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Conferência Episcopal dos Estados Unidos oferece programa de ajuda às igrejas do Regional Norte 1

Em 1965, a Conferência Episcopal dos Estados Unidos criou uma coleta anual em todas as paróquias para América Latina. Posteriormente foi constituída uma comissão para administrar e distribuir os recursos, da qual hoje fazem parte 11 bispos, presididos por Dom Octavio Cisneros, bispo auxiliar emérito da Diocese de Brooklyn. Os bispos do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dentro da programação do seu encontro, que acontece em Manaus nos dias 2 e 3 de fevereiro de 2022, tem conhecido o trabalho da Comissão e o modo de solicitar ajuda. Antes, os bispos do Regional apresentaram a realidade de suas dioceses e prelazias. Enviados pela Comissão tem participado do encontro com os bispos do Regional Norte 1, Dom Edgar Moreira da Cunha, SDV, bispo da Diocese de Fall River, Massachusetts, Estados Unidos, que é membro da Comissão, e o padre Leo Pérez, diretor da Comissão. Antes de se reunir com os bispos do Regional Norte 1, se encontraram com os bispos do Regional Nordeste 3 (Bahia e Sergipe), do Nordeste 1 (Ceará), e Nordeste 4 (Piauí). Dom Edgar Moreira da Cunha, religioso Vocacionista, nasceu em Riachão do Jacuípe (Bahia), e é missionário nos Estados Unidos desde 1978, onde foi enviado sendo seminarista. Em 2003 foi nomeado bispo auxiliar para a Arquidiocese de Newark, onde trabalhou até ser nomeado bispo da Diocese de Fall River, Massachusetts, em 2014, onde continua sendo bispo diocesano. Nos Estados Unidos vivem aproximadamente 1,7 milhões de brasileiros, 30 mil na diocese de Fall River. Antes da pandemia, a coleta arrecadava 6 milhões de dólares por ano, destinados a diferentes países da América Latina e do Caribe. As ajudas tem prioridade para programas pastorais, também para planejar com mais eficiência e fortalecer a capacidade de liderança, programas de capacitação, segundo Dom Edgar, sempre buscando ideias novas que vão ajudar para novas capacitações. Segundo o bispo, se incentivam projetos regionais, interdiocesanos, nacionais, insistindo em que não se limitam a projetos pequenos. Desde a Comissão, se promove o crescimento humano e cristão dos indivíduos, mas também da Igreja, buscando desenvolver a solidariedade, segundo o bispo. Algo que tem insistido no encontro com os bispos do Regional Norte 1 é que um terço do custo do projeto deve ser financiado localmente ou através de outro financiador. A catequese, a formação de leigos, a evangelização, a preparação para o diaconato permanente, a formação do clero, dos seminaristas, dos religiosos e religiosas, fazer pesquisas como base para um plano pastoral, o rito de iniciação cristã dos adultos, são alguns dos campos que podem receber ajuda da Igreja dos Estados Unidos. Uma insistência da Comissão como condição indispensável para financiar os projetos, é a exigência de plano de proteção de menores e pessoas vulneráveis nas dioceses que pedem projetos para serem financiados. O padre Leo Pérez fez uma apresentação prática do projeto, explicitando como são distribuídos os recursos. O diretor da Comissão fez uma explicação prática sobre como enviar um projeto. Posteriormente, os bispos do Regional Norte 1 resolveram suas dúvidas estabelecendo um diálogo com os enviados da Conferência Episcopal dos Estados Unidos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Vida Religiosa feminina na Amazônia: rosto amoroso do Deus Mãe

  Na semana em que a Igreja católica comemora o Dia da Vida Consagrada, a gente gostaria de reconhecer sua importância na Igreja, mas especialmente na Igreja da Amazônia. Sem deixar de reconhecer o trabalho missionário da Vida Religiosa masculina, gostaria de refletir sobre a missão da Vida Religiosa feminina na Amazônia, tantas mulheres que assumem as palavras de outro religioso, o padre Cláudio Perani: “estar onde, com e como ninguém quer estar”. A gente pensa em rostos concretos, em mulheres que a gente conhece, companheiras de caminhada em tantos lugares e missões que a Igreja tem nos confiado. Lembro da primeira coletiva de imprensa do Sínodo para a Amazônia, onde se tornou manchete em muitos meios de comunicação, inclusive não religiosos, uma dessas religiosas identificadas com a vida da Amazônia e de seus povos. O que a irmã Alba Teresa Cediel Castillo, religiosa das Missionárias da Madre Laura, disse foi algo que relatava a vida de muitas religiosas que doam sua vida na Amazônia. Na Sala Stampa, na frente de dezenas de jornalistas, falou sem medo aquilo que faz parte da sua vida como missionária, afirmando que ela e suas irmãs batizam, são testemunhas do amor quando alguém quer casar e inclusive escutam confissão, mesmo sem dar a absolução, mas sabendo que a misericórdia de Deus se faz presente através delas. São mulheres que são presença constante, gratuita, que cuidam da vida, que acompanham as dores e as alegrias do povo, que escutam e tem a palavra, ou simplesmente o gesto, diante da necessidade do povo. Nelas se faz presente o rosto amoroso do Deus que é Mãe, que carrega no colo aquele que machucado espera da Igreja um gesto de compaixão e de carinho. Aos poucos, a Igreja católica vai dando passos no reconhecimento do papel da mulher, que vai assumindo seu lugar nos espaços de decisão. Sabemos que ainda deve se avançar nesse sentido, mas ao mesmo tempo é justo reconhecer o processo iniciado nos últimos