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Dom Cláudio: “Tempos difíceis, mas também abertos a inovações e novos sonhos”

Uma mensagem inspiradora, de alguém a quem Mauricio López se referiu como “um embaixador do transbordamento do Espírito”. Dom Cláudio Hummes se dirigiu aos participantes da Assembleia Eclesial reconhecendo que “os tempos atuais são difíceis, desafiadores, mas também abertos a inovações e novos sonhos”. Um exemplo desses novos sonhos é esta Assembleia Eclesial, insistiu o presidente da CEAMA. Dom Cláudio lembrou a homilia da missa que o Papa Francisco celebrou logo após sua eleição com os cardeais do Conclave, que teve como fundamento as palavras caminho e caminhar. O Papa insistiu em derrubar muros e construir pontes para sair, para ir ao encontro das periferias e com elas construir “caminhos eclesiais, caminhos sinodais”. Caminhos que fizeram parte da Igreja primitiva, retomados no Concílio Vaticano II e sustentados no sensus fidei e sensus fidelium. Uma Igreja sinodal, “uma instituição pastoral e missionária, constituída não somente de bispos, mas também de representantes das demais categorias do povo de Deus”. O cardeal lembrou o longo processo para chegar nesta Assembleia, lembrando do processo vivido no Sínodo para a Amazônia onde o povo foi “ao encontro de todos, mas especialmente dos mais sofridos e pobres das periferias geográficas e existenciais da Panamazônia com o objetivo de escutar, escutar e escutar”. O presidente da CEAMA também lembrou as palavras do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, em 2013, onde falou que “a Igreja está na Amazônia não como aqueles que tem as malas na mão para partir depois de ter explorado tudo que puderam”. O Papa chamou a consolidar “o rosto amazônico da Igreja”, pedindo para isso ousadia e coragem. Tudo isso foi se concretizando com a criação da REPAM, um processo que foi explicitado pelo cardeal Hummes, e que o purpurado vê como semente desta Assembleia Eclesial, “em que não participam e decidem apenas os bispos, mas todo o povo de Deus, segundo o Concílio Vaticano II”. Seu presidente, também lembrou da criação da CEAMA, aprovada canonicamente pelo Papa Francisco em 9 de outubro, que Dom Cláudio define como “aquele ponto firme irreversível”, para toda a Igreja. “O Papa pode agora constituir Conferências eclesiais em qualquer outra parte da Igreja no mundo”, insistiu. Isso é visto como “um avanço extraordinário!”, mostrando o desejo da CEAMA de “participar plenamente desta nova fase da Igreja na América Latina e Caribe em termos de uma Igreja Sinodal, que se alimenta das grandes propostas de Aparecida e do Vaticano II”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Sinodalidade do Povo de Deus: “Envolver todos os sujeitos eclesiais em relações horizontais”

Citando o Papa Francisco, onde ele diz que “o caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”. Foi assim que Rafael Luciani iniciou sua intervenção na Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que junto com Maria Dolores Palencia refletiu sobre “A sinodalidade do povo de Deus”. As palavras do Papa são, segundo o teólogo venezuelano, uma convocação “a toda a Igreja para discernir um novo modelo eclesial que seja fruto desta nova fase na recepção do Concílio Vaticano II”. Portanto, a sinodalidade não é algo novo, como disse Paulo VI, Luciani, em uma das sessões do Concílio, pediu “uma definição mais completa da Igreja”. A América Latina tem “sinais emergentes de um novo modelo eclesial em chave sinodal”, lembrou a religiosa mexicana, citando a reestruturação do CELAM, a criação da CEAMA, a realização dos Sínodos Diocesanos e Conselhos Plenários, e também esta nova Assembleia Eclesial. O primeiro passo neste caminho, salientou Luciani, é “a conversão de toda a Igreja através da escuta, do aconselhamento e da construção de consensos”. O teólogo insistiu na escuta, que para ser autêntica “deve envolver todos os sujeitos eclesiais, em relações horizontais fundadas na dignidade batismal e no sacerdócio comum de todos os fiéis”. É um caminho de sinodalidade que nos compromete, afirmou Maria Dolores Palencia, a rever como escuto e a quem escuto. Também o que representam os gritos daqueles que sempre foram silenciados: povos indígenas e afrodescendentes, mulheres, pessoas e comunidades LGBTT.   Para isso, a atitude é “superar relações desiguais de superioridade e subordinação típicas do clericalismo, e apostar na necessidade recíproca e trabalhar em conjunto”. A participação não é uma concessão, mas um direito para todos, e é um dever de tomar conselhos baseados na escuta daqueles que exercem autoridade, de acordo com Luciani. Algo que Santo Oscar Romero já disse, nas palavras de Maria Dolores Palencia, e que deve nos levar a entender que “escutar não é genérico nem abstrato”, acrescentou o teólogo venezuelano, que citou o Sínodo da Amazônia como exemplo, tanto no processo de escuta como nos documentos pós-sinodais. O desafio é abrir mentes e corações para a Ruah, que emerge na diversidade, nas periferias, entre os vulneráveis e os silenciados, a religiosa lembrada novamente.  Uma escuta que “não é um fim em si mesma”, para Luciani. É realizada para poder trabalhar em conjunto “para que decisões pastorais possam ser tomadas”, algo que define o significado e o objetivo de um processo eclesial sinodal. E para fazê-lo sabendo que é realizado em “pequenos e simples passos, talvez insignificantes…”, como a Irmã Maria Dolores assinalou, mas que eles têm que ser dados.  Estamos diante de algo que é mais do que “uma mera prática afetiva e ambiental, sem se traduzir efetivamente em mudanças concretas que ajudem a superar o atual modelo institucional clerical”, insistiu Luciani. Por esta razão, ele chamou para aproveitar esta Assembleia Eclesial para avançar na sinodalidade. Isto porque “o futuro da Missão está em jogo”, disse Maria Dolores Palencia, que apontou a necessidade de deixar para trás “o modelo clerical, estagnado e seus privilégios”, e fortalecer a ideia de que “é todo o povo de Deus que é responsável por ações transformadoras, flexíveis, atentas às necessidades das novas gerações e junto com elas, que podem recriar uma comunidade eclesial participativa, de consenso, com novas e diversas formas de viver a autoridade e de tomar decisões”.   Há sinais de esperança, como esta Assembleia Eclesial, vista por Rafael Luciani como “um exercício da eclesialidade de todo o Povo de Deus”, que implanta um modelo no qual “não devem mais ser os bispos a tomar as decisões para todo o Povo de Deus”. Algo que foi construído na Igreja no continente “em meio à perseguição, ao descrédito, à dúvida e à morte”, lembrou a freira mexicana. Por esta razão, ela insistiu que não devemos “parar e reconhecer as coisas novas que estão surgindo a fim de abrir espaços”. Luciani pediu, com base na Episcopialis Communio, que “esta Assembleia Eclesial dê lugar a uma autêntica sinodalização de toda a Igreja do continente e que a América Latina continue a ser uma Igreja fonte para a Igreja universal”. Para isso, ela defendeu “a criação de mediações e procedimentos para o envolvimento de todos os fiéis e o estabelecimento de modalidades permanentes de participação, que consideram os leigos como sujeitos plenos na Igreja”. Para isso, Maria Dolores Palencia apelou a “recriar as redes de comunicação e participação para que este desafio de um laicato plenamente reconhecido chegue realmente a todos”, uma dificuldade, mesmo quando o bispo é a favor de uma maior participação dos leigos e de uma maior consulta antes das decisões, algo assumido na Igreja no continente pelos bispos que ela mencionou. O teólogo venezuelano levantou questões sobre a concretude desta sinodalidade na vida da Igreja. Portanto, em resposta, a religiosa destacou a necessidade de aprender das realidades sociais e eclesiais que há muito tempo estão silenciadas, perguntando-se como vamos nos ajudar uns aos outros, como vamos gerar novos caminhos. Isto na perspectiva e no desafio de “criar uma nova cultura de consenso eclesial”, afirmou Luciani, colocando São Cipriano como exemplo desta jornada sinodal e desafiando a Assembleia a ser “um primeiro sinal emergente desta nova forma eclesial de proceder sinodalmente”. Para isso, a oração e a escuta mútua “a fim de dar os primeiros passos, com medo e tremor, mas sem parar”, enfatizou Ir. Dolores Palencia. Segundo a religiosa, “é melhor ter uma igreja com erros e desacertos, pronta para se levantar e recomeçar, do que paralisia, pânico, que impede a passagem do Espírito e endurece”. Um bom começo e uma provocação à qual quem estava no auditório responderam com umas das palmas mais fortes ouvidas durante toda a semana. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1  

