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Mensagem de Dom Evaristo à Diocese de Roraima: “uma Igreja que tem clareza da sua opção de estar ao lado dos povos indígenas, migrantes e vulneráveis”

Após uma nomeação inesperada, Dom Evaristo Pascoal Spengler tem se dirigido ao Povo de Deus da Diocese de Roraima. Em suas primeiras palavras diz ter se encantado “com a fé do povo simples e com os grandes apelos missionários” da Prelazia do Marajó, que ele vê como “porta de entrada para a Amazônia com suas belezas e seus encantos, mas também seus dramas, seus desafios sociais e evangelizadores”. No Marajó, Dom Evaristo diz ter descoberto “a abertura missionária para toda a querida Amazônia, e a importância da Amazônia para a Igreja e para o mundo”. Diante da nomeação do Papa Francisco, o Bispo eleito da Diocese de Roraima diz tê-la recebido “com muita disponibilidade e abertura de coração para acolher a nova realidade e seus desafios como um apelo de Deus”. Seu novo Bispo agradece a “todos os que desde o início contribuíram no trabalho evangelizador” na Diocese de Roraima, dizendo chegar “em uma Igreja adulta e experiente”. Em Roraima ele chega “com espírito franciscano”, esperando encontrar irmãos, que “são sempre um dom, um presente de Deus”. Um Bispo que diz chegar “para somar, juntamente com os presbíteros, religiosos e religiosas e todos os batizados e batizadas que vivem sua vida de fé em comunidades, movimentos e paróquias, e servem nas pastorais, organismos eclesiais, equipes e conselhos”. Da nova realidade reconhece seus desafios: “povos indígenas, migração, garimpo ilegal, violência, conflito de terras e territórios e o desafio da evangelização nessa realidade”. Mas também sabe “que a Igreja local é missionária, servidora e profética”, destacando “o serviço prestado pela Diocese aos migrantes venezuelanos”. Uma Igreja que segundo seu novo Bispo, “pauta as suas opções iluminada pelo Evangelho e não por aplausos ou críticas. É uma Igreja que tem clareza da sua opção de estar ao lado dos povos indígenas, migrantes e vulneráveis”. Dom Evaristo é consciente de chegar num momento marcado pela tragédia humanitária que enfrenta o povo Yanomami, que define como “um escândalo da sociedade brasileira com repercussões internacionais”. Diante disso ele quer “somar com todos os de boa vontade, no esforço do resgate pelo respeito e dignidade deste povo, que vive a paixão de Cristo diante dos nossos olhos. Quero estar ao lado e apoiar a todos aqueles que defendem a vida, promovem a paz, e desenvolvem o cuidado da Casa Comum”. Se sabendo limitado, o Bispo eleito da Diocese de Roraima afirma que “é necessário contar mais com a misericórdia de Deus e a ação do Espírito, do que com as nossas forças, e caminhar sempre com os irmãos em espírito de sinodalidade”. Ele lembra seu lema presbiteral, que é a promessa de Deus a Moisés: “Vai, eu estou contigo”. Por isso reconhece que “nossa única segurança é a presença do Deus que nos chama e nos envia através do seu Filho Jesus Cristo”. Igualmente lembra seu lema episcopal: “Avança para Águas Profundas”, que segundo Dom Evaristo, “não permite que eu me acomode”. Finalmente, o Bispo agradece as mensagens de boas-vindas recebidas e “a acolhida e a fraternidade manifestada pelos bispos do Regional Norte 1 da CNBB”. Para sua nova missão pede a oração de todos e a intercessão de Nossa Senhora do Carmo, enviando sua benção. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Se não enxerga o genocídio yanomami você deixou de ser humano e ainda mais cristão

Negar aquilo que nos incomoda, as situações desumanas, os graves pecados contra os descartados, não minora o que eles representam. O sofrimento dos povos indígenas é uma constante no Brasil desde que em 1500 Pedro Alvares Cabral chegou na chamada Costa do Descobrimento. Mais de 500 anos de cenas que muitos consideram normais, como algo que faz parte da vida e da história, mas que outros consideram ou consideramos vergonhosas, situações que colocam em questão a própria condição humana, que nos animalizam, deixando para trás uma atitude que pode ser considerada o elemento primeiro para considerar que alguém é humano: a compaixão. Também é a compaixão aquilo que define o Deus cristão, Ele é misericordioso e clemente, lento para a cólera, mas paciente e generoso em seu amor. Por isso podemos dizer que só quem vive a compaixão com aquele que está jogado na beira da estrada é cristão. Se alguém não faz isso pode ser chamado de fariseu, de mestre da Lei, mesmo que se empenhe em dizer que Deus está acima de tudo. Não é a primeira vez que o Povo Yanomami sofre as consequências daquilo que o Papa Francisco chama uma economia que mata, uma realidade muito presente na querida Amazônia. Mas o acontecido recentemente clama aos céus, saber que ao menos 570 crianças menores de 5 anos morreram nos últimos 4 anos só pode ser definido com uma palavra: genocídio. Numa população de 38 mil pessoas, essas 570 crianças representam uma porcentagem