anos, fazendo mais institucional o rosto feminino da Igreja, algo presente desde as primeiras comunidades cristãs. Não podemos esquecer que a mulher sempre foi presença constante e determinante na vida da Igreja católica. O desafio que a Igreja enfrenta, na medida em que quer ser uma Igreja sinodal, é aprender a caminhar juntos, a viver a comunhão na missão, desde a diversidade de vocações e ministérios. Nessa vivência da sinodalidade, a Vida Consagrada feminina está chamada a fomentar aquilo que possa ajudar a Igreja a construir um futuro sustentado em relações diferentes, mais fraternas, mais parecidas com aquilo que Deus espera de quem diz acreditar nele. Numa terra marcada pela diversidade de povos e culturas, de espécies animais e vegetais, de dores, alegrias e esperanças, descubramos juntos aquilo que Deus espera de nós. É na diversidade que a gente se enriquece e cresce, se faz mais humano, mas também assume parte da divindade daquele que tem a capacidade de se doar por completo, de dar vida, aquela mesma vida que surge do seio maternal da mulher. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 – Editorial Rádio RioMar

Encontro dos Bispos do Regional Norte 1: momento de partilha e programação

Os bispos do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), estão reunidos na Maromba de Manaus para seu primeiro encontro anual. O encontro, que acontece nos dias 2 e 3 de fevereiro de 2022, começou com a partilha sobre as diferentes pastorais presentes no Regional, dentre elas Pastoral Familiar, Liturgia, Catequese, Pastoral Vocacional, Pastoral da Criança, Comunidades Eclesiais de Base, dentre outras. No encontro foi realizada a prestação de contas do ano 2021 e a apresentação do orçamento para 2022. Também foi abordada a organização da visita as limina, prevista para o próximo mês de junho, onde os bispos do Regional Norte 1, junto com os bispos do Regional Noroeste irão visitar o Papa Francisco e diferentes dicastérios, congregações e conselhos da Cúria Romana. Também serão abordadas questões em relação com os povos indígenas e o trabalho do Conselho Indigenista Missionário no Regional Norte 1. Não podemos esquecer que os povos indígenas é uma das prioridades das Diretrizes Pastorais do Regional neste quatriênio. Nesta quinta-feira, 3 de fevereiro, o encontro vai contar com a presença de Dom Edgar Moreira da Cunha, SDV, bispo da Diocese de Fall River, Massachusetts, Estados Unidos, nascido em Riachão do Jacuípe, Bahia, e do padre Leo Pérez, OMI. Eles são representantes da Comissão para a América Latina da Conferência Episcopal Norte Americana. Sua presença responde ao desejo de apresentar aos bispos do Regional Norte 1 o processo de aplicação para Projetos Pastorais apoiados pela Conferência Episcopal dos Estados Unidos. Durante o encontro com os representantes da Igreja católica estadunidense, os bispos terão a oportunidade de esclarecer as dúvidas em relação com essa questão. No programa aparece um momento dedicado ao Análise de Conjuntura Política, onde foi convidado a participar o deputado federal do Estado do Amazonas José Ricardo Wendling, que desde sua juventude participa da caminhada da Arquidiocese de Manaus. Com os encaminhamentos finais está previsto que seja encerrado o encontro na tarde da quinta-feira. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Ir. Liliana Franco: “Só colocando-nos no lugar dos mais pobres é que a Vida Religiosa se reabastecerá de sentido”

A Irmã Liliana Franco define a Vida Religiosa na América Latina e no Caribe como uma narrativa confiável, como “o ícone evangélico e profético de um novo modo de ser, de fazer e de estar“. A presidenta da Confederação Latino-americana de Religiosos (CLAR), usa três imagens para fazê-lo: sandálias empoeiradas na arte de caminhar, um farol no meio da noite e uma ponte que favorece a comunhão. A religiosa colombiana define a instituição que ela representa como algo que “traz a riqueza de uma sólida espiritualidade, inspirada nos valores do Evangelho, fruto da contemplação da Pessoa de Jesus e da paixão por seu Reino”. É uma história de testemunhas, de respostas a gritos reais, caminhando em fraternidade, sendo uma presença nas periferias. Esta presença é vista por Liliana Franco como a condição, pois “somente se colocando geográfica e existencialmente no lugar dos mais pobres, que é o lugar de Jesus, a Vida Religiosa se reabastecerá de sentido“. Por todas estas razões, diante da celebração do Dia da Vida Consagrada, ela agradece a generosa dedicação de tantos religiosos e religiosas, tendo consciência de que “a força e a possibilidade da Vida Religiosa estão na riqueza do que é comum, do que é patrimônio de todos e que nos esforçamos para dar”. O que a Vida Religiosa representa para a Igreja na América Latina e no Caribe neste momento? Hoje, mais do que nunca, a Vida Religiosa neste continente não é apenas uma narrativa confiável, mas também o ícone evangélico e profético de um novo modo de ser, de fazer e de estar.  É por isso que eu gostaria de usar três imagens para responder à sua pergunta.  Depois de quase quatro anos de serviço aos religiosos e religiosas do Continente, encontro três imagens que expressam o que a vida religiosa representa para a Igreja no Continente. A primeira são as sandálias empoeiradas na arte de caminhar.  A Igreja do Continente é desafiada por uma Vida Religiosa que permanece inserida nos lugares mais empobrecidos, que continua a acreditar nos processos, no germinal e no gratuito.  