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Ir. Michele Silva: “Optar por projetos de morte e violência é o mesmo que negar o próprio Cristo”

“Nos exercitarmos na acolhida e na compaixão ao nosso próximo, crescermos no amor e na misericórdia e transformarmos todos os julgamentos e preconceitos que nos dividem e nos diminuem como irmãos de caminhada” é o convite da Liturgia da Palavra no 31º domingo do Tempo Comum, segundo a Ir. Michele Silva. Analisando a passagem do Livro da Sabedoria, a religiosa afirma que “nos apresenta o rosto amoroso de Deus que tem compaixão e trata todos com bondade, corrige com carinho os que caem, porque é amigo da vida!”. Em relação com o Salmo, ela diz que “revela a ternura de Deus que abraça toda a criatura, por meio do seu amor, da sua paciência e compaixão”. “Na segunda carta de São Paulo aos Tessalonicenses, temos a chamada para o discernimento da comunidade diante da realidade, atenção para não se deixar influenciar por falsas revelações”, segundo a religiosa do Imaculado Coração de Maria. Ela destaca que “essa mensagem é muito atual frente as fake News e falsos projetos que experienciamos na campanha política. Neste segundo turno das eleições precisamos confrontar as propostas políticas com o Evangelho, como cristãs e cristãos precisamos escolher a vida do povo, a justiça, a democracia e o bem comum, optar por projetos de morte e violência é o mesmo que negar o próprio Cristo, que quer vida plena para todas e todos!”. Analisando a passagem do Evangelho segundo Lucas, a Ir. Michele diz que “nos traz o relato de Zaqueu, um chefe dos cobradores de impostos muito rico e corrupto que faz a experiência da misericórdia de Jesus. O texto diz que subiu na figueira para ver Jesus, essa baixa estatura pode se referir a sua falta de dignidade, a exclusão da sociedade por cometer fraudes com o dinheiro do povo, mas Jesus tem sensibilidade e olha Zaqueu sem julgamentos, vai a sua casa e acolhe o seu arrependimento sincero e propósito de mudança de vida”. Trazendo as palavras do Evangelho de Lucas para a realidade, a religiosa coloca que “todas as pessoas devem reconhecer a sua fragilidade humana, entrar neste processo de conversão permanente e acolher a misericórdia de Deus em suas vidas”. Isso pelo fato de que “Jesus nos convida a prática do amor e da compaixão”, afirmando que “O filho do homem veio procurar o que estava perdido”. Diante disso, a Ir. Michele Silva diz que “nós devemos seguir o seu testemunho, na acolhida, no perdão e no reconhecimento de nossa pequenez!” Finalmente ela lembra a celebração neste domingo do Dia Nacional da Juventude, “trazendo presente o dinamismo e ousadia dos nossos jovens, buscando construir um caminho conjunto que valorize e empodere a nossa juventude na Igreja e na sociedade”. Junto com isso, a Ir. Michele deseja uma abençoada semana e faz um chamado a votar com consciência.   Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Walmor: “Vamos a dar um basta aos sentimentos que estão contaminando o processo eleitoral”

Brasil realiza neste domingo 30 de outubro o segundo turno das eleições. Nesse dia serão eleitos os governados que não ultrapassaram 50% dos votos no primeiro turno e o novo Presidente da República, cargo al que concorrem o atual Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro e o Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diante da atual conjuntura e em vista do segundo turno da eleição, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou uma mensagem em vídeo onde faz um chamado para que “haja paz, serenidade e esperança”. O Presidente do episcopado começou lembrando as preces do Papa Francisco na audiência da última quarta-feira 26 de outubro, em que ele pediu a Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, “que nos livre do ódio, da intolerância e da violência”. Enfaticamente, Dom Walmor pediu para “dar um basta aos sentimentos que estão contaminando o processo eleitoral, dividindo famílias, rompendo amizades”. O Arcebispo de Belo Horizonte lembrou de situações que estão acontecendo nos últimos dias, afirmando que “até templos foram profanados com sacerdotes a serviço do altar desrespeitados, situações graves que revelam a ausência de senso crítico, uma cega idolatria a pessoas, inviabilizando o adequado exercício da cidadania”. São vários os padres, inclusive bispos, que têm sido atacados dentro das igrejas pelo fato de defender a democracia e os pobres, mesmo sem citar o nome de nenhum dos candidatos. Nessa conjuntura, o Presidente da CNBB fez um “convite para o exame de nossas atitudes, verificar se de fato a coerência com o Evangelho, o Evangelho de Jesus, que nos pede compromisso com amor fraterno, a não violência, o incansável amor aos pobres e excluídos”. Dom Walmor insiste em sua mensagem que “a nossa reverência de discípulos não pode ser dedicada a este ou aquele candidato, ao mercado ou ao dinheiro, mas a Jesus Cristo, o Único Mestre, o Príncipe da Paz”. Finalmente, “em profunda unidade com a mensagem do Papa Francisco”, Dom Walmor suplica “à Mãe Aparecida interceda pelo povo brasileiro, livrando-nos do ódio, da intolerância e da violência”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

“Alarga o espaço da tua tenda”: horizontes para o avanço da sinodalidade na Etapa Continental

