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Dom Edson Damian: “Em tempos de sinodalidade, Páscoa é a esperança de nova primavera eclesial”

“Páscoa, passagem, vida nova” são as palavras com as que Dom Edson Damian inicia a Mensagem de Páscoa do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O Presidente do Regional fala de “passagem da morte cruel de Jesus na Cruz para a Vida Nova da Ressurreição. Sempre passagem do que produz morte para o que gera vida, para todos e todas”. O Bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira foi explicitando o que isso representa hoje na vida do Brasil: “para 33 milhões de brasileiros atingidos pelo flagelo da fome é acordar sabendo que poderão comer. Para 9 milhões de desempregados, Páscoa é passar de um desespero do desemprego ao trabalho com um salário justo. Para milhares que ainda trabalham em regime semelhante à escravidão, Páscoa é trabalhar com direitos trabalhistas garantidos”. Para os povos indígenas, uma realidade muito presente na Diocese de São Gabriel da Cachoeira e no Regional Norte1, “Páscoa é libertação do genocídio gerado pelo garimpo para viver em terras demarcadas e homologadas, pois a morte da floresta é o fim da nossa vida”. Em relação às mulheres, “as primeiras testemunhas da Ressurreição, Páscoa é a libertação da exploração sexual, o feminicídio e de tantas outras crueldades”. “Em tempos de sinodalidade, Páscoa é a esperança de nova primavera eclesial, com a comunhão, com a participação de todos e todas na vida e missão da Igreja”, insistiu Dom Edson Damian. Junto com isso, “Páscoa é tempo de prosseguir construindo democracia com liberdade, direitos humanos, justiça social, paz para todos e todas”, disse o Presidente do Regional Norte1. Finalmente, mostrando que “Cristo Ressuscitou, ressuscitemos com Ele”, Dom Edson Damian desejou para todos e todas, “uma Feliz e abençoada Páscoa”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Domingo da Páscoa: O Evangelho confirma o protagonismo das mulheres na Ressurreição

Comentando o Evangelho de João 20,1-9, presente na Liturgia da Palavra do Domingo da Páscoa, Conceição Silva destaca que “nessa leitura temos 3 personagens que nos inspiram uma reflexão mais clara da nossa realidade: Maria Madalena, Pedro e João (o discípulo amado)“. A membro das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Manaus, destaca que “é muito importante quando o Evangelho relata que Maria Madalena, uma mulher, foi a primeira a chegar no túmulo vazio. Certamente o evangelista quer ressaltar a importância das mulheres que sempre estiveram com Jesus”. Segundo ela, “com isso essa leitura nos remete a confirmar o protagonismo das mulheres, pois nós somos sinônimo de vida nova em nossas famílias, em nossas comunidades, nas pastorais e movimentos, enfim na sociedade, quando lutamos por justiça social e pela vida”. Falando sobre os dias de hoje, Conceição Silva enfatiza que “nossas mulheres sofrem todos os tipos de abusos, são perseguidas, espancadas e mortas, mais, temos um espírito de guerreiras que lutam. São líderes, fortes, e sempre estão sendo exemplos de sabedoria, resiliência, persistência, fé e amor”. Isso a leva a afirmar que “isso é ressurreição, a persistência em lutar a favor da vida dos mais pobres e necessitados”. Ela destaca a mensagem de Pedro, “que, pelos acontecimentos em torno da morte de Jesus, estava triste, desolado, principalmente pela culpa de o ter negado 3 vezes, preferiu acreditar que tinham roubado o corpo de Jesus, ele não lembrou dos ensinamentos deixados por ele quando falava da ressurreição”. Contemplando a atitude de Pedro, ele afirma que “assim como Pedro, também ficamos desmotivados, tristes, parecendo que acabou nossas esperanças, principalmente depois de muitas lutas contra as situações de morte como: a fome, o feminicídio, a morte dos nossos irmãos indígenas, a destruição da nossa floresta, os diversos tipos de violência contra as mulheres, crianças, os desmontes de nossas políticas públicas”, insistindo em que “isso nos desmotiva, nos faz perder as esperanças, o entusiasmo, e até mesmo a fé”. Segundo Conceição Silva, “mesmo que tenhamos começado cedo a buscá-lo, nós nos perdemos dele e saímos a procurá-lo fora de nós, nos túmulos do mundo. Nas dúvidas sobre acontecimentos facilmente perdemos Jesus de vista”. Finalmente, “na terceira mensagem o discípulo amado humildemente esperou por Pedro para testemunhar junto com ele que Jesus tinha ressuscitado, pois, quando entrou logo lembrou das palavras de Jesus, pois seu coração já sabia que ele tinha ressuscitado”, afirma a membro das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Manaus. Ela insiste em que “assim também somos nós, é a fé e a esperança que nos motivam para agir com amor, seguindo os passos de Jesus”. Isso sem esquecer que “a Páscoa para nós hoje é compartilharmos compaixão, justiça, reconciliação, fé, amor e principalmente nos encorajarmos uns aos outros a sermos pessoas de esperança, de Ressurreição, pois, Jesus ressuscita da morte cada vez que vivemos o seu modo de vida, quando temos o cuidado e  a preocupação com a vida”. Por isso, ela pede que “nessa Páscoa de Jesus, ele nos confirma a sua proteção, seu amparo, seu conforto e seu amor, por isso, nunca podemos nos sentir sozinhas ou sozinhos, porque Jesus vive no meio de nós e a Ressurreição é a vida que vence a morte”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Paixão e morte da Amazónia e dos seus cuidadores ancestrais, os povos indígenas

