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Diocese de Roraima inaugura Casa da Caridade, graças à ajuda do Papa Francisco

“O espírito do Senhor Deus me enviou a proclamar a Boa Nova aos pobres”. Nessas palavras do profeta Isaias encontramos a inauguração do ministério de Jesus e ao mesmo tempo o conteúdo do nosso ser e do nosso operar em favor dos pobres como batizados e batizadas, fazendo a verdade na caridade. (Ef 4,15). Nessas palavras a Igreja diocesana de Roraima encontrou novo alento para renovar seu compromisso profético com a opção preferencial pelos pobres através da realização do projeto pastoral da “Casa da Caridade”.  Graças à intervenção direta do Santo Padre, o Papa Francisco, foi restaurado o antigo mosteiro das Monjas beneditinas, considerado uma peça valiosa do patrimônio histórico-eclesial de Roraima, e hoje está sendo devolvido à Diocese e à cidade de Boa Vista como centro vital de toda a obra caritativa e social da Igreja católica de Roraima. O objetivo principal é o trabalho orgânico e sinodal de todas as pastorais, movimentos e serviços que trabalham na dimensão da Caridade para oferecer assistência aos mais pobres e um caminho de formação a toda a comunidade roraimense na pedagogia do amor, a partir da caridade de Cristo.  Profundamente importantes ao longo do processo foram as reflexões do Concilio Vaticano II e do São Paulo VI sobre a necessidade da criação de uma “cultura da Caridade” para a realização da civilização do amor. Assim como Cristo revelou ao mundo o rosto de Deus Pai acolhedor e misericordioso para com todos os seus filhos e filhas, a nossa inspiração e ação começa a partir dos Pobres pois a eles é destinado primeiro o anúncio da Boa Nova da salvação. Além disso, mesmo no meio da complexidade com que somos chamados a caminhar junto com eles, os pobres permanecem um “lugar teológico” no qual vislumbrar os traços típicos do rosto de Deus muitas vezes desfigurado “sem aparência e nem beleza alguma…” (Is 53,2.), seu chamado para a conversão. Essa vocação dirige-se a toda a igreja, animada pelo amor conforme São Paulo nos lembra em sua segunda carta aos cristãos de Corinto: “a caridade de Cristo nos pressiona”. Assim a missão da Igreja é tornar-se cada vez mais Casa acolhedora para todos os filhos de Deus, Ele que é pai dos órfãos e defensor das viúvas, do humilde e de quem clama a Ele. Para toda a comunidade cristã e de maneira especial para toda a igreja local a Casa da Caridade – Papa Francisco começa seu ministério a partir dos pobres. Esse não é nem uma escolha particular tampouco um compromisso de poucos, mas Fidelidade de todos ao projeto de Deus e exigência de radicalidade originada pelo batismo além de um dever de coerência entre a profissão de fé e o nosso estilo de vida… De fato quando nós rezamos a oração do Pai Nosso que sobe a Deus da Igreja que celebra e que anima seu anúncio na catequese, essa mesma invocação “pressiona” a comunidade toda a viver no amor como família de Deus assumindo sua mesma solicitude paterna e materna para com todo aquele que se sente perdido privado de todos os meios de sustentação ou simplesmente de toda a razão para viver e esperar. Viver o dom da comunhão como fruto do Espírito nos torna uma comunidade verdadeiramente Cristã, uma Igreja Sinodal.  Dessa forma é possível encarnar o Espírito das bem-aventuranças redescobrindo a essencialidade do anúncio e o radicalismo exigente do Evangelho e vivendo a comunhão fraterna contra toda a tentação de exclusão. Esse é o itinerário de conversão que a nossa igreja católica de Roraima, a partir da Casa da Caridade e a partir dos pobres, quer assumir para que os mesmos pobres nos levem a descobrir o rosto de Deus. E para que esse projeto de amor se torne realidade, caberá à mesma Casa da Caridade favorecer um verdadeiro caminho pedagógico para toda a igreja diocesana para que cada Cristão e cristã, batizado e batizada, encontre na opção preferencial pelos pobres a realização plena de seu compromisso batismal como profeta, sacerdote e Rei, uma Realeza que resplandece da natureza do nosso Senhor e Rei que não veio para ser servido, mas sim para servir. Dessa forma a Casa da Caridade se torna também uma catequese a partir do serviço direto aos pobres.  Temos Esperança que a nossa igreja diocesana, a partir da perspectiva Pastoral lançada pelo projeto da Casa da Caridade “Papa Francisco” possa se tornar cada vez mais uma igreja “família de Deus” que vive na comunhão Sinodal conforme a imagem do Mistério da Trindade que é a melhor comunidade e que dá consistência a todas as relações dentro e fora da igreja, entre pastores e fiéis e entre pastorais, grupos e movimentos. Queremos nos tornar sempre mais uma igreja povo Deus itinerante e Peregrino, que não fica cuidando da manutenção da cristandade, mas que olha para a realidade atual com paciência e terna compaixão para aprender a ouvir os apelos do mundo atual e com a confiança amorosa no espírito que a acompanha diuturnamente, sair de si mesma para encontrar novos rumos e novas respostas para a construção de um mundo mais justo fraterno e solidário.  Queremos que a Casa da Caridade encarne em si o compromisso de todo o Povo de Deus que está em Roraima assume para não deixar cair a profecia que caracteriza uma Igreja disponível a viver as bem-aventuranças e que, por isso mesmo, se faz pobre e sempre posicionada do lado dos mais pobres, como garantia de abertura e de acolhida e compromisso para a construção aqui nessa terra daquela Casa Comum que é sinal e antecipação do Reino de Deus.  Enfim queremos que essa Casa nos ajude sempre mais a sermos Igreja missionária na história e no território em que ela se encontra; uma igreja capaz de acolher, proteger, promover e integrar sempre mais o bem presente no mundo, na história e no coração de cada ser humano desprezado e marginalizado como um sinal da continuação da missão de Cristo Salvador e Libertador. Por isso será típico da Casa…