Que não se cansa de retórica e não se esforça para fazer manchetes na mídia, que simplesmente se dá em simplicidade e profecia, que faz sua morada entre os pobres, caminha com os migrantes, acompanha e escuta as vítimas, compromete-se a educar, a curar as feridas, a trabalhar pela paz e pela justiça. Em segundo lugar, é um farol no meio da noite. Diante da crise de credibilidade da Igreja e passando por sua própria noite, a Vida Religiosa, mais diminuída nos membros, mais envelhecida, mais desgastada pelo peso da instituição, está determinada a responder com novidade e, por isso, não deixa de se formar com a consciência de que são necessárias melhores testemunhas, não poupa esforços para refletir, em discernir onde se encontram os horizontes da novidade e da ressignificação.  Ela mantém essa autocrítica saudável que lhe permite superar a tentação de se tornar confortável, de se paralisar em respostas medíocres.  Ela sabe que é portadora de uma riqueza carismática plural e isto a mantém dinâmica, conduzida pelo Espírito, e por esta razão se agarra à esperança. A terceira, uma ponte que favorece a comunhão, porque consciente da diversidade que a habita, da riqueza vocacional que recebeu e que a torna parte da Igreja: mística, missão e profecia, a Vida Religiosa está convencida da necessidade de caminhar em favor da comunhão.   Não é uma tarefa fácil, mas devemos investir todas as nossas energias nela, porque os aspectos fraternos e sororais são o sinal que a sociedade espera ler na Igreja.  É por isso que tantos religiosos estão ali localizados, no lugar do trabalho em rede e da sinergia, da construção coletiva e da pesquisa conjunta. Em uma Igreja que quer caminhar na sinodalidade, o que pode a CLAR, que há mais de 60 anos se esforça para promover o trabalho em rede dentro da Vida Religiosa e da Igreja, contribuir para esta forma de ser Igreja para a qual o Papa Francisco nos chama? A CLAR traz a riqueza de uma sólida espiritualidade, inspirada nos valores do Evangelho, fruto da contemplação da Pessoa de Jesus e da paixão por seu Reino. É também a memória de uma forma de estar na Igreja, na qual a kenosis, a doação da própria vida, tem precedência.  A história da CLAR é marcada por homens e mulheres que são testemunhas autênticas, verdadeiros profetas, mártires que banharam a terra deste continente com seu sangue.  Sua vida, sua morte, suas causas continuam a ser o sangue vital que alimenta a caminhada da CLAR. Da mesma forma, um estilo pastoral que pressupõe ouvir a realidade, discernir os acontecimentos e questionar diariamente a vontade de Deus.  Os ícones evangélicos da CLAR ao longo de sua história, as prioridades de seus diferentes Horizontes Inspiradores, sempre respondem a urgências, a gritos reais.  É uma ação habitada pela realidade. Finalmente, é uma forma de caminhar, como irmãos e irmãs, em rede, apoiando-se uns aos outros.  Unindo forças, gerando alianças de solidariedade, alcançando uns aos outros.  A presença da Vida Religiosa nas periferias sempre foi algo notável na América Latina e no Caribe, uma presença acentuada durante este tempo de pandemia. Na sua opinião, o que este tempo de pandemia significou para a Vida Religiosa no continente? Uma minoria permaneceu nas trincheiras de segurança e conforto.  Mas a maioria tem estado no lugar do contágio, nossas múltiplas plataformas pastorais: educação, paróquia, saúde, assistência, colocaram a maioria de nós na zona de risco.  Na verdade, milhares de religiosos e religiosas deram suas vidas em meio a esta pandemia.  Para quase todos eles, isso significou uma dose imensa de fé que lhes permite navegar no meio da incerteza que esta pandemia trouxe.  Ela nos levou a repensar, a nos formar com novidade e a usar outras plataformas para fazê-lo; exigiu de nós criatividade ao enfrentar desafios apostólicos, nos colocou no território da ousadia de buscar recursos, de criar redes de solidariedade, de tentar fazer com que a sopa seja…
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Ir. Maria Inês Ribeiro: “Ser profecia, presença, curar, redimir, salvar, libertar, fora disso não há sentido para a Vida Consagrada”

Como uma “experiência de uma escolha de Deus”, assim vê a irmã Maria Inês Ribeiro sua vocação. A presidenta da Conferência dos Religiosos do Brasil, no contexto do Dia da Vida Religiosa, reflete sobre a vida consagrada num momento caótico. A irmã Maria Inês é consciente dos desafios que enfrenta a Vida Religiosa, insistindo na “abertura aonde a vida realmente mais necessita, aonde realmente precisa da presença salvadora, redentora de Deus”. Por isso, ela destaca que a necessidade “de ser profecia, de ser presença, de curar, de redimir, de salvar, de libertar, fora disso não há sentido para a Vida Consagrada”. Diante disso se faz necessário sair do comodismo e buscar o caminho para poder avançar, insiste a religiosa. Também faz um chamado a se envolver no processo sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, lançando uma mensagem de coragem para descobrir “como ser resposta, como ser consagrados no mundo de hoje”.  