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Cardeal Steiner no encontro da CEAMA: “um momento muito importante para podermos todos juntos refletir e caminhar”

Mais de 80 bispos da Pan-Amazônia, com a participação dos bispos do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), estão reunidos na sede do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), em Bogotá (Colômbia), de 17 a 20 de agosto de 2025. Um encontro de escuta para ajudar nos processos de construção de um Plano Sinodal para a Igrejas da Pan-Amazônia. Um encontro para retomar o Sínodo Uma dinâmica que tem sido ressaltada pelo arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da CNBB na missa de abertura, onde foi celebrada a Missa da Criação: “estamos aqui para retomar o Sínodo, nos colocarmos mais uma vez a caminho, tentando assim expressar também o sínodo nas nossas dioceses, nas nossas Igrejas particulares”, afirmou. Ele sublinhou que “é um momento muito importante para a Igrejas que se encontram na Pan-Amazônia, para podermos assim todos juntos refletir e caminhar”, vendo no texto do Evangelho do dia um elemento que “pode nos ajudar nesse caminho”. No “vem e segue-me” de Jesus, o cardeal Steiner vê “uma atratividade de eternidade.” Ele citou as palavras de São João Crisóstomo, que disse que “não foi um ardor medíocre que o jovem revelou, estava como que apaixonado”, ressaltando que a diferença de outros, o jovem, “aproximou-se de Jesus para conversar da eternidade, a vida eterna”, dado que “o jovem viu em Jesus certamente um caminho, o caminho da bondade, da compaixão, da misericórdia, da transformação, da eternidade”. A riqueza dos mandamentos O arcebispo de Manaus refletiu sobre os mandamentos, que “às vezes soam como norma, como obrigação, como preceitos. Mas mandamentos são sinalizações, indicações, são iluminações, é o caminho que havia percorrido.” Mandamentos que cardeal definiu como “exercitar-se continuamente nessas tarefas do Espírito, sim, conhecer as riquezas, as transformações, as maturações que os mandamentos possibilitam, a possibilidade de desabrochar a vida, a possibilidade de chegar à maturidade da fé do povo de Deus”. O presidente do Regional Norte 1 refletiu sobre as atitudes do jovem, mostrando os passos dados, mas “ele havia intuído que em Jesus havia algo mais. Em Jesus havia mais que bondade, havia mais do que caridade”, destacou o cardeal Steiner. Daí a resposta de Jesus: “só te falta uma coisa, vai e vende tudo que tens e dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Vem e segue-me”, reconhecendo que “Jesus propõe um passo a mais. Tudo a partir de um grande amor. Um amor livre, gratuito. Um tesouro que dá sentido a tudo. Seguir, mas segui-lo na liberdade”. Seguir Jesus é um grande tesouro Isso porque “seguir tem a força, o vigor de uma ruptura. É um salto mortal, um salto existencial inigualável. É como que morrer para viver em Cristo, de Cristo, entrar no seu seguimento”, afirmou o arcebispo de Manaus. Ele reforçou: “seguir Jesus é um grande tesouro. Um movimento maravilhoso e transformador que é mais do que a abnegação cristã. É a liberdade do Crucificado Ressuscitado”. Frente a isso a resposta do jovem, que mostra que “o terreno era fértil, mas esbarrou na gratuidade do seguimento, na pobreza do seguimento. Desapareceu a ligeireza, a prontidão, a disponibilidade, a busca. O que sobrou? A tristeza, a lentidão dos passos, não mais perguntas pela eternidade. E distanciou-se de Jesus com passos lentos, com ar de frustração. Tinha dado a impressão que era um homem livre, pronto, mas não era. Carregava demais, tinha amarras demais. Por isso saiu desiludido, não descobriu o tesouro do viver, a vida eterna, feita pobreza, feita gratuidade”. Uma dinâmica que envolva as Igrejas da Pan-Amazônia O evangelho de hoje, enfatizou o cardeal Steiner, “nos provoca ao seguimento, a razão de ser de uma dinâmica que envolva todas as nossas Igrejas particulares, todas as nossas Igrejas da Pan-Amazônia. É aquele convite de vender tudo e seguir, seguir para viver da grandeza, da bondade do Reino de Deus. As nossas Igrejas, as nossas comunidades serem sinal, visibilização do Reino de Deus, da sinodalidade”. Para isso, ele pediu que “o convite do seguimento na gratuidade possa nos ajudar no caminho que iniciamos com o Sínodo para a Amazônia. A deixar-nos guiar pelos sonhos de Querida Amazônia.” O cardeal insistiu em que “não se trata de uma nova organização, mas de uma inspiração. Um espírito que renova e funda o modo de ser Igreja.” Por isso, ele fez ver aos bispos reunidos que “fomos colocados à frente das nossas Igrejas, nas nossas Igrejas. Todas as nossas Igrejas despertadas pelo ‘Se tu queres ser perfeito, vai e vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás o tesouro do céu. Vem e segue-me’. As nossas Igrejas particulares no seguimento gratuito de Jesus.” Diante disso ele questionou: “Então, o que importa?”, respondendo que “o que dá razão a nossa vida, a nossa Igreja, às nossas Igrejas é o seguimento de Jesus, que é o modo do reino de Deus”.

