididos em comunidades de discernimento, que se reuniam todos os dias para meditar e responder ao documento preparatório desde três passos: escuta ativa, escuta receptiva, partilhar o que nos toca mais profundamente. Uma metodologia para que os grupos não se tornassem espaço de discussão e sim de discernimento para chegar a um consenso comunitário. O número de participantes total foi de 407, o maior número na assembleia do Cone Sul (177), onde o Brasil participou com 80 participantes, representando as vocaciones eclesiais. A maior novidade do processo é o texto da Síntese Continental, com oito eixos temáticos, que resumem o discernido nas assembleias, e quatro questões centrais, onde aparecem propostas para a sessão sinodal de 2023. As questões centrais, apresentadas como proposta do Continente para a Assembleia Sinodal, são: Necessário e constante processo de conversão eclesial, com vistas a uma Igreja missionária sinodal, que diz respeito às relações entre eclesialidade, sinodalidade, ministerialidade e colegialidade e encontra fundamento na eclesiologia do Concílio Vaticano II, a partir da noção de Povo de Deus; primazia de uma espiritualidade de comunhão sinodal, cuja centralidade seja a fidelidade a Jesus Cristo e a missão evangelizadora aos povos; “Considerar o admirável intercâmbio entre o magistério do Povo de Deus, pastores e teólogos”,(n. 101); “Redefinir as implicações mútuas entre o particular e o universal, o valor da experiência eclesial nas periferias e seu impacto no conjunto, o equilíbrio certo e tenso entre prioridades locais, nacionais, regionais e globais, e o desafio de estar aberto à harmonia, trabalho do Espírito” (n. 106). De cara ao caminho futuro foi falado sobre a continuidade do processo nas dioceses, o Instrumento de Trabalho para a Fase Universal e a escolha dos bispos que representarão o Brasil na Assembleia Sinodal. Junto com isso, foi destacado a necessidade de uma formação para a sinodalidade, não se trata de um evento e sim de um modo de ser Igreja, de uma espiritualidade sinodal, e assumir o grande achado da Etapa Continental, a metodologia da Conversa Espiritual, que é capaz de desamar os espíritos e favorece a comunhão. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Luiz Soares: “Eu aprendi muito, mas muito mesmo com o povo da Amazônia, me alargou horizontes”

Os bispos eméritos vivenciam as assembleias da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de um modo diferente. Um dos eméritos que participam da 60ª Assembleia Geral da CNBB é Dom Luiz Soares Vieira, arcebispo emérito de Manaus, que afirma que “antes a gente participava, votava. Nós podemos falar, temos alguns eméritos que estão falando, dando a sua opinião”. Dom Luiz destaca “esse ambiente de fraternidade, sentir-se irmão dos outros, isso é muito bom, ajuda bastante”. Para alguém que é emérito desde 2013, “esse período de emérito é um período que precisa ser preparado”. Lembrando o período em que estava à frente da comissão dos bispos eméritos, o arcebispo emérito de Manaus disse que “eu me lembrava sempre de um documento do Papa Francisco que se chama ‘Preparar-se para sair’, e ele sempre dizia para os bispos: ‘vocês se preparem para sair, se vocês não tiverem um projeto para depois dessa vida de bispo diocesano, vocês vão ter problemas’, e graças a Deus, na minha vida, eu me preparei, tenho um projeto para essa época, e foi um período bom, tranquilo, diferente”. Dom Luiz Soares disse que “a gente participa na assembleia, nós somos convidados”, lembrando que “pelo Direito Canónico, bispo emérito não pertence à conferência”. Diante disso, ele lembra que “nós tentamos várias vezes, inclusive Dom Angélico Sândalo propôs, e a conferência propôs também para o Papa, que houvesse uma mudança no Direito Canônico sobre a situação do bispo emérito, porque é interessante que nós podemos participar de Sínodo, e fazemos parte do episcopado a final de contas, e da Conferência não. Mas infelizmente, como se trata de problema da Igreja universal, não foi aceita essa proposta da Conferência”. O arcebispo emérito ressalta em que “somos 120 bispos eméritos e os bispos que participam realmente são muito poucos, porque não sentem interesse, e é uma pena, porque a presença do bispo emérito numa assembleia como esta ajuda