A morte dos povos indígenas é a morte da floresta. Numa Amazônia que caminha na sua Via Sacra no caminho da morte, podemos descobrir os sinais da Paixão, e estes sinais aumentaram nos últimos anos, colocando em perigo um dos pulmões do Planeta, e quando falta ar a um corpo, as hipóteses de sobrevivência estão a desaparecer. No Brasil, o extermínio dos povos indígenas tornou-se política de Estado durante vários anos, com um governo que lhes negou todos os seus direitos, e que incentivou aqueles que se tornaram os executores de uma política de morte: garimpeiros, madeireiros, agronegócio… e tantos outros atores que se constituíram como usurpadores de territórios ancestrais e das vidas dos seus milenares cuidadores. Expulsar os povos indígenas dos seus territórios, ou simplesmente matá-los a míngua, negando-lhes os seus direitos fundamentais, tem sido o caminho escolhido para tomar conta da Amazónia e das suas riquezas. Uma invasão milimetricamente preparada e orquestrada, que tem sido levada a cabo sem demora, causando muito sofrimento. O que aconteceu com o povo Yanomami, um verdadeiro genocídio que levou à morte de centenas de indígenas, incluindo muitas crianças, é um exemplo de uma realidade que em maior ou menor grau se repete em muitos cantos da região amazónica, não só no Brasil, mas em todos os países que dela fazem parte. A corrida pelo ouro tem vindo a matar aqueles que se tornaram o seu principal obstáculo: os povos amazónicos, especialmente os povos indígenas. Defender a Mãe Terra é uma obrigação para esses povos, que se sentem profundamente ligados a ela como resultado das suas cosmovisões. É algo muito mais profundo do que o fato de poder encontrar nela sustento ou benefício, é um sentimento espiritual que brota do mais profundo do seu ser e que os leva a defender aquilo que é a fonte da vida e da harmonia. Os corpos emaciados, não só fisicamente, mas também espiritualmente, dos Yanomami são um exemplo do que está a acontecer na Amazónia, onde as feridas humanas são uma expressão de feridas ambientais. Feridas que corroem corpos, mas que também deixam cicatrizes internas num planeta e em povos que estão a render o Espírito, tal como o Crucificado, curvando a sua cabeça, rendeu o Espírito. Isto sob o olhar de uma sociedade que não é diferente daquela que há quase dois mil anos atrás se encontravam aos pés da Cruz. Muitos impassível, desinteressados diante do sofrimento dos outros, muitos satisfeitos com a morte de alguém que dificultava a sua ânsia de poder e ganho inescrupuloso. No final das contas, os rostos dos crucificados são sempre semelhantes, perpassando a história, marcada pela morte, mas com a esperança de vida em plenitude, da Ressurreição em que muitos ainda acreditam, também da Amazónia, que, não esqueçamos, tem nos povos indígenas os seus grandes cuidadores. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Leonardo na Missa dos Santos Óleos: “Somos o hoje da missão de Jesus”

A Arquidiocese de Manaus reuniu-se na Catedral da Imaculada Conceição na manhã da Quinta-feira Santa para celebrar a Missa dos Santos Óleos, momento em que o clero renova as promessas sacerdotais e os óleos que serão usados ao longo do ano nas paróquias, áreas missionárias e comunidades são consagrados. Uma celebração em que a Igreja nos oferece “o encontro de Jesus com a Palavra e a Palavra a revelar-lhe a missão”, segundo o cardeal Leonardo Steiner. O Arcebispo de Manaus afirmou que “a Palavra do Pai que se escuta na palavra do Povo de Deus”, lembrando que “as leituras nos convidam a renovar nesta celebração as nossas promessas presbítero-sacerdotais”. Seguindo a passagem do Evangelho, Dom Leonardo fez um chamado a “escutar o hoje, o hoje do envio, o hoje da unção, o hoje da missão, o hoje do Espírito. O passado que se faz um hoje. O futuro no acontecer do hoje. O que dá sentido é o hoje. É no hoje que a vida e a missão de Jesus, se faz Reino de Deus. E Jesus lê e se lê na Escritura, por isso assume no hoje a sua missão. Descobre-se missão no hoje da leitura. O hoje que passa a ser o anúncio do Reino de Deus”. Em palavras do cardeal, “a razão de ter-se feito humanidade, fraqueza, presença, proximidade é o hoje do Reino que é Ele mesmo”. Ele destacou “o hoje do Espírito! Ungidos pelo Espírito, no Espírito. E continua a ungir, pois Ele está ‘sobre mim’”, lembrando a primeira leitura. Um Espírito que “está, pois veio, tocou, penetrou com sua força e suavidade e agora permanece sobre, como a nuvem a guiar o Povo de Deus, o povo eleito no deserto”. Isso levou Dom Leonardo a questionar: “nos damos conta de que o Espírito está sobre nós, nos deixarmos tocar, guiar, iluminar pelo Espírito que foi invocado sobre nós?”, afirmando que “sim, o hoje do Espírito Santo! Ele não é passado, futuro: Ele está, permanece sobre, pronto a guiar e a fecundar a missão recebida. A missão no hoje do Espírito”. Ainda sobre a primeira leitura, ele destacou a afirmação que faz: “ungidos pelo Espírito”. É “o hoje da unção. Ungidos com o óleo do Crisma, sobre o qual foi invocado o Espírito Santo e que hoje invocaremos sobre o óleo que nos ungiu. O Espírito que unge, está ungindo sempre. Uma unção do hoje. Sempre ungidos no hoje de nossa vida e missão.  