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Relação entre a Igreja local e a universal: um elemento que sustenta a sinodalidade

Os fóruns teológico-pastorais, uma novidade da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, retomaram suas atividades na quarta-feira. Nessa ocasião, eles abordaram o tema do Exercício do Primado e o Sínodo dos Bispos, e a Relação mútua entre a Igreja local e a Igreja universal. Igreja relacional e, portanto, sinodal “A Igreja é constitutivamente relacional e, portanto, sinodal”, disse Miguel de Salis Amaral, citando as palavras do Papa Francisco na abertura da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal. Nesse sentido, disse que “as relações alimentam e sustentam a sinodalidade”, afirmando que “a relação entre a Igreja local e a Igreja universal é uma relação que é o fundamento da sinodalidade”. A partir daí, ele quis convidar um olhar de fé para essa relação, apontando para o Mistério, buscando oferecer ajuda no discernimento para se tornar uma Igreja sinodal e missionária. A partir daí, refletiu sobre o núcleo teórico do Mistério e sua concretização dinâmica, afirmando, com o Vaticano II, que a Igreja local é uma parte da Igreja universal, na qual o todo está presente e em ação, a riqueza de todos os dons sacramentais e carismáticos está presente. A Igreja local e a universal estão relacionadas, não são alternativas, dando origem a várias instituições em vista da missão, diversas com várias formulações jurídicas. O cristão pertence à Igreja local e universal e, portanto, está sempre em casa, disse ele. Em suas palavras, destacou a Eucaristia e o episcopado como expressões da catolicidade, da comunhão entre a Igreja local e a universal, sendo a Igreja universal um corpo de igrejas, ressaltando a importância da pluralidade de lugares. “A sinodalidade nos orienta para uma compreensão da relação entre a Igreja local e a universal, e nos leva a ver a Igreja universal como uma concretização visível das diversidades”, ressaltou. Algo que se concretiza de diferentes maneiras, com diferentes sotaques, de modo a enriquecer a todos e favorecer o discernimento sinodal, enriquecendo a missão evangelizadora. A vida missionária sinodal é vivida na Igreja local Para Antonio Autierio, esse tema está presente em muitas partes do Istrumentum Laboris, especialmente no Módulo Lugares. A partir daí, ele enfatizou a igreja local como o lugar onde a vida sinodal missionária é experimentada. Em sua opinião, há dois caminhos para o relacionamento entre a Igreja local e a universal, um com uma visão hierárquica e piramidal, destacando a Igreja universal, e o outro baseado no Povo de Deus como fonte de unidade. De um ponto de vista prático, como teólogo moral, ele se referiu às ações da Igreja, refletindo sobre o exercício da autoridade na Igreja local, enfatizando a importância do contexto na compreensão da relação entre fé e moral, uma vez que esta é influenciada pela cultura do povo. A antropologia e as condições sociais não podem ser deixadas de lado, considerando a necessidade de reconhecer a autoridade de ensino de todos os crentes, inspirados por Karl Rahner, para tornar as Boas Novas do Evangelho uma fonte de vida para todos, defendendo um modelo experimental de expressão da doutrina. Conselhos pastorais e concílios provinciais Miriam Wijlens falou sobre os conselhos pastorais, em vários níveis, e os concílios provinciais, que o Povo de Deus vê como necessários, como verdadeiros veículos da Igreja sinodal para viver a responsabilidade batismal, tornando a Igreja inclusiva, responsável, transparente e ecumenicamente acolhedora. Nessa perspectiva, destacou alguns elementos: o método de seleção dos membros, que sejam eleitos e não nomeados, com diversidade de presenças, abertos a todos, com membros com disposição missionária, ecumênica, com uma agenda em que os membros possam apresentar pontos em vista da corresponsabilidade. Para que esses órgãos tenham impacto, ela defende a obrigação de ouvi-los, de que todos tenham todas as informações e de que as pessoas consultadas possam se expressar livremente. Isso se estende ao trabalho comum entre as igrejas vizinhas, com a participação de todo o povo de Deus, não apenas dos bispos, dos organismos da Igreja, onde todos os participantes têm voto deliberativo, explicando quem deve ser convidado e qual deve ser sua tarefa. Finalmente, ela se referiu à tomada de decisões, cujo modo vem mudando para responder a várias necessidades, desafios e possibilidades, um processo de transformação que deve estar presente em uma Igreja sinodal. Igreja local e Igreja universal como uma só Finalmente, o prefeito do Dicastério dos Bispos, Cardeal Robert Prevost, recordou que Santo Agostinho afirmou que a Igreja local e a Igreja universal são únicas, com o objetivo de proclamar o Evangelho. O prefeito recordou o curso para novos bispos do qual participou, onde os bispos foram chamados a olhar além dos limites de suas dioceses e a entender o que significa fazer parte da Igreja Católica, da Igreja universal, da importância de crescer em um profundo sentido de comunhão, algo que deve ser promovido diante de tantas situações de sofrimento. O prefeito do Dicastério para os Bispos delineou como os bispos são nomeados, referindo-se novamente ao curso para novos bispos, que representa uma experiência da natureza universal da Igreja, vislumbrada no fato do encontro e do diálogo com bispos de todas as partes do mundo, cada um enfrentando seus próprios desafios e obstáculos. “A unidade é criada na diversidade, mas precisamos fortalecer esses laços de comunhão”, enfatizou Prevost, algo que ele vê nos círculos menores, onde há uma compreensão do que significa fazer parte da Igreja universal. “Em cada Igreja local há a Igreja universal, mas nenhuma Igreja local representa toda a essência da Igreja universal”, ressaltou o prefeito. Para o Cardeal Prevost, “a perseverança na oração é um dever primordial para fortalecer a solidariedade”. Em suas palavras, ele analisou várias realidades que buscam criar vínculos entre as igrejas locais, sempre com o objetivo de anunciar o Evangelho em todo o mundo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Aguiar: “Enfrentemos com esperança aqueles que criticam e dificultam a implementação da vida sinodal em nossas comunidades”

