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Cardeal Steiner: “Em Jesus há verdade e sua sabedoria nos liberta de preconceitos, fechamentos, estreiteza”

Lembrando que “a liturgia nos devolve à meditação o Evangelho de Marcos, depois de nos ter oferecido os textos extraordinários de São João que nos conduziram a Jesus e a fazermos com Pedro a confissão: ‘A quem iremos? Só tens palavras de vida eterna’. Fomos acordados para seguirmos a Jesus, a nos alimentarmos do Pão descido do Céu”, iniciou o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte1 da CNBB, cardeal Leonardo Steiner, sua homilia do 22º Domingo do Tempo Comum. “O Evangelho que acaba de ser proclamado nos convida à escuta da palavra como quem deseja espírito e vida; nos convida a estarmos dispostos a nos deixarmos tomar pelo espírito da palavra e não impormos na palavra, normas que acabam tolhendo a liberdade e a beleza do encontro com Deus”, destacou o arcebispo. Ele lembrou que “no diálogo com alguns fariseus e escribas, Jesus confronta o legalismo que escraviza e mata, porque leva à tristeza do egoísmo individualista. Opõe e propõe a graça da Boa Nova, que orienta, protege e salva, porque leva ao encontro com o outro e com Deus”. Comentando o texto, o cardeal destacou que “as prescrições antigas compreendiam não apenas os preceitos que Deus revelara a Moisés, mas uma série de regras que desejavam indicar o significado da lei mosaica. Os fariseus e escribas aplicavam tais normas de uma forma muito escrupulosa, estreita, moralista, e as ensinavam como uma expressão de religiosidade verdadeira e autêntica. Por isso, questionam a Jesus e aos seus discípulos pela transgressão das normas, e como ouvimos, daquelas relacionadas com a purificação exterior do corpo.” “A resposta de Jesus se manifesta de modo transparente, profético, límpido”, destacou, citando o texto e lembrando as palavras de Papa Francisco: “São palavras que nos enchem de admiração: sentimos que em Jesus há verdade e que a sua sabedoria nos liberta de preconceitos, fechamentos, estreiteza e nos conduz à liberdade da fé, dos filhos e filhas de Deus”. A discussão, segundo o presidente do Regional Norte1, “se refere ao valor da ‘tradição dos antigos’ e Jesus, recordando o profeta Isaías, ensina que são ‘preceitos dos homens’, e que não deve substituir o ‘mandamento de Deus’ (v. 8). Ele a nos dizer que manter a observância exterior da lei não é suficiente para ser cristão, ser discípulo missionário, discípula missionária. Observar a ‘exterioridade’ do mandamento, corre-se o perigo de nos considerarmos melhores do que os outros pelo simples fato de observar as regras, as tradições, mesmo não amando o próximo, sendo duros de coração, autossuficientes, sem compaixão. A lei pela lei, a norma pela norma, o mandamento pelo mandamento, é estéril, pois não muda o coração na busca de justiça, da paz, na ajuda aos pobres, aos fracos, aos oprimidos. Os mandamentos indicam a direção, a orientação de uma vida digna, compassiva, santa, pois nos oferece a graça de nos abrirmos ao encontro com Deus e à Sua Palavra.” Citando o texto da primeira leitura: “Israel, ouve as leis e decretos que eu vos ensino, para que vivais e entreis na posse da terra prometida. Vós os guardareis e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência (cf. Dt 4,6-8), o cardeal disse: “sim os mandamentos de Deus, as leis de Deus, oferecem sabedoria, a graça de permanecer na terra da promessa, o Reino de Deus. Permanecer na fidelidade do caminhar de nossos pais. Em outras palavras, permanecer na sabedoria e na inteligência de viver: Espírito e vida!” “Jesus, no Evangelho nos admoesta”, afirmou, citando o texto do Evangelho: “O que torna o homem impuro não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai de seu interior” (Mc 7,15). Diante disso, ele disse que “sublinha a primazia da interioridade, ou seja, a primazia do ‘coração’. Não são coisas exteriores que nos fazem santos ou não santos, mas é o coração que expressa as nossas intenções, as nossas escolhas e o desejo de fazer tudo por amor a Deus.” Com palavras de Papa Francisco, disse: “As atitudes exteriores são a consequência do que decidimos no coração, mas não o contrário: com as atitudes exteriores, se o coração não muda, não somos verdadeiros cristãos. A fronteira entre o bem e o mal não passa fora de nós, mas sim, dentro de nós. Podemos nos perguntar: Onde está meu coração? Jesus diz: “O teu tesouro é onde está o seu coração”. Qual é o meu tesouro? É Jesus, a sua doutrina?  É o coração bom ou o tesouro é outra coisa? Portanto, é o coração que deve ser purificado e convertido. Sem um coração purificado, não se pode ter mãos verdadeiramente limpas e lábios que pronunciem palavras sinceras de amor – tudo é duplo, uma vida dupla – lábios que pronunciam palavras de misericórdia, perdão. Somente isso só pode fazer o coração sincero e purificado.” “As impurezas e todas as maldades são de nossa responsabilidade, de nosso modo de relacionar-nos com a vida, com as pessoas, com a história, com Deus. Podemos relacionar-nos de modo sadio ou perverso, fraterno ou dominador, irmanado ou destruidor. Sadio, fraterno, irmanado quando as vemos e tratamos como graça, favor, bênção, benefício, sacramentais, presença do Deus vivo e verdadeiro. Perverso, quando as tratamos como se fossem apenas coisas ou quando as tomamos fazendo-nos donos e dominadores e, pior ainda, explorando-as e destruindo-as, sem respeitar-lhes a dignidade”, sublinhou o arcebispo. Segundo ele, “a relação com as criaturas irmãs, de que fala o Evangelho, nos leva a perceber o modo como nos relacionamos, como dominadores, como destruidores, quando no coração mora o desejo do lucro, da riqueza e não da fraternidade, da irmandade. Vemos essas maldades que nascem de dentro com os garimpos, com desmatamento, o fogo criminoso, o desregramento em relação à nossa Amazônia. O desejo desenfreado em busca de riqueza e dinheiro fazem das criaturas inimigas, destruindo-as, dominando-as; destruindo a casa que é de todos. Tudo porque do coração saem maldades: cobiça, más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições, desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho,…
