Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Cardeal Steiner: “Não cairmos na tentação de fecharmos os olhos para não vermos a fome dos irmãos”

Cardeal Steiner: “Não cairmos na tentação de fecharmos os olhos para não vermos a fome dos irmãos”

A
passagem do Evangelho do Primeiro Domingo da Quaresma leva Dom Leonardo Steiner
a se questionar: “Como é possível que o Filho de Deus seja tentado?”,
respondendo que “Ele se prepara para iniciar a sua missão como anunciador do
Reino dos céus”. Segundo o Arcebispo de Manaus, “a tentação a nos indicar a
experiência da fé em nossa condição humana, na finitude. É a experiência da
realidade humana, confrontada com a decisão de buscar a vida nova; é o
confronto que pode iluminar o caminho da fé pela verdade do Evangelho, pela
morte e ressurreição de Jesus”.

O
Cardeal Steiner define a tentação como “a experiência da fé em nossa limitação,
em nosso mundo”
, e junto com isso como “a experiência de, na limitação, nos
abrirmos para a graça da vida nova oferecida por Jesus e que o Evangelho sempre
nos aponta: a liberdade, o amor do Pai”. Ele insiste em que “temos muitas
tentações!”, relatando alguns exemplos, que mostram a tentação como “uma
realidade humana, um acontecer humano”. Do ponto de vista moral, a tentação é
vista como “a experiência que fazemos de nos confrontarmos com uma situação,
pessoa, objeto, e entramos numa decisão”.

Dom
Leonardo insiste em que “a tentação pode levar ao pecado, mas não é pecado”.
Citando Santo Agostinho, ele diz que “a tentação pode nos fortificar no caminho
do seguimento de Jesus”, uma experiência que nos é apresentado no Evangelho de
hoje. No texto a tentação aparece como “experiência da transparência de Jesus
na relação com o Pai. Jesus é tentado, é provado”. O Cardeal nos faz ver que “na
narrativa das três tentações Jesus é confrontado com a fome, com o poder e com
o não abandono de Deus. A tentação da fome de transformar a pedra em pão; a
tentação do domínio de assumir o poder dos reinos; a tentação de não ser
abandonado por Deus, sendo servido e acolhido pelos próprios dos anjos”.


Em
sua reflexão o Arcebispo de Manaus pergunta: “O que nos ensinam os 40 dias de
jejum de Jesus no deserto?
”. Ele afirma que “no tempo, na nossa realidade
concreta e imediata da vida somos sempre de novo confrontados com o que
deveríamos ser: transparência de Deus. Casto, continente, transparência de Deus
é Jesus nas tentações”. Segundo Dom Leonardo, “cada uma das tentações Jesus vai
aclarando o sentido de todas as coisas e de si mesmo. A cada tentação Jesus
deixa mais evidente a sua pertença ao Pai. Em cada tentação Jesus se torna mais
casto e continente, isto é, límpido e transparente na sua relação com o Pai”.

“Jesus
sai do deserto mais forte, sai das tentações mais lúcido. Ele sai mais
transparente da experiência do deserto, isto é, das tentações do deserto. O
Filho do Pai não tenta o Pai, não é tentado pelo Pai, mas por aquele que divide,
o diabo. É tentado e na tentação se reencontra como Filho no Pai”, insiste o
Cardeal. Ele questiona “na aridez, no confronto com a nossa temporalidade, no
deserto, nos 40 dias de nossa vida, não estamos sempre na tentação do
fechamento e do enclausuramento em nossa realidade e na tentação contínua de
querermos ultrapassar, transcender a nós mesmos as nossas dificuldades e
tensões? Não estamos na tentação de fugir do deserto, isto é, do confronto com
nossa realidade nua e crua, dura, ofegante, pesada e tentarmos, num passe de
mágica, querer transcender, ir para além, a partir de nós e não enfrentarmos na
raiz as limitações?”. Dom Leonardo responde que “nas tentações de Jesus nos é
apontada a medida grandiosa da tentação como prova, como confronto, como busca
do que somos não a partir de nossas forças, mas de Deus
”.

Segundo
o Arcebispo, “no início da Quaresma, a palavra de Deus nos indica o caminho da
tentação como a experiência da nitidez de sermos filhas e filhos do Pai Celeste”.
Elequestiona: “não seria a tentação, a provação, o medir-se com nossa realidade
desértica, e no jejum, na oração, na esmola, crescermos, assim, na nossa responsabilização
e transparência do que somos na nossa raiz, sem nos deixarmos dividir e sem
deixarmos decair o sentido inigualável de sermos busca do Reino definitivo. A
tentação não como peso que carregamos, mas como chance e possibilidade de abrir
toda a nossa pessoa à verdade do Pai?
”.