Carta do Seminário da CF pede “uma Educação mais humanizada e integral”

SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO PARA MULTIPLICADORES DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2022   CARTA ABERTA   “Na Educação habita a semente da esperança” (Papa Francisco, 2019)   O olhar atento do Papa Francisco aos sofrimentos da humanidade, fome, pobreza, exclusões, injustiças, desalentos, abandonos, violência, entre outros, o fez entender a necessidade de cuidar da dignidade dos/as filhos/as de Deus. Entende Francisco que o processo de transformação social passa pela Educação: “Se queremos o mundo mais fraterno, devemos educar as novas gerações para ‘reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente de sua proximidade física, do ponto da terra onde cada um nasceu ou habita’ (FT, 1)” (Discurso de Papa Francisco, 05/10/2021). Nesse sentido, Francisco propôs o Pacto Educativo Global “para reavivar o compromisso em prol e com as novas gerações, renovando uma paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz da escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão” e, ao mesmo tempo, convoca a TODOS a “unirem esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna” (Francisco, PEG, 2019). No Brasil, a construção de uma Educação mais humanizada e integral é um desafio de dimensão gigantesca, dado o rumo a que o sistema conduziu o processo educativo desde sua base. Presenciamos com indignação a forma excludente em que se transformou a Educação Brasileira, negando a muitos o direito de aprender, de ter acesso ao conhecimento e de poder resgatar e fortalecer a sua dignidade. Temos consciência de quão árdua é esta tarefa e de quanto esforço precisaremos para cumprir esta missão. “A realidade da educação nos interpela e exige profunda conversão de todos” (TB CF 2022, nº 5).  Diante dos desafios, anima-nos a Esperança. Com esta certeza, nós, Igreja Católica na Amazônia, reunida como Regional Norte 1, sentimo-nos interpelados/as pela Campanha da Fraternidade 2022, a qual traz como tema Fraternidade e Educação e lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26), cujo objetivo é “promover diálogos a partir da realidade do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário” (TB CF 2022). De fato, a Educação é a chave de transformação social, resposta coletiva de amor e cuidado, assim como nos ensina e inspira o Mestre Jesus. “Educação não transforma o mundo, Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”, já nos dizia o grande educador Paulo Freire. Por isso, queremos transformar o mundo, no chão amazônico e em sintonia com o cuidado da Casa Comum, à luz da Ecologia Integral, reconhecendo as raízes e a ancestralidade, valorizando a pedagogia amazônica: do encontro das águas; das vivências comunitárias dos povos indígenas, das comunidades tradicionais, populações urbanas; da sabedoria ribeirinha e camponesa da alternância e respeito com a terra e com as águas; da igreja povo de Deus que acolhe aos migrantes; do puxirum da inclusão; da ciranda popular que celebra a beleza da vida. Convidamos a Igreja povo de Deus do Regional Norte 1, educadores/as, famílias, instituições de ensino público e privado, municipal e estadual, universidades, pastorais, movimentos e serviços, aos que promovem a Educação Popular a somarem conosco nesta Campanha da Fraternidade 2022, para sermos luzeiros da Esperança e da Vida, nos passos de Jesus de Nazaré, com sabedoria e amor. Reconhecemos a necessidade de intensificar a ação da Pastoral da Educação no Regional, “como serviço evangelizador da Igreja junto aos educadores e às comunidades escolares” (TB CF 2022, nº 261), com o propósito de transformar o mundo a começar por cada um de nós, e vivendo o itinerário da transformação comunitária e social que nos engaja e nos faz partícipes e mediadores dos quatro sonhos de Papa Francisco para Amazônia (social, cultural, ecológico e eclesial). Neste caminho, pedimos a Nossa Senhora de Nazaré, Rainha da Amazônia e “Mãe Educadora, com a sabedoria dos pequenos e pobres”, que “nos ajude a educar e servir com a pedagogia do diálogo, da solidariedade e da paz” (cf. Oração da CF 2022). Avancemos para as águas mais profundas da cultura do encontro.  Manaus, 24 de novembro de 2021.  