bastante, tanto à assembleia como também ao bispo emérito. Nós podemos levar muitas coisas do que está acontecendo na Igreja do Brasil, não podemos ficar alheios”. Falando sobre as lembranças dos 21 anos em que foi arcebispo de Manaus, Dom Luiz diz que esse tempo “representa uma grande parcela da minha vida e foi um momento forte. Eu quando eu vim para a Amazônia, primeiramente para Macapá, fiquei sete anos e meio, depois fui para Manaus, e minha vida mudou, minha visão da Igreja, minha visão de pastoral, de evangelização, mudou bastante, eu aprendi muito, mas muito mesmo com o povo da Amazônia, me fez um bem imenso, me alargou horizontes”. Dom Luiz insiste em que “antes eu era um padre muito fechado, e quando entrei nessa realidade, realmente me converteu. Hoje eu vejo o mundo, a Igreja, de uma maneira muito diferente do que a via antes de minha ida à Amazônia”. Ele afirma que “eu tenho muitas saudades, muitas saudades mesmo, lembro, agradecendo muito a Deus, do que aconteceu, rezo por Dom Leonardo, que agora é nosso arcebispo, e o bispo auxiliar, pela Arquidiocese de Manaus”. Finalmente, o arcebispo emérito disse que “eu sei que a vida da gente é essa, temos momentos e momentos, temos serviços e serviços. Eu vivi 21 anos servindo a Igreja de Manaus, agora continuo a servir, mas de outra maneira, nas minhas orações, meus pedidos a Deus para que tudo dê certo”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

60ª Assembleia Geral da CNBB: Liturgia, Doutrina da Fé e Novas Diretrizes marcam a segunda jornada

A Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), iniciada no dia 19 de abril, prosseguiu nesta quinta-feira seus trabalhos. A oração dos Laudes, primeiro momento de cada jornada, deu passo a uma pauta que começou com uma reflexão em torno à nova edição do Missal, uma tradução da 3ª edição, que, segundo Dom Edmar Peron, bispo da diocese de Paranaguá (PR), e presidente da Comissão Episcopal de Liturgia da CNBB, responde ao dinamismo da Igreja. “Mais importante do que a aprovação do Missal é como ele será recebido em nossas comunidades”, insistiu Dom Edmar Peron, que chamou a entender a liturgia não como rubricas e sim como evento de salvação, não caindo no rubricismo, passando do rito a ser observado para o rito a ser celebrado. O bispo falou de algumas atitudes fundamentais: estupor, formação e silêncio, questionando aos presentes, seguindo a pergunta do Papa em Desiderio Desideravi sobre “como recuperar a capacidade de viver plenamente a ação litúrgica?”. O Missal, que foi promulgado no dia 25 de março deste ano, por decisão do Conselho Permanente da CNBB será de uso facultativo até o primeiro domingo do Advento e depois se tornará obrigatório. A Comissão de Doutrina da Fé da CNBB refletiu sobre o papel da Igreja na transmissão da fé e dos bispos como “pais da fé”. Dom Pedro Cipolini, bispo de Santo André (SP), e presidente da Comissão destacou o interesse pastoral da comissão, relatando as atribuições que o Estatuto da CNBB lhe confere. O bispo mostrou algumas luzes e sombras da vivência da fé na Igreja do Brasil, destacando que a Igreja do Brasil foi uma das que melhor acatou o Concilio Vaticano II, assim como a sinodalidade. Em relação ao Estatuto Canônico e o Regimento da CNBB, o primeiro deles foi aprovado em 2022 e nesta 60ª Assembleia Geral os bispos têm que aprovar o Regimento, que tem a mesma estrutura do Estatuto. Segundo Dom Moacir Silva, arcebispo de Ribeirão Preto, muita coisa mudou nos últimos 20 anos em que tem regido o atual regimento, se tornando necessário incorporar essas mudanças. Ao longo da Assembleia os bispos irão estudando o novo Regulamento com o fim dele ser aprovado. Um trabalho que já está sendo realizado nos encontros por regionais, que começaram nesta quinta-feira e nas reuniões privativas, que também começaram neste dia 20. Algumas dessas questões foram abordadas na coletiva de imprensa, que contou com a participação de Dom Edmar Peron, Dom Pedro Cipolini e Dom Leomar Brustolin, arcebispo de Santa Maria (RS), que refletiu sobre o processo das novas Diretrizes para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que deveriam ser renovadas nesta assembleia, mas que em função do Sínodo 2021-2024 só serão publicadas em 2025, que estão sendo elaboradas com muita