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Encontro missionário na Tríplice Fronteira

De 26 a 28 de agosto de 2024, a comunidade indígena de Nazaré em Colômbia, região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, foi palco de um importante encontro missionário. Esse evento reuniu padres, irmãos, irmãs da Vida Religiosa Consagrada e missionários leigos dos três países, que compartilharam momentos de reflexão, cultura e espiritualidade. Diferentemente do encontro anterior, esse evento se destacou pela incorporação de novas atividades e abordagens. Os participantes desfrutaram de espaços lúdicos, atividades próprias da cultura indígena e descanso, além de momentos de introspecção e espiritualidade. A comunidade de Nazaré, conhecida por sua hospitalidade, abriu suas portas e corações para receber os visitantes, criando uma atmosfera de fraternidade e aprendizado mútuo. Um dos aspectos mais enriquecedores do encontro foi o intercâmbio cultural com o povo Magüta. Os missionários tiveram a oportunidade de conhecer e participar das tradições e dos costumes dessa comunidade indígena, aprendendo suas sabedorias, cosmovisões, sua história, suas crenças e sua relação com a natureza com a ajuda da narração dos avós e catequistas. Esse intercâmbio permitiu que os participantes valorizassem e respeitassem ainda mais a riqueza cultural dessa etnia tão numerosa na tríplice fronteira. Além disso, foram realizadas sessões de reflexão e diálogo sobre a importância da presença dos missionários na vida das comunidades indígenas.    Jonhatan Stiven Olarte- Voluntario Lasallista

CPT lança Caderno de Conflitos no Campo 2023, com foco na situação do Amazonas

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil apresentou nesta sexta-feira o Caderno de Conflitos no Campo 2023, “momento de muita reflexão, momento nós entendermos como está nosso cenário no campo”, segundo os organizadores do evento, que se centrou nos dados referentes ao Estado do Amazonas. Segundo o integrante da Comissão Pastoral da Terra, Manoel do Carmo da Silva, o 38º Caderno de Conflitos no Campo recolhe os dados coletados nas comunidades pela CPT, seguindo uma metodologia, que posteriormente são organizados com os aportes de diversos cientistas. O principal problema no Estado do Amazonas e na Amazônia em geral é a grilagem de terra de terras públicas, expulsando os moradores. Uma segunda causa de conflitos é o desmatamento ilegal, que tem como segundo passo a criação de gado.  Outras situações são o garimpo ilegal, a pesca predatória e a compra de terra em assentamentos do INCRA, algo que é ilegal. São situações que provocam ameaças, assassinatos, sequestros, esfaqueamentos, incêndios de casas e plantios de pequenos agricultores, dentre outros. Igualmente foi denunciado a invisibilidade do crime do Rio Abacaxis, mostrando a satisfação da CPT com os passos dados pelo Ministério Público sobre essa situação, afirmando que precisa punir os culpados. A secretária executiva do Regional Norte1 da CNBB, Ir. Rose Bertoldo, destacou a importância do registro dos conflitos no campo através do caderno. Segundo a religiosa, “a violência não atinge só a pessoa, ela atinge a família, atinge a comunidade e atinge toda a sociedade”. Igualmente, ela insistiu na importância de “trabalhar para que o pequeno produtor esteja no campo, porque é ele que melhor cuida no território e produz o alimento com qualidade”. Na fala da secretária executiva do Regional Norte1, ela destacou a importância de continuar lutando pelos direitos, “porque nenhum direito é garantido para sempre”. A Ir. Rose Bertoldo refletiu sobre a importância das eleições municipais e de eleger aqueles que defendem o cuidado da terra, diante dos graves riscos de liberar o garimpo e outras questões ligadas ao agronegócio. Preocupações presentes no Regional Norte1, que tem acompanhado a CPT, de quem é parceira e tenta caminhar junto. Paulo César Moreira Projeto, do Projeto Defendendo vidas, garantindo direitos expropriados, que nos últimos dias realizaram uma caravana de direitos humanos, destacando a importância de sua realização no Amazonas, dado as agressões aos direitos humanos no Amazonas, o que levou a realizar encontros com diversos organismos e entidades. Depois de escutar, foi orientado sobre como lidar com as injustiças, destacando a importância da articulação das diversas entidades e movimentos sociais. Ele insistiu na necessidade de caminhar juntos, se articular, de proteger as pessoas diante do aumento da violência contra o povo do campo e das periferias, elementos trabalhados durante a caravana. Sobre a realidade vivida em Parintins, o padre Oziel Cristo, que trabalha com os povos Sateré maué, destacou o trabalho realizado nas comunidades em vista da invasão dos madeireiros e garimpeiros, do tráfico de drogas, que tem prejudicado muito a unidade do povo da região. Diante dessa situação, o padre disse que seu trabalho é acompanhar, fazer um trabalho de unidade, orientar as lideranças para que eles possam se manter unidos e assim proteger sua cultura, seu território, sua vida. Para isso foi construída uma barreira em vista de impedir a entrada de pessoas estranhas e de drogas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