No dia 2 de fevereiro a Igreja comemora o Dia da Vida Religiosa, um momento que representa uma recordação especial para os religiosos e as religiosas. O que significa ser religioso, religiosa, hoje no Brasil? A vocação religiosa significa um chamado de Deus, a nossa fé nos coloca muito claro que é um chamado de Deus, uma experiência que fazemos do desejo de doar nossa vida aos outros, de uma experiência de fé realmente. Quando eu olho a minha história desde muito criança, adolescente, o desejo que eu tinha era exatamente colocar a minha vida ao serviço dos outros, ser útil, ser servidora, ser servidora daqueles que precisavam. Era muito presente na minha vida, e para muitos de nós também essa experiência de uma escolha de Deus, de um chamado de Deus, para estar a serviço, estar realmente como pessoa escolhida, destinada, reservada. O religioso, a religiosa, é aquele que se reserva para o Senhor e está ao serviço das obras do Reino. Isso é ser religioso hoje, religiosa hoje. A senhora fala de estar ao serviço, ser presença, uma presença que deve ser para todas as pessoas. Mas diante da realidade que o mundo e o Brasil estão vivendo hoje, a vida religiosa hoje tem um desafio especial a ser presença nas periferias, na vida dos vulneráveis? Nós estamos vivendo um momento caótico, um momento de caos, de grande confusão e desordem em nossa humanidade, em nosso Brasil. E essa situação afeta profundamente, tem consequências pastorais, tem consequências espirituais, institucionais, econômicas, sociais, e que também nos deixam como consagrados e consagradas, muito perplexos. Essa situação de pandemia nos colocou a todos meio acomodados, e aqueles que são mais sensíveis, nós ficamos meio vislumbrados e quase sem forças para enfrentar a situação. A vida religiosa hoje está muito desafiada, com os números pequenos que todos temos, diante de tantas situações, envelhecimento, a falta de vocações. Nos deixa assim porque o lugar da vida consagrada, por todas as experiências que nós vivemos, os nossos fundadores e fundadoras, todos eles iniciaram com essa abertura aonde a vida realmente mais necessita, aonde realmente precisa da presença salvadora, redentora de Deus. Nossa fé nos coloca aonde o mundo precisa, nos atira, como foi a presença de Deus no Êxodo, que está vendo esse povo que sofre. Eu vi, e para muitos de nós é também a mesma experiência, nós estamos vendo. E temos, graças a Deus, muitas pessoas empenhadas. Cresce entre nós um desejo muito forte, estamos preparando a assembleia nacional da CRB e nós estamos vendo que precisamos que ressignificar a nossa Vida Religiosa. Não vamos salvar todas as situações do Brasil, mas nós temos que estar muito atentos, muito atentas, aonde realmente é o lugar da Vida Consagrada, é ali que nós devemos responder aos clamores. Se não, não tem sentido a nossa Vida Consagrada. Aí é que carece de olharmos com mais profundidade, por que é que não atraímos mais vocações, porque estamos fugindo a nosso carisma, estamos fugindo a nossa presença profética. Porque comunidades, grupos, congregações, novos grupos que estão surgindo com essa atenção aos mais pobres, pequenos, periferias, eles estão rodeados de pessoas que querem somar com eles, somar com elas, isto é muito visível. Realmente, o lugar da Vida Consagrada é de ser profecia, de ser presença, de curar, de redimir, de salvar, de libertar, fora disso não há sentido para a Vida Consagrada. A senhora fala de certa acomodação da Vida Religiosa neste tempo de pandemia. De cara ao futuro, quais são os desafios e os novos caminhos que a pandemia está colocando para a Vida Religiosa no Brasil? A gente sente uma certa acomodação, primeiro é o próprio receio, porque nós temos na Vida Consagrada uma porcentagem mais numerosa de pessoas mais vividas, de pessoas envelhecidas. O desafio está em redefinir, rever nossas obras, atividades, carismas. Nós vamos viver daqui para frente como Vida Consagrada um desafio muito grande, não só em desaparecimento de grupos, com muitos grupos em Brasil que estão terminando seus dias. Outros, mesmo pequenos, estão entusiasmados no sentido de retomar o carisma, de rever realmente a sua presença, esse é o grande desafio para a Vida Consagrada no momento. Alguns acham que é um fenómeno passageiro, outros estão empenhados e estão realmente querendo resinificar para sermos sinais do Evangelho, da presença de Cristo no mundo, do serviço apostólico, significativo para os irmãos e irmãs que mais precisam de nós. O problema que nós vemos é que não está só no individuo, está na instituição, nós estamos vendo as vezes muitas das nossas instituições, ainda muito preocupadas com a manutenção das obras. Obras educacionais, mas muitas estão perdendo o chão pela concorrência de inúmeras escolas particulares. Há pouco tempo um bispo me disse de sua preocupação porque na sua diocese tinham fechado duas escolas católicas. A resposta que eu dei para o bispo foi que essas irmãs poderiam ir para a periferia e ver as crianças que estão sem escola, talvez recomeçar lá, como fez a sua fundadora, como fez o seu fundador. E vai vir os recursos para recomeçar com…
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Santarém: 50 anos do Vaticano II da Amazônia