elevadíssima, colocando em risco a sobrevivência desse povo no futuro. Ainda mais quando essa situação é consequência do descaso de um governo empenhado em matar os índios, em acabar com eles para poder dispor daquilo que seus ancestrais guardaram secularmente, a casa comum. O lucro de uns poucos colocado acima de uma sociedade e uma cultura ancestral para beneficiar quem nunca se preocupou com o cuidado da vida. A gente fica estarrecido com as reações de pessoas que se dizem gente, inclusive de cristãos, de católicos, que na verdade nunca entenderam o que significa a fé no Deus encarnado, no Deus que está no meio de nós, naquele que está doente, que está nu, que está com fome e com sede, naquele que sofre, que se tornou vítima pela falta de humanidade e de ser cristão dos outros. É tempo de parar e pensar, de nos questionarmos como sociedade e definir os caminhos a seguir. Será que vamos escolher a vida ou vamos ficar com o lucro? Será que vamos defender os descartados ou vamos nos somar ao grupo dos que defendem o lucro acima de tudo? Aprendamos com aqueles que realmente nos ensinam o que vale a pena: ser humanos e acreditar no Deus encarnado. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Editorial Rádio Rio Mar

Ir. Mary Agnes Njeri Mwangi: Com os yanomami aprendi “a ser uma mulher de esperança e resiliência, a sempre recomeçar”

O sangue dos povos indígenas, o sangue dos yanomami corre nas veias da Ir. Mary Agnes Njeri Mwangi. Bem é verdade que a missionária da Consolata nasceu no Quênia, mas desde que no ano 2000 chegou no Brasil, ela sempre permaneceu na missão Catrimani, lugar de presença dos missionários e missionárias da Consolata no meio de um dos povos mais atacados ao longo do último século no Brasil. Uma missão que a religiosa vê como “uma presença de consolação, uma presença de defesa da vida, de promoção da vida”. Segundo ela, “tem sido também uma presença de ser mulher entre as mulheres”, algo que tem se concretizado no trabalho com as mulheres, nos encontros em diferentes regiões no território Yanomami. Neste tempo de convivência a Ir. Mary Agnes, que foi auditora na Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia, diz ter aprendido “a ser uma mulher de esperança e resiliência, a sempre recomeçar, porque a vida é muito atropelada aqui, em alguns momentos há surtos de epidemiologia, invasão do território”. A religiosa insiste em que “aprendi a sempre a recomeçar, quando a vida parece que não existe, sempre tem a mão de Deus que vem ao encontro e recomeçamos. Aprendi muito esse modo de sempre estar disposta a recomeçar, construir, a fazer algo novo, a superar, a estar calma, a constância e o amor na convivência”. Isso numa região que tem passado momentos muito difíceis e onde se vive o momento atual com preocupação. Na missão Catrimani muitos indígenas não são conscientes do que está acontecendo em outras regiões do território. Lá não chegam meios de comunicação, o povo não tem acesso a ver as imagens, só se informam com que o que falam na radiofonia, relata a missionária da Consolata. Diante da situação que o Povo Yanomami vive, a Ir. Mary Agnes insiste em que “falta realmente presença, presença em muitas regiões yanomami, pessoas que podem estar com eles, conversar, compartilhar, isso faz falta, essa presença de pessoas inseridas, que podem também dialogar com o povo neste momento, que podem escutar qual é o problema e acompanhar o povo no dia a dia. O povo está vivendo nesse momento essa situação de desamparo, de estar só”. As missionárias da Consolata estão acompanhando algumas comunidades, mas como acontece em muitas regiões da Amazônia, essa é uma região de difícil acesso, “são viagens longas, a pé, de barco”, relata a religiosa. Os problemas maiores, aqueles que estão aparecendo na mídia, acontecem em regiões distantes da missão Catrimani, onde elas não conseguem chegar. “E mesmo se nós conseguíssemos chegar seria destampar um buraco aqui para ir tampar outro buraco em uma outra realidade”, afirma a religiosa. Diante disso, a Ir. Mary Agnes lança um grito de socorro, “o povo vive nessa ausência de pessoas que possam realmente doar a vida e estar junto com eles. Estar tempo, não é só ir e voltar, mas ficar na região como presença”. Um tempo de dor do povo que a missionária diz estar vivendo como uma experiência em que “o Senhor está animando a minha vocação e também essa opção das missionárias da Consolata, ficar junto ao povo, as missionárias e os missionários”. Ela insiste na importância de “estar sempre presente, junto ao povo e colaborar naquilo que podemos”. À Igreja a religiosa faz um apelo para poder ter uma presença maior. Ela lembra da missão do Xirei, uma das regiões mais atingidas atualmente, onde havia uma comunidade religiosa até 2006, e essa comunidade deixou por falta de pessoas que podiam dar continuidade. Uma experiência que começou nos anos 90, quando havia outra situação grave quanto está hoje. A religiosa disse que “hoje está pior, mas agora não tem essa presença, eu sinto que o Senhor me pede, oxalá seja verdade, que a Igreja procure outras religiosas e religiosos que possam atuar em outros frentes na área yanomami, porque aqui é a única presença da Diocese. Eu sinto esse chamado do Senhor, primeiro a afirmação da minha opção, da nossa opção como Consolata, missionários e missionárias de continuar aqui, mas também esse apelo à Igreja do Brasil e do mundo para tentar abrir outras frentes nessas realidades”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Diocese de Roraima acolhe Dom Evaristo e lhe convida a “continuar conosco a celebração do mistério da vida”