Quando falamos de sinodalidade, pensamos sempre em caminhar juntos, em criar espaço para os outros. Uma atitude que nos deve levar a ouvir um pedido: “Alarga o espaço da tua tenda“. A frase do profeta Isaías dá o título ao Documento de Trabalho para a Etapa Continental (DEC) do Sínodo sobre a Sinodalidade (Baixar aqui o Documento em português), apresentado a 27 de outubro pela Secretaria do Sínodo. Um Sínodo que avança, como dizem as primeiras palavras da introdução ao Documento, com uma participação que superou todas as expectativas, em que milhões de pessoas em todo o mundo estiveram envolvidas, consideradas “verdadeiros protagonistas do Sínodo“, querendo ajudar a concretizar ” aquele ‘caminhar juntos’ que permite à Igreja anunciar o Evangelho”. Um processo que “alimentou neles o desejo de uma Igreja sempre mais sinodal“, que deu um rosto concreto à sinodalidade, o que podemos dizer sem medo é o desejo do Papa Francisco. De tudo o que foi vivido, são dados exemplos concretos no texto, fruto de quase duas semanas de intenso trabalho de uma equipe de especialistas, que não quiseram produzir um documento “mas abrir horizontes de esperança para o cumprimento da missão da Igreja”. Para o fazer numa tenda que “é um espaço de comunhão, um lugar de participação e uma base para a missão“. O Documento está dividido em 4 capítulos, começando com “uma narração, à luz da fé, da experiência de sinodalidade vivida até aqui, com a consulta ao Povo de Deus”. Um segundo capítulo que “oferece uma chave para uma interpretação dos conteúdos do DEC à luz da Palavra”. Um terceiro momento para articular palavras-chave e frutos da escuta em torno de 5 tensões: a escuta, o impulso para a missão, um estilo baseado na participação, a construção de possibilidades concretas para viver a comunhão, e a liturgia. Finalmente, um olhar para o futuro, numa perspectiva espiritual e metodológica. Um caminho pelo qual é necessário ler o DEC “com os olhos do discípulo, que o reconhece como o testemunho de um percurso de conversão para uma Igreja sinodal”. O Documento da voz “às alegrias, às esperanças, aos sofrimentos e às feridas dos discípulos de Cristo”, recolhendo com vários exemplos “os frutos, as sementes e as ervas daninhas da sinodalidade“, resultantes do método de conversação espiritual. Mas também não se escondem as dificuldades em avançar no caminho da sinodalidade, entre elas ” os medos e as resistências da parte do clero, mas também a passividade dos leigos, o seu temor a exprimir-se livremente”, bem como escândalos como os abusos ou guerras em alguns países. Um Documento que destaca, e isto é a chave para progredir na sinodalidade, “a dignidade batismal comum”. Isto numa experiência que traz novidade e frescura, o que ajuda a recuperar a identidade. Elementos peneirados da escuta das Escrituras, onde a Igreja aparece como uma tenda, no centro da qual está o tabernáculo, a presença do Senhor, apoiada por estacas que estão a ser estabelecidas em terreno novo, e que se ergue na base de um discernimento correto. Uma tenda que se alarga quando acolhe outros, dá lugar à diversidade, o que ajuda a construir “relações mais ricas e laços mais profundos com Deus e com os outros“. Isto em vista de avançar “a uma Igreja sinodal missionária“, que se concretiza numa “Igreja global e sinodal que vive a unidade na diversidade”, não se deixando envolver em conflitos e não se separando espiritualmente. O que se procura é ” uma Igreja capaz de uma inclusão radical, de pertença mútua e de profunda hospitalidade segundo os ensinamentos de Jesus”. Isto requer uma “escuta que se faz acolhimento”, aceitando “ser transformados por esta escuta”, ainda mais face à “falta de processos comunitários de escuta e discernimento”. Existem situações de preocupação: solidão e isolamento de muitos membros do clero, que não se sentem ouvidos, apoiados e apreciados; presença escassa da voz dos jovens no processo sinodal; falta de estruturas e formas adequadas para acompanhar as pessoas com deficiência. Mas há também experiências positivas: empenho do Povo de Deus na defesa da vida frágil e ameaçada em todas as suas fases; compreensão da sinodalidade como um convite para ouvir aqueles que se sentem exilados da Igreja (os divorciados e casados de novo, pais solteiros, pessoas que vivem em casamentos poligâmicos, pessoas LGBTQ). Daí surge o apelo a viver a missão como irmãs e irmãos, procurando o diálogo, também com aqueles que professam outra religião. Uma Igreja que sofre as mesmas feridas do mundo, o que leva a “o profundo desejo de ouvir o grito dos pobres e o da terra”. Sobre este ponto, reconhece a importância da Igreja nos “processos de construção da paz e reconciliação“, o desejo de avançar em profundo compromisso ecuménico, ainda mais face ao crescimento do número de famílias inter-religiosas e inter-religiosas. O DEC nota a diversidade dos contextos culturais em que a Igreja proclama a sua mensagem, com “declínio da credibilidade e da confiança de que gozam por causa da crise dos abusos”, mas também com cristãos que vivem o martírio. Um Documento que apela “a uma abordagem intercultural mais consciente”, desafiando a ” reconhecer, comprometer-se, integrar e responder melhor à riqueza das culturas locais, muitas das quais têm visões do mundo e estilos de ação que são sinodais”, com ênfase nos povos indígenas. Afirmando que “a missão da Igreja realiza-se através da vida de todos os batizados“, o Documento apela à “comunhão, participação e corresponsabilidade”, superando o clericalismo, definido como ” uma forma de empobrecimento espiritual, uma privação dos verdadeiros bens do ministério ordenado e uma cultura que isola o clero e prejudica os leigos”. Apela também a “repensar a participação das mulheres”, muitas vezes “na primeira linha das práticas sinodais”, salientando a necessidade de serem valorizadas e de entrarem em espaços de decisão, pedindo o acompanhamento da Igreja face ao sofrimento, que pode ser visto na pobreza, violência e humilhação. Isto numa Igreja com uma diversidade de “carismas, vocações e ministérios”, e exemplos de promoção da corresponsabilidade e do reconhecimento…
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Fé ou ideologia: se você é cristão pense o que lhe faz confirmar seu voto