A celebração eucarística no Altar da Cátedra, na Basílica de São Pedro, onde estiveram presentes os participantes da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, constituiu mais um passo no desenvolvimento das atividades, marcadas nestes dias pela reflexão sobre os Lugares. A desordem egoísta causa más ações A missa foi presidida por um dos presidentes delegados do Sínodo, o Arcebispo da Cidade do México, Cardeal Carlos Aguiar. Em sua homilia, começou recordando o conselho de São Paulo aos Gálatas, a quem disse que “a desordem egoísta do homem é a causa das más ações”. Diante dessa realidade, questionou como superar essa tendência, ao que respondeu que isso se consegue “aprendendo a deixar-se guiar pelo Espírito Santo; para o que o caminho é conhecer Jesus Cristo, e assumir como bom discípulo, seu testemunho de vida e seus ensinamentos”. De acordo com o cardeal mexicano, “dessa forma obteremos os frutos do Espírito Santo: amor, alegria, paz, generosidade, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e autocontrole”. Nesse caminho, continuou, “sem dúvida, ganharemos, como Jesus expressa no Evangelho, a liberdade de intervir e corrigir aqueles que são desviados, mal orientados ou pretensiosos, que se apresentam como modelos para os outros ou que exigem encargos que não cumprem”. Comprometidos com a vivência e a promoção da sinodalidade Para Aguiar, “é oportuno, diante desta Palavra de Deus, fortalecer nossa confiança na ajuda divina para enfrentar com esperança as diferentes presenças e comportamentos que, dentro e fora da Igreja, criticam e dificultam a aplicação da vida sinodal em nossas comunidades eclesiais”. Uma dinâmica que deve nos levar a nos perguntar “até que ponto estamos comprometidos em viver e promover a sinodalidade em nossas próprias áreas de responsabilidade eclesial e social”. Isso é influenciado por “nossas expectativas condicionadas por nossos próprios contextos sociais e eclesiais”. Em vista disso, ele convidou a “lembrar em nossa oração habitual que certamente não nos faltará a assistência do Espírito Santo para promover nossas tarefas específicas, no caminho e na prática sinodal”. E, juntamente com isso, agir com coerência, pois assim “obteremos os frutos do Espírito Santo, percebendo, por meio de nossa realização, a intervenção divina, que muitas vezes nos surpreenderá, alcançando muito mais do que humanamente esperávamos”. Incentivar para que ninguém desanime ao longo do caminho “Essa experiência espiritual de ver a assistência divina em nossas responsabilidades diárias nos permitirá reconhecer os benefícios do Espírito Santo nos outros e encorajar os membros de nossas comunidades para que, diante das dificuldades habituais, como bons discípulos, não desanimem ao longo do caminho”, enfatizou o arcebispo da Cidade do México. Uma ação com a qual “ganharemos a liberdade espiritual para intervir por meio da correção fraterna, solidária e sincera de nossos vizinhos que precisam de ajuda”, com a qual “nos desenvolveremos como pessoas confiantes no Senhor Jesus, que sabem como não se deixar guiar por critérios mundanos, e seremos felizes, não duvidemos, como uma árvore plantada junto ao rio da graça, que dá frutos em seu tempo e nunca murcha”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Sínodo discute a substituição das conferências episcopais por estruturas sinodais

O papel dos teólogos ganhou importância na Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade. Alguns deles, como o coordenador desse grupo, Dario Vitale, o canonista espanhol José San José Prisco, a teóloga romena Klára Antonia Csiszar e o teólogo australiano Ormond Rush, compartilharam suas reflexões na coletiva de imprensa de 16 de outubro. Papel das Conferências Episcopais Sobre o que foi desenvolvido na Sala Sinodal, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, destacou que na Igreja, desde o início, sempre houve uma relação estreita com o território. Ele também refletiu sobre o mundo digital e seus perigos, a necessidade de as paróquias serem lugares de encontro, a necessidade de ser criativo para fortalecer a presença da Igreja em mais áreas, algumas questões relacionadas às conferências episcopais, também em nível continental, o compromisso de preservar a unidade da Igreja, o ministério do Papa a serviço da unidade e a descoberta do interior do coração humano como o primeiro lugar. Esses elementos também estiveram presentes nas palavras da secretária da Comissão de Comunicação, Sheila Pires. Ao falar sobre a unidade da Igreja, a assembleia discutiu a atribuição de competências doutrinárias às conferências episcopais e o perigo de fragmentação da Igreja. Da mesma forma, a necessidade de a Igreja ser um testemunho de evangelização para a cultura, refletindo sobre a diferença entre o depósito e a formulação da fé. A Assembleia Sinodal falou sobre a possibilidade de substituir as conferências episcopais por outras estruturas sinodais. Ele também relatou a insistência em considerar cada lugar como uma terra de missão e a importância de se coordenar com Roma antes de tomar decisões. Por fim, Pires enfatizou a importância das pequenas comunidades de base, “que podem contribuir para tornar a paróquia mais viva e dinâmica”, e a necessidade de se adaptar às mudanças culturais e digitais. Um texto para vislumbrar caminhos