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Cardeal Steiner: “ser discípulo de Jesus é aprender, é uma busca”

Cardeal Steiner: “ser discípulo de Jesus é aprender, é uma busca”

No 23º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), iniciou sua homilia citando o texto do evangelho do dia: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo.” Em suas palavras, ele insistiu em “ser discípulo, discípula de Jesus. caminhar com Jesus, seguir Jesus, com a cruz. Ser discípulos missionários, discípulas missionárias seguindo Jesus, também no carregar a cruz!”

Aquele que aprende com Jesus

Discípulo aquele, aquela que aprende com Jesus, vai vendo os seus gestos, ouvindo as palavras, percebe como ele reza. Em vendo e ouvindo, vai se tornando sempre mais discípulo, vai se assemelhando a ele, no seu modo de ser e agir”, explicitou o arcebispo.

Segundo ele, ser discípulo de Jesus é aprender, é uma busca.  Busca aprender, saber, ver o que é, como é, como fazer; experimentar, caminhar. No caminhar, compreender em coerência com o empenho que assumimos em obediência àquele que seguimos: Jesus Cristo. A nossa busca não é outra coisa que o encontro com Jesus Cristo, corpo a corpo participação no seu modo de ser, identificação do nosso modo de ser com a sua vida, com a sua pessoa e com o seu Evangelho”.

O cardeal Steiner disse, inspirado em John Vaughn, que “essa realidade do encontro introduz no aprender do discípulo uma seriedade existencial de empenho que poderemos denominar ‘mortal’, isto é: decisão de vida e morte, pois ‘aprender’ de Jesus é um concreto segui-lo para onde quer que ele vá; se for o caso, até a morte. Assim, aprender é bem mais que aprender lições: é seguir, sem hesitar, sem reservas e sem pôr condições”.

Viver ao modo de Jesus

“Não seria essa atitude, esse modo de viver a Jesus, de segui-lo que vem dito no Evangelho de hoje”, afirmou o cardeal, que citou o evangelho: “Quem não carrega sua cruz e não caminho atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. Segundo ele, “esse modo de viver que vai fazendo de todos os momentos, dores, alegria, mortes, a possibilidade de ser como Jesus é: até a cruz. Isto é, as tensões, os dissabores, as incompreensões que nos levam à encruzilhada da vida, como possibilidade de viver ao modo de Jesus. Todas encruzilhadas que nos levam a decisão, de ter que tomar uma direção, de permanecer na tensão até perceber a abertura que existe, o novo caminho a ser trilhado”.

“Sim, a cruz é sempre uma tensão, mas uma tensão criativa. Assumi-la, colocá-la sobre os ombros, ou como nos propunha o evangelho: carregar a cruz. No seguimento de Jesus estamos sempre na disponibilidade de tomarmos as tensões existenciais, de convivência, mesmo as dúvidas da fé, como possibilidade que transforma. A cruz como transformação, como foi para Jesus”, sublinhou o arcebispo de Manaus. Ele citou as palavras de Santo Hilário: “Devemos, pois, seguir ao Senhor, tomando a cruz de sua paixão se não na realidade, ao menos com a vontade”.

Tome sua cruz

Igualmente, mencionou Santo Agostinho, que se pergunta e responde:“O que significa: tome sua cruz? Que saiba suportar o que é doloroso e, desta maneira, siga-me. Porque quando um homem começar a me seguir comportando-se segundo meus preceitos, encontrará muitos que lhe contradirão, muitos que se oporão a ele, e muitas coisas para desanimá-lo. E tudo isso de parte dos que pretendem ser companheiros de Cristo. Também caminhavam com Cristo os que impediam os cegos de gritarem (Mt 20,31). Se você quer seguir a Cristo, tudo se converte em cruz, sejam as ameaças, as adulações ou proibições. Resista, suporta, não se deixe abater.”

“No sofrer com Ele, sofrer por Ele e Dele aprendemos as virtudes que ele nos propõe nos seus gestos e palavras:  fraternidade, a filiação divina, a irmandade, o Reino de Deus.  Porque seguir a Cristo consiste em ser ciumento pela virtude e sofrer tudo por Ele”, disse inspirado em São João Crisóstomo.

“Carregar a cruz como Jesus que fez a vontade do Pai até a morte e morte de cruz. Fazer a vontade do Pai é algo particularmente exigente e delicado, uma vez que é possível confundir com a vontade do Pai as nossas habilidades, escolhas e desejos. Por isso, a necessidade de toda a vida aprender esse modo ‘sui generis’ aquilo que precisamente denominarmos seguimento. Fazer a vontade do Pai é viver o radicalismo evangélico com aquela atitude de Francisco, quando escutou o Evangelho do ‘discurso Missionário’: ‘é isso que eu quero, isso que procuro, é isso que desejo fazer de todo coração’ (1Cl 22)”, disse o cardeal Steiner.