Sinodalidade: “Uma sinfonia cantada em uma infinita possibilidade de variações”

Quatro pesos pesados de uma Igreja que quer ser sinodal, diferentes formas de viver a fé, de diferentes ministérios e serviços eclesiais. Tudo isso esteve presente em um dos destaques da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. A reflexão do longo painel realizado na manhã de quinta-feira, 25 de novembro, no qual girou em torno do tema: “Da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe em direção ao Sínodo da Sinodalidade”, contou com a presença de dois cardeais da Cúria Vaticana, Marc Ouellet e Mario Grech, a presidenta da Vida Religiosa no continente, Liliana Franco, e Mauricio López, leigo mexicano e coordenador do Centro de Redes e Ação Pastoral do Celam. Alguém que, como Secretário Geral do Sínodo, “quase todos os dias tenho que falar sobre a sinodalidade e o Sínodo da sinodalidade”, disse sentir-se honrado por poder dirigir-se à Assembleia Eclesial, a continuação de uma história de “comunhão eclesial, que poderia ser um exemplo para muitas Conferências Episcopais”. O cardeal definiu este encontro como “uma expressão da visão pastoral do Papa Francisco“, e uma ponte entre o Sínodo sobre a Amazônia e o Sínodo sobre a Sinodalidade. O Cardeal Grech refletiu sobre “a estreita relação entre sinodalidade e missão“, presente na Evangelii Gaudium, “um documento sobre a dimensão missionária da Igreja”, sobre o avanço da Igreja. A partir daí ele refletiu sobre a “comunidade sinodal”, que “tem um desejo inesgotável de oferecer misericórdia”, que “sabe dar frutos”, que “sabe celebrar”. Para o Secretário do Sínodo dos Bispos, “a Igreja cresce em sinodalidade, assume uma forma cada vez mais sinodal, quanto mais ela vive e pratica um estilo sinodal”. Diante disso, ele nos convidou a “pensar sobre o cenário da missão de uma Igreja não-sinodal”. Para o Cardeal Grech, “um projeto missionário só pode emergir do processo sinodal de escuta-discernimento, que é também um exercício de discipulado“. Neste sentido, ele lembrou o conceito de “sinodalidade missionária”, que aparece no Documento Final do Sínodo para a Amazônia. A partir daí ele lançou um desafio aos presentes: “O aprofundamento da ligação entre estas duas dimensões da Igreja poderia ser uma das contribuições mais significativas desta Assembleia e do caminho sinodal das Igrejas da América Latina e do Caribe”. É uma questão de dar continuidade a uma “caminhada conjunta” presente na história da Igreja no continente. Ele também destacou a contribuição da Igreja da América Latina e do Caribe no método de escuta, esperando “uma contribuição que abra perspectivas sobre como tornar operativas as instâncias intermediárias da sinodalidade”. Junto com isto, ele alertou sobre as divisões na Igreja, que exigem uma conversão sinodal, e sobre “aqueles grupos e seitas cristãos que promovem uma compreensão individualista e íntima da fé“. Diante disso, “a resposta mais confiável é a da comunhão”, segundo o cardeal, em uma Igreja onde “a tradição não é um canto em uníssono”, mas “uma sinfonia, onde cada voz, cada registro, cada timbre vocal enriquece o único Evangelho, cantado em uma infinita possibilidade de variações”. O Cardeal Ouellet começou por se fazer algumas perguntas: “Qual é o sonho de uma Igreja sinodal? Uma nova moda? Uma estratégia de comunicação? Uma ideologia disfarçada de programa pastoral? Um método para a conversão missionária da Igreja?” O sonho do Papa Francisco de uma Igreja sinodal provoca reações diferentes, embora o cardeal quis deixar claro que “o Papa acredita no Espírito Santo e quer que aprendamos a ouvi-lo melhor em todos os níveis da Igreja”. Isto significa “escutar a todos e a cada um com atenção, sem pressa, sem ideias preconcebidas ou preconceitos“. O que importa ao Papa, segundo o Prefeito da Congregação para os Bispos, não é “um novo modelo de Igreja”, mas “a fé dos batizados e daqueles a serem batizados”. O cardeal canadense insistiu que o que é fundamental é a certeza da fé, algo muito presente na Bíblia. Por esta razão, “uma Igreja sinodal é uma Igreja que caminha na fé“, algo que se reflete no Magistério continental e no do Papa Francisco, e presente ao longo da história da evangelização no continente, o que lhe deu uma unidade “que foi forjada no sangue de muitos mártires”. Uma Igreja sinodal na América Latina e no Caribe que deve ser necessariamente mariana. Olhando para o próximo Sínodo, ele destacou a importância da participação, da comunhão, da missão, refletindo sobre cada uma dessas dimensões. O presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina agradeceu a oportunidade de participar da Assembleia, parabenizando o Celam “pelo esforço empregado nesta organização complexa e criativa em tempos de pandemia”. Algo que encorajará o próximo processo sinodal, afirmou o cardeal, que concluiu seu discurso refletindo sobre as vocações em uma Igreja sinodal. A irmã Liliana Franco, em nome da Vida Religiosa do Continente, começou afirmando que estamos “enfrentando um processo, um itinerário de encontro e conversão“, no qual é necessário “colocar-nos no lugar da humildade, reconhecer nosso pecado”, e mudar os modos de nos relacionarmos. Estamos diante de “um novo olhar contemplativo, mais teológico e encarnado”, que deveria nos levar a “aguçar nosso olhar para contemplar a realidade e aguçar nosso ouvido para escutar o Espírito que nunca cessa de gemer”. A partir daí, a comunhão é tecida, a partir da escuridão e da luz do humano, entre fragilidade e graça. Estamos diante de uma época de testemunhas, porque somente desta forma “nossa narrativa se torna credível“. Para isso, o caminho é “o discernimento, a atenção à realidade, a capacidade de ouvir o grito de Deus”, enfatizou a presidenta da CLAR. É uma experiência tornada possível pelo Espírito, “que nos encoraja a tecer o vínculo, o relacionamento, a amizade, o afeto em nossa vida diária e nos exorta a amar, acreditar e cuidar um do outro, a dar um lugar um ao outro, a não nos excluirmos um do outro”. Tudo isso em uma dinâmica eclesial de continuidade e progresso, concretizada na diversidade de dons, carismas e estilos. Mas sem esquecer que “no mais autêntico dos encontros, as identidades pessoais não são eliminadas“. A Vida…
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Reacender Aparecida para responder aos clamores da América Latina e do Caribe

