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Cardeal Steiner: “Elevar o grito para que a vida seja cuidada, preservada”

A Vida em Primeiro Lugar é o pedido que o Grito dos Excluídos faz cada ano, palavras que gritou o cardeal Leonardo Steiner junto ao povo presente no início da celebração eucarística com que foi aberto o 29º Grito dos Excluídos na Arquidiocese de Manaus. O arcebispo de Manaus lembrou que essa é “a vida que vem de Deus, que recebemos de Deus, a vida de cada irmão, cada irmã, a vida que é a Criação, a vida que nos rodeia, a vida que somos cada um de nós, dom de Deus, por isso a vida em primeiro lugar”. A celebração contou com a presença do bispo auxiliar, dom Tadeu Canavarros, representantes do clero, da Vida Religiosa e das pastorais e movimentos, que em palavras do cardeal se reuniram para “elevar o grito para que a vida seja cuidada, preservada, e que tantos irmãos que vivem à margem, excluídos, possam ser integrados, viver em fraternidade”. O arcebispo de Manaus, lembrando as palavras do evangelho do dia, disse que Jesus sabia que a vida estava em primeiro lugar, afirmando que “é por isso que foi ao encontro, entrou na barca vazia, do trabalho vazio de uma noite, porque queria, desejava, demostrar aos discípulos que a vida estava em primeiro lugar”. Segundo o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Jesus “ensina a partir do trabalho, a partir da decepção, a partir do lucro não conseguido, a partir da pesca não realizada”, e diz que a vida em primeiro lugar, o que levou os discípulos a lançar de novo as redes e pegar uma abundância enorme de peixes. Segundo o cardeal Steiner, “chegamos ao 29º Gritos dos Excluídos e temos às vezes a impressão de que o barco continua vazio. Tantas manifestações no Brasil inteiro, tantos gritos erguidos, tantos gritos ressoados, e temos às vezes a impressão que permanecemos no vazio do trabalho, no vazio do grito”, insistindo em que assim não é. O arcebispo ressaltou que “todas as nossas manifestações, seguindo a Jesus, nós sempre de novo erguendo a voz, nós sempre de novo recordando, nós sempre de novo sendo enviados ao lugar das nossas dificuldades e problemas, nós vamos como que despertando, nós vamos devagarinho tendo políticas públicas que ajudam na superação dos nossos gritos de aflição, de dor, mas também os nossos gritos de pecado da nossa sociedade”. Dom Leonardo lembrou que neste ano recordamos a fome, denunciando que “é grande também na nossa cidade de Manaus”, destacando a generosidade das comunidades, de pessoas, empresários, uma ajuda que sem ela, “nós estaríamos necessitados e estaríamos ainda com os barcos vazios”. Uma ajuda e generosidade que tem ajudado a diminuir a fome, “porque não conseguimos ainda superá-la em nossa cidade, devido ao grande desemprego e à vinda contínua de pessoas para nossa sociedade”. O cardeal Steiner insistiu em que “existem outras fomes que ainda não conseguimos superar, e é preciso recordar, é preciso gritar”, lembrando a fome da saúde, a fome de lazer e de espaços de encontro, a fome de cultura diante da riqueza de culturas, destacando a cultura é expressão da vida, dos anseios, dos sonhos, das relações. O arcebispo afirmou que “nós aqui estamos não para protestar, mas para dizer, elucidar, iluminar, gritar as necessidades, para que a escuridão se faça luz”, lembrando as palavras da primeira leitura do dia. “Todo Grito dos Excluídos é uma iluminação, todo Grito dos Excluídos é uma tentativa de compreendermos melhor que na nossa sociedade os irmãos e irmãs tenham chance de conviver, tenham chance de lazer, tenham chance de cultura, tenham chance de educação, tenham chance de saúde”, segundo o presidente do Regional Norte1. “Se a vida está em primeiro lugar, o que é feito das nossas matas? O que é feito dos nossos igarapés que fedem?”, questionou o cardeal, denunciando que os dejetos estão sendo jogados nos rios da Amazônia. Por isso, ele reclamou “a vida em primeiro lugar também com o meio ambiente, também com as nossas águas, também com as nossas matas”, denunciando que “as nossas matas estão sendo destruídas, os nossos rios estão sendo tomados pelo mercúrio”. Se perguntando o que estamos fazendo, pediu que “ao menos elevemos o grito para que a vida esteja em primeiro lugar”. Ele disse que algumas comunidades ribeirinhas correm perigo de vida devido ao mercúrio que ingerem a través dos peixes e das águas. Dom Leonardo pediu que “este 29º Grito nos ajude a sermos o Reino da Luz, e sigamos a Jesus, não tenhamos medo da decepção, não tenhamos medo da contrariedade, não tenhamos medo dos não frutos, sigamos a Jesus, lancemos as redes, façamos o nosso grito, para que devagar se estabeleça o Reino da Verdade e da Graça, o Reino da Justiça, do amor e da Paz”, insistindo em que “nós estamos necessitados de paz porque estamos necessitados de justiça”. O Grito, que percorreu as ruas da cidade de Manaus encabeçado pelo cardeal Steiner, quer mostrar, segundo o padre Alcimar Araújo, vice-presidente da Caritas Arquidiocesana, “a grande importância da resistência, persistência e acreditar numa sociedade mais justa, fraterna e solidária”. Ele lembrou que “nesses tempos que nós passamos, com uma democracia sendo vilipendiada, desrespeitada e destruída, a gente se manter nas ruas e ter garantido pelo voto e pela resistência a manutenção da democracia é muito importante”. O padre Alcimar refletiu que “esse povo que está aqui é uma resistência dentro de uma dinâmica da fé que se está resumindo aos cultos, à liturgia, às devoções”. Ele afirmou que “tudo isso é importante, mas não pode estar afastado da vida, das necessidades, da dignidade do povo”. Lembrando o tema do Grito, ele insistiu em “toda a vida da Igreja, tudo o que fazemos tem a vida como objetivo fundamental, quer valorizar a dignidade da vida, dar espaço, oportunidade para a vida das pessoas”. Destacando a importância de estar no Grito, ele insistiu em que “como Arquidiocese de Manaus, nós queremos nos alimentar dessa mística da profecia, da libertação, de construir relações…
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Fome e sede numa sociedade que perdeu a vontade de gritar e lutar por um mundo melhor