O Concilio Vaticano II marcou decisivamente a vida da Igreja, especialmente na América Latina, o continente que se empenhou em trazer para a realidade local as reflexões do último concilio na história da Igreja. Medellín pode ser considerado o Vaticano II da América Latina, e na mesma linha, Santarém poderia ser visto como o Vaticano II da Amazônia brasileira. Em 2022 é comemorado os 50 anos do IV Encontro Pastoral da Amazônia, realizado de 24 a 30 de maio de 1972, lembrando as palavras do Papa Paulo VI, quem disse que “Cristo Aponta para a Amazônia”, que levo a Igreja da região a buscar as Linhas Prioritárias da Pastoral da Amazônia. Foi o encontro que reuniu a grande maioria dos prelados da Amazônia Brasileira, que o Documento, assinado por 26 bispos e administradores diocesanos, considera “homens sensíveis aos problemas e aspirações dos homens e dos grupos humanos que ocupam o espaço amazônico”. Eles ressaltaram elementos que hoje, 50 anos depois, continuam vigentes, destacando a simplicidade, espontaneidade, fortaleza e religiosidade presentes numa região com uma cultura vinculada à amplitude da natureza. Em 1972, os bispos já alertaram sobre as limitações e perigos da realidade da Amazônia, intuindo problemáticas que com o tempo foram se acentuando. Nessa conjuntura, a Igreja da Amazônia optou por “quatro prioridades e por quatro séries de serviços pastorais, à luz destas duas diretrizes básicas: Encarnação na realidade e Evangelização libertadora”. A Encarnação na realidade é fruto do conhecimento e convivência com o povo, e queria levar a elementos que depois foram retomados: “superar todo paternalismo, todo etnocentrismo, todo modelo importado, pré-fabricado ou artificial de vida”. Mas também se torno ponto de partida da Evangelização libertadora, sem dicotomias, atenta “aos sinais de lugar e do tempo, das culturas e dos grupos, da natureza e do homem”, que busque conscientizar para a libertação do homem. Dai surgiram propostas de formação de agentes de Pastoral, numa Igreja ministerial, para sacerdotes, vida religiosa e leigos, fundamentada na realidade local, visando a ação e o trabalho em equipe, sempre em contato com suas comunidades locais. Também foram propostas as matérias que deveriam fazer parte dessa formação, insistindo na reciclagem dos agentes. No Documento de Santarém se fala da criação de Comunidades Cristãs de Base como “um dos objetivos primários da Pastoral Amazônica”. Seguindo o modelo de Medellín, são vistas como “o primeiro e fundamental núcleo eclesial” e como elemento fundamental para transformar o tipo tradicional de Paróquia. Assim aparece a proposta de “comunidades ambientais de base, como fermento no meio da massa”, para as cidades, superando as desobrigas nas zonas rurais e buscando que a comunidade “seja o fator propulsor do desenvolvimento integral do homem como sujeito de sua promoção”. Ao falar da Pastoral indígena, afirma que “a Igreja na Amazônia, sem favor algum, tornou-se historicamente a maior responsável pelo índio”, relatando os perigos que ameaçavam os povos indígenas. O CIMI, criado pouco tempo atrás foi apresentado como nova perspectiva de trabalho, insistindo na necessária colaboração entre as Igrejas da Amazônia e o Conselho Indigenista Missionário. Santarém abordo a pastoral nas estradas e outras frentes pioneiras que estavam surgindo na época, apresentando as problemáticas que estavam aparecendo. Por isso, insistiu na necessidade de agentes bem preparados para acompanhar essas realidades, propondo alguns elementos a serem considerados. Também sugere encontros em diferentes níveis, assim como formação de agentes nos Institutos de Pastoral, que devem buscar “desenvolver um esforço sério e sistemático de reflexão, pesquisa e documentação sobre a realidade sociológica e a situação do homem amazônida”. Junto com isso foi abordada a questão dos Meios de Comunicação Social, insistindo “a necessidade de a Igreja estar presente nos meios de comunicação social”. Santarém nos mostra a capacidade de olhar o futuro com perspectiva assumido pela Igreja da Amazônia 50 anos atrás. A história tem demostrado que foi um momento que ajudou a fazer realidade, a partir dos sinais dos tempos, uma Igreja com rosto amazônico, comprometida na defesa da vida e dos povos que dela cuidam. Conhecer e aprofundar no Documento continua sendo um desafio que não pode ser deixado para trás. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

70 lideranças da Diocese de São Gabriel da Cachoeira aprofundam no conhecimento da Bíblia e da Eclesiologia

A formação de lideranças sempre foi um desafio para a Igreja da Amazônia, que se tornou ainda maior depois do Sínodo para a Amazônia. Sempre buscando uma maior presença como Igreja nas comunidades, aos poucos estão sendo dados os passos que ajudam a fazer realidade esse propósito. Na Exortação pós-sinodal, refletindo sobre o debate em torno à ordenação de ministros locais, Querida Amazônia diz que “não se trata apenas de facilitar uma presença maior de ministros ordenados que possam celebrar a Eucaristia. Isto seria um objetivo muito limitado, se não procurássemos também suscitar uma nova vida nas comunidades. Precisamos de promover o encontro com a Palavra e o amadurecimento na santidade por meio de vários serviços laicais, que supõem um processo de maturação – bíblica, doutrinal, espiritual e prática – e distintos percursos de formação permanente”. É uma formação que pretende estabelecer um diálogo com as culturas locais, um caminho que em algumas dioceses foi iniciado décadas atrás, mas que agora está sendo incentivado com maior força, buscando avançar na interculturalidade. Na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, que tem a maior porcentagem de população indígena do Brasil, sempre houve missionários que se empenharam em assumir na caminhada das comunidades a riqueza das culturas locais, a través de cantos, ritos, línguas, que foram introduzidos na liturgia e nos processos de formação. Em continuidade com essa