A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe está tomando forma, ganhando profundidade, focalizando seu olhar nos desafios para a Igreja na América Latina e no Caribe à luz do discernimento comunitário, tema que tem animado as reflexões desta terça-feira 23 de novembro, iluminadas pela citação bíblica que nos diz que “O tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e crede na Boa Nova”. Não podemos esquecer que esta Assembleia, desde sua convocação, ancorou suas raízes em Aparecida, a última Assembleia Geral do Episcopado Latino-americano realizada em 2007. O Cardeal Odilo Scherer refletiu sobre isso após a oração de abertura. O primeiro vice-presidente do Celam lembrou o convite do Papa Francisco para retomar o Documento de Aparecida, “porque ele contém uma riqueza muito grande, que talvez não tenha sido suficientemente absorvida”. É hora de fazer um balanço, levando em conta as novidades dos últimos 14 anos, para viver “um processo de conversão pastoral, uma conversão missionária”. Este não é apenas mais um evento, disse o teólogo brasileiro e membro da equipe teológica do Celam, Agenor Brighenti, aos membros da Assembleia. Este é “um novo passo em um rico processo sinodal na América Latina e no Caribe, que deu à nossa Igreja uma palavra e um rosto próprio”. Por isso ele também insistiu em “reviver Aparecida”, num caminho que nos leva a uma segunda recepção da renovação do Concílio Vaticano II. Trata-se de entrar num processo de conversão pastoral e integral, que o Sínodo para a Amazônia exigiu, para ver a relação entre os quatro sonhos do Papa Francisco na Querida Amazônia e o que está sendo vivido nesta Assembleia. Podemos dizer que nesta terça-feira, uma vez resolvidos os problemas iniciais que surgem em uma realidade ainda incipiente, como podemos considerar este grande encontro, no qual quase mil pessoas estão participando virtualmente, os grupos de discernimento comunitário estão sendo vividos como um momento de enriquecimento pessoal e eclesial, que estão ajudando a encontrar o que a Igreja e os povos da América Latina e do Caribe esperam desta Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. A conferência de imprensa desta terça-feira foi um momento para escutar os clamores dos povos da América Latina e do Caribe. O clamor dos povos afrodescendentes, da Amazônia, da juventude e as dificuldades enfrentadas na formação dos futuros sacerdotes. Irmã Maria Suyapa, Cardeal Pedro Barreto, a jovem Maria José Bolaños López e o Padre Cristino Bonhert Bauer. Estes são os clamores provocados pela marginalização vivida pelas mulheres negras, pelos povos amazônicos ameaçados pela pandemia e pela falta de políticas públicas, pelos jovens que querem caminhar junto com outros membros da Igreja, em sinodalidade, a formação de seminaristas, o que deveria ter um impacto na dimensão comunitária e com itinerários transversais. A Assembleia Eclesial é construída com rostos concretos, com vozes vindas de diferentes realidades, que todos os dias dão testemunho aos membros da Assembleia e a todos aqueles que acompanham a Assembleia através de redes sociais. É uma teia que está sendo tecida a partir de diferentes experiências eclesiais, leigos, missionários, bispos, jovens, promotores da paz, guias espirituais, pessoas que trabalham com migrantes, vida religiosa. Testemunhos que provocam reações e sentimentos, relatados tanto pelos membros da Assembleia como por aqueles que reagem através de redes sociais. As raízes culturais da América Latina e do Caribe foram abordadas pelo Cardeal Felipe Arizmendi, pelo Padre Venanzio Mwangi IMC, pelas Irmãs Laura Vicuña e María Suyapa Cacho Álvarez. O cardeal mexicano destacou que o Celam coloca os excluídos em primeiro lugar, representados nos povos indígenas e afro, para os quais a terra e a vida comunitária são fundamentais. Para eles, ele pediu abertura e compreensão da Igreja. O conhecimento ancestral daqueles que vivem na periferia deve ser valorizado e integrado, segundo Irmã Maria Suyapa, e a Igreja deve se unir a eles. A Irmã Laura Vicuña pediu que a Igreja fosse uma aliada dos povos originários, pronta para defender a vida, a terra e os direitos, para acompanhar e tecer redes para a defesa e promoção dos direitos humanos. O Padre Venâncio se perguntava sobre as aspirações do catolicismo em relação ao povo afrodescendente e destes em relação ao catolicismo. É por isso que ele chamou para passar do mito à realidade sobre a diversidade étnica e cultural de nossa identidade e para celebrá-la através da fé. A celebração eucarística e a recitação do Terço, neste dia com a intenção de cuidar da Casa Comum, foram as principais atividades do dia. Em sua homilia, o Cardeal Odilo Scherer iniciou sua reflexão falando do sentido do tempo, do hoje, do agora, em nossa vida, na história da Igreja, em nosso contexto social. Recordando o Evangelho, ele enfatizou a necessidade de estar atento aos sinais dos tempos, à forma como tudo passa, como o tempo destrói tudo, muda tudo. A única coisa que não muda, segundo o arcebispo de São Paulo, é o Evangelho. “Jesus chamou para não ser enganado pelas atrações deste mundo, que pode ser transformado em ídolos“, advertiu o primeiro vice-presidente da Celam. Jesus também alertou sobre os pregadores de uma verdade, chamando a não ser enganados por salvadores da pátria ou pregadores religiosos autorreferenciais. Uma terceira advertência de Jesus, apontou o Cardeal brasileiro, foi sobre os sinais em tempos de crise, que oferecem a oportunidade de anunciar o que está prestes a acontecer, diante do qual um caminho de conversão é necessário.  A partir daí ele vê a Assembleia Eclesial como um exercício de leitura dos sinais dos tempos.

