Av. Epaminondas, 722, Centro, Manaus, AM, Brazil
+55 (92) 3232-1890
cnbbnorte1@gmail.com

Blog

A RUC apela a novos modelos de formação inspirados nas culturas originárias

A Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC) está reunida na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) para o II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum. O encontro busca construir pontes entre o Norte e o Sul com as universidades, segundo Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina. Um congresso, promovido pelo Cardeal Prevost, agora Leão XIV, e pelo Cardeal Tolentino, que gere conexão entre os diversos atores, que provoque, por meio dos painéis, um debate entre todos, com a participação de todos, reforçou a teóloga argentina. O sonho cultural Seguindo os sonhos do Papa Francisco em Querida Amazônia, o Congresso abordou o sonho cultural em seu segundo dia de trabalhos. Vale lembrar, como Francisco disse aos participantes do primeiro encontro da RUC, realizado no Vaticano em 2023, que “cultura é o que permanece depois que esquecemos o que aprendemos“. É por isso que alertou sobre os universitários de laboratório e a necessidade de formar na linguagem da cabeça, do coração e da mão. O estado atual da nossa Casa Comum estimula a reflexão e a ação nas universidades em vista do desenvolvimento sustentável, levando ao ensino pelo exemplo e a trabalhar a incidência, como destacou Rafaela Diegoli, do Instituto Tecnológico de Monterrey. Não podemos ignorar as palavras de Francisco, que disse que “profissionais de sucesso não podem ser formados em sociedades fracassadas“. Uma realidade que exige entender como aplicar a tecnologia em cada contexto, conhecê-la para adotá-la e aderir a ela, como disse Alejandro Guevara, da Universidade Ibero do México. Novas abordagens educacionais De acordo com María Eugenia García Moreno, da Universidade Mayor de San Andrés, na Bolívia, são necessárias abordagens diferentes das tradicionais na educação. Essas abordagens oferecem formação universitária para aqueles sem educação formal, mas que possuem conhecimento ancestral. O desafio é pensar de forma sustentável para agir de forma sustentável, o que exige uma mudança cultural e uma formação integral, como propõe Ester Sánchez, da Universidade Nacional de Cuyo, na Argentina. Falar em Biodiversidade e Tecnologia é um dos grandes desafios hoje. O argentino Axel Barceló, da Fundação H. A. Barceló, reconhecendo o papel da tecnologia como uma ferramenta que reduz o trabalho, ele vê a necessidade de a humanidade controlar essa tecnologia. A biodiversidade é uma questão fundamental para a COP 30, afirma Peter Rozic, da Universidade de Oxford, que enfatizou a importância da ecologia integral, que “quer ouvir o chamado da Terra, que estamos matando, o chamado dos pobres, dos defensores do território“. Uma biodiversidade que está ligada ao tema cultural, refletindo sobre a importância de codificar práticas de biodiversidade em diversas línguas indígenas. Levar em consideração os povos indígenas Nesse sonho social, o caminho do Rio até Belém deve, segundo John Martens, da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, levar em conta o conhecimento dos povos indígenas para que a educação seja integral. Isso ocorre porque o verdadeiro conhecimento é sabedoria, com um componente ético e religioso. Nesse sentido, Eugenio Martín de Palma, da Universidade de Santa Fé, Argentina, afirma a necessidade de trabalhar os ensinamentos de Francisco em relação ao tema das universidades, visto que um novo modelo de universidade está surgindo. Ele estava se referindo ao que Francisco chamou de Universidade do Sentido, que, em contraste com o modelo racionalista e cientificista da modernidade, exalta cada homem e o homem inteiro. Temos que ter consciência da necessidade de aprender a trabalhar com o que temos, disse Dom Hudson Ribeiro, bispo auxiliar de Manaus e diretor da Faculdade Católica do Amazonas. Com base em seu conhecimento sobre comunidades indígenas e ribeirinhas, ele enfatizou a necessidade de preservar a memória para preservar a cultura, olhando para trás e tendo em mente o que o futuro reserva. Algo que ele vê no Encontro das Águas, fenômeno natural em Manaus, onde por 14 km os rios Negro e Solimões continuam se misturando até formar o Amazonas. A partir daí, ele pediu que se questione até que ponto a tecnologia nos ajuda a fazer memória e como a pesquisa universitária dá valor à memória. Mudança nos modelos de formação Esses conteúdos levaram os participantes a refletir em grupos que ajudaram a descobrir perspectivas. Trata-se de redefinir elementos que ajudem a mudar os modelos de formação, com novas práticas e propostas que reflitam o compromisso social das universidades para além das soluções acadêmicas ou tecnológicas, com planejamento, promovendo mecanismos que reduzam as lacunas de conhecimento e com planos locais que fomentem o compromisso comunitário com o cuidado da nossa casa comum. Devemos abordar os conflitos e impactos ambientais de forma responsável, reconhecendo que os desastres socioambientais não são apenas o resultado de novos fenômenos naturais, mas também de disputas pelo acesso ao habitat. Da mesma forma, como garantir os direitos trabalhistas em diálogo com os novos formatos gerados pela tecnologia e pela terceirização. O desafio é levar conhecimento para além da universidade, transferir cultura e criar espaços interculturais que promovam o cuidado com a nossa casa comum. Daí a importância da conscientização para reconhecer o presente que recebemos da biodiversidade. Trata-se de começar a ver o mundo de forma diferente, reconhecendo as contribuições do conhecimento ancestral para a educação, sabendo que ele vem do território, que eles protegem com suas próprias vidas. Daí a necessidade de os grandes projetos realizar estudos de impacto cultural e ambiental, usando a tecnologia a serviço da sociedade e das culturas. Isso requer uma educação integral que abranja conhecimento científico e tecnológico, mas que também tenha caráter humanístico e seja um caminho para a responsabilidade ambiental e ética. Pontes entre a OEI e a RUC Da Organização dos Estados Ibero-americanos, seu Diretor de Cultura, Raphael Caillou, afirma que a cultura contribui para a inclusão e é um mecanismo importante para a coesão social e a criação de uma cultura de paz. Da mesma forma, ele refletiu sobre a relação entre cultura e o fortalecimento de políticas públicas e o aumento da educação formal. A educação é um…
Leia mais