21 de setembro às 9:00 horas: Marcada a posse de dom Tadeu como bispo de Itacoatiara

O início da missão de dom Edmilson Tadeu Canavarros dos Santos como bispo da prelazia de Itacoatiara já tem data. No dia 21 de setembro, às 9:00 horas da manhã, a catedral Nossa Senhora do Rosário acolherá a cerimónia de posse do novo bispo. Nomeado bispo da prelazia de Itacoatiara pelo Papa Francisco no dia 22 de agosto de 2024, atualmente é administrador apostólico da mesma prelazia, cargo que desempenha desde 29 de julho de 2024, depois da posse canônica de dom José Ionilton Lisboa de Oliveira como bispo da prelazia do Marajó. Nascido em Corumbá (MS), no dia 3 de dezembro de 1967, o bispo eleito da Prelazia de Itacoatiara pertence à Congregação dos Salesianos de Dom Bosco. Ordenado presbítero no dia 7 de dezembro de 1996, foi mestre de noviços, diretor de colégio e de faculdades salesianas, vice inspetor, pároco, formador de seminaristas salesianos e diretor do Instituto Teológico Pio XI, em São Paulo. Ordenado bispo no dia 12 de dezembro de 2016, tem sido bispo auxiliar da arquidiocese de Manaus durante mais de sete anos, serviço para o que foi nomeado em 12 de outubro de 2016. No Regional Norte1 e na arquidiocese de Manaus, dom Tadeu é o referencial da juventude, sendo vigário episcopal da Região Nossa Senhora dos Navegantes, que corresponde às Zonas Centro Sul e Leste de Manaus e os municípios de Careiro da Várzea, Careiro Castanho e Manaquiri. Na arquidiocese acompanha a Vida Religiosa e os Movimentos e Novas Comunidades. Dom Tadeu será enviado pela arquidiocese de Manaus em uma celebração eucarística que será realizada na Catedral de Nossa Senhora da Conceição, presidida pelo cardeal Leonardo Steiner, no domingo 15 de setembro às 7:30 horas da manhã. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Grito dos Excluídos 2024: Chamado a reagir diante da falta de interesse real pela vida das pessoas

O Grito dos Excluídos e Excluídas, fruto de um processo da Primeira Semana Social Brasileira e de articulação das Pastorais Sociais, um grito por cidadania, está completando 30 anos. Em 2024, o tema é “Vida em Primeiro Lugar! Todas as formas de vida importam, mas quem se importa?” A arquidiocese de Manaus, que nesta quinta-feira 29 de agosto fez o lançamento, irá realizar o Grito na tarde do dia 5 de setembro, Dia da Amazônia, com concentração na Praça da Saudade às 15 horas, e posterior caminhada até a Praça da Matriz, tendo como foco principal as melhorias urgentes na saúde pública do Amazonas. Um trajeto escolhido devido ao grande fluxo de pessoas que se espera naquele momento na região central de Manaus. Segundo o bispo auxiliar de Manaus, dom Zenildo Lima, “a gente não compreende o Grito dos Excluídos somente como um manifesto, senão como uma argumentação bastante sedimentada, fruto de reflexão, fruto de participação popular, fruto de escuta”. Ele insistiu em que “o Grito dos Excluídos acaba se tornando uma grande expressão da caminhada processual”, não só da Igreja católica, dos movimentos sociais e dos povos tradicionais em vista do bem viver, algo que levou o bispo auxiliar a definir o Grito dos Excluídos como “capacidade de resistência das forças organizadas”, diante do comprometimento dos processos democráticos e de uma situação comprometedora, inclusive assustadora e avassaladora, o que demanda reação das forças sociais. O Grito tem caráter ecuménico e interreligioso, em vista de demandas de cidadania, do bem comum e do bem viver, ressaltou o bispo. Ele relacionou o Grito com a Campanha da Fraternidade deste ano, “Fraternidade e Amizade Social”, respeito da “fragilidade das diversas formas de existência humana”, levando a refletir sobre a cultura do descarte que ameaça a amizade social. “Não há uma preocupação, um interesse real pela vida das pessoas, existem categorias humanas, que, dentro de uma lógica de mercado e de consumo, são consideradas descartáveis, a vida dessas pessoas não importa”, disse comentando o tema do Grito dos Excluídos. Ele questionou quem está se importando realmente com migrantes, com populações em situação de rua, com pessoas LGBT, com populações indígenas, com a vida da nossa casa comum. Na arquidiocese de Manaus, o Grito dos Excluídos é coordenado pela Caritas, e seu vice-presidente, o padre José Alcimar Araújo, destacou que “o Grito dos Excluídos nunca saiu das ruas e das praças”, denunciando que “nos últimos anos, vimos um retrocesso muito grande nos nossos direitos”, com o desmantelamento dos órgãos de fiscalização. Isso demanda gritar e dizer “como cidadãos, como homens e mulheres de direitos, que muita coisa precisa ser mudada”, relatando situações concreta que mostram isso em Manaus, e que “complica a vida do nosso povo”, naquilo que tem a ver com saúde, educação e segurança, denunciando o controle que exerce o crime organizado nas periferias. O vice-presidente da Caritas Manaus sublinhou que “em vez de avançar, parece que a gente está retrocedendo, o mal está mais organizado, o mal tem mais dinheiro e o mal se expande com mais facilidade”, fazendo um chamado a refletir sobre a dispersão das forças do bem. Um grito profundo que “nasce do sofrimento, que nasce da dor, que nasce da exclusão, que nasce inclusive dos descartáveis”, que “não terão lugar nunca se não mudar o nosso modo de construir a sociedade e organizar a sociedade”, algo que tem a ver com a economia, distribuição dos recursos e o acesso aos direitos básicos. Falando sobre a saúde do Estado do Amazonas, o padre José Alcimar Araújo denunciou a negligência do governo estadual, citando exemplos disso que mostram a má administração e provocou a morte de muitas pessoas, especialmente no tempo da pandemia, quando muitos morreram