caminhada, está acontecendo o segundo módulo da Escola de Formação de Lideranças, que de 17 a 29 de janeiro reuniu cerca de 70 lideranças das 11 paróquias da diocese. Uma iniciativa fruto da Assembleia Diocesana, que busca oferecer formação teológico pastoral para as lideranças das diversas comunidades de todo o território da diocese. Se fizeram presentes representantes de 9 dos 23 povos que habitam a Diocese de São Gabriel da Cachoeira. Na primeira semana, de 17 a 21 de janeiro, os participantes aprofundaram no conhecimento do Novo Testamento, com a assessoria do biblista Mauricio Sete, sacerdote missionário Fidei donum da diocese de Módena, pároco da Catedral de São Gabriel da Cachoeira. Foi momento para estudar os evangelhos, fazendo uma introdução a cada um dos evangelhos e se centrando na figura da Virgem Maria, aprofundando assim em questões relacionadas com a Mariologia. A partir do dia 24 de janeiro, iniciaram a etapa da Eclesiologia, acompanhados pelo padre Zenildo Lima, reitor do Seminário Arquidiocesano de Manaus, onde se formam os seminaristas dos Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do qual faz parte a diocese de São Gabriel da Cachoeira. Segundo o padre Zenildo, “as reflexões sobre a Eclesiologia retomam toda a caminhada da Igreja enquanto participante da história da salvação”. O assessor afirma que foram abordadas “as principais ideias eclesiológicas a partir do Concilio Vaticano II, perpassando Medellín, Puebla e a Conferência de Aparecida. Da mesma forma, as inspirações da Evangelii Gaudium e do Sínodo da Amazônia”, onde o padre Zenildo participou como auditor da Assembleia Sinodal. O encontro tem sido uma ocasião de aprofundar o Documento com as Diretrizes Pastorais do Regional Norte 1 aprovado em última assembleia, que segundo o reitor do Seminário de Manaus, “também apresenta a identidade da Igreja da Amazônia”. Também houve oportunidade para os participantes se envolverem no processo de escuta do Sínodo sobre a Sinodalidade. No encontro se fez presente Carlo Krieger, embaixador do Luxemburgo no Brasil em visita a São Gabriel da Cachoeira. Segundo Dom Edson Damian, “ele quis conhecer a realidade da nossa diocese, por ser a mais indígena do Brasil”, ficando “encantado com tudo aquilo que ele viu, se sentindo à vontade no meio dos nossos povos indígenas”. Para o bispo local, “foi uma visita de dois dias, mas carregada de um sentido muito grande”, do representante diplomático de um país, que segundo o embaixador caberia mais ou menos 100 vezes no território da diocese mais extensa do Brasil, com 294 mil quilómetros quadrados. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dia de Combate ao Trabalho Escravo: denunciar para recuperar o direito a viver

O combate ao trabalho escravo deveria ser uma prioridade no Brasil, algo que a gente sabe não é bem assim. Tem gente que se empenha nisso, inclusive tem gente que já morreu combatendo uma realidade que deveria estar desterrada do país. Em 28 de janeiro de 2004, 3 auditores fiscais do Trabalho foram assassinados em fazendas da região de Unaí (MG). Em homenagem a eles, foi criado em 2009 o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, celebrado em 28 de janeiro. Estamos diante de uma data que deve levar à sociedade brasileira a tomar consciência da necessidade de se envolver nesse combate, em todos os níveis, poder público e sociedade civil organizada. No mundo, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 40 milhões de pessoas são vítimas do trabalho escravo contemporâneo. Pessoas que são vistas como mercadoria ao serviço de uma economia que mata, que impede as pessoas realizar sonhos, construir com seu esforço uma vida melhor para elas e para suas famílias. O trabalho escravo é uma realidade mais presente em pessoas vulneráveis. A ameaça do desemprego, da fome, o desespero diante do sofrimento próprio e das pessoas mais próximas, fazem com que essas pessoas se tornem com maior facilidade alvos das redes de tráfico humano. Existem regiões e coletivos no Brasil onde isso sempre foi uma realidade presente, mas com a pandemia da Covid-19, que aumento exponencialmente o desemprego e a fome, tem se tornado uma ameaça ainda maior. Em 25 anos, de 1995 a 2020, no Brasil foram resgatados mais de 55 mil trabalhadores e trabalhadoras pelas entidades de combate ao trabalho escravo. Um número que de fato não contempla a verdadeira realidade, ainda mais nos últimos anos, que a pandemia, como a gente já falou, se junta ao desmonte dos órgãos de fiscalização, incentivado por um governo que vê os Direitos Humanos, e qualquer tipo de direito, como privilegio e não como direito de todos os brasileiros e brasileiras. Também não ajuda o olhar para o outro lado, uma atitude presente em muita gente, algo motivado por diferentes fatores. Tem gente que sabendo não denuncia por medo, outros porque concordam e justificam esse tipo de situações, ou simplesmente por desinteresse e falta de empatia com o sofrimento alheio, atitude que podemos considerar dominante numa sociedade onde o salve-se quem puder está se tornando norma de comportamento. Pensar em escravidão não é se imaginar histórias do passado, de africanos que chegaram por milhões nas costas brasileiras e acorrentados eram vendidos. Essa página tétrica na história da humanidade continua vigente, de modo diferente. O agronegócio, as fábricas clandestinas de roupa, e tantas outras realidades continuam acorrentando muitos homens e mulheres com grilhões invisíveis, mas que amarram firmemente as pessoas. O grande desafio é denunciar e exigir a atuação firme e decidida dos órgãos de combate ao Trabalho escravo. Sem consciência social se torna mais difícil dar os passos na erradicação de uma realidade que degrada a condição humana, que questiona o grado de humanidade de uma sociedade muitas vezes desumana. Não duvide, denuncie, esse é o caminho para mudar a realidade, para garantir a liberdade de todos e todas! Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1 – Editorial Rádio Rio Mar