CEAMA convoca os bispos da Pan-Amazônia para discernir como prosseguir o caminho sinodal

Os bispos da Pan-Amazônia, convocados pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), se encontram de 17 a 20 de agosto de 2025 na sede do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), em Bogotá. Momentos de celebração, espiritualidade, trabalho em grupos, conversação no Espírito, fazem parte do programa nos próximos dias. O método seguido no encontro, que contará com uma declaração final, será ver, escutar, discernir, agir. Uma proposta do Sínodo para a Amazônia A CEAMA foi uma das propostas do Sínodo para a Amazônia, que no número 115 do Documento Final faz a proposta de “criar um organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as igrejas da região, que ajude a delinear o rosto amazônico desta Igreja e que continue a tarefa de encontrar novos caminhos para a missão evangelizadora, incorporando especialmente a proposta de ecologia integral, fortalecendo assim a fisionomia da Igreja amazônica”. Posteriormente, Papa Francisco pediu que esse organismo episcopal se concretizasse numa conferência eclesial. O Relatório de Síntese da Primeira Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, no primeiro ponto, que aborda a questão da “Sinodalidade: experiência e compreensão”, coloca a CEAMA como exemplo, e mostra que a Conferência Eclesial da Amazônia “é fruto do processo sinodal missionário daquela região”. Um momento de escuta Desde sua fundação, a CEAMA vem dando passos em vista da aplicação dos resultados do Sínodo para a Amazônia. Para isso, foi instituindo caminhos de atuação a partir de algumas linhas conforme o Documento Final do Sínodo para a Amazônia e os Sonhos da Querida Amazônia. O desafio tem sido a aproximação das igrejas locais nos processos desenvolvidos pela CEAMA. Daí a importância do encontro, um momento de escuta, onde os bispos poderão partilhar a realidade das igrejas locais e como a CEAMA pode ajudar nos processos de construção de um Plano Sinodal para a Igreja da Pan-Amazônia. Os processos sinodais iniciados no Sínodo para a Amazônia, tem sido aprofundado com o Sínodo sobre a Sinodalidade, que fez um convite a seguir dando passos na eclesiologia de comunhão, nos níveis pessoais, comunitários e na sociedade. Nessa perspectiva, sem buscar discutir as grandes questões pastorais da Amazônia, um propósito que deve estar presente na Assembleia Geral da CEAMA que será realizada de 18 a 21 de março de 2026. Solidificar a sinodalidade O encontro dos próximos dias será oportunidade de “discernimento comum para prosseguirmos nosso caminho sinodal, e sua viabilidade por meio de uma conferência eclesial”, segundo a CEAMA. “Um encontro de escuta em vista da continuidade da solidificação da sinodalidade nas Igrejas da Amazônia que oferecera elementos para uma atuação da CEAMA mais próximas das igrejas locais”, ressalta a Conferência Eclesial da Amazônia. Entre as perspectivas cabe destacar a retomada do papel dos bispos enquanto pastores das igrejas locais como os primeiros responsáveis pela sinodalidade. Junto com isso, identificar os avanços no caminho sinodal desde o Sínodo da Amazônia e da criação da CEAMA. Nesse caminho se faz necessário refletir sobre os impulsos e as resistências identificadas, buscando compartilhar experiências que ajudem a valorizar caminhos de sinodalidade. Algo que deve se concretizar em propostas concretas para ser melhor articuladas pela CEAMA.

Cardeal Steiner: “Na casa vemos a caridade de Maria”