Liberdade e gratuidade

Em palavras do presidente do Regional Norte 1, “fazer não significa simples execução de qualquer coisa; também não significa simplesmente uma ordem, um desejo. Fazer a vontade do Pai contém todo o dinamismo da liberdade e da gratuidade de Deus, a saber: é designo de amor do Pai de Cristo Jesus. Fazer a vontade do Pai é deixar-se tomar desta força criadora que enche o universo, que cria novos céus e nova terra, que envia o sol e a chuva sobre justos e injustos. que limpa os vales das sombras de morte com o sopro vivificante da ressurreição, que desce até aos abismos e sobe até aos céus, que cuida dos pássaros do céu e das flores do campo, que derruba os poderosos dos tronos e eleva os humildes. Em uma palavra, fazer a vontade do Pai é ser perfeito como é perfeito o nosso Pai celeste (Mt 5,48)”.

A partir do texto evangélico: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me”, ele disse que “parece duro e penoso, diz santo Agostinho. Mas não é nem duro nem penoso, porque quem manda é o mesmo que nos ajuda a realizar o que nos manda. Porque se for verdade a palavra do salmo “conforme as palavras dos vossos lábios, segui os caminhos da lei” (Sal 16,4), também é uma palavra verdadeira a que disse Jesus: “meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mt 11,30). Porque tudo o que é duro no mandato, o amor faz com que se converta em suave. Sabemos bem de que prodígios o amor é capaz. Às vezes o amor é de mau gosto e dissoluto; mas, quantas dificuldades os homens suportam, quantos tratamentos indignos e insuportáveis sofrem para chegar ao que amam!”, citando o santo de Hipona.

Mês da Bíblia

O cardeal recordou que “estamos no mês da Bíblia; setembro mês da Palavra de Deus. Ela está, sempre mais, presente nas comunidades, nas famílias, na evangelização, na ação pastoral, nos encontros, nas reuniões. A leitura e meditação que nos afeiçoa sempre mais à Palavra que nos alimenta e nos faz ser mais discípulos e discípulas de Jesus. Ela ilumina para descobrir a grandeza de tomar a cruz sobre os ombros e caminhar”.

“E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós e nós contemplamos a sua glória, glória como do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”, recordou ao citar Jo 1,14. Segundo ele, “a palavra que nos veio ao encontro nos diz quanto somos desejados e amados por Deus. O Pai nos concede a Palavra e nos enviou a Palavra, o Filho-Palavra, Jesus”. Uma reflexão de Guilherme de Saint-Thierry, no Tratado sobre a contemplação de Deus: “Eis por que, tendo falado outrora a nossos pais muitas vezes e de muitos modos por intermédio dos profetas, nestes últimos tempos nos falastes pelo vosso Filho, pelo vosso Verbo; por ele é que os céus foram criados, e pelo sopro de seus lábios, todo o universo (Sl 32,6)”. Isso porque “Jesus, a Palavra do Pai nos falou de muitos modos com gestos, palavras, curas, olhares, silêncio, prece. Ele a palavra do Pai em nosso mundo, pela morte e ressurreição, transformou todo o universo”.

“A Carta aos Romanos nos acompanha neste mês da Bíblia, em consonância com o Ano Santo da Redenção: ‘A esperança não decepciona’ (Rm 5,5). A Carta aos Romanos explicita a justificação pela fé em Jesus Cristo como base da salvação para judeus e gentios. Ela apresenta a doutrina cristã de forma sistemática para a comunidade de Roma, explana a gratuidade da salvação, que não se baseia em obras, mas na graça e na fé em Cristo Jesus”, recordou.

Subsídio do Regional

O presidente do Regional Norte 1 ainda acrescentou que “o Subsídio da Carta aos Romanos apresentado pelos Bispos de nosso regional, ajude as comunidades e famílias a deixarem-se tomar pela esperança, pois Cristo nos redimiu. Assim, sabermos apresentar as razões da nossa fé e da nossa esperança!”

Papa Francisco nos diz que a “Palavra possui, em si mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que, uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme (cf. Mc4,26-29). A Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas” (EG, 22), recordou o cardeal Steiner.

Segundo ele, “na Palavra, Deus vem ao encontro e na escuta da Palavra saímos ao seu encontro. A leitura e meditação da Palavra de Deus é sempre um encontro. Encontro de escuta e porque escuta, indica caminho, alimenta esperança, confirmação da fé”. Assim, “guardemos a Palavra: não percamos a palavra concebida em nosso íntimo”, finalizou o arcebispo de Manaus, citando Santo Agostinho.

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