escuta, “para saber onde estamos e para onde vamos”, destacou o arcebispo de Santa Maria. Tendo como ponto de partida a fé, Dom Leomar refletiu sobre como falar às novas gerações diante da atual conjuntura e as novas tecnologias, que aproximam e distanciam, e junto com isso a preocupação exclusiva no presente por parte das novas gerações, o individualismo, a religião privatizada, a falta de comunidade, elementos que demandam uma conversão pastoral. O arcebispo vê as novas diretrizes como oportunidade para se questionar em torno a como transmitir a fé às novas gerações, e junto com isso como refletir em torno ao senso de pertença eclesial, a comunhão, a sinodalidade e a diocesaneidade. Isso numa sociedade em que mais do que acolhida, se dá uma escolha da fé. Dom Leomar Brustolin fez uma relação entre as 3 palavras chave do Sínodo e as novas diretrizes: comunhão como formar comunidades integradas na pluralidade de experiencias, fazer das paróquias casa de irmãos; participação como senso de pertença, insistindo na questão dos ministérios ordenados e ministérios leigos; missão na perspectiva de colocar a dimensão missionária como transversalidade de todas as Diretrizes. O arcebispo de Santa Maria insistiu em não pensar só em questões religiosas e sim na diversidade de realidades, em trabalhar a fraternidade e amizade social, insistindo em que na elaboração das Diretrizes, estamos ainda num processo de escuta. Tanto Dom Edmar Peron como Dom Pedro Cipolini insistiram em questões apresentadas aos bispos na plenária da 60ª Assembleia Geral da CNBB. Na questão da Liturgia o bispo de Paranaguá insistiu em que “é para a Liturgia que converge a vida da Igreja e da Liturgia a Igreja recebe uma graça para entender sua missão”, tendo como fundamento a Sacrosanctum Concilium. Na dimensão da Doutrina da Fé, Dom Pedro Cipolini destacou que “não podemos compreender a Igreja sem a fé”, considerando que a questão da fé é de primeira importância em tudo o que a Igreja faz. Resgatar a unidade diante da fragmentação é um elemento fundamental nas novas diretrizes, segundo dom Leomar Brustolin, que insistiu em que “ser católico é aceitar formas diferentes de pensar, a unidade não se faz sem um esforço de superar essa fragmentação”. Ele afirmou, seguindo Evangelii Gaudium que a Igreja existe para evangelizar, formar discípulos missionários a partir do encontro com Jesus Cristo que sempre é comunitário. Seguindo a dinâmica do Sínodo, que implementou o Sínodo Digital como um instrumento que tem ampliado a escuta, Dom Leomar afirmou que “pode ser que a gente fique escutando sempre os mesmos, os que já estão em casa, pelo que essa proposta de ampliar a escuta é indispensável”. Junto com isso, “escutar aquilo que a gente não gosta de ouvir”, vendo como fundamental para a Igreja do Brasil “escutar os que se afastaram da Igreja” e quem vem em função dos sacramentos, buscando conhecer “qual é a percepção da presença pública da Igreja, a relevância da Igreja numa sociedade como a nossa”. Uma escuta digital “para que possamos ir ao encontro daqueles que estão em outros areópagos que não são necessariamente aqueles que estamos habituados a frequentar”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Regional Norte1 elege nova Presidência: Dom Leonardo, Dom Adolfo e Dom Altevir

O Regional Norte1 da CNBB elegeu nesta quinta-feira sua Presidência para o quadriênio 2023-2027. O novo presidente é o Cardeal Leonardo Steiner, arcebispo da Arquidiocese de Manaus, a vice-presidência será assumida por Dom Adolfo Zon, bispo da Diocese de Alto Solimões, e Dom José Altevir da Silva, bispo da Prelazia de Tefé será o novo secretário. Na secretaria executiva do Regional Norte1 foi confirmada a Ir. Rose Bertoldo, que continuará desempenhando a função que assumia até agora. A religiosa disse continuar assumindo esse serviço em função de seu compromisso com a Amazônia e com a Igreja do Regional Norte1, onde tem realizado sua missão, principalmente no combate ao trafíco de pessoas e à exploração sexual de crianças e adolescentes desde há mais de 10 anos. Os bispos do Regional Norte1 agraceceram o trabalho daqueles que assumiram a Presidência no quadriênio 2019-2023, Dom Edson Damian, bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira, que foi o presidente nos últimos quatro anos, Dom Edmilson Tadeu Canavarros dos Santos, bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus, que foi vice-presidente, e Dom Zenildo Luiz Pereira da Silva, bispo da Diocese de Borba, que assumiu a secretaria do Regional. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Ionilton: “Não é porque mudou o governo que vai mudar a postura profética de sempre da CNBB”