No dia em que a Igreja celebra “uma das festividades mais importantes dedicadas à bem-aventurada Virgem Maria: a solenidade da sua Assunção”, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia dizendo que “a Mãe de Jesus é elevada ao Céu, à glória da vida eterna, está na plena comunhão com Deus”. Libertação definitiva do mistério da morte Segundo o arcebispo, “a vida de Maria, toda a sua existência, foi uma expressão da grandeza do amor da Trindade, por isso, a sua vida e sua morte celebram o mistério amoroso do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E porque toda manifestação amorosa da Trindade veio manifestada na mulher Maria ao dar à luz a Jesus, celebramos nesta liturgia a sua libertação definitiva do mistério da morte”. O cardeal Steiner recordou que “São Lucas nos fez ver e proclamar a presteza com que Maria deixa a própria casa e subindo as montanhas entra na casa de Isabel. Na casa vemos a caridade de Maria, a agitação de João no ventre materno; vemos e ouvimos o grito de alegria de Isabel, venerando a presença do Filho de Deus no ventre materno; ouvimos a exultação e louvação da Mãe de Deus pelo reconhecimento da presença do Filho Unigênito de Deus como fruto de seu ventre. E ‘Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa’. Na Ladainha a invocamos como Casa de Ouro!” “A casa!”, exclamou o presidente do Regional Norte 1 da CNBB, sublinhando que “gostamos de estar em casa, de voltar para casa. Saímos, viajamos, mas nos sentimos em casa, na nossa casa. Gostaríamos de sentir-nos sempre em casa como na nossa casa. Tentamos viver o Evangelho, como se estivéssemos por tudo em casa. Não suportamos viver sem uma referência, sem um porto, sem lugar. Nosso coração deseja estar em casa em algum lugar. Não suportaríamos viver sem sonhos, sem um lugar onde repousar e retomar as buscas”. Sempre em casa Nessa perspectiva, ele disse que “Maria sai da sua casa, entra na casa de sua prima Isabel e do mudo Zacarias, permaneceu na casa por três meses e volta para casa. Maria que sai da casa, entra na casa, permanece na casa e volta para casa. Muitas vezes deixará a casa! Já deixara a casa paterna para entrar na casa de José. Deixando a casa de Nazaré entra na casa-estábulo em Belém; de Belém entra na casa estrangeira no Egito; da casa do Egito entra na casa de Nazaré; de Nazaré entra na casa de João o discípulo amado; e da casa de João em quantas casas não terá entrado essa mulher e mãe no peregrinar com João? Parece sempre estar saindo de casa, entrando em casa e permanecendo na casa por três meses, três dias, três anos… Mas sempre em casa!” “E de casa em casa, saindo de casa, entrando na casa, permanecendo em casa, voltando para casa, ela sempre parece estar em casa. Ela fará de estábulo a sua casa. Nessa casa-estábulo dá à luz ao seu Filho único. No acolhimento da situação, da geração, ali agora, é a casa e ela está ali toda inteira de corpo e alma. Está em casa e recebe os pastores e os anjos. A casa-estábulo onde os pastores e os anjos se sentem em casa. Eles da casa-estábulo voltam para os céus e para os campos; uns cantando e outros cheios de alegria louvando a Deus. O recém-nascido a faz estar em casa”, afirmou o cardeal Steiner. “E quando tiver que abandonar a casa de Nazaré para acompanhar o Filho no caminho da Cruz e da morte habitará a casa da dor e da solidão. A casa da dor no caminho do calvário e aos pés da cruz. Nada mais existe somente a dor, a perda, o sofrer. A dor é sua casa e ela a habita e nela está de corpo e alma. A casa da solidão ao tomar em seus braços o seu filho único descido da cruz, despido, silenciado, sem respiro, sem vida. A vida de sua vida, a vida que lhe dera a vida e era a razão de sua vida, agora sem vida nos seus braços. Ela habita a casa da solidão e nela está de corpo e alma. Por que dizemos que habita a casa da dor e da solidão de corpo e alma? Nenhum desespero, nenhum fim, nenhum sem sentido, mas repetição silenciosa”, refletiu o arcebispo de Manaus, que citou o texto bíblico: “faça-se em mim segundo a tua palavra”. Maria sempre em casa Isso porque “Maria sempre está em casa em toda à parte. Cada parte é a sua casa; cada lugar é sua casa; em cada situação ela está em casa. Por tudo está em casa e habita sempre a mesma casa em todas as casas. Também na dor, na solidão; sem casa está ela sem casa. Ela está em casa de corpo e alma”, afirmou o cardeal. O arcebispo definiu Maria como “Mãe-mulher habitação de Deus, morada de Deus, a casa de Deus, na concepção; ela, mãe feita habitação de Deus ao dar à luz torna o mundo dos homens a habitação e a casa de Deus. Ela sabia que em tudo, por tudo, sempre, em todas as situações e lugares habitava sempre a mesma casa: Deus, o amor da Trindade. Como Deus desejoso de habitar e estar por tudo na casa dos homens, era ela desejo de deixar-se habitar, toda inteira pelo amor da Trindade. Hoje celebramos o habitar de Maria na Casa da Trindade Santa: Assunta aos Céu!” Ser uma Igreja que serve Diante disso, ele mostrou que “somos convidados, convidadas a estar a caminho com Maria e ser a habitação, a morada, na soltura, na liberdade e na receptividade transformante. Ser casa do aconchego, do cuidado, da misericórdia, morada, casa de Deus. “A nossa revolução passa pela ternura, dizia papa Francisco, pela alegria que sempre se faz…
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Assembleia Eletiva da Pastoral da Pessoa Idosa Regional Norte 1

A Pastoral da Pessoas Idosa do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), realiza de 15 a 17 de agosto de 2025 na Maromba de Manaus a Assembleia eletiva 2025. O encontro conta com representantes da arquidiocese de Manaus, as dioceses de Alto Solimões, Coari e Roraima, e as prelazias de Tefé e Itacoatiara. Também estão presentes Sandra Michellim e Almir Michellim, da coordenação nacional da Pastoral da Pessoa Idosa. Chamado à missão O tema do encontro é “O chamado à missão: alargando as fronteiras da esperança, da fé e do amor“. Foi iniciado com um momento de espiritualidade, apresentação dos participantes e do andamento da Pastoral da Pessoa Idosa em cada igreja local presente na assembleia. Ao longo do encontro foi refletido sobre o que é a Pastoral da Pessoa Idosa e a necessidade de formação e reciclagem dos líderes e facilitadores que fazem parte dessa pastoral, assim como as atribuições dos coordenadores em nível estadual e nacional. Os participantes tiveram a oportunidade de dialogar, tirar dúvidas e solicitar esclarecimentos com relação à Pastoral da Pessoa Idosa. A assembleia será momento para eleger a coordenação em nível regional. Importância da Assembleia Eletiva A coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa, com sede em Curitiba, Sandra Michellim, disse ter trazido para a assembleia “além de motivação, fortalecimento, porque estamos também trabalhando a questão de SIG-PPI, que é o Sistema de Informação e Gerenciamento da Pastoral da Pessoa Idosa, onde o líder registra o acompanhamento”. Junto com isso, ela destacou que “estamos também fazendo uma reciclagem de capacitação de líderes, de facilitadores, e em especial também para a realização da Assembleia Eletiva”, que considera um momento importantíssimo. A coordenadora nacional recordou que “a Pastoral tem um regimento e um estatuto próprio”, ressaltando a necessidade da renovação. Ela disse se sentir “privilegiada de poder estar participando de um encontro belíssimo organizado pela coordenação estadual e nos recebendo com tanto carinho aqui dentro do regional”. Igualmente, Vera Gama, coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa no Regional Norte 1, Amazonas e Roraima, destacou a importância da eleição da nova coordenação, assumindo “essa missão de renovar, de incentivar, de acolher e de promover”. Na missão da Pastoral da Pessoa Idosa, ela sublinhou como principal “a visita domiciliar às pessoas idosas e também com a nossa reunião mensal, onde a gente faz toda uma coleta de dados para poder estarmos repassando para a coordenação nacional e, com isso, chega até o Ministério da Saúde para também trabalhar políticas públicas, onde a gente possa desenvolver melhor a qualidade de vida, a atenção para este segmento da pessoa idosa”.