Em um país onde o grito dos pobres e dos pequenos quer ser apagado, a Igreja católica, junto com outras organizações, realiza desde 1995 o Grito dos Excluídos, que neste ano de 2023, lembrando de novo que a vida está em primeiro lugar, lança a pergunta: “Você tem fome e sede de que?”. Milhões de brasileiros e brasileiras tem fome e sede de muitas coisas, mas também podemos dizer que muitos vivem de barriga cheia, sem olhar para aqueles que passam necessidade, aqueles que sofrem as consequências de uma sociedade desigual, para aqueles que sonham em plural diante do individualismo que se tornou uma realidade cada vez mais presente, que dificulta a construção de um mundo melhor para todos e todas. Seria bom que cada um e cada uma de nós se fizesse algumas perguntas: Realmente eu me preocupo com aquilo que acontece na vida do outro? Quero ajudar a ter uma vida melhor, com mais sentido, àquele que sofre por diferentes motivos? Cultivo sentimentos coletivos na minha vida que me levam a sonhar junto com os outros? Abro meus sentidos para escutar, enxergar, gritar com os outros em vista de uma sociedade mais justa e solidária? O Papa Francisco nos desafia a ser uma Igreja em saída, que se faz presente nas periferias geográficas e existenciais, uma Igreja que não tem medo de se enlamear para acompanhar a vida do povo que sofre cada dia diante de múltiplas necessidades que vive em seu cotidiano. Uma Igreja que deixe de ser autorreferencial, de se olhar o umbigo. Não podemos ser cristãos de boca e ouvidos fechados, desentendidos do que acontece fora das quatro paredes do templo, pois a gente acredita no Deus encarnado, no Deus que se faz gente e se torna companheiro de caminho, que quer estar no meio de seu povo, no Deus que em Jesus grita diante das dores e injustiças que fazem parte da vida das pessoas. É tempo de perder o medo, de deixar de ser comunidades passivas, indiferentes, sem solidariedade para com o outro, para com aquele que nunca contou e nunca vai contar para os outros. Precisamos de uma Igreja cada dia mais comprometida, um compromisso que nasce do amor concreto que se faz caridade, que gera vida para aqueles que nunca viveram em plenitude. Gritemos juntos e juntas, como Igreja e como sociedade, acompanhemos a caminhada de tantos brasileiros e brasileiras que tem fome e sede, que sentem a necessidade em sua pele e que esperam uma mão amiga que os ajude a fazer realidade esse mundo melhor com o qual todos nós deveríamos sonhar e lutar para concretizar no meio de nós.   Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

Cristo Redentor abraça a floresta para celebrar o Dia da Amazônia

Como parte de uma grande mobilização pela proteção da Amazônia, o Cristo Redentor será iluminado de verde na noite desta terça-feira (05/09), como parte de várias iniciativas do Tempo da Criação, especialmente a campanha Amazônia Sem Fome, organizada pela REPAM-Brasil. No alto do Morro do Corcovado, o Cristo Redentor abraça a Amazônia, um dos biomas mais ricos em sociobiodiversidade do mundo. O monumento será iluminado nesta terça-feira, 5 de setembro, às 19h, na cor verde, para recordar o compromisso urgente em proteger e defender o bioma, que além de guardar espécies da fauna e da flora, é o território onde vivem povos indígenas, comunidades ribeirinhas, quilombolas e outros grupos tradicionais. Hoje é celebrado o Dia da Amazônia e a iluminação faz parte de uma série de outras atividades realizadas pela Igreja, universidades e organizações da sociedade civil para marcar essa data. A iluminação é mais especial em 2023 porque reforça o convite da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil) com a Campanha Amazônia Sem Fome, em parceria com o Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor. Milhões de pessoas estão sem comida ou com acesso precário a alimentos sem qualidade. Comprometidos com o Evangelho de Jesus que pede para dar de comer a quem tem fome, e em continuidade ao tema da Campanha da Fraternidade 2023, a REPAM-Brasil realiza essa campanha para engajar os católicos e católicas em ações de enfrentamento à fome, e para que as instituições públicas, especialmente os legisladores e executores de políticas públicas, efetivem medidas audaciosas para garantir o direito à alimentação dos povos na Amazônia. Para Dom Evaristo Spengler, “o abraço do Cristo Redentor na noite do Dia da Amazônia é um abraço em tantos irmãos e irmãs que vivem sem acesso à comida. É um abraço do próprio Jesus que se compadece com as dores do povo e caminha com este povo, na Amazônia, para encontrar caminhos de superação das injustiças e da violência contra a Criação de Deus, nossa Casa Comum”, afirma o bispo de Roraima e Presidente da REPAM-Brasil. “Neste Dia da Amazônia, o Vicariato para o Meio Ambiente e Sustentabilidade, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, manifesta a solidariedade com as duas riquezas deste bioma: a riqueza das culturas dos povos originários e tradicionais e a riqueza da biodiversidade. Não podemos deixar que estas riquezas da Casa Comum sofra a humilhação antropológica da fome e da devastação ambiental. Amazônia é o patrimônio nacional e internacional que Deus colocou em nossas mãos para ser cuidado, amado e preservado com responsabilidade”, afirma o vigário episcopal para o Meio Ambiente e Sustentabilidade, Padre Josafá Siqueira SJ. Além de integrar a programação especial do Dia da Amazônia, a iluminação marca uma das etapas do Tempo da Criação, que começou no dia 1º de setembro e culminará em 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis. No Brasil, o Tempo da Criação é organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Movimento Laudato Si’, REPAM-Brasil e outras organizações da Igreja e da sociedade civil. SERVIÇO: Iluminação do monumento ao Cristo Redentor na cor verde pelo Dia da AmazôniaData: 5 de setembro de 2023Horário: 19h Fonte: REPAM-Brasil

Seminário na Tríplice Fronteira Peru-Colômbia-Brasil denuncia a invisibilidade do tráfico de pessoas