Seminário CF 2022 Regional Norte1: Fraternidade e Educação

Representantes das Dioceses e Prelazias que formam o Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se reuniram na Maromba de Manaus, os dias 22 e 23 de novembro de 2021 para participar do Seminário da Campanha da Fraternidade 2022, que tem como tema “Fraternidade e Educação”. Depois de um momento de oração, foi apresentada a metodologia do Texto Base: Escutar, Discernir e Agir. O secretário do Regional, Diácono Francisco Lima, explanou o Escutar. Na parte da apresentação nos diz: “educar é um ato eminentemente humano. Somos renovados aprendemos mais a respeito da vida e seu sentido, quando nos ensinam novos conhecimentos e quando, percebemos que em nós existe a profunda sede de aprender e ensinar”. O Objetivo Geral da CF 2022 é: “Promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário”, sendo apresentados os sete objetivos específicos da Campanha.  O escutar contou com a presença da professora Ivania Maria, da Ufam, que questionou sobre as palavras eixo que falam da Amazônia, e o tipo de alianças que cada um pode construir com as outras áreas. Falando das experiências nas Amazônia disse: “A Amazônia é este lugar como laboratório de querer aprender e ensinar, em todos os campos do conhecimento”. A professora Lúcia Cortez, contou a sua experiência com a Educação com Migrantes na escola Valdir Garcia. Foi uma manhã de muitos aprendizados, houve agradecimentos, contribuições dos participantes. Finalizando, professora Ivania, disse que temos hoje, uma educação que está formatada para o mercado. Chama-se de gestor, uma linguagem capitalista.  Uma educação que dar lucro, uma realidade presente nas escolas particulares. O Discernir contou com os aportes da Ir. Rose Bertoldo. Ela iniciou afirmando que todos somos educadores e educadoras. Na dimensão do Discernir, dispor no coração para discernir coletivamente. Que envolve o olhar, escutar, mas sobre tudo, envolve o ser e estar em uma realidade concreta, a luz da fé e da escuta da Palavra de Deus.  Esse caminho que a CF propõe:  Escutar, Discernir e Agir, nos remete a pensar. Que realidade vejo, onde piso? A partir do texto de João 8, 1-11, foi refletido sobre o escutar: Jesus escuta as acusações contra a mulher, se aproxima. Discerne- silencia, se encurva, escreve no chão e tece um diálogo, com os fariseus e a mulher. Age movido pela misericórdia e perdão como caminho de mudança de vida. Uma educação integral, inclusiva que respeite a vida dos povos em seus territórios. Foram colocadas algumas questões como a educação e hábitos ecológicos, que passa pela dimensão do cuidado com a vida. A vida em família como processo educativo, o processo educativo faz parte integrante das relações familiares. Na família aprendemos a viver e conviver. Educar na fé, o que fazer para transmitir a mensagem evangélica às novas gerações? Como tomar a mensagem de Jesus atraente para o homem e a mulher de hoje? Educar para o diálogo, para o belo, o bom e o verdadeiro. Educar é também ajudar as consciências a abrirem-se para a beleza do conjunto dos seres do universo, em sua multifacetada variedade e contínua interrelação. O ser humano não é uma ilha, mas encontra a sua verdade, bondade e beleza na justa relação com a natureza, com os outros seres humanos e com a Fonte criadora de todas as coisas.   Ir. Carla Porfirio  

Cardeal Barreto: “A Assembleia Eclesial deve ser uma caixa de ressonância para todas as angustias do continente”