Dom Walmor: “Um cristianismo que se baseia na teologia da prosperidade é um cristianismo torto”

Estudos recentes mostram que na América Latina, sobretudo no Brasil está se dando a passagem do catolicismo ao pentecostalismo, um debate abordado na entrevista de Dom Walmor Oliveira de Azevedo a Rádio Vaticano-Vatican News. Segundo o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), esse “é um movimento já de décadas”, que define como “uma grande transformação cultural e religiosa”. Mesmo assim, o arcebispo de Belo Horizonte vê necessário uma análise mais profunda, dado que “é um tema importante e fundamental no trabalho evangelizador”. Estamos diante de “um movimento no trânsito religioso, de ida maior, mas também de retorno”, insiste Dom Walmor. Afirmando que é um tema que está sendo estudado e que provoca preocupação, “a preocupação não é simplesmente na perspectiva do número”. Os bispos do Brasil, segundo seu presidente, “queremos que o Brasil seja cristão, católico de modo especial”, dizendo com todo respeito que “há um crescimento pentecostal a partir de um cristianismo torto”, enfatizando a necessidade de “propor o cristianismo na sua autenticidade”. O arcebispo de Belo Horizonte foi relatando o que seria um cristianismo torto: “um cristianismo que se baseia na teologia da prosperidade é um cristianismo torto. Um cristianismo que não se baseia na solidariedade universal e na fraternidade é um cristianismo torto. Um cristianismo que não olha a experiência profunda de se debruçar sobre os pobres e sofredores, é torto. Um cristianismo que não projeta luzes numa reorganização da sociedade é torto. Um cristianismo que também não devolve esperança e alegria de viver numa fé profunda é torto”. Segundo o presidente da CNBB, “o Brasil e a América Latina têm diante de si o desafio de ser cristão”. Para isso insiste em que “no centro da experiência cristã, evangélica ou católica, há o tema o tema da autenticidade”. Ele coloca como grande trabalho a fazer, “que muitos vivam a experiência, a fé cristã católica”, algo que vê como “um enorme desafio e que a CNBB como serviço à Igreja no Brasil, tem como tarefa primordial”. Para isso, se faz necessário novas respostas, “a partir das Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”. Seguindo a riqueza da tradição da Igreja no Brasil, o presidente do episcopado coloca como desafio, “uma mudança de mentalidade, de jeito de ser, de dinâmica missionária”, insistindo na importância “do modo de ser na experiência de fé daqueles que são missionários e missionárias”. Enfatizando que a Igreja no Brasil tem horizonte e rumo, diz que “nós precisamos é fortalecer uma grande experiência de fé”. Dom Walmor relatou a resposta dada no início do século diante de uma pergunta sobre o grande desafio para a Igreja no terceiro milénio, quando ele disse que “o grande desafio é a fé como experiência”. Segundo o arcebispo de Belo Horizonte, “não é a fé apenas como conservação intelectual, racional e doutrinal”. Destacando a importância do tesouro de mais de dois mil anos que a Igreja carrega, insistiu em que “o grande desafio é exatamente uma fé como experiência, uma experiência que toque a vida das pessoas”. Além da organização, da gestão, se faz necessário “uma promoção na rede de comunidades, na vida de todas as nossas igrejas particulares, no modo de ser de cada ministro, uma experiência de fé que seja autêntica, que toque corações, que responda às demandas”. Por isso, ressaltou mais uma vez que frente ao pentecostalismo ou o ateísmo, a Igreja deve insistir em que “a fé é uma experiência, uma experiência que responde às demandas que nós todos, seja qual for a nossa cultura e, a nossa condição, estamos à procura”. O desafio é “encontrar nesse caminho respostas para que as pessoas vivam a fé como experiência”, encerrou Dom Walmor. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Alexandre Costa: “Necessidade de colocar na urna e nas ruas a pauta em defesa da Amazônia”

Os desastres naturais que estão acontecendo no Brasil nas últimas semanas, eles têm a ver com as mudanças climáticas, segundo nos relata Alexandre Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará. Doutor em Ciências Atmosféricas, ele trabalha há cerca de 20 anos com as questões climáticas. Nesta entrevista, um dos autores principais do Primeiro Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, que tem um projeto de divulgação científica voltado para a divulgação das ciências do clima, nos ajuda a entender quem está contribuindo para que tudo isso aconteça. Diante de tanta desinformação, muitas vezes auspiciada pelo poder económico e político, a sociedade é chamada a tomar consciência da gravidade da situação. Alexandre Costa considera o Papa Francisco como um dos grandes aliados nesta luta em defesa do meio ambiente, da Casa Comum. Uma luta que deve ser assumida no campo da política, onde chama