Neste domingo o povo brasileiro está diante de uma eleição histórica, uma situação motivada por uma polarização que aumenta a cada dia e que nos depara com cenas impensáveis tempo atrás. Ninguém pode ignorar que o voto tem consequências e que a gente paga a conta daquilo que a maioria escolheu. Uma conta que nos acompanha durante 4 anos, mas que desta vez poderia se perpetuar por muito mais tempo. Graças a Deus no regime democrático o povo pode fazer suas escolhas, sempre legítimas, mesmo que elas não agradem todo mundo e muita gente diga que o povo não sabe votar. Isso de não saber votar deveria levar a sociedade brasileira, também as igrejas a se questionar sobre a pouca importância que a maioria da população brasileira dá à Política, mas Política com P maiúsculo, que é aquela que se preocupa em fazer realidade um mundo melhor para todos e todas, e não só para quem está na panelinha. Um dos elementos que tem dominado a campanha política, sobretudo no segundo turno, é a corrida dos candidatos à Presidência da República atrás do chamado voto religioso, um elemento que está sendo objeto de análise, inclusive fora do Brasil. Em um país laico, mas com um forte sentimento religioso, a fé tem se tornado objeto de disputa. Fé e ideologia como algo que deve nos levar a refletir e nos questionar o que domina na nossa vida, inclusive na vivência da nossa relação com Deus, em nossa religião. Tenho certeza de que as palavras do Papa Francisco na audiência geral de ontem, 26 de outubro de 2022, quando ele disse: “Peço a Nossa Senhora Aparecida que proteja e cuide do povo brasileiro, que o livre do ódio, da intolerância e da violência”, tem provocado múltiplas reações de ódio, violência e intolerância em muitos brasileiros, inclusive em muitos que se dizem católicos. Aí a gente se questiona o que impera na mente de muitos “católicos”, e sublinho católicos entre aspas, na hora de tomar decisões em sua vida, também na hora de confirmar seu voto. Se deixam guiar pela fé? As palavras da Igreja, do Papa, levam à reflexão ou provocam sentimentos de ódio, de intolerância, de violência? Será que a ideologia, ideologizamos até as palavras do Papa, mesmo que elas sejam uma súplica à Padroeira do Brasil, domina nossa fé? As ideologias exacerbadas têm provocado sofrimento ao longo da história. Quando nós olhamos o decorrer histórico, podemos comprovar que aquilo que é conhecido como guerras de religião, na verdade não tinha nada a ver com a fé e sim com ideologias ou interesses políticos que foram distanciando pessoas com um sentimento religioso inspirado no Deus cristão. É bom lembrar o mandamento fundamental do cristianismo, amar a Deus e ao próximo. Quando a gente vive desde a fé, o amor prevalece e faz realidade a fraternidade, quando a gente vive desde ideologias exacerbadas, o ódio, a intolerância e a violência tomam conta da sociedade e das igrejas. Por isso é bom se questionar sobre o que está falando mais alto no coração de cada um, de cada uma. As escolhas que nascem da fé não enfrentam, algo que tem que nos levar a entender que se você confirma na urna com um sentimento de ódio, você já ficou longe de Deus, mesmo se achando o melhor dos cristãos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

Cardeal Steiner: “Olhando para o Padre Cícero nós sabemos como viver o Evangelho”

Um dos momentos que despertou maior emoção na beatificação da Bem-aventura Benigna Cardoso, realizada no dia 24 de outubro de 2022 na cidade do Crato (CE), foi quando o Cardeal Leonardo Steiner, representante pontifício para a cerimônia, disse que “a inocência, a pureza (da Bem-aventurada Benigna), abrirá o caminho para celebrarmos a Padre Cícero Bem-aventurado e depois santo”, mais um exemplo do que representa para a religiosidade do povo nordestino a figura do Servo de Deus Padre Cícero. Aos pés do tumulo do Padre Cícero Romão Batista, na Capela de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, um dos locais que concentra os devotos que cada dia chegam em Juazeiro do Norte (CE), o Cardeal Steiner presidia a Eucaristia das 7 da manhã deste 25 de outubro de 2022. Ele ressaltou que “é sempre uma alegria e um consolo podermos celebrar junto ao túmulo do Padre Cícero, ele que foi um homem fiel à Igreja, foi obediente, ele que sempre esteve juntos dos pobres, ele que nunca se esqueceu de dar uma palavra de consolo e de incentivo. Olhando para ele nós sabemos como viver o Evangelho”. Na homilia o cardeal afirmou que “nós recebemos o Batismo, a vida de Deus, e ela vai transformando a nossa vida, vai nos santificando, vai nos tornando pessoas mais disponíveis, pessoas mais amorosas, pessoas mais próximas, pessoas mais de família”. Ele mostrou como é bonito “quando nós percebemos que Jesus e a sua Palavra são verdadeiro fermento na nossa vida e vamos nos tornando cada vez mais pessoas com o jeito de Jesus”. O cardeal Steiner, comentando a primeira leitura da Liturgia da Palavra do dia, afirmou que “é o amor o que determina a relação entre homem e mulher, um não é mais do que o outro, é o amor que conduz, é o amor que cuida, é o amor que vela, é o amor que transforma, é o amor que perdoa, é o amor que sempre ali está de novo e vai maturando essa relação”. O representante pontifício na beatificação da primeira bem-aventurada do Ceará, disse ficar “sempre admirado com o Padre Cícero porque foi um homem obediente à Igreja. Não podia mais celebrar, ele aceitou, mas não deixou de ser padre, não deixou de abençoar, não murmurou, não atacou, não ficou violento, foi um homem de paz”. Dom Leonardo enfatizou que “suspenso das suas funções ele continuou fiel à Igreja, continuou fiel inclusive ao bispo”, descrevendo-o como “o homem da semente pequena, do grão de mostarda e do fermento”. “Ele soube se deixar levedar, ele soube se deixar transformar, e se tornou para nós um sinal, até poderíamos dizer se tornou para nós um verdadeiro alimento”, uma afirmação que cobra sentido quando nós vemos a fé que o povo nordestino tem no Padre Cícero Romão Batista. Dom Leonardo fez um convite a ler todo dia a Palavra de Deus, a nos deixar transformar pela Palavra de Deus. Ele afirmou que “nós as vezes não percebemos, mas a Palavra que vamos lendo, ela vai nos transformando”, como um instrumento que faz com que cresçamos em santidade. Um ler a Palavra de Deus que nos faça uma árvore frondosa, um alimento de consolo, de esperança, de fortaleça para os irmãos e irmãs. O cardeal insistiu em descobrir a Palavra como aquilo que nos ajuda a descobrir nas famílias, “o amor como lugar do perdão”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 