A Diocese de Roraima emitiu uma nota de acolhida ao seu 10º Bispo, Dom Evaristo Spengler, onde seu administrador diocesano, Padre. Lúcio Nicolletto diz se alegrar “em comunhão com toda a nossa Igreja diocesana ao acolhê-lo no meio de nós com as palavras do Evangelho: ‘Bendito aquele que vem em nome do Senhor!’”. Sobre a Diocese de Roraima, a nota afirma que “somos um povo marcado pela beleza das criaturas do céu e da terra, dos nossos igarapés e buritizais, pelos nossos lavrados, serras e rios: somos povo da Amazônia! Somos um povo marcado pela multietnicidade, pela beleza da miscigenação de raças, línguas, tradições e culturas que nos deixam entrever em cada dimensão de nossa vida cultural, social e eclesial a necessidade da convivência com o diferente como paradigma de crescimento integral, como eixo norteador do nosso esforço para sermos um só coração e uma só alma!”. Junto com isso é destacado que “somos um povo marcado pela necessidade do encontro com o estrangeiro que há mais de cinco anos está batendo à porta de nossas casas, comunidades e instituições pedindo acolhida, proteção, promoção e integração para restaurar aquela dignidade que o poder opressor arrancou e esmagou em nome de logicas de interesses particulares. Somos um povo que busca caminhos de integração entre pessoas que vivem frequentemente o triste fardo de mudanças ou transferência para outros estados do Brasil em busca de trabalho ou oportunidades de vida melhores”. Em relação aos povos indígenas, a nota denuncia que eles são “ainda pouco ou nada respeitados, conhecidos e valorizados como verdadeiros guardiões da nossa casa comum”. O texto faz referência ao calvário do Povo Yanomami, “infinitas vezes denunciado ao longo de anos também pela Igreja católica de Roraima, mas regularmente desconsiderado, temos prova desse compromisso urgente com a vida que precisamos assumir como inadiável”. Um povo que “precisa crescer sempre mais na consciência de uma fé que seja fruto de uma opção fundamental por Cristo e pelo seu Reino na evangélica opção pelos mais pobres, excluídos e marginalizados”, destaca a nota de uma diocese que diz ter consciência “de que precisamos crescer no compromisso de sermos uma Igreja que quer se fazer carne e quer armar a sua tenda nesse recanto da região amazônica sabendo que só assim poderemos anunciar a Boa nova do Evangelho de Cristo como fonte de sentido e de libertação para todos os povos”. Nesse sentido é ressaltado que “nossa diversidade sociocultural é um convite e um compromisso para trabalharmos em comunhão em defesa da Vida em todas as suas dimensões, mormente quando é ameaçada pelos impactos causados por um equivocado conceito de progresso que confunde desenvolvimento com crescimento meramente econômico, multiplicação de riqueza material, expansão indiscriminada do agronegócio, deixando de promover, muitas vezes, a justiça social e o bem-estar de todos e para todos, assim como reza o Documento pelos 50 anos do Encontro de Santarém”. Finalmente fazem um convite a Dom Evaristo para caminhar com sua nova diocese, “e assim poderá experimentar a reconfortante presença de Cristo Jesus que caminha certamente com o povo de Roraima, rumo ao reino definitivo, lutando conosco para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária! Venha dom Evaristo, e sinta a alegria da presença de tantos batizados e batizadas que vivem seu sacerdócio batismal como fonte de alegria e de compromisso na mesma missão evangelizadora! Venha caminhar conosco, caríssimo dom Evaristo! Aqui em Roraima certamente encontrará o afago de inúmeros abraços acolhedores de missionários e missionarias que querem somar com o clero e o laicato dessa diocese para continuar sendo fermento bom na massa de nossa humanidade. Venha, dom Evaristo para continuar conosco a celebração do mistério da vida repartindo para nós o pão da vida e como Francisco e Clara de Assis, ensinar que a vida é comunhão e missão para que todos tenham vida e vida em abundância!”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Evaristo Spengler novo Bispo de Roraima. Regional Norte1 o acolhe com imensa alegria