Nas regiões de fronteira, o tráfico de pessoas, um dos crimes que gera mais lucros para as redes criminosas internacionais, é uma das maiores ameaças, especialmente para as pessoas mais vulneráveis. Mas, ao mesmo tempo, é algo que se torna invisível, escondido, muitas vezes devido ao risco de o denunciar. Seminário de formação Combater esta realidade é um dos objetivos da Rede de Enfrentamento Tráfico de Pessoas na Tríplice Fronteira, que desenvolve o seu trabalho no Peru, Colômbia e Brasil, e que de 1 a 3 de setembro realizou o seu seminário anual de formação, com o tema “Tráfico de Pessoas na Tríplice Fronteira, uma realidade invisível“, na comunidade de Puerto Alegría (Peru), um encontro que faz parte do projeto “Igreja Sinodal com Rosto Magüta”. Segundo informaram a leiga missionária xaveriana Marta Barral e o irmão Lautaro Soria, de La Salle, membros da coordenação do Seminário, o encontro contou com 50 participantes, homens e mulheres de diversos setores: educativo, sanitário, social, pastoral, religioso, indígena, juvenil, e de diferentes comunidades e cidades do triângulo amazônico Peru, Colômbia e Brasil, e contou com a assessoria da irmã Rose Bertoldo, da Rede Um Grito pela Vida de Manaus e secretária executiva do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ao longo do seminário analisaram a realidade para reconhecer os diferentes tipos de violência que são vivenciados no dia a dia e como, consequentemente, o tráfico de pessoas está ganhando espaço nessa realidade. O encontro foi realizado em ticuna, português e espanhol, uma diferença linguística que não foi impedimento, pois ao longo dos dias prevaleceu a vontade de partilhar, aprender e trabalhar em conjunto. Para isso, começaram por tomar consciência da violência que existe à sua volta: abandono familiar, abandono escolar, alcoolismo, droga, fome, falta de trabalho, suicídio, desintegração familiar, destruição do ambiente, turismo sexual, maus tratos, violência familiar, corrupção, abuso sexual, feminicídio, bandas criminosas, gravidez precoce, trabalho infantil, assédio, casamento forçado, prostituição, recrutamento de crianças, pobreza, falta de justiça… Realidades interligadas Realidades às quais é importante dar nomes, ter consciência de que muitas delas estão interligadas, que uma mesma pessoa pode sofrer várias formas de violência, como foi sublinhado durante o seminário. Mas, acima de tudo, ficou claro que elas não devem ser naturalizadas, que nenhum tipo de violência pode ser normalizado ou justificado culturalmente. Os participantes no seminário trabalharam os conceitos de abuso e exploração sexual, que estão presentes na região e estão intimamente relacionados com o tráfico de pessoas. Discutiram também as diferentes finalidades do tráfico: exploração sexual, trabalho escravo, extração e venda de órgãos, adoção ilegal, casamento servil, servidão doméstica, mendicância, recrutamento para atividades ilícitas, tornando visíveis algumas situações encontradas nas comunidades da Tríplice Fronteira. Causas do tráfico As causas destes crimes são a mercantilização da vida, pois, como foi referido no seminário, o dinheiro está no centro do sistema económico capitalista, tudo é útil para ganhar dinheiro. Outro elemento que emergiu foi a desigualdade socioeconómica, onde a riqueza está concentrada nas mãos de poucos, enquanto os pobres são vulneráveis à exploração. Também foi observada a exploração do trabalho, que gera competitividade e busca pelo lucro máximo, criando empregos em condições de escravidão. Outro fator foi o patriarcado, o machismo e o racismo, a ideia de superioridade dos homens sobre as mulheres, que favorece a sua objetificação e o tráfico de seres humanos. A demanda também apareceu, pois para que as pessoas sejam comercializadas, há uma demanda, clientes dispostos a comprar, a pagar para usar. Por último, foi salientado que os migrantes e os refugiados têm o direito de procurar melhores condições de vida sem serem considerados ilegais. Os participantes no seminário insistiram na necessidade de formação para poderem identificar casos de tráfico, a fim de poderem proteger e denunciar, para acabar com a impunidade e a invisibilização do tráfico de seres humanos. O maior desafio reside no fato de se pensar como se pode agir perante estas situações. A coordenação do encontro insiste que ver e reconhecer o que está a acontecer na região é um primeiro passo, mas é necessário passar do ver para o ser encorajado a encontrar e construir em conjunto uma resposta para enfrentar uma realidade que viola os direitos de todas e todos. Cuidar, apoiar, prevenir O seminário foi uma oportunidade para insistir no apelo do Papa Francisco para cuidar e apoiar as vítimas e trabalhar na prevenção. Um apelo que provocou a procura de ações concretas em defesa da vida nas diferentes comunidades de origem dos participantes. Um compromisso que deve centrar-se nos jovens e adolescentes, fazendo um chamado a ações de sensibilização dirigidas a eles. O objetivo é também chegar aos locais onde estão os consumidores e abusadores: autoridades públicas, igrejas, serviços turísticos, entre outros, de forma a sensibilizar e garantir que, em todos estes locais, existem pessoas capazes de identificar e agir perante possíveis casos de tráfico de seres humanos.  Um seminário que é visto pelos organizadores e participantes como intenso e produtivo, destacando-se o espírito de trabalho e participação de todo o grupo, por ter criado um espaço de construção coletiva, criatividade e fortalecimento da rede de defesa da vida na Tríplice Fronteira. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Padre Miguel Martins: “Buscar esse novo rosto da Igreja, para encontrar um jeito de viver como comunidade para além das estruturas”

