“No Ano santo da redenção o Evangelho nos apresenta na liturgia de hoje a salvação que vem da cruz! A Igreja celebra hoje Exaltação da Santa Cruz”, disse o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), cardeal Leonardo Steiner.
Elevado para ter vida eterna
Ele mostrou que “Jesus no Evangelho dirige nossos olhos para o Filho do Homem elevado na cruz: ‘Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna’”.
Na primeira leitura, destacou o cardeal, “vimos com o povo murmurava contra Deus e contra Moisés. Então ‘O Senhor enviou serpentes ardentes entre o povo. Elas morderam as pessoas e um grande número de israelitas morreu’ (Nm 21, 4-9). As serpentes da murmuração eram muitas e mortais. Foi necessário levantar a serpente da murmuração sobre uma cruz, torná-la visível, para que o povo visse o pecado da murmuração. Ao ver o pecado da murmuração na serpente erguida os Israelitas percebessem o seu pecado e fossem salvos. Por isso, Deus ordenou a Moisés: ‘Faz para ti uma serpente ardente e coloca-a sobre um poste. Todo aquele que for mordido, olhando para ela, será salvo’”.

O arcebispo de Manaus disse que “Deus não faz morrer as serpentes, poupa-as. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, conservava a vida. A serpente foi elevada para obter a salvação. Jesus foi elevado na Cruz, para que pudéssemos perceber a nossa fraqueza e pecado em contemplando o amor gratuito que dela pende e sejamos salvas. Nele pendente vemos os pecados da murmuração venosa que pode nos matar. Reconhecendo nossas murmurações e desacertos somos salvos. Como lemos em outro passo do Evangelho: ‘Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis quem sou’ (João 8,28). Ele o libertador, o salvador, o que redime!”
Jesus tomou a morte e pregou-a na cruz
No ensinar de Santo Agostinho, recordou o presidente do Regional Norte 1, “poderíamos dizer que Jesus tomou a morte e pregou-a na cruz. Com a morte levantada e pregada na cruz fomos salvos e libertos; libertos da morte. Jesus no Evangelho recorda o que aconteceu no passado de forma simbólica: “Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja erguido ao alto a fim de que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (Jo 3,14-15). Mistério profundo!, nos diz Santo Agostinho”.
Ele perguntava, disse citando Santo Agostinho no Sermão sobre o evangelho de João, 12: “O que representam as serpentes que mordem? Representam os pecados que provêm da mortalidade da carne. E o que é a serpente que foi elevada? É a morte do Senhor na cruz. Com efeito, como a morte veio pela serpente (Gn 3), foi simbolizada pela efígie de uma serpente. A mordedura da serpente produz a morte; a morte do Senhor dá a vida. O que significa isto? Que, para que a morte deixe de ter poder, temos de olhar para a morte. Mas para a morte de quem? Para a morte da Vida – se é que se pode falar da morte da Vida; e, como se pode, a expressão é maravilhosa. Hesitarei em referir o que o Senhor se dignou fazer por mim? Pois Cristo não é a Vida? E, contudo, Cristo foi crucificado. Cristo não é a Vida? E, contudo, Cristo morreu. Na morte de Cristo, a morte encontrou a morte. […] a plenitude da vida engoliu a morte, a morte foi aniquilada no corpo de Cristo. É isto que diremos à ressurreição quando cantarmos triunfantes: ‘Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?’ (1Cor 15,55)”.
A morte não tem poder
Segundo o arcebispo, “no Ano Santo da Redenção vislumbramos que a morte foi tragada pela vida; que a morte não tem poder, pois na cruz a vida venceu! Somos hoje convidados a olhar para a cruz como salvação, pois nela pende a vida, Cristo Jesus”.
Ele enfatizou que “foi na cruz que se manifestou em plenitude o amor, como nos foi proclamado: ‘Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.’”
O cardeal questionou: “E como nos salvou?” Ele disse que “São Paulo, nos ensinava na carta aos Filipenses que Jesus se esvaziou a si mesmo, assumindo a condição humana de escravo e tornando-se igual aos homens… humilhou-se a si mesmo, fazendo obediente até a morte, e morte de cruz. Humilhou-se, aniquilou-se, fez-se morte, quase ousaríamos dizer ‘pecado’, para que fossemos salvos. Sim, irmãos e irmãs, amor maior não poderíamos merecer. Talvez por isso, São Paulo usou uma expressão fortíssima: ‘Fez-se pecado’. Poderíamos usar o símbolo bíblico do Evangelho: ‘Fez-se serpente’. Como afirmava Papa Francisco: O Filho do homem, como uma serpente, ‘que se fez pecado’, foi elevado para nos salvar”.

