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Uma Igreja ainda mais missionária

Um sinal de maturidade na Igreja católica é que ela se torne missionária, que tenha a capacidade de levar a Boa Nova do Evangelho até os confins do mundo. O 5º Congresso Missionário Nacional, realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro, com a presença de representantes de todos os cantos do Brasil pode nos ajudar a entender que a Igreja da Amazônia é uma Igreja Missionária, que sua vivência do Evangelho ilumina a vida da Igreja até os confins do mundo. Uma Igreja viva, que desde a periferia do mundo e da Igreja vai iluminando toda a Igreja, todas as igrejas, a vida de todos os batizados e batizadas. E vai fazendo isso iluminando a vida dos outros com aquilo que faz parte de sua vida cotidiana, da vivência de suas comunidades. Uma Igreja que mesmo nas dificuldades pelas que passa encanta àqueles que a conhecem e entendem seu modo de fazer carne o Evangelho. Ao longo do 5º Congresso Missionário Nacional as vozes da Amazônia foram testemunhando como nos rios, nas matas, nos povos e comunidades da região foi se fazendo vida, se fazendo fruto a semente do Verbo que foi germinando secularmente no cotidiano da existência e da vivência da fé e das espiritualidades, nas pessoas, mas sobretudo nas comunidades amazônicas. Agora o grande desafio é sermos uma Igreja ainda mais missionária, sem medo de sair ao encontro das sementes de Deus na vida do povo, umas sementes que estão próximas de nós, mas também distantes, além-fronteiras. Uma Igreja que sente esse chamado como algo comum, algo que faz parte da vida de todos e todas. Aqueles e aquelas que vão anunciar, fazem isso em nome de uma Igreja que envia, uma Igreja que se sente responsável por uma missão que por nascer de Deus Trindade, ela é comunitária. Uma Igreja que dá frutos e os oferece à Igreja, frutos concretos que se manifestam nos três bispos da Igreja da Amazônia nomeados recentemente para servir à Igreja da Amazônia, motivo de grande alegria para muitos. Um sinal de maturidade, que tem sido alcançada com o compromisso de muitos e muitas, de gente chegada de fora, que aos poucos foi convertendo seu coração, fazendo-o amazônico, e de gente nascida neste chão que foi recolhendo a espiritualidade de seus ancestrais, mas também deixou se iluminar por quem tinha feito opção pela Amazônia. Agora é tempo de olhar o futuro com esperança, de uma esperança que vem de Deus e vai se fraguando na vida do povo. Somos chamados a continuar caminhando, construindo, concretizando, aqui e agora o Evangelho sempre antigo e sempre novo, carregado de Tradição e de novidade, de vida plena para todas e todos aqueles que se deixam interpelar por ele. A missão é ajudar àqueles que nunca fizeram isso a se deixar interpelar pelo Deus encarnado em todo tempo e em todo espaço. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

Dom Zenildo Lima: “Neste chão amazônico foi moldado meu ministério presbiteral, este povo me formou”

No final de sua ordenação episcopal, Dom Zenildo Lima iniciou suas palavras dizendo que “não poderia compreender este ministério de bispo se não em perspectiva missionária nesta feliz coincidência de encerrar um Congresso Missionário Nacional com a expressão ministerial de uma Igreja Local”. Segundo o bispo auxiliar de Manaus, “ministerialidade e missionariedade são expressões da Igreja profundamente implicadas entre si”, agradecendo as Pontifícias Obras Missionárias por acolherem esta vivência da Igreja de Manaus. É verdade que tu me amas? Lembrando de sua sede como bispo auxiliar, Maraguia, uma Igreja que existiu na Tunísia, Dom Zenildo Lima disse que “os conflitos distantes têm a ver com a vida das nossas Igrejas Locais”, insistindo em que “toda experiência da missão nasce do fecundo encontro com o Senhor, que toma iniciativa como primeiro missionário de nos comunicar o seu amor, ainda que ele mesmo nos interpele: Simão, Filho de João, é verdade que tu me amas?”, lembrando das palavras do Evangelho proclamado na ordenação. Palavras que ele disse ter escutado “em linguagem de missão”, o que o levou a agradecer à paróquia onde foi batizado, a sua família, onde “a fé moldou-se como esperança em tempos tão difíceis e tão desafiadores”, onde “foi se atualizando com gestos de solidariedade e compaixão entre nós e para com os outros”, a sua comunidade de origem no Morro da Liberdade, suas amizades e aqueles que foram lhe educando na fé. Esse foi o chão onde foi surgindo sua vocação. Um caminho vocacional que, segundo o novo bispo, “nasceu do incômodo de um apelo que gostaria, em princípio que não tivesse nada a ver comigo”, lembrando de seu pároco, o reitor do Seminário, de “alguns dos mestres que tanto apostaram em mim”. Um tempo em que ele disse ter sido formado pela Igreja de Manaus, “na pessoa dos seus pastores, do seu dinamismo pastoral, da sua comunhão que hoje chamamos de sinodalidade”, enfatizando que “a Igreja de Manaus sempre foi o espaço privilegiado da minha formação permanente”. A riqueza da Igreja da Amazônia “Neste chão amazônico foi moldado meu ministério presbiteral, este povo me formou”, ressaltou Dom Zenildo Lima, lembrando dos “seus ministros, a riqueza extraordinária dos cristãos leigos e leigas, as religiosas verdadeiras educadoras e guardiãs para que o ministério por mim exercido não desaguasse em anomalias do clericalismo. Sempre que estivemos todos juntos, nas assembleias, nas