O rosto da Igreja católica na Amazônia e o seu caminho sinodal

No marco do Encontro de Bispos da Pan-Amazônia, convocado pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) de 17 a 20 de agosto de 2025, apresenta-se um panorama atualizado da realidade eclesial nesta região vital para a vida dos povos e a missão da Igreja. A Amazônia, que ocupa 47,5% do território sul-americano (8,47 milhões de km²) e se estende por oito países e a Guiana Francesa, é uma região de vital importância para o planeta. Concentra 20% da água doce mundial, um terço do material genético e vastas florestas primárias. Ali habitam mais de 33 milhões de pessoas, entre elas de 3 a 4 milhões de indígenas pertencentes a cerca de 390 povos, que falam mais de 240 línguas, além de camponeses, afrodescendentes, ribeirinhos e diversas populações urbanas. A região regula as chuvas na América do Sul e os fluxos de ar em nível global, mas também é uma das mais vulneráveis às mudanças climáticas. Sua riqueza natural e cultural está ameaçada pelo desmatamento, mineração, exploração de hidrocarbonetos e práticas econômicas insustentáveis que geram graves consequências ambientais e sociais. A presença da Igreja na Pan-Amazônia Neste vasto território existem 105 jurisdições eclesiásticas distribuídas na Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela, com um total de 2.581 paróquias, zonas pastorais ou áreas missionárias. Segundo o Annuario Pontificio 2023, a missão é realizada por 25.710 leigos agentes pastorais, 5.041 religiosas, 4.206 presbíteros, 2.329 religiosos, 297 diáconos permanentes e 168 bispos. Em pesquisa realizada para o livro “Avancem para águas mais profundas: caminhos sinodais da Igreja na Amazônia”, a ser publicado este mês pela Editora CELAM, dos 168 bispos, 73 são diocesanos e 95 religiosos; 100 nasceram em seus países de missão e 68 provêm de outros países. A presença de 665 congregações femininas e 297 masculinas marcam a riqueza e diversidade da vida consagrada na região. As jurisdições mais antigas da região são Santa Cruz de la Sierra (1605) na Bolívia e São Luís do Maranhão (1614) no Brasil, enquanto as mais recentes são Araguaína (2023) e Xingu-Tucumã (2019) no Brasil. Um caminho sinodal A Igreja amazônica, desde suas origens nos tempos coloniais até o Concílio Vaticano II, percorreu um processo de transformação rumo a uma pastoral mais integral e sinodal. Entre 1971 e 2013 multiplicaram-se os encontros e documentos que lançaram as bases de uma articulação Pan-Amazônica, como os de Iquitos, Santarém, Pucallpa, Manaus, Fusagasugá e Aparecida. Com o pontificado do Papa Francisco, essas sementes floresceram com a criação da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) em 2013. Dela brotou o Sínodo Amazônico (2017-2019), um processo de escuta, diálogo e discernimento que culminou em um Documento Final e na exortação apostólica Querida Amazônia, onde o Papa expressou os sonhos sociais, culturais, ecológicos e eclesiais para a região. O fruto mais visível desse processo foi a criação, em 2020, da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), a primeira de caráter “eclesial” e não apenas episcopal na história recente da Igreja. Encontro em Bogotá Neste caminho, a CEAMA convoca, de 17 a 20 de agosto de 2025, em Bogotá, o primeiro grande encontro episcopal amazônico após o Sínodo de 2019. Será um espaço de oração, discernimento e fraternidade, com o propósito de renovar o compromisso com a vida, os povos e a Casa Comum, e impulsionar a prática dos sonhos de Querida Amazônia em um espírito de sinodalidade, missão compartilhada e esperança. Julio Caldeira imc

