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Comissão contra o tráfico de pessoas da CNBB encerra missão em Roraima, pedindo à Igreja tratar o tema de forma mais incisiva

Os frutos são aquilo que a gente carrega na memória. Depois de uma semana de missão na diocese de Roraima, com visitas na Guiana e na Venezuela, para a Comissão Episcopal Especial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, chega o momento de concretizar os caminhos que ajudem a esquentar a resistência, a dar os passos para que a Igreja e a sociedade assumam para valer o enfrentamento ao tráfico de pessoas, para dizer alto e forte: “Tráfico de Pessoas existe! Enfrentá-lo é nossa missão!”. Uma luta de muitos anos Uma luta assumida na Amazônia pela Rede um Grito pela Vida durante mais de dez anos, e pelo Regional Norte1 da CNBB, que tem como causa permanente a prevenção ao abuso, exploração sexual e tráfico de pessoas. A Igreja de Roraima, que evangeliza a região desde 1725, e que em 1907 foi configurada como prelazia, confiada aos beneditinos do Rio de Janeiro, foi desde o início uma Igreja que fez opção pelos povos indígenas, com alto custo, pois sempre encontrou a oposição dos fazendeiros e da sociedade local. Uma luta em favor dos povos indígenas que tem preparado a Igreja de Roraima para a atual luta em favor dos migrantes, que podemos dizer também encontra forte rejeição em boa parte da sociedade roraimense. A missão da comissão tem sido uma oportunidade para os participantes para renovar a esperança e o compromisso com a causa do enfrentamento ao tráfico de pessoas, para uma maior incidência dentro da Igreja e na sociedade. Uma visão ampliada da realidade ajuda a ter maior consciência daquilo que tem que ser mudado, dos desafios, do papel a ser assumido, em comunhão, caminhando juntos, em sinodalidade, com uma fraternidade alargada, criando redes de enfrentamento, sempre em vista do cuidado das vítimas. Para isso, se faz necessário ter dados objetivos, alargar a escuta, dar a oportunidade do povo, dos migrantes, que confiam na Igreja católica, falar, andar sem pressa, maior interação com os migrantes, que favoreça o acolhimento. Uma missão que vai ajudar a elaborar informes para ajudar no trabalho pastoral da Igreja e na incidência política numa sociedade que nem sempre tem o olhar que deveria para com as vítimas do tráfico de pessoas. Um problema global “Nós viemos aqui como Igreja do Brasil, e nós vimos a necessidade de tornar a pauta do tráfico humano mais conhecida dentro da própria Igreja”, afirma o bispo de Tubarão (SC) e presidente da comissão, dom Adilson Pedro Busin. Ele lança um desafio à presidência da CNBB e do CELAM a assumir que o tráfico de pessoas “é um problema global que tem que ser tratado de maneira global”. Um problema que engloba toda América, e ele tem que ser tratado nessa dimensão, pedindo que “o CELAM, junto com as conferências episcopais de cada país, esse tema do tráfico humano seja tratado de uma forma mais incisiva e mais envolvente, inclusive com os bispos”. O presidente da comissão insiste em que “é uma questão candente, ela perpassa as nossas fronteiras”, mas também em seus diversos aspectos, “é uma questão presente dentro de cada país, na exploração sexual, a exploração de mulheres e crianças, o trabalho análogo à escravidão, isso está em nossos países”. Diante dessa realidade, o bispo ressalta que “essa temática tem que ser tratada com mais amplitude”. Como comissão, ele disse que “fica o desafio de irmos a outra realidade, a outro estado do Brasil, mover, cutucar e provocar à imprensa local, às autoridades locais, acima desse tema”. Para a diocese de Roraima, “ficam desafios maiores, porque nós estamos mais conscientes de toda a realidade de tráfico de pessoas, exploração sexual, que está interligado a muitos outros tráficos, de armas, de mercúrio para o garimpo ilegal”, afirma o bispo local, dom Evaristo Spengler. Por outro lado, “uma consciência maior, e isso leva a uma organização maior enquanto Igreja e enquanto sociedade para um trabalho em rede”, sublinho o bispo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Colóquio na Universidade Federal de Roraima sobre Tráfico Humano: dar respostas aos clamores dos migrantes

Numa sociedade em que os migrantes sofrem xenofobia, falta de oportunidades, preconceito, tristeza, desemprego, desproteção, antipatia, racismo, se faz necessário superar essas atitudes, e para isso a colaboração de todos é decisiva. Alargar o espaço da tua tenda, de cada um de nós, das famílias, da sociedade, da Igreja, algo que nos pede a 39ª Semana do Migrante, é uma atitude inadiável. Um trabalho conjunto, como foi destacado no III Colóquio: Tráfico Humano, realizado na Universidade Federal de Roraima, uma universidade sempre aberta às causas sociais, com grande presença, especialmente de migrantes, e também os participantes da missão que está realizando a Comissão Episcopal Especial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O presidente da comissão, dom Adilson Pedro Busin, bispo de Tubarão (SC), agradeceu a possibilidade de participar do colóquio. Numa semana em que a comissão quis ver e escutar diversas realidades que são vividas em Roraima pelos migrantes, mas também na Guiana e na Venezuela, para mostrar que “o tráfico de pessoas existe, enfrentá-lo é nossa missão”. Se trata de buscar luzes para reconhecer que o tráfico de pessoas existe e juntos enfrentá-lo, destacou o bispo, que deu a conhecer os objetivos da comissão e os materiais que orientam e ajudam a combater o tráfico de pessoas. Um momento importante para uma Igreja missionária sem fronteiras, segundo destacou dom Gonzalo Ontiveros, bispo do Vicariato Apostólico do Caroní (Venezuela), participante do colóquio, que mais uma vez agradeceu a acolhida do povo brasileiro aos migrantes venezuelanos. O colóquio pretendia escutar as demandas dos migrantes, buscando respostas aos clamores presentes em sua vida. Em primeiro lugar, num evento para sensibilizar à população roraimense sobre a realidade da migração, foi questionado em relação aos idosos migrantes que estão chegando no Brasil, à dificuldade para conseguir um trabalho estável, uma casa. Diante dos questionamentos foi apresentada a proteção social básica existente no Brasil e as condições para ser beneficiários. O direito ao trabalho é garantido, é um direito social fundamental, independentemente de sua nacionalidade, nas mesmas condições e remuneração que qualquer brasileiro. Daí a importância da sensibilização para combater a exploração laboral, mostrando para os migrantes os direitos que ele tem, para evitar ser explorado e reduzir a vulnerabilidade, segundo mostrou o representante do Ministério Público de Roraima, que insistiu em combater o tráfico de pessoas, uma urgência diante do fato do Ministério Público do Trabalho