Para o coordenador dos teólogos, o trabalho deles no atual sínodo é diferente do de outros sínodos. Dario Vitali destacou o fato de os teólogos terem se envolvido em todas as fases do processo e a importância dos grupos linguísticos, onde são captadas as orientações e os consensos para discernir, buscando convergências e pontos que geram mais debate. Para o teólogo italiano, o elemento decisivo é o consenso, que é alcançado ouvindo o Espírito depois de ouvir os outros. A partir daí, se buscará um texto coerente que nos ajude a vislumbrar o caminho a seguir pela Igreja. Caminho comum de canonistas e teólogos José San José Prisco destacou o trabalho conjunto entre canonistas e teólogos, algo que não era normal há muito tempo, dado o caminho paralelo entre a Teologia e o Direito Canônico ao longo da história. O canonista espanhol destacou a necessidade mútua, pois “os canonistas se dedicam a compreender melhor a norma canônica e sua possível aplicação ou mudança para o momento atual”. Nesse sentido, sua tarefa é acompanhar os pedidos do Sínodo para possíveis mudanças em relação à legislação, para descobrir entre os pedidos as possibilidades de mudança que poderiam melhorar a legislação atual, uma função que é muito complementar à dos teólogos. Um par de óculos para vislumbrar o que Deus pede de nós Reconhecendo a participação no Sínodo como um espaço para o aprendizado conjunto, Klara Antonia Csiszár reconheceu que se abriu um espaço para a teologia no Sínodo, no qual eles querem fazer uma contribuição no estilo sinodal. Os temas dos fóruns são vistos pela teóloga romena como uma orientação diante dos obstáculos. Destacou que se percebe um certo cansaço, desafiando o que chamou de melodia básica, a teologia do Povo de Deus, que deve ser percebido como sujeito da missão. Nessa perspectiva, refletiu sobre o papel dos bispos na Igreja sinodal e na primazia papal, bem como sobre o desafio de fazer da sinodalidade uma prática cotidiana. Para esse fim, ela nos convidou a “colocar novos óculos para pedir um vislumbre do que Deus está pedindo de nós“. Junto com isso, o papel dos teólogos é “fazer a nossa parte para ajudar o nascimento de uma Igreja sinodal”. Aplicar o Evangelho no tempo e no espaço de hoje Esse Sínodo nos leva a entrar em um processo que faz parte da tradição viva da Igreja, ouvindo a fé viva do povo de Deus, enfatizou Ormond Rush. O papel do teólogo é ajudar as comunidades cristãs a interpretar e aplicar o Evangelho no tempo e no espaço, para levar o Evangelho a todos, algo revelado por Jesus, afirmando que o Espírito Santo nos conduzirá ao futuro. O teólogo australiano enfatizou a importância de ouvir o sensus fidei a fim de chegar a um acordo, para ver como a figura de Jesus ainda é relevante hoje. Com esse objetivo, a teologia constrói pontes, vendo o Vaticano II como um instrumento para ver a história de uma maneira diferente. Nesse sentido, Rush lembrou que as perspectivas mudam ao longo da história da Igreja, o que torna necessário entender os sinais dos tempos, que podem fornecer uma nova visão de Deus. Novas respostas são necessárias, porque as respostas antigas impedem a Igreja de proclamar de uma forma que a mensagem possa ser compreendida, de uma forma que seja empática e misericordiosa. Nesse caminho, os teólogos são chamados a ajudar a Igreja a seguir a Tradição, um papel que estão desempenhando no atual processo sinodal. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Assembleia Sinodal vislumbra lugares de pouso

Há quase um ano, em 20 de outubro de 2023, durante a Primeira Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, escrevi que “se o Sínodo não for concreto, não aterrissar, corre o risco de cair“. Houve aqueles que não entenderam o texto, mas eu gostaria de pensar que eles só ficaram manchete, que eles leram o texto, para não pensar que não tiveram a capacidade de entender o conteúdo. As mulheres conduzem ao concreto Um ano depois, já na segunda metade de um play-off de ida e volta, usando parâmetros futebolísticos, podemos dizer que a Assembleia Sinodal, em sua Segunda Sessão, está encontrando lugares, pistas de pouso. É um sentimento que se percebe ao conversar com os membros da Assembleia, especialmente neste módulo sobre lugares. Uma das mulheres membros da Assembleia me fez perceber seu papel decisivo para conseguir aterrissar, quando ela disse que “os homens geralmente ficam divagando, nós somos mais práticas, mais concretas“. Não estou voltando atrás na afirmação que fiz há alguns dias, quando disse que, em uma Igreja sinodal, o modo é superior ao conteúdo. Na realidade, a primeira grande pista de pouso é o próprio modo, pouco a pouco estamos aprendendo a colocar o avião no chão, embora fosse mais apropriado dizer o barco de Pedro, e falar em trazê-lo ao porto. Há um ano, questionei o fato de o avião estar voando constantemente, mas agora podemos dizer que, na Igreja, o tempo pertence a Deus, e é Ele quem controla o cronômetro, fazendo do chronos um Kairos, um tempo do Espírito. Escutar a voz do Espírito tem sido um bom plano de voo, que corajosamente traçou a rota a ser seguida, superando as turbulências, muitas delas criadas artificialmente por aqueles que insistem que o avião vai cair, que o barco de Francisco, que hoje dirige com maestria aquele em que Pedro já esteve ao leme, vai afundar. Destreza para pousar em cada contexto e cultura Também não podemos esquecer que nem todas as pistas são iguais; algumas exigem grande destreza por parte do piloto. Essas pistas têm a ver com contexto e cultura, lembrando que “a experiência do pluralismo das culturas e da fecundidade do encontro e do diálogo entre elas é uma condição da vida da Igreja, não uma ameaça à sua catolicidade”, como nos diz o Instrumentum Laboris para a Segunda Sessão da Assembleia. As pistas em que a sinodalidade deve aterrissar são as Igrejas locais, que, é verdade, fazem parte de uma Igreja que é católica, una e única, mas que têm suas especificidades. Um contraponto entre unidade e diversidade, guiado pelo Bispo de Roma, para assumir que juntos somos mais e que a diversidade só enriquece quando a unidade é o nosso foco, o que faz com que o plano de voo nos leve a alcançar o objetivo concreto, a pista de pouso. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner não vê dificuldade para a ordenação de diaconisas e homens casados em algumas realidades

O arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, se fez presente nesta-terça feira, 15 de outubro, na Sala Stampa vaticana, respondendo a diversas questões. Dentre elas a situação climática na Amazônia, o papel das mulheres e a possível ordenação de diaconisas e de homens casados, e como na Igreja de Manaus e da Amazônia se vive a sinodalidade. A sinodalidade tem a ver com o meio ambiente Diante da situação climática que vive a Amazônia, castigada por segundo ano com uma seca extrema, o arcebispo de Manaus disse que “a sinodalidade tem a ver com o meio ambiente”. Reconhecendo que isso não está sendo abordado na Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, ele disse que “se olharmos a Querida Amazônia, o Papa Francisco nos dá uma hermenêutica da totalidade que é tremendamente sinodal. A cultura, as questões sociais, as questões ambientais e a vida eclesial. Isso tudo forma uma totalidade hermenêutica”. Nesse sentido, sublinhou o cardeal, “é que nós abordamos a questão de meio ambiente em nossa arquidiocese de Manaus, mas também nas outras dioceses que compõem nosso Regional Norte1”. Ele denunciou o momento dramático que a Amazônia vive, detalhando algumas situações ao respeito, dificultando o acesso às comunidades e o trabalho pastoral nelas. Uma situação climática que atinge outras regiões do Brasil, e que segundo o membro da Assembleia Sinodal, vive uma dramatizada provocada pelo desmatamento, “essa agressão ao meio ambiente na Amazônia, através do garimpo, a poluição das águas pelo mercúrio do garimpo, a pesca predatória”. “Tudo isso faz com que nós como Igreja temos a obrigação de ir ao encontro das comunidades, mas despertar a sociedade da nossa região para as questões climáticas para as questões do meio ambiente”, afirmou. O arcebispo disse que a Igreja de Manaus está levando mantimentos e água para as comunidades, quase uma contradição numa região com tanta água, que hoje não é mais potável. As mulheres na Igreja da Amazônia O papel das mulheres na Amazônia é fundamental, sublinhou o cardeal Steiner. Numa região onde as comunidades viveram por mais de 100 anos sem a presença do presbítero, “e as comunidades continuaram vivas, rezando, celebrando e tendo seus modos de oração”, enfatizou. Nesse sentido, ele disse que “as mulheres levaram adiante as comunidades e hoje estão levando a frente as nossas comunidades”, lembrando os ministérios que recebam as mulheres na arquidiocese de Manaus, da Eucaristia, da Palavra, dirigentes de comunidades, sendo proposto atualmente para as comunidades mais distantes que possam celebrar o Batismo. “Várias das nossas mulheres são verdadeiras diaconisas, sem terem recebido a imposição das mãos. E essas diaconisas, nós gostaríamos de chamá-las diaconisas, mas para não dar confusão com o ministério ordenado, nós ainda não achamos uma palavra condizente”, afirmou o arcebispo de Manaus. Ele enfatizou: “é admirável, admirável, o quanto as mulheres são responsáveis pela nossa Igreja, é admirável”. O cardeal prosseguiu, “quantas delas estão à frente das comunidades, são dirigentes da Palavra de Deus, reúnem as comunidades para um momento de oração”, lembrando a presença feminina em algumas pastorais. Um trabalho que levou o cardeal a dizer que “a nossa Igreja, não seria a Igreja que é sem a presença das mulheres”. Sobre a ordenação de diaconisas, o arcebispo de Manaus lembrou a existência de uma comissão que estuda essa questão historicamente. Ele questionou que “se nós vemos que isso historicamente já foi presente na Igreja, por que não restaurar o diaconato feminino ordenado se já houve na história da Igreja assim como se fez depois do Concílio em restaurar o diaconato permanente para os homens”. Ele insistiu em que “essas questões não deveríamos deixar de refletir, aprofundar, não deixarmos de recordar o papel fundamental, a missão fundamental da mulher na Igreja”. Lembrando as palavras de uma mulher em seu grupo, ele disse que “não vamos criar uma questão de género, é simplesmente uma questão de vocação na Igreja, a vocação da mulher dentro da Igreja, na Igreja, nas nossas comunidades”. Do Sínodo da Amazônia ao Sínodo da Sinodalidade O arcebispo de Manaus refletiu sobre a realidade da arquidiocese, marcada pela presença indígena, dos migrantes, com comunidades indígenas que têm um modo diferente de se estruturar, uma realidade a ter em conta. Falando sobre a continuidade entre o Sínodo para a Amazônia e o atual, ele disse que “o Sínodo da Amazônia abriu a possibilidade de termos um Sínodo da Sinodalidade”, destacando a participação de mais de 80 mil pessoas na preparação do Sínodo para a Amazônia, algo muito significativo, “um caminho que se foi fazendo”. Segundo o cardeal, “a Sinodalidade é um caminho sem retorno”, pois “todos nós estamos entrando dentro de um movimento de ser Igreja, estamos sendo convidados a participar de um modo de ser Igreja aonde cada um que recebeu a graça do batismo e da crisma, foi revestido do Espírito Santo e de Jesus, se sintam responsáveis pela missão”. Na Assembleia Sinodal, o cardeal disse estar querendo partilhar a experiência da participação de todos, uma riqueza enorme que nós temos”, lembrando que essa caminhada está presente há mais de 50 anos na Amazônia. Uma prática presente na arquidiocese