Leonardo Rufino da Silva: a Diocese de Coari ordena mais um presbítero

Com alegria e espírito de comunhão a Diocese de Coari celebrou, no dia 17 de maio de 2025, às 19h, na quadra da Igreja Matriz da Paróquia São Sebastião, em Caapiranga (AM), a Solene Celebração Eucarística com a Ordenação Presbiteral do diácono Leonardo Rufino da Silva. Ele escolheu como lema da sua vida presbiteral a seguinte frase: “Viu e encheu-se de compaixão” (Mt 9,36). A liturgia da ordenação Presbiteral foi presidida por Dom Marcos Piatek, bispo da Diocese de Coari e concelebrada por vários Padres com a presença dos numerosos fiéis, irmãs religiosas e seminaristas. Após as leituras bíblicas, o bispo, em nome da Igreja, interrogou o Diácono Leonardo sobre a liberdade e idoneidade para receber o Sacramento da Ordem. Na sua homilia o bispo lembrou, que a Ordenação Presbiteral, se realiza no Ano Santo, o Jubilar da Esperança trazendo a frase do recém-eleito Papa Leão XIV: “O mundo precisa de sacerdotes santos, não de gerentes. A formação deve ter como objetivo a santidade e não apenas a competência”. Logo no início o bispo parabenizou a paroquia pela bonita preparação do ambiente da ordenação, mas chamou a atenção para as palavras do saudoso Papa Francisco, que dizia: “Na vida de um sacerdote, o invisível é mais importante do que visível!” e a frase de Santo Agostinho, pai espiritual do Papa Leão XIV: “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em Ti”. Comentando as leituras bíblicas Dom Marcos lembrou o chamado à santidade de todos e de cada um conforme a sua vocação. A vocação presbiteral é vivenciada não apenas com o nosso esforço humano, mas sobretudo com a força do Espírito Santo, que nos consagra para a missão, ao exemplo do profeta Isaias e do próprio Jesus (Is 61,1-3; Lc 6,4). O modelo do sacerdócio é Melquisedeque e sobretudo, o próprio Jesus, o Sumo e Eterno Sacerdote (Hb 5,1-10). O bispo destacou os três múnus (tarefas) da vocação presbiteral: anunciar (profeta), celebrar (sacerdote) e servir-administrar (rei). Hoje em dia é muito importante o testemunho! O bispo lembrou a frase de Santo Inácio de Antióquia: “Os que fazem profissão de pertencer a Cristo serão reconhecidos não tanto pelo que dizem, mas pelo que fazem. É boa coisa ensinar, se quem fala prática, o que ensina. O nosso Deus e Senhor, Jesus Cristo, o filho do Deus vivo (Mt 16,16), primeiro ‘fez’ e depois ensinou (At 1,1).” O presbítero é um homem que tem olhos fixos no povo, na Igreja e sobretudo em Jesus: “A última luz que o Padre tem que ver, antes de dormir, não pode ser da TV, nem do computador, precisa ser a luz do Sacrário” (Bento XVI). Dom Marcos Piatek destacou com profundidade a missão do presbítero: homem consagrado a Deus para o serviço do Evangelho, portador de tesouros sagrados grandes como a Eucaristia, o Perdão dos Pecados, a Unção dos Enfermos. Finalizando a sua reflexão o bispo destacou quatro amores do sacerdote: Jesus Cristo; a Sagrada Escritura; a Igreja; e a Virgem Maria. O bispo agradeceu a Deus pelo dom do sacerdócio do Diácono Leonardo, agradeceu aos pais e familiares dele por ter oferecido o seu filho e irmão para Deus e para a Igreja de Coari. Agradeceu a todos aqueles que acompanharam o Diácono Leonardo longo o processo formativo em Coari e, por longos 07 anos, em Manaus, no Seminário São José da Arquidiocese de Manaus. Agradeceu aos benfeitores e a todos aqueles que acompanharam com a sua oração a caminhada vocacional dele. Após a homilia o Diácono Leonardo fez publicamente a sua “Profissão de Fé”, que assinou de próprio punho e o “Proposito do Eleito” – os compromissos sacerdotais. Em seguida foi cantada a Ladainha de Todos os Santos, enquanto o diácono, em sinal de consagração e humildade, estava prostrado no chão. O momento alto da Ordenação Presbiteral foi a “Imposição das Mãos” do bispo e depois dos Padres e a “Oração de Ordenação”. Em seguida foi celebrada a “Imposição das Vestes Presbiterais”, a “Unção das Mãos”, a “Primeira Benção Sacerdotal” e a “Entrega do Pão e do Vinho”. Por fim, o neo presbítero, foi acolhido com o abraço da paz pelo bispo e o clero em sinal da acolhida na Família Presbiteral. Convicto de sua missão e doação o neo presbítero fez publicamente e assinou de próprio punho o “Juramento de Fidelidade”.  