A unção recebida para ungir. A unção de um hoje que é para ungir, untar”.  Uma unção que, lembrando palavras do Papa Francisco, “consagra para o anúncio. Uma unção que proclama uma pertença, uma benevolência”, e junto com isso, “a unção convida-nos a acolher e cuidar deste grande dom: a alegria, o júbilo sacerdotal. A alegria do sacerdote é um bem precioso tanto para si mesmo como para todo o povo fiel de Deus”, uma alegria sacerdotal que “tem a sua fonte no Amor do Pai”. “Uma missão que recebemos que sempre se faz hoje. O nosso hoje é a missão. Missão nos faz ser hoje: renova, matura, eterniza, faz Reino de Deus. Somos o hoje da missão de Jesus. Aquela completude e realização em Jesus que continua na missão recebida. O hoje da missão que devolve a liberdade e a esperança aos amarados, amordaçados, desesperançados; o hoje que desperta o abrir olhos, horizontes, o ver a obra da salvação. O hoje, sempre hoje da proclamação da graça, da beleza, da liberdade que Deus oferece a toda a humanidade”, refletiu o Arcebispo de Manaus. O hoje do Reino que transforma tantas realidades, que é “o hoje extraordinário da vida do irmão, da irmã que recebe no hoje a vida do Reino. É que em cada gesto, em cada olhar, em cada presença, em cada silêncio, em cada palavra há salvação, sanação, redenção. Um hoje transformativo”, segundo o cardeal. Um hoje que também vê como envio, “enviados, caminhantes, procuradores, estradeiros, remadores, navegadores, homens das águas. Como aos apóstolos, o Espírito envia. O hoje sem retorno, sem retrocessos, sem volta, sem olhar para atrás. O hoje do envio que nos encanta, concede bom ânimo, disposição e disponibilidade. Na graça de proclamar que somos amados por Jesus, que por seu sangue nos libertou dos pecados e que fez de nós todos um reino, sacerdotes para o Pai. Um envio que glorifica, bendiz”, lembrando as palavras do Apocalipse na segunda leitura. Se dirigindo ao clero, Dom Leonardo lembrou que “hoje renovamos a alegria do dia da nossa ordenação presbiteral. A alegria que nos ungiu para estar a serviço do Povo de Deus; a alegria incorruptível que integra e torna íntegros, verdadeiros, transparentes, e a alegria missionária que irradia para todos e a todos atrai, nos ensina Papa Francisco”. Lembrando os sinais da liturgia da ordenação, Dom Leonardo lembrou que “nos falam do desejo materno que a Igreja tem de transmitir e comunicar tudo aquilo que o Senhor nos deu”, recordando os diferentes símbolos e afirmando que “fomos ungidos até aos ossos… e hoje da unção desperta a alegria, que brota de dentro, é o eco a unção recebida. A alegria que unge como um hoje, não como um passado longínquo, distante, de sonhos passados, mas como presença alentadora, transformadora de vida e do ministério”. “A Unção do Espírito que se manifesta por sinais”, segundo o cardeal. Ele lembrou que “os óleos serão introduzidos na comunidade e pela comunidade celebrante. A palpabilidade do Espírito que unge nos óleos que a Igreja nos oferece e que hoje são benzidos e o óleo que será consagrado”, explicitando o sentido de cada um dos óleos: enfermos, que é “a inovação do consolo, do alívio das dores na nossa finitude humana; dos catecúmenos, “para ser fortaleza e proteção aos renascidos em Cristo, aos revestidos de Cristo”; do Crisma, “para consagrar, santificar o Povo de Deus”. Dom Leonardo agradeceu “aos irmãos presbíteros que ungem o Povo de Deus nas nossas periferias, junto às pequenas comunidades distantes da cidade”, também “aos presbíteros que servem as nossas…
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Doar a vida vale a pena, porque amar sempre nos faz melhores

Doar a vida é um indicativo de amor, uma atitude cada dia mais necessária numa sociedade, inclusive numa Igreja, onde parece que o ódio pelos outros está cada dia mais presente no coração das pessoas. Não podemos duvidar disso, doar a vida vale a pena, porque amar sempre nos faz melhores. Diante disso, cada um, cada uma de nós tem que se questionar sobre a influência de Jesus em nossa vida, como aquele que serve, aquele que lava os pés, aquele entrega sua vida na Cruz determina nosso jeito de nos relacionarmos com os outros. Só é cristão aquele que ama, e amar significa dar a vida. Para quem se diz cristão esse amor o leva a dar a vida por todos, também por aqueles a quem desde um sentimento humano não daria sua vida. Esse é o diferencial de Jesus, que se entrega até por aqueles que o crucificam, e esse deveria ser o diferencial de quem quer caminhar com o crucificado-ressuscitado. Mas a gente faz parte daqueles que não entendem e não aceitam esse dar a vida por amor. Nós somos aquele que não aceita que o Mestre lave seus pés, pois isso lhe compromete diante dos outros a fazer a mesma coisa. Nós somos aquele que nega, que se desentende de quem tem fundamentado sua vida e diz não conhecer quem era sua referência de vida. Nós somos aqueles que ocultos na multidão, hoje poderíamos dizer ocultos nas redes sociais, riem e fazem chacota dos crucificados. Os crucificados de hoje deveriam nos levar a ter sentimentos de compaixão, sem condenar a quem muitas vezes foi condenado injustamente. Nossa sociedade, nosso entorno está cheio de cruzes e de