Uma coletiva de imprensa onde foram ouvidos os clamores da América Latina. É assim que poderíamos considerar o momento vivido nesta terça-feira em que mais uma vez, como acontece todos os dias da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, representantes de diferentes realidades relataram o que está presente em sua vida cotidiana. Estes são os gritos do povo negro, como disse a Irmã Maria Suyapa, que denunciou a marginalização das mulheres negras, que não são reconhecidas pelo que oferecem à Igreja e à sociedade. A exclusão, segundo a representante da Pastoral afro-latino-americana na Assembleia Eclesial, é algo que dói, mas ela diz não perder a esperança, que vem da conversão pastoral que a Igreja nos pede, para que “aqueles de nós que estão na periferia possam ser incluídos, especialmente os negros, as mulheres”. A religiosa diz que espera que um dia nossa Igreja Mãe conte conosco, porque temos muito a contribuir para a Igreja. Os gritos da Amazônia foram veiculados pelo Cardeal Pedro Barreto, que expressou sua alegria em participar da Assembleia. O presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), denunciou as consequências da pandemia na Amazônia, especialmente no Brasil, onde o povo Yanomami, no estado de Roraima, está sofrendo as consequências do abandono, a ponto de ser deixado a ponto de morrer. Diante disto, insistiu o Cardeal Barreto, “a Igreja não só deve levantar sua voz, mas também expressar a dor e o sofrimento que surge como um grito da Amazônia”. O cardeal recordou as palavras do Papa Francisco em Puerto Maldonado, onde ele descreveu os povos originários como os guardiães da natureza. “A vida na Amazônia continua sendo um grande desafio, o que nos obriga a todos a uma conversão ecológica, social e cultural, e especialmente a Igreja Católica e outras comunidades de fé“, disse o cardeal. Ele também nos convidou a nos sentirmos corresponsáveis por cuidar da vida e de nossa natureza, e expressou sua esperança de que a Igreja na América Latina e no Caribe seja a voz daqueles que, por várias razões, vivem em meio à dor. Os jovens, através de Maria José Bolaños López, reconheceram os momentos de graça vividos nos últimos anos, com o Sínodo da Juventude que abriu um espaço para a participação. No entanto, o membro da Equipe Latino-Americana de Pastoral Juvenil pediu mais espaços abertos para os jovens. A jovem mexicana insistiu que “queremos caminhar juntos, com sacerdotes, bispos, cardeais, religiosos, leigos, sendo esta Igreja como um todo e tendo este espírito de sinodalidade”. Recordando as palavras do Papa Francisco, ela reafirmou a riqueza e a criatividade dos jovens, que “sempre têm algo a contribuir para nossa Igreja“. O Reitor do Seminário Nacional Maior do Paraguai, Padre Cristino Bonhert Bauer, mostrou a realidade da formação dos futuros sacerdotes, destacando a necessidade de uma participação variada, também de leigos e leigas, nestes processos de formação, reconhecendo que não é uma tarefa fácil. Por esta razão, ele enfatizou que “não devemos nos fechar, mas permitir-nos ser ajudados por todos”. A Igreja tem estado historicamente presente na Amazônia, algo que foi incentivado pela criação da REPAM, que levou toda a Igreja a caminhar junto, e pela celebração do Sínodo para a Amazônia. Os povos indígenas se sentiram acompanhados e pediram à Igreja Católica para ser uma aliada, disse o Cardeal Barreto. O Sínodo para a Amazônia “mostrou a importância dos povos originários para o bioma amazônico e para a humanidade”, segundo o presidente da REPAM, que lembrou alguns passos dados posteriormente, como a criação da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA). O cardeal expressou sua esperança de que a Assembleia Eclesial fosse uma caixa de ressonância para todas as angustias do continente. Ele também insistiu nas consequências da economia neoliberal na América Latina e no Caribe, referindo-se às oportunidades perdidas para mudar uma realidade que não leva a colocar a pessoa humana acima de todos os outros princípios, que é o que Jesus faz. “O povo negro sente que a Igreja não é nossa Mãe, como se fosse nossa madrasta, somos marginalizados, somos excluídos, há muita indiferença por parte dos padres, de muitos bispos, e os missionários que vêm evangelizar o fazem de dentro de si mesmos e não de Cristo”, relatou com dor a Irmã Maria Suyapa. Em seus encontros com as mulheres ela ouve suas queixas: “não somos levadas em consideração, somos excluídas na Igreja e em nossa sociedade”. A religiosa pediu ao Papa Francisco que tomasse uma posição firme em favor do povo negro do continente, como fez com o povo indígena. Ela insistiu em não ficar calada, contando situações dolorosas, como o padre que “parou a missa porque cantamos a Oração do Senhor em Garifuna”. Isto a levou a insistir na necessidade de que eles fossem evangelizados em nossas culturas. Mas ela também mostrou sinais de esperança, nascidos de um processo sinodal, no qual “estamos sendo incluídos”. Por este motivo, ela ficou grata pela possibilidade de poder participar da Assembleia. Segundo a religiosa, “na medida em que houver conversão, exclusão e discriminação em nossa Igreja, chegará ao fim“. “Queremos uma Igreja jovem que salve a dignidade humana dos jovens”, disse Maria José Bolaños, denunciando a rejeição e o preconceito que eles sofrem. Segundo ela, “na prática somos deixados de fora, nós jovens precisamos de uma Igreja que aprenda a chorar, a reconhecer a dor para seguir adiante como Igreja e levar essa mensagem e viver nossa fé e os sonhos de Jesus Cristo. Precisamos de uma Igreja que esteja descalça diante dos jovens“. Nas palavras da jovem mexicana, “nós jovens podemos aprender muito, mas também podemos ensinar”, chamando para uma Igreja que acolhe e escuta. “Não é o melhor momento para o clero”, disse Padre Cristino, apontando os desafios na formação, incluindo a necessidade de os formadores saberem como responder às expectativas dos jovens em relação à sua vocação. A necessidade de considerar diferentes dimensões nestes processos de formação, insistindo na formação a partir de um nível comunitário, a partir de uma espiritualidade realista e comprometida. O presidente…
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Agenor Brighenti: Assembleia Eclesial, “um novo passo em um rico processo sinodal”