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Cardeal Hollerich: “O Batismo das mulheres não é inferior ao dos homens”

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está realizando sua primeira sessão na Sala Paulo VI de 4 a 29 de outubro, iniciou seus trabalhos no dia 13 de outubro sobre o terceiro Módulo, B1, que visa aprofundar a corresponsabilidade na Missão. Novo Pentecostes O trabalho começou com uma Eucaristia no Vaticano, presidida pelo Cardeal Ambongo, Arcebispo de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo. Uma celebração que teve um claro sabor africano, na qual o presidente iniciou sua homilia afirmando que esse caminho sinodal, esse “novo Pentecostes”, é motivo de ação de graças a Deus e “renovará a Igreja na comunhão de seus membros e na participação ativa de todos na vida e na missão da Igreja“. Em suas palavras, ele convidou, seguindo a profecia de Joel, “a chorar e lamentar diante deste altar, diante do túmulo de São Pedro, por nossas fraquezas como Igreja”, vendo a melhor maneira de fazer isso como “ter a coragem de empreender o caminho do arrependimento e da conversão, que abre o caminho para a reconciliação, a cura e a justiça”. Da mesma forma, seguindo o Evangelho do dia, o cardeal africano pediu para ver “até que ponto o Maligno age e influencia nosso modo de ser e agir”. Para combatê-lo, propôs “as armas da sinodalidade, que requerem unidade, caminhar juntos, discernir na oração, escutar uns aos outros e escutar o que o Espírito tem a dizer à Igreja“. Um longo caminho percorrido juntos Na sala do Sínodo, que foi presidida pela Presidenta Delegada, Ir. María Dolores Palencia, outra novidade desta Assembleia Sinodal, os trabalhos começaram com a intervenção do Cardeal Hollerich, Relator Geral do Sínodo, que reconheceu que desde o início da Assembleia “caminhamos juntos e percorremos um longo caminho“. Ele recordou a peregrinação às catacumbas, “que nos permitiu entrar em contato mais próximo com os cristãos da comunidade primitiva e especialmente com os mártires”, que estão com a Igreja, “podemos senti-los caminhando conosco”. O cardeal luxemburguês recordou o título e a pergunta deste Módulo B2: “A corresponsabilidade na missão: como compartilhar melhor os dons e as tarefas a serviço do Evangelho?”, refletindo sobre a importância da missão, centrando-se no “continente digital”, que ele vê como “um novo território de missão”, questionando como evangelizá-lo. Em seguida, fez uma análise de cada uma dos cinco pontos da Seção B2: a necessidade de aprofundar o significado e o conteúdo da missão; a ministerialidade na Igreja; o papel das mulheres na Igreja, cujo batismo “não é inferior ao dos homens”; o papel dos ministérios leigos; o ministério dos bispos. A partir daí, ele fez um apelo para que sejamos corajosos e “demos um passo atrás para escutar autenticamente os outros, para abrir espaço dentro de nós mesmos para a palavra deles e para nos perguntarmos o que o Espírito está nos sugerindo por meio deles”. Mulheres e missão Maria Grazia Angelini, O.S.B., começou sua reflexão com uma pergunta forte: “Como a Igreja de nosso tempo pode cumprir melhor sua missão por meio de um maior reconhecimento e promoção da dignidade batismal das mulheres?“. Ela insistiu que “não se trata de promoção e reconhecimento em um sentido mundano, de direitos e desejos, mas do bem-estar da Igreja”, algo inspirado no estilo, nas palavras, nos silêncios e nas escolhas de Jesus, destacando o poder simbólico e inspirador do encontro de Jesus com a mulher anônima na multidão, algo que também acontece em muitas outras passagens. Ela vê no tema da missão do Sínodo um “reconhecimento das diferentes expressões dos ministérios”. Analisando o papel das mulheres nas primeiras comunidades, ela disse que elas não são meras figurantes, “elas abrem novos espaços para o Evangelho“, com as comunidades paulinas, nas quais “elas são inseridas em uma liturgia feminina ‘não ritual’, rompendo-a com a palavra do Evangelho”. O apóstolo foi acolhido, enfatizou a monja beneditina, “pela koinonia incomum das mulheres em oração, ao ar livre”, destacando as “novas linguagens inauguradas pelas mulheres, que Paulo não desprezou, mas aproveitou como um kairos”, citando como exemplo Lídia e seu papel proeminente no nascimento da Igreja na Europa, fazendo de sua casa “um espaço feito de pontes e não de muros”. A partir daí, insistiu que “o movimento originado pelo Evangelho, e a alma de todo verdadeiro caminho sinodal, gera relações novas e generativas”, onde as mulheres alimentam constantemente o dinamismo espiritual da reforma. A partir daí, enfatizou que “as mulheres são um elemento dinâmico da missão”, e as diaconias a serem assumidas pelas mulheres, a partir do “estilo, arriscado e revelador”, criado por Jesus “em seu modo de se relacionar com as mulheres”. Corresponsabilidade sinodal na missão A partir de uma perspectiva teológica, Carlos Galli refletiu sobre a “Corresponsabilidade Sinodal na Missão Evangelizadora”, partindo da pergunta “Como podemos compartilhar dons e tarefas a serviço do Evangelho?“. O teólogo argentino, inspirado na Constituição Episcopalis Communio, afirmou que “a Igreja sinodal é missionária. A Igreja missionária é sinodal”, uma ideia presente nos documentos do Concílio Vaticano II. A partir daí, ele refletiu sobre a corresponsabilidade de todos os batizados na missão, inspirado nos textos bíblicos e no Magistério da Igreja, insistindo que “o batismo e a fé são o fundamento da vocação universal à santidade e à missão”, destacando como os ministérios leigos enriquecem as comunidades cristãs. Isso torna necessária “a troca de dons e tarefas a serviço do Evangelho“, vendo o tornar-se missionário como um fruto da graça e a comunhão de bens como um modo de vida. Para o teólogo, “o trabalhador apostólico é o evangelizador evangelizado”, exigindo o compartilhamento de dons espirituais. Isso porque “o amor de Deus é muito mais do que o pecado”, afirmando que “a lógica do muito mais gera esperança”. Por fim, ele disse esperar que “pela ação do Espírito, onde abundar a comunhão, abundará a sinodalidade e onde abundar a sinodalidade, abundará a missão”. Missão das mulheres, no mundo digital e do bispo Uma reflexão que foi completada com testemunhos. A Ir. Liliana Franco, presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América…