Família: espaço para cultivar o chamado a sermos gente de Deus

Na Igreja do Brasil, agosto é o Mês Vocacional. Cada semana somos convidados a refletir sobre uma vocação. Mas além de como se concretiza o chamado na vida de cada pessoa, a vocação que recebemos é a ser homens e mulheres de Deus, que os outros possam descobrir em nós a presença de Deus, que nossa vida seja manifestação do Deus que está no meio de nós. Família Na segunda semana somos chamados a refletir sobre a família, um conceito que cada vez gera maior polémica. Segundo a Constituição brasileira, o conceito de família abrange diversas formas de organização fundamentadas na relação afetiva entre seus membros. Mas também é verdade que esse conceito de família tem se tornado bandeira política. Se fala de família como algo cada vez mais etéreo, que responde a outros interesses que nada tem a ver com aquilo que deve fundamentar a vida familiar: o amor. Aqueles que nos dizemos cristãos católicos devemos nos perguntar se nossas famílias são espaço que aproxima seus membros de Deus. Nossas famílias ajudam seus membros a ser homens e mulheres de Deus? Uma pergunta que nos leva a nos questionarmos sobre o que é sermos homens e mulheres de Deus. Em verdade, sermos cristãos, discípulos e discípulas de Cristo, é assumir os mesmos sentimentos de Cristo Jesus, que sendo o primeiro se coloca o último. Não é fácil aceitar um Deus que nos desafia a nos colocarmos no último lugar, no meio aos últimos, aos descartados. Mas esse é o Deus de Jesus Cristo, o Deus que se fez carne, o Deus que se abaixou. Frente a isso, é assumido com maior facilidade um deus que resolve todos os problemas, que nos ajuda a ser mais, inclusive no plano material. Espaço para Deus Nas famílias onde Deus tem um espaço, qual é o Deus que está presente? Na família da gente, qual é o Deus que damos espaço? Não podemos esquecer que a vocação é um caminho para poder avançar no discipulado, de diversos modos, mas sempre com um objetivo comum, sermos homens e mulheres de Deus. Criar as condições para responder ao chamado deveria ser uma preocupação nas famílias que se dizem cristãs. Mas se faz necessário entender quem é esse Deus que nos chama e assumir as consequências de responder à vocação. Caminhar com Deus, nos tornarmos presença D´Ele, ser gente de Deus é caminho de felicidade. Mas não podemos nos deixar enganar com um Deus que não responde àquilo que Ele é. Ainda menos deixar que outros queiram nos colocar em nossa vida um Deus feito a imagem e semelhança deles. Editorial Rádio Rio Mar

Cardeal Steiner: “nos sentirmos felizes por conviver, por servir, desenvolver-se, ser no amor!”

No 19º Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia recordando que o texto proclamado faz parte do sermão de Jesus a partir dos “lírios do campo e as aves do céu.” Segundo ele, “aquelas palavras de Jesus que despertam em nós confiança no Pai dos céus e nos sentimos na sua proximidade. Expressa o cuidado amoroso e amorável de Deus para com seus filhos e filhas”. Participar da intimidade de Deus O cardeal Steiner recordou a palavra de consolo e esperança que ouvimos: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino.” Ele enfatizou: “Sim, somos convidados, convidadas à participação da intimidade de Deus, fazer parte de seu Reino. O reino, o seu reinado, o seu amor, a sua cordialidade.” É por isso que “poderíamos viver com pessoas que buscam desfrutar cada momento, cada experiência. Organizando a nossa vida de forma sempre mais guiada pelo prazer. Levar uma vida vivida hedonisticamente. O importante do viver é desfrutar todo e qualquer prazer”. O arcebispo de Manaus ainda acrescentou: “poderíamos viver como pessimistas, onde nada funciona, tudo é mau. Poderíamos fugir dos problemas, buscando como defender-nos da melhor maneira possível, uma espécie de pessimismo existencial: para que viver, para que sofrer. Assim entenderíamos a felicidade como tranquilidade, fugir dos problemas e conflitos, dos compromissos. Há uma fuga para a tranquilidade e não percebemos que as tensões fazem parte da vida e depende de cada um dar sentido às tenções e conflitos”. Frente a isso o cardeal Steiner disse: “Mas poderíamos entender e viver como pessoas que percebem a grandeza da vida como realização, maturação, plenitude de viver. Buscar sempre o melhor, perceber que a vida é inesgotável e pode chegar à plenitude. Entenderíamos a felicidade como crescimento, como transformação, como caminho. Na verdade, não entenderíamos a felicidade como busca, como conquista, mas nos sentirmos felizes por conviver, por servir, desenvolver-se, ser no amor!” Caminhar para a plenitude O presidente do Regional Norte 1 recordou que Teilhard de Chardin afirmava: um “homem feliz é aquele que sem buscar diretamente a felicidade, encontra inevitavelmente a alegria, como acréscimo, no próprio fato de ir caminhando para a sua plenitude, para a sua realização, para frente”, palavras recolhidas por José Antonio Pagola no livro “O caminho aberto por Jesus, Lucas”. “Sim em meio a todos os dissabores e desamores, caminhar, abrir veredas!”, enfatizou o cardeal Steiner. Citando o texto evangélico: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói”, ele fez um chamado a descobrir que “permanecer na cercania do cuidado e benevolência do Pai, é o convite de Jesus. O valor maior, quase único é a preciosidade do cuidado de Deus, do seu amor para conosco. Nenhuma coisa, objetos, substituem o amor de Deus por nós: esse é o tesouro que recebemos! O convite para desfazer-se dos bens e ter um tesouro, pois “onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Aquele tesouro que ninguém pode roubar, destruir, o tesouro que não se desfaz. Desfazer-se, despir-se, desvestir-se, como possibilidade de participar do tesouro do Reino, do amor de Deus”. De novo, citou o texto do evangelho do dia: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar.” Diante disso, ele disse que “o texto sagrado nos remete para o encontro com o inesperado esperado; o outro que conhecemos e que nos desperta para um encontro de expectativa, de desejo, de reencontro”. Ele recordou as palavras de Antoine de Saint-Exupéry, em “O Pequeno Príncipe”: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração…” Uma citação onde o cardeal vê o chamado a “estar na atenção, na espera do encontro com o amado, a amada”. Uma espera benevolente “A espera sem ânsia, a expectativa sem nervosismo! Uma espera benevolente, desejosa, mas não opressora; inquieta mas não nervosa. A imagem sugestiva do discípulo fiel que está sempre preparado, a qualquer hora e em qualquer circunstância, para acolher o Senhor que vem. Está na expectativa acolhedora e benevolente da vinda de seu Amor”, disse o arcebispo de Manaus. Segundo ele, “essa expectativa, essa espera pelo inesperado, pede ‘vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe’. Esse desprendimento, essa liberdade e liberalidade, essa cordialidade e gratuidade de viver, pede soltura, movimento de pássaros voadores, embelezamento dos lírios: despojamento, pobreza! No dar esmola manifestamos a nossa solidariedade, a nossa irmandade.” Ele citou os ensinamentos do místico Harada, H. em “Domingos com São Francisco de Assis, Ano C”: “Ser solidário com os pobres, promovê-los, significa que nós ‘ricos’, como indigentes do sentido mais profundo do homem, mendigamos da pobreza do pobre a riqueza da vida, para nos convertermos a um princípio mais radical e essencial do homem”. Movidos pela gratuidade “O modo de quem vende tudo, os pobres de espírito, dos misericordiosos, são movidos pela gratuidade. Longe de tornar o homem acomodado, alheio à terra dos homens e aos homens da terra, com suas lutas e labutas, faz dele um homem sempre operoso, fecundo, serviçal, útil, prestimoso para com os outros, especialmente os que estão mais à margem”, enfatizou o cardeal Steiner. Ele disse que é nesse sentido que poderíamos meditar as palavras de Jesus: “que os vossos rins estejam cingidos e…
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Jubileu dos Ministros Ordenados em Manaus: se colocar “a caminho para bem servir às comunidades”