pela negligência do poder público. Diante disso, afirmou que “como cidadãos temos o direito e o dever de cobrar àqueles que nós colocamos no poder”. A pouca participação no Grito dos Excluídos, levou o padre Alcimar a dizer que, mesmo todos sendo convocados, “infelizmente, a nossa concepção de fé, ela é muito religiosa, nós temos que ultrapassar os muros da religião, entender que a fé é uma postura de vida, é uma maneira de ser, e o nosso modelo de fé é Jesus”, que estava e se importava com os pobres e os pequenos, os considerados impuros e pecadores. A representante da Igreja católica no Conselho Estadual de Saúde e coordenadora das Pastorais Sociais da arquidiocese de Manaus, Guadalupe Peres, que se disse defensora ferrenha do SUS, denunciou a falta de medicação essencial, a carência de especialidades médicas, as longas filas de espera para as consultas e procedimentos. Ela pediu melhores gestores no SUS e as tentativas de acabar com o SUS com o impulso de planos de saúde particulares, que também não funcionam. Para resolver essa situação foi lançado um abaixo assinado que será entregue às autoridades e aos poderes de fiscalização. Igualmente falou sobre a fumaça em Manaus, consequência de incêndios criminosos, e como isso atinge a saúde, especialmente das crianças e dos idosos, algo que ninguém toma providências. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Fotos: Ana Paula Lourenço

Mês da Bíblia: a Palavra coloca em nós o espírito que nos dá vida

Cada ano no Mês de Setembro, as comunidades católicas no Brasil são convidadas a refletir sobre a Palavra, tendo como fundamento um dos livros da Bíblia. Em 2024, o livro proposto é o Livro de Ezequiel, com o lema “Porei em vós meu espírito e vivereis”. Uma oportunidade para conhecer a Bíblia, mas também para entender que esse texto nos leva a refletir sobre nossa vida, sobre nossas atitudes, sobre nosso modo de nos relacionarmos com os outros. Só quando conhecemos, rezamos e meditamos a Palavra, conseguimos testemunhá-la. Nos encantarmos com a Palavra nos compromete, e faz com que os outros se encantem pelo efeito que essa Palavra provoca em nossa vida. A Palavra transforma, nos faz homens e mulheres novos, com um novo olhar, que nasce de Deus, um olhar marcado pelo espírito de Deus, que muda nossa vida. O Mês da Bíblia nos leva a refletir sobre o espírito que nos dá vida, sobre aquilo que conduz nossa vida pessoal e comunitária. Quando deixamos que Deus ponha em nós seu espírito, nossa vida se plenifica, cobra maior sentido. Uma dinâmica importante em uma sociedade onde a materialidade, a individualidade, o imediatismo são colocados antes do que uma vida fundamentada no espírito. Se faz necessário entender que a Palavra tem que se traduzir em atitudes de vida, que o texto sagrado não relata uma história do passado, e sim aquilo que acontece em nossa vida e em nosso meio. Essa Palavra tem que nos questionar como pessoas, como sociedade, como Igreja. Uma vida sem espírito acaba sendo uma vida que aos poucos vai morrendo, perdendo força de transformação. A Palavra não pode ficar no papel, encerrada dentro do templo, da capela. A Palavra tem que ser levada para nossa casa, para nossa vida, daí a riqueza dos círculos bíblicos, dos encontros que são realizados em tantas casas. Uma Palavra que se concretiza através da realidade, com exemplos concretos, próximos da realidade que faz parte do nosso cotidiano, do nosso dia a dia. Nessa Palavra vamos encontrando sinais de esperança, uma atitude cada vez mais necessária na vida de muita gente, que por diversos motivos foram perdendo seu caminho, o sentido de sua vida. Nessa perspectiva, seguindo aquilo que nos pede o Papa Francisco para o Jubileu do próximo ano, temos que ser peregrinos de esperança, sobretudo no meio daqueles que vivem nas periferias geográficas e existenciais. Não nos conformemos com carregar a Bíblia embaixo do braço, carreguemos a Palavra no coração. Que ela seja a força missionária para todos nós como batizados e batizadas, mas também para nossas comunidades. Não façamos uma leitura da Bíblia desde o intelecto e sim desde o coração, desde uma conversão que nasce da voz de Deus no meio de nós. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

PUAM: Recuperar as utopias do passado para construir um sistema educacional diferente

O Conselho do Programa Universitário da Amazônia (PUAM) reuniu-se em Manaus nos dias 27 e 28 de agosto de 2024. Um órgão nascido das propostas do Sínodo para a Amazônia, que busca recuperar as utopias do passado para construir um sistema educacional diferente, a partir e junto com os povos indígenas. Promove seu protagonismo, para que sejam sujeitos de transformações, para construir um futuro a partir do que são, com uma educação que promova os valores de cada povo, levando em conta o território, um espaço sagrado que integra sua história, suas relações sociais e seu modo de vida. Alcançando os vulneráveis Em busca de uma compatibilidade crível entre a fé e a razão, que caminham lado a lado para capacitar o ser humano e construir sociedades mais humanas, mais fraternas, mais próximas de Deus, como incentivado pelo Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, Cardeal José Tolentino de Mendonça, que, em uma mensagem de vídeo, desafiou a PUAM a alcançar os vulneráveis no território amazônico. O PUAM tem estabelecido parcerias com diversas instituições universitárias, dentre elas a Faculdade Católica do Amazonas, da arquidiocese de Manaus, segundo disse a Coordenadora de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação, professora Elisângela Maciel, um caminho comum iniciado no ano passado, “estreitando os laços, discutindo alguns pontos importantes, e com a