de Manaus, onde mais de mil comunidades são consultadas para ver como ser mais Igreja missionária. Uma Igreja onde “os leigos vibram em puderem ser missionários e missionárias”. Possibilidade de ordenar homens casados em algumas realidades Sobre a ordenação de homens casados, ele disse que na arquidiocese de Manaus são mais de mil comunidades e 172 presbíteros, questionando como atender as comunidades, algo que disse lhe preocupar, pois não se consegue acompanhar a vida sacramental das comunidades. Depois de afirmar que o Santo Padre não fechou a questão, ele enfatizou que “para determinadas realidades não seria uma dificuldade admitir homens casados à ordenação”, reconhecendo que “para outras realidades na Igreja, é uma grande dificuldade”. Nesse sentido disse que a atitude do Santo Padre de não dar esse passo seja uma questão de garantir a comunhão. Ele pediu continuar dialogando, olhando a comunidade, que é o motivo da existência da Igreja.    Luis Miguel Modino, assessor…
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“Na pobreza, no quase nada, existe uma fraternidade profundamente evangélica”, diz cardeal Steiner após funeral de morador de rua

A Praça de São Pedro perdeu o anjo que indicava o caminho no mês de agosto. Assim era conhecido José Carlos de Sousa, o morador de rua brasileiro que foi sepultado em Roma nesta terça-feira, 15 de outubro, depois de não ter sido localizados seus familiares e respeitar os trâmites burocráticos que exigem dois messes de espera. Aos voluntários que lhe atendiam, ele só pedia cadernos para escrever poemas, sua grande paixão. Outro sonho era visitar Jerusalém, mas como disse na Sala Stampa o prefeito do Dicastério para a Comunicação, ele já está disfrutando da Jerusalém celestial. Os moradores de rua presentes O funeral, celebrado na Igreja de Santa Mónica, ao lado da Praça de São Pedro, onde ele viveu durante anos, foi presidido pelo esmoleiro pontifício, o cardeal Krajewski, e pelo arcebispo de Manaus, o cardeal Steiner, que quando ficou sabendo pelo cardeal polonês sobre o funeral do brasileiro, ele pediu para poder acompanhá-lo, ainda mais depois dele conhecer como o brasileiro falecido vivia. O cardeal Steiner definiu o funeral como “um momento muito privilegiado, mesmo porque eu percebi que na celebração estavam os companheiros e as companheiras dele”. O arcebispo de Manaus disse que “quando o caixão foi colocado no carro fúnebre, cada um deles colocou junto uma flor. Nós não colocamos, mas os companheiros colocaram. Isso nos emociona, nos toca”. Diante disso, o cardeal Steiner disse que “na pobreza, no quase nada, existe uma fraternidade profundamente evangélica”, reafirmando o privilégio de poder participar desse momento profundamente celebrativo, “porque foi um sinal de que o Reino de Deus, a vida de Deus está presente onde muitas vezes nós achamos que não está”. A vida de Deus floresce também na morte “A vida de Deus floresce também na morte. Quem acabou tendo mais vida fomos nós que lá estávamos”, disse o cardeal. Ele lembrou que “em Manaus, nós também gostamos muito de estar quando nós enterramos um dos nossos irmãos e irmãs que vivem nas nossas ruas. Nós não só gostamos, queremos estar juntos nesse momento”, destacando que os que estão na rua também estão juntos. “Na rua, em todos os lugares, eu não falo, eu só olho, escuto, lembro, escrevo, porque não quero estar sozinho no mundo”, são palavras de uma das poesias de José Carlos, lidas no final da coletiva de imprensa deste 15 de outubro pela vice-diretora da Sala Stampa vaticana, Cristiane Murray. Algo que sem dúvida nos leva a pensar. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 – Fotos: Vatican Média

Cardeal Steiner A Assembleia Sinodal “nos ajuda a acreditar cada vez mais na forma sinodal de nossa Igreja”

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade iniciou nesta terça-feira a reflexão sobre o último módulo, o dos Lugares. Como de costume, os jornalistas conheceram os passos dados nas últimas horas, um resumo que é relatado pela secretária da Comissão de Comunicação do Sínodo, Sheila Pires, e pelo prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini. Destaques do dia Sheila Pires fez um breve relato dos principais pontos da meditação de Madre Maria Inazia Angelini e da apresentação do Módulo dos Lugares feita pelo Cardeal Hollerich. Paolo Ruffini, por sua vez, referiu-se ao trabalho realizado nos círculos menores, lembrando que o Cardeal Krajewski e o Cardeal Steiner participaram na manhã desta terça-feira da celebração do funeral de um sem-teto brasileiro, que morreu sob a colunata da Praça de São Pedro, conhecido como o anjo, que dava indicações aos turistas e não pedia dinheiro, mas cadernos para escrever poemas. Seu sonho, lembrou o prefeito, era ir a Jerusalém e agora ele está na Jerusalém celestial. Entre as reflexões na Sala Sinodal, ele destacou o tema dos lugares físicos e digitais, as discussões sobre como viver de forma dinâmica nas grandes cidades. Oração, retiro e conversas Na ocasião, os convidados foram o Arcebispo de Manaus, Cardeal Leonardo Steiner, o Arcebispo de Turim, que será criado Cardeal no consistório do dia 7 de dezembro, Dom Roberto Repole, e a Irmã Nirmala Alex Nazareth, Superiora Geral das Irmãs do Carmelo Apostólico. A religiosa expressou sua alegria em participar do Sínodo, ressaltando que há grandes diferenças entre a Primeira Sessão da Assembleia e esta Segunda Sessão. Para ela, são importantes a oração, o retiro e as conversas em torno das mesas, que “nos mostraram uma enorme riqueza em relação à diversidade”, algo presente na Índia. As reflexões têm se tornado cada vez mais interessantes, disse ela, questionando como os participantes se colocarão na Igreja e na sociedade quando voltarem para casa. Ela lembrou as palavras de Madre Teresa de