Pe. Leonardo foi consagrado presbítero para sempre, tornando-se mais um servidor da Igreja e do povo de Deus nesta porção da Igreja na Amazônia.  A celebração contou com a concelebração de todos os Padres que atuam na Diocese de Coari, além da presença do Pe. Pedro Cavalcante, reitor do Seminário Arquidiocesano São José de Manaus, do Pe. Marciney, formador dos estudantes de filosofia e de um missionário redentorista. As onze paróquias da diocese estiveram representadas por seus párocos, vigários e caravanas de leigos e leigas, expressando a comunhão eclesial e a alegria de toda a Igreja por esta vocação que floresce no meio do povo. Na procissão dos dons, realizado pela juventude da paróquia, foram trazidos os frutos da região como forma de sustento das famílias. Antes da benção final o recém ordenado Pe. Leonardo fez seus agradecimentos, dizendo: “Querido povo de Deus, esta noite é histórica. É noite de vitória. É noite de realização. Hoje, um sonho se fez carne. Uma vocação ganhou voz. Um ‘sim’ se transformou em missão”. Antes da benção especial para o neo presbítero, o bispo agradeceu a presença orante de todos e, nas mãos do Pe. Edinei, à Paroquia São Sebastião, em Caapiranga. Parabenizando o Pe. Leonardo lhe desejou a copiosa benção de Deus, proteção de Maria e a vivência da vocação presbiteral no contexto da Igreja da Amazônia segundo o último Sínodo dos Bispos vivendo a sinodalidade, a participação e a missionariedade.  Após a benção final todos os participantes foram convidados para bonita confraternização. Louvamos a Deus pelo dom da vocação de Pe. Leonardo Rufino da Silva e pedimos que o Senhor da Messe continue a enviar…
Leia mais

Seminaristas e Vida Religiosa realizam formação sobre Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis

Na manhã desta terça-feira, 20 de maio, a Comissão de Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Manaus realizou uma formação no Seminário São José com todos os seminaristas diocesanos, religiosos e religiosas e das comunidades de vida. A formação foi conduzida por Pe. Gilson Pinto e Pietro Bianco Epis, com foco no “Decreto, Regulamento e Manual de Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis”. Causa permanente no Regional Norte 1 O Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1) tem como causa permanente em suas Diretrizes para a Ação Evangelizadora o enfrentamento ao abuso sexual e a exploração de crianças e adolescentes. Uma urgência que tem avançado com passos concretos que ajudam a ir adiante no caminho percorrido pelo Regional e pelas nove igrejas locais que fazem parte dele. Daí a importância da formação nesse campo com os seminaristas das Igrejas locais que fazem parte do Regional Norte 1, que realizam seu processo formativo no Seminário São José da Arquidiocese de Manaus. O conhecimento dessa realidade representa um elemento fundamental dentro do processo de formação. Daí o empenho da equipe formativa e do reitor, padre Pedro Cavalcante. Encontros em todos os níveis O encontro faz parte dos muitos encontros que vem sendo realizados no Regional Norte 1 da CNBB, nas comunidades, paróquias, prelazias, dioceses, movimentos e pastorais. Dentre eles, cabe lembrar o encontro realizado na quinta-feira 15 de maio de 2025 com as atendentes das áreas missionárias e paróquias da Arquidiocese de Manaus, com a assessoria do padre Flávio Gomes dos Santos, Karen Lima do Amaral e Pietro Bianco Epis. Nesse encontro, além de ser trabalhado o “Decreto, Regulamento e Manual de Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis”, foi abordada a questão dos sinais nas crianças que são abusadas, temática que foi aprofundada pela psicóloga Karen Lima do Amaral. Mais um passo para a Comissão de Escuta e Proteção Crianças, Adolescentes e pessoas Vulneráveis do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que ao longo do ano 2025 vai atingindo todos os níveis: casas religiosas, escolas, diáconos, presbíteros, buscando a orientação diante dessa realidade, segundo afirmou o padre Flávio Gomes dos Santos.