de Roraima ter recebido só uma denúncia em 2024, o que mostra o medo a denunciar existente. Igualmente foi informado sobre os passos a ser dados para revalidar os títulos universitários de outros países. Algo que pode facilitar entrar no mercado laboral, onde os migrantes recebem um salário 30 por cento menor do que os brasileiros pelo mesmo serviço, 35 por cento no caso das mulheres. Não alugar uma casa para migrantes é algo ilícito, mas muitas vezes, dada a burocracia existente no Brasil, os migrantes acabam pagando aluguel mais caro. Diante disso, se faz necessário que os migrantes possam ter acesso às políticas de habitação popular. A vulnerabilidade entre os migrantes faz com que eles sejam recrutados para trabalhar em garimpos e fazendas, se tornando vítimas do tráfico humano, sem receber os devidos direitos trabalhistas, insistindo em que a dignidade humana não tem fronteiras. Essa vulnerabilidade também está presente também entre as crianças, com dificuldade para poder aceder ao sistema educativo, muitas vezes dificultado pela falta de informação e a grande burocracia existente. Diante dessa realidade, precisa de muita mobilização social, o que demostra a importância de momentos como o colóquio realizado na Universidade Federal de Roraima. A articulação é algo fundamental, ir somando pessoas nessas causas, trabalhar em rede, se fortalecer, denunciar situações de tráfico de pessoas presentes na sociedade, como caminho para avançar na acolhida dos migrantes e no enfrentamento ao tráfico de pessoas. Para isso, o bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler, disse que o contato entre as instituições presentes no coloquio vai ser permanente, em vista de enfrentar uma realidade invisível, onde as vítimas têm amarras que as impede denuciar. “Quando se reúne pessoas há caminhos de solução”, ressaltou o bispo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Evaristo Spengler: “Nossa Igreja não seria tão rica se não tivesse ficado do lado dos indígenas e do lado dos migrantes”

Acompanhar os migrantes é prioridade, não a única, mas uma das mais importantes, na diocese de Roraima. As Pastorais Sociais da diocese, que tem sua sede na Casa da Caridade Papa Francisco, se empenham de diversos modos em seu acompanhamento, mesmo diante da escassez de recursos e de pessoas para levar em frente essa missão. Muitas mãos que se juntam para construir um futuro melhor, para gerar vida, para tantas pessoas vulneráveis, buscando apaziguar seu sofrimento. Nesse sentido, são muitos os projetos sociais que mostram o rosto samaritano da Igreja de Roraima, até o ponto de o bispo afirmar que “Nossa Igreja não seria tão rica se não tivesse ficado do lado dos indígenas e do lado dos migrantes”. Em coletiva de imprensa foi dado a conhecer aos meios de comunicação locais o trabalho da Comissão Episcopal Especial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que está em missão na diocese de Roraima de 17 a 23 de junho, com visitas na Guiana e na Venezuela. Uma comissão que segundo lembrou seu presidente, o bispo da diocese de Tubarão (SC), dom Adilson Pedro Busin, faz parte da Comissão para a Ação Sociotransformadora da CNBB e que, na estrutura da Cúria Vaticana, estaria dentro do guarda-chuva do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. O bispo ressaltou que a CNBB se preocupa sempre com a dimensão social, lembrando que a comissão, criada em 2016, formada por bispos, religiosos, religiosas, leigos e leigas, é um dos frutos da Campanha da Fraternidade de 2014, que teve como tema “Fraternidade e Tráfico Humano”. Dom Adilson Busin lembrou as palavras do Papa Francisco, que define o tráfico de pessoas como “uma chaga aberta que envergonha a humanidade”. A comissão já fez uma visita em Roraima em 2018, um estado com grande imigração fronteiriça. O bispo lembrou que o tráfico humano faz parte da migração de forma velada e silenciada. Daí a importância de pisar o chão, escutar as pessoas, ver, para poder levar adiante a missão de vigiar e dar resposta como Igreja a essa problemática. Ele insistiu na importância de cutucar, de recordar à sociedade a realidade do tráfico de pessoas. Para isso, a comissão existe para ajudar a esclarecer, a manter as antenas atentas, para escutar as vítimas e descobrir em seus rostos o rosto do Senhor. O bispo local, que também é membro da comissão, dom Evaristo Spengler, lembrou sua missão episcopal na Prelazia do Marajó (PA), uma região que desperta muita atenção da mídia com relação ao tráfico de pessoas, exploração sexual, trabalho escravo, afirmando com toda certeza que o que existe em Roraima é bem maior do que no Marajó. Numa região onde as fronteiras têm pouco controle migratório, o que possibilita o tráfico de pessoas, inclusive crianças, também de mercúrio para o garimpo ilegal. Diante disso o bispo denuncia a falta de atuação do poder público, diante de episódios de contrabando de todo tipo, de episódios de aliciamento, de exploração, de coiotes que se aproveitam da falta de conhecimento das pessoas. Na realidade interna de Roraima, o bispo falou sobre o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que acaba com a natureza, polui os rios, e apesar da Operação Desintrusão, a força do narco garimpo, financiado nacional e internacionalmente, onde existe tráfico de armas, de drogas, exploração sexual das indígenas, lembrando as palavras de Davi Kopenawa: “o branco vai lá, usa as nossas mulheres, as nossas meninas, como se fosse um prato descartável que jogam fora”, algo que define como realidades muito duras. Diante disso dom Evaristo Spengler denuncia: “O estado não tem assumido ainda o seu papel no enfrentamento ao tráfico de pessoas”. Nessa perspectiva, a missão da comissão é ajudar a fazer um diagnóstico profundo e descobrir caminhos como Igreja, trabalhando em rede com a sociedade, e cobrar do poder público a sua ação. Isso porque o poder público está deixando a ação na mão da sociedade, das organizações humanitárias. O aumento do tráfico humano na região de fronteira está relacionado ao aumento das migrações, é algo que aparece nas pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Roraima. A professora dessa instituição, Márcia Maria de Oliveira, destacou que “o migrante é alvo especial da exploração das rotas do tráfico” falando sobre a existência de empresas especializadas no tráfico, no traslado com transportes clandestinos, que tem aumentado nos dois últimos anos em Roraima. Esses migrantes são depois são destinados a trabalhos sem contrato, não pago, análogo à escravidão, em madeireiras, nos garimpos, em grandes fazendas. As mulheres são as vítimas principais, com aumento do abuso sexual de crianças, segundo a socióloga, que ressaltou que na região o tráfico de pessoas está estreitamente vinculado ao garimpo, que por sua vez está controlado