crucificados, que infelizmente se tornaram invisíveis para a maioria, que os ignora, que faz de conta que não tem nada a ver com eles, que se lava as mãos de novo. Como fazer memória hoje do Mistério que dá sentido à vida de Cristo e que deveria dar sentido a quem se diz discípulo e discípula dele? Como entender que aquilo que aconteceu quase dois mil atrás continua a acontecer hoje em tantos lugares, inclusive perto de nós? Como assumir que Jesus é mais do que um personagem histórico e que ele é uma figura que perpassa a história e a ilumina desde uma proposta diferente de entender a vida? Deus sempre nos dá oportunidades de parar e pensar, pensar na nossa vida, mas também refletir sobre aquilo que a gente tem em volta, sobre essas situações, sobre essas pessoas que tantas vezes passam despercebidas para a sociedade que ignora aqueles que estão jogados na beira do caminho. Mas também nos dá a oportunidade de nos questionarmos onde está o sentido de nossa vida, o que é que nos faz continuar caminhando e tendo esperança. Abre os olhos, enxerga os sinais de vida que estão ao seu lado, seja testemunha da vida, mas também lute pela vida em plenitude para todos e todas, também para aqueles e aquelas que hoje continuam sendo crucificados. É tempo de lutar pela vida e isso também depende da gente. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

Mauricio López: Etapa Continental, “uma semente que marca estas formas de ser Igreja, agora e no futuro”

A Etapa Continental do Sínodo 2021-2024, uma experiência sem precedentes na história da Igreja, chegou ao fim a 31 de Março. O coordenador desta etapa foi Mauricio López, que agradece ao Cardeal Grech a confiança para realizar este serviço, algo que assumiu há um ano, pouco depois de estar com o Cardeal Hummes, que considera um professor, um irmão, um pai espiritual, com quem se encontraram em Oxford precisamente num evento do Sínodo, quando o secretário do Sínodo esboçou este convite para poder realizar este serviço associado à etapa continental do Sínodo. Tecer juntos, numa experiência sem precedentes Mauricio recorda que o convite era “para acompanhar e apoiar a preparação desta fase sem precedentes”. Olhando para trás, diz que “o que mais me tocou foi que foi um convite para tecer juntos, para partir para uma experiência sem precedentes, em que o próprio Secretariado e ele próprio estavam a começar uma experiência sem precedentes”. O coordenador da Etapa Continental diz ter a impressão de que “houve uma avaliação muito positiva da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, com uma escuta extensa e também muito poderosa, e que por outro lado teve alguns sinais de começar com um discernimento comunitário com todo o povo de Deus”. Sublinha também que “foi impossível não se ligar à experiência do Sínodo Amazónico, que abriu um modelo de escuta tão amplo quanto possível, com a participação diversificada do povo de Deus nos processos sinodais”. Mauricio recorda o seu pedido muito explícito de ser um compromisso não publicado, querendo evitar uma forte distração do essencial, e juntamente com isto que o Cardeal Grech faça pessoalmente parte do processo, dada a complexidade das realidades das 7 regiões ou continentes, que ele considerava para além das suas capacidades ou experiência, apesar da sua experiência internacional na CVX. Em terceiro lugar, poder fazer este serviço a partir do Equador, o que significou reuniões frequentes de manhã cedo. Mauricio López recorda que comunicou com o Cardeal Hollerich, “com quem cresceu a proximidade e a amizade, dizendo-lhe que esta iniciativa não poderia ser com um modelo normalizado, com um modelo imposto de cima”, afirmando que o Cardeal Grech também teve esta visão. A partir da espiritualidade dos Exercícios de Santo Inácio, ele aponta a existência das anotações, “que são como um preâmbulo para aqueles que vivem os Exercícios e para aqueles que os acompanham, e há uma série de diretrizes para cuidar do processo espiritual. Não nos anteciparmos, não impormos demasiado quando acompanhamos, esperar quando a pessoa precisa de mais tempo, empurrar um pouco e encorajar quando é necessário fazê-lo”. Uma experiência de acompanhamento espiritual A partir daí, ele insiste que “toda a abordagem da Etapa Continental para mim, como coordenador do grupo de trabalho da Etapa Continental, tem sido uma experiência de acompanhamento espiritual“. Nas palavras de Mauricio López, “isto envolveu muitos desafios”, sublinhando que “no início, talvez devido à minha ingenuidade, presumi que talvez com as convocações do Sínodo, do Cardeal Grech, para cada um destes continentes e regiões, haveria uma resposta imediata e maciça, de todos os corpos que animam estas estruturas. A surpresa é que este não foi o caso”. De fato, ele não hesita em afirmar que “não só havia uma certa distância do processo, em alguns lugares devo dizer que havia uma certa objeção e noutros um receio do que poderia implicar, uma sobreposição com as tarefas essenciais destes continentes ou regiões”, algo que ele vê como “um apelo muito forte para colocar os pés no chão”, agradecendo àqueles que fizeram parte desta comissão pelo seu apoio: Susan Pascoe, da Austrália, que também teve uma grande experiência neste processo sinodal; Padre Giacomo Costa, que tem um papel fundamental no