Cardeal Steiner beatifica a menina Benigna, “defensora da dignidade da mulher, ícone contra o abuso sexual de crianças e adolescentes”

No dia em que completou 81 anos de seu martírio, a cidade do Crato (CE) acolheu a cerimônia de beatificação de Benigna Cardoso da Silva, a menina de 13 anos assassinada a facadas ao defender-se do assédio sexual de um jovem, algo que já tinha acontecido repetidas vezes, enquanto ia buscar água numa cacimba próxima do lugar onde morava. Uma adolescente que é considerada um símbolo da luta contra o feminicídio e o abuso sexual de crianças e adolescentes.   Nascida em Santa do Cariri (CE) aos 15 de outubro de 1928, órfã de pai e mãe com um ano de idade, os poucos dados biográficos conhecidos dizem que ela era fiel assídua às missas na Igreja Matriz da cidade. Seu assassinato causou grande comoção e no local do crime, onde logo foi construída uma pequena capela, e seu sepulcro se tornaram pontos de visitação.   O representante do Papa Francisco na cerimônia de beatificação, concelebrada por mais ou menos 20 bispos, centenas de padres e que contou com a presença de milhares de devotos da nova beata, foi o Cardeal Leonardo Steiner, que se mostrou surpreendido pela nomeação. O Arcebispo de Manaus, que disse estar muito feliz de poder presidir uma celebração importante para o Ceará e para a Igreja no Brasil, definiu a nova beata como “uma menina que mostra o valor da mulher, a dignidade da mulher, mas mostra também o grande amor a Jesus”.   O cardeal destacou em Benigna “como foi fiel no seguimento de Jesus”, e como ela representa “a integridade da mulher, a dignidade da mulher. Mesmo sendo morta, ela mostra o que significa uma mulher que tem dignidade, ela preserva sua dignidade, ela luta pela sua dignidade”, uma atitude que definiu como “um grande ensinamento diante do feminicídio e diante do abuso de crianças e adolescentes”, considerando-a como a bem-aventurada que pode nos ajudar na superação desses crimes.   O Arcebispo de Manaus destacou o amor da Beata Benigna pela Palavra de Deus, pelas histórias da Sagrada Escritura. Também o fato dela cuidar das tias que a adotaram junto com seus irmãos e o fato de não sair do local onde morava, mesmo diante dos conselhos para fazer isso, para continuar cuidando das tias. Nesse sentido, ele disse poder considerar a nova beata como “a mártir do cuidado”.   Em sua homilia, lembrando as circunstâncias da morte e a passagem do Evangelho lida na celebração, onde relata o encontro de Jesus com a Samaritana no poço de Siquem, o Arcebispo de Manaus definiu a fonte como o lugar “onde se encontra a água que preserva e concede vida, sacia a sede de todos”, enxergando na nova beata “a mulher-menina que vai ao poço em busca de água que a fez percorrer o caminho do serviço, da dignidade, da santidade”. Alguém que “foi à fonte, em busca de água”, para quem o “lugar da água, da vida, tornou-se lugar da agressão, da violência, torna-se lugar da morte. Lugar da morte, fonte de resistência, de transparência, de fortaleza, de dignidade. Junto à fonte, Benigna oferece a sua vida na fidelidade a Jesus”.   Em Benigna, Dom Leonardo destacou que “desde cedo a Palavra e a Eucaristia foram bebida e alimento! Dessa fonte recebeu forças para perseverar, resistir, temperar-se, permanecer fiel aos desejos do seu coração”. Também que no fato de participar da comunidade e no cuidado das tias doentes, “cresceu na bondade, na generosidade, no cuidado das pessoas idosas, aprendeu na infância a amar Jesus! O seu amor, a sua misericórdia, a levou ao martírio”.   Nela, o Cardeal Steiner vê, seguindo o Livro do Cântico dos Cânticos, “um amor fiel, límpido, puro, virginal”, insistindo em que “o amor vence a morte. Na morte vemos e percebemos a grandeza transparente e forte do amor benigno, a suavidade, a ternura de Deus”. Um amor que “na morte supera transparentemente as paixões e deixa nascer e ver o amor puro e casto”, seguindo as palavras de São Paulo, que ressoam “diante da brutalidade, mesmo dos nossos dias em relação às crianças abusadas e o feminicídio”.   Um elemento destacado pelo Arcebispo de Manaus foi o arrependimento do homem que levou Benigna à morte. Segundo ele, “a pureza e a força conduzem o jovem à reconciliação, à conversão. O admirável que ele a busque como intercessora e é atendido”, insistindo em que “não há vingança, indiferença, rejeição, mas acolhimento de um homem arrependido”.   Uma Bem-aventurada que Dom Leonardo vê como “indicadora e defensora da dignidade da mulher”. Benigna é “exemplo de não subjugação das mulheres, defensora da própria força e valor, da dignidade e da beleza, da sexualidade e da maternidade, do vigor e da ternura. Preferiu a morte que a paixão, preferiu a morte que romper com a sua dignidade”. Alguém que “hoje contemplamos e invocamos a bem-gerada da Palavra de Deus, da Eucaristia, do cuidado às pessoas necessitadas, como defensora da dignidade de mulher, como ícone contra o abuso sexual de crianças e adolescentes, como a menina da misericordiosa no cuidado para com as pessoas idosas, como indicadora do caminho da pureza, da liberdade, da santidade”.   