O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou nesta segunda-feira, 28 de julho, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2024, que retrata os diversos tipos de violência e seus responsáveis.
O relatório analisa as violências e violações praticadas contra os povos originários no Brasil, divididas em três seções: violência contra o patrimônio indígena, violência contra a pessoa e violência por omissão. O evento iniciou com rituais dos povos Guarani Kaiowá, Patoxó e Tubinambá.

A Igreja ao lado dos que mais precisam
O Arcebispo de Manaus e presidente do Cimi, Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou saudando e agradecendo a todos e a todas os presentes no “momento importante do Cimi, mas, especialmente, dos Povos Indígenas que é o lançamento do relatório 2024 e que há muitos anos vem apresentando”.
Saudou também os “irmãos e irmãs indígenas, representantes de tantos povos, os missionários e missionárias do Cimi” e agradeceu a Dom Ricardo Hoepers, pela oportunidade de fazer o lançamento na sede da CNBB e explicou que a ligação com a CNBB expõe que “nós somos uma expressão da Igreja do Brasil que deseja viver o Evangelho, estar do lado daqueles que mais precisam”.
Antes da apresentação dos dados do relatório, o presidente ressaltou que ele “é a oportunidade visibilizarmos o lento extermínio dos povos indígenas” não tanto em “número de pessoas, mas de culturas, de línguas, da presença dos primeiros habitantes, é uma continuação de 1500, uma continuação até os dias de hoje”.
O arcebispo fez um recorte onde analisa que ao “olhar a história do Brasil, nós não vamos encontrar nos nossos manuais, os ataques, as mortes que os povos indígenas sofreram durante a história desde mil e quinhentos. Nós não vamos ouvir dizer que os Goianos não existem mais. Nós não vamos ouvir dizer que os Manaós não existem mais”.

Processo contínuo de luta
E continuou afirmando que esse processo continua, mesmo com a luta povos indígenas “que lutaram e foram mortos, desapareceram” e a luta hoje permanece “seja nas praças de Brasília, seja nas aldeias. Seja onde for, sempre de novo recordando quem são e recordando os direitos constitucionais que têm.”
O Cardeal Steiner esclareceu que “esse relatório nos ajuda a conscientizar a sociedade brasileira, especialmente em relação ao Marco Temporal” e também que “nos ajude e que nós, como Cimi, possamos continuar a servir para que os nossos irmãos indígenas, os povos originários tenham seus direitos respeitados, direitos constitucionais respeitados e tenham casa, o seu espaço, o seu lugar. Se nós continuarmos como estamos, nós não daremos chance a tantos pequenos povos que existem, eles desaparecerão, o que nós chamamos de povos isolados”.
Aproveitou para expressar gratidão pelos relatórios e dados enviados “quantas pessoas nos ajudaram, quanto esforço para a elaboração desse relatório” porque, nas palavras do presidente, “é um registro da história, se torna um documento” e disse que assim como os anteriores, será enviado para o Papa “que tem uma sensibilidade tão grande para a questão indígena, ele fala corretamente a língua do povo Quechua com quem trabalhou, esteve junto” e que ele perceba “as nossas necessidades e vá nos ajudando com as suas orações mais também com o seu testemunho e a sua palavra”.
O Marco Temporal e crescimento dos conflitos
Um dos destaques do relatório de 2024 são os reflexos do primeiro ano sob vigência da lei 14.701/2023, conhecida como Lei do Marco Temporal, que fragilizou os direitos territoriais indígenas. As restrições impostas pela Lei 14.701 resultaram numa demora ainda maior na demarcação de terras indígenas e, consequentemente, num aumento de conflitos territoriais. Por este motivo, 2024 foi, também, um ano marcado pela violência contra comunidades indígenas em luta pela terra.
Outra abordagem contemplada é sobre as ameaças aos povos indígenas em isolamento voluntário no país e artigos com reflexões sobre temas ligados aos dados sistematizados na publicação, como racismo contra povos indígenas, a política indigenista brasileira sob a ótica orçamentária e a luta por justiça, os direitos indígenas no sistema de justiça criminal e a luta por justiça, memória e verdade acerca das violações de direitos dos povos indígenas.

A união de vozes pela causa indígena
Participaram do lançamento lideranças indígenas, representantes da CNBB, do Cimi e organizações parceiras da causa. Dos quais, o cacique Felipe Mura, do Amazonas, que denunciou com firmeza a atuação da empresa de potássio do Brasil na região de Autazes.
O cacique Alvair Pataxó, da Terra Indígena (TI) Barra Velha, na Bahia; Ifigênia Hirto, liderança Guarani Kaiowá da TI Panambi Lagoa Rica, em Mato Grosso do Sul, destacando a resistência das mulheres mesmo diante de constantes embates, ameaças e intimidações ocorridos na retomada; e Roberto Antonio Liebgott, um dos organizadores do relatório.
O relatório completo pode ser baixado no site do Cimi: https://cimi.org.br/2025/07/relatorioviolencia2024/