mesma preocupação de aprofundar as questões da educação, mas com um olhar diferenciado e uma educação que não fique presa só na instituição, mas que ela vai ao encontro das comunidades, que vai ao encontro das pessoas”. A professora ressalta que “esses programas, eles têm se alinhado, para que a gente possa alcançar o máximo possível de formação para quem precisa de formação e não tem acesso à instituição, não tem acesso aos meios ainda”. Ela afirmou que “o programa, ele visa facilitar isso, os programas do PUAM, eles vão se desdobrar em vários cursos com perspectivas e com direcionamentos diferentes, mas visando uma formação mais aprofundada e que dê condições para que as pessoas possam estar ocupando determinados espaços como lideranças, mas também na vida profissional”. Trabalhando a partir do acompanhamento das comunidades A colaboração das Irmãs Lauritas com a PUAM se baseia no fato de que o trabalho dessa congregação “é desenvolvido entre os povos indígenas de toda a América Latina”, como afirma a Irmã Maritza Monsalve. De acordo com a religiosa, “acompanhamos todos os serviços onde podemos acompanhar e continuar sendo uma presença entre eles”. O trabalho de base, no meio das comunidades amazônicas, é algo que muitas pessoas e instituições assumiram. Uma delas é Maria Teresa Sánchez, da Universidade Católica Andrés Bello – Extensão Guayana, na Venezuela, para quem “o Programa Universitário Amazônico é uma oportunidade para aqueles que, vivendo no território, não têm acesso a uma educação de qualidade com ampla informação, porque a educação universitária tradicional não responde às necessidades de cada um dos territórios”. Caminho interinstitucional comum Entre os desafios que o PUAM precisa enfrentar está o financiamento, para o qual o conselho sugeriu algumas medidas a serem tomadas. Durante a reunião, foram apresentados alguns dos cursos que fazem parte do programa, realizados por meio de um trabalho conjunto entre várias instituições de ensino, que surgiram após conhecer os indicadores do território. Um deles é um curso sobre saúde, do qual participam a Pontifícia Universidade Católica do Equador e a Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá. O Programa Universitário Amazônico participa do Observatório da Democracia na América Latina da Associação de Universidades confiadas à Companhia de Jesus na América Latina (AUSJAL). Diante da deterioração e do desencanto com a democracia no continente, o observatório busca ter um impacto na melhoria da qualidade da democracia. A proposta está estruturada em várias etapas, com a participação de vários pesquisadores que contribuem com dados baseados em informações de líderes locais, no caso do PUAM, na região amazônica. Uma escolha para os contextos mais oprimidos A Uniminuto, uma universidade que hoje está presente em 43 municípios de 21 departamentos colombianos, com um extenso programa virtual, surgiu como mais uma etapa do Minuto de Dios, iniciado pelo padre eudista Rafael García Herreros, que desde 1954 ajuda os colombianos a refletir. Uma universidade que atualmente tem 248 programas universitários com 102.000 alunos na Colômbia, que já formou mais de 211.000 alunos em 32 anos. Em um caminho comum com o PUAM, eles levaram a universidade para os departamentos de Guainía e Vaupés, com uma porcentagem significativa de indígenas entre os alunos. A Jesuit Worldwide Learning leva a universidade para onde estão aqueles que não podem ir à universidade, optou por trabalhar em contextos muito oprimidos, nas áreas mais críticas do mundo, entre elas os povos indígenas, levando em conta que 46% dos 500 milhões de indígenas do mundo não têm acesso à educação básica e apenas 8% chegam à universidade. Eles realizam trabalhos com minorias religiosas, com grupos que sofrem violações de direitos humanos e com aqueles afetados pelas mudanças climáticas, 11.000 alunos em 33 países. Um caminho, que serve de inspiração para a PUAM, no qual eles vêm treinando líderes, gerentes e animadores comunitários, como mostra o programa construído e apresentado na reunião. Um espaço para somar corações, para ver que há muita gente trabalhando na Amazônia, mesmo que não se perceba, para carregar no bolso as pequenas coisas que são feitas em tantos cantos. Mas também para descobrir os passos a serem dados na construção desse novo programa que se baseia na sabedoria dos povos e se propõe como elemento fundamental para o futuro da Amazônia e de seus povos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Programa Universitário Amazônico (PUAM): valorizar e fortalecer o conhecimento local como um caminho para minimizar a lacuna educacional

Nos últimos dias, Manaus tem sido o epicentro dos caminhos de futuro da Igreja na Amazônia. Foi realizado o V Encontro da Igreja na Amazônia Brasileira, que reúne 58 igrejas locais, a II Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) e, nos dias 27 e 28 de agosto, acontece a reunião do Conselho do Programa Universidade da Amazônia (PUAM). A importância de uma visão panorâmica Mais de 20 representantes de diversas universidades, organizações e instituições, vindos de vários países, buscando avançar em um caminho que começou em 2022. O cardeal Pedro Barreto, arcebispo emérito de Huancayo (Peru) e presidente da CEAMA, disse a eles que é muito importante ter “uma visão panorâmica de todo o processo que estamos construindo, algo sem precedentes e que nasce como um mandato de Deus”. O cardeal destacou o passo iniciado há 10 anos, que significou uma mudança do anúncio do Evangelho “em ilhas” para a canalização de diversas experiências e a criação de um canal de comunhão na diversidade. O cardeal Barreto insistiu que não devemos ter medo de ser diferentes, o