A ela pediu o Cardeal Steiner que proteja e interceda por nossas crianças e adolescentes, que “as nossas crianças sejam cuidadas e amadas, as nossas adolescentes, respeitadas e maturadas. Ajuda-nos a superar o sofrimento dos abusos sexuais e do feminicídio. O teu nascimento no martírio, a tua presença transparente, ó Bem-aventurada, nos desperte para a dignidade da mulher e a superação do abuso das crianças e adolescentes!”.   Uma beatificação que já está rendendo frutos, pois no mesmo dia em que ela aconteceu, “é sinal de esperança a instalação do Juizado de Violência Doméstica e familiar contra a Mulher na Comarca de Crato. Tudo para a celeridade na tramitação dos feitos e também para garantir os direitos fundamentais das mulheres nas relações domésticas e familiares”, lembrou o cardeal.   Segundo ele, “Benigna nos anima a criar um ambiente familiar e social de cuidado, respeito e dignidade…
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Em Assembleia Sinodal, a Igreja de Manaus toma decisões “que vão ao encontro dos principais desafios da evangelização”

Agora é tempo de ser Igreja, caminhar juntos, participar. A letra dessa música tão presente na liturgia da Igreja no Brasil mostra que agora é tempo da Arquidiocese de Manaus continuar uma caminhada que vem de longe, com muitos momentos em que a comunhão já se fez presente. Uma caminhada enriquecida na Assembleia Sinodal Arquidiocesana, que ninguém pode esquecer começou em março de 2021 e foi recolhendo a vida do povo de Deus que vivencia sua fé na Igreja local de Manaus. Uma Assembleia que é motivo de satisfação e gratidão para o Cardeal Leonardo Steiner, grato àqueles que se reuniram de 21 a 23 de outubro de 2022, mas também à comissão que ajudou e trabalhou bastante, “tudo por amor à nossa Igreja”, para fazer realidade todo o processo sinodal vivenciado. Seu Arcebispo é consciente de que “a Arquidiocese de Manaus sempre teve uma vivência missionária, mas era necessário que todas as comunidades intentáramos ter algumas diretrizes ou linhas de ação”. Segundo Dom Leonardo o realizado na Assembleia Sinodal Arquidiocesana “não se trata de um Plano de Pastoral, que discutiremos na próxima Assembleia de Pastoral Arquidiocesana”, onde espera que “nós consigamos dar continuidade a esse mesmo modo de ser Igreja”. Uma Assembleia que refletiu sobre temas fundamentais na vivência da fé na Arquidiocese de Manaus, na Amazônia e na Igreja Universal: Missionariedade, Ministerialidade, Formação, Serviço à Vida, Ecologia Integral e Cuidado da Casa Comum, Solidariedade e Autossustentação, Comunicação, que tem ajudado na busca de caminhos e pistas de ação para tornar tudo isso uma realidade e que será concretizado nos próximos dias. No processo sinodal vivenciado na Arquidiocese de Manaus houve, segundo o Arcebispo, “um espírito que devagar foi perpassando e tem ajudado a nossa Igreja a ser cada vez mais uma presença consoladora, uma Igreja com presença samaritana, uma Igreja que deseja anunciar e ser a presença do Reino de Deus”. Um processo que faz com que a Igreja de Manaus possa dizer que tem “algo que nos ajuda a ver que as comunidades estão precisando disso”.  Mesmo consciente do muito trabalho pela frente, Dom Leonardo ressalta que “também existe muita disposição e muita disponibilidade por parte de todos”. Dando passos lentos, que com o tempo fara com que possa “se levar a efeito o que acabamos de acordar”. Uma Assembleia Sinodal que o Padre Geraldo Bendaham vê como “concretização do pedido do Papa Francisco, que pede que a Igreja faça realmente esse grande exercício de sinodalidade, de escuta”. Segundo o Coordenador de Pastoral Arquidiocesano, “com a participação de todos chegamos a algumas deliberações, que foram iluminadas pelo Espírito Santo. Discernimos e depois tomamos as decisões, que vão ao encontro dos principais desafios da evangelização da Igreja de Manaus”. Na linha de pensamento do Arcebispo, o Padre Bendaham enfatiza que “são passos que nós estamos dando, nada acontece de uma vez, porque não é uma decisão monocrática, não é uma decisão de uma organização, mas é a Igreja que é Mistério, Corpo de Cristo, Luz que vai marcando com a sua presença no meio da sociedade, sendo Reino de Deus. Passo a passo, pouco a pouco, com a graça de Deus e com a colaboração de tantos membros da Igreja, com o apoio dos bispos, vai se concretizando a sinodalidade na Igreja”. Um exemplo que ele espera “que sirva também para toda a Igreja universal e muitos possam se animar a acreditar que é possível caminhar juntos”. Um sentimento presente nos participantes da Assembleia, que segundo a Ir. Maria Irene Tondin, esperam “que nós como agentes das pastorais, a Vida Religiosa, sacerdotes, todo o pessoal participante da Assembleia, levamos para nossa reflexão, vivência e partilha nos nossos locais de atuação e trabalho”. Tudo isso, “com muita eficácia, com muito respeito, com muito cuidado, naquilo que juntos e juntas, a gente pode refletir, estudar e levar para a vida o que nós aprendemos, o que nos estudamos, o que nós escutamos, o que nós vivenciamos aqui nesta Assembleia Sinodal”. Uma Assembleia Sinodal que “é uma esperança muito grande de nós vivenciarmos e caminhar junto com o povo em todas as nossas territorialidades de missão aqui em Manaus”, afirmou Maria Rosália Consentine Gaspar. A membro da Comissão organizadora, diz ter “a esperança de que nós vamos a dar um grande passo na questão da evangelização e da missão da Igreja de Manaus junto com todo o povo cristão, reunido num só esperança”. Uma Igreja que tem uma caminhada, segundo