Os ministros ordenados da arquidiocese de Manaus realizaram seu Jubileu no dia 9 de agosto. Uma oportunidade para vislumbrar “não apenas o sentido do nosso ministério, mas o dom da fé”, segundo o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner. Suas palavras deram início a uma celebração penitencial na comunidade São Francisco de Assis, área missionária Cidade de Deus, com a presença dos bispos, padres e diáconos. O caminho da misericórdia e da bondade Segundo o arcebispo, “é o fato de termos sido salvos e redimidos que vivemos a esperança. A esperança de que a redenção acontecida nos ilumina, nos fortalece, nos aquece e sempre de novo nos coloca a caminho. É o caminho da misericórdia e da bondade.”. Nessa perspectiva, a importância da celebração penitencial, pois “reconhecer a fraqueza é reconhecer o amor, reconhecer o amor é reconhecer a fraqueza, é reconhecer que fomos salvos e redimidos”, fazendo um chamado a buscar o perdão e a misericórdia. Juno com isso, que o Ano Santo “fortaleça nosso ministério, ajude a nos colocarmos cada vez mais a caminho para bem servir às comunidades e sermos anúncio do Reino novo, o Reino da Salvação”. A celebração penitencial foi ocasião para descobrir, segundo o cardeal Steiner, que “quem nos faz caminhar não é o pecado, a infidelidade, quem nos faz caminhar é a atração de Deus, o que nos faz caminhar é a atração de ter sido amados até a morte e morte de Cruz. O que nos faz caminhar é justamente podermos perceber a participar do Reino novo que foi restaurado na redenção de Jesus. O que nos faz caminhar é esse novo céu, essa nova terra”, proclamada pelo profeta Isaías. Um pedir perdão com o coração confiante e alegre, “porque recebemos a graça de reconhecer a fraqueza do pecado é a possibilidade de uma participação cada vez maior da redenção, da salvação, da misericórdia”, sublinhou o arcebispo. Esse momento penitencial foi seguido de uma pequena peregrinação, saindo da comunidade São Francisco de Assis até a comunidade São Benedito, onde aconteceu a celebração eucarística. Junto com os ministros ordenados caminhou o povo da área missionária Cidade de Deus. Um momento que recebeu o reconhecimento daqueles que em suas casas, nos comércios, se juntaram com esse momento jubilar dos ministros ordenados. Povo da periferia de Manaus que sente a presença e companhia dos ministros ordenados em seu cotidiano. Deixar-se tocar pela Palavra Na homilia, o cardeal Steiner disse que “tendo ouvido a Palavra, deixando se tocar pela Palavra, Jesus percebe agora qual é a sua missão”, que Ele assume. Essa missão é “cantar eternamente o amor do Pai, era espalhar, esparramar o amor do Pai, se cumprir o amor que Deus havia prometido.” Algo que se concretiza no envio para os pequenos, para os pobres, “é de novo despertar, é iluminar, é abrir olhos, mas especialmente envio para a liberdade. O amor da cruz é a liberdade”, enfatizou o arcebispo de Manaus. Isso porque “o único amor que realmente liberta e libertou toda a humanidade a cada um de nós, do qual vem o nosso ministério, seja diaconal, presbiteral, episcopal, é um amor à vida nova”. Aos ministros ordenados, o cardeal Steiner fez um chamado a se comprometer, a no amor de Deus “assumir ainda melhor o nosso ministério.” Para isso ele pediu que “a nossa participação da vida da Igreja, seja uma participação de disposição, de alegria”. Guiados pelo amor esperançoso Mesmo diante dos momentos difíceis na Igreja, na política, na sociedade, o cardeal disse que “sempre nos deixaremos guiar pelo amor esperançoso.” Junto com isso, ele pediu aos ministros ordenados “ajudar as pessoas a viverem o Evangelho, a remeter sempre de novo, não para as normas, não para o comportamento moral, mas para a alegria de sermos redimidos, termos sido salvos, termos sido inseridos no amor da Trindade, termos sido conquistados elo amor de verdade.” Uma dinâmica que ajude para que “esse nosso ministério possa sempre de novo apontar para essa realidade original, fontal. E nós vivemos o nosso ministério a partir dessa fonte, dessa graça, desse dom”. Isso fará com que os ministros ordenados possam servir com alegria às comunidades, “mas especialmente, ser uma pessoa profundamente realizada, porque tocado por um amor”, afirmou o arcebispo de Manaus. Ele pediu finalmente que “Deus nos dê a graça de vivermos com intensidade do nosso ministério, porque é o ministério da redenção, porque é o ministério da salvação, que assim possamos sempre de novo apontar para a fonte”.