A 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), iniciada nesta quarta-feira 19 de abril de 2023, contou em seu primeiro dia com diversos momentos importantes. Dentre eles dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia de Itacoatiara, destaca em primeiro lugar “o relatório de atividades da Presidência, que está encerrando seu tempo, que serviu para mostrar o que a Igreja no Brasil viveu, apesar da pandemia e do anterior governo que dificultou muito as relações com a Igreja”. Dom Ionilton destaca que “a Presidência da CNBB, na pessoa de Dom Walmor principalmente, conseguiu levar adiante, dando para perceber a quantidade de notas, de manifestações que a CNBB teve nesses quatro anos, falando da realidade da Igreja, mas também da realidade do nosso povo”. Nas análises de conjuntura social e eclesial, o bispo da Prelazia de Itacoatiara destaca a apresentação de assuntos como “a polarização da sociedade civil, mas que acaba afetando a Igreja, a exploração religiosa por parte da extrema-direita, cooptando Deus, pátria e família”. Diante disso, dom Ionilton destaca a insistência da análise no “caminho da formação a partir da Palavra de Deus, da doutrina da Igreja para tentar conseguir arrumar o passo”. Na análise de conjuntura social, o bispo destacou, algo que explicitou no plenário após a apresentação, o ponto da “financeirização do capitalismo, uma questão muito forte nos últimos quatro anos com o governo que se encerrou”. Uma realidade que “nós que estamos no Amazonas percebemos isso com mais ênfase ainda com a questão das queimadas, a derrubada da floresta, a questão da poluição das águas por causa do garimpo ilegal”. Dom Ionilton insistiu em como a análise de conjuntura “destacava esse grande prejuízo que foi o avanço do capitalismo com o agronegócio, com as mineradoras”, um fato no Regional Norte1, diante do qual “nós esperamos encontrar caminhos de superação nesse novo tempo que começa agora”. O desafio no campo social, segundo o bispo, é “a gente conseguir fazer uma incidência política com esse novo governo que está começando que sinaliza alguma abertura maior para as questões sociais”. Isso leva dom Ionilton a ver a necessidade de “apostar no revigoramento dos organismos de fiscalização, IBAMA, FUNAI, ICMBio, que são organismos que ajudam a preservar o ambiente, preservar a natureza, o nosso bioma Amazônia”. Junto com isso, fazer incidência política, pois “não dá para a gente assistir de camarote o governo caminhar, a gente precisa de alguma maneira fazer também a nossa parte enquanto Igreja como sempre fizemos”. Nesse sentido, resgatando as palavras de dom Francisco Lima na apresentação da conjuntura social, “não é porque mudou o governo que vai mudar a postura da CNBB, vai ser a mesma postura profética de sempre”, algo do qual dom Ionilton diz ter certeza, se referindo ao tema do arcabouço fiscal, que “ainda é um ponto realmente enigmático, a gente precisa aprofundar mais isso, também como Igreja, mas o caminho é a incidência política, não deixar que a força do Congresso Nacional, que ainda é uma força de direita, de extrema-direita, predomine para essas votações no Congresso e que o interesse da população seja respeitado, e para isso precisa que haja movimento popular e social, e também no nosso caso como Igreja, como CNBB, fazer a incidência que a gente vinha fazendo e temos que fortalecer muito mais agora”. A realidade eclesial apresentada “é muito forte em nosso Regional Norte1”, segundo dom Ionilton. Ele afirma que “a gente teve muita dificuldade de trabalhar a formação e a conscientização a partir da cartilha da CNBB ‘Encantar a Política’ do Conselho do Laicato”. O bispo destaca a resistência existente que levava a dizer que “tratar desses assuntos acaba sendo uma politização da Igreja, pensar no pobre, pensar na defesa da natureza”, uma realidade que vai continuar, insiste dom Ionilton. O bispo da