A crise da saúde no Brasil, no Estado do Amazonas e em nossos Municípios causa-nos muita preocupação, dor, tristeza, gestos de solidariedade, mas, também, indignação. Solidariedade “De nossa fé em Cristo nasce, também, a solidariedade, como atitude permanente de encontro, irmandade e serviço. Ela há de se manifestar em opções e gestos visíveis, principalmente na defesa da vida e dos direitos dos mais vulneráveis e excluídos, e no permanente acompanhamento em seus esforços por serem sujeitos de mudança e de transformação de sua situação” (Documento de Aparecida, nº 394 – negrito nosso). O Texto Base da CF/2020, nº 177, nos traz uma afirmação do Papa Francisco em Bañado Norte, Paraguai, em julho de 2015: “A fé nos faz próximos, aproxima-nos da vida dos outros. A fé desperta o nosso compromisso com os outros, desperta a nossa solidariedade… A fé que não se faz solidariedade é uma fé morta. É uma fé sem Cristo, uma fé sem Deus, uma fé sem irmãos. O primeiro a ser solidário foi o Senhor, que escolheu viver entre nós, escolheu viver em nosso meio” (negrito nosso). Nós somos um povo solidário, com as exceções que toda regra tem. São muitas as pessoas aqui na Prelazia de Itacoatiara, no Amazonas, no Brasil e no Mundo que se sensibilizaram fizeram e estão fazendo, na gratuidade, gestos de amor/solidariedade com os pobres e excluídos atingidos pelas desigualdades sociais, pela pandemia do coronavírus e pela crise da saúde no Estado do Amazonas. Queremos fazer nossas as palavras do jornalista Carlos Madeiro da Uol? “De todas as lições, uma que trago encoraja: o exército de populares que foram às ruas ajudar. Pessoas de todos os credos —ou sem— doaram comida, bebida, álcool, máscara… Cantaram para aliviar a dor, oraram juntos, deram assistência psicológica. Mais do que doar, fizeram todos ali se sentir importantes ao menos uma vez, já que o poder público parece tê-los abandonado. Como sempre, os heróis nas histórias mais difíceis são aqueles que menos aparecem“(https://noticias.uol.com.br/saude/2021/01/21). Podemos aplicar a estas pessoas “que foram às ruas para ajudar” o que diz a Palavra de Deus: existe “mais felicidade em dar do que em receber” (At 20, 35). Estas pessoas estão em sintonia com o ensinamento de João em sua primeira carta, quando nos exorta a não amarmos somente “com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (3, 18). Aqui na Prelazia, desde que a crise da saúde em nosso Estado, o Amazonas, se agravou, temos um grupo de Voluntários e Voluntárias, que de forma heroica, vem desenvolvendo um trabalho de solidariedade, que temos chamado de “Puxirum pela Vida”. É um grupo pequeno, para evitar aglomeração, mas que diariamente buscam e recebem doações e distribuem o que recebem para as famílias mais em dificuldades econômicas, para o Hospital Regional e a UPA – Unidade de Pronto Atendimento da cidade de Itacoatiara, que servem a mais cinco municípios da região. Estas pessoas entenderam o ensinamento de Jesus na Parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37) e o que diz Paulo na Carta aos Gálatas: “Em Jesus Cristo, o que vale é a fé agindo pelo amor” (5, 6). É bonito ver a solidariedade em tantos irmãos e em tantas irmãs distantes do Estado do Amazonas, que ao saberem de nossa realidade, desejaram ajudar. Estas pessoas fizeram como o Papa Francisco nos ensina na Encíclica Fratelli Tutti: “A proposta é fazer-se presente a quem precisa de ajuda, independentemente de fazer parte ou não do próprio círculo de pertença”. O Papa Francisco lembra ainda que o Samaritano “se fez próximo do judeu ferido. Para se tornar próximo e presente, ultrapassou todas as barreiras culturais e históricas” (nº 81). Esta solidariedade local e de fora, faz-nos lembrar do que disse Santa Dulce dos Pobres: “O importante é fazer a caridade, não falar de caridade. Compreender o trabalho em favor dos necessitados como missão escolhida por Deus” (citado no Texto Base da Campanha da Fraternidade de 2020, p. 47). Podemos ainda lembrar aqui o que diz o Documento de Aparecida: “Alegra-nos o profundo sentimento de solidariedade que caracteriza nossos povos e a prática de compartilhar e de ajuda mútua” (nº 99g). Para nos estimular na prática da solidariedade, quero trazer este ensinamento de São João Paulo II: “Ainda que imperfeito e provisório, nada do que se possa realizar mediante o esforço solidário de todos e a graça divina, em dado momento da história, para fazer mais humana a vida dos homens e das mulheres, nada se perderá ou será inútil” (Sollicitudo Rei Socialis, nº 47). Indignação Diante da situação da saúde no Amazonas e no Brasil temos de nos indignar. Jesus disse que se os seus discípulos “se calarem as pedras gritarão” (Lc 19, 40). Não devemos dar trabalho às pedras, por isto precisamos falar! A nossa Constituição Federal no Capítulo II – Dos Direitos Sociais, Artigo 6º, elenca os direitos sociais: educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados. No Título VIII – Da Ordem Social, Capítulo II – Da Seguridade Social, Seção II – Da Saúde, Artigo 196, diz que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (negrito nosso). A Constituição do Estado do Amazonas afirma no Artigo 2º, VIII, que são objetivos prioritários do Estado, entre outros a saúde pública e o saneamento básico. No Capítulo III – Da Política Fundiária, Agrícola e Pesqueira, Seção II – Da Saúde, Artigo 182, afirma que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, assegurado mediante políticas sociais, econômicas e ambientais que visem à eliminação de riscos de doenças e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação, entendendo-se como saúde o resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, saneamento básico, trabalho, transporte, lazer, acesso e posse de terra e acesso aos serviços e informações de interesse para a saúde” (negrito nosso). Portanto, a saúde é um dos direitos sociais garantido pela Constituição do…
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