Calcutá, que fala sobre encontrar a graça de Deus e seguir Seu caminho de discernimento. Isso porque “o Senhor tem um plano para cada um de nós”, já que as coisas não são como queremos que sejam. Olhando para o futuro, ela expressou suas esperanças, pois esse caminho não pode nos levar para trás, “nós iremos adiante se formos capazes de guiar nossas comunidades”, sua congregação no caso dela. Finalmente, ela destacou a importância da “oração pessoal para entender o convite de Deus para mim nessa jornada sinodal”. Uma experiencia riquíssima de ser Igreja “A experiencia do Sínodo é uma experiencia riquíssima de ser Igreja”, afirmou o cardeal Steiner, que agradeceu ao Papa Francisco por “ter nos induzido nesse caminho, o caminho da sinodalidade”. O arcebispo de Manaus ressaltou que na Segunda Sessão ele participa de grupos de língua italiana, com uma grande diversidade de culturas, um grande enriquecimento, que “abre o horizonte de compreensão da sinodalidade”. “Vamos percebendo cada vez mais que sinodalidade é um modo de ser Igreja para anunciar juntos o Reino de Deus, o evangelho, Jesus crucificado e ressuscitado, a plenitude do Reino de Deus. Esse modo, devagar vai sendo construído, porque sinodalidade é um caminho, um colocar-se a caminho, um pôr-se a caminho, e é o que estamos experimentando no Sínodo. Depois do Sínodo é que continuaremos esses processos nas nossas comunidades, nas nossas dioceses”, sublinhou o cardeal Steiner. Reconhecendo que várias Igrejas já estão no caminho da sinodalidade, o arcebispo de Manaus disse que “o Sínodo está abrindo o leque de compreensão para sermos cada vez mais uma Igreja sinodal”. Ele destacou a rica participação do laicato na região amazônica, sobretudo das mulheres, sua liderança nas comunidades, o fato de ser realizadas as assembleias, com participação de todos, se fala livremente, se discute livremente, se reza juntos, mas também se decide juntos as linhas pastorais”, destacou. A experiencia feita na Assembleia, “nos ajuda a acreditar cada vez mais no jeito de ser sinodal da nossa Igreja”. Igualmente destacou que a sinodalidade nos chama a uma maior abertura com relação à interculturalidade e à inter religiosidade, para que o evangelho seja cada vez mais inculturado, algo pedido pelo Papa Francisco em Querida Amazônia. Finalmente, falando sobre o Módulo dos Lugares, destacou elementos muito interessantes: “qual é o lugar da conferência episcopal, qual é o lugar dos pobres, qual é o lugar dos migrantes”, o que ajuda a aprofundar nos lugares, “que não são apenas os lugares já definidos, mas os lugares onde devagarinho vamos experimentando o Reino de Deus, mas também recebendo elementos qe nos ajudem a viver cada vez mais o Evangelho, o Reino de Deus”. Oportunidade para compreender a catolicidade da Igreja Dom Repole iniciou seu discurso recordando a arquidiocese de Turim, mostrando o que está vivenciando em sua Igreja local, em uma fase singular, retomando com mais entusiasmo o anúncio do Evangelho na cultura atual. Nessa perspectiva, ressaltou a importância de preservar todos os carismas que fazem parte da Igreja de Turim. A participação no Sínodo foi considerada por ele uma graça, identificando o que experimentou em Turim e no Sínodo. Destacou a conversa espiritual como algo que leva a buscar a voz do Espírito através da voz do irmão e da irmã. Daí a importância de momentos de silêncio e reflexão para relançar a conversa no Espírito. O cardeal recém-nomeado se referiu à maior familiaridade com os outros membros neste ano, vendo isso como um exercício de sinodalidade na prática; na Assembleia Sinodal, a sinodalidade é vivida, descobrindo que o Espírito pode falar através do outro. Da mesma forma, a Assembleia é uma oportunidade para compreender a catolicidade da Igreja, a riqueza de ver que a Igreja é verdadeiramente católica, que respira com todas as culturas e oferece o Evangelho a todas as culturas. Junto com isso, a importância dos fóruns teológicos pastorais organizados este ano, que nos mostram que a sinodalidade tem a ver com uma maneira de viver juntos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Na Igreja sinodal, o Evangelho foge de toda estática

A Igreja sinodal, para realizar sua missão, precisa estar enraizada “em um lugar concreto, em um contexto, em uma cultura”, advertiu Maria Inázia Angelini aos participantes da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Aula Paulo VI do Vaticano de 2 a 27 de outubro de 2024. Evitando toda estática Na meditação que precedeu o início da reflexão sobre o Módulo dos Lugares, a monja beneditina recordou a condição dos primeiros cristãos, como “estrangeiros residentes”, afirmando que “se o lugar da Igreja é sempre um espaço-tempo concreto de encontro, o caminho do Evangelho no mundo vai de limiar em limiar: foge de toda estática, mas também de toda ‘santa aliança’ com os contextos culturais da época. Ele habita neles e é guiado por seu Princípio vital – o Espírito do Senhor – para transcendê-los”. Uma dinâmica já presente no “não está aqui” da ressurreição e na vida da primeira Igreja, cujos membros, “as proporções da cruz de Jesus os protegem imediatamente de se enredarem em culturas sedentárias e idólatras. Em sabedorias achatadas sobre a dinâmica da autossalvação”. A partir daí, “a memória das palavras de Jesus também exorta a Igreja de hoje a se enraizar em todas as partes da humanidade, mas a torna vigilante com relação a toda homologação”. O desafio, de acordo com o Instrumentum Laboris da Segunda Sessão, é “superar uma visão estática dos lugares”, ressaltou a religiosa, “mesmo os mais sagrados, mesmo os mais populares”. Banquetes na Bíblia Em suas palavras, Angelini refletiu sobre os banquetes, o banquete universal de Isaías e aquele em que, no encontro com o fariseu, Jesus mostra sua abertura ao diálogo com aqueles