Prelazia de Itacoatiara coloca como exemplo disso o fato de ter “um grupo grande de pessoas que se dizem católicas, que usam símbolos católicos, como Nossa Senhora de Fátima, o terço, a devoção a Nossa Senhora, mas que faz um trabalho contra a Igreja. Fala mal do Papa, fala mal da CNBB, criticam qualquer pessoa da Igreja que tem uma postura na linha da opção pelos pobres, e aí fica um grupo que hoje tem a força das redes sociais”. Frente ao trabalho nas dioceses, paróquias, comunidades, “chega com muita mais força e rapidez pelas redes sociais uma onda contrária àquele ensinamento que a gente está tentando trazer do Papa Francisco, de suas encíclicas, das mensagens da CNBB, a posição da CPT, do CIMI, que é a posição também do Regional Norte1”, destaca dom Ionilton, que ressalta que “as vezes as pessoas não conhecem e fazem uma oposição cerrada, batem de frente, não aceitam aquilo que a gente está tentando fazer com que as pessoas se envolvam mais, a partir da fé, nesse compromisso de transformação da sociedade”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Presidência da CNBB faz balanço de um quadriênio em que teve que se “reinventar para dar novas respostas”

Tendo como ponto de partida a ideia de que “nós comunicamos para humanizar, nós comunicamos para evangelizar”, segundo indicou dom Joaquim Mol, bispo auxiliar de Belo Horizonte e presidente da Comissão para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e insistindo em que essa comunicação quer ser  uma contribuição para que “a sociedade também comunique melhor aquilo que ela tem que comunicar”, iniciou a primeira das coletivas de imprensa da 60ª Assembleia Geral da CNBB que acontece em Aparecida de 19 a 28 de abril de 2023. “Um encontro de comunhão das diferenças”, insistiu Dom Mol, dado que a assembleia da CNBB é uma “experiencia de unidade e de comunhão”, com diferentes, formando “um corpo cujos membros têm funções diferentes e colaboram para uma mesma função”. O bispo auxiliar de Belo Horizonte chamou a assumir, na dinâmica do caminho sinodal, uma atitude de escuta, apresentando o trabalho da atual presidência como um trabalho enorme com peculiaridades jamais imaginadas no decorrer da história, especialmente com a pandemia, com realidades que o Brasil nunca tinha vivido. No breve relato do vivido na gestão da atual presidência, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, começou agradecendo o trabalho dos meios de comunicação nesse tempo de “tantas mentiras e de tantas divisões, uma comunicação buscando mostrar a verdade, motivar corações para o bem e abrir novos caminhos com o Evangelho de Jesus e com os serviços prestados pela Igreja no coração da sociedade”. Um tempo que foi definido seguindo a metáfora da Igreja como uma barca numa travessia, utilizada pelo Papa Francisco em 27 de março 2020 na Praça de São Pedro. Diante da convulsão vivida no Brasil nos últimos quatro anos do ponto de vista político, e dos descompassos que atingem de modo especial os mais pobres e sofredores, o que fez com a CNBB foi obrigada a “nos reinventar para dar novas respostas”. Isso num dos quadriênios mais difíceis nos 70 anos da CNBB, que é olhado pelo presidente da CNBB com o coração agradecido e com grande alegria pela experiencia que fizemos com muitas mãos e muitos corações e colaborações competentes, que fez com que muitas coisas cresceram, mesmo com as dificuldades da pandemia e da situação política. O arcebispo chamou a ser uma Igreja em saída e sinodal, que “tem que ir para a vida das pessoas no confronto com aquilo que elas vivem, sofrem, carregam, sonham, e sobretudo na tarefa de construir uma sociedade justa, fraterna, solidária, porque somos cidadãos do Reino a caminho dele”, dando assim novas respostas, fruto da articulação de muitos que confirma esse caminho como Igreja servidora no mundo, dado que “estamos ao serviço da vida, ao serviço do povo de Deus”. Dom Walmor Oliveira de Azevedo lembrou que nos 70 anos de história, “a CNBB sempre esteve do lado dos pobres, dos sofredores”, o que a levou a passar por dificuldades e incompreensões, “pela coragem profética de estar ao lado dos pobres criando uma nova cultura social, política, espiritual e humana”. Nesse sentido, ele lembrou a campanha É Tempo de Cuidar, como expressão de