pelo narcotráfico, falando do crescimento dos chamados “prostibares”. Existe um vínculo entre trabalho escravo, sendo os homens as vítimas principais, a exploração sexual, no caso das mulheres, e a exploração de crianças para cavar pequenos túneis nos garimpos. A comissão, segundo sua secretária executiva, Alessandra Miranda, trabalha na metodologia de atuação e formação junto aos regionais da CNBB e as pastorais sociais. Para isso são elaborados materiais, que seguem o método ver, julgar, agir, ajudando no conhecimento dos protocolos internacionais, e no conhecimento das diversas modalidades do tráfico de pessoas. Um dos problemas do Estado de Roraima, segundo o bispo local é a falta de interesse do poder público com relação ao tráfico de pessoas. Um exemplo disso foi a audiência pública na Assembleia Legislativa de Roraima em julho de 2023 sobre tráfico de pessoas, onde nenhum deputado participou, mesmo tendo sido todos convidados. Diante disso, dom Evaristo Spengler disse que “se naturalizou, aqui no estado, crimes que são bárbaros: a destruição da natureza, a venda de pessoas, a exploração sexual, parece que estão naturalizados”, denunciando a dificuldade de envolver o poder público do estado nessas causas. O bispo de Roraima fez um chamado à sociedade roraimense a pensar em quem vota. Ele lembrou que o Papa Francisco tem dito que…
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Comissão contra o Tráfico de Pessoas da CNBB: Ao outro lado da fronteira, conhecer a realidade para ampliar a prevenção

Muitas pessoas, movidas pelo preconceito, condenam os migrantes, todos os migrantes. Conhecer a realidade de onde eles vêm, nos ajuda a entender os motivos que levam essas pessoas a deixar tudo para trás e se aventurar numa nova vida, desconhecida, nem sempre fácil. Daí a importância da missão que a Comissão Episcopal Especial de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando de 17 a 23 de junho na diocese de Roraima, com visitas em Bonfim e Lethem, o principal passo fronteiriço entre a Guiana e o Brasil, e em Pacaraima e Santa Elena de Uairén, passo fronteiriço entre a Venezuela e o Brasil. A Igreja do Vicariato do Caroní Santa Elena de Uairén é sede do Vicariato Apostólico do Caroní, uma Igreja com rosto indígena, que desde 1922 acompanha a vida do povo pemón, habitantes da Grande Sabana, numa tentativa de ser uma Igreja inculturada. Um território de 80 mil quilómetros, com grandes dificuldades de deslocamento, algo que desafia a ação missionária. Uma Igreja que quer caminhar junto com a diocese de Roraima, com objetivos comuns, numa Igreja sem fronteiras. Aos poucos isso vai se concretizando no trabalho da Caritas, nas experiências de formação e trabalho pastoral comum. Um caminhar junto que é motivo de gratidão para o bispo do Vicariato do Caroní, dom Gonzalo Ontiveros, que insiste na solidariedade da Igreja brasileira com o povo venezuelano. Uma visita que o bispo vê como experiência de escuta sinodal, que deve ajudar para avançar em caminhos comuns. Motivações, dificuldades, pedidos dos migrantes Segundo uma pesquisa da Caritas do Vicariato do Caroní, desde 2022 o ingresso de venezuelanos no Brasil, o 5º país aonde chega mais venezuelanos, tem aumentado. 23% eram migrantes de volta a Venezuela, 22% gente que vai e volta, e 55% por cento migrantes sem intenção de voltar. 74% por centos dos migrantes são mulheres. Entre as motivações está a reunificação familiar, a falta de emprego e os salários muito baixos na Venezuela, falta de serviços médicos e medicamentos. Entre as dificuldades no caminho, os migrantes sofrem com a falta de água potável, falta de lugares para banho e hospedagem, falta de dinheiro, falta de documentação para ingressar em outro país. Eles pedem alimentos, muitos não sabiam se iriam comer no outro dia, dinheiro para o dia a dia, serviço de saúde.   Como alternativas para resolver as dificuldades, é pedido pelas pessoas em trânsito, mais pontos de informação sobre os requisitos para sair do país, pontos de acompanhamento socioemocional, espaços de higiene adequados e para adquirir água potável. Poucas pessoas relatam situações de tráfico de pessoas, mas também é certo que nem sempre se tem a possibilidade de uma conversa mais pausada. Mesmo assim, são relatadas situações que sofrem os migrantes, especialmente cubanos, vítimas das máfias. Uma realidade que também atinge às comunidades indígenas, segundo relatam as lideranças indígenas locais, que destacam a falta de saúde como a causa principal de migração dos indígenas. O trabalho da Comissão de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da CNBB Diante dessa realidade, foram lembradas as palavras do Papa Francisco: “se nós queremos cooperar com nosso Pai celestial na construção do futuro, façamo-lo junto com nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados. Construamo-lo juntos!”. São desafios enfrentados pela Comissão de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da CNBB, segundo o bispo de Tubarão e presidente da comissão, dom Adilson Busin, que destacou o trabalho em comum que está sendo realizado. A migração é um fenómeno mundial, o que tem ampliado as rotas migratórias, segundo a professora da Universidade Federal de Roraima, Márcia de Oliveira, que faz parte de um grupo de estudo que tem descoberto a exploração que sofrem os migrantes, vítimas de redes organizadas criminosas, nos traslados, relatando situações vividas pelos migrantes, principalmente mulheres, inclusive menores, que não são denunciadas, diante das ameaças que sofrem e o medo que isso provoca. Dificuldades que os migrantes continuam sofrendo já no Brasil, nos traslados internos, com situações de trabalho análogo à escravidão, com grupos especializados na exploração dos migrantes. Diante disso, a professora faz um chamado a ficar atentos e denunciar esse tipo de situações de exploração e tráfico de pessoas. O trabalho pastoral da comissão para o tráfico de pessoas, segundo a Ir. Eurides Alves de Oliveira, leva a refletir sobre o trabalho de evangelização e promoção humana, como apelo do Evangelho na defesa da vida dos vulneráveis, “um apelo urgente para nossa ação evangelizadora se queremos ser fiéis ao Evangelho e a uma Igreja em saída”, segundo a religiosa. Ela refletiu sobre as palavras de Francisco no final da última assembleia da Rede Talitha Kum, onde definiu o tráfico de pessoas como um mal sistémico e que tem muitas raízes, muitas causas, como algo programado por um sistema que não coloca as pessoas no centro e sim o lucro. Essa realidade do tráfico de pessoas é muito presente no Brasil, mas pouco denunciada, ressalta a Ir. Eurides, daí a importância do trabalho da comissão, apresentando seus objetivos. Os passos a seguir De acordo com dom Gonzalo Ontiveros, Santa Elena é um lugar de passagem, o migrante chega ao terminal de ônibus e geralmente estão esperando-o para ir diretamente para Pacaraima, ou diretamente para Boa Vista, o que significa que o Vicariato de Caroní tem pouco contato com os migrantes, que em alguns casos vão de táxi de Caracas ou de outras cidades da Venezuela diretamente para o Brasil. Os poucos que ficam, ressalta o bispo, vão para algumas comunidades, que são muito vulneráveis, onde são acompanhados. Nessas comunidades, eles constroem suas cabanas e começam a viver por um tempo. Essas comunidades são visitadas pelos agentes pastorais do Vicariato, conhecendo de onde eles vêm, quantos membros fazem parte da família, uma pastoral de contato direto com eles e de assistência espiritual, com celebrações da Eucaristia. O número de migrantes tem aumentado em 2024, enfatiza o bispo, que fala do processo eleitoral que realizará eleições em 28 de julho, o que gera expectativas, e cujo…