O Sínodo 2021-2024 tem na experiência da conversa espiritual uma novidade interessante no seu método, segundo o padre Miguel de Oliveira Martins Filho, um dos facilitadores da Assembleia Sinodal que será realizada em outubro. Estamos diante de uma metodologia que “nos ajuda a abrir-nos numa perspectiva mais espiritual e de oração aos conteúdos daquilo que o Espírito Santo nos dá, nos está suscitando”, afirma o jesuíta. Num clima de diálogo, em várias rondas vai se chegando nos “sinais do que o Espírito Santo nos está conduzindo”. Seguindo o método dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, ajuda a avançar no discernimento, a saber escolher, saber tomar decisões, iluminados pelo Espírito Santo. Isso em vista de uma Igreja com o desejo de “se concretizar mais ainda essa sinodalidade, esse rosto sinodal da Igreja”. Para isso se faz necessário “a gente mudar essa mentalidade e centralizar em Jesus”, segundo o religioso. Uma Igreja onde “a diversidade, ela é sinal, é sacramento de Deus, de Jesus, para o mundo inteiro”. Uma Igreja de todos, que “precisa mudar a mentalidade e de fato se pensar numa comunidade diversa”. Poderíamos dizer que uma das novidades do atual processo sinodal é a conversação espiritual e os facilitadores dessa conversa. O que isso pode representar para o processo sinodal que a Igreja está vivendo? A experiência da conversa espiritual ou da conversação no Espírito traz uma novidade interessante no método do Sínodo porque prepara as pessoas para estar abertos e abertas ao Espírito. A conversação espiritual, o diálogo no Espírito nos ajuda a abrir-nos numa perspectiva mais espiritual e de oração aos conteúdos daquilo que o Espírito Santo nos dá, nos está suscitando. A conversa espiritual nos ajuda porque nos coloca de verdade numa atitude de diálogo, não só de discussão, de debate, essa é a diferença. A diferença da conversação espiritual é que nós nos colocamos na dinâmica da escuta do Espírito. A través dessa discussão dos vários temas que vão sendo suscitados na Igreja, que é que o Espírito Santo está querendo dizer para nós? A conversação espiritual, ela se coloca na linha da escuta espiritual, e essa escuta se dá em momentos de oração pessoal e nos momentos da partilha, ou da conversa espiritual. É aí que a gente vai amadurecendo, através das três rondas, as três voltas, as três rodadas de partilha, onde na primeira rodada a gente só fala, cada um do grupo, da comunidade fala e os outros escutam. Na segunda roda a gente pode conversar e pedir e ver um pouco como prestar atenção no que é que suscitou em mim como movimento espiritual a fala do outro. Aí a discussão, ou a troca de ideias, de intuições, vai amadurecendo, vai aprofundando nessa dinâmica. Na terceira a gente vai buscar esses consensos, essas intuições mais coincidentes uns com outros até chegar naquilo que a gente percebe que são os sinais do que o Espírito Santo nos está conduzindo. Uma metodologia que tem uma clara influência inaciana. O senhor é jesuíta e conhece os Exercícios Espirituais, o que isso pode aportar ao processo sinodal, à vida da Igreja, das dioceses, das paróquias, das comunidades? Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio têm como objetivo preparar e dispor a alma, o ser humano, a vida da gente, cada um que faz os exercícios, para encontrar, descobrir a vontade de Deus. Para isso a gente precisa ir acolhendo o que o Espírito nos diz, discernindo que é que é aquilo que a gente sente, que a gente percebe da realidade dentro de nós mesmos, o que são sinais do bom espírito. Aí a gente acolhe isso e rejeita o que não é do bom espírito. Isso aplicado à Igreja ajuda muito, porque se trata de um exercício de discernimento, que também é uma experiência bastante inaciana. O que é que seria esse discernimento? Uma atitude que a gente vai desenvolvendo de saber escolher, de saber tomar decisões, iluminados pelo Espírito Santo. Não somente inclinados e influenciados pelo meu querer, pelo meu desejo, o que eu penso, as minhas ideias, mas exatamente porque é baseado na oração, no silêncio, na escuta do Espírito, a gente vai perceber através do discernimento o que é meu capricho ou meus desejos, minhas opiniões e o que é que Espírito Santo está querendo nos abrir, nos colocar como novidade. O Sínodo, ao escolher esse processo da conversa espiritual e do processo de discernimento espiritual, ele nos ajuda, é uma contribuição da espiritualidade inaciana à Igreja e a cada cristão que queira de fato perceber no meio de tantas coisas aquilo que é a vontade de Deus. O senhor está acompanhando o processo em nível de América Latina e Caribe, foi facilitador num dos encontros da Etapa Continental, o que o Espírito está suscitando na Igreja do continente? A Igreja da América e do Caribe já tem uma experiência longa de sintonizar com o que o Espírito Santo vem nos colocando desde o Concílio Vaticano II. O continente latino-americano avançou bastante, e agora o processo sinodal, o que a gente está fazendo, o que a gente está vivenciando é um kairós. No encontro do Cone Sul em Brasília, ali pude perceber uma Igreja viva, diversa, um desejo de acolher a novidade que o Espírito Santo vai suscitando em vista de uma Igreja mais inclusiva, mais aberta, mais diversa e que está atenta aos sinais dos tempos. É um pouco isso que o Papa Francisco está querendo, quando se fala do Sínodo sobre a Sinodalidade, é um Sínodo sobre a Igreja. Nós estamos buscando esse novo rosto da Igreja, para encontrar um jeito de viver como comunidade para além das estruturas, ou repensar as estruturas. Os ministérios ordenados, os ministérios leigos, todos aqueles que compõem a Igreja, o rosto da Igreja, a gente repensar um pouco a questão do poder, a participação da mulher, a participação dos leigos, da própria participação dos presbíteros e dos bispos. É um momento de a gente repensar toda essa questão do perfil, de como pensar…
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Dom Dirceu de Oliveira Medeiros: “É uma aventura ser bispo em uma Igreja sinodal, mas eu não vejo outro caminho”