solenidades, nas procissões, na Festa de Pentecostes”. Um caminho onde ele contemplou “a riqueza do povo de Deus ali reunido, somente depois eu podia convocar convencido da alegria da comunhão: Canta, canta, canta bonito, povo de Deus”. Fazendo uma leitura do chamado ao episcopado desde a terceira pergunta de Jesus a Pedro, que ele diz ter vivenciado como algo que “me soou constrangedor”, Dom Zenildo disse que “só agora entendi que ele me interpelava exatamente com estas mesmas palavras que chegaram até mim como apelo de totalidade. Totalidade no amor, totalidade no serviço. Só agora entendi que o pedido pela totalidade estava presente desde a primeira vez que ele me interrogou. Agora me pede tudo o que posso oferecer”. Servir como bispo nesta Igreja de Manaus Um “servir como bispo nesta Igreja de Manaus”, que lhe leva voltar seu olhar “para vocês”, “para a pessoa de Dom Leonardo que num insistente gesto de confiança fez escolha teimosa não necessariamente por um indivíduo, mais que isso, por um sujeito local”, ressaltando que “sua insistência não foi somente com minha pessoa, mas com esta Igreja de Manaus”. Um olhar que também se volta para o Seminário São José, dizendo que “minha vida está estreitamente perpassada pelo Seminário”. O novo bispo falou para seus irmãos bispos, dizendo que “para quem vai ser bispo nesta região, que escola privilegiada o episcopado deste Regional Norte 1 de quem sempre me senti próximo e disponível como um servidor e assim continuo oferecendo minha disponibilidade”. Dom Zenildo Lima dirigiu seu olhar para “os agentes que constituem esta Igreja Local”, ressaltando sua proximidade, expressada nas “incontáveis mensagens, surpreendentes manifestações de afeto”, repetindo as palavras de Santo Agostinho: “Para vocês sou bispo, com vocês sou cristão”! Eu me sinto um pouco diferente, dada a vossa proximidade, “com vocês eu sou bispo!”. Ele insistiu em que “vocês agora fazem parte desta resposta, a voz de vocês ecoa na minha e mesmo fraco e pobre insisto em dizer: Senhor tu sabes tudo, sabes que eu te amo!”. O novo bispo mostrou sua gratidão a Nossa Senhora da Conceição, “foi ela quem respirou por mim quando num leito de UTI quase em fase terminal os meus pulmões não davam mais conta sequer de lhe suplicar, respira por mim, Mãe do Céu. Eu experimento sem nenhuma sombra de dúvidas: ‘A Mãe de Deus está Conosco’!” Lembrança dos que deram a vida Falando da missão, Dom Zenildo insistiu em que ela “não nos conduz somente aos confins do mundo, ela nos leva aos confins da história, aos confins dos tempos, ao novo céu e nova terra, a terra sem males. A existência destinada aos que não desistiram, aos nossos mártires desta Amazônia, aos homens e mulheres que ofereceram a própria vida, até mesmo aqueles a quem a vida muito machucou”. Ele lembrou e se uniu “ao meu pai Leonardo Pessoa, ao bispo Jackson Damasceno que inaugurou esta modalidade da presença do ministério episcopal em nossa Igreja, a tantos cristãos leigos e leigas que doaram sua vida pela missão, religiosas exemplares cuja memória ainda alimenta a vida de nossas comunidades, ao meu amigo o Pe. Luis Gonzaga de Souza, ao nosso amado Dom Sérgio Castriani. Um bispo Missionário”, perguntando “o que diria Dom Sérgio de uma ocasião como esta? O que escreveria Dom Sérgio…”. Ele sente que foi de Jesus que “o seu convite amoroso acolhe o que eu tenho para oferecer. Agora que poderíamos fechar este diálogo ele novamente surpreende e faz com o que meu olhar não se limite aos ambientes eclesiais e eclesiásticos, mas se estenda aos pequenos, aos rejeitados, aos feridos, aos pobres, nas expressões mais dramáticas que se…
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Cardeal Steiner: “No episcopado já não vamos para onde conduzem nossos interesses, sonhos, projetos pessoais”

O 5º Congresso Missionário Nacional, realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro, com o tema: “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo” e com o lema o “Corações ardentes, pés a caminho”, foi encerrado com uma ordenação episcopal de um filho da terra, Dom Zenildo Lima, do clero da Arquidiocese de Manaus, que agora será seu bispo auxiliar. Uma celebração, presidida pelo cardeal Leonardo Steiner, com Dom Gutemberg Freire, bispo emérito de Coari, e Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO), como bispos coordenantes, que contou com a presença de quase 50 bispos, quase 200 padres e diáconos, de tudo o povo de Deus, radiantes de felicidade vendo que um filho da terra, formado na Amazônia, será bispo na Amazônia, com a benção de sua mãe, um momento de grande significado, em que encomendou a Deus o ministério de seu filho. Ungidos e enviados Em sua homilia, o cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, destacou na primeira leitura (cf. Is. 61,1-3a), o envio: ungidos e enviados para oferecer a boa-nova aos pobres, curar as feridas da alma, pregar a libertação aos cativos e a liberdade aos que estão presos. Discípulas missionárias, discípulos missionários, todos enviados e enviadas aos confins de tantos mundos para proclamar o tempo da graça, para consolar os que choram, para ungir com o óleo da alegria os que sofrem. Assim como Jesus enviado pelo Pai para ser a anúncio do Reino, assim todos, todas, enviados por Jesus para anunciar, proclamar o Reino”. Destacando o fato de sermos proclamadores, proclamadoras, Dom Leonardo disse que “não anunciamos estruturas, não