o Padre Wolney Mourão. O Pároco da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora no Alvorada I, afirma que “as Assembleias de Pastoral Arquidiocesanas, já era uma caminhada sinodal, mas hoje nós percebemos que nossa Igreja, ela tem uma visão muito clara de uma Igreja que é enraizada no Evangelho encarnado na realidade amazônica, um Evangelho que nos leva a proteger a vida, a casa comum”. Uma Igreja que olhando para o futuro, “caminhará cada vez mais num processo profético de construção de vida, humanizando e trazendo cada vez mais Jesus próximo a toda a população amazônica com vida digna para todos”, enfatizou o Padre Wolney. Uma Assembleia que no campo da comunicação, “o principal é que a gente aprenda a caminhar tendo como base o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil”, segundo Adriana Ribeiro. Como membro das Pastoral da Comunicação Arquidiocesana, ela destaca que “se nós conseguirmos fazer isso, não só a Arquidiocese de Manaus vai fazer um bom trabalho, como isso tem repercussão em todo o Regional Norte1 da CNBB”. Uma Igreja próxima das questões indígenas, que já deu importantes passos com a Querida Amazônia, segundo o seminarista Michel Carlos da Silva. Ele, que é membro da Pastoral Indigenista Arquidiocesana, vê que “a Assembleia Sinodal da Arquidiocese de Manaus é de fato trazer esses sonhos que estão na Querida Amazônia para a realidade, a encarnação desses sonhos”. O seminarista reconhece que “dentro da pauta indígena nós demos passos importantes dentro da Arquidiocese de Manaus e a perspectiva é cada vez mais dar passos na encarnação dos sonhos do Papa Francisco…
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Dom Leonardo: “Nesse tempo de eleições percebemos quanto falta de humildade, de respeito, de mansidão, de escuta”

Dois homens sobem ao Templo para rezar: “um o bom, o correto, o certo; o outro o pecador, o cobrador, o coletador de impostos. Duas vidas, dois modos de vida, dois modos de prece. Dois modos de apresentar-se diante de Deus”, afirma Dom Leonardo Steiner comentando as leituras do 30º Domingo do Tempo Comum. O Arcebispo de Manaus afirma que “um o homem da lei-norma, aquele o certo, que vive corretamente; aquele que faz o que a Lei pede e prevê. O fariseu, o bom, o cumpridor da Lei de Moisés. Aquele que está quase acima do bem e do mal”. O cardeal lembra as palavras desse homem bom: “Eu não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda”. Segundo Dom Leonardo Steiner, “a reza é autossuficiente, o elogio de si mesmo para si mesmo. Não apenas sobe para o templo, ele sobe e se põe acima dos outros homens: dos ladrões, dos desonestos, dos adúlteros. Ele sobe e olha de cima para baixo e vê e julga os outros: são ladrões, desonestos, adúlteros. Ele sobe tanto e se põe acima e despreza o outro; o outro não passa de cobrador de impostos, desprezível”. Alguém que sobe nas próprias virtudes: “Eu jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de toda a minha renda”. Em palavras do Cardeal da Amazônia, “Ele é um homem íntegro, fiel, cumpridor da Lei, um exemplo a ser seguido. Ele basta a si mesmo, ele se tem a si mesmo. Ele chega subir no próprio conceito de si mesmo. Ele está acima do bem e do mal. Ele é o templo, a casa para onde ele sobe para render graças por tudo aquilo que ele é e faz. A sua prece é um autoelogio, uma auto incensação. Mas, a sua prece não sobe, rasteja pela terra, como fumaça em dia de chuva. A sua prece perdeu a suavidade: é sem brisa, sem leveza, sem asas. Ela não sobe, não toca a Misericórdia!”. “Os pecadores e necessitados de misericórdia são como o outro que era um cobrador de impostos”, destaca Dom Leonardo. Ele volta o olhar para “aquele que está a serviço do estrangeiro. O cobrador de impostos, aquele que se preocupa pouco com a Lei. Ele não é o justo nem o ajustado. Ele não tem nada para apresentar a seu Senhor e Deus a não ser a sua fraqueza e miséria”. “Quase tímido e temeroso permanece à entrada do templo. Não se atreve a erguer os olhos, apenas bate no peito e murmura: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador’”, afirma o Arcebispo de Manaus em relação com alguém de quem diz: “Pobre o homem que nem sequer eleva seu olhar; pobre o homem que não entra na casa de seu Senhor e Deus”. “No entanto, contemplando o cobrador de impostos ali parado, olhos por terra, batendo no seu peito, balbuciando, não percebemos nele timidez, nem altivez; nem mesmo vergonha, muito menos medo”, segundo o purpurado. Falando do publicano, ele o vê como aquele que “a sua condição é sem soberba, sem orgulho. Ele ali parado, sem movimento, num recolhimento, parece necessitado; é isso: tão contrito. Ele parece ali tão inteiro, tão verdadeiro, tão… sim, tão livre à entrada do templo. Ele é como os outros homens: ‘ladrões, desonestos, adúlteros, ele é o cobrador de impostos’. Ele não jejua ‘duas vezes por semana e não dá o dízimo de toda a minha renda’. Ele é o outro, não é aquele que a Escritura ensina que deveria ser. Ele é apenas ‘o cobrador de impostos’”. No cobrador de impostos “nada é aparência, tudo é transparência, pura transcendência”. Segundo Dom Leonardo, “esse homem ali tão reverente, tão penitente, é apenas pedinte. E, assim, pedinte e penitente, no recôndito de sua alma eleva a súplica: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ Uma contrição sem aflição, humilde, sem ser humilhado”.   