Dom Dirceu de Oliveira Medeiros é um dos bispos que representam a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil na Assembleia Sinodal a ser realizada em outubro, algo que ele vive com alegria e responsabilidade. A Igreja do Brasil tem vivido o processo sinodal com participação e entusiasmo, uma Igreja que já vive em certo modo a sinodalidade. Segundo o bispo da diocese de Camaçari, aqueles que são contra o Sínodo, eles têm que “confiar na ação do espírito Santo”, que é “o protagonista do caminho sinodal”. Também se informar bem e descobrir o Sínodo como “caminho de responsabilidade, de partilha, onde a totalidade do Povo de Deus, pastores e o povo fiel se reúnem para perceber então o que a Igreja precisa fazer para se tornar mais fiel a Jesus Cristo, ao seu Evangelho, a construção do Reino de Deus que Ele pede de nós em nossos dias”. O bispo insistiu na importância das decisões sejam tomadas de modo sinodal. Ele vê o fato de ser bispo numa Igreja sinodal como uma aventura, mas insiste em que ele não vê outro caminho. Para isso Dom Dirceu faz um chamado à conversão, a uma mudança de estruturas, de mentalidade. Estamos próximos da Assembleia Sinodal e o senhor é um dos representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para participar nessa assembleia. O que representa para o senhor poder participar de um sínodo da Igreja universal? Primeiramente, uma alegria de poder servir à Igreja, de ser de certo modo porta-voz do episcopado, de todo o Povo de Deus e da Igreja que está no Brasil, e também uma grande responsabilidade. Por isso a importância desse encontro que nós estamos tendo aqui no sentido de compartilharmos as experiências e sairmos daqui também com uma visão comum, com um conhecimento mútuo já consolidado. O senhor foi secretário de pastoral da CNBB, conhece a vida pastoral das dioceses, como essa sinodalidade é vivida na Igreja do Brasil? Eu participei da Equipe de Animação Nacional como padre, no Brasil tivemos uma resposta bastante positiva, quase que a totalidade das dioceses realizaram a escuta da fase diocesana e isso nos alegrou muito. Participei também da confecção da síntese nacional e o que a gente percebe é que muitos apontamentos, muitas intuições que aparecem aqui, de certa forma na Igreja do Brasil já tem um caminho percorrido. As nossas assembleias diocesanas, quando fazemos nossos planos de pastoral, que são feitos também por meio de consultas das comunidades, das forças vivas das igrejas particulares, também o fortalecimento dos nossos conselhos, seja em nível pastoral ou em nível económico, e também outros. Isso tudo precisa ser aperfeiçoado, consolidado, mas podemos dizer que na Igreja no Brasil já temos um caminho percorrido. Tem muito a fazer, mas é preciso celebrar o que já foi feito. O senhor fala de sinais e apontamentos de sinodalidade na Igreja do Brasil, mas também não podemos negar que existem medos à sinodalidade. O que diria para aqueles que tem medo da sinodalidade? O primeiro ponto é confiar na ação do espírito Santo, porque diz o Instrumentum Laboris que o Sínodo deveria ser celebrado, tendo como uma fonte a Liturgia, porque o Espírito é o protagonista do caminho sinodal. Se nós temos fé, não há o que temer, é confiar na ação do Espírito que governa e inspira a Igreja, vai abrindo caminhos novos, abrindo estradas para a Igreja universal. O segundo ponto é você se informar bem, porque há muita desinformação e muita gente que ao serviço de Fake News, ou então de desinformação, vai abordando o Sínodo numa chave meramente parlamentar, ou simplesmente reivindicatória de pautas. É importante a gente entender como caminho de responsabilidade, de partilha, onde a totalidade do Povo de Deus, pastores e o povo fiel se reúnem para perceber então o que a Igreja precisa fazer para se tornar mais fiel a Jesus Cristo, ao seu Evangelho, a construção do Reino de Deus que Ele pede de nós em nossos dias. Sabemos que o Sínodo é Sínodo dos bispos, mas o senhor fala de reunião de pastores e do povo fiel. O que essa presença de não bispos, cada vez mais numerosa no Sínodo, pode aportar aos bispos no discernimento sinodal? Aqui é importante firmar, o Instrumentum Laboris deixa muito claro isso, que não se trata de um esvaziamento da autoridade, a autoridade á algo sadio. O cardeal Grech disse recentemente em um curso que eu participei, que o bispo tem a última palavra, mas não deve ter a única palavra. Essa frase é bem emblemática para entendermos esse casamento que deve haver, essa conjugação entre o princípio da autoridade, que é importante, que é um serviço, serviço da autoridade, que não é autoritarismo, e por outro lado também os conselhos, sejam consultivos ou deliberativos, que podem nos ajudar, nos auxiliar na tomada de decisões.  A gente sabe como é importante partilhar com o Povo de Deus, com aqueles que compõem a Igreja de Cristo, para que nossas decisões sejam pensadas, pesadas e sejam tomadas de modo sinodal. Parece um desafio, e é um desafio, mas é outro caminho para o serviço no mundo atual, sobretudo devido à complexidade que nós vivemos nos dias atuais. O senhor tem pouco tempo como bispos, poderíamos dizer que é um bispo do tempo da sinodalidade. É difícil ser bispo em uma Igreja sinodal? É uma aventura ser bispo em uma Igreja sinodal, mas eu não vejo outro caminho. Se nós buscamos respostas velhas para situações novas, certamente nós vamos errar e vamos também nos equivocar e tomar então caminhos que não nos levarão a uma fidelidade a Jesus Cristo. É preciso que haja uma conversão, uma conversão, uma mudança de estruturas, de mentalidade, uma conversão pessoal e pastoral para que nós entendamos que a Igreja é essa comunhão que radia, que favorece a participação de todos em vista da missão. Porque a Igreja existe para evangelizar e a missão é a pedra de toque, e o fundamento principal. É importante que…
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Marco Temporal: tentativa de acabar com quem sempre cuidou do território brasileiro