importante é estarmos identificados com a Amazônia. Para isso, defendeu a consciência de trabalhar juntos, articulados, unidos em algo que é um dos sonhos de Deus, como expressou o Papa Francisco em Querida Amazônia. O cardeal peruano lembrou que o PUAM surgiu de uma proposta do Sínodo para a Amazônia, em conjunto com a CEAMA, ressaltando que é um mandato do Magistério pontifício e como Magistério indica uma linha para toda a Igreja. A partir daí, definiu o PUAM como a expressão do caminho concreto da Igreja na Amazônia para a educação de todos os que vivem na Amazônia, com especial atenção aos povos indígenas, que são os mais atingidos. Uma educação no território amazônico com a qual a Igreja está comprometida, enfatizou o presidente da CEAMA. Projeto educacional da PUAM Os membros do conselho foram informados sobre os passos dados no projeto educativo do PUAM, sua estrutura, dividido em três capítulos, partindo do contexto, passando por um projeto educativo na Pan-Amazônia, até chegar às diretrizes pedagógicas. Para concluir, enfatiza-se a necessidade de compreender a missão do PUAM na construção de um futuro sustentável, os desafios e as perspectivas para o futuro e as referências. Para avançar, responderam a uma pergunta: “A partir do caminho coletivo, quais são as percepções do Conselho sobre a estrutura e/ou o conteúdo do Projeto Educativo do PUAM?” Análise da realidade educacional O estudo de viabilidade territorial, educacional e financeira do Programa Educativo do PUAM “Gestão Integrada do Território Amazônico” destaca o trabalho realizado no território, buscando recuperar as vozes do território. A análise da realidade educacional de cada país onde a PUAM está presente mostra que, no Brasil, por exemplo, houve a diminuição do analfabetismo e a necessidade de acesso ao ensino superior, a necessidade de abordar a inclusão e a diversidade sociocultural, a falta de programas de desenvolvimento sustentável e conservação ambiental e de formação profissional e tecnológica adaptada à região amazônica, bem como a promoção da igualdade de gênero na educação. A realidade colombiana mostra a baixa taxa de cobertura no ensino superior, os desafios decorrentes das condições geográficas e socioculturais, a falta de programas educativos adaptados e as desigualdades econômicas e de recursos. Essas situações se repetem no Equador, onde a taxa de evasão é alta e há desigualdade na distribuição da oferta educativa e dificuldade de adaptação às necessidades regionais, o que exige o fortalecimento da identidade cultural e da autonomia. Também no Peru, onde há falta de recursos e de ofertas educacionais, principalmente contextualizadas. Uma desigualdade mais evidente na Venezuela, consequência da crise econômica e social, agravada por estratégias educacionais incompletas e politizadas. Elementos comuns nas comunidades amazônicas Uma realidade que é decisivamente influenciada pelos problemas sociais da região amazônica, que se referem à educação, à saúde, ao transporte, à invasão de territórios, à falta de liderança, à migração, à falta de segurança, ao meio ambiente e à perda da cultura, entre outros. Daí surge a demanda por capacitação técnica e tecnológica e algumas propostas são feitas com o objetivo de promover a liderança local, a capacitação para o bem comum, contextualizada e intercultural, programas educacionais abrangentes, empoderamento do território, ofertas de emprego local, programas sociais com a participação e o protagonismo da comunidade, gestão de cultivos para as gerações mais jovens. Isso gera sonhos e aspirações de capacitação, em busca de condições de vida dignas para os jovens, capacitação tecnológica, fortalecimento das identidades, não perder o que é indígena, buscar o bem comum e a combinação da Igreja com o que é indígena. Da mesma forma, surgem necessidades de capacitação que têm como pontos fundamentais a liderança, o fortalecimento da cultura, a educação intercultural, a gestão de conflitos, a comunicação e as ferramentas de acompanhamento. 50 anos de ensino superior da Igreja em Manaus Na reunião se fez presente o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, que lembrou a história da arquidiocese no campo da educação por mais de 50 anos, não só do clero, mas também do laicato, um fruto do Encontro de Santarém 1972. Foi naquele tempo que surgiu o Centro de Estudos de Comportamento Humano (Cenesc), que junto com a Universidade Federal do Amazonas foram naquele momento os únicos centros universitários em Manaus. O cardeal disse que infelizmente não se deu os passos para que isso se transformasse numa grande universidade católica. Ele insistiu na necessidade de buscar modos de sermos presença no mundo da formação e da reflexão, um pedido que apareceu no Sínodo para a Amazônia, em vista de formar pessoas que estejam na liderança diante da diversidade de realidades na Amazônia brasileira. Igualmente, o cardeal Steiner falou sobre a importância da presença da Igreja católica no debate económico e social. Finalmente, o arcebispo de Manaus lembrou que a Igreja sempre se destacou no campo da educação, também no âmbito universitário, enfatizando a necessidade de ser presença evangelizadora no campo da educação. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Encerrada a Assembleia da CEAMA, desafiada a assumir compromissos para poder continuar sua missão com coragem