transmitimos normas, não apresentamos moralismos”. Pelo contrário, “no encontro com Jesus, somos enviados para anunciar o Reino da misericórdia, da fraternidade, da esperança, do amor; a transfiguração, a plenificação”. Trata-se da “proclamação e anúncio que deseja chegar aos confins de tantos mundos desconhecidos, culturais, virtuais. Sim os confins, às beiradas, aos beiradões, aos limites, especialmente onde a vida está por perecer pela violência da destruição”. Todas as criaturas fazem parte do Reino O presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, fez um chamado a “proclamar a todas as criaturas que elas fazem parte do Reino, que em Cristo todas as criaturas se tornaram irmãs, que vivem na e da mesma casa comum, o Reino. Encontrados e despertados, como os discípulos de Emaús, para a plenitude da vida visível na morte e a ressurreição de Jesus, no morrer para transfigurar, Vida nova. É Ele que faz arder os corações e agiliza, apressa, alegra os passos. A ordenação episcopal torna visível a missão da Igreja, estarmos a caminho na alegria dos passos e corações no ardor missionário”. No Evangelho, o cardeal destacou que “Jesus busca o coração de Pedro por três vezes: Pedro tu me amas?”, chegando Pedro a entender que Jesus lhe pergunta “pelo amor que transcende à própria vontade, um amor sublime, divinizado”, algo que Pedro só entende quando lhe pergunta pela terceira vez: “gostas de mim, és meu amigo, sentes afeto por mim. E na tristeza de Pedro nasce daquele toque sagrado em que percebe que Jesus deseja ser amado com o amor que Pedro pode oferecer, deseja ser amado com sua humanidade, a sua finitude, com a ternura de sua humanidade. Jesus busca a Pedro e lhe manifesta que deseja pouco: a sua humanidade, o seu modo de amar, o amor de sua fraqueza”. Dar a vida gratuitamente Dom Leonardo disse que “Pedro acorda da sua ingenuidade e responde que o ama com o amor que transcende à sua própria vontade, um amor sublime, divinizado. Com o amor que recebeu de Jesus”, o que iluminou com as palavras de Santo Agostinho e Guilherme de Saint-Thierry. Jesus desejava despertar a Pedro, enfatizou o arcebispo de Manaus: “a tua humanidade és capaz de dar a tua vida, é capaz de divinizar-te e dar a vida gratuitamente? És capaz de morrer por mim?”, descobrindo nas palavras de Pedro que “pedes apenas que na minha fraqueza possa dar minha vida por ti; eu darei a minha vida por ti, servindo os irmãos e irmãs”. Palavras que disse aquele que seria ordenado: “Zenildo, se assim é: segue-me! Segue-me sem resistência, com todo o teu coração, com todo o teu afeto, com toda a tua mente, com toda a tua pessoa; inteiro, por inteiro, todo inteiro, de corpo e alma, dos pés à cabeça; segue-me na liberdade do teu amor que de mim recebeste, cuidando dos meus irmãos e irmãs, apascentando as minhas ovelhas”. Segundo o presidente do Regional Norte1, “o chamado, o envio, a missão, pede a resposta sagrada: sabes que te amo. O chamado, o envio e a missão do bispo se fundamenta, cresce, amadurece e plenifica na participação no amor de Cristo que deu a sua vida pela salvação do mundo. É uma participação no amor de Jesus e, por isso, no serviço que o amor oferece”. Ele lhe fez ver a Dom Zenildo que “partícipe da vida em Cristo revestido de Cristo pelo batismo e ungido pelo Espírito na crisma, o Senhor também te perguntou por duas vezes: Zenildo tu me amas? Sim, Senhor tu sabes que te amo, então segue-me”, recordando a ordenação diaconal e presbiteral e seu serviço “animando os irmãos e as irmãos nas Comunidades de nossa Arquidiocese”. Eu darei a minha vida por ti Diante da pergunta pela terceira vez, desde a “humanidade frágil e com o desejo de ser tomado pelo amor divino redentor, salvador, libertador, tornando visível e audível que Ele deseja ser amado com tua humanidade, a tua finitude, com a ternura de tua humanidade”, Dom Leonardo disse: “eu darei a minha vida por ti, servindo os irmãos e irmãs. Senhor que me sondas e me conheces, tens a minha fragilidade, a minha humanidade, inclusive minha fragilidade física, o amor que de ti recebi para oferecer e ofertar aos irmãos e irmãs que me forem confiados”. Ele fez um convite ao ordenando: “Segue-me sem resistência, com todo o teu coração, com todo o…
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Carta do 5º Congresso Missionário Nacional: Que o Ressuscitado impulsione para a missão permanente

Em uma carta aos missionários e missionárias das Igrejas locais, o 5º Congresso Missionário Nacional, realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023, começou recordando a grave estiagem na Amazônia e a acolhida da Igreja local. Um Congresso expresivo do “ardor e o testemunho missionário da Igreja no Brasil”, com aproximadamente 800 participantes, “para fomentar um novo impulso, novas luzes e novas motivações na caminhada missionária para além de todas as fronteiras”. A missão é o paradigma Lembrando o tema, “Ide! Da Igreja local aos confins do mundo”, e o lema: “Corações ardentes, pés a caminho”, o texto recordou o chamado de Papa Francisco “a responder com alegria ao Evangelho que recebemos”. Uma carta que afirma que “a missão é o paradigma, o eixo que sustenta e nutre toda a Igreja. Uma missão fundamentada no diálogo recíproco, que possibilita incluir o estranho, as periferias, entrar na casa dos pobres, escutar seus clamores, sem preconceito, crítica, arrogância ou rejeição, desde a lógica diferente de Deus. Uma missão que inclui a todos, e que gera espaços de escuta e comunhão”. “Uma Igreja sinodal em missão até os confins do mundo que cruza fronteiras e vive a ministerialidade e a corresponsabilidade, superando o clericalismo. Uma Igreja samaritana que se concretiza no amor a aqueles que vivem nas periferias geográficas e existenciais. Uma Igreja para todos e todas. Uma Igreja encarnada, não colonial, não de conquista, mas pautada por uma missão de encontro e sem medo do diferente”, destacou o texto.  