O Arcebispo de Manaus insiste em que “não veio justificar, não veio barganhar, apenas suplicar. Não veio comparar, não veio demonstrar, apenas se apiedar. Sem aparência, na pura transparência contrita, reverente, livre prostrada, cuidada, recolhida na terra deserta de sua fraqueza, implora compaixão”. Daí que o cardeal ressalta que “quando se busca a misericórdia no amor, o suplicante na prece não se aproxima, permanece contrito na distância, à soleira. O necessitado de misericórdia, o tocado pela misericórdia, o atraído pela misericórdia ao suplicar recolhe os olhos, bate no peito, deixa entrever a nudez e a fragilidade”. Nessas pessoas estamos diante de alguém em quem “tudo é transparência de uma existência que se vê e se assume como traidora, como pecadora, como devedora. Devedora, pecadora, traidora quando tomado pela desmedida da misericórdia de Deus”, segundo o Arcebispo de Manaus. Um Deus que é a Misericórdia, “jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas”. Dom Leonardo afirma que “da desmedida amorosa e misericordiosa do Senhor que vela e cuida do órfão e da viúva, a desmedida que habita e é o templo, deixam vir à luz o recato e o pudor. O recato e o pudor, que despertam a reverência da distância e o recolher os olhos que não atrevem a tocar o céu. O recato e pudor de uma vida percebida na quase inutilidade a bater no peito e clamar: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’”. Recordando as palavras do Livro do Eclesiástico que fazem parte da primeira leitura do dia: “Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas. A prece do humilde atravessa as nuvens”, Dom Leonardo insiste em que “o publicano não é o cumpridor da Lei, é o pecador! Como pecador que se humilha, se apresenta diante de Deus. Sim, a prece humilde atravessa a nuvens chega ao coração…
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Assembleia Sinodal Arquidiocesana vai encontrando caminhos para definir as linhas da caminhada eclesial

Tudo aquilo que a Igreja faz deve levá-la a se tornar visibilização do Deus descido, uma reflexão que Dom Leonardo Steiner fazia na Assembleia Sinodal Arquidiocesana, que acontece de 21 a 23 de outubro, fruto de um processo iniciado em março de 2021. O Arcebispo insistiu em que o que mobiliza a Igreja é o Mistério, afirmando que “nossas estruturas não nos asseguram o Mistério de Deus”. Uma Assembleia que quer ajudar a descobrir a necessidade de não ficar em eventos e sim buscar linhas. Linhas que nascem do processo de escuta, que tem levado a descobrir a necessidade de “recuperar elementos da sinodalidade que não somente considerem o caminhar, mas também o Caminho”, segundo enfatizou o Padre Zenildo Lima. Isso para tratar de descobrir “as dimensões nas quais e às quais nossa presença de Igreja deve se intensificar, sinalizando o Reino de Deus mediante processos de ousadia missionária que se constroem em dinâmicas de solidariedade”. Elementos presentes na reflexão da Assembleia Sinodal Arquidiocesana de Manaus, onde os representantes foram avançando nos diferentes caminhos que querem ser trilhados. Isso na Missionariedade, no caminho da Animação Missionária e com a Juventude; nas Comunidades Eclesiais, no caminho para o fortalecimento das comunidades e a dinâmica ministerial; na Formação, no caminho para a dinâmica ministerial e a vida litúrgica; no Serviço à Vida, no caminho para a articulação das iniciativas; na Ecologia Integral, Cuidado da Casa Comum, no caminho para integrá-las em toda ação evangelizadora; na Articulação da Solidariedade e Autossustentação, no caminho da partilha. Caminhos que para serem trilhado precisam de pistas de ação, que a Assembleia Sinodal foi sugerindo de diferentes modos e que devem marcar a vida e a ação evangelizadora da Igreja de Manaus no futuro. Pistas de ação que ajudem a aprofundar ou descobrir elementos presentes ou novos, mas que sem dúvida devem ajudar na vivência da fé do povo de Deus que peregrina na Arquidiocese de Manaus. Um processo sinodal que Andrey Marcelo Braga Santos considera muito bom, destacando o fato de que “já começou lá atrás, nas comunidades, nas pastorais, em toda a Igreja, e agora culmina aqui nestes três dias de reflexão”. O representante da Pastoral da Juventude destacou que “aqui nós estamos entendendo que o caminho sinodal não é marcar atividades ou eventos, é um processo contínuo de caminhada”. Segundo Andrey, “isso interfere em nossa vida pastoral, que vamos traçar mecanismos para dar continuidade ao processo de evangelização de nossa Igreja, na missionariedade, com os povos indígenas e com a juventude”. Ele demandou a necessidade de que “nesta Assembleia Sinodal tem que sair como prioridade a evangelização da juventude como processo de escuta e acompanhamento dos jovens na Arquidiocese de Manaus”. Uma alegria e esperança também presente em Maria de Guadalupe de Souza Peres, que lembrou o processo sinodal vivido desde a convocatória da Assembleia, sua riqueza, destacando a perspectiva indígena, tão importante na região amazônica, “povos que entendem melhor do que ninguém este momento e sabe cuidar dessa nossa casa comum que a gente precisa tanto”. Junto com isso o trabalho das mulheres, maioria nas paróquias e áreas missionárias, nas pastorais, no grande trabalho que é feito, “são mulheres guerreiras que deixam sua família e vem se doar porque querem uma Igreja em saída, aberta, misericordiosa”. Uma Assembleia que “está plantando uma semente, sabendo que não é da noite para o dia que isso vai acontecer”, insistiu a representante das Pastorais Sociais. “Todo o caminho percorrido foi um caminho realmente de escuta, um caminho onde agregou muitas ideias, e hoje nesse desenrolar de nossa Assembleia Sinodal”, afirmou a Ir. Vera Luzia Altoé, que se sente feliz e agradecida pela primeira vez estar participando de uma assembleia sinodal. A religiosa, que faz parte da equipe de coordenação da Assembleia Sinodal Arquidiocesana, diz perceber “que existem muitas vidas e isso está sendo concretizado a través das escutas”. Ela destacou que “as pessoas estão realmente se conscientizando cada dia mais do valor da vida, do valor da comunicação, das nossas pastorais, dos nossos ministérios, e assim por diante”. Um grito que nasce dessa ecologia integral, insistindo em que “integrar toda essa ecologia já é uma missão evangelizadora muito grande”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Padre Zenildo Lima: “Recuperar elementos da sinodalidade que não somente considerem o caminhar, mas também o Caminho”