solidariedade muito importante, que responde à exigência intrínseca à luz do Evangelho de Jesus Cristo de cuidar dos pobres, ainda mais diante do aumento da pobreza e da fome num país celeiro do mundo. Em relação à violência nas escolas, o presidente da CNBB vê essa realidade como “consequência dos caminhos que nós temos tomado muitas vezes lamentavelmente a partir de lideranças políticas importantes fomentando o ódio, fomentando as desavenças, fomentando as dificuldades, e sobretudo fomentando o comprometimento da fraternidade universal”. Frente a isso, seguindo o Pacto Global pela Educação, chamou a “encontrar caminhos de diálogo, caminhos de serviço e indicações concretas” frente a essa violência nas escolas, pois viver a fé cristã é humanizar-se, buscando estabelecer a cultura da paz. Na coletiva foi abordado a questão do Fundo Nacional de Solidariedade, sendo destacado por Dom Joel Portella Amado, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário geral da CNBB, a importância da Campanha da Fraternidade, expressão de caridade e solidariedade, que na Quaresma anima a descobrir o sofrimento alheio desde diferentes propostas, dentre elas a Coleta da Solidariedade, que alimenta esse Fundo Nacional de Solidariedade. Em relação à sinodalidade, seu presidente destacou que a CNBB está neste horizonte da sinodalidade na sua história organizacional, com marcas de participação, destacando o necessário investimento em sinodalidade, “como uma experiência importante que cria uma nova cultura”, dado que “a CNBB é uma expressão de comunhão dos bispos do Brasil marcadamente sinodal”. No dia dos povos indígenas, Dom Mário Antônio da Silva, arcebispo de Cuiabá e 2º vice-presidente da CNBB, destacou que a Conferência e a Igreja do Brasil tem abraçados as dores e as causas dos povos indígenas de maneira muito solidária, chamando a “reconhecer o protagonismo dos povos indígenas e comunidades tradicionais e reconhecer sua sabedoria e beber dessa fonte para descobrir soluções para os muitos problemas que vivemos hoje em nossa nação e em nosso Planeta, sobretudo na questão da preservação ambiental”, indicando passos a serem dados. A polarização política e religiosa presente na sociedade levou Dom Walmor Oliveira de Azevedo a “consequências grandes e pesadas com a vida dos mais pobres e sofredores”, demandando a Igreja a ajudar na construção de uma cultura da paz, da justiça, do respeito à vida e à dignidade humana. Isso em vista da Igreja ajudar o Brasil a ser melhor. Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e 1º vice-presidente da CNBB, destacou o trabalho de apoio e construção das comissões da CNBB, dos bispos e assessores, um trabalho que se faz em favor da Igreja e dos mais necessitados, que vai além dos que passam fome. Ele insistiu em que sem educação não há transformação da sociedade, fazendo ver a necessidade de reconstruir o tecido social. Nesse âmbito, ele abordou a questão da comunicação digital e a necessária aprendizagem de tudo o que faz referência à tecnologia, diante da qual existe um…
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60ª Assembleia CNBB, análise de conjuntura social: “Ação, concreta, responsável e ética, que una a todos em torno de nosso futuro”

  Abordar os grandes desafios da sociedade brasileira tem sido o propósito da análise de conjuntura social apresentada aos bispos no primeiro dia da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que está sendo realizada em Aparecida de 19 a 28 de abril de 2023. Elaborada pelo Grupo de Análise de Conjuntura da CNBB – Padre Thierry Linard, a análise, apresentada por Dom Francisco Lima, parte da ideia da dificuldade de realizá-la em um momento histórico “em que as transformações, possivelmente, estão mais velozes que a nossa própria percepção”, e quer ser um instrumento que ajude na vivência dos próximos passos da CNBB. O início de 2023 é visto como “uma espécie de kairós, em uma conjuntura que se apresentou com diversos e complexos elementos logo após as eleições nacionais de outubro”, o que se concretizou em “estratégias de resistência ante a mudança no Poder Executivo”, buscando “tentar mudar a realidade eleitoral” fora da Constituição, o que foi combatido pelo Poder Judiciário, chegando em um ponto final em que “a democracia foi vitoriosa!”