Pistas para as quatro prioridades A carta reafirma a relevância e a atualidade do Programa Missionário Nacional (PMN), e indica algumas pistas para a ampliação e a dinamização das quatro prioridades do Programa Missionário Nacional: formação missionária, animação missionária, missão ad gentes, compromisso profético-social, colocando em destaque alguns elementos para uma das prioridades. Diante disso, o texto afirma que “queremos, como os discípulos de Emaús, continuar tecendo caminhos de busca, de escuta e de transformação para que o Ressuscitado abra os nossos olhos, converta os nossos corações e nos impulsione para a missão permanente. Somos inspirados a reconhecer sua presença no cotidiano dos povos, em suas sabedorias, suas culturas, seus ritos, seus territórios e suas histórias”. Para isso é pedido “a força da Divina Ruah para sairmos ao encontro dos pobres e dos outros, servindo ao Reino de Deus com coração sem fronteiras e pés a caminho”, e a companhia de Maria, Mãe da Amazônia, “em nossa saída missionária das Igrejas locais até os confins do mundo”. Leia na íntegra a Carta Compromisso do 5º Congresso Missionário Nacional Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Carta dos Gritos da Amazônia da REPAM: Preocupações diante da agonia do bioma e de seus povos

Uma Carta diante dos Gritos da Amazônia foi elaborada pelos participantes do encontra da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), realizada em Florência, Caquetá – Colômbia, de 8 a 10 de novembro de 2023. O texto começa pedindo “um cessar-fogo imediato em Gaza e em outros locais de conflito, com mecanismos e acordos internacionais para a construção da paz”. Lembrando seus 10 anos de vida, a REPAM se apresenta como “uma resposta profética a partir do Evangelho, com a tarefa de promover o cuidado da Casa Comum, fazendo ressoar a voz dos povos e a defesa dos direitos humanos”, destacando que “somos inspirados pela espiritualidade encarnada no território, comprometidos com novas formas de sinodalidade, para uma Igreja com rosto amazônico”. A carta mostra as preocupações da REPAM, “aflitos pela agonia desse bioma e de seus povos, conscientes de sua importância para o planeta: a crise climática e o colapso sistêmico na Amazônia; extrativismo predatório; desenvolvimento minero-energético na Amazônia; as falsas soluções da economia verde; o narcotráfico. A REPAM pede “a implementação de um Plano de Ação Integral para a proteção e defesa da Pan-Amazônia e de seus povos, com um compromisso sério das autoridades públicas e da sociedade civil para prevenir novas violências, ajudar as vítimas e reverter a situação”. Igualmente a carta lembra os pedidos das comunidades e povos amazônicos à Igreja: uma aliança na firme defesa de seus territórios. Também, “a REPAM ratifica o apelo do Papa Francisco pela governança global em tempos de crise climática, exigindo que as Conferências do Clima das Nações Unidas (COP’s) tomem decisões eficientes, vinculantes e que possar ser facilmente monitoráveis”, chamando “à unidade dos povos e das redes eclesiais pela ecologia integral, por um caminho de mobilização e conscientização”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Ir. Regina Pedro: “O carisma das POM é um dom do Espírito Santo ao povo de Deus”

A Diretora Nacional das Pontifícias Obras Missionárias no Brasil, ir. Regina da Costa Pedro, proferiu a última conferência do 5º Congresso Missionário Nacional, na manhã desta terça-feira: A presença das obras na Igreja do Brasil. As Pontifícias Obras Missionárias são organismos oficiais da Igreja vinculados ao Dicastério para a Evangelização e atualmente se consolidam como uma rede mundial de oração e caridade em apoio à missão da Igreja. Para a ir. Regina, as obras existem “para intensificar a animação, a formação e a cooperação missionária em todo o mundo”. Durante sua exposição, ir. Regina apresentou a história das quatro Obras Pontifícias: Pontifícia Obra para a Propagação da Fé, Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária (IAM), Pontifícia Obra de São Pedro Apóstolo e a Pontifícia União Missionária. “Elas não nasceram juntas e nem nasceram pontifícias”, ressaltou. A identidade e o carisma das POM A Diretora seguiu apresentando a identidade e o carisma das POM, pontuando que nasceram do povo de Deus, que suscitam oração e caridade em todo o mundo e que são pontifícias, ou seja, instrumentos de serviço à Igreja. Radicadas na realidade de cada Igreja local, as Pontifícias Obras refletem o mistério da diversidade e da unidade da Igreja, constituída em 130 países. Sobre o carisma, ir. Regina destacou que é um dom do Espírito Santo ao povo de Deus para despertar ainda mais a consciência de que a missão ad gentes é o paradigma da ação evangelizadora de todas as comunidades cristãs. “É um movimento espiritual na Igreja inteira e a serviço da Igreja inteira”, ressaltou e concluiu: “Este carisma compromete as POM e, por meio dela toda a Igreja, a