A conversão pastoral é um conceito que nasceu em Aparecida, e é sobre isso e sua relação com os quatro sonhos proféticos do Papa Francisco na Querida Amazônia que o teólogo brasileiro Agenor Brighenti tem refletido no contexto da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Para ele, “esta Primeira Assembleia Eclesial não é apenas mais um evento“. É um novo passo em um rico processo sinodal na América Latina e no Caribe, que deu à nossa Igreja uma palavra e uma face própria”. Neste sentido, ele coloca sua singularidade no fato de que ela “procura reanimar Aparecida”, que ele define como “uma Conferência que se propõe a dar novo impulso à renovação do Vaticano II”, e ao mesmo tempo como “base da Evangelii Gaudium do Papa Francisco”. Estamos a caminho de uma segunda recepção da renovação do Vaticano II, de acordo com a teólogo. Esta foi uma das aspirações de Aparecida, retomando uma proposta da Conferência de Santo Domingo, que fala da conversão pastoral da Igreja, segundo o Padre Brighenti, que a define como algo que abraça a todos e a tudo. É algo que vem de Medellín, que falou de uma nova evangelização, que foi retomada pelo Papa Paulo VI na Evangelii Nuntiandi. A Igreja em contínua reforma é algo presente na Igreja desde os Santos Padres, uma ideia retomada pelo Vaticano II, que exige um retorno às fontes bíblicas e patrísticas. Agenor Brighenti citou Dom Helder Camara, para quem “a Igreja precisa mudar constantemente a fim de ser sempre a mesma Igreja de Jesus Cristo“. Indo um passo além, o Sínodo para a Amazônia, onde o teólogo brasileiro foi perito, fala de uma “conversão integral”, que se desdobra em uma conversão pastoral, cultural, ecológica e sinodal, recolhidas no Documento Final, elementos acolhidos pelo Papa Francisco no início da Querida Amazônia, onde as conversões, adquirindo uma dimensão utópica, tornam-se sonhos: social, cultural, ecológico e eclesial. Nestes quatro sonhos, o Papa Francisco “projeta o horizonte de uma evangelização que desafia particularmente esta Assembleia Eclesial“, segundo o Padre Brighenti. No sonho social, o desafio para a América Latina e o Caribe é lutar pelos direitos dos mais pobres; no sonho cultural, preservar sua riqueza cultural; no sonho ecológico, ser um continente que preserva sua beleza natural; e no sonho eclesial, fazer de uma Igreja com uma América Latina e Caribe uma realidade. Quanto à conversão pastoral da Igreja, que tem acompanhado a vida da Igreja no continente desde Santo Domingo, ela toma forma em diferentes áreas: a da consciência da comunidade eclesial, assumindo a eclesiologia do Povo de Deus do Vaticano II; a das ações pastorais e comunitárias, procurando “ser uma resposta aos desafios de hoje, especialmente ao grito dos pobres”; a das relações de igualdade e autoridade, levando à “erradicação do clericalismo” e incentivando “a corresponsabilidade de todos os batizados”; a das estruturas, incentivando “Conselhos Pastorais e Assembleias em todos os níveis”, tendo como exemplo a CEAMA ou esta Assembleia Eclesial. Por esta razão, Agenor Brighenti afirma que “como pode ser percebido, a conversão pastoral e os quatro sonhos proféticos do Papa Francisco são um grande desafio para esta Assembleia, que desafia nossa generosidade a transbordar no Espírito do Ressuscitado”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicación CNBB Norte 1

Cardeal Odilo Scherer: “Tudo na vida da Igreja deve ter a sua dimensão missionária”

Depois de cumprimentar a todos, os presentes na Cidade do México e os participantes da assembleia virtualmente, o Arcebispo de São Paulo e primeiro vice-presidente do Celam, Cardeal Odilo Scherer, começou recordando a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, realizada em Aparecida em 2007. O Cardeal Scherer afirmou que “o Papa Francisco nos pede que retomemos o Documento de Aparecida, porque ele contém uma riqueza muito grande, que talvez não tenha sido absorvida bastante, e esse documento ainda tem muito a oferecer para a Igreja em nosso continente, e continua muito atual”. Continuando com as propostas do Papa Francisco, o Arcebispo de São Paulo lembrou o chamado do Santo Padre para que “nesta Assembleia fizéssemos uma avaliação dos frutos já produzidos pela Conferência de Aparecida, de quanto as propostas, as conclusões do Documento de Aparecida já influenciaram a vida da Igreja, a vida pastoral, a evangelização em nosso continente”. Ao mesmo tempo, ele lembrou o pedido do Papa de “que avaliemos aqueles aspectos que por acaso ainda não foram assumidos bastante, que devem ser assumidos mais para produzir o seu fruto”. Estar atento às novas questões que surgiram desde 2007 é outro dos pedidos do Papa Francisco, segundo o cardeal brasileiro, “novas questões eclesiais, novas questões sociais, novas situações humanitárias, novas situações econômicas, políticas, culturais, que desafiam a missão da Igreja“. Diante disto, o Arcebispo de São Paulo afirmou, “a Igreja é chamada a dizer a sua palavra de discernimento, de anuncio da Boa Nova, de luz do Evangelho, de sal”. Neste dia, lembrou o cardeal, “retomamos um dos conceitos importantes na Conferência de Aparecida, e esse conceito é o da conversão“. Segundo ele, é um “conceito central para compreendermos as várias questões, as várias orientações do Documento”. Ele também lembrou o chamado à Igreja para não se contentar com uma pastoral de conservação e para se lançar a uma verdadeira pastoral de renovação missionária de toda a nossa Igreja, oferecendo respostas novas para as questões novas que surgem em todas as áreas. O Documento de Aparecida pede “um processo de conversão pastoral, uma conversão missionária“, segundo o Cardeal Odilo, recordando que Jesus começa o anúncio do Evangelho chamando à conversão e aceitação do Reino de Deus, o que implica mudanças, o que Jesus pede a todas as pessoas. Um processo de conversão que nunca está concluído, que precisa sempre ser proposto a todas as gerações e à Igreja, para que “se volte para o Evangelho dito, anunciado nas questões novas, que reclamam por tanto novas posições, novas posturas para que o Evangelho produza novos frutos dentro de novos contextos”. O chamado do Documento de Aparecida é a uma conversão pastoral, insistiu o primeiro vice-presidente do Celam. A Igreja como um todo é convidada a se rever, a se renovar, e, portanto, a se voltar mais e mais para Jesus Cristo e renovar a sua adesão a Jesus Cristo e ao Evangelho”, para que ilumine cada momento e cada situação da história. Isto exige de nós, segundo o cardeal, “a coragem de tomar atitudes novas e eventualmente de abandonar velhas práticas que já não produzem mais o seu fruto, que já estão superadas pastoralmente”. O Arcebispo de São Paulo salientou que “continuemos talvez apegados a velhas práticas“, que não respondem às necessidades e expectativas de nosso tempo. Ele definiu a conversão pastoral como “mudar os métodos da pastoral, o foco, as atenções da pastoral, o jeito da pastoral”. Movida por esta conversão, que deve ser missionária, “nossa Igreja não pode se entender como uma Igreja que já está pronta, já cumpriu sua missão”, insistindo que “tudo na vida da Igreja deve ter a sua dimensão missionária”. Finalmente, ele pediu um retorno à conversão diante de novas questões, situações e sonhos de Jesus para todo tipo de realidade, incluindo a casa comum. Por esta razão, ele lembrou que “a Igreja existe para participar de um mundo de acordo com o sonho de Deus“. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Dispor o coração para discernir em comum, um trabalho que dá início à Assembleia Eclesial