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Ver o outro como um irmão, o caminho para acolher quem chega perto de nós

A fraternidade deveria ser uma necessidade na vida de todo ser humano, na vida da sociedade como um todo. Uma atitude que nos leva a ver o outro como um irmão, como uma irmã, a acolher aquele que chega perto de nós, também aquele que é diferente, aquele que vem de longe, o estrangeiro, o migrante, tantas vezes vítima de exclusão, de desrespeito em seus direitos fundamentais. Estamos celebrando a Semana do Migrante, que nos desafia a alargar a nossa tenda, a criar espaços de acolhida em nossa vida, em nossas famílias, em nossas comunidades eclesiais. A migração é um fenómeno que tem diversas causas, e uma delas é as mudanças climáticas. Daí o tema da 39ª Semana do Migrante, que nos leva a refletir sobre o cuidado da casa comum. A migração forçada é uma realidade presente no mundo, são muitas as pessoas obrigadas, por diferentes motivos, a deixar tudo para trás e se aventurar numa nova experiência de vida, as vezes longe, muito longe de casa, de tudo aquilo que dava segurança na vida da pessoa. Se adentrar num novo modo de vida, numa cultura diferente, numa língua que custa entender e falar. Nessas situações, o perigo aumenta e o risco de se tornar vítimas das diversas explorações que fazem parte do tráfico de pessoas aumenta. As redes do crime organizado se aproveitam da vulnerabilidade dessas pessoas, exploradas sem escrúpulo por criminosos sem entranhas, sem a mínima empatia com os outros seres humanos. Combater essas situações é um dever para quem tem fé, mas ao mesmo tempo se faz necessário “acolher, promover, acompanhar e integrar”, segundo insiste o Papa Francisco. Um compromisso comum que vai além quando ele é assumido por todos, quando todo mundo se envolve e olha o futuro com esperança. Eu estou disposto arrimar o ombro? Descubro a necessidade de me comprometer para que a vida daqueles que passam por momentos de dificuldade possam melhorar? Em minha vida tem lugar para aqueles que procuram uma vida melhor, para aqueles que por diversos motivos foram obrigados a iniciar a vida longe de onde eles viviam? Nos questionarmos sobre essa realidade pode ajudar os outros a ter vida em plenitude, a evitar situações de sofrimento. Ser fraternos é o caminho para um mundo melhor, para concretizar o Evangelho, a proposta de Jesus, que sempre pensa nos últimos, naqueles que por diversos motivos sofrem, mas querem continuar caminhando e construindo um mundo melhor para todos e todas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Pacaraima, a fronteira onde a Igreja alarga sua tenda cada dia

Foto: Cláudia Pereira    Pacaraima, uma pequena cidade na fronteira com a Venezuela, era um local desconhecido, que se tornou manchete dos jornais com o início da migração venezuelana. A cidade mudou o rosto, em dez anos sua população dobrou, e hoje 50 por cento são venezuelanos. Pacaraima é local onde a Igreja alarga sua tenda cada dia, se tornando casa de acolhida, mas ao mesmo tempo lugar de diversas formas de exploração, com episódios que são claros exemplos das dificuldades que enfrentam os migrantes em muitos lugares do planeta. Uma realidade de sofrimento e esperança A missão que a Comissão Episcopal Especial para o Tráfico de Pessoas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando em Roraima, com visitas à Guiana e a Venezuela, permite conhecer uma realidade que encerra muitas macelas, situações de sofrimento que muitas vezes não aparecem, mas acontecem, provocando aflição em pessoas que carregam histórias de vidas feridas. Em Pacaraima, uma cidade marcada pelas filas, por pessoas deambulando nas ruas, a acolhida é realizada pelo poder público, principalmente pelo exército brasileiro, por organismos internacionais e por diversas instituições, dentre elas a Igreja católica. São diversos os espaços de acolhida, destinados a diversos públicos, dentre eles povos indígenas, mulheres com crianças, famílias, idosos. O refúgio dos povos indígenas abriga cinco povos diferentes chegados da Venezuela, fugindo da fome, da violência, do garimpo e de muitas outras situações adversas. No Brasil eles querem constituir comunidades indígenas, onde os diversos povos possam reconduzir sua vida. Foto: Cláudia Pereira    A Igreja acompanha os migrantes A Casa São José, abrigo para mulheres e crianças, foi criado em 2020 pelas Irmãs de São José de Chambery. As condições em que se encontravam as mulheres, que sofriam diversas formas de maltrato, exploração e tráfico de pessoas, levou as religiosas, sem nenhum recurso, nem ajuda, a iniciar uma verdadeira aventura. Aos poucos as ajudas chegaram, primeiro da Operação Acolhida do Governo Brasileiro, que até hoje fornece alimentação, e depois de muitas pessoas, de diversos lugares do Brasil e do mundo, sensibilizadas depois da invasão do abrigo em 2021. Um tempo de “muito sacrifício, muito choro”, diz nas lágrimas a religiosa que coordena o espaço, junto com voluntárias venezuelanas, que conhecem melhor a cultura das mulheres que lá chegam. Atualmente a passagem é mais rápida, no máximo um mês, no início algumas mulheres ficavam até seis meses, porque não tinham aonde ir. As irmãs de São José de Chambery também acompanham a primeira associação de migrantes venezuelanos no Brasil no ramo da panificação, a Padaria São José, um sonho de ter pão em todas as mesas, de levar o pão às comunidades mais necessitadas, mais distantes de Pacaraima. Um sonho que foi iniciado no salão da paróquia e onde depois de dois anos trabalham sete pessoas, que tem seu espaço de atendimento, ajudando os venezuelanos que cada dia entram pela fronteira. Criar essa associação não foi fácil, mas o apoio da diocese de Roraima fez possível sua legalização. Outros dois projetos da Igreja católica são o Projeto Porta Aberta, com capacidade para 50 pessoas, que acostumam ficar duas