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Missão digital: “Entrar em diálogo com uma população que é difícil de ver nas igrejas”

Dois especialistas nesse campo deram seu testemunho sobre a missão digital aos participantes da Assembleia Eclesial, que está sendo realizada na Sala Paulo VI e que, em 13 de outubro, iniciou os trabalhos do Módulo B2, o terceiro do programa, refletindo sobre a corresponsabilidade na missão. A Igreja te escuta O leigo mexicano José Manuel de Urquidi González e a religiosa nicaraguense radicada na Espanha, Xiskya Lucia Valladares Paguaga, compartilharam suas experiências do chamado Sínodo Digital, por meio do projeto “A Igreja te escuta“, que definiram como uma iniciativa realizada por uma rede de missionários e evangelizadores digitais, com o acompanhamento do Dicastério para a Comunicação e da Secretaria Geral do Sínodo, uma experiência voltada exclusivamente para a periferia. Eles destacaram três frutos: a missão digital se tornou um elemento importante na consulta global do Sínodo a partir de outubro de 2021, com 150 mil participantes, 30% não crentes e afastados, com frutos na etapa continental; a criação da própria consciência da missão digital, apesar do pouco apoio institucional, que despertou “a consciência de que fazíamos parte de algo que poderia ser chamado de missão digital”, algo que vem envolvendo os bispos, citando como exemplo o encontro durante a JMJ em Lisboa com 577 missionários de 68 países; a crescente consciência da Igreja de que a missão digital não é apenas um instrumento para realizar a evangelização, mas é “um espaço, um território… um novo mundo para a Igreja de comunhão e missão“, para citar as palavras do Cardeal Tagle. O ambiente digital é uma cultura A irmã Xiskya insistiu que “o ambiente digital é uma cultura, um ‘lugar’ onde as pessoas – todos nós – passamos grande parte de nossas vidas”, que “tem sua própria linguagem e modos de agir” e onde “para que a semente do Evangelho cresça ali, ela precisa ser inculturada“. Uma cultura na qual “encontramos irmãos e irmãs que anseiam pelo anúncio”, onde ela disse que há “muitos que precisam de esperança, que precisam curar suas feridas, que precisam de uma mão, que precisam de Deus”. A religiosa insistiu que o mundo virtual na Igreja não é apenas para “comunicar o horário da missa ou convidá-los a visitar a catedral”, mas um espaço de encontro, escuta e acompanhamento, que exige sair de nós mesmos. Lembrando que “diz-se que estamos em um momento de transformação na Igreja, que o modelo herdado não funciona mais para falar com a era digital”, ele fez a proposta de que “a Igreja deve ser construída a partir das periferias”, considerando a cultura digital como uma “nova Galileia”. Uma nova Galileia Isso em um mundo digital “no qual precisamos saber onde estão as armadilhas e os truques”, de acordo com Urquidi. Um território para o qual “o mesmo Espírito que, por meio deste sínodo, nos convida a abraçar a missão nesta nova Galileia” está nos conduzindo. Isso requer “escuta humilde, acompanhamento e diálogo, bem como um bom conhecimento do tesouro de nossa fé, o que nos permite entrar em diálogo com uma população que é difícil de ver nas igrejas”, de acordo com o mexicano. A partir daí, ele enfatizou que “eles são aqueles que deixaram a Igreja feridos por tanta discriminação, ou ficaram entediados com nossa pregação, ou não entendiam nosso idioma, ou talvez nunca tenham colocado os pés em uma igreja. Mas eles ainda estão procurando. Pessoas que, no anonimato da virtualidade, podem “superar o constrangimento e a distância, ou simplesmente ser capazes de fazer perguntas”, ressaltando que “entrar em diálogo com elas requer tempo, paciência e muito amor”. E isso porque, em um evangelizador digital, “o que importa é sua capacidade de ouvir e dialogar”. Urquidi vê o ambiente digital como “um território ideal para uma igreja sinodal missionária na qual todos os batizados assumem a corresponsabilidade pela evangelização“. Isso em redes onde “tudo é provisório, fluido, incompleto”, onde “é oferecido o rosto misericordioso, que tenta entender a linguagem para transmitir uma Vida”. A partir daí, ele chamou a sonhar que um dia todas as dioceses terão suas equipes de “missionários digitais” enviadas por seus bispos; e que o ministério da escuta digital para encontrar o irmão que sofre será uma parte normal da vida da Igreja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Liliana Franco: “O caminho das mulheres na Igreja é cheio de cicatrizes”