Um país que despreza sua origem está condenado ao fracasso. Podemos dizer que o Marco Temporal é um claro exemplo disso, pois despreza os direitos dos povos originários, primeiros habitantes de um território que hoje querem lhes tirar, passando acima dos direitos garantidos pela Lei Suprema no Brasil, a Constituição Federal, que mais uma vez quer ser desrespeitada sem escrúpulo. Não tem cabimento considerar invasores àqueles que são donos de suas terras, de territórios preservados secularmente, que tem garantido a conservação de espaços que querem ser invadidos para ser destruídos em busca do lucro, rejeitando todo sinal de vida. Como cristãos católicos temos que ser claros em dizer não ao Marco Temporal, pois sua aprovação vai representar o fim dos povos indígenas. Sem território, os povos originários vão perdendo seu espaço de vida, sua cultura, suas cosmovisões, sua espiritualidade, sendo condenados a se refugiar nas periferias das cidades onde correm o risco de morrer à mingua. O que fazer para poder parar uma lei que é claramente contra a vida? Como nos posicionarmos em defesa daqueles que sempre foram vistos como cidadãos de última categoria? Como ajudar a superar preconceitos que fazem parte do imaginário brasileiro? Como ser uma sociedade onde todos os habitantes do Brasil têm voz e vez e tem seus direitos respeitados? A desaparição dos povos indígenas como povos faz com que o Brasil possa perder elementos fundamentais em sua condição de país. Um país de tantos rostos não pode correr o risco de perder uma diversidade que lhe enriquece, que lhe faz crescer e ser uma nação com maior vitalidade. As elites políticas e econômicas, verdadeiros impulsores do Marco Temporal, sempre pensando em seu exclusivo benefício, não podem ser aqueles que marquem o rumo que a nação brasileira quer trilhar. Pequenos grupos que pretendem colocar na cabeça da sociedade novas dinâmicas de existência que em nada tem a ver com o cuidado da vida dos mais fracos e pequenos, daqueles que deveriam ser objeto de maior cuidado, colocando em risco sua condição de humanidade, pois a humanidade aprece quando estamos dispostos a cuidar daqueles que ninguém cuida. A postura da Igreja do Brasil é clara e coloca em evidência as graves consequências da aprovação do Marco Temporal. Essa é uma postura que tem sido defendida ao longo de décadas e que está sendo mostrada mais uma vez com posicionamentos em defesa dos povos indígenas, mestres no cuidado da casa comum. Sejamos conscientes disso, e na medida das nossas possibilidades façamos o que estiver ao nosso alcance para evitar que mais uma lei de morte e destruição seja aprovada no Brasil. Sua aprovação será o final dos povos indígenas, mas também colocará em risco a sobrevivência de todos, pois sem o cuidado da floresta a vida se complica e muito. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Radio Rio Mar

Dom Dante Braida: “Quanto mais pessoas contribuírem com os seus talentos, melhor se realiza a missão”

Dom Dante Gustavo Braida é um dos escolhidos pelo episcopado argentino para integrar a assembleia sinodal que se realizará em Roma no próximo mês de outubro. O bispo de La Rioja, onde vive a herança de Dom Angelelli, afirma que “a sinodalidade é uma experiência que também estamos a aprender ao longo do caminho“. Numa Igreja muitas vezes centrada no ministro ordenado, apela a que se caminhe com os outros, porque “quanto mais pessoas contribuírem com os seus talentos, melhor se realiza a missão“. Para a assembleia sinodal quer levar elementos presentes na Igreja argentina, a opção pelos pobres, a criação de espaços de diálogo e a animação missionária. E espera encontrar irmãos e irmãs que estão em processo e uma maior valorização dos leigos como membros da Igreja. Sinodalidade é uma palavra e uma dinâmica antiga na vida da Igreja, que poderíamos dizer que durante algum tempo foi colocada em segundo plano. O Papa Francisco quer reavivar esta dinâmica, o que é que isso representa para a vida da Igreja? A primeira recuperação foi a do Concílio Vaticano II, procurando voltar às fontes, e a partir daí iniciou-se um processo que Francisco está agora a valorizar mais, e isso está a ajudar-nos a assumir a vida da Igreja entre todos nós, e sobretudo a missão que a Igreja tem. A sinodalidade é uma experiência que também estamos a aprender ao longo do caminho. Estes dias em Bogotá estão a ajudar-nos a entrar em sintonia com o Espírito e a descobrir como ele se manifesta realmente em cada pessoa quando lhe damos espaço e quando o podemos partilhar com os outros. E como é que um bispo vive isto no governo pastoral de uma diocese? Em primeiro lugar, vive-o com grande esperança, porque hoje em dia está muito centrado no ministro ordenado na vida pastoral e isso implica um caminho com os outros, é como partilhar a tarefa, e isso é um alívio e uma responsabilidade maior, porque é preciso também discernir os carismas das pessoas, para que cada um possa dar o seu contributo à Igreja. É uma ajuda enorme, porque quanto mais pessoas contribuírem com os seus talentos, melhor se realiza a missão. É bispo de La Rioja, a diocese onde foi bispo Dom Angelelli, de quem, parafraseando as palavras de Francisco na Jornada Mundial da Juventude, podemos dizer que fez tudo o que estava ao seu alcance para criar uma Igreja em que todos tem lugar, uma Igreja sinodal. Como é que esse legado continua a estar presente nessa Igreja particular? É muito importante beber do legado que ele nos deixou, porque ele viveu o Concílio Vaticano II e, em 1968, quando assumiu a diocese, procurou aplicá-lo, e de uma forma concreta, incentivando os leigos na sua própria missão, sobretudo no mundo, e também ajudando a enfrentar as situações de pobreza que assolavam a vida de muitas pessoas. Formou também os conselhos pastorais, organizando a diocese por decanatos para a tornar mais participativa. Deu realmente a sua vida por uma Igreja sinodal e por isso, quando foi beatificado, o cardeal disse que ele era um mártir dos decretos conciliares. Ele procurou isso, uma pessoa que amava muito a Igreja e, embora não tenha sido muito bem compreendido no seu tempo por alguns sectores eclesiais, foi em frente, unido à Igreja e fiel à missão que lhe foi confiada. Hoje estamos a tentar ler mais as suas homilias, a voltarmo-nos mais para o seu testemunho, porque é uma enorme luz para aqueles de nós que querem viver a sinodalidade. O senhor é membro da assembleia sinodal em representação do episcopado argentino, o que é que quer levar em nome dos seus irmãos bispos a uma assembleia sinodal onde estão presentes igrejas de todo o mundo? Que contribuições pode dar o episcopado argentino à sinodalidade na Igreja universal? Na Argentina, como membro da América Latina, a opção pelos pobres é um acento forte na nossa Igreja e também na Argentina estamos a tentar vivê-la o mais fortemente possível. Estamos também a tentar gerar espaços de diálogo entre diferentes setores, que também estamos a tentar levar adiante numa