deixar-se guiar pelo Espírito”. “Uma pessoa encarregada para as POM, não necessariamente um sacerdote” Na conferência, ir. Regina alertou para a necessidade de uma reestruturação das Pontifícias Obras Missionárias, em todo o mundo e inclusive no Brasil. “Esta necessidade é ainda mais urgente após a reforma da Cúria Romana”, pontuou. Ela relatou a sua alegria pelo documento que orienta a reforma mundial das POM, que prevê a nomeação de “uma pessoa encarregada para cuidar das missões e, em particular das POM” – não necessariamente um sacerdote. Pontualmente, entre as reformas mais necessárias estão a constituição de uma instância intermediária para implantação, animação e coordenação, entre as POM e as dioceses. Além disso, as POM Brasil também refletem a constituição da Obra de São Pedro Apóstolo, ainda não consolidada no país. Ainda sobre as mudanças que precisam acontecer, ir. Regina destacou a falta de organização das POM em muitas dioceses do Brasil e explicou que essa responsabilidade cabe especialmente aos bispos e aos Conselhos Missionários nas diversas instâncias – Nacional, Regional, Diocesano e Paroquial. O 5º Congresso Missionária Nacional A Diretora Nacional das Pontifícias Obras Missionárias concluiu sua exposição partilhando os frutos que espera colher deste 5CMN: Que ele contribua na revitalização do Programa Missionário Nacional, ajudando a gerar diretrizes missionárias para a Igreja no Brasil. Que ele ofereça pistas para que as POM possam realizar seu serviço de ajudar cada Igreja local a ser missão a partir do seu território e até os confins da terra. Ela finalizou confiando estes sonhos “à ação criadora e recriadora do Espírito e à intercessão de Maria, Mãe Missionária, para que se tornem realidade na caminhada de conversão missionária da Igreja peregrina em terras brasileiras”. Painel Temático A Conferência foi seguida pelo painel temático com os Secretários das Obras no Brasil: ir. Antonia Vania de Sousa (Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária), pe. Genilson Sousa (Pontifícia Obra para a Propagação da Fé) e pe. Antônio Niemiec (Pontifícia União Missionária). Victória Holzbach, assessora de comunicação CNBB Sul 3

Estevão Raschietti: Missão não é um processo de conquista, é acolhida e abertura aos outros

A missão ad gentes além-fronteiras está sendo um pano de fundo do 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro. Uma ideia presente na reflexão do padre Estevão Raschietti, tomada do Livro dos Atos dos Apóstolos. Segundo o missiólogo, “o título da novela dos Atos dos Apóstolos seria Até os Confins do Mundo”, e o subtítulo, “Quem quiser salvar a sua identidade cultural, vai perdê-la; mas, quem perder a sua identidade cultural por causa de mim, vai encontrá-la”. A Missão em Lucas O padre xaveriano iniciou suas palavras analisando a missão em Lucas partindo do texto de Atos e do texto evangélico. Uma missão que em Lucas, a diferença de Mateus, é Testemunho. Não é fazer, é ser; não é envio, e atração. Ele apontou três significados dos confins da terra, mostrando a progressão de uma saída, manifestando uma ideia de totalidade e apontando para um compromisso eclesial. É uma caminhada sofrida e titubeante da primeira comunidade em se abrir aos não-judeus. Os pagãos podem ser também merecedores das promessas de Deus ao seu povo, sem se converter ao judaísmo. Não é um processo de conquista e sim de acolhida e de abertura aos outros. Esses confins do mundo causaram muitos problemas. A Missão torna Igreja o movimento de Jesus Na medida que adere a missão, o movimento de Jesus se torna “Igreja”. “Essa missão, na sua origem, não foi de conquista e nem de ruptura, mas de profundo e sofrido desprendimento, de exílio, de abertura, de proximidade, de progressiva acolhida dos outros”, segundo Raschietti. Confins que também significa os últimos, que tem um sentido de finalidade e de totalidade espaço-temporal. Segundo o xaveriano, “a Igreja não é a luz das nações!”, ela “reflete a luz de Cristo”, o que faz com que a missão seja descentrada. “É Cristo e seu Evangelho que é luz das nações”, afirmou Raschietti. Ele insistiu em não engaiolar Jesus “em qualquer de nossas estruturas, cuja função é fazer com que as pessoas possam encontrar o Senhor”. A missão tem que passar de ser vista como “expansão” da Igreja para uma missão como “encontro” com as pessoas. Horizontes, fronteiras e periferias Hoje os confins da terra, em um mundo globalizado, têm a ver com horizontes, a Igreja a serviço de uma humanidade a caminho sempre mais além; fronteiras, também linhas de demarcação, de separação, de comunicação e de travessia, marcadas pelo colonialismo e dominação, o que demanda cruzar as fronteiras, aprender e desaprender, descalçar-se; e margens, periferias, uma Igreja que entra na casa dos pobres, como peregrina, para aprender do pobre, que habita as periferias, tecendo vínculos de amizade. Periferias que “não são um lugar fácil de se viver”. Estevão Raschietti destacou que “a missão até os confins da terra representa ao mesmo tempo a origem, a meta e o conteúdo de toda identidade e atividade eclesial. Representa o único mandato de Jesus a seus discípulos: não há outros”. Ele falou de três saídas: a Igreja saiu de seus templos para ir ao encontro dos pobres nas periferias (opção pelos pobres); de suas fronteiras para ir ao encontro dos outros, os indígenas e os afrodescendentes, suas culturas, seus projetos de vida; ao encontro dos pobres e dos outros em outros continentes, como cooperação intereclesial. Uma missão além-fronteiras, que a Igreja latino-americana e caribenha é chamada a assumir, mas “será que o Espírito nos dará a graça dessa ousadia?”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Fotos: Victória Holzbach