O Papa Francisco nomeou neste 25 de janeiro de 2023 a Dom Evaristo Pascoal Spengler, OFM, como novo Bispo da Diocese de Roraima. Nascido em Gaspar (SC), no dia 29 de março de 1959, era até agora Bispo da Prelazia do Marajó no Pará. Com pós-graduação em Teologia Bíblica pelo Studium Biblicum Franciscanum, em Jerusalém, Dom Evaristo realizou sua profissão solene na Ordem dos Frades Menores em 2 de agosto de 1982. Foi ordenado diácono em 21 de novembro de 1982 e presbítero, no dia 19 de maio de 1984. Foi nomeado Bispo da Prelazia do Marajó pelo Papa Francisco em 1º de junho de 2016, sendo ordenado Bispo por seu confrade Dom Leonardo Ulrich Steiner, atual Cardeal Arcebispo de Manaus, em 6 de agosto de 2016. O Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em nota da presidência, disse acolhê-lo “com imensa alegria para ser o novo Bispo da Diocese de Roraima”. A nota lembra que “como pastor da Igreja do Marajó, o senhor abraçou com tal generosidade e coragem sua missão na nossa querida Amazônia, que nós o elegemos para ser Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica, REPAM-Brasil”. O texto faz referência à situação que está vivendo o Povo Yanomami na Diocese de Roraima, destacando a recente mensagem da REPAM-Brasil, onde o novo Bispo da diocese “revelou o amplo conhecimento que possui sobre a tragédia humanitária que enfrenta o Povo Yanomami, provocada pelo garimpo ilegal, pelo desmatamento, pela poluição das águas, sinais da perversidade provocada pela ausência de políticas públicas e pela negligência planejada com os modos de vida e com a cultura dos povos indígenas”. A presidência do Regional Norte1 da CNBB anima o novo Bispo da Diocese de Roraima a que “não tenha medo, a missão que o espera é exigente e desafiadora, mas o Senhor que o chama, também o acompanhará sempre com a sua graça e a força do seu Espírito”. Finalmente, antes de pedir a intercessão de Nossa Senhora do Carmo, Padroeira da Diocese de Roraima, pela missão que a Igreja está lhe confiando, os Bispos do Regional Norte1 afirmam que “pode estar certo de que contará sempre com a acolhida fraterna, a solidariedade permanente e as preces constantes de seus irmãos no ministério episcopal”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Mário Antônio da Silva: “Existem muitos discursos de defesa da vida, mas pouca prática em defesa da vida fragilizada”

Durante quase seis anos, de 2016 a 2022, o atual Arcebispo de Cuiabá foi Bispo da Diocese de Roraima, afirmando que viveu esse tempo desde o aprendizado e a partilha com as comunidades, também com os povos indígenas. A situação que vive o Povo Yanomami o leva a destacar o trabalho realizado com esse povo pela Igreja de Roraima, sobretudo pelos missionários e missionárias da Consolata. Um trabalho de defesa, que “se dá por omissão das autoridades, que têm a competência de cuidar dos povos indígenas”. Diante desse momento de tristeza e de luto, Dom Mário Antônio chama a assumir uma verdadeira ecologia integral. O 2º Vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), faz um chamado a que “como católicos nos unamos em defesa da vida e da vida concreta”. Segundo ele, “hoje existem muitos discursos de defesa da vida, da fecundação até a morte natural, mas pouca prática em defesa da vida concreta existente diante dos nossos olhos, sobretudo quando ela está fragilizada”. O senhor foi Bispo da Diocese de Roraima durante quase seis anos. Por todos os lugares onde passamos, vai ficando um pedaço do nosso coração. O que o senhor deixou na Diocese de Roraima? Meu período em Roraima, quase seis anos, foi um período de muitos desafios, mas também de muito aprendizado, aprendizado com as comunidades, sobretudo daquelas que estavam mais distantes do grande centro, que é a capital. Mas um aprendizado ímpar com os povos e comunidades indígenas. Das muitas coisas que eu aprendi lá e procurei retribuir é a proximidade com as pessoas, a proximidade no aspecto de estar junto, não só para celebrar a missa, mas também para a convivência. E a convivência se dava nos arraiais, se dava nas quermesses, se dava até nos momentos de comensalidade, eram momentos muito bonitos. O que eu procurei também partilhar com as comunidades da Diocese de Roraima é que nós precisamos ter uma fé que é mais do que normas, sejam católicas ou bíblicas. Mas a nossa fé é adesão a Jesus Cristo e essa adesão é visibilizada pelo seguimento a Ele, na prática da paz, da justiça e da solidariedade. Foi isso que eu procurei partilhar com as pessoas, recebendo deles impulso e motivação para uma missão diante de tantos desafios. O senhor fala da importância da convivência com o povo. Entre os yanomami, a Diocese de Roraima se faz presente através dos missionários e missionárias da Consolata, na missão Catrimani, realizada desde a convivência com esse povo. Qual a importância dessa presença como Igreja no meio do Povo Yanomami e esse jeito de anunciar o Evangelho? A Diocese de Roraima sempre teve na sua história, sobretudo com os bispos anteriores, grande preocupação com os povos indígenas e também específica com o Povo Yanomami, com a presença dos missionários e as missionárias Consolata, uma presença heroica, de mulheres e homens na convivência com as comunidades do Povo Yanomami, no respeito à cultura, no respeito à religião, na convivência, no fomentar os valores e em valorizar a sabedoria do Povo Yanomami. No seu cuidado com a própria cultura, com a própria humanidade, com os membros de cada maloca, de cada comunidade, como também no cuidado da natureza, com o cuidado da floresta, dos rios, da obra do Criador. É um jeito de conviver muito respeitoso e que tem sementes do Evangelho, que realmente revela o que o ser humano tem de mais humano e divino, no estar, na interlocução e no confronto. Por isso, a Diocese de Roraima tem uma contribuição sem igual em toda a Igreja, para todo mundo, a través do testemunho dos missionários e missionárias da Consolata, essa presença de respeito, de valorização, e digna de ser chamada também do Reino de Deus à luz daquilo que nos fala São Paulo, da graça, paz e justiça do Espírito Santo. Uma presença que também foi de defesa diante de tantos ataques que os povos indígenas e sobretudo o Povo Yanomami têm sofrido nas últimas décadas. Por que é importante essa atitude de defesa da Igreja assumida pela Diocese de Roraima em favor dos povos indígenas, do Povo Yanomami? A gente gostaria que todo ser humano tivesse sua dignidade humana respeitada, seus valores reconhecidos, seus direitos cumpridos para que pudessem também seus deveres serem executados, sem traumas, sem sacrifícios, sem opressão e sem injustiça. Mas infelizmente é fantasia achar que a Igreja não precise estar na luta pelos mais empobrecidos. A Igreja de Roraima, como toda a Igreja católica, quando se coloca ao lado dos indefesos, dos mais pobres, tem sido a grande testemunha de Jesus Cristo. No caso do Povo Yanomami, os missionários e missionárias da Consolata abrem portas e abrem os nossos olhos para uma atitude fundamental, mesmo que específica, diante dos desafios dos povos yanomami, lutar pela dignidade da sua vida, da sua saúde, de sua própria religião, conservando e escutando a sua própria sabedoria. A defesa da Igreja se dá por algo que a gente fica muito triste, se dá por omissão das autoridades, que têm a competência de cuidar dos povos indígenas, da omissão do Governo Federal, do Governo Estadual e de outras instituições que têm a competência de cuidar dos povos indígenas. Esse abandono, esse descaso, esse desmonte de direitos fez com que os povos yanomami entrassem ainda em uma escuridão maior, em uma treva que não mereciam. Parece-me que agora vem aí uma nova luz, tem novas luzes que surgem. Uma luz que a Igreja sempre procurou manter, mesmo que de maneira limitada, com as suas forças e com a sua missão lá com o Povo Yanomami. Uma atitude que não é exclusiva da Igreja de Roraima, mas que poderíamos dizer que é assumida pela Igreja do Brasil e inclusive da Igreja universal com o apoio expresso do Papa Francisco aos povos indígenas. Como Vice-presidente 2º da CNBB, como o senhor pensa que a Igreja do Brasil está impulsando essa defesa e como o que está acontecendo com o Povo Yanomami desafia a Igreja…
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Padres de Coari, Tefé e Alto Solimões participam do Retiro anual

Os padres das igrejas locais da calha do Solimões participam na cidade de Coari de 23 a 27 de janeiro de 2023 do Retiro anual. O tema do retiro deste ano é “A Missão de cuidar e o cuidado da Missão, a partir da pedagogia de Jesus”, tendo como passagem iluminadora Lucas 24, 13-36. O tema está em concordância com as temáticas trabalhadas pelos presbíteros do Brasil nos últimos anos, tendo sido refletido no último Encontro Nacional dos Presbíteros, realizado em Aparecida em maio de 2022. Também está presente no retiro o III Ano Vocacional no Brasil, que está sendo realizado neste ano de 2023, com o tema “Corações ardentes, pés a caminho”. Um momento único para reencontrar com Deus, para renovar o ministério e a vocação. Cerca de 35 presbíteros da Diocese de Coari, a Diocese de Alto Solimões e a Prelatura de Tefé estão participando deste momento de oração. No retiro estão presente Dom José Altevir da Silva, Bispo da Prelazia de Tefé, que é o pregador do retiro, Dom Marcos Piatek, Bispo da Diocese de Coari e Dom Adolfo Zon, Bispo da Diocese de Alto Solimões. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 Com informações e fotos do Pe. Marcelo Gualberto, Diocese de Alto Solimões

Dom José Albuquerque preside planejamento quadrienal da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil

Está acontecendo na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), de 23 a 25 de janeiro, a reunião dos membros da nova diretoria nacional da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB). Convocados pelo bispo referencial da Organização, Dom José Albuquerque, estão presentes o Pe. Vagner João Pacheco de Moraes, da Diocese de Osasco – Regional Sul 1, Presidente da OSIB; o Vice-presidente Pe. Edgar Rigoni, da Diocese de Colatina – rRegional Leste 3; o Pe. Carlos Henrique Santos, da Arquidiocese de Aracaju – Regional Nordeste 3, Secretário Executivo; o Pe. Deoni Alexandrino da Silva, Arquidiocese de Cuiabá – Regional Oeste 2, tesoureiro; e o Pe. Guilherme Bada Duzioni  da Diocese de Criciúma – Regional Sul 4), coordenador de publicações. O encontro traz a oportunidade de planejamento das atividades do quadriênio e as previstas para o ano de 2023. Segundo o Bispo auxiliar da Arquidiocese de Manaus e Bispo eleito da Diocese de Parintins, pelo fato de ser uma nova equipe, esse tipo de reunião se faz necessária para que os membros possam se conhecer melhor e para que se ajudem mais. “Cada um desses membros são formadores, tem diversas atribuições nas suas dioceses, então temos que reunir esforço para além de ter uma atribuição local e regional também estarmos à serviço da equipe nacional, por isso é preciso nos organizarmos na questão de calendário das nossas atividades”, explicou Dom José Albuquerque. Ele salientou que ao longo de 2023, a OSIB irá realizar três encontros destinados aos que atuam especificamente nas casas de formação, que são os diretores espirituais, os formadores e os psicólogos que trabalham nos seminários.  “Precisamos verificar os objetivos, procurar assessoria e estarmos em sintonia com os outros organismos da Comissão”, disse. Os encontros planejados acontecerão de 27 a 30 de março o Encontro Nacional para Diretores Espirituais, em Itaici (SP); de 10 a 14 de julho o Encontro Nacional de Atualização para Formadores, em Guarulhos (SP); e de 22 a 24 de setembro o Encontro Nacional de Atualização para Psicólogos, em Guarulhos (SP). Segundo o presidente da OSIB a reunião além de ser uma oportunidade de reencontrar todos os membros é também ocasião oportuna para que os mesmos conheçam a sede da Conferência, as Edições CNBB, e de toda a dimensão de organização da Igreja no Brasil a qual eles estão inseridos como OSIB. Já o Padre Carlos Henrique, Secretário Executivo da OSIB destacou que a reunião é sempre uma expressão da sinodalidade em que são convidados a vivenciar como igreja. Ele define a OSIB como um colegiado em que se reflete, planeja e auxilia a igreja naquilo que tange às organizações dos seminários e institutos do Brasil. “É uma missão de grande importância porque os nossos seminários são ambientes que formam os futuros sacerdotes das igrejas particulares espalhadas pelo nosso imenso Brasil. É uma experiência muito peculiar, especial, porque além dessa dimensão bela de contribuir com a formação dos reitores e formadores de seminários, nós também agregamos essa dimensão da colegialidade interligada com a CNBB, que é a expressão de comunhão e participação”, expressou o padre Carlos Henrique. O encontro será oportunidade para rever o Estatuto da Organização e partilharem sobre encontros nacionais já ocorridos, como foi o caso da primeira experiência missionária que aconteceu no Amazonas, em Manaus, e o curso para formadores e reitores da América Latina que aconteceu em novembro de 2022, em Roma. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Com informações e fotos da CNBB Nacional

Dom Roque Paloschi: “A Igreja de Roraima ficou junto aos povos indígenas contra tudo e contra todos, e tem pago um preço muito caro”

As palavras de uma música cantada nas comunidades: “Ninguém se engana, ninguém se engana, essa história já começou desumana”, são lembradas por Dom Roque Paloschi ao falar da realidade do Povo Yanomami. Uma realidade que ele conhece de primeira mão, dado que entre 2005 e 2015 foi Bispo da Diocese de Roraima e desde setembro de 2015 até hoje ele é Presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Uma história que “se tornou desumana de uma maneira muito visível, muito concreta, que abalou o mundo, na tentativa do Regime Militar da construção da Transamazônica, aonde houve uma invasão de garimpeiros que exigiu por parte das entidades humanitárias e a Igreja um empenho muito grande para a denúncia no exterior em relação ao genocídio que estavam vivendo os povos yanomami”. O Arcebispo de Porto Velho lembra também da Campanha SOS Yanomami lançada no final da década de 80, “envolvendo muitos setores democráticos no Brasil e entidades ligadas também à defesa dos direitos humanos e à Igreja, que foi muito importante também”. Um período que define como “uma tragedia humanitária muito grande”, recordando como com muito sacrifício o governo conseguiu a retirada dos garimpeiros, que na verdade não saíram totalmente. Inclusive alguns foram entrando na Terra Yanomami e se apossando de grandes extensões de terra na perspectiva de tomar posse dessas terras. Ele se refere a um período bastante curto de certa tranquilidade junto às comunidades yanomami em relação ao garimpo. Essa realidade mudou a partir do ano 2005, com uma presença visível dos garimpeiros, uma situação continuamente denunciada por diversas entidades ligadas aos yanomami, assim como pela Igreja de Roraima e o próprio Conselho Indigenista Missionário. Garimpeiros “acobertados pelos grandes proprietários e pelo poder político local”, denuncia Dom Roque. O Presidente do Cimi destaca a importância do reconhecimento e demarcação das terras yanomami nos anos 90, na época do Governo Collor, que ele vê como algo decisivo. Dom Paloschi insiste em não ignorar que mesmo com a Constituição de 88, dos artigos 231 e 232, “sempre foi uma luta em glória a questão da saúde do Povo Yanomami e a questão da educação”. A Igreja com sua missão junto ao Povo Yanomami, “sempre procurou ser essa presença de proximidade e de solidariedade, onde eles precisam ser os sujeitos, os protagonistas da história”, destaca o Arcebispo de Porto Velho. Em relação ao atual cenário, Dom Roque insiste em que “não é de hoje que as denúncias têm sido feitas em âmbito do país, Ministério Público, Polícia Federal, tudo quanto é órgão governamental tem sido feito essas denúncias, mas infelizmente nós chegamos aonde chegamos porque os invasores e também aqueles que garantem a presença dos invasores lá, se sentiam sempre autorizados pelas falas do senhor presidente que deixou o cargo há pouco, e também pela sua equipe de ministros e toda essa frente”. Dom Roque Paloschi insiste que “pode ser difícil nós vermos essas imagens, mas isto não vem de hoje, isto é uma tragedia já anunciada”. Ele não duvida em afirmar que “nós vivemos num país preconceituoso, discriminatório, aonde queremos negar os direitos originários dos primeiros habitantes dessas terras. Os povos yanomami vivem nessa região há mais de 12 mil anos segundo os estudos, mas nós, porque armamos um arcabouço jurídico, achamos que temos o direito de tirar os únicos direitos que eles têm, os seus territórios, as suas culturas, as suas espiritualidades e o seu modo de viver”. “O Povo Yanomami, e isso dito por Davi Kopenawa, não é contra o desenvolvimento, os povos indígenas não são contra o desenvolvimento, mas que desenvolvimento é esse, onde queremos destruir a Criação, envenenar a terra, a água e o ar para concentrar riqueza nas mãos de pouco?”, ressalta Dom Roque. Ele destaca que “é mais do que urgente que o Governo Federal com seus diversos ministérios assuma essa responsabilidade pública e não dê trégua até que não se retire o último invasor de todas as terras indígenas, que está sendo uma vergonha para o Brasil, aonde nós estamos negando o direito dos primeiros habitantes dessas terras”. O Povo Yanomami sempre dispensou uma grande acolhida à Igreja católica, não duvida em disser aquele que foi Bispo da Diocese de Roraima por 10 anos. Dom Roque destaca o tempo em que a diocese coordenou a saúde indígena, sendo pedido com insistência pelos povos indígenas para que a diocese não deixasse de fazer esse trabalho, sendo abandonado em consequência das grandes dificuldades com a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Nesse sentido, ele lembrou que as comunidades sempre perceberam a presença dos missionários e missionárias não como “uma presença de quem caminha junto respeitando a cultura, respeitando a espiritualidade, respeitando o modo de vida, respeitando a história”. Dom Roque lembrou as palavras do Papa Francisco aos Bispos com motivo da Jornada Mundial da Juventude em 2013, quando o Santo Padre disse: “A Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área”. “Tudo isso tem demostrado também o grande reconhecimento que a presença dos missionários, seja na missão Catrimani como também na missão Xitei, por mais de 20 anos, que infelizmente não conseguimos mais missionários, missionárias que aceitassem viver naquela região, ficou uma lacuna”, lembra Dom Paloschi. Ele insiste em que “eu posso dizer o muito carinho da receptividade, da acolhida, mas também deste caminho respeitoso da Igreja, dos missionários em relação à vida deles e eles também em relação à vida dos missionários”. Algumas pessoas, inclusive entre seus membros, querem desacreditar a postura da Igreja manifestada na nota dos Bispos do Regional Norte1 da CNBB no dia 21 de janeiro de 2023, Dom Roque Paloschi não duvida em dizer que “a ignorância é a pior coisa, é o pior peso que nós carregamos”. Segundo o Presidente do Cimi, “o povo de Roraima, o povo da…
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Diocese de Roraima, sempre companheira e defensora do Povo Yanomami

A dor do Povo Yanomami vem dilacerando a vida de um dos povos mais numerosos e sofridos da Amazônia brasileira. As cenas reveladas nos últimos dias são um episódio mais de uma série de fatos que mostram as consequências dos abusos cometidos nos últimos séculos contra os povos originários no Brasil. Na história do Povo Yanomami, uma de suas grandes defensoras nas últimas décadas tem sido a Igreja católica, especialmente através dos missionários e missionárias da Consolata, que desde 1965 assumiram a missão Catrimani, um exemplo daquilo que hoje, especialmente depois do Sínodo para a Amazônia é conhecido como evangelização intercultural. Do mesmo modo, os Yanomami que habitam na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, no Estado do Amazonas, têm contado com o apoio e defesa dos salesianos e salesianas. Na missão Catrimani, um bem e um dom para a Igreja de Roraima, se fez realidade um modelo de missão fundado sobre o respeito e o diálogo resultando em ações concretas em defesa da vida, da cultura, do território e da floresta, a Casa Comum. Uma missão fundamentada no silêncio e no diálogo gerando laços de amizade e alianças na ótica do bem viver. Uma missão que ao completar 20 anos levou o então Bispo, Dom Aldo Mongiano, a dizer que “É privilégio ter os Yanomami”. A defesa do Povo Yanomami tem sido uma prioridade para os últimos Bispos da Diocese de Roraima, levando essa Igreja local a se posicionar. Dom Roque Paloschi, Bispo da Diocese de Roraima de 2005 a 2015, afirmou na introdução ao Livro “O Encontro”, que relata memórias da Missão Catrimani, que “encontrar e conhecer os Yanomami têm sido um caminho extraordinário, um bem e privilégio para a Igreja de Roraima”. Uma missão que “é o antídoto contra as violências que os Yanomami sofriam na época e ainda sofrem”. Um modo de anunciar o Evangelho que tinha como fundamento “a ideia de que os índios não precisam ser modificados”, segundo Dom Roque, que insistia em que “as sociedades ameríndias, assim como qualquer outra sociedade, devem ser compreendidas e respeitadas nas suas diferenças”. De fato, Dom Servilio Conti, bispo na época, buscou com a missão Catrimani, “conhecer aquele povo, amá-lo e com ele viver”. O convívio com os yanomami ajudou a Igreja de Roraima a descobrir que é “necessário entender, aprender a ver o mundo com os olhos do outro”, afirmou o Presidente do Conselho Indigenista Missionário. Segundo ele, “os missionários fundiram e, de certa forma, subordinaram os destinos da missão ao destino dos Yanomami, colocaram-se ao lado dos Yanomami e a serviço de um projeto de vida voltado à dignidade e autodeterminação desse povo”, um caminho nem sempre fácil, que os levou a serem expulsos em 1987 por 18 meses. Já em 2017, quando foi publicado o livro, Dom Roque Paloschi denunciava a ameaça do garimpo na Terra Yanomami: “atualmente, as invasões e depredações das suas terras continuam, com a constante presença de garimpeiros e a pesca predatória. Os indígenas denunciam, mas permanece a impunidade”. Ele fazia um apelo para as parcerias e as redes para “a luta contra os ‘dragões mortíferos’ da vida”. Na mesma linha se manifestou o último Bispo da Diocese de Roraima, atual Arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio da Silva, em 23 de abril de 2022, destacando que na história da Igreja de Roraima, “a causa da vida dos povos indígenas foi assumida como anúncio da dignidade humana e, por vezes, com denúncia daquilo que negava o Evangelho e os direitos humanos”. O 2º Vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil denunciava que “nos últimos 3 anos, o dragão devorador da mineração tomou força novamente e avança com toda ferocidade e poder das organizações criminosas sobre a Terra Yanomami”, lembrando os constantes ataques, crimes e mortes provocadas pelo garimpo. Algo que denunciava como “uma vergonha para nosso país e fazem o nosso coração sentir o sofrimento e a morte que os Yanomami e a natureza estão vivendo”. Dom Mário Antônio denunciou “a omissão e a responsabilidade do Governo Federal, que ao invés de cumprir seu papel constitucional na defesa dos povos indígenas e de suas terras, patrimônio da União, incentiva as invasões e coloca na pauta do Congresso Nacional o projeto de lei, que legaliza a mineração em terras indígenas”, enumerando as graves consequências disso.  Diante dessa realidade, ele convidou a se unir na defesa e na garantia da vida e do território do povo Yanomami, a não compactuar com a mineração nas terras indígenas, a defender e cuidar da casa comum. O atual administrador diocesano, Padre Lúcio Nicoletto, denunciou essa realidade na Visita ad Limina do Regional Norte1 da CNBB ao Papa Francisco em junho de 2022, lhe entregando uma tela de um artista local onde aparecia o garimpo avançando e destruindo o Corpo do Yanomami, querendo assim denunciar as consequências do avanço do garimpo na Terra Yanomami. Essa foi mais uma denúncia de tantas realizadas nas últimas décadas, especialmente nos últimos anos, pela Igreja de Roraima, levando ao Santo Padre uma expressão do drama dos yanomami em relação à destruição da sua vida. Uma Igreja que no dia 21 de janeiro de 2023 expressou “a nossa solidariedade ao Povo Yanomami e o nosso repúdio ao genocídio, envolvendo pelo menos 570 crianças, devido ao caos instalado nos últimos anos quanto à desassistência na saúde indígena, alto índice de malária, desnutrição e contaminação por mercúrio, provocados pelo garimpo ilegal na Terra Indígena no período do (des)governo anterior e sua necropolítica”. Dizendo apoiar as medidas do governo federal, esperam “medidas que venham solucionar esta situação, como a retirada do garimpo daquelas terras, sempre na defesa e promoção da vida”. Mais um exemplo de uma profecia iniciada muito tempos atrás e que a Igreja de Roraima não quer deixar morrer. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1