sociedade muito polarizada. Depois, há também a animação missionária, estamos a tentar que cada comunidade tenha uma marca missionária, indo ao encontro dos que não estão cá, ouvindo os que foram embora. Seria bom que estas tentativas ressoassem na Sala do Sínodo. Falámos sobre o que quer trazer, mas também o que espera encontrar para a sua vida de batizado e de bispo nessa assembleia sinodal? Espero encontrar irmãos e irmãs que estão em processo, que, embora não tenhamos certezas, estão a caminho, procurando sintonizar-se com o Espírito Santo na vida interior. Irmãos e irmãs que procuram partilhar a riqueza do seu lugar e uma maior valorização dos leigos como membros da Igreja, que é um passo que temos de dar, e uma Igreja que procura que os pastores estejam ao serviço do povo, uma autoridade que nasce e está ao serviço do povo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Leonardo Lima Gorosito: Ser facilitador no Sínodo, ver “como o Espírito está a falar entre as pessoas”

Na Assembleia do Sínodo 2021-2024 foi criada uma nova figura, a do facilitador. Um deles é o leigo uruguaio Leonardo Lima Gorosito, que vê a sua figura como alguém que “tem a bênção de poder ver de alguma forma qual é o processo, como o Espírito está a falar entre as pessoas”. Trata-se de chegar à harmonia, de ver a diversidade como “um dom e uma graça para a Igreja”, insistindo que “uma Igreja sinodal, sem dúvida, tem de ser diversa”. Uma Igreja em que se vive a circularidade, algo que é ajudado pela conversa espiritual, onde “não há hierarquia, há humanidade, há pessoas chamadas”, que estão “em volta de algo, mas ao mesmo nível”. “É um caminho que tem de ser percorrido, algo que terá de ser introduzido na vida das comunidades“, insiste Lima Gorosito, em que é necessário formar e dar passos concretos para que “a conversa seja o que dinamiza as organizações, as estruturas”. Uma das novidades da Assembleia Sinodal que se realiza em outubro é o trabalho nas chamadas comunidades de discernimento, nas quais haverá um facilitador. Como alguém que vai assumir esse papel, o que significa? Pessoalmente, a verdade é que é uma bênção poder participar como animador. É um papel de ajuda, de apoio à dinâmica do diálogo espiritual, e o que procuramos é que o método ajude as pessoas a encontrarem-se profundamente num clima de oração, de abertura ao Espírito. O animador tem a bênção de poder ver, de alguma forma, qual é o processo, como o Espírito está a falar entre as pessoas, e nós também temos a graça de ver que dons são dados na conversa espiritual. Como é que o Espírito ajuda a fazer avançar a sinodalidade? O Espírito é, sem dúvida, o grande arquiteto de tudo isto, porque, naquilo que eu vi nos casos de conversa espiritual, conseguir chegar à harmonia, não necessariamente concordando em tudo ou apontando as coisas na mesma direção, mas conseguir chegar à harmonia, chegar à fraternidade, a fraternidade é alcançada muito rapidamente, vê-se como a ação do Espírito faz com que isso aconteça. A Palavra de Deus diz-nos que há uma diversidade de dons, mas o mesmo Espírito. A diversidade é uma coisa boa, o Papa Francisco insiste muito nisso. Porque é que é tão difícil para nós, na Igreja, aceitar aqueles que são diferentes e têm opiniões diferentes? Eu acolho bem a diversidade. O Sínodo aponta-nos para a igual dignidade de todos os batizados e isso desarma qualquer outra pretensão de que possa haver alguns que vão ser acolhidos e outros que não, alguns que vão ser salvos e outros que não vão ser salvos. Essas coisas não têm nada a ver com o Espírito, nem com o Espírito de Jesus, nem com o Espírito do próprio Deus. A diversidade é um dom e uma graça para a Igreja, e uma Igreja sinodal tem certamente de ser diversa. Por vezes há resistência, as pessoas não compreendem bem qual é o papel das pessoas ou o que somos chamados a fazer, mas a sinodalidade também nos mostrou que, na medida em que é um processo, temos de o percorrer e isso ajudará e curará. Fala da igual dignidade do Batismo. É um leigo e vai animar um grupo em que a maioria são bispos, com outras vocações e ministérios. Podemos dizer que esta dinâmica que o Papa Francisco quis promover neste Sínodo reforça essa dignidade batismal, reforça uma Igreja em que o sacramento fundamental é o Batismo? Sem dúvida, a partir dos textos preparatórios do Sínodo e das experiências continentais e diocesanas, aquilo que se viveu muito na Etapa Continental, a igual dignidade teve uma expressão que para mim foi bonita, não sentimos o carácter piramidal da Igreja, mas sentimos muita horizontalidade, eu diria, até circularidade, no sentido de que estávamos todos no mesmo plano, reunidos à volta de qualquer coisa e não havia um nível hierárquico. É o que acontece na conversa espiritual, quando se está no momento da conversa espiritual não há hierarquia, há humanidade, há pessoas chamadas, e experimenta-se algo muito circular, que estamos todos à volta de algo, mas ao mesmo nível. Nos encontros regionais da etapa continental do Sínodo, esta circularidade foi experimentada nos círculos de discernimento: é possível viver e caminhar assim, é possível construir a Igreja a partir desta circularidade? Sem dúvida, a experiência foi maravilhosa, pessoalmente eu estava muito cheio do Espírito, no sentido de que foi um momento de graça. É um caminho que tem de ser percorrido, algo que terá de ser introduzido na vida das comunidades. O diálogo espiritual é um grande instrumento e temos de apostar nele, é o momento de o fazer e estamos a caminho. Diz que o diálogo tem de ser introduzido na vida das comunidades, que passos têm de ser dados para isso? Precisamos de identificar, porque em todas as comunidades há pessoas que facilitam o diálogo, precisamos de identificar as pessoas que tornam isso possível nas comunidades e, depois, talvez formá-las para serem facilitadoras, para ajudar a que a conversa seja o que dinamiza as organizações, as estruturas. Que, nos conselhos diocesanos, nos conselhos paroquiais, pudesse haver este tipo de instância, facilitaria muito a tarefa. Precisamos de ser treinados para isso e de abrir espaço para isso. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Giacomo Costa: Assembleia Sinodal, “amassar a experiência e a Palavra de Deus para descobrir o que o Espírito está a dizer”

A Primeira Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo 2021-2024, que se realizará em outubro próximo, é definida pelo padre Giacomo Costa, secretário especial da Assembleia Sinodal, como um tempo de mudanças na continuidade. De fato, estamos perante um Instrumento de Trabalho diferente, que ele define como uma ajuda prática para trabalhar em conjunto com base em tudo o que foi feito nas assembleias continentais. O Povo de Deus como ponto de partida e de chegada O Sínodo dos Bispos tem evoluído nos últimos anos e a Episcopalis Conmunio, que pela primeira vez será aplicada na íntegra num sínodo, segundo o padre Costa, desempenha um papel importante nesta dinâmica.  No número 7 deste documento fica claro que “o processo sinodal tem o seu ponto de partida e também o seu ponto de chegada no Povo de Deus, sobre o qual devem ser derramados os dons da graça infundidos pelo Espírito Santo através da assembleia dos Pastores”. Neste processo sinodal, algumas questões foram levantadas: como é que este “caminhar juntos” que permite à Igreja anunciar o Evangelho, de acordo com a missão que lhe foi confiada, está a ser realizado hoje a vários níveis (do local ao universal)? Que passos é que o Espírito nos convida a dar para crescermos como Igreja sinodal? Estamos perante um processo, sublinhou o jesuíta, em que “o trabalho se baseia nos temas que emergiram da escuta do Povo de Deus, apresentados no Instrumentum Laboris e recolhidos em documentos anteriores”. Por isso, insiste que o trabalho da Assembleia pretende ser um caminho de oração, de discernimento espiritual, porque o verdadeiro protagonista é o Espírito Santo. De 30 de setembro a 29 de outubro Um processo que começa a 30 de setembro com a Vigília Ecuménica de Oração, um retiro de três dias e a missa de abertura a 4 de outubro. Durante os trabalhos da assembleia, que serão acompanhados por momentos de oração e celebrações litúrgicas, o ponto de partida será uma experiência integral que ajudará, ao longo de quatro dias, a ter uma visão global do que é uma Igreja sinodal, o que constitui o primeiro segmento. Durante 13 dias, de 9 a 21 de outubro, serão trabalhados os três temas prioritários para a Igreja sinodal: comunhão, missão, participação, designados segmentos 2, 3 e 4. Finalmente, o segmento 5, que será o momento das conclusões e propostas, de 23 a 28 de outubro, com a missa de encerramento a 29 de outubro Características e comportamentos fundamentais de uma Igreja sinodal O objetivo é aprofundar as características e os comportamentos fundamentais de uma Igreja sinodal, a partir da experiência do caminho em conjunto vivida pelo Povo de Deus. O objetivo é identificar passos práticos significativos a dar para crescer como Igreja sinodal através do discernimento sobre os três temas prioritários que emergiram da consulta ao Povo de Deus. Trata-se de perguntar como ser mais plenamente sinal e instrumento de união com Deus e com os outros, como partilhar dons e tarefas ao serviço do Evangelho, e como procurar as estruturas e instituições necessárias numa Igreja sinodal missionária. Ao apresentar a dinâmica de cada segmento, o padre Costa disse que cada segmento seguirá o mesmo padrão, ajudando a construir consenso sem esconder as diferenças. Para tal, haverá uma introdução em que se contextualiza a realidade através de testemunhos e contributos bíblicos, um trabalho em grupos linguísticos, utilizando o método da conversa no Espírito, sessões plenárias, onde se fará a síntese do trabalho realizado nos grupos, com um debate aberto e uma recapitulação nos grupos, com base nos frutos recolhidos em plenário que ajudarão a formular um relatório final com propostas para os próximos passos. Articulação de perspectivas, dimensões e níveis Este trabalho será efetuado com base em fichas de trabalho, começando por uma breve contextualização, enquadrada pelas reflexões decorrentes da consulta ao Povo de Deus. Para o efeito, serão propostas algumas intuições e questões que articulam várias perspectivas, dimensões e níveis. Trata-se, nas palavras do padre Costa, de “amassar a experiência e a Palavra de Deus para descobrir o que o Espírito está a dizer“. Quanto às conclusões e propostas, ficou claro que o resultado não será um documento final, porque esta é a primeira sessão. Um novo documento surgirá para devolver o que foi trabalhado a toda a Igreja e para ver como aprofundar o que saiu da assembleia. Seguindo o que foi dito na Episcopalis conmunio, que afirma que “o consensus Ecclesiae não é dado pela contagem dos votos, mas é o resultado da ação do Espírito, a alma da única Igreja de Cristo”. Por isso, ele insistiu que “ou ganhamos todos ou não ganha ninguém”, afirmando que é inútil formular de qualquer maneira se não refletir o consenso. Uma experiência continental única de Igreja sinodal Aos participantes na Assembleia Sinodal em representação das Igrejas da América Latina e do Caribe, o secretário especial salientou a sua grande responsabilidade, “porque aqui têm uma experiência continental única de Igreja sinodal“. Daí a importância destes dias de encontro, que ajudam a tomar consciência dos dons da Igreja na América Latina e no Caribe, a reconhecer os dons das outras Igrejas e a aprender a caminhar juntos. O objetivo é ajudar toda a Igreja a crescer como Igreja sinodal missionária. Uma Assembleia sinodal em que a conversação no Espírito desempenha um papel fundamental, que Mauricio López vê como a práxis do discernimento. Nesta metodologia, ele vê a necessidade de uma atitude orante, que ajuda na busca progressiva do que o Espírito nos está a dizer. Reconhecendo que não é um método perfeito, insiste que o passo mais importante é passar do “eu” para o “tu”, para descobrir no que os outros partilharam a presença do Espírito. Algo que dá lugar à procura do “nós”, do sentimento comum de cada grupo, da presença do Senhor em cada um dos grupos. Algo que será realizado durante estes dias como preparação para o que será vivido em outubro. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1