Padre Yerisco Marcelino: “A Missão ad Gentes é um sinal de que uma Igreja tem a maturidade da fé”

O padre Yerisco Marcelino é Missionário Xaveriano. Nascido na Indonésia, depois de cinco anos no México, mora no Brasil há dois anos. Em Belém (PA), ele trabalha na animação vocacional e na animação missionária. Ele nos fala sobre a Missão ad Gentes e sobre como promover essa missão além fronteiras. O que significa para o senhor a Missão ad Gentes? Missão ad Gentes significa ir além fronteiras, ir ao encontros dos outros. Esse espírito nasce da nossa congregação, o espírito xaveriano. Nosso fundador, São Guido Maria Conforti, ele sonhava que seus filhos, os xaverianos, efetivem a Missão ad Gentes, que é levar a Palavra àqueles que ainda não a conhecem. Uma Missão ad Gentes que segundo está sendo debatido no 5º Congresso Missionário Nacional quer ser assumida cada vez com mais força pela Igreja do Brasil. A Igreja do Brasil durante muitos anos recebeu missionários e missionárias de outros países, e aos poucos vai enviando presbíteros, religiosos, religiosas, leigos e leigas para a Missão ad Gentes. Como fomentar ainda essa Missão ad Gentes na Igreja do Brasil? Uma das falas deste Congresso que me chama muito a atenção é que a Missão ad Gentes é um sinal de que uma Igreja tem a maturidade da fé. Estou muito feliz que acompanhando os jovens na nossa casa de formação em Belém, tem muitos jovens que estão interessados e querem assumir a missão além fronteiras. Sair da sua cultura, do seu território geográfico, mas também sair para encontrar nas periferias pessoas que estão precisando. Recentemente a Igreja universal realizou a primeira sessão da Assembleia Sinodal, onde foi aparecendo a riqueza da diversidade. O senhor nasceu na Indonésia, passou pelo México, agora no Brasil, realidades muito diversas e realidades eclesiais muito diferentes. O que o senhor foi aprendendo, descobrindo, nesses diversos modos de vivenciar a fé, nessas diferentes culturas que ao longo da sua vida foi descobrindo? Eu nasci na Indonésia, cresci e realizei minha formação de base na Indonésia, continuei minha formação no México, e agora no Brasil. São três realidades diferentes na Igreja, na Indonésia, no México, no Brasil, mas temos só um Cristo que nos mostra onde queremos chegar. Para mim um ponto chave é a humildade. A humildade é um ponto chave para entrar na diversidade, seja cultural, seja na maneira de pensar, a humildade me ajuda bastante a entrar, a me adaptar a novas realidades. Lembro que quando quis aprender espanhol no México, se eu não tivesse humildade, eu não teria aprendido espanhol. Eu aprendi falar com as crianças, e a partir dessa experiência, eu refleti bastante que a humildade é uma janela para entrar na diversidade. Minha adaptação com a comida brasileira, a Igreja do Brasil, clima, comida, isso me ajudou bastante. O senhor fala da formação dos jovens da sua Congregação, sair da realidade, da própria cultura, sair da zona de conforto para ir a outros lugares. Sentem os jovens, os formandos, esse chamado de Deus para sair para a Missão ad Gentes? Não é fácil hoje encontrar jovens que tenham esse desejo cem por cento. Mas eu estou na casa de formação e essa é uma maneira para ajudar a impulsioná-los a sentir esse espírito de Missão ad Gentes. Esses jovens, temos três ou quatro jovens lá que se estão interessando com a Missão ad Gentes, com testemunhos onde eles dizem, padre, eu quero ir a servir as pessoas fora da minha realidade, eu quero ir a África, eu quero ir a Ásia, e esses jovens estão se interessando. Meu trabalho é animar e dar uma formação de verdade através do meu testemunho de vida, do que eu experimentei através da minha caminhada de vida. De tudo o que foi aprendendo, na Indonésia, no México, na partilha de diferentes realidades culturais e eclesiais, o que ainda carrega em sua bagagem e tenta partilhar em seu trabalho no Brasil? Aqui meu principal trabalho é como animador vocacional da nossa província Brasil Norte. Meu trabalho é de animação missionária e animação missionária vocacional. São dois trabalhos que parecem diferentes, mas são o mesmo caminho, ajudar os jovens a sentir esse chamado de ser missionários ad gentes. Também faço parte da Escola Missionária Vocacional, que a gente criou na arquidiocese de Belém e a diocese de Abaetetuba. Com o Comité Missionário Regional Norte 2 (COMIRE Norte 2), estamos criando essa Escola Vocacional Missionária que já temos realizado dois módulos neste ano. O objetivo desta Escola Missionária Vocacional é incentivar as lideranças, os jovens, que querem sentir e abraçar esse espírito missionário. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Victória Holzbach: “Na missão em sinodalidade, o leigo não é mão de obra na missão, mas protagonista na tomada de decisões”