acompanhamento de todo o processo; Cardeal Grech e o apoio de dois jovens colaboradores, Maike Sieben, da Alemanha, e Pedro Paulo Weizenmann, do Brasil. Ele define a sua experiência como “uma experiência de confiança, de confiança no Espírito, de escuta, de escuta profunda das necessidades de cada uma destas regiões, continentes, de nos deixarmos desafiar pelas suas próprias necessidades, ritmos, possibilidades e de tecer processos sem precedentes”. Mauricio vê a experiência desta etapa como “um fato à medida, cada caso diferente, com dois elementos essenciais e indispensáveis que estavam presentes em todos os casos, em primeiro lugar o documento para a etapa continental como material de discernimento, o material essencial; em segundo lugar, o método de conversa espiritual porque era uma etapa de aprofundamento da escuta, uma escuta discernida do que o povo de Deus a nível universal já nos tinha expressado”. Uma experiência de interculturalidade Face à diversidade de culturas e realidades, tendo em conta a interculturalidade defendida pelo Sínodo da Amazónia, Mauricio López fala de “uma espiritualidade situada no quadro e no coração do povo de Deus em cada uma das regiões ou continentes“. Neste sentido, recorda que “ao colocar no mesmo lugar, com uma perspectiva de discernimento comum, aquela porção do povo de Deus em cada região ou continente, já existia uma experiência de interculturalidade”. Isto porque “não era comum em alguns casos que este tipo de encontro improvável tivesse lugar entre bispos e cardeais com o resto do povo de Deus, os leigos, mulheres, homens, religiosas, sacerdotes e diáconos, num diálogo em condições de igualdade, como irmãos e irmãs”. “A natureza da interculturalidade tem a ver com essa diversidade que estava presente, mesmo em alguns lugares com os diferentes ritos da Igreja Católica entrando em diálogo“, diz o coordenador da Etapa Continental. A isto se acrescenta “a interculturalidade que implica as vozes das periferias, a expressão também de toda esta diversidade de ministérios, com dinâmicas e realidades muito particulares, mesmo em continentes bastante pequenos em dimensão como a Europa, estamos a falar de 39 conferências episcopais, 45 países, onde era evidente que as realidades culturais do Oriente, às realidades culturais da Europa Ocidental eram muito marcadas, e este método, de certa forma, encurtou distâncias e, de alguma forma, facilitou um diálogo que de outra forma não teria acontecido”. A…
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Dom Leonardo: “O caminho na Semana Santa: nos deixarmos tomar pelo mistério da morte como plenitude da vida”

Com a celebração dos Ramos iniciamos com a Semana Santa, disse Dom Leonardo Steiner no início da homilia deste domingo. Segundo o Arcebispo de Manaus, “com o Domingo dos Ramos meditamos, contemplamos, nos confrontamos com a verdade maior de nossa fé: Deus feito igual a nós, Deus morrente, na morte, amante! Em Jesus de Nazaré que hoje entra solenemente na cidade de Jerusalém, celebramos Deus da nossa humanidade e fragilidade. Na nossa fragilidade e pecado, abre-se o horizonte de sermos amados até o fim”. No relato da paixão segundo Mateus, a humanidade é tal que “sofre a condenação e a morte”, afirmou o Cardeal Steiner. Lá aparece “Deus sofredor, Deus dor, Deus que morre; Deus humildade, Deus humanidade, Deus que morre; Deus paixão, Deus sem razão, Deus que morre; Deus solidão, Deus sem ação, Deus que morre”. Ele lembrou do grito desesperado e desesperador de Jesus que ainda ecoa nos nossos ouvidos: “Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste”.  O Arcebispo denunciou que “ecoa ainda na voz de Jesus o grito da humanidade abandonada em não compreender o abandono do Pai em tantas situações desesperadoras. Grito e gemido de não compreender, de querer entender o porquê do abandono no sofrer. E, no entanto, como Jesus, no abandono, nos abandonamos em suas mãos. No não mais compreender, no não mais saber, também nós nos abandonamos e entregamos a Ele o nosso espírito”.  Citando o Comentário aos Salmos de Santo Agostinho, Dom Leonardo lembrou: “Despertemos, pois, e estejamos vigilantes na fé. Consideremos aquele que assumiu a condição de servo, a quem há pouco contemplávamos na condição de Deus; tornando-se semelhante aos homens e sendo visto como homem, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte (cf. Fl 2,7-8). E quis tornar suas as palavras do salmo, ao dizer, pregado na cruz: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Sl 21,1). Ele ora na sua condição de servo, e recebe a nossa oração na sua condição de Deus; ali é criatura, aqui o Criador; sem sofrer mudança, assumiu a condição mutável da criatura, fazendo de nós, juntamente com ele, um só homem, cabeça e corpo. Nossa oração, pois, se dirige a ele, por ele e nele; oramos juntamente com ele e ele ora juntamente conosco”. Sobre a pergunta de Jesus: “Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste?”, o Arcebispo de Manaus citou as palavras do Papa Francisco na Homilia do Domingo de Ramos de 2020: “É uma frase impressionante. Jesus sofrera o abandono dos seus, que fugiram. Restava-lhe, porém, o Pai. Agora, no abismo da solidão, pela primeira vez designa-o pelo nome genérico de «Deus». E clama, «com voz forte», «porquê», o «porquê» mais