a eleger àqueles que tem a defesa do meio ambiente como agenda prioritária. O Brasil está vivenciando nas últimas semanas, mas é algo que acontece quase todos os anos, muitas enchentes em diferentes regiões do país, e ao mesmo tempo secas em outras regiões, cada vez mais prolongadas e que cada vez tem consequências mais graves. Qual a leitura diante desses fenómenos que estão acontecendo cada vez com maior frequência no Brasil e no mundo? Existe uma variabilidade natural do sistema climático. Isso é bem conhecido, a alternância de eventos, de “El Niño, la Niña”, modificam o comportamento do sistema meteorológico, mas é preciso a gente colocar de uma forma muito nítida para todo mundo, que o comportamento de uma atmosfera, hoje com 415 partes por milhão de CO2, é um comportamento muito diferente de uma atmosfera com 280 partes por milhão, como no período pré-industrial. Basicamente, a atmosfera aquece devido a uma relação física bastante simples que existe entre temperatura e pressão de vapor de saturação do vapor d´água, ou seja, a quantidade de vapor d’água que existe no Planeta. Quando o Planeta aquece, a atmosfera se torna capaz de armazenar mais vapor d´água, e aí a gente passa a ter um binômio de eventos extremos associados com essa mudança de comportamento. Se a atmosfera, ela requer uma maior quantidade de vapor d´água para saturar, ela vai extrair mais água da superfície, e aí nós temos maiores taxas de evaporação e evapotranspiração, termina o nível dos reservatórios hídricos baixando mais rapidamente, a humidade do solo baixando mais rapidamente. Você coloca um estres maior sobre a vegetação, porque as taxas de transpiração aumentam, tanto vegetação natural quanto culturas agrícolas, e aí você vai tendo secas mais intensas, mais duradouras. A perda acelerada de humidade do solo e de ressecamento da vegetação facilita aumentos de calor severo e os incêndios florestais. De outro lado, por ser agora um reservatório maior de vapor d´água, uma vez que esse vapor d´água se condense e comece a produzir nuvens, você tem matéria prima a mais para produzir chuvas muito intensas e muito concentradas, furacões mais intensos. Esse binômio de eventos extremos, de seca de um lado e do outro chuvas muito intensas, tempestades severas, esses fenómenos vão se intensificando com uma causa comum, que é justamente o aquecimento global e o consequente aumento da quantidade de vapor d´água. Há muitos anos a minha comunidade científica vem alertando, o aquecimento global não é simplesmente você subir a temperatura, isso está longe de ser a principal questão. A principal questão é o conjunto de alterações generalizadas do sistema climático, inclusive a mudanças das estatísticas de eventos extremos, que se tornam mais intensos e mais frequentes. O senhor fala sobre uma proposta científica, sustentada em longos anos de estudo e em fatos aceitos por uma grande maioria da população, mas que cada vez encontra mais oposição em determinados grupos políticos e económicos no Brasil. Como ajudar a tomar consciência dessas propostas científicas, mas que muitas vezes, motivados por interesses económicos e políticos, esses grupos estão querendo combater? O importante é a gente entender que o fenómeno do negacionismo, ele não é de agora. As pessoas se surpreenderam do negacionismo da pandemia, mas a gente que lida com a questão climática, já tem enfrentado a questão do negacionismo climático há muito tempo. Na realidade, as grandes petroquímicas, a indústria de combustíveis fosseis, em particular as petroquímicas dos Estados Unidos, com destaque para a Esso, mas o conjunto delas, representadas pelo Instituto Americano do Petróleo, já sabiam, pelo menos desde final da década de 70, que a continuidade do uso de combustíveis fosseis, iria produzir radicais, mudanças perigosas, a elevação da temperatura, a perda de massa nas regiões polares, a elevação do nível dos mares. Isso já era amplamente conhecido. Em 1978, a Esso, ela mesma fez estudos sobre isso, que confirmava o que as ciências do clima começavam a apontar. Depois, a única coisa que eles fizeram foi financiar o negacionismo, reclutar pessoas do meio académico, da empresa, da política. Tem um documento inclusive dos anos 90, da chamada Global Planet Coalition, que se tornou público e que diz muito claramente que eles só iriam conseguir a vitória se conseguissem fazer com que a população em geral passasse a perceber incertezas nas ciências do clima, quando políticos passassem a aderir a agenda deles, quando a cobertura de imprensa defendesse um equilíbrio entre a ciência e explicações alternativas, e quando os defensores do protocolo de Kyoto fossem vistos pela sociedade como pessoas fora da realidade, alarmistas, catastrofistas exagerados. No caso do Brasil, isso foi adotado pela bancada do agronegócio, a gente tem picaretas, pilantras negacionistas, que vem do meio académico e que são fortemente bancados pelo agronegócio. A tragedia, primeiro nos Estados Unidos com Trump, depois no Brasil com Bolsonaro, é que o negacionismo chegou ao poder político. Se as agendas já eram insuficientes, a chegada ao poder desses governantes negacionistas, compromete seriamente o tipo de mudança profunda e rápida que estamos precisando. Fazer uma transição energética que nos livre dos combustíveis fosseis e zerar o desmatamento, e rever nossas práticas agropecuárias e seus efeitos. A próxima…
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