A Igreja de Manaus está acostumada com “uma caminhada de comunhão, e por conseguinte, expressão de sinodalidade”, segundo o Padre Zenildo Lima, lembrando uma história marcada pelas Assembleias Arquidiocesanas de Pastoral, realizadas há quase 40 anos. Assembleias determinadas pela “elaboração de um Plano de Evangelização com indicação de atividades pastorais bem específicas”, um elemento que faz com que “tem nos custado engrenar numa perspectiva que tem em vista muito mais horizontes, caminhos, processos”, insistiu o Reitor do Seminário São José. Nessa perspectiva, ele ressaltou a necessidade de “recuperar elementos da sinodalidade que não somente considerem o caminhar, mas também o Caminho”. Um caminho identificado com uma pessoa: “Jesus é o caminho, a verdade e a vida”. Tendo como fundamento o Caminho de Emaús, o Padre Zenildo retomou o caminho percorrido pela assembleia sinodal, reinterpretando-o à luz do caminho de Emaús. Trata-se de descobrir “as dimensões nas quais e às quais nossa presença de Igreja deve se intensificar, sinalizando o Reino de Deus mediante processos de ousadia missionária que se constroem em dinâmicas de solidariedade”. Discípulos que desiludidos, decepcionados, eles estão indo na direção errada, fugindo da comunidade dos apóstolos em Jerusalém. Segundo o Padre Zenildo Lima “Jesus não bloqueia o caminho deles, nem lhes diz para voltarem atrás. Eles farão isso livremente quando os tempos estiverem maduros. Em vez disso, ele caminha com eles”. Um desafio a ir para as periferias, segundo lembra o Papa Francisco, lembrando que no processo sinodal “nossas comunidades se reconhecem como comunidades missionárias, muitas delas nasceram de experiências missionárias e com espírito missionário”.  Um apelo missionário que desafia a chegar naqueles que se afastaram, “as famílias e particularmente a juventude despontaram novamente como um apelo missionário para nossas comunidades”, lembrou o padre. E fazê-lo do jeito de Jesus, que “não fala antes de escutar”. Ele vai descobrindo as magoas dos discípulos, magoas também presentes hoje naqueles que não se sentem entendidos pela Igreja, algo agravado durante a pandemia.  Corresponsabilidade na missão numa Igreja em estado permanente de missão, numa Igreja em saída, que no Documento Final do Sínodo para a Amazônia “apresenta-se como samaritana, misericordiosa e solidária, que serve e acompanha os povos amazônicos e se constitui um Igreja com rosto destes mesmos povos”, um chamado à inculturação. Uma escuta que mostrou “o quanto as comunidades são fundamentais no alcance das pessoas, em seu processo de conversão e sustentação da fé”, ressaltando que “as comunidades estão no centro da dinâmica evangelizadora e do caminho do discípulo missionário”. Nessa perspectiva foi ressaltado que “a fragilidade das comunidades compromete o trabalho da evangelização”. Daí a necessidade de desenvolver a “arte de conversar”, de entrar em contato com os argumentos de quem pensa diferente. Tendo como fundamento a Palavra, pela qual as comunidades sentem sede. “Ela é sustento das comunidades por meio dos círculos bíblicos, leitura orante e vida litúrgica; embasa o discurso profético da Igreja e possibilita o diálogo com as outras Igrejas”, afirmou o Padre Zenildo. Comunidades que reclamam processos de formação mais consistentes, sustentados em acompanhamentos diferenciados e inculturados.   Um chamado a refletir sobre “a vida litúrgica da comunidade, com a qualidade das celebrações e das homilias, a polarização dos discursos ou ausência de algumas questões latentes na vida do povo quando se celebra o mistério”. Isso desde a oscilação na compreensão da espiritualidade presente nas comunidades, desde os diferentes modos de desenvolver a liderança. Um processo sinodal que desafia a Igreja de Manaus a “ousarmos abraçar os sofrimentos das pessoas, os seus momentos de desespero”, segundo o Reitor do Seminário São José. Ele insistiu em que “não saberemos explicar por que sofrem. Nenhuma teoria resolverá o problema do sofrimento. Mas podemos abraçá-las na história daquele homem cujos sofrimentos foram necessários para que ele pudesse entrar na sua glória”. Um desafio a ir aos lugares da miséria, “a nos fazer hóspedes dos que caminham desesperançados”, para estar com eles. Diante da presença de ameaças estruturais, surge o desafio para a Igreja da Amazônia, de ser “profética, servidora e defensora da vida, assume esta defesa dos mais pobres como um imperativo”. Também no campo da ecologia e da promoção de uma vida social, econômica e política sob o signo da justiça, da solidariedade e da paz. O Padre Zenildo Lima destacou que “Deus na Amazônia tem rosto indígena e a Igreja deve ter rosto amazônico”. Isso o levou a refletir sobre os povos indígenas, violentados no mundo urbano, sobre a questão ambiental, destacando que “o cuidado da casa comum deve perpassar todas as ações da evangelização”. Uma Assembleia que deve ajudar a perceber que “a tentação de respostas imediatas é muito grande, comprometendo inclusive a dinâmica sinodal”. Daí a necessidade de reflexões mais aprofundadas. Uma sinodalidade que deve atingir a comunhão de bens, a solidariedade nos recursos humanos, financeiros e estruturais, chamadas a “uma dinâmica mais ousada de partilha que assegure esta qualidade de presença eclesial”. Sinodalidade que também deve atingir a comunicação. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1