A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia, que reuniu cerca de 70 pessoas em Manaus, de 23 a 26 de agosto, foi encerrada com compromissos que permitam caminhar juntos na presença de Deus. Em uma Igreja amazônica unida a Deus, como destacou o presidente da CEAMA, Cardeal Pedro Barreto, na Eucaristia de encerramento, ele ressaltou que a paz e a esperança devem marcar a vida e a missão, a partir dos compromissos assumidos diante de Deus. Fortalecendo a caminhada Diante dos muitos problemas, sofrimentos e preocupações, o Cardeal Barreto ressaltou que “a graça e a paz de Deus nos fortalecem em nossa caminhada”, e conclamou, como expressão do Reino de Deus, a “caminharmos juntos em sua presença, tendo em mente os irmãos e irmãs que vivem na Amazônia”. Seguindo o exemplo dos rios da Amazônia, ele convidou a buscar canais de comunhão, de participação de todos para anunciar a missão de Jesus na Igreja. Para isso, pediu a ajuda de Maria para caminharmos juntos e atitudes de coragem, coerência, compromisso como expressão de parresia nesse Kairos. Em vista dos compromissos que serão assumidos, a CEAMA foi chamada a ser um sinal de esperança, a partir da escuta e do serviço, para ter confiança em Deus, presente e atuante na Amazônia. Em uma atitude de escuta, de ser uma Igreja que cuida, acompanha e inclui, que discerne e oferece uma espiritualidade que ajuda a viver em sinodalidade, que reconhece a presença das mulheres e medeia a Revelação do rosto de Jesus. Uma Igreja que, a partir da Amazônia, quer ser uma inspiração para outras igrejas. Daí a necessidade de fortalecer a organização e a estrutura interna da CEAMA e sua comunicação e comunhão com a REPAM, promovendo processos, com um compromisso pessoal e comunitário de conversão, a partir de uma espiritualidade e vocação amazônica, em diálogo com as Conferências Episcopais, as igrejas locais e outras organizações, levando em conta a caminhada da Igreja em cada país, a partir da leitura da realidade, que leva a aprofundar o método da encarnação a partir da vida existente na Amazônia, assumindo o Observatório sócio pastoral, apostando na ecologia integral a partir do conhecimento dos povos amazônicos. Assumindo a matemática evangélica Partindo da parábola dos pães e dos peixes, o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Integral, Cardeal Michael Czerny, analisando a matemática e a gramática, afirmou que “os discípulos pensavam que, para alimentar as pessoas, tinham que dividir cinco pães e peixes, e isso lhes parecia absurdo. Já a matemática para Jesus era o oposto: eles não dividiam, mas multiplicavam”. Trazendo isso para a vida da CEAMA, ele disse que achava que “há uma tentação constante de usar a matemática humana da divisão, pensando que há apenas um bolo”, porque “a matemática humana divide”, insistindo que “essa matemática fechada, precisa, científica, não funciona bem em nosso organismo eclesial. Temos que ter a matemática evangélica em nossa cabeça para reconhecer no outro aquilo que se multiplica”, assinalou, “que não me tira nada”. Na matemática evangélica “há outra lógica”, onde 100 mais 100 não são 200, mas 250 ou 300, porque “muitas vezes na Igreja caímos na tentação de planejar à luz da ciência humana e não da graça de Deus”. A graça da matemática evangélica foi descoberta pelo cardeal “na lógica do caminho sinodal”, onde “cada vocação se soma e precisa das outras vocações”. A missão não é um bolo a ser dividido e distribuído entre as várias vocações; pelo contrário, é quando cada vocação é realizada ao máximo que a missão prospera. A importância da gramática Falando de gramática, ele destacou que, durante a assembleia, “as palavras mais importantes são os verbos. Eles indicam o que está sendo feito e o que precisa ser feito”, enfatizando que “temos que prestar atenção aos verbos”. Esses verbos usados pela CEAMA “têm dois sujeitos, dois nominativos, o que é um pouco perigoso. Há o risco de usá-los em demasia”. Um deles, que é usado com muita frequência, é o sujeito “Ceama”. Uma conferência, seja eclesial ou episcopal, não deve ser o sujeito de tantos verbos, ou seja, não deve cair no que chamamos de autorreferencialidade. Refletiu também sobre o “nós”, referindo-se aos participantes da Assembleia, dizendo que “os sujeitos dos verbos deveriam ser as Igrejas locais, os povos, a Amazônia, à frente das frases”. Isso por uma razão eclesiológica e comunicativa, porque “eclesiologicamente, suponho que vocês reconheçam que o ‘nós’ não é, que a Ceama não é o nominativo, mas as pessoas, as instituições, os processos, o que precisa ser feito” para novos caminhos de evangelização e ecologia integral na Amazônia. Em termos de comunicação, “as pessoas querem ouvir que ‘elas’ são os sujeitos, o nominativo, os atores, os protagonistas”. Daí o apelo que ele fez para reduzir a palavra CEAMA, ou nós, para deixar mais espaço para a palavra você. Comunicação para unir o que está dividido Da comunicação vaticana, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, em mensagem enviada à assembleia, disse que recordava o Sínodo para a Amazônia com emoção e gratidão, afirmando que “esta Assembleia da CEAMA nos diz que o caminho continua em frente, é importante estar juntos, caminhar juntos, traçar juntos o caminho de comunhão que nos une”. Em suas palavras, seguindo o pensamento do Papa Francisco, ele refletiu sobre a importância da comunicação que vem de um coração não endurecido, e sobre a necessidade de que a comunicação sirva para unir o que está dividido, porque a comunhão é um dom recíproco, que entrelaça nossas diferenças, que nos permite reconhecer e apreciar o outro. Daí a importância de encontros como essa assembleia “para a construção de um mundo melhor e de uma comunicação alternativa, um trabalho que estamos fazendo juntos”, ressaltou Ruffini, que pediu para “tecer uma narrativa diferente”, para realizar “um sistema de comunicação baseado na humanidade, e não na tecnologia das máquinas ou no cálculo de algoritmos”. Para isso, insistiu na urgência de recuperar bem viver dos povos amazônicos, “de uma visão pura capaz de…