que são diferentes. Isso “porque a diferença ilumina e discerne a autenticidade dos lugares”. Jesus ama os banquetes, afirmou ela, porque “para Jesus, a mesa humana é um ‘lugar’ de encontro no caminho, e um lugar arriscado de verdade”. Nas palavras da beneditina, a mesa é “um lugar do humano onde a itinerância constitutiva da proclamação encontra uma parada necessária; onde os relacionamentos têm suas raízes; um ‘lugar’ altamente simbólico onde a fome é desnudada e compartilhada de baixo para cima, mas também um lugar onde as hipocrisias ocultas são expostas”. Para Jesus, o lugar é onde o homem passa fome, pois ali “o Evangelho da verdade pode ser anunciado”. Portanto, “a Igreja Sinodal é – sempre – desafiada a redescobrir esses lugares”, enfatizou. É no lugar radical do humano que Jesus inaugura a relação generativa, o lugar para dizer Deus. Mas ele também advertiu contra “os banquetes inspirados na lógica mercenária e o protagonismo que se aproveita do outro em necessidade”, que é comum hoje em dia. Jesus busca “uma ética da interioridade e da autenticidade, e a rejeição de todo ritualismo vão”. Para Angelini, “a duplicidade de coração contradiz radicalmente a coexistência das diferenças”, afirmando que “o diálogo com as culturas implica discernimentos arriscados, raramente aplaudidos”. A religiosa advertiu contra “a hipocrisia que tanto desanima as novas gerações”, sobre “culturas de aparência, que não saciam, na realidade, ao contrário, nos matam de fome”. Diante disso, fez um apelo para promover o estilo de Deus, para reunir os outros, em uma interioridade regenerada, e a partir daí, hoje, “redescobrir a fecundidade dos lugares onde podemos compartilhar a fome e a esperança humilde e tenaz”, buscando a fraternidade, “na mesa onde todos podem desfrutar, na mesa onde podem extrair e transmitir o Dom que nos torna um dom para os outros”, concluiu. Necessidade de uma Igreja enraizada Por sua vez, o relator geral do Sínodo, Cardeal Hollerich, lembrou que este módulo fala da “concretude dos contextos nos quais as relações são encarnadas, com sua variedade, pluralidade e interconexão, e com seu enraizamento no fundamento nascente da profissão de fé”, citando o Instrumentum Laboris. Para o cardeal de Luxemburgo, citando o mesmo texto, “a Igreja não pode ser compreendida sem estar enraizada em um lugar e em uma cultura”, defendendo a concretude, o enraizamento, refletindo sobre as redes de relacionamentos, marcadas pelo ambiente digital. Nessa perspectiva, refletiu sobre “as relações que se estabelecem entre lugares e culturas”, o que leva a abordar a comunhão, os vários âmbitos de relacionamento entre igrejas, a troca de dons, e dentro das igrejas locais, explicitando elementos presentes no Instrumentum Laboris. Hollerich lembrou o propósito do Sínodo: “o Santo Padre nos chamou aqui para ouvir nossos conselhos sobre como tornar seu serviço e o da Cúria Romana mais eficazes hoje”, insistindo que “ele tem o direito de saber o que realmente pensamos, a partir da vida e das necessidades do Povo de Deus nos lugares de onde viemos”. Um Módulo que “atravessa e questiona a experiência vivida por aqueles de nós que estão aqui”, afirmou. Hollerich recordou o que foi vivido na Aula Paulo VI, onde os participantes da Assembleia Sinodal “viveram uma experiência rica e intensa”, mas também não isenta de “privações e dificuldades”, que “leva a um encontro com o Senhor e faz surgir a alegria do Evangelho”. Para que isso não permaneça um privilégio dos participantes, ele nos convidou a “nos perguntarmos quais são os caminhos, as formas, também organizacionais e institucionais, para que a riqueza da experiência que vivemos aqui, neste lugar, possa ser acessível a todo o Povo de Deus, e não apenas através de nossa história, mas também através da renovação de nossas Igrejas”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

A sinodalidade, sem transparência e prestação de contas, fica estagnada

A transparência e a prestação de contas do trabalho pastoral são elementos que ninguém pode ignorar em uma Igreja sinodal. Para avançar nessa dinâmica, é necessário levar em consideração os contextos locais específicos, com suas características culturais e tradições históricas. Nada pode ser avaliado de forma abstrata e, além disso, promover a mais ampla participação, já que todos os membros do Povo de Deus podem e devem contribuir, fortalece esse caminho. Cultura de transparência e responsabilidade Para avançar nesse caminho sinodal, para poder caminhar juntos, para gerar atitudes que favoreçam a confiança mútua entre os membros do Povo de Deus, é necessário ir além da prática, para estabelecer uma cultura de transparência e responsabilidade. Somente assim a sinodalidade e a corresponsabilidade poderão se solidificar, pois isso mostrará o valor das ações realizadas no exercício dos diversos ministérios na comunidade. Ao contrário, a falta de transparência e de prestação de contas alimenta o clericalismo e a desconfiança. Esses processos de transparência e prestação de contas precisam de instâncias e maneiras de avaliar o modo como as responsabilidades ministeriais de todos os tipos são exercidas, inclusive entre o clero. A avaliação, especialmente se participativa, permite ajustes apropriados nos planos pastorais e promove a capacidade de servir melhor os membros do Povo de Deus de acordo com suas respectivas vocações e articulação no serviço. Trazer isso para a vida cotidiana da Igreja é um desafio para o avanço da sinodalidade prática. Na medida em que pensamos que estamos acima do bem e do mal, que não temos que prestar contas a ninguém, que não é necessário ser transparente, a vida da Igreja está desmoronando, a comunhão está se perdendo, a participação das pessoas é reduzida à expressão mínima e, na missão, o vigor necessário para que outros