A missão ad gentes se concretiza na vida, no sair de homens e mulheres que enviados pela Igreja anunciam o Evangelho nos confins do mundo. Na Igreja do Brasil existem testemunhos dessa concretude da missão, como foi relatado por Victória Holzbach, coordenadora do Conselho Missionário Regional Sul 3 e a Ir. Eliane Santana, religiosa da Congregação de São José de Chambery e assessora da Comissão Missionária da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no 5º Congresso Missionário Nacional que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023. A Igreja local responsável pelos missionários que envia É a Igreja que envia, enfatizou a Ir. Eliane Santana, dizendo que “a Igreja local é responsável por cada comunidade que foi enviada”. Essa Igreja local tem que se sentir parte, ter empatia, pois “a missão é forte se ela está dentro de uma proposta eclesial”, lembrando que ela foi enviada pela CNBB e a CRB para a missão em Timor Leste. Uma responsabilidade da Igreja local que segundo Victória Holzbach precisa de madurez para compreender essa responsabilidade, “uma Igreja que se coloca em saída, mas que também precisa acolher”, falando do missionário que volta da missão com a sacola cheia dos frutos que colheu no caminho e traz uma novidade para sua terra. Uma Igreja que envia para a missão o melhor que ela tem, que mesmo em sua pobreza não partilha a roupa rasgada e manchada, e sim a roupa de ir à missa no domingo, enfatizou a missionária leiga. Protagonismo feminino na missão Victória, que foi missionária em Moçambique no projeto missionário do Regional Sul 3, que em 29 anos já enviou 70 missionários e missionárias, contou a experiência de uma missão em sinodalidade, da qual fazem parte leigas, leigos, religiosos, religiosas e padres. O fato de viver em uma única casa, como equipe missionária, “é um sinal profético de uma Igreja disposta efetivamente à missão, onde se unem forças”, destacou. Isso porque uma Igreja sinodal não acontece por acaso, e sim a partir de estruturas para isso. Nessa missão em sinodalidade, o leigo não é mão de obra na missão, mas protagonista dos processos de tomadas de decisão, em pé de igualdade, destacando a importâncias das leigas nesse tempo de missão como Regional Sul 3. Uma perspectiva sinodal na missão que incomoda, “o protagonismo laical é desconfortante, especialmente se feminino”, ressaltou. Um protagonismo laical feminino que também foi enfatizado pela Ir. Eliane Santana, que insistiu em que a presença missionária não é só para os cristãos católicos e sim para todos, o que ela experimentou na missão em Moçambique, em uma região onde 80 por cento da população eram muçulmanos, algo que viveu como “uma partilha constante de vivência, de respeito, de integração, de luta por mais vida em conjunto”, afirmando que a pobreza do islâmico é a mesma do que a do cristão, e testemunhando que era bem melhor partilhar do que fazer pequenos guetos. Se inserir nas periferias Uma missão desafiada a se inserir nas periferias, e que tem que levar a descobrir que “somos enviados para amar aqueles que não se sentem amados, incluir aqueles que não são incluídos e chorar com aqueles que precisam chorar”, segundo a assessora da Comissão Missionária da CNBB. Ela chamou a ter a humildade de descobrir juntos, a não cair na resposta fácil, a buscar a unidade, que não é ser todo mundo igual e sim aceitar o diferente como ele é. Um desafio que tem a ver com a inclusão dos pobres, chamando a dar uma perspectiva de esperança para todos e para todas. Partindo da ideia de que Deus é ser em relação, Holzbach vê isso como algo que tem que levar a entender que “não existe missão só comigo”, o que demanda “se colocar como caminhante ou como aprendente”, que renuncia aos seus saberes para compreender que “o povo é que nos ensina”. Isso se aprende sentando-se com o povo, esquecendo do relógio, pois “não é o tempo que regula a missão”. Segundo a assessora de comunicação do Regional Sul 3, “é a vulnerabilidade que nos permite compreender e viver a experiência da providência”, superando a autossuficiência que impossibilita a providência agir. Estar junto com o povo Uma missão que é mais ser do que fazer, ressaltou Vitória, que destacou a importância de “estar junto com o povo e compreender o dia a dia”, algo que o fato de ser leiga lhe facilita, pois tem mais liberdade para passar um dia com uma família conversando, dado que o fato de ser leiga leva a conhecer mais as histórias do povo, dado que os padres muitas vezes têm que se dedicar a celebrar. Uma experiência do ser que é o que “também mais nos toca como consagradas”, segundo a Ir. Eliane. O que o povo recorda “é aquele momento que a gente estava chorando junto, ou que a gente simplesmente se sentou, abraçou e acolheu o sofrimento”, de viver momentos em que “a presença faz a pessoa se sentir importante, se sentir gente”, pois “ser Igreja é acolher”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Esmeraldo: “Para a vida missionária é imprescindível estar com as pessoas que vivem nas periferias e ser com elas periferia”