Podemos dizer que a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe realmente começou. É verdade que a inauguração oficial aconteceu na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira do continente, mas foi nesta segunda-feira que a reflexão foi tomando forma. Como acontecerá todos os dias, um momento de oração, hoje com um marcado caráter afro, foi o antegosto de um dia em que foi feito um chamado para dispor o coração a discernir em comum nesta Assembleia Eclesial, tomando como referência o texto bíblico que nos convida a ouvir a Palavra de Deus e a cumpri-la. As saudações do Presidente do Celam, do Presidente da Comissão para a América Latina e do Presidente do Episcopado Mexicano deram as boas-vindas aos participantes. “Esta Assembleia deve estar junto ao povo”, disse Dom Miguel Cabrejos, recordando as palavras do Papa Francisco em 24 de janeiro deste ano, quando a Assembleia foi apresentada. O arcebispo de Trujillo (Perú), lembrou que Aparecida “nos chama a todos a sermos discípulos missionários e a passar de uma ‘pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária’”. Por esta razão, ele pediu que “deveria ser uma escola de sinodalidade”. O Cardeal Oullet pediu “que o Espírito do Senhor presente em nosso meio nos ajude a discernir juntos como reavivar o espírito missionário que o Papa Francisco nos transmite por seu exemplo e seu magistério”. Para o cardeal canadense, “a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe é uma das muitas maneiras pelas quais a Igreja se reaprende a escutar e discernir”, apelando para uma profunda comunhão eclesial a fim de viver verdadeiramente a missão. Dom Rogelio Cabrera agradeceu calorosamente que a Assembleia Eclesial esteja sendo realizada aos pés da santa padroeira do continente, definindo os membros da Assembleia como convidados que o México recebe como anjos e emissários de boas novas. O arcebispo de Monterrey insistiu que a presença de cada membro da assembleia é um sinal da união que o México tem com o Papa Francisco. A reflexão, este dia dirigida pelo Padre Fidel Oñoro, teve um caráter bíblico, abordando “A centralidade de Jesus Cristo e sua Palavra em nossa ação pastoral”. Em suas palavras, ele afirmou que a Assembleia é fruto da vontade divina, salientando que “o pastor na Bíblia é, antes de tudo, Deus”. O biblista colombiano assinalou que a Escritura “abre janelas de observação e compreensão mais profunda”, o que “nos tira do analfabetismo espiritual“. Por esta razão, ele enfatizou que “somente ouvindo a Palavra podemos perceber o que Deus nos diz e nos pede, podemos descobrir nossa missão e o que somos chamados a fazer”. Um elemento decisivo para o desenvolvimento da Assembleia serão os pequenos grupos comunitários de discernimento, onde todos os membros da Assembleia se reúnem, tanto aqueles que estão em Casa Lago, sede da Conferência Episcopal Mexicana, como aqueles que se conectam de todos os cantos do continente. Será um lugar para compartilhar experiências eclesiais que enriquecerão a Igreja no continente. A cada dia haverá também uma coletiva de imprensa, com a presença de um bispo, um padre, uma irmã religiosa e uma leiga. Nesta segunda-feira foram o Cardeal Odilo Scherer, Irmã María Dolores Palencia, Padre Leo Pérez, OMI, e a jovem Ligia Elena Matamoros. Entre as intervenções podemos destacar a expectativa de ver “onde o Espírito de Deus nos conduz”, o chamado a “retomar nosso compromisso batismal”, a necessidade de “ver os jovens nos espaços onde as coisas são planejadas, onde as decisões são tomadas”, e não ter respostas prontas, algo típico do clericalismo. Os membros da Assembleia estão experimentando grande alegria e entusiasmo neste processo sinodal, manifestado nos testemunhos compartilhados por alguns deles, algo que será repetido todos os dias. As diferentes vozes, algumas em pessoa, outras virtualmente, encorajaram a todos com um entusiasmo que vem de caminhar juntos, em comunhão. Refletindo sobre o caminho da Assembleia Eclesial, o Cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga destacou as raízes deste momento, convidando os membros da Assembleia a ouvir os gritos dos irmãos e irmãs mais pobres e esquecidos, a ensinar sobre a sinodalidade, desconhecida e temida por aqueles que preferem se afastar. Segundo a Ir. Birgit Weiler, “todo o processo mostrou a grande importância da atitude e da prática da escuta como elemento central no discernimento comunitário e na experiência de sinodalidade”. Ela enfatizou a necessidade de “reconhecer as mulheres como protagonistas em nossas sociedades e especialmente em nossa Igreja”, algo que estava presente no processo de escuta. Também a necessidade de superar o clericalismo, a auto referencialidade, que nos leva a viver este kairos. A riqueza deste processo é conhecida através de testemunhos que nos mostram como a Assembleia Eclesial chegou aos lugares mais remotos, temas que dão sentido à sinodalidade, nas palavras de Mauricio López. Trata-se de tocar o coração dos corpos eclesiais, de estar presente quando o coração está ferido, de acompanhar as vítimas da pandemia, as mulheres que sofrem a violência, os migrantes, os povos cujos territórios são confiscados, de superar a cegueira que, como Bartimeu, nos impede de seguir Jesus. A celebração eucarística foi presidida pelo Cardeal Pedro Barreto, que em sua homilia, centrada no Evangelho da viúva, disse ver esta passagem como “um programa de vida que hoje, com a graça de Deus, estamos cumprindo“. A viúva simboliza a Igreja e cada um de nós, convidando-nos a reconhecer que somos pobres, frágeis e pecadores. Diante disso, Jesus nos diz que há um caminho a seguir, que nos leva a entender que damos nossas vidas porque confiamos em Deus. O presidente da REPAM lembrou as vítimas da pandemia e refletiu sobre as políticas no continente, que “não buscam o bem comum, mas apenas interesses subalternos”. A viúva mostra o rosto feminino da Igreja, que pensa no outro, no “nós”, que nos leva a sair de nós mesmos para que nosso centro seja Jesus. Ela também refletiu sobre a Assembleia Eclesial, agradecendo por este momento de discernimento, e lembrou as palavras do Papa Bento XVI em Aparecida, onde ele definiu a…
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