descubram no testemunho de cada batizado a força do Espírito de Deus está se dissipando. A necessidade de conselhos pastorais e econômicos Os conselhos pastorais e econômicos são um instrumento para aumentar a transparência, e se deve garantir que eles sejam ouvidos e que suas opiniões sejam levadas em consideração quando as decisões forem tomadas. Os conselhos devem ser vistos como uma necessidade em todas as instituições da igreja. Quando os vários ministérios que compõem o Povo de Deus são ignorados na composição dos conselhos, quando o planejamento pastoral e econômico é assunto de uma pessoa ou de um pequeno grupo que nada questiona, o Evangelho e, com ele, a vitalidade da Igreja, se perdem. Da mesma forma, a publicação de um relatório periódico e de um demonstrativo financeiro regular, e mostrar como tudo isso contribui para o desenvolvimento da missão, são atitudes que não podem mais ser ignoradas. Por fim, não podemos ignorar que, para a devida prestação de contas, é necessário promover o acesso das mulheres a cargos de autoridade e sua participação nos processos decisórios, bem como a participação daqueles que exercem ministérios e cargos na Igreja nos processos de monitoramento e avaliação do desenvolvimento da missão. Nunca nos esqueçamos de que a sinodalidade não é uma teoria, mas uma prática, que precisa de instrumentos, entre os quais a transparência e a prestação de contas nunca podem estar ausentes. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Liliana Franco: “As experiências sinodais são laboratórios para um serviço melhor”

Os processos de escuta têm sido um elemento importante no caminho da Igreja nos últimos anos. Na América Latina e no Caribe, isso foi levado em conta, especialmente desde o Sínodo para a Amazônia, algo que posteriormente foi aprofundado com a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe e o atual processo sinodal. A irmã Liliana Franco, presidente da Confederação de Religiosos e Religiosas da América Latina (CLAR), participou dos dois sínodos e da assembleia eclesial. A escuta é transversal De acordo com a religiosa colombiana, presente na Sala Stampa do Vaticano, “esses dois últimos sínodos, incluindo o Sínodo sobre a Juventude, e essas experiências que estamos tendo nos diferentes continentes nos mostram a importância da escuta como parte transversal de qualquer processo de humanização”. Em relação ao Sínodo da Amazônia, a presidenta da CLAR lembrou que “o Sínodo da Amazônia já afirmava com muita força que a escuta leva à conversão, que realmente o que tem o poder de gerar transformação, de modificar atitudes e estruturas é a escuta, a escuta de Deus e a escuta dos territórios, da realidade”. Algo em que “estamos nos capacitando, que todas essas experiências sinodais acabam sendo como laboratórios que nos capacitam para um melhor serviço”, afirmou Liliana Franco. A religiosa insistiu que “temos muito a aprender, na Igreja e na sociedade, porque muitas vezes todos os seres humanos vamos com nossos próprios monólogos, ideias, paradigmas das coisas”. Diante dessas situações, a religiosa acredita que “a escuta está se posicionando como o caminho, como a maneira de entender a narrativa do que Deus tem a dizer a nós, seres humanos”. Escutar para se aproximar de Deus A escuta, reforçou a presidenta da CLAR, “é a possibilidade de se aproximar e de se aproximar com mais serenidade, com mais sinceridade e com mais reverência da vontade de Deus”. Escutar porque “realmente nos transforma, nos converte”, algo que ela considera um processo de aprendizagem. Uma realidade sobre a qual algumas igrejas locais ou continentais têm maior experiência, lembrando que “se exercitaram mais repetidamente nesses processos de escuta e fizeram da escuta uma atitude vital”. Diante dessa dinâmica de escuta, afirmou que “como toda a Igreja, temos o grande desafio de entender que esse é o caminho da conversão para nós, e até mesmo o caminho da credibilidade em tempos complexos como os que vivemos, tanto como Igreja quanto como sociedade”. Cultura do cuidado Em resposta a uma pergunta sobre o abuso a religiosas, a presidente da CLAR afirmou que “na Igreja nos acostumamos a viver em meio a relações rígidas, a estilos que excluem, a nacionalismos que excluem”. Diante dessa situação, Liliana Franco vê como um grande desafio “purificar as relações para tornar possível essa cultura do cuidado”. Esta é uma questão que a Vida Consagrada em todo o mundo está levando a sério, afirmou. Neste sentido, falando sobre o continente latino-americano e caribenho, assinalou que “temos realizado processos muito claros com os 150.000 religiosos da América Latina e do Caribe que nos permitem revisar nossos modos relacionais, que o que somos e o que fazemos é abusivo, porque não abre espaço para a diferença, porque não é inclusivo”. “Todos nós, na Igreja, estamos em um processo de revisão de nossos modos relacionais, que claramente não são coerentes com o modo de Jesus e que requerem conversão”, afirmou. A partir daí, ela continuou dizendo que “a vida religiosa feminina não está à margem disso, tanto para revisar suas próprias formas de se relacionar, porque às vezes dentro das comunidades e congregações pode haver formas que não são vividas e assumidas a partir de uma cultura saudável de cuidado, como também para reconhecer formas que vêm de fora e que violam as possibilidades, os direitos ou a dignidade das mulheres consagradas”. A religiosa enfatizou que “este processo sinodal nos coloca frente a frente com a revisão necessária e uma opção”. Nesse sentido, destacou que “a opção que este processo está colocando no coração de toda a Igreja é a opção pela cultura do cuidado, por uma forma de nos relacionarmos uns com os outros que seja mais semelhante à forma de Jesus”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1