80 anos de Hiroshima e Nagasaki: uma paz desarmada para superar o ódio das bombas

80 anos depois das bombas atómicas ter sido lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 06 e 09 de agosto de 1945, que provocaram mais de dos centos e dez mil mortos, somos chamados mais uma vez a refletir sobre a necessidade e a urgência da paz. A paz como princípio do novo pontífice Nos três primeiros meses de pontificado o Papa Leão XIV tem insistido na paz. Poderíamos dizer que esse é o tema mais destacado nos discursos e intervenções nos primeiros meses de pontificado. Já na primeira aparição diante da multidão na Praça de São Pedro, pouco depois de ser eleito pelo conclave como sucessor de Pedro, ele pediu “uma paz desarmada e que desarma”. As palavras de Leão XIV devem ser um chamado para refletirmos como humanidade. A polarização tem tomado conta da sociedade, especialmente no Brasil. Cada um usa suas armas para acabar com a convivência em paz, fomentando tudo o que gera divisão, enfrentamento. Os discursos de ódio, incentivados por grupos de poder político, religioso e econômico, estão cada vez mais presentes na sociedade, um fenômeno que encontra nas redes sociais um instrumento de difusão. Promover um clima de paz Em nível planetário, a ameaça nuclear continua presente, segundo mostra a mensagem que o Papa Leão XIV enviou ao arcebispo de Hiroshima, dom Alexis Mitsuru Shirahama. Ele, depois de manifestar seu “respeito e afeto pelos sobreviventes”, se referiu às duas cidades bombardeadas como “um recordatório vivo dos profundos horrores provocados pelas armas nucleares”. Diante disso, o chamado pontifício a “construir um mundo mais seguro e promover um clima de paz”. Cada um, cada uma de nós deveria se perguntar: eu promovo um clima de paz? Minhas palavras, atitudes, postagens, favorecem a paz ou promove o ódio? Gero enfrentamento através do meu comportamento, no meu modo de me relacionar com as pessoas, inclusive com aqueles que podem ser meus inimigos? A paz não se garante com as armas, cujo livre porte é um anseio para muitas pessoas. A paz se alcança quando as pessoas têm a coragem de não andar armados. Isso porque, segundo disse o Papa Francisco: “a guerra é sempre uma derrota para a humanidade”. E a guerra vai além do enfrentamento armado, ela é uma dinâmica instalada na cabeça de muita gente. Justiça, fraternidade, bem comum caminho da paz Papa Leão XIV faz um chamado a vem Hiroshima e Nagasaki como “símbolos de memória”, recordando as palavras de Papa Francisco. Diante disso, o pontífice reflete sobre a falsa segurança que nasce da destruição do outro. Ele defende a justiça, a fraternidade e o bem comum como caminho para a paz. Essas atitudes deveriam ser assumidas por cada um, cada uma de nós. Buscar a paz é algo a ser promovido entre as nações, em nível planetário, mas também entre as pessoas. Do mesmo modo que as bombas atómicas devastaram a vida de tantas pessoas, nossas palavras e atitudes também têm consequências semelhantes. Se faz necessário uma mudança em nosso modo de olhar para os outros, marcada pela justiça e a fraternidade. Só assim a destruição cessará e conseguiremos uma paz duradoura para a humanidade, mas também entre nós. Editorial Rádio Rio Mar

Atualização Teológica do Clero de Manaus: “Abordagem da Cristologia numa linguagem amazônica”