dilacerante: «Porque me abandonaste também Tu?» Na realidade, trata-se das palavras de um Salmo (cf. 22,2), que nos dizem como Jesus levou à oração inclusive a extrema desolação. Mas, a verdade é que Ele a experimentou: experimentou o maior abandono, que os Evangelhos atestam reproduzindo as suas palavras originais. Por que tudo isto? Uma vez mais… por nós, para servir-nos. Porque quando nos sentimos encurralados, quando nos encontramos num beco sem saída, sem luz nem via de saída, quando parece que nem Deus responde, lembremo-nos que não estamos sozinhos. Jesus experimentou o abandono total, a situação mais estranha para Ele, a fim de ser em tudo solidário conosco. Fê-lo por mim, por ti, por todos nós; fê-lo para nos dizer: «Não temas! Não estás sozinho. Experimentei toda a tua desolação para estar sempre ao teu lado». Eis o ponto até onde nos serviu Jesus, descendo ao abismo dos nossos sofrimentos mais atrozes, até à traição e ao abandono”. Ao elo da primeira leitura, Dom Leonardo Steiner destacou que “no auge da dor e da destruição da humanidade Jesus entra na intimidade do Pai, exclama, grita não me abandones, de ti vim, para ti desejo voltar, não me abandones. E não o abandonou. Mais humano Deus não poderia ser. No grito de Jesus ouvimos nossa humanidade desesperada, na dor, na fome, na guerra, na morte, em fuga”. Já na segunda leitura, o Cardeal nos faz ver que Paulo “nos trazia aos nossos olhos a presença de Deus que se fez um de nós, como nós, o Deus feito homem!” “Assim é Deus-cruz no qual reluz a nossa humanidade”, afirmou seguindo as palavras de São Paulo na carta aos filipenses, insistindo em que “Deus esvaziou-se, não se assegurou na sua divindade, mas se humilhou, trilhou o caminho da morte, se fez morte. E, assim, Ele se torna para nós o nome mais sublime: Deus-homem, homem-Deus, o homem que veio dar razão à nossa finitude humana, iluminar nossas dores e desilusões”.  É por isso, que o Cardeal insistiu em que “nada de mais nosso, mais próximo de nós, como nós, em nós que o Homem Jesus que hoje entra em Jerusalém para padecer a condenação, sofrer a paixão e morrer na cruz. Ninguém mais humano, mais homem, mais humanidade que o Crucificado”.   “E, n’Ele nos vemos, n’Ele nos lemos, n’Ele nos cremos partícipes da mesma sorte, isto é, da mesma morte. Na mesma morte, na mesma sorte de penetrarmos o mistério da dor e da morte. Mistério da dor e da morte no qual nos movemos todos os dias, ora com mais intensidade, ora com maior suavidade. Mas sempre envoltos por esse mistério incompreensível. E hoje ouvindo as palavras de Paulo e ouvirmos e vermos a dor, o sofrimento, a condenação, a exaustão do Filho do Homem até a morte, nos voltamos para esse mistério com maior reverência. Reverência, isto é, com maior abertura, maior acolhimento, por vermos no Filho do Homem o caminho da completa abertura e reverência em relação com o Pai. Por mais que não percebemos o caminho da liberdade”, destacou o Arcebispo de Manaus. “Esse será nosso caminho na Semana Santa: nos deixarmos tomar pelo mistério da morte como plenitude da vida”, ressaltou Dom Leonardo. Segundo ele, “esse jogo de morte no qual Deus mesmo se inseriu e experimentou como grandeza, porque amor. Grandeza…
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Domingo de Ramos: Contemplar o rosto de Jesus no rosto dos sofredores de hoje

Com motivo da Solenidade do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Ir. Cidinha Fernandes afirma que “certamente muitas memórias retornam a nós: as caminhadas, os ramos verdes, muitas vezes medicinais, carregados por nossos pais, avós; a intrigante imagem do jumentinho, o contraste de uma entrada triunfal em Jerusalém em que Jesus é aclamado rei do universo, seguida logo depois com a proclamação da paixão do Senhor”. A religiosa Catequista Franciscana faz um convite a que “abramos o nosso coração para iniciarmos esta semana santa caminhando com Jesus que adentra a cidade de Jerusalém, ali contemplaremos o mistério pascal, sua Paixão, Morte e Ressurreição”. Analisando a passagem do Evangelho de Mateus 21, 1-11, a religiosa diz que “nos conta o início deste caminhar, Jesus é aclamado pela multidão que, reconhecendo sua realeza enfeitam o caminho com suas vestes e ramos de oliveiras gritando: ‘Hosana ao filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!’ Ao entrar em Jerusalém a cidade se agita e começa a perguntar ‘Quem é este homem?’”. “A resposta a esta pergunta vamos encontrar nas leituras de Isaias, Filipenses e na narração da paixão”, afirma a religiosa.  