Encontro da RUC: “Educar para o cuidado, gerar propostas concretas para organizar a esperança”

Em clima sinodal, buscando caminhar juntos, está sendo realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), de 20 a 24 de maio de 2025, o II Encontro Sinodal de Reitores Universitários para o Cuidado da Casa Comum, com o apoio da Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL). Um encontro realizado em coordenação com o Dicastério para a Cultura e a Educação, o Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), a Caritas América Latina e Caribe, a Associação de Universidades Confiadas à Companhia de Jesus na América Latina (AUSJAL) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). Dívida Ecológica e Esperança Pública O encontro tem como tema “Dívida Ecológica e Esperança Pública” e comemora o 10º aniversário da Laudato si’. Em vista de preparar a COP 30, conta com representantes de universidades das Américas, Espanha, Portugal e Reino Unido. O objetivo é “organizar a esperança” e, para isso, durante cinco dias haverá um diálogo sinodal sobre os quatro sonhos propostos pelo Papa Francisco na exortação apostólica “Querida Amazônia”, que incorpora os debates sobre Dívida Pública e Esperança Pública. Para isso, será seguido o método de ver, discernir e agir, com palestras que motivarão o discernimento em pequenos grupos com base no método sinodal. Isso busca assumir a responsabilidade e trabalhar seriamente para mudar o curso do desenvolvimento, como disse o secretário executivo da RUC, Francisco Piñón. Tudo isso em um congresso onde “estamos fazendo um evento político, estamos nos posicionando”, nas palavras do reitor da PUC-Rio, Anderson Pedroso. O jesuíta compartilhou os passos que estão sendo dados nesta universidade por meio do Projeto Amazonizar, que envolve entender a lógica, a complexidade e a potência da ecologia integral a partir da perspectiva da Querida Amazônia e seus quatro sonhos, com foco no sonho eclesial, renomeado como sonho comunitário, entendendo que a comunidade, mais do que somar forças, é um espaço de entrega de cada indivíduo, “retirando um pouco de si para dar espaço ao que é comum”. Tudo isso porque “o lugar da esperança é a comunidade, um lugar para algo novo nascer”. Homenagem ao Papa Francisco Um encontro que é uma homenagem ao Papa Francisco, como disse Agustina Rodríguez Saa, Reitora da Universidade Nacional de Comechingones e Presidente da Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum da Argentina. O Papa Francisco é visto como alguém que deixa “uma palavra que irá inspirar e guiar aqueles de nós que acreditam que outra forma de habitar a Terra é possível”. Recordando o chamado a ser ponte que Leão XIV pede, ela pediu para organizar a esperança nas universidades em três níveis: internamente, a partir do aprofundamento da interdisciplinaridade e do diálogo dos saberes; ser comunidade em rede, a partir da diversidade, com pluralidade de vozes unidas sob uma preocupação comum, o cuidado da nossa casa comum e a criação de novos espaços; construindo pontes entre ciência e política, entre academia e sociedade, entre Norte e Sul. O objetivo é refletir, dialogar e sonhar com novos caminhos para o cuidado da nossa casa comum, segundo o Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Orani João Tempesta. Mas também para tomar consciência de que “não estamos sozinhos, que precisamos uns dos outros”, como recordou o prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, Cardeal José Tolentino de Mendoça. Ele fez isso refletindo sobre os desafios, os valores a serem promovidos e os recursos disponíveis, servindo como pontes. Ideias presentes na mensagem do Papa Leão XIV, que destacou a importância do Congresso como “um trabalho sinodal de discernimento em preparação à COP30” e um espaço para “refletir juntos sobre uma possível remissão entre a dívida pública e a dívida ecológica, proposta que o Papa Francisco havia sugerido em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz”. Para isso, ele encorajou os reitores “nesta missão que assumiram: ser construtores de pontes de integração entre as Américas e com a Península Ibérica, trabalhando pela justiça ecológica, social e ambiental”. Coordenação Comunitária Internacional Um caminho que exige a constituição de uma “Coordenação Comunitária Intercontinental para o Desenvolvimento Sustentável“, tema da conferência de abertura, da qual participaram Román Ángel Pardo Manrique, decano de Teologia da Universidade de Salamanca e diretor da Subcomissão Episcopal de Caridade e Ação Social da Conferência Episcopal Espanhola, e Jorge Calzoni, reitor da Universidade de Avellaneda, na Argentina. Uma reflexão que busca como ser uma comunidade organizada, tendo consciência das dificuldades de organizar a esperança. Para isso, é preciso ir além dos pequenos grupos e educar para o cuidado, gerando propostas concretas para organizar a esperança como RUC. Isso deve levar a uma reflexão sobre o peso da dívida externa dos países, transformando o peso da dívida em um recurso educativo para gerar uma cultura do encontro. Uma reflexão que ofereceu ferramentas para o trabalho em grupo, que juntos contribuíram com elementos para ajudar a desenvolver um documento para a COP30. Um caminho do Rio para Belém Este documento é um caminho, o caminho do Rio a Belém, do congresso da RUC à COP30. Não podemos esquecer que as universidades são “uma interface entre a base e os órgãos governamentais”, como destacou Mauricio López Oropeza, diretor do Programa Universitário da Amazônia (PUAM). Um caminho para Belém, que seja um caminho para a periferia, para os excluídos, a longo prazo e com participação popular efetiva. Construindo pontes, como está sendo feito na Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, de acordo com seu representante no congresso, Christopher Ljungquist. Pontes que levem a Doutrina Social da Igreja aos políticos americanos, trazendo a periferia para o centro para que a periferia possa falar por si mesma, buscando fazer a ponte entre as ideias e a realidade, tarefa na qual a Igreja Católica se destaca. De fato, afirmou Federico Montero, secretário organizacional da Federação Nacional de Professores Universitários (CONADU), a educação é uma ponte, e o papel do professor é construir essa ponte por meio do processo pedagógico. Para isso, é necessário criar laços comunitários que permitam fortalecer-nos mutuamente, garantir maior participação nos processos…
Leia mais