O clero da arquidiocese de Manaus realiza de 06 a 08 de agosto de 2025 seu encontro anual de atualização teológica, com a presença de mais de 70 participantes entre bispos, presbíteros, diáconos e seminaristas. O padre André Luiz Rodrigues da Silva, do clero da arquidiocese do Rio de Janeiro, doutor em Teologia e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), é a assessor desse tempo de formação. Ajuda nos processos de evangelização Um momento muito importante, segundo padre Matheus Marques, membro da equipe de coordenação da Pastoral Presbiteral da arquidiocese de Manaus. Ele considera que “para nossa Pastoral Presbiteral é muito importante que, como presbíteros, como diáconos da nossa Igreja de Manaus, nós possamos estar nesses dias atualizando a nossa Teologia, a nossa compreensão da pessoa de Jesus, que nos ajuda nos processos de evangelização.” Ele destacou que “a Teologia que a gente estuda nos ajuda a dinamizar ainda mais nosso processo evangelizador, a nossa pastoral”, motivo que levou a Pastoral Presbiteral a promover esse encontro. Diversos interesses com relação a Jesus Cristo A proposta do assessor é “fazer uma abordagem da Cristologia numa linguagem amazônica.” Para isso, ele “separou em primeiro lugar as fontes dos Evangelhos sobre Jesus Cristo, mostrando que tanto na Cruz quanto no Nascimento de Jesus, a gente tem várias percepções. O Evangelho não fala apenas de uma percepção, mas ele fala da visão cristã, fala da visão judaica e fala da visão pagã sobre Jesus Cristo. Jesus Cristo, ele interessa não apenas aos cristãos, aos católicos, mas Jesus é simbólico. Hoje é interessante para os não cristãos, os judeus, por exemplo, para as religiões orientais e no contexto amazônico a gente quer inspirar esse interesse, como que Jesus Cristo é interessante e ao mesmo tempo o contexto amazônico tem autoridade para falar de Jesus”. Ao longo do encontro, o padre André Luiz Rodrigues da Silva, vai falar sobre o Antigo Testamento e o Novo Testamento, as principais características da Cristologia baseada nas Escrituras.” Com relação ao Antigo Testamento ele disse querer voltar para “a ideia do Paraíso, porque o contexto amazônico tem essa linguagem muito próxima: a Árvore da Vida, o rio que surgia do trono, os quatro rios que vão para todos os lugares da Terra.” Uma realidade que mostra, segundo o doutor em Teologia, “a importância da Amazônia para todo mundo, a Amazônia é um berço de salvação para todo mundo, isso é mais do que constatado aqui, e várias outras linguagens próximas do texto do paraíso, do Éden, que podem ser aplicados à ecoteologia”. Outra temática a ser abordada é a questão moral, “falando sobre a salvação para quem é batizado e para quem não é batizado, como no contexto missionário a gente deve olhar para isso”, disse o assessor, tendo como referência a Redemptoris Missio, de São João Paulo II. A partir daí, “como manter a missão em um contexto amazônico, diante da perspectiva da verdade de fé sobre a salvação universal”, buscando que isso ajude no trabalho pastoral dos participantes. 1700 anos do Concílio de Niceia O Concílio de Niceia, que está completado 1700 anos também faz parte da programação, abordando a dicotomia entre a humanidade e a divindade de Jesus. Ele destaca a questão apresentada em Niceia, o relacionamento entre o Pai e o Filho, mostrando as heresias posteriores, especialmente o arianismo. “Ario acreditava que Jesus fosse apenas uma criatura, um anjo poderoso de Deus, mas uma criatura responsável por toda a Criação, porque Deus não pode tocar a Criação. Deus na sua onipotência, na sua onisciência, Ele não pode se contaminar ao mexer com o barro da Criação”, explicou o professor da PUC Rio. Diante disso, o Concílio de Niceia defende que “Cristo é verdadeiramente Deus, verdadeiramente homem”. Isso hoje nos diz que “Ele não se contamina quando Ele toca o barro, Ele não se contamina quando toca as nossas vidas, quando vem e se aproxima de cada um de nós. Esse Deus Todo-Poderoso, ele permanece o que é na sua divindade, na sua humanidade, sem que veja em nós o motivo de contaminação”, disse o assessor. Ele falou sobre a tentativa de “ver o irmão como a possibilidade de que algum mal vai chegar até nós”. Encarnação como fundamento da Igreja Para a Igreja da Amazônia, que em Santarém 1972 insiste na encarnação como fundamento da Igreja, se faz necessário entender que em Jesus “a humanidade e a divindade se unem. O mistério da encarnação, então, ele é vivido no corpo de Cristo, que é a Igreja. Então a dimensão eclesial, a espiritualidade da encarnação na igreja, ela precisa ser vivida de acordo com Cristo cabeça.” Para isso, o padre André Luiz Rodrigues da Silva defende que “a gente não deve perguntar na Igreja quem é membro superior e membro inferior. A gente não deve se perguntar na “Igreja quem é membro santo e membro impuro. A gente não deve se perguntar na Igreja quem é cabrito, quem é ovelha”. “Se um dia no julgamento, em algum momento da vida isso for importante, as Sagradas Escrituras não disseram que isso dependeria de nós. Mas a gente deve sim abraçar a todos como uma única Igreja. Tanto aqueles que estão dentro da Igreja, quanto aqueles que estão fora da Igreja, vistos como um único corpo em Cristo”, enfatizou o assessor. Ele defende que com todo ser humano, independentemente de sua crença, “existe alguma coisa que nos une. E essa única coisa que nos une é Cristo e a Igreja”, segundo aparece em Dominus Iesus. É por isso que “se ele encontrar um caminho de salvação, esse caminho é único, tanto no corpo de Cristo, que é Cristo, quanto no corpo de Cristo, que é a igreja, porque só há um corpo de Cristo”, concluiu.