Alguns não entendem a importância da missão das mulheres na Igreja, mas para isso é preciso aprender com Jesus, sua disposição de “ver e sentir as mulheres, elevá-las, dignificá-las, enviá-las”, como ressaltou Liliana Franco na abertura dos trabalhos do terceiro Módulo, que fala sobre ser corresponsáveis na Missão, algo que as mulheres sabem muito, apesar das muitas rejeições e desprezos recebidas, porque são elas que sustentam a fé em muitas comunidades ao redor do mundo. Aprendendo com as atitudes, os critérios e o estilo de Jesus Não podemos nos esquecer de que “a verdadeira reforma vem do encontro com Jesus, no eco de sua Palavra, no aprendizado de suas atitudes e critérios, na assimilação de seu estilo“. Isso é algo que se concretiza em mulheres comuns, como Dona Rosa, que, aos 70 anos de idade, sai todos os dias para visitar os doentes da vizinhança, certificando-se de que eles tenham comida e uma vida digna. Alguém que, por muitos anos, também lhes levava a comunhão, não o faz mais porque o novo pároco lhe disse que a comunhão será levada pelos ministros da Eucaristia, homens que foram equipados com um uniforme colorido.  Apesar de tudo, ela continua a andar pelas ruas de seu bairro, visitando os doentes, sendo um verdadeiro conforto para os mais frágeis. Martha, que terminou seu doutorado em teologia com notas melhores do que as de seus colegas homens, mas a Pontifícia Universidade na qual se formou decidiu que não poderia lhe dar um diploma canônico por ser mulher, e que o seu seria um diploma civil. Mas é uma conquista, pois até poucos anos atrás, as mulheres em seu país não podiam estudar teologia, apenas ciências religiosas. Essas são cenas recorrentes, pois muitas mulheres não têm lugar no conselho paroquial ou diocesano, apesar de seu trabalho pastoral diversificado e valioso. A razão é que “a missão das mulheres é muito maternal, básica e pastoral, e os objetivos dos Conselhos são, para elas, mais administrativos e estratégicos“. Situações de dor e redenção A partir daí, a presidenta da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina e do Caribe fez uma forte denúncia: “o caminho das mulheres na Igreja está cheio de cicatrizes, de situações que envolveram dor e redenção, um enredo pascal, no qual o que é evidente e definitivo foi o amor de Deus; amor que permanece além dos esforços de alguns para tornar invisível a presença e a contribuição das mulheres na construção da Igreja”. Isso levou a religiosa a afirmar que “a Igreja tem o rosto de mulher“, citando muitos exemplos disso. De fato, “a Igreja, que é mãe e mestra, é também irmã e discípula, é feminina, e isso não exclui os homens, porque em todos, homens e mulheres, habita a força do feminino, da sabedoria, da bondade, da ternura, da força, da criatividade, da parresia e da capacidade de dar vida e de enfrentar as situações com ousadia”. Uma Igreja feminina tem a força da fecundidade Daí seu apelo para que “todos nós, mulheres e homens, sejamos chamados a ser ventre, lar, carinho, abraço, palavra… Uma Igreja feminina tem a força da fecundidade.  Aquilo que lhe é dado pela Ruah”. A religiosa, que participou da equipe que preparou o relatório da Etapa Continental na América Latina e no Caribe, mostrou cinco perspectivas do rosto de “uma Igreja missionária, que bate ao ritmo do feminino” é uma Igreja com essas perspectivas: A Pessoa de Jesus e o Evangelho são os que chamam; pelo Batismo todos são portadores da mesma dignidade; a opção pelo cuidado de todas as formas de vida é a opção pelo Reino; uma nova forma de estabelecer relações torna possível uma identidade renovada: mais circular, fraterna e irmã; acredita-se no valor dos processos, prioriza-se a escuta e reconhece-se que a fecundidade é fruto da graça, da ação do Espírito. A religiosa deixou claro que “no coração do desejo e do imperativo de uma maior presença e participação das mulheres na Igreja, não há ambição de poder ou sentimento de inferioridade, nem uma busca egocêntrica de reconhecimento, há um clamor para viver em fidelidade ao plano de Deus, que quer que no povo, com o qual fez uma aliança, todos sejam reconhecidos como irmãos”, pedindo participação e corresponsabilidade igualitária no discernimento e na tomada de decisões, com base na dignidade comum que o batismo dá a todos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo visita as Catacumbas para respirar o ar dos primeiros cristãos

Uma peregrinação para respirar o ar dos primeiros cristãos, que viviam uma Igreja sinodal, pode ser considerada um dos objetivos da peregrinação que os participantes da Assembleia Sinodal fizeram ao final dos trabalhos do segundo módulo do Instrumentum Laboris. Pacto das Catacumbas Dom Pasquale Iacobone, presidente da Pontifícia Comissão para a Arqueologia Sagrada, que cuida das catacumbas, destacou a importância da visita para o caminho sinodal. Não em vão, à importância do lugar nos primeiros séculos deve ser acrescentada a profecia do lugar no Concílio Vaticano II, com o famoso Pacto das Catacumbas, um avanço da Igreja pobre e para os pobres de Francisco, e no Sínodo para a Amazônia, com o Pacto para o Cuidado da Casa Comum, outro elemento fundamental no Magistério do atual pontífice. As Catacumbas, como destacou o presidente da Pontifícia Comissão para a Arqueologia Sagrada, desempenharam um papel fundamental na Igreja primitiva, um lugar de peregrinação ao qual as pessoas vinham de toda a Itália e do norte da África para venerar Pedro e Paulo, um lugar localizado na estrada pela qual os dois apóstolos chegaram à capital do Império. De acordo com a tradição, foi nesse local que foi encontrada a primeira imagem da Concórdia de Pedro e Paulo, na qual os dois apóstolos se abraçam. Ajuda no caminho sinodal Uma imagem que assume um significado especial em uma Igreja sinodal, pois representa o caminho comum de duas tradições cristãs que se reconciliam e, superando suas diferenças, se abraçam e começam a caminhar juntas. Esses são testemunhos que hoje podem iluminar o caminho da Igreja universal, algo que não é fácil nestes tempos de polarização, tensões e divisões, e superar essa dinâmica é um dos desafios da Igreja Sinodal. Esse foi o local onde milhares de cristãos foram sepultados nos primeiros séculos, entre eles vários papas e centenas de mártires, sendo o local de sepultamento de vários santos. Entre outros, São Sebastião, Sisto II, Santa Cecília, Nereu e Aquiles. Essas vidas dedicadas são um verdadeiro testemunho para a Igreja, também para a Igreja de hoje e para uma Igreja sinodal. Tudo isso foi colocado nas mãos de Deus em uma celebração na Basílica de São Sebastião, presidida pelo Cardeal Hollerich, relator geral do Sínodo, na qual os participantes do Sínodo foram chamados a confiar no Senhor, pedindo para assumir a radicalidade de seguir o Senhor e que este momento de oração, como todos os que estão sendo vividos no Sínodo, possa ser uma força para anunciar o Evangelho hoje. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Assembleia Sinodal conclui segundo módulo conclamando à paz e ao diálogo intercultural e inter-religioso