Toda Igreja local é responsável pela missão aos confins do mundo, uma reflexão presente na conferência de Dom Esmeraldo Barreto de Farias, bispo de Araçuaí (MG), no 5º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Manaus de 10 a 15 de novembro de 2023. Retomar as intuições do Concílio Vaticano II O tema do 5º Congresso Missionário Nacional nos permite retomar as grandes intuições do Concílio Vaticano II, seu impulso missionário, e dos documentos do Magistério Latino-americano, sobretudo o Documento de Aparecida, “aprendemos que o dinamismo missionário é da natureza da Igreja e que somos chamados a assumi-lo como discípulos missionários de Jesus Cristo”, segundo o bispo, que destacou a necessidade do desenvolvimento de uma identidade missionária, que “não é um processo uniforme, nem todos os fiéis têm consciência dessa necessidade”. Dom Esmeraldo denunciou as “resistências à reflexão, à prática e à espiritualidade propostas pelo Vaticano II”, que se explicitam em uma mentalidade de cristandade, com um modelo eclesial piramidal e não de Igreja Povo de Deus e Corpo de Cristo, onde não se permitem atitudes críticas, com uma pastoral de manutenção, centrada no pároco e uma transmissão da fé na família. Nessa realidade também destacava a piedade popular, que “visava ajudar as pessoas das periferias urbanas e rurais a descobrirem a força do Evangelho em sua vivência cotidiana, unindo palavra e vida”. Caráter trinitário e existencial da missão Em sua reflexão sobre a responsabilidade da Igreja Local pela missão aos confins do mundo, o bispo de Araçuaí destacou o caráter trinitário e existencial da missão, os aportes do Vaticano II e o lugar e a responsabilidade da Igreja local como protagonista da missão, sinal de comunhão com a Igreja universal. “A missão tem sua origem no Deus-Trindade, no amor fontal de Deus”, enfatizou, até o ponto de que “Jesus Cristo assume a natureza humana para vincular todos e todas à sua missão”. O bispo ressaltou que “para a vida missionária no seguimento a Jesus Cristo e na contemplação da ação do Espírito Santo, é imprescindível estar com as pessoas que vivem nas periferias sociais, geográficas, existenciais e eclesiais e, ao mesmo tempo, ser com elas periferia”. Segundo ele, “escutar o clamor dessas periferias é descobrir, ouvir e acolher os apelos de Deus, estando aí como presença missionária e se deixando iluminar pela sua Palavra, acolhendo o que Ele diz através dessas pessoas, especialmente das que sofrem e são consideradas, na prática, descartáveis”. Um cuidado que brota do amor, como testemunhou Madre Teresa de Calcutá, de um amor que é “doar-se até doer”. Um olhar ampliado da missão Se faz necessário passar de um olhar restritivo a um olhar ampliado sobre a missão, algo que nasce do Vaticano II e seu modo de acolher a História, destacando a centralidade da Palavra de Deus, a ação do Espírito Santo, a renovação da Liturgia, a consciência de que a Igreja é Povo de Deus, a necessidade de partilhar as alegrias e esperanças de toda a humanidade e sobretudo dos pobres, das periferias. Para entender isso apresentou o novo modo de entender a missão nascido do Vaticano II, que “contribuiu para que a concepção de missão ganhasse amplitude de sentido”. Isso leva a descobrir que “a missão é o paradigma, o eixo que sustenta e nutre toda a Igreja, todo gênero humano e não um apêndice ou uma tarefa que se cumpre em terminados momentos e lugares. Após o Vaticano II, “a evangelização é e deve ser sempre missionária. A Igreja não vive para si mesma. Ela assume um movimento de saída de si mesma”, destacou o bispo, relatando os aportes dos diferentes papas do pós Concilio à reflexão missionária. “As palavras dos sucessores de Pedro sinalizam para as eclesiologias que emergem do Vaticano II: uma eclesiologia do Povo de Deus, uma eclesiologia de comunhão, ecumênica”, disse Dom Esmeraldo. Uma dinâmica assumida pelas conferências episcopais e as Igrejas locais, também no Brasil. Igreja universal como comunhão de Igrejas locais “O Vaticano II nos leva a refletir sobre o dinamismo missionário da Igreja local, sua responsabilidade e disponibilidade para a missão sem fronteiras”, disse o bispo, lembrando que “o Vaticano II considera a Igreja universal como uma comunhão de Igrejas locais”, e insistindo em que “quando se fala de Igreja Universal, não se trata de uma soma de igrejas locais que possam ser consideradas meras repartições administrativas de uma ‘sede principal’. A Igreja local só é Igreja quando faz comunhão com as demais Igrejas”. Uma Igreja local que “não é tanto o espaço físico enquanto tal, mas a comunidade-sujeito, espaço afetivo e de humanidade onde pessoas vivem a fé e manifestam sonhos, desejos, esperanças, com suas próprias raízes culturais e tradições”. Dom Esmeraldo analisou o chamado do decreto Ad gentes à responsabilidade e abertura da Igreja local à missão sem fronteiras, algo que tem que levar a “redescobrir o espírito de comunhão presente na Igreja primitiva e vivê-lo na experiência com as outras Igrejas locais, no sentido de solicitude e ajuda mútuas”. Essa Igreja local recebe um apelo à sinodalidade missionária, pois “não há dúvidas de que o caminho da sinodalidade é o que Deus espera da Igreja do nosso século. Um caminho que se inscreve nas pegadas do aggiornamento da Igreja proposto pelo Vaticano II”, e do atual processo sinodal. Uma Igreja que acompanha as vítimas Algo que chama a Igreja a acompanhar as vítimas das injustiças sociais e eclesiais, a promover e defender a dignidade da vida, a escutar o clamor dos pobres, excluídos e descartados, a dar prioridade a uma ecologia integral, a acompanhar os povos originários e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas. Um ser Igreja missionária que demanda “compreender bem em que consiste esta transformação missionária da Igreja”. O bispo insistiu em que “os cristãos leigos(as), nesse processo de renovação conciliar, são sujeitos e não objetos da evangelização”, o que chama à se sentir “corresponsável pelo modo de ser e agir da Igreja, e não colaborador do clero”, algo que demanda “avançar numa…
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