. O texto relata as diversas posições dentro das Forças Armadas, a cooptação por parte de setores radicalizados das Polícias Militares de muitos Estados e a Polícia Rodoviária Federal, a saída do país do Ex-presidente, ou o ataque aos poderes da República no domingo 8 de janeiro de 2023, por adeptos mais radicais do “bolsonarismo”, visto como “uma articulação de forças empresariais, financeiras, políticas e sociais”. Diante dessa realidade, os analistas afirmam que “o governo Lula está posto, mas ainda não está totalmente composto!”, um governo que iniciou seu mandato com um caráter popular, com a presença na posse do Presidente da República de “homens e mulheres carregados de histórias e lutas”. O mundo está marcado por incertezas, pelo que o Papa Francisco define como “uma guerra mundial em pedaços”, que está conduzindo ao “parto de um outro mundo multipolar”, com tensões surgidas dos mesmos velhos motivos: economia, território, tecnologia e terror. Isso num mundo determinado pela desigualdade social, pelo aumento da imigração, pela crise da democracia representativa, o incremento das tecnologias digitais, o recrudescimento de governos autocráticos e de movimentos autoritários cada vez mais atuantes, a partir de estratégias de desinformação, com eleições polarizadas e sociedades divididas. Tudo isso repercute na realidade latino-americana, que é analisada, mostrando um olhar sobre como o processo eleitoral brasileiro de 2022 impactou no reordenamento geopolítico global e regional. O texto apresenta os grandes desafios brasileiros, no campo da economia, marcado pela financeirização, o neoliberalismo e o lucro financeiro, que se contrapõe à “deterioração dos serviços públicos essenciais oferecidos a parcelas imensas do povo brasileiro”; no campo da política, abordando a questão da governabilidade e governança pública e a atual realidade política que o Brasil vive, analisando os passos que estão sendo dados entre os diferentes poderes da República. No campo da política foi refletido sobre sua relação com a religião, mostrando como uma questão crucial o uso da religião “para a manipulação político-eleitoral ou para a difusão de discursos de ódio e fake News”, inclusive para a ascensão da extrema-direita. Do mesmo modo, foi refletido sobre a militarismo e sua relação com a política, que incide na democracia e aumenta as polarizações. No campo da sociedade e da cultura, a análise de conjuntura social reflete sobre o drama da desigualdade social e racial, consequência das “muitas e severas sequelas da crise econômica causada pela pandemia”, que levou 33,1 milhões de pessoas a passar fome no Brasil, ao aumento de jovens que nem estudam, nem trabalham, a um maior endividamento da população, com um racismo estrutural e cotidiano que machuca o tecido social brasileiro. No mesmo campo, o drama socioambiental e cuidado com a Casa Comum, destacando a determinação do governo Lula na reconstrução da agenda ambiental brasileira. Isso tem se concretizado numa maior valorização dos povos indígenas, com a criação do Ministério dos Povos Indígenas e ações estratégicas e integradas para o combate ao desmatamento, e a mineração. A análise aborda a questão do desarmamento e a cultura da paz frente às violências, com o novo governo enfrentando desde o primeiro dia da política de incentivo ao armamento da população, uma urgência diante dos ataques às escolas nos últimos dias. Também foi abordada a crise do pertencimento e o problema das identidades, insistindo em que “parece ter-se perdido a referência da comunidade”. Finalmente, a análise apresentou sinais dos tempos e de esperança, destacando os resultados do diálogo do governo federal com os outros poderes, o protagonismo dos movimentos sociais e o respeito aos conselhos de controle social, o multilateralismo nas relações internacionais. Diante disso se destaca a importância da formação política, da educação, vendo como uma urgência um grande projeto de pacificação nacional. Para isso, “o nosso mais importante sinal é o da ação, concreta, responsável e ética, que una a todos em torno de nosso futuro. A maior esperança é esperançar-nos todos os dias e em todas as circunstâncias. Sem medo, pois a esperança é a nossa coragem!”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1