Segundo ela, “em Isaías, já podemos ouvir o servo sofredor, sua dor e fidelidade, a confiança num Deus que é auxiliador. E o que dizer da Carta de São Paulo aos Filipenses, uma verdadeira descida a essência de quem é este Jesus: convite ao esvaziamento, o assumir a condição de servo, a humilhação, obediência até a morte de Cruz. Este é o Jesus que é o Senhor. O servo obediente, o rei do jumentinho da paz e não dos cavalos de guerra”. Falando do relato da Paixão, a Ir. Cidinha repara na frase: “Meus Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”, destacando que “a Palavra de Deus nos convida neste domingo a um profundo silêncio, um silêncio necessário diante da morte anunciada de um inocente; o silêncio para compreender a multidão que aclama que Jesus é Rei e do esquema político que o leva a morte; o silêncio acolhedor de um Jesus, o servo sofredor que é obediente ao pai, até o fim”. A religiosa destaca que “nesta semana vamos caminhar de forma orante com Jesus, contemplando o seu rosto no rosto dos sofredores de hoje: os povos originários na luta e defesa da casa comum, imigrantes, famintos de pão, mulheres vítima de tantas formas de violência, jovens sem estudo, trabalho ou falta de sentido de vida, desempregados, refugiados, as vítimas da guerra…e tantos outros e outras”. Ela pergunta: “Vamos buscar na realidade da nossa comunidade, do nosso bairro, da nossa cidade, quem precisa de nós? Com quem estou disposta a caminhar até o calvário?” “Jesus, encontrou no caminho da Paixão e da Cruz pessoas solidárias, Cirineu, Verônica, Madalena, outras mulheres e Maria que não arredaram pé da Cruz, permaneceram com ele até o fim. Somos convocadas por Jesus a não abandonar os sofredores de hoje, precisamos permanecer firmes, não arredar pé, porque acreditamos na vida, somos mulheres e homens da Ressurreição.  Precisamos permanecer incansáveis, obedientes ao pai, até a aurora da Ressurreição”, lembra a Ir. Cidinha. Finalmente, ela deseja “uma boa caminhada de fé para todos nós e nossas comunidades. Que estejamos juntos, fortalecendo a fé, a esperança e o amor, fazendo a travessia da morte para a vida, porque a morte é uma realidade, mas a Ressurreição é nossa certeza!”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Missa dos Santos Óleos na Diocese de Borba

A Missa da Unidade – Santos Óleos da Diocese de Borba aconteceu neste último dia 30 deste mês de março de 2023. Todo o clero e paroquianos de todas as comunidades da Diocese reuniram-se na Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, também chamada de Catedral Ecológica borbense. Na celebração dois pontos marcaram o momento; a Benção dos Santos óleos, que são os óleos do Crisma, dos Enfermos e do Batismo e a Renovação das Promessas Sacerdotais na presença do Bispo Diocesano Dom Zenildo Luiz Pereira da Silva. O Óleo do Santo Crisma marca a plenitude do Cristão, que deve irradiar a presença do Espírito Santo, assim, com o perfume de Cristo, a mancha da culpa é apagada e a unção do Crisma traz a serenidade da purificação. O Óleo do Crisma é o Óleo da Alegria, assim declarou Dom Zenildo. O Óleo dos enfermos foi conduzido ao altar por um Diácono. Neste óleo, o Bispo Diocesano explicou que está a fortaleza do cristão em tempos de dor, cura dos enfermos e alívio em sua páscoa, e na bênção do Óleo do Batismo ou Óleo dos Catecúmenos, a prece oracional indicava o dom da força aos catecúmenos. No Batismo o cristão é confirmado na fé, recebendo a sabedoria e as virtudes divinas.   Na homilia feita por Dom Zenildo foi destacado “que a igreja de Cristo estava reunida para ouvir a voz do Senhor. Como operários colaboradores e servos, uma vez que a unção dos Santos Óleos perpassa pela cura, pela santificação e pelo serviço. O Bispo Diocesano frisou as “luzes desta nova Diocese como; a Escola Diaconal, a criação das Foranias, a abertura dos Congressos Forânicos em um Ano Vocacional que segue a cultura vocacional.” Assim, na Renovação das Promessas Sacerdotais, outro ponto forte do momento, os sacerdotes renovaram suas promessas presbiterais perante o Bispo e o povo de Deus. O presidente da celebração apontou que “o Sacerdote é convidado a viver o ministério profundo de amor.” “O padre tem que exalar o cheiro das ovelhas,” como disse o Santo Padre, o Papa Francisco. Assim como no evangelho, que Jesus inicia a vida pública dizendo“O Espírito do Senhor está sobre mim”. Dom Zenildo Também colocou que a celebração dos Santos Óleos concluiu dois dias de intensa oração, sonhos e projetos iluminados pelo Espírito Santo de Deus, recordando as reuniões do Clero, CRB e dos Vigários Forâneos que aconteceram nos dias 29 e 30 de março, para alinhamento das demais missões que ocorrerão neste semestre. Após a celebração, o Bispo Diocesano convidou toda a comunidade presente para um jantar de confraternização no Seminário Nossa Senhora Aparecida, concluindo assim o momento de verdadeira unidade fraternal. Diocese de Borba – AM  Coordenação Diocesana da Pastoral de Comunicação – PASCOM

Síntese Fase Continental na América Latina e Caribe: “Esperança crescente de um novo tempo para a Igreja”

“É possível caminhar com Cristo no centro e deixarmo-nos guiar pelo Espírito de Deus. Temos a esperança crescente de viver já um novo tempo para a Igreja“. Com estas palavras de um dos participantes da Fase Continental do Sínodo, começa a Síntese da Fase Continental do Sínodo da Sinodalidade na América Latina e Caribe, refletindo o entusiasmo que o processo suscitou. Uma síntese em 107 parágrafos, que reúne o que foi vivido numa Igreja de experiências participativas e que é alimentada pela diversidade social e cultural de cada região, o que motivou a realização de 4 encontros regionais nos quais participaram 415 pessoas, de acordo com a população de cada país e a diversidade dos ministérios eclesiais, reunindo 423 sínteses com intuições, tensões e temas a aprofundar, aos quais se juntou o resultado de algumas outras realidades. Os encontros foram marcados pela espiritualidade, um clima de encontro com Deus e um sentido de comunidade fraterna para além da diversidade. O que foi reunido foi utilizado para a elaboração desta síntese, realizada de 17 a 20 de março na sede do Celam, que foi feita com base no discernimento à luz do Espírito, cujo resultado foi apresentado aos secretários-gerais e presidentes das conferências episcopais, na presença do Cardeal Jean-Claude Hollerich S.J., relator do Sínodo; Dom Luis Marín de San Martín, subsecretário da Secretaria Geral do Sínodo; e o P. Giacomo Costa, coordenador da Comissão Preparatória do Sínodo. Começando pela Introdução, que aborda a questão de uma Igreja numa chave sinodal, e na qual se destaca a longa história da vida conciliar, sinodal e colegial no continente, o texto é dividido em 8 partes, tentando responder à pergunta da Secretaria do Sínodo: “como é que este ‘caminhar juntos’, que permite à Igreja proclamar o Evangelho, de acordo com a missão que lhe foi confiada, se realiza hoje a vários níveis (do local ao universal) e que passos nos convida o Espírito a dar para crescer como Igreja sinodal?”. O primeiro ponto da Síntese fala do papel de liderança do Espírito numa Igreja sinodal, que desde Pentecostes “a leva a fluir e a percorrer a história com relevância e significado e que a conduz pelos caminhos da renovação e do futuro”, encorajando-a a uma autêntica conversão, procurando superar “a tentação do intimismo, fundamentalismos e ideologias que nos fazem disfarçar de querer Deus quando são a busca de interesses particulares”. Num segundo momento, é abordada a sinodalidade do Povo de Deus, sempre num caminho de esperança, um povo peregrino “que percorre a vida em busca da felicidade”. A partir daí, insiste-se que “o Povo de Deus a caminho é o tema da comunhão sinodal”, sublinhando que “a sinodalidade ajuda-nos a ser uma Igreja mais participativa e corresponsável”. Uma comunidade de irmãos e irmãs, “chamados a ser sujeitos ativos, participando no único sacerdócio de Cristo”. A sinodalidade, como se afirma na terceira secção, é a forma de ser e de agir na Igreja, a partir da catolicidade de um rosto pluriforme, que tem como fonte de vida e inspiração para discípulos missionários, a Eucaristia, a Palavra de Deus, a religiosidade popular. Esta Igreja sinodal tem de assumir na sua forma de ser e agir um discernimento comunitário baseado na escuta mútua do Espírito e no diálogo verdadeiro e confiante, algo que tem como método de conversa espiritual, com o qual intuições, tensões e prioridades emergem, permitindo-nos falar livremente sobre questões desconfortáveis e dolorosas, numa experiência de relação horizontal. Uma Igreja missionária sinodal é o elemento presente no quarto ponto, que mostra a urgência de “estruturas que assegurem uma sinodalidade missionária, incluindo todos os membros da periferia”. Uma Igreja missionária ao serviço da fraternidade universal, que dá continuidade à “missão de Jesus, contribuindo para o crescimento do Reino”. Uma missão que não é proselitismo, é “a proclamação alegre e gratuita de Jesus Cristo e do seu mistério pascal a toda a humanidade, numa relação intercultural”, encarnando o Evangelho nas culturas através da participação de todos os batizados, superando uma Igreja preocupada em resolver problemas internos e uma evangelização centrada no pecado, que reconhece o papel da mulher na transmissão da fé. A quinta secção reflete sobre a sinodalidade como um compromisso socioambiental num mundo fragmentado. Isto baseia-se no fato de que a sinodalidade motiva a Igreja a sair de si mesma e a colocar a si própria e toda a sua missão ao serviço da sociedade. A realidade do continente é analisada, fragmentada, desigual, com marginalização e exclusão, com forte polarização ideológica e política, denunciando “o distanciamento das Igrejas locais da realidade”, perante o qual se mostra que uma Igreja sinodal é chamada a “ser uma Igreja mais profética e samaritana”, chamada a “ouvir o grito dos povos e da terra”, com um agir ecuménico e inter-religioso, que também deve ser levado a cabo no mundo digital. A conversão sinodal e a reforma das estruturas ocupam a sexta secção, uma dinâmica a que o Concílio Vaticano II apela e que o Papa Francisco recuperou, algo que provoca tensões, mas que também exige processos e espaços de escuta, diálogo e discernimento que conduzam a uma autêntica sinodalização de toda a Igreja, o que requer formação em diferentes áreas, também de seminaristas, e a obrigação dos diferentes Conselhos nas dioceses e paróquias. Vocações, Carismas e Ministérios numa chave sinodal é uma reflexão presente na sétima secção, insistindo na sua diversidade e no fato de que “a Igreja é um Povo profético, sacerdotal e de serviço real, onde todos os seus membros são súbditos”, com uma grande diversidade de ministérios. Isto exige “um profundo discernimento comunitário sobre quais os ministérios a criar ou promover à luz dos sinais dos tempos, especialmente entre os leigos”, que deve levar  a “participar nas instâncias de decisão aos leigos e, especialmente, as mulheres e jovens”, ajudando a superar o clericalismo, entendido como a expressão do autoritarismo clerical. Por esta razão, apela a um repensar do modelo de ministério ordenado. Finalmente, a oitava secção contém as contribuições do itinerário sinodal da América Latina…
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