Dom
Leonardo Steiner lembra que no Pai nosso rezamos “não cair em tentação”, perguntando
se “a tentação não seria, assim, a experiência que fazemos, por termos recebido
a graça da crença em Jesus, o Filho de Deus, de aprofundar nossa relação com o
Pai e sermos conduzidos pelo Espírito? E como Jesus no deserto, tentado por 40
dias, se aproxima limpidamente do Pai, não seria a tentação no deserto de nosso
peregrinar, nos 40 dias de nosso tempo, a nossa possibilidade de entramos com
maior nitidez, quando guiados pelo Espírito, no mistério da dor, da cruz, da
morte de Jesus e nossa?”

O
Arcebispo de Manaus faz ver se “não seria o tempo da Quaresma o tempo em que
examinamos melhor o sentido da nossa vida e percebemos o quanto na tentação,
isto é, o quanto, na experiência concreta do Evangelho, guiados pelo Espírito,
podemos chegar à plenitude da vida cristã? Não seria a tentação, guiados pelo
Espírito, chance de termos olhos abertos e límpidos, como Jesus, e tentarmos em
cada tentação, vermos melhor as coisas do
alto
?”. Daí ele destaca que “a tentação pode elucidar e optar pela grandeza
sem igual da vida amorosa com o Pai”, insistindo em que “para o cristão a
tentação é a possibilidade, sempre renovada, de confronto, de maturação, para
deixar-se guiar pelo Espírito
. Tentação é fazer a experiência de quem apreendeu
a amar como Jesus ama e é amado pelo Pai. Por isso, rezamos em cada Pai nosso: não nos deixeis cair da tentação”.

“A
tentação pode nos levar a pecar. Como dizemos cair em pecado. O Evangelho de
hoje nos ensina que Jesus na tentação vai clareando a sua relação com Pai e
clareando a sua missão
. Sai do deserto purificado, fortificado”, segundo Dom
Leonardo. Ele lembrou que “i
niciamos na quarta-feira das cinzas nosso caminho
quaresmal. Ao recebermos as cinzas nos dispusemos a sondar com mais disposição
e alegria o nosso viver de cristãos”.

Refletindo
sobre esse caminho, o Cardeal o define como “precioso e rico para nos
encontrarmos com a razão de nossa fé, a razão de ser cristão, de sermos
católicos. Esse tempo como o tempo favorável de conversão, pessoal,
comunitário, social e ambiental. Uma conversão uma mudança de vida na sua
totalidade
. Ao ressoarem hoje aos nossos ouvimos o jejum de Jesus no deserto
nos damos conta da necessidade de nos abrirmos, para nos deixarmos sondar pelo Mistério
da nossa salvação, o Mistério do amor”.

Em relação à Campanha da
Fraternidade, Dom Leonardo faz ver que “fraternidade e fome é a realidade que a
Igreja no Brasil nos propõe para reflexão, confronto, discussão e oração no
tempo da quaresmal. A fome que não deixa acontecer a fraternidade, a fome que
demonstra que não somos fraternidade. Por isso o lema buscado em Mateus:
Dai-lhes vos mesmos de comer” (Mt14,16)”.

O Cardeal Steiner lembrou
as palavras do Papa Francisco em relação à fome, questionando: “como
permanecermos indiferentes e insensíveis, como seguidores e seguidoras de
Jesus, com 33 milhões de brasileiros que enfrentam a fome?”. Diante disso, ele
pediu: não cairmos na tentação de fecharmos os olhos
para não vermos a fome dos irmãos
”.

Dom Leonardo lembrou
também o esforço feito nas nossas comunidades, a ajuda oferecida por pessoas, que
ele vê como admirável. Segundo ele, é “admirável, pois a fome não nos deixa
indiferentes. Sentimos a responsabilidade de irmãos, de irmãs
”. Ele denuncia
que “no entanto, a questão é estrutural. O sistema econômico ignora, descarta
os pobres, não os insere na sociedade, não os dignifica”. Por isso, ele cobra a
necessidade de “políticas públicas que possibilitem trabalho e permitam a todos
participar com dignidade e modo justo na sociedade e na Igreja”.


Finalmente, o
Arcebispo pediu que “o Pai nos conceda a graça de, no deserto do tempo de nossa
vida, fazermos, em cada tentação, a experiência da grandeza de seu amor
e nos
apercebermos Filhas e filhos do Pai do céu, servindo aos famintos”. 


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Fale Conosco
(92) 3232-1890