semanas, acolhendo aqueles que esperam a interiorização no Brasil. Oferece café da manhã, almoço e janta, e desde novembro de 2023 passaram mais de 120 famílias. Igualmente o projeto com idosos, que durante o dia oferece diversas atividades aos idosos, ambos projetos coordenados pelo padre Jesus Fernández de Bobadilla. Indiferença diante da migração e o tráfico de pessoas Dessa missão participam o bispo de Picos (PI) e membro da comissão, dom Plinio José Luz da Silva, que, diante do tráfico dos seres humanos, denuncia “a indiferença da sociedade, também da Igreja, em diversas regiões”. Diante disso, o bispo afirma que estamos diante de “algo que é escondido, mas que existe, e ele precisa ser considerado e combatido”. Um assunto que quando é falado, “não dá nenhum impacto, o pessoal não quer discutir sobre esse determinado assunto, entrar nos fatos”. Ele destaca que na própria CNBB não se fala nesse assunto, ele mesmo veio conhecer a comissão agora que foi convidado para fazer parte, “mas não tinha conhecimento desse trabalho que era feito”, sublinhando “o desconhecimento e por tanto desinteresse” sobre a temática. Diante dessa realidade, “eu vejo a necessidade da divulgação para prevenir”. Do mesmo modo que outras realidades que tem a ver com os pobres e a injustiça social são debatidas pelas Pastorais Sociais, o bispo de Picos insiste na necessidade de divulgação, de que nos subsídios da CNBB para as diversas campanhas, seja contado a realidade, como acontece em Roraima, onde “as pessoas ficam vulneráveis diante da migração, as pessoas ficam desfavorecidas de todos os recursos”, o que faz com que as organizações criminosas encontrem a oportunidade para usar os migrantes como mercadoria. Dom Plinio destaca a necessidade de a comissão conhecer a realidade para saber enfrentar os ataques à vida, essa chaga na vida das vítimas. Ele afirma que “esta missão, ela enriquece a gente com um conhecimento para que possa argumentar para a sociedade aquilo que a gente conhece”, o que demanda da comissão estar “permanentemente nessa investigação”, em vista de divulgar fatos nos meios de comunicação, o que ele considera fundamental, “as pessoas precisam tomar conhecimento do que está acontecendo e possam reconhecer em volta da realidade local, casos que são ocultos”. Foto: Cláudia Pereira    Defender a vida sempre Como Igreja, “nós precisamos defender a vida, desde a sua concepção até o fim último”, como missão da Igreja, segundo o bispo. Ele destaca que “essa vida, ela está realmente envolta na realidade”, afirmando que “o maior sofrimento do povo é gerado por uma sociedade da indiferença, da divisão de valores, da falta de oportunidades de viver dignamente, principalmente os mais pobres, os mais vulneráveis, que são os primeiros a sentir esse impacto”. Ele denuncia iniciativas dentro da Igreja católica que “praticamente excluem de sua missão essa parte de olhar a pessoa como um todo, na sua dignidade”. O bispo enfatiza que “há situações em que só…
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Dom Adilson Busin: “A xenofobia é o ápice da irracionalidade”

Foto: Cláudia Pereira    De 17 a 23 de junho de 2024, a Comissão Episcopal Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está realizando uma missão no Estado de Roraima, na fronteira com a Guiana e a Venezuela. Uma comissão que segundo seu presidente, dom Adilson Pedro Busin, bispo da diocese de Tubarão (SC), tem entre seus objetivos “a conscientização, a incidência política e eclesial”. Tráfico de pessoas, uma realidade escondida A missão ajuda a “trazer a temática do tráfico humano, que ele é escondido, inclusive as vítimas são escondidas”, ressalta o bispo. Estamos diante de um problema social mundial, que o Papa Francisco tanto insiste. A incidência deve ser dupla, segundo dom Busin, “ad intra da própria Igreja, para nós tomarmos consciência desse problema grave, dessa chaga da humanidade, como diz o Papa Francisco, e da sociedade”. Diante da realidade de Roraima, com uma ebulição migratória e tantas “fronteiras porosas”, a visita da comissão quer com que “essa temática do tráfico humano seja exibido, visibilizado, seja sentido, que chegue ao coração, à mente das pessoas, no mundo da política e na sociedade, com políticas públicas que venham a enfrentar o tráfico de pessoas”, destaca o presidente da comissão. Fronteira Brasil-Guiana: vulnerabilidades comuns Na fronteira entre o Brasil e a Guiana, o fluxo de venezuelanos, cubanos e haitianos é constante. Os migrantes chegam muitas vezes em situação de extrema pobreza, sendo muito grande a demora para conseguir documentação, que é tramitada em Boa Vista, com uma lista de espera de mais de cem migrantes em Bonfim, que pelo fato de não ter documentação são vítimas fáceis das redes de exploração. Tanto em Bonfim (Brasil), como em Lethem (Guiana), uma região com predominância de indígenas Wapichana, os povos originários não se submetem às fronteiras dos brancos, a Igreja católica dá assistência aos migrantes, sempre de portas abertas para dividir o pouco que eles têm. Na região de fronteira, as vulnerabilidades são comuns, uma delas é o tráfico de mercúrio, usado no garimpo ilegal, com vínculos estreitos com fações do crime organizado, que produz graves doenças e diversas explorações na população local e nos migrantes, e que nos leva a refletir sobre o tema da 39ª Semana do Migrante, “Migração e Casa Comum”. Para superar as diversas vulnerabilidades, a CEPEETH, fiel a Jesus de Nazaré, que quer vida em abundância para todos e todas, apresentou materiais que sistematizam o trabalho da Igreja do Brasil no enfrentamento ao tráfico de pessoas, que é crime e tem que ser denunciado, somando com diversas instâncias eclesiais, em vista de incidir nas mudanças estruturais que levem o poder público a assumir sua função, a criar políticas públicas, que muitas vezes surgem a partir da mobilização. São histórias de sofrimento, relatadas por aqueles que lhes acolhem e acompanham, que também são vivenciadas pelos migrantes que passam nesta fronteira, abandona pelo poder público. Diante disso, uma das demandas é a presença da Polícia Federal na fronteira, uma dificuldade diante da falta de pessoal no Estado, mais uma expressão do Estado mínimo, que quer ser instaurado em tantos países, segundo insistiu o bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler. Se faz necessário estreitar laços transfronteiriços, juntar forças, buscar propostas concretas, gerar processos conjuntos, uma dinâmica que pode contar com a colaboração da comissão. Ao mesmo tempo não é fácil enfrentar alguns problemas comuns, dada a legislação diferente em cada país, o que demanda maior mobilização popular que crie consciência e possibilite mudanças. Foto: Cláudia Pereira    Ir ao encontro dos invissíveis Olhando para dentro da Igreja, dom Adilson Busin insiste em “tomarmos consciência desse problema que faz parte da Igreja que vai ao encontro dos últimos e desses invisíveis, vítimas do tráfico humano”. Para a Igreja do Brasil, na perspectiva do enfrentamento ao tráfico humano, teve grande importância a Campanha da Fraternidade de 2014, “Fraternidade e Tráfico Humano”, um grande marco na conscientização das comunidades, paróquias e dioceses, que amadureceu a criação do grupo de trabalho que depois deu passo à comissão, a quem muitas vezes, dentro da Igreja, é delegado o enfrentamento dessa realidade. O bispo de Tubarão insiste em “não deixar esquecer, porque as vítimas são esquecidas”, mesmo sabendo que “o tráfico é presente, está na nossa sociedade em suas diversas modalidades”, citando o tráfico de órgãos, a exploração sexual de crianças e adolescentes, o trabalho análogo à escravidão. O bispo faz um chamado a nos conscientizarmos da Doutrina Social da Igreja, ver as vítimas do tráfico humano como “uma das tantas categorias que são vulneráveis, e ao mesmo tempo, uma das categorias mais invisíveis, porque ele é tão sutil, e é difícil de alcançar por causa de toda a problemática que envolve o tráfico de pessoas”. A tentação de culpar o estrangeiro Refletindo sobre a Campanha da Fraternidade 2024, “Fraternidade e Amizade Social”, que tem como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”, dom Adilson Busin afirma que “uma das tentações do mundo atual, não só no Brasil, é a polarização que nós vemos, as guerras, a violência, uma sociedade irada, onde nós nos sentimos acuados”. Lembrando que no decorrer da história encontramos os bodes expiatórios, o bispo ressalta que “neste momento em muitos países, e nós temos tentação também no Brasil, de culpar a quem é estrangeiro, quem vem de fora”. Nessa perspectiva, o presidente da comissão denuncia que “a xenofobia é o ápice da irracionalidade”, fazendo um chamado a olhar a Campanha da Fraternidade de 2024 e o convite do Papa Francisco ao cuidado da casa comum, que o leva a dizer que “não tem ninguém de fora, as fronteiras estão ali, como limites políticos, geográficos, mas é uma contradição do Evangelho olhar o irmão como um problema”. Nessa perspectiva, o bispo sublinha que “os problemas estão aí para que nós como Igreja, como sociedade, como governos e como Nações Unidas, tratemos os migrantes não com esse olhar infeliz de achá-los culpáveis, como causa dos problemas”. Frente a isso, afirma que “eles estão aí porque…
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Abertura da 39 ª Semana do Migrante em Roraima: “A migração é uma riqueza, que torna a sociedade mais plural, mais acolhedora”

A diocese de Roraima realizou nesta segunda-feira a abertura da 39ª Semana do Migrante, que em 2024 tem como tema “Migração e Casa Comum”, e como lema “Alarga o espaço da tua tenda” (Is 54,2). A migração é uma situação que marca a vida do Estado de Roraima nos últimos anos, até o ponto que atualmente 30 por cento da população de Roraima é formada por migrantes venezuelanos. Anualmente entram mais ou menos 200 mil venezuelanos por ano pela fronteira de Pacaraima. O bispo de Roraima, dom Evaristo Spengler lembrou que a população de Roraima é uma população migrante, chegada de diferentes estados do Brasil. A partir de 2017, a migração foi de venezuelanos, e “a Igreja foi a primeira que começou a dar uma resposta a essa situação, não vamos dizer problema, porque é a acolhida de irmãos”. A Igreja local, com a ajuda da Igreja do Brasil, foi dando passos, sobretudo com a Caritas, e hoje são muitas as estruturas da Igreja de Roraima, em parceria com outras instituições, que acolhem os migrantes. Dom Evaristo lembrou que cada dia a Igreja católica contribui pelo menos com 1.500 cafés da manhã e 1.500 almoços, fora do serviço de documentação, de acolhimento, com o projeto Sumauma. Segundo o bispo de Roraima, “todos os que chegaram aqui trouxeram a sua cultura, o seu jeito de ser, a sua história, e cada um trouxe um pouquinho mais de enriquecimento a nossa sociedade, a visão do mundo, a culinária”, algo que foi compartilhado durante a abertura da Semana do Migrante, realizada do lado da Rodoviária de Boa Vista. Ele insiste em que “a migração não é um problema, a migração é uma riqueza, que torna a sociedade mais plural, mais acolhedora, uma sociedade de fato aberta a todas as pessoas que possam aqui chegar”. Com relação ao cuidado da casa comum, tema da 39ª Semana do Migrante, o bispo de Roraima lembrou que “a mudança climática atingiu fortemente o nosso estado”, lembrando o longo período de seca de agosto de 2023 a março de 2024, o que demanda “maior cuidado com essa casa comum e com o planeta que Deus nos deu”, recordando que o clima da Amazônia afeta o Brasil inteiro, América Latina e o mundo. É por isso que “é necessário olhar com cuidado para essa questão do meio ambiente, olhar para recompor aquilo que de fato foi essa terra, hoje cada vez mais enfraquecida com as queimadas”. O bispo de Tubarão e presidente da Comissão Especial de Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB, dom Adilson Pedro Busin, presente na abertura da Semana do Migrante, fez um convite a “alargar a tenda do nosso coração para acolher, para proteger, para cuidar”. O bispo lembrou a presença de 4.000 venezuelanos em sua diocese, afirmando que “nossa terra é onde nós vivemos, é onde nós encontramos pessoas para partilhar a família humana, onde somos acolhidos e ganhamos o pão”, pedindo que “o nosso coração, a nossa família, a nossa comunidade, a nossa Igreja e a sociedade possa sempre estender as estacas como sinal de acolhida, porque todos nós somos família de Deus”.   Roraima é um Estado marcado por uma realidade grave e diversificada, como é a questão yanomami, um território indígena onde o garimpo ilegal tomou conta, com quase 80 pistas de pouso clandestinas, controladas pelo narco garimpo. As fronteiras com os outros países, sobretudo Venezuela e Guiana, muitos vulneráveis, sendo fácil entrar e sair do país. O tráfico de pessoas é algo sobre o que se está começando a falar entre os povos indígenas, segundo Davi Kopenawa, que afirma ser algo antigo entre os brancos. Nessa perspectiva, o líder yanomami destaca que “é bom que vocês acordaram para falar com nós”. Ele denuncia a exploração das mulheres yanomami pelos garimpeiros, insistindo em que cada vez são mais as indígenas grávidas de garimpeiros. Os migrantes em Roraima são vítimas do tráfico humano, que se concretiza de diversos modos, no trabalho escravo, a servidão doméstica, o aluguel de crianças para mendicância, para as pessoas serem atendidas em primeiro lugar nas filas, a exploração sexual de crianças e adolescentes, inclusive o roubo de crianças do colo das mães. Pode ser falado abertamente de falta de respeito aos direitos das pessoas, muitas vezes com a conivência do poder público e da própria sociedade. Uma realidade que também se dá nos abrigos de acolhida, superlotados, com poucas pessoas para realizar o atendimento e cuidado, que em muitos casos tem se tornado territórios sem lei, tendo acontecido assassinatos dentro desses abrigos. De fato, muitos migrantes não querem entrar nos abrigos, preferem dormir na rua, até o ponto de que Boa Vista é a cidade com maior porcentual de população de rua do Brasil. Nessa realidade, a Igreja católica, a única instituição livre de fato para denunciar a violação dos direitos humanos, tem alargado sua tenda para acolher aqueles que chegaram no Brasil depois de enfrentar grandes e graves dificuldades. Com relação ao Projeto Sumauma, sediado na paróquia da Consolata de Boa Vista, seu pároco, padre Revislander dos Santos Araújo, destaca que esse trabalho, esse milagre da partilha, iniciou com a chegada dos primeiros venezuelanos em Boa Vista. A paróquia da Consolata é a mais próxima à rodoviária da cidade e lá os migrantes iam à procura de ajuda. O padre insiste em que “todo mundo tem o direito de ir para onde quiser”, ressaltando que “com nossa pobreza, a gente tenta dar todos os dias o melhor que temos para que eles se sintam bem entre nós”. Uma partilha que ajudou a combater a xenofobia e acolher o outro, destacou. No enfrentamento ao tráfico de pessoas, uma realidade muito ligada à migração, se faz necessário juntar forças para que as autoridades possam efetivar essa política, algo que não está acontecendo no Estado de Roraima, para descobrir luz para fortalecer nossa caminhada, segundo Socorro Santos, diretora do Programa de Direitos Humanos e Cidadania, da Assembleia Legislativa de Roraima. Ela reflete sobre a realidade do tráfico humano, que é…
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Dom Leonardo: “Atitudes de arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo, não são sinais do Reino”

No 11º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia mostrando “Jesus a visibilizar o mistério do Reino de Deus na dinâmica da semente. A nos ensinar a beleza do Reino de Deus: grão de trigo lançado na terra, o grão de mostarda. A força da semente que germina e dá fruto; a semente pequenina que não se intimida e faz-se árvore”. Segundo o arcebispo, “o desejo de visibilizar a dinâmica e vivacidade do Reino de Deus na parábola é tanta, que não menciona o trabalho do agricultor, a sua luta, a sua semeação, o seu labor com a terra, o seu cultivo, a sua espera. Ele semeia, lança, espalha a semente e depois da vida amadurecida na força e na vivacidade da própria semente, que ele se faz colheita. Colheita porque a semente deixou-se conquistar pela terra, e dela recebeu toda a vida. Tudo para mostrar a autonomia da semente quanto ao seu nasce-morrer, seu morrer-nascer”. Dom Leonardo enfatizou que “a questão essencial não é o que o agricultor faz, mas a dinâmica vital que a semente guarda. Ela deseja vir à vida, deseja nascer, dar folhas, frutos. Ela deseja ser lançada! O resultado final não depende dos esforços e da habilidade do semeador, mas sim do dinamismo da semente que foi lançada, espalhada na terra”. “Somos hoje conquistados, despertados para o mistério de uma força e energia que silenciosamente e despretensiosamente se agita e se movimenta; que alegremente deixa que a terra venha em auxílio e gratamente recebe o cuidado da terra”, disse o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “se fossemos ver na transparência de um vaso e na lentidão de uma câmera fotográfica, haveríamos de admirar esse mistério tomando corpo, se corporificando, até chegar o tempo de colheita. E o esparramador de sementes passa pelo campo à espera do milagre e se alegra ao perceber os primeiros sinais de vida da semente a desabrochar e na medida em que cresce e produz fruto, se anima e sente-se acolhido pela terra e pela semente”. “A força e a generosidade do Reino de Deus são como uma semente”, enfatizou o presidente do Regional Norte1 da CNBB. “É dizer o modo, o espírito, o ânimo, a disposição, o acontecer do Reino. E Jesus a nos deixar intuir que o modo, o espírito, que move o Reino de Deus é semelhante à animação da semente lançada na terra”, disse dom Leonardo. Citando Fernandes e Fassini, afirmou que “Não é difícil perceber na semente lançada na terra todo um mistério cheio de vigor, esperança e fé; um processo ininterrupto e repetitivo de morte e vida, vida e morte. Morrer para nascer, crescer, florescer, dar fruto; e, a partir daí, morrer de novo, para nascer de novo; vida que vem da morte, morte que serve à vida. Vida e morte como dois momentos do mesmo mistério. Assim como um pássaro não pode voar com uma asa só, do mesmo modo, o destino da semente só se cumpre conjugando estes dois verbos: morrer-viver. Eis o “como”, a alma, o espírito, a Lei da Terra.” “No Evangelho de hoje, o que importa, o que ilumina é o dinamismo, a vida que a semente guarda. O Reino de Deus, a vida de Deus que foi lançada, esparramada em nós. Pouco importa, pouco depende de nós, quase tudo na benevolência e dinâmica de Deus em nós. É Ele que atua em nós em nosso silêncio existencial, na nossa cotidianidade, quase distraída, no dia a dia, no dia e na noite, na noite e no dia, na ação e no sono, na atenção e desatenção, no tumulto do dia ou na turbulência da história, na imperceptibilidade de nossos sentidos”, destacou o arcebispo de Manaus. Ele disse que “Deus vai transformando o nosso existir, os nossos dias, como a terra faz geminar a semente. O Reino a acontecer, a crescer, a dar furtos e nós, no não saber da ação de Deus. Como é extraordinário o modo de Deus em nós. O Reino verdadeiro, aquele de Deus, a nos transformar e nós, sem o perceber. No apenas do desejo da vida de Deus em nós cresça e dê muito fruto”. “Jesus a nos ensinar que devemos ser dóceis, e afáveis com o reino de Deus, a vida de Deus. Não se trata do rigor, da penitência, do jejum, da busca de resultados, de forçar o tempo de Deus, de nos colocar na busca de metas pessoais, de um projeto pessoal. Tudo apenas na docilidade do Espírito que conduz e faz a história. Tudo na graça da confiança e da serenidade de que o espírito jamais dorme, para ele não há dia e noite, nem noite e dia, apenas o cuidado amoroso a nos tornar à semelhança de Jesus, filhos e filhas de Deus”, ressaltou dom Leonardo. “O Evangelho a nos ensinar o mistério da vida que vem à luz, vem à graça dos olhos, na semente de grão que mais parece um nada. A delicadeza do grão que na sua pequenez é frágil, quase invisível”, destacou, citando o texto evangélico: “a menor de todas as sementes da terra”! Segundo o arcebispo, “pequenina, sem importância, mas cheia de vida! Insignificância, mas semente; uma só, mas semente. Quem apenas olha, vê a semente. Mas o semeador conquistado pela semente nela confia e a lança na terra, sabedor da vida que nela está desejosa de explodir. Lançada na terra ela mostra toda a sua força, vigor, vivacidade e acolhimento”. “A imagem do grão de mostarda a nos abrir os olhos para a simplicidade e pequenez!”, disse, citando o texto de Marcos: “Apesar de ser a mais pequenina de todas as sementes, está cheia de vida e cresce até se tornar ‘a planta mais frondosa do horto’” (Mc 4,32). “É assim o Reino de Deus: uma realidade humanamente pequena e de aparência irrelevante. Para fazer parte dele é preciso ser pobre de coração; não confiar nas próprias capacidades, mas no poder do amor de Deus; não agir para ser importante aos…
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Dois novos diáconos na diocese de Coari, para “visibilizar o mistério da vida de Jesus”

A Igreja da Amazônia, que durante muitos anos contou com grande número de missionários chegados de fora da região, vai aumentando seu clero local. A diocese de Coari deu neste sábado 15 de junho de 2024 um passo a mais nessa direção, com a ordenação diaconal de Leonardo Rufino da Silva, que escolheu como lema: “Fala Senhor que teu servo escuta”, e Willian da Silva Aragão, com o lema: “Permanecei no meu amor”. Na presença de familiares, amigos, fiéis da diocese de Coari, a vida religiosa, os colegas seminaristas e os padres, dom Marcos Piatek, bispo diocesano, ordenou na catedral de Sant´ana e São Sebastião, àqueles que nos próximos meses devem ordenados presbíteros. Uma celebração que contou com a presença de dom Zenildo Lima, bispo auxiliar de Manaus, que foi reitor do Seminário São José no tempo em que os novos diáconos realizaram seu processo formativo, e do padre Pedro Cavalcante, atual reitor do Seminário Arquidiocesano de Manaus, onde se formam os seminaristas das nove igrejas locais que fazem parte do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Após a apresentação dos candidatos, o bispo diocesano disse que “nós como Igreja não estamos separados, estamos rezando, vivendo, celebrando em comunhão com toda a Igreja do mundo, com o Papa Francisco, em comunhão com a Igreja do nosso Regional Norte1 da CNBB, em comunhão com a nossa diocese de Coari”, lembrando a caminhada vocacional daqueles que iam ser ordenados diáconos, agradecendo a presença do atual reitor do Seminário São José e de dom Zenildo Lima, que fez a homilia. O bispo auxiliar de Manaus iniciou dizendo que “é sempre a vida de Jesus que nos alegra e é sempre a vida de Jesus que vai se tornando evidente para nós”. Segundo dom Zenildo, “na nossa Igreja, nós experimentamos sinais da vida de Jesus por meio de sinais que a Igreja nos oferece, eu são os sacramentos”, definindo o sacramento da Ordem como aquele que “visibiliza na vida de pessoas, de homens, esse mistério da vida de Jesus”. Segundo o bispo, “porque mergulham neste sacramento da Ordem, na vida deles, eles vão tornar muito evidente, muito visível para o povo de Deus o Mistério Pascal de Jesus”. No tempo do diaconato, primeiro grau do sacramento da Ordem, “eles vão se aprofundar neste sacramento, porque a vocação deles é para o ministério presbiteral”. Lembrando a presença missionária a diocese de Coari durante longos anos, afirmando que “o Evangelho chegou a nós com sotaque”, ele destacou que agora o rosto da Igreja local, “esse rosto vai se fazendo a partir de nós”. Refletindo sobre o fato dos padres ter o mesmo rosto, linguagem, cultura do povo, dom Zenildo insistiu em que quando o povo os procura, procura algo a mais, “a inesgotável presença de Jesus, o povo busca sempre em nós o sagrado,  comunicação da própria presença de Deus”. Uma presença que, segundo o bispo auxiliar de Manaus, “nós comunicamos pela sua Palavra”, algo próprio do ministério do diácono, que ele vê como “grande animador da Palavra nas comunidades”, destacando igualmente seu serviço ao altar, “servidores da presença de Deus que é experimentada toda vez que o povo se reunir para festejar e para celebrar a sua fé”, pedindo zelo, esmero, cuidado, “para que a beleza da nossa celebração, atinja, alcance ao nosso povo e o povo possa exclamar: Deus está perto de nós”. Igualmente, dom Zenildo refletiu sobre a caridade, chamando a “viver de tal modo que as pessoas se sintam cuidadas por nós”. Comentando as leituras, o bispo auxiliar de Manaus destacou, na vocação do profeta Samuel, que “quem diria que no pequeno Samuel, Deus iria responder ao seu povo”, insistindo em que “em alguém tão pequeno, Deus iria romper seu silêncio”, comparando a passagem bíblica com a vida dos novos diáconos, considerando algo bonito que “na história vocacional da gente tenha interlocutores, tenha intermediários”, inclusive através de ferramentas frágeis, refletindo sobre o papel dos padres no acompanhamento do chamado vocacional. Comentando a segunda leitura, na passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos, dom Zenildo Lima destacou o papel da comunidade como cuidadora das pessoas mais pobres, das viúvas, que aos poucos deixaram de ser suficientemente cuidadas pela comunidade, definindo o serviço como “o médio privilegiado pelo qual a comunidade consegue romper suas tensões”, vendo o serviço e o cuidado dos pobres como algo que pode ajudar a resolver as diferenças nas comunidades, afirmando que “o serviço dá equilíbrio à vida comunitária”, animando os novos diáconos a ajudar a comunidade a “se abrir a uma dinâmica do cuidado”. O bispo auxiliar ressaltou que o que nos torna capazes de responder a Deus é o amor, não segundo as nossas medidas, e sim “um amor mais profundo, que transcende até as nossas sensibilidades, as nossas sensações, as nossas corporeidades”, refletindo sobre a vida celibatária, em vista de uma vivência mais profunda do amor, homens que “apresentam para nós até onde a profundidade do amor pode chegar”, que leva a agir a partir do outro, pedindo aos novos diáconos que tenham “um espaço que ajuda a sustentar este amor”, evitando a arrogância e se deixar machucar pelas próprias culpas, algo que afasta dos outros presbíteros. Diante disso, ele chamou os novos diáconos a estar unidos ao presbitério da diocese de Coari, em todo momento. No final da celebração foi rezada a oração pelas vocações para a Igreja de Coari, fazendo os novos diáconos seu agradecimento, destacando sua alegria, não só deles, mas de toda a Igreja diocesana de Coari, diante do chamado do Senhor, que “chama porque nos ama e porque cada um de nós é uma escolha de Deus”, que chama “a partir da nossa história, a partir do que somos, a partir da experiência que temos”, mostrando sua disposição a fazer a vontade do Pai. Eles pediram apoio e orações por eles e pelos padres e bispos presentes, “para que todos nós possamos nos manter fieis ao ministério que a Igreja nos confia”, depois de anos de dedicação, estudos…
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