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre o Sinodalidade concluiu seu segundo módulo no dia 12 de outubro, tendo a comunhão como tema principal. Entre os principais temas das últimas horas estiveram a paz e o compromisso dos católicos com a busca da paz e a promoção do diálogo. Junto com isso, foi destacado o tema do diálogo inter-religioso e intercultural e, mais especificamente, um maior diálogo com os povos indígenas, denunciando o impacto do colonialismo nas comunidades indígenas. Destacou-se a importância de escutar os jovens e suas propostas, e expressou-se preocupação com a participação cada vez menor dos jovens na formação da Igreja. Da mesma forma, foi destacada a necessidade de uma maior inclusão das mulheres e foi abordada a necessidade de promover a pastoral da escuta nas paróquias e comunidades. Coletiva de imprensa Participaram da coletiva de imprensa Margaret Karram, presidente do Movimento dos Focolares, Andrew Nkea Fuanya, arcebispo de Bamenda e presidente da Conferência Episcopal dos Camarões, e Ir. Caroline Jarjis, irmã do Sagrado Coração de Jesus, que trabalha em Bagdá, onde é médica. A presidente do Movimento dos Focolares, árabe católica nascida em Haifa, iniciou o seu discurso expressando a sua dor pela guerra na Terra Santa, dizendo que se perguntou várias vezes o que poderia fazer para promover a paz. Nesse sentido, destacou o momento de profunda oração de todos os participantes da Assembleia Sinodal pedindo pela paz, ressaltando o poder da oração, a importância de aumentar a fé, e dizendo que está vivendo uma experiência que está lhe ensinando o que significa caminhar juntos, algo que não é fácil, pois é complicado deixar-se questionar, escutar, dialogar, chamando a levar isso a todas as áreas, para construir pontes de paz. Um Sínodo de consolação para a África Um Sínodo que foi definido por Dom Andrew Nkea Fuanya como um consolo para a África diante dos muitos problemas do continente. Para o presidente do episcopado camaronês, é uma oportunidade para a voz da África ser ouvida, para lançar luz com sua voz. O prelado destacou a importância da unidade como a base do tecido da Igreja. O Sínodo também vê isso como uma oportunidade para que todos trabalhem juntos pela paz, pois a guerra nunca deve ser a solução, para embarcar em caminhos para a paz. A sinodalidade faz parte da cultura da África, insistiu ele, porque “empreendemos caminhos de forma conjunta e coral“, dizendo que acredita muito nas comunidades cristãs de base, onde todos podem se expressar, uma estrutura que ajuda a Igreja africana a ser sinodal, o que torna fácil acolher a sinodalidade na África, “faz parte da nossa cultura”, enfatizou o arcebispo. Ser cristão no Iraque A irmã Caroline Jarjis, que leu o Evangelho em árabe na oração de abertura da Assembleia Sinodal na quinta-feira, enfatizou que conhecer outras pessoas sem tê-las encontrado antes “nos ajuda a reconhecer o papel de Deus, que nos preparou para estar aqui“. Nas palavras da religiosa, “cada um tem um papel, um papel preparado por Deus, e nesta assembleia nos sentimos como irmãos e irmãs”. Ela também pediu que se unissem as vozes em favor da paz. “A experiência de uma assembleia sinodal vai além de um documento, é a experiência dos primeiros cristãos“, disse ela. A religiosa compartilhou a vida dos cristãos no Iraque, um país em guerra, um país de minorias cristãs, diante do qual disse ter uma esperança: “Espero que nossa Igreja seja uma Igreja rica, porque os mártires nos dão força para continuar a jornada”, vendo na Assembleia Sinodal “uma Igreja que me acompanha”. Sofrimento e esperança Ela também falou sobre a realidade do sofrimento e da esperança, e como a visita do Santo Padre ajudou, o que ela vê como uma porta aberta para todos. Sobre o momento atual, ela disse que é um período um tanto delicado, que exige viver com dignidade. Com relação à vida dos cristãos em Bagdá, destacou que “hoje está tranquilo, mas devemos sempre trabalhar pela dignidade, porque somos cidadãos desta terra, não somos apenas uma minoria”. Para alcançar a paz na Terra Santa, Margaret Karram pediu ajuda internacional nas negociações entre os dois lados, algo que deve ser tratado com urgência para o bem do povo e para a causa da paz. Ela também defendeu a necessidade de que os direitos humanos de todos os povos sejam respeitados e que haja reconciliação entre todos. Contou algumas das iniciativas de paz que estão sendo realizadas, inclusive as do próprio Movimento dos Focolares, fazendo um apelo à oração. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Resolver o difícil e o complexo em uma Igreja sinodal: respeito, sensibilidade, acolhimento

A Igreja é chamada a responder a questões difíceis e complexas, a situações que provocam reações diferentes. Como responder a essas realidades em uma Igreja sinodal, como saber escutar, como entrar em diálogo com aqueles que pensam de forma diferente, mesmo com aqueles que pensam de forma muito diferente? As guerras religiosas, os confrontos de todos os tipos fazem parte da história, mas na Igreja que o Papa Francisco deseja, na Igreja sinodal, de comunhão, participação e missão, as decisões devem tomar caminhos diferentes. Respeito, sensibilidade e acolhimento O método de conversação espiritual com o qual as comunidades para o discernimento comunitário, os círculos menores, as mesas redondas, buscam responder às questões colocadas no Instrumentum Laboris, para que funcione, deve ser inundado por atitudes de respeito, sensibilidade e acolhimento. Somente dessa forma, e na medida em que todos se sentirem feridos e necessitados de reconciliação, poderão ser tomadas medidas para curar internamente e encontrar caminhos de cura para a humanidade. A diversidade é algo que enriquece, sempre enriquece, nos ajuda a ter perspectivas diferentes, o que nos leva a evitar visões únicas e monocromáticas nas quais alguns insistem, e continuam a fazê-lo, apesar do esforço que o Papa Francisco e a grande maioria dos batizados e batizadas estão fazendo para tornar a Igreja mais sinodal, superando divisões e unindo forças para avançar e ser uma Igreja mais crível, especialmente para aqueles que vivem afastados. Iluminados pelo Espírito para responder ao conflito É nos momentos de tensão, nas questões difíceis, que o nosso ser pessoas, mas também o nosso ser Igreja, está em jogo. Romper a unidade na diversidade nos afasta de Deus e permite que as ideologias se imponham em realidades que deveriam ser inundadas pelo Evangelho, com sentimentos de fraternidade e amor. Os irmãos, diante de posições diferentes, se deixam conduzir por aquilo que une e ajuda a criar caminhos comuns, e para uma Igreja sinodal esse deve ser sempre o modelo a seguir. Não se trata de fugir dos conflitos ou de deixar questões complexas sem resposta; trata-se de se deixar iluminar pelo Espírito de Deus e de crescer juntos naquilo que ajuda a vislumbrar caminhos comuns, uma Igreja sinodal. Na medida em que os principais temas presentes na Assembleia Sinodal – comunhão, participação e missão – forem assumidos, a resolução das questões difíceis e complexas se tornará mais fácil. Não é um caminho simples, mas é o caminho do Evangelho, o caminho de Deus, que, a partir da unidade na diversidade, a partir de seu ser trinitário, nos ajuda a entender que é isso que vale a pena. O fato de outros insistirem em caminhos contrários não é desculpa para continuarmos acreditando na necessidade de escutar, dialogar, respeitar, ter sensibilidade e acolher a todos, inclusive aqueles que veem a realidade de forma diferente. Afinal, quem disse que ser uma Igreja sinodal é fácil? Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Lacroix: “Este caminho sinodal nos ajuda a descobrir a presença do Senhor em cada batizado”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade continua seu trabalho, agora com as chamadas congregações gerais, mas também com outros episódios que mostram o desejo do Papa Francisco de escutar a realidade. Como Paolo Ruffini destacou em coletiva de imprensa, Francisco e outros membros do Sínodo almoçaram nesta terça-feira em Santa Marta com um grupo de pobres, constituindo assim um novo círculo menor, uma nova mesa redonda. Em suas palavras, os pobres disseram que a única coisa que esperam da Igreja é amor. Uma Igreja com os pobres Nas congregações gerais 140 pessoas já falaram, o que representa mais de um terço dos membros da assembleia. Nelas, fios comuns estão sendo tecidos a partir de diferentes temas, sempre com uma visão do que é atual no mundo, com constantes apelos à paz diante de guerras e conflitos. Um chamado para ser uma Igreja humilde, em favor dos pobres, que têm muitos rostos. A questão dos abusos de todos os tipos também foi abordada, com um apelo para que se apoiasse as vítimas, incluindo o abuso a religiosas e a necessidade de protegê-las. Na realidade, a Assembleia Sinodal é um momento de debate e reflexão sobre muitas questões. Os convidados ao briefing de 11 de outubro foram o Card. Gérald Cyprien Lacroix, Arcebispo de Quebec (Canadá) e membro do Conselho de Cardeais, Grace Wrakia, de Papua Nova Guiné, e Luca Casarini, ativista italiano da “Mediterranea Saving Humans”, que é um convidado especial sem direito a voto. Uma atitude genuína de escuta No dia do 61º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, o cardeal canadense definiu a figura do Papa João XXIII, que convocou o Vaticano II, como profética, vendo este Sínodo como uma continuação do último concílio, que enfatizou a importância da Igreja como o povo de Deus. Esse caminho sinodal, de acordo com o arcebispo de Quebec, “nos ajuda a descobrir a presença do Senhor em cada pessoa batizada“, e ele disse que está vivendo a assembleia sinodal a partir de uma atitude de escuta autêntica, como uma experiência que lhe permite, a partir dessa escuta, “refinar, mudar meu pensamento”, como algo que nos torna “crentes mais críveis”. Em suas palavras, enfatizou que não somos completos, todos precisamos dos outros e os outros precisam de nós, e este Sínodo nos permite reconhecer a riqueza dos outros, como uma “orquestra sinfônica em que cada um tem seu próprio instrumento“, citando as palavras do Papa Francisco. Isso o levou a destacar “a beleza de ver tantas pessoas reunidas, de todos os cantos do mundo, um caldeirão de culturas, de tradições”. Isso significa que os círculos menores “ajudam a compartilhar, a partir da realidade da vida”, experiências pessoais que questionam “nosso modo de ser Igreja, de estar juntos”. A partir daí, observando que somos incompletos, ele pediu uma mudança de atitude para viver e irradiar a luz do Evangelho. Também para abrir espaço para os outros, para escutar uns aos outros à luz do Evangelho, de modo que “estaremos mais bem preparados quando voltarmos para casa para enfrentar os desafios que temos pela frente“. Um Sínodo que ajuda a entrar na realidade das guerras, da mudança climática, que deve levar a “oferecer ajuda como povo de Deus”, a caminhar juntos para discernir e ver como enfrentar os desafios e levar justiça e esperança ao mundo. Sinodalidade na vida cotidiana Vinda de Papua Nova Guiné, Grace Wrakia apresentou as múltiplas realidades de seu país e da Igreja local e o que marcou a espiritualidade e os ritos religiosos presentes em sua cultura antes da chegada do cristianismo, há 150 anos. Em seu testemunho, ela destacou que eles vivem em comunhão, a partir dos três pilares da sinodalidade, vendo-se como uma família com relações que vão além do sangue, uma vida de forma comunitária, com uma espiritualidade em que as relações com todos, com os diferentes, são muito importantes, e isso os torna parte de uma única família, a família do povo de Deus. Uma sinodalidade que é vivida na vida cotidiana, nas decisões nas aldeias, onde todos são escutados, inclusive as mulheres, considerando um verdadeiro prazer o fato de a Igreja e o Papa estarem abertos a pequenas regiões como Papua Nova Guiné, mostrando assim a importância de escutar, porque todos nós temos algo importante para contribuir, “podemos explicar como viver em comunhão, como tecer fios na estrutura da vida da família e da Igreja”. Ajuda mútua que deixa espaço para o amor Por sua vez, Luca Casarini começou denunciando o fato de que a morte no Mediterrâneo se tornou normal. A partir daí, ele disse que se sentia “privilegiado, porque em um mundo onde há uma competição para ver quem pode matar mais pessoas, um mundo onde o ódio predomina, salvar uma vida, abraçar um irmão, uma irmã no mar, é um presente infinito que muda a vida, que muda a minha vida”. No Mediterrâneo, ele disse que há duas formas de pobreza, uma pobreza material, que faz com que as pessoas pobres deixem a única riqueza que têm, sua terra e sua família, e uma pobreza espiritual, em que não somos capazes de chorar por uma criança que morre. Uma ajuda mútua que deixa espaço para o amor, dizendo que dessa forma encontramos Jesus e Deus, e que precisamos praticar o amor. Um Sínodo em que o protagonismo não está na doutrina, mas em aprender a caminhar juntos, nas palavras do Cardeal Lacroix, insistindo que se trata de enraizar esse modo de viver a Igreja e, assim, enfrentar as grandes questões com mais meios, buscando fazer das ideias de cada um o objeto de um discernimento comum. Nessa perspectiva, ele insistiu na necessidade de ter a humildade de pensar que não somos os únicos detentores da verdade, de buscar caminhos de convergência para não ficarmos estagnados, de ter uma atitude positiva que leve a ver a diversidade como algo importante e a ser acolhido. A missão da Igreja Quando perguntada sobre a prática missionária da Igreja, Grace Wrakia enfatizou que…
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Sem o “nós”, nunca haverá sinodalidade, nunca caminharemos juntos

Sinodalidade significa caminhar juntos e isso significa passar do “eu” para o “nós”, do individualismo para a comunhão, de pensar única e exclusivamente em mim, de mim e para mim, para pensar em nós, de nós e para todos nós. Uma tarefa complicada, mas na qual, com este Sínodo sobre a Sinodalidade, estão sendo dados passos importantes, pode-se até dizer irreversíveis, sem volta atrás. Sínodo, o modo de ser da Igreja O Papa Francisco insiste constantemente no fato de que o Sínodo é o modo de ser da Igreja, um caminho conjunto que pressupõe uma mudança de mentalidade, uma conversão pessoal, mas também uma conversão das estruturas, uma passagem de uma organização piramidal para o ser e o estar de modo circular, em mesas redondas, onde o progresso é colocado no centro, onde todos veem da mesma distância o que é fruto da comunhão, do nós. O “nós” também deve nos levar a refletir sobre as tentativas de idolatrar pessoas específicas, pessoas que querem, se aproveitando D´Ele, ofuscar o próprio Deus, tomar o lugar do Senhor. Um “nós” que se constrói mais facilmente na medida em que nos aproximamos de Deus e nos sintonizamos com ele para descobrir sua voz no outro. O discernimento comunitário, a conversa espiritual, que não são formas novas, mas incomuns para muitas pessoas na Igreja, ajudam a avançar no “nós”, no consenso. O Espírito como protagonista do Sínodo É a voz do Espírito, que é o protagonista do Sínodo, que se manifesta para a comunidade, para a Igreja. Ele fez isso no Pentecostes para aquele pequeno grupo de discípulos temerosos, tem feito isso ao longo da história e há sinais de que está presente na Sala Paulo VI, em meio àqueles homens e mulheres batizados que, em sua diversidade, estão construindo um nós eclesial, um reflexo do Nós Trinitário que revela a identidade de Deus. Essa necessidade de ser comunidade, esse “nós”, é o que faz com que os círculos menores e a Assembleia Sinodal como um todo consigam avançar em meio às tensões. A partir da partilha de uma experiência pessoal, uma peça comum é moldada com o cinzel da oração e o Instrumentum Laboris, fruto do fato de encontrar na palavra do outro, da outra, uma novidade que me confronta, que me desafia, que nos tira de nós mesmos e nos abre para a comunhão, para o nós. A diversidade é enriquecedora quando vista do ponto de vista do “nós”. As diferentes posições, que existem e é bom que existam, vistas a partir do “nós”, adquirem um sentido que enriquece e o faz porque é fruto de uma criatividade comum. É hora de sermos corajosos, e ganhamos coragem quando nos sentimos apoiados por um “nós” que sentimos ao nosso lado, uma coragem que leva a Igreja a parar de remendar as coisas e a entrar na dinâmica do Espírito, que, como Francisco disse muitas vezes, resolve as situações, inclusive os conflitos, transbordando, algo que não é fácil de fazer e que exige mais força quando se trata de dar certos passos. Essa é a maneira de superar os medos e as limitações que diminuem a Igreja, que a tornam mundana, que lhe permitem ser guiada por aquele Espírito que transborda e abre novos caminhos. É sobre questões complexas que a Assembleia Sinodal é desafiada a apostar, apostar como um nós irreversível na mudança, um desejo muito presente em Francisco. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Liliana Franco: No Sínodo, “não sinto que haja agendas ocultas”

  A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que elegeu os membros das comissões de Síntese e de Informação, onde aos membros natos se juntou um representante de cada uma das sete regiões em que a Igreja universal foi dividida, continua seu curso, nas duas últimas sessões com o trabalho nos chamados círculos menores. Um processo muito importante Um Sínodo em que “não há agendas ocultas“, nas palavras de Liliana Franco, Presidenta da Conferência Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas, que, junto com o Cardeal Joseph William Tobin, Arcebispo de Newark (Estados Unidos), realizou uma coletiva de imprensa com jornalistas credenciados, Ele disse que estava gostando muito da experiência de participar da assembleia sinodal, insistindo que “como católicos estamos vivendo algo que é muito importante”, algo que é feito na Igreja Católica toda vez que professamos nossa fé em uma Igreja que é católica e apostólica. O cardeal americano lembrou que cresceu em uma família com muitos membros, sendo o mais velho de 13 irmãos, e que em sua infância era difícil para ele entender que os outros tinham idiomas diferentes, que comiam alimentos diferentes. Com o passar do tempo, ele disse que descobriu, ajudado pelo fato de ter crescido em um caldeirão de culturas diferentes, que “há maneiras diferentes de fazer as mesmas coisas“, insistindo que, nesses primeiros dias, “estamos falando em um nível muito alto de complementaridade, muitas pessoas encontram pontos em comum nas preocupações e enfatizamos a escuta”. O Espírito Santo no coração do Sínodo O objetivo de Liliana Franco é levar a voz do continente latino-americano e da Vida Religiosa que peregrina nesse continente. A religiosa colombiana insistiu em que “o protagonista do Sínodo está sendo o Espírito, no centro está a pessoa de Jesus e o desejo de explicitar os valores do Evangelho“, destacando o profundo desejo de viver à maneira de Jesus, “aquela maneira que eleva, que humaniza, que dignifica, que inclui, que torna possível que a Vida Religiosa viva à maneira de Jesus”, que inclui, que possibilita que o outro esteja na totalidade de sua dignidade”, tornando muito significativa a experiência de “um método de conversação no espírito, em mesas redondas, em que nos reconhecemos na dignidade comum que todos temos, em uma atmosfera de respeito, de comunhão, de apreciação mútua”. Uma experiência de encontro com diferentes linguagens, sensibilidades, diferentes formas de entender as coisas, que a religiosa define como “a experiência de construção coletiva, de sentir que todos temos algo a contribuir” e, acima de tudo, que “todos viemos habitados pelos territórios de onde chegamos”. No trabalho desses dias, ela destacou “o chamado para ouvir o grito dos pobres”, que está presente na migração, no tráfico de pessoas, naqueles que estão sendo mais excluídos, dizendo ter sentido o chamado para “ser uma presença profética, uma presença que se compromete” e, junto com isso, “unir forças, criar redes, fortalecer as redes que temos”. Liliana Franco destacou o sentimento de gratidão a uma Igreja comprometida com as questões sociais e ambientais, porque “não é possível seguir Jesus sem um compromisso também com o desenvolvimento humano integral“, algo que muitos missionários assumem e que possibilita que muitas pessoas vivam com mais dignidade. Na Assembleia Sinodal, o grito da Terra, das culturas e dos mais pobres também foi ouvido em “um construir de irmãos e irmãs, na mesa redonda que se assemelha à mesa de uma sala de jantar, onde há espaço para todos”. Ninguém é ignorado e nada é ignorado “Há uma forte vontade de colocar uma forte ênfase no que podemos fazer como Igreja, uma reflexão comum“, destacou o cardeal Tobin, que disse sentir que é muito forte que neste processo sinodal “ninguém é ignorado e nada é ignorado em nosso trabalho sinodal”, algo que ele acha que influencia o processo sinodal, destacando a escuta profunda realizada na América do Norte durante o processo sinodal, com reuniões on-line nas quais “o eco da Igreja local e das diferentes igrejas locais surgiu”. Nesse sentido, ele afirmou que o Instrumentum Laboris está seguindo o fio dessa tradição, “a beleza desse processo é que ele começa a partir da base e não do topo”. Um Sínodo que ecoa o que está acontecendo no mundo, as diferentes guerras, no mesmo grupo de discernimento há uma mulher russa e uma mulher ucraniana, mas também fala sobre o que está acontecendo na Igreja, destacando o Arcebispo de Newark que uma grande preocupação é que “muitas pessoas não se sentem em casa no âmbito da Igreja Católica“. A esse respeito, ele contou a anedota de que alguém que foi seu bispo auxiliar uma vez lhe disse que mais bonito do que a catedral como um edifício é o fato de suas portas estarem abertas, dizendo que esperava que “este Sínodo nos ajudasse a abrir as portas de uma forma mais significativa”. Opção pela fraternidade e sinodalidade Nesse sentido, a presidenta da CLAR destacou que “o Sínodo contextualiza a situação, com os pés no chão, abraçando os diferentes territórios“, o que faz ressoar com força a realidade de nosso mundo, no qual “a opção da Igreja é a opção pela fraternidade, é a opção pela sinodalidade, a disposição de entender que somos todos irmãos”, que abre espaço para todos, para os mais pobres de nosso mundo, os migrantes, as vítimas do tráfico de pessoas, os exilados, os deslocados, para aqueles para os quais não há lugar nesta sociedade. Isso nos chama a continuar unindo forças para tornar possível o acolhimento, a hospitalidade, a alimentação, a educação e uma vida digna, sendo, como Igreja, defensores dos direitos humanos, “uma voz profética que gera o questionamento necessário que nos torna mais conscientes da necessidade de trabalhar por um mundo melhor”. O cardeal Tobin recordou as palavras do Papa para ser “um Sínodo livre, um Sínodo que é livre para falar e enfatizar todas as grandes questões“, aceitando e acolhendo as tensões presentes na sala sinodal. Isso é em busca de uma única voz dentro da assembleia sinodal, apesar das diferenças, lembrando…
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