A serpente alerta para a salvação no deserto
“A serpente alerta para a salvação no deserto, no desconforto, na precisão, no conflito que gerou a murmuração, o afastamento da aliança, foi elevada e quem a olhava, ficava curada. Curado, pois viu na serpente a miséria da murmuração, do afastamento de Deus. Para nós esta salvação, não foi realizada com a varinha mágica por um deus que faz coisas; mas com o sofrimento do Filho do homem, com o sofrimento de Jesus Cristo. Um sofrimento tão grande que levou Jesus a pedir ao Pai: ‘Pai, se for possível afasta de mim este cálice’. Na angústia acompanhada pela entrega máxima: ‘Nas tuas mãos entrego o meu espírito’”, refletiu o arcebispo de Manaus.
Ele recordou as palavras de Papa Francisco comentando esta passagem: “assim como Moisés ergueu a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja elevado”, ensina que também Jesus foi elevado sobre a Cruz, para que quem quer que esteja em perigo de morte por causa do pecado, dirigindo-se com fé a Ele, que morreu por nós, seja salvo. ‘Com efeito, Deus – escreve são João – não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele’ (Jo 3,17)”.
Segundo o cardeal Steiner, “se é infinito o amor misericordioso de Deus, que chegou a ponto de dar o seu único Filho em resgate pela nossa vida, grande é a nossa responsabilidade: com efeito, cada um deve reconhecer que está enfermo, para poder ser curado; cada um deve confessar o próprio pecado, para que o perdão de Deus, já conferido na Cruz, possa ter efeito no seu coração e na sua vida.: ‘Deus condena os teus pecados; e se também tu os condenares, unir-te-ás a Deus… Quando começa a desagradar-te aquilo que fizeste, então têm início as tuas boas obras, porque condenas as tuas obras más. As obras boas têm início com o reconhecimento das obras más’”, disse citando de novo Santo Agostinho, Evangelho de João,13: PL 35, 1191. Isso porque “às vezes o homem gosta mais das trevas do que da luz, porque está apegado aos seus pecados. Mas só abrindo-se à luz, só confessando sinceramente as suas culpas a Deus, encontrará a paz verdadeira, a alegria autêntica”, citando Papa Francisco.
Mês da Bíblia
Ele recordou que estamos em setembro, mês da Palavra de Deus. O cardeal disse que a “Palavra possui, em si mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que, uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme (cf. Mc4,26-29). A Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas”, citando Evangelii Gaudium 22.
Diante disso, ele fez um convite: “vamos ler e meditar mais frequentemente a Palavra de Deus e, assim, sermos tocados, alimentados e guiados por Ela. É a palavra que nos ajuda a descobrir a grandeza e perceber a redenção, a salvação que vem da Cruz. Mas também é a leitura e meditação que nos desperta para a beleza e a grandeza que a Palavra Deus transmite. E no acordar da beleza e grandeza, perceber a relevância de anunciar do Evangelho. Não poderemos tornar os ensinamentos do Evangelho uma realidade compreensível e apreciada por todos se não lermos e meditarmos a Palavra. É a palavra de Deus que faz testemunhar vivas e verdadeiras do Reino de Deus. O sinal de que a Cruz é salvação”.

Guardar a Palavra
O cardeal Steiner prosseguiu: “No mês da Bíblia, abramos, leiamos e meditemos a Palavra de Deus com mais intensidade”. Nas palavras de Santo Agostinho, ele disse: “Guardemos a Palavra: não percamos a palavra concebida em nosso íntimo”.
Finamente, no dia da Exaltação da Santa Cruz, fez um chamado a rezar com São Francisco de Assis: “Nós vos adoramos Santíssimo Senhor Jesus Cristo e vos bendizemos, porque pela vossa santa Cruz redimistes o mundo.” Amém!