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Rito Amazônico, Ministerialidade, PUAM e REIBA frutos da CEAMA no território

A Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) nasceu como uma das propostas do Sínodo para a Amazônia, que no número 115 de seu Documento Final propõe “criar um organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as igrejas da região, que ajude a delinear o rosto amazônico desta Igreja e que continue a tarefa de encontrar novos caminhos para a missão evangelizadora”, algo que mais tarde se tornaria uma conferência eclesial e não apenas um organismo episcopal. Na 2ª Assembleia da CEAMA, que está sendo realizada em Manaus de 23 a 26 de agosto de 2024, com cerca de 70 participantes, foram apresentados alguns dos passos que estão sendo dados sob a égide dessa organização, como o Rito Amazônico, a ministerialidade, o Programa Universitário Amazônico (PUAM) e a Rede de Educação Intercultural Bilíngue Amazônica (REIBA). O desejo de uma Igreja com rosto amazônico está presente na Amazônia desde a chegada da Igreja Católica no século XVI, mas especialmente a partir do Vaticano II e dos encontros dos bispos da Amazônia peruana, em 1971, em Iquitos, e da Amazônia brasileira, em 1972, em Santarém, tomando um impulso decisivo em 2019 com o Sínodo para a Amazônia, do qual surgiu o Rito Amazônico, como afirma o número 119 do Documento Final, algo que tem a ver com o território, mas também com os povos que o habitam. Segundo Agenor Brighenti, é um rito que quer ser muito mais do que um rito litúrgico, porque não pode se reduzir a inculturar a Liturgia ou o Missal Romano. A partir dessa perspectiva, está sendo feito um trabalho sobre os sacramentos e os sacramentais, a iniciação à vida cristã, a Liturgia das Horas, o Ano Litúrgico, os ministérios, o espaço litúrgico, as estruturas e a organização eclesial. O objetivo é que seja um rito que configure um modelo de Igreja para a Amazônia. O teólogo brasileiro insiste que um rito não se cria, mas se desenvolve a partir dos processos de inculturação do Evangelho e encarnação da Igreja, fruto de um longo processo de comunidades inseridas na realidade, algo que vem sendo feito desde a chegada dos primeiros missionários. Diante da imensidão e da diversidade da região, Brighenti questiona se é possível ter um único rito para toda a Amazônia. Nessa perspectiva, ele defende a necessidade de respeitar e promover a diversidade, de modo que, em uma Amazônia múltipla, seja possível encontrar um denominador comum, mas aberto o suficiente para que cada região possa expressar sua especificidade nesse rito. Desde 2020, foram dados passos com contribuições de vários especialistas e comissões de trabalho, que levaram ao Marco Geral do Rito Amazônico e à compilação de registros de experiências de inculturação, buscando criar os componentes do Rito Amazônico que levam à elaboração dos Rituais do Rito Amazônico. Esse processo se estenderá até março de 2025, com três anos ad experimentum para avaliar e ajustar o Rito Amazônico. A equipe do Rito Amazônico, composta por cerca de 30 pessoas, insiste na importância de reunir experiências de inculturação nas comunidades. As medidas tomadas na pesquisa até agora estão sendo usadas para o trabalho das comissões. Entre os desafios está a socialização do documento de trabalho “Pontos básicos de referência para um Rito Amazônico” em todos os níveis da Igreja interessados no processo do Rito. Junto com isso, a integração de outras pessoas que possam contribuir com as 13 comissões de rito, especialmente em espanhol. Com relação à ministerialidade, o núcleo de reflexão enfatiza que “todas as iniciativas das mulheres na Amazônia são uma fonte de inspiração nos processos de sinodalidade e nas mudanças que se desejam na Igreja Católica”. Insistem que “a voz das mulheres tem que ressoar, mas não para tirar espaço de ninguém, mas para nos incluir como membros desta Igreja e fazer ressoar as vozes das mulheres”. Algo que começa com o sacramento do batismo e a compreensão da Igreja como o povo de Deus. Entre os desafios está o fato de haver poucas mulheres no núcleo e não ser possível chegar a muitos lugares e realizar um processo de discussão e estudo sobre a ministerialidade da mulher nas comunidades. A partir do núcleo, pede-se que a CEAMA e as conferências episcopais reconheçam os ministérios das mulheres na Amazônia, que a CEAMA solicite formalmente a Roma a instituição do diaconato feminino e que se iniciem escolas de formação diaconal para mulheres na Amazônia. O Programa Universitário Amazônico (PUAM), que realizará sua assembleia nos dias 27 e 28 de agosto, em Manaus, apresentou sua natureza e a composição do programa, que inclui instituições de ensino superior, redes e atores globais, atores eclesiais, incluindo a CEAMA, e redes de cooperação fraterna. Também foram apresentadas a diretoria, os passos dados e os processos de formação técnica e tecnológica, com a construção de conteúdos e horizontes. A REIBA trabalha em comunidades indígenas na perspectiva da educação bilíngue e da ecologia integral, está presente em 11 dioceses e vicariatos na Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Guiana, acompanhando 12 povos indígenas. Presidida pelo bispo de Puerto Maldonado (Peru), dom David Martínez de Aguirre, conta com um coordenador geral e várias comissões, tendo sido iniciada em 2020, período em que deu vários passos. Um programa que conta com voluntários locais e de outros 10 países. A REIBA está dividida em vários núcleos: Amazônia e Igreja, Povos Indígenas, Formação Pessoal e Comunitária e Educação Intercultural Bilíngue. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1