Leão XIV à RUC: “Trabalhem por uma justiça ecológica, social e ambiental”

Com uma grande saudação à Rede de Universidades para o Cuidado da Casa Comum (RUC), o Papa Leão XIV iniciou suas palavras aos participantes do II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum. Representantes de universidades de todo o continente americano e da Península Ibérica e Reino Unido, se reúnem na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), de 20 a 24 de maio de 2025, para debater de modo sinodal sobre como consolidar o compromisso universitário com o cuidado da Casa Comum. O tema abordado é “Dívida Ecológica e Esperança Pública”. Apoio do Vaticano O Vaticano apoia o encontro através da Pontifícia Comissão para América Latina (PCAL) e do Dicastério para a Cultura e a Educação. Um apoio que se fez explícito com as palavras do Papa Leão XIV, presidente da PCAL até sua eleição como pontífice. Ele recordou que o encontro “têm este belo motivo do 10º aniversário do documento do Santo Padre Francisco, a encíclica Laudato si’”. O Santo Padre enfatizou que no Congresso será realizado “um trabalho sinodal de discernimento como preparação para a COP30”. Junto com isso que, será um encontro onde “vão refletir juntos sobre uma possível remissão entre a dívida pública e a dívida ecológica, uma proposta que o Papa Francisco havia sugerido em sua mensagem para a Jornada Mundial da Paz”. Construir pontes de integração Neste Ano Jubilar, Ano de Esperança, o Papa Leão XIV enfatizou que “esta mensagem é muito importante”. Nessa perspectiva, o pontífice mostrou aos reitores universitários, seu desejo de “encorajá-los nessa missão que assumiram: a serem construtores de pontes de integração entre as Américas e com a Península Ibérica, trabalhando por uma justiça ecológica, social e ambiental”. Finalmente, o Papa agradeceu “por todos os seus esforços e seu trabalho”. Ao mesmo tempo, os animou a “continuar construindo pontes”. Leão XIV encerrou suas palavras enviando uma bênção, “confiando na graça de Deus que sempre nos acompanha”. Junto com o 10º aniversário da Laudato si’, o congresso elaborará um documento para ser enviado à COP30, que também será realizada no Brasil, especificamente em Belém do Pará. Nesse contexto, representantes do mundo acadêmico, governamental e eclesiástico, bem como de organizações multilaterais, se reúnem na PUC-Rio. O objetivo é uma proposta sinodal que promova a escuta, o discernimento coletivo e a ação concreta diante da crise socioambiental. É uma oportunidade de levar adiante as propostas iniciais do Papa Leão XIV, que defende a construção de pontes de paz e o desenvolvimento dos povos.

Cardeal Tolentino: “Fazer das universidades laboratórios de comunhão e de futuro”

Aos 10 anos da Laudato Si, a Rede Universitária para o Cuidado da Casa Comum (RUC), organizou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) o II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum. Um evento que conta com a apoio do Vaticano através da Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL), que até sua eleição como Papa Leão XIV era presidida pelo cardeal Robert Prevost. Recepção da Laudato Si nas universidades católicas Um apoio vaticano que também se concretiza através do Dicastério para a Cultura e a Educação. Seu prefeito, o cardeal José Tolentino de Mendoça, enviou uma mensagem em vídeo, onde ele afirma que, “desde o princípio, as universidades católicas receberam com entusiasmo a mensagem da Laudato si’ e que deu origem a tantos projetos de pesquisa, a tanta criatividade e, sobretudo, a uma consciência eclesial nova”. O cardeal português vê na Laudato Si um fator de transformação de mentalidade, oferecendo ao mundo “essa consciência de que não estamos sós, de que precisamos uns dos outros, que tudo está interconexo e que precisamos disputar, ao mesmo tempo, os desafios da casa comum e os desafios da fraternidade”. O prefeito destacou que “em vista da COP30 e neste caminho jubilar de construção de pontes, como diz Papa Leão XIV, é junto que podemos fazer verdadeiramente das nossas universidades e das nossas redes universitárias, laboratórios de comunhão e de futuro”. Três perguntas Tolentino referiu-se em sua intervenção a algumas perguntas úteis que o Papa Leão XIV chama a “deixar ressoar no interior da nossa reflexão”. A primeira pergunta: “Quais são, hoje, os desafios mais importantes a enfrentar?”, respondendo que “a universidade não é uma torre de marfim, não é uma bolha ao lado da realidade. A universidade está implicada nos grandes processos de reflexão, de inovação, de qualificação ética, de justiça das nossas sociedades. Só assim a identidade católica se pode verdadeiramente espelhar. Então, a primeira pergunta é essa, de escutar quais são, hoje, os desafios mais urgentes”. “A segunda pergunta é sobre que valores promover. E essa também é uma interrogação que nos deve fraternizar a todos, porque nós transmitimos conhecimento, projetos, saber. Mas tudo isso, sabemos que sem os valores é ainda insuficiente. Por isso é importante nos colocarmos de acordo sobre que valores fundamentais nós temos de transmitir”, disse o cardeal. Finalmente, “Quais são os recursos sobre os quais nós podemos contar? Quais são os desafios? Quais são os valores? E quais são os recursos?”. O cardeal respondeu que “um valor é ousar juntos. Um valor é poder reunir duzentas universidades diferentes. Um valor é essa experiência da mística do comum. Porque verdadeiramente a união faz a esperança. A união torna-nos artesãos da paz, do diálogo, dando um testemunho de que é possível vencer a cultura da polarização e do desencontro”. Ser ponte Aos participantes do Congresso, ele pediu que “este importante encontro, seja uma ponte, seja a parábola de uma ponte, que nós construímos juntos e oferecemos ao presente como um apor, um contributo que as universidades dedicam ao futuro”.

“A crise climática, ela nos exige soluções conjuntas”, afirma reitor da PUC-Rio

A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), acolhe de 20 a 24 de maio de 2024 o II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum, comemorando o 10º aniversário de um documento histórico do Magistério Pontifício, a Laudato Si. Compromisso universitário com o cuidado da Casa Comum 200 universidades de todo o continente americano e da Península Ibérica buscam consolidar o compromisso universitário com o cuidado da Casa Comum, no ano em que o Brasil acolhe a COP 30. Um encontro que dá continuidade à primeira reunião “Organizando a Esperança”, realizada em 2023 na Santa Sé com a participação do Papa Francisco. O congresso está organizado pela Rede Universitária para o Cuidado da Casa Comum (RUC), com o apoio da Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL), da qual o Cardeal Robert Prevost, hoje Papa Leão XIV, foi presidente, por meio da iniciativa Construindo Pontes. Compromiso universitario por el cuidado de la casa común 200 universidades de todo el continente americano y de la Península Ibérica buscan consolidar el compromiso universitario con el cuidado de nuestra Casa Común, en el año en que Brasil acoge la COP 30. El encuentro es la continuación del primero, “Organizando la Esperanza”, celebrado en 2023 en la Santa Sede con la participación del Papa Francisco. El congreso está organizado por la Red Universitaria para el Cuidado de la Casa Común (RUC), con el apoyo de la Pontificia Comisión para América Latina (PCAL), de la que fue presidente el cardenal Robert Prevost, hoy Papa León XIV, a través de la iniciativa Construyendo Puentes. O mundo universitário é um ecossistema complexo, segundo o reitor da PUC-Rio, o padre jesuíta Anderson Antônio Pedroso, “mas unido, pode ir muito mais longe e exercer o seu papel na sociedade”, destaca o reitor. O Papa Francisco insistia, segundo o padre, na necessidade de “incluir todos, fazer convergência para além das nossas crenças e convicções pessoais”. Nessa perspectiva, ele destaca que “a emergência climática, a crise climática, ela nos exige soluções conjuntas. Não dá mais para pensar um mundo globalizado, simplesmente virtualmente. Tem que estar globalizado nas pessoas e nas ações”. Igreja ator global que reúne pessoas Junto com isso, o reitor da PUC-Rio vê o encontro como uma sequência do realizado com o Papa Francisco em 2023. Nesse sentido, ele afirma que esse segundo encontro, “ele consagra a relevância da Igreja como um ator global capaz de reunir as pessoas”, ressaltando que “o poder de convocação é a serviço da humanidade, e coloca a Igreja como esse ator que consegue no mundo de hoje se lançar nas grandes questões da humanidade de maneira mais sistêmica”, algo que, segundo ele, devemos ao Papa Francisco. Reconhecendo que “antes os papas já falavam desde a Doutrina Social até algumas grandes questões, guerras, conflitos, mas quando o Papa Francisco fala de maneira sistêmica e traz o conceito da ecologia integral, ele coloca a Igreja num papel relevante, como ator relevante, fundamental, que consegue convocar todas as pessoas para servir”. Unir um continente Que participem universidades de tantos países e realidades “é uma força enorme, é um despertar das Américas. A gente está unindo o continente, um continente extraordinário, paradoxal, onde tem riqueza e pobreza. Você colocar todo mundo junto já é uma coisa muito grande. Ligar com a Europa, através da Península Ibérica, que tem raízes culturais comuns, por causa da origem da colonização do continente”, afirma o jesuíta. Segundo ele, “unir o continente, baseado em instituições como as universidades, fornece um instrumental potente para que essa união não fique dispersa, porque o mundo universitário, a instituição universitária é o lugar do pensamento, da criatividade, é o lugar onde se faz ciência e, sobretudo, é o lugar que salvaguarda a democracia”. Tudo isso porque “na base da instituição universitária existe essa autonomia de pensamento, a liberdade de falar e de se expressar, existe a liberdade de cátedra, que é uma das bases da democracia, o pensamento crítico, construtivo. É uma potência enorme e formar gerações, a universidade é esse dispositivo, que encerra, que tem dentro dela esses princípios fundamentais, que é da autonomia do pensamento, liberdade de fala, pensamento crítico-construtivo, criatividade, ciência, cultura, humanismo”. Um Congresso entre dois Papas Um congresso que acontece num momento eclesial importante, como é a mudança no pontificado. O Colégio Cardinalício pediu para o novo Papa continuar os processos iniciados pelo Papa Francisco, sendo um dos elementos fundamentais, a ecologia integral e a conversa ecológica. Nessa perspectiva, o reitor da PUC-Rio sublinha que “o Congresso está profundamente implicado nesse processo. Esse Congresso é consequência desse processo, porque nasce como uma iniciativa da Rede de Universidades pelo Cuidado da Casa (RUC), nasce como uma iniciativa do Papa Francisco e estava sendo impulsionada pelo Cardeal Prevost”. O padre Anderson lembra que “a rede tem autonomia, mas ela tem um polo de incentivo, que é a Pontifícia Comissão para a América Latina”, que era presidida pelo cardeal Prevost, e ele estava apoiando essa grande iniciativa. O reitor da universidade anfitriã ressalta como fundamental esse tripé: a Rede, que promove o encontro, a Pontifícia Comissão para América Latina, que apoiou de forma oficial e potente, e a PUC-Rio, que acolhe no território brasileiro, que é o lugar da COP30, que visibiliza esse grande esforço mundial. Finalmente, o jesuíta destaca que “nesse processo dos dois papas, esse encontro está profundamente implicado, ele não é a consequência, mas ele faz parte desse grande processo histórico”.

Unidade, Paz e Missão, os pedidos de Leão XIV na Missa de Início de Pontificado

Leão XIV, o Papa eleito na tarde de quinta-feira, 8 de maio de 2025, como sucessor de Pedro, iniciou seu pontificado. Ele o fez presidindo a Missa de Início de Pontificado, com a participação de boa parte do Colégio de Cardeais, um sinal de comunhão por parte daqueles que o elegeram como sucessor de Pedro e de Francisco. O rito concreto ocorreu entre o Evangelho e a homilia, quando o cardeal Zenari colocou sobre ele o Pálio e o cardeal Tagle colocou no dedo do Papa o Anel do Pescador. Junto com isso, o cardeal Ambongo, entre a entrega do palio e do anel, rezou para que Deus lhe concedesse a benção e reforçar o dom do Espírito. Um construtor de pontes Um Papa que, em virtude de estar imbuído de diversas culturas, supõe-se que tenha maior capacidade de construir pontes, uma necessidade em um mundo cada vez mais polarizado, dividido e conflituoso. Uma hora antes do início da missa, o Papa deixou o Palácio do Santo Ofício, onde está morando, para entrar pela primeira vez em um deslumbrante papamóvel branco. Foi seu primeiro banho com a multidão, na Praça de São Pedro e na Via della Conziliazione, que aos poucos foi se enchendo de peregrinos de todo o mundo. Entre eles estavam os participantes do Jubileu das Confrarias, que neste sábado foram os protagonistas de um momento histórico com a procissão que aconteceu ao redor do Coliseu e do Circo Máximo. Guardar o patrimônio da fé e olhar para longe Na homilia, o Papa iniciou lembrando o início das Confissões de Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Vós, [Senhor,] e o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Vós”. Igualmente, ele lembrou de Papa Francisco, fazendo um relato dos acontecimentos vividos nas últimas semanas, definindo o Conclave como momento para eleger “o novo sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, um pastor capaz de guardar o rico património da fé cristã e, ao mesmo tempo, de olhar para longe, para ir ao encontro das interrogações, das inquietações e dos desafios de hoje”. Leão XIV disse ter sido “escolhido sem qualquer mérito”, se oferecendo como “um irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria, percorrendo convosco o caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa única família”. Segundo ele, “amor e unidade: estas são as duas dimensões da missão que Jesus confiou a Pedro”. Diante disso, ele questionou: “Como pode Pedro levar adiante essa tarefa?”, respondendo que foi porque “ele experimentou na própria vida o amor infinito e incondicional de Deus, mesmo na hora do fracasso e da negação”. Não se colocar acima dos outros A chave é conhecer e experimentar o amor de Deus, “que nunca falha”. Ele refletiu sobre a tentação de no primado de Pedro “ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros, tornando-se dominador das pessoas que lhe foram confiadas”, dado que “todos nós, com efeito, somos ‘pedras vivas’ (1 Pe 2, 5), chamados pelo nosso Batismo a construir o edifício de Deus na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades”. O Papa sublinhou uma Igreja fundamentada no Batismo, citando de novo Santo Agostinho: “A Igreja é constituída por todos aqueles que mantêm a concórdia com os irmãos e que amam o próximo”. Leão XIV mostrou um desejo: “uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado”. Uma atitude necessária, dado que “no nosso tempo, ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres. E nós queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de unidade, comunhão e fraternidade”. Um mundo de paz Junto com isso, o Papa fez um chamado à unidade “para construirmos um mundo novo onde reine a paz”. Segundo ele, “este é o espírito missionário que nos deve animar, sem nos fecharmos no nosso pequeno grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo; somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo”. Finalmente, ele disse que “esta é a hora do amor! A caridade de Deus, que faz de nós irmãos, é o coração do Evangelho”, fazendo, com Leão XIII, mais um chamado à paz. Nessa perspectiva, o Papa pediu que “com a luz e a força do Espírito Santo, construamos uma Igreja fundada no amor de Deus e sinal de unidade, uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade. Juntos, como único povo, todos irmãos, caminhemos ao encontro de Deus e amemo-nos uns aos outros”.

Paz, Justiça e Verdade: As palavras de Leão XIV aos embaixadores

A figura do Papa vai além da Igreja católica. Ele é visto, inclusive entre aqueles que não se dizem católicos, como uma referência moral para a humanidade. Sua voz é escutada frequentemente, também por aqueles que governam os países. Daí a importância da audiência que aconteceu na manhã desta sexta-feira, 16 de maio, onde o Papa Leão XIV recebeu o Corpo Diplomático diante da Santa Sé. Missão da Igreja: estar ao serviço da humanidade O Papa iniciou seu discurso agradecendo o trabalho dos diplomatas, e “as numerosas mensagens de felicitações que se seguiram à minha eleição, bem como as de condolências pelo falecimento do Papa Francisco”, que ele vê como “um significativo atestado de estima, que favorece o aprofundamento das relações mútuas”. Segundo Leão XIV, “a diplomacia pontifícia é realmente expressão da própria catolicidade da Igreja e, na sua ação diplomática, a Santa Sé é animada por uma urgência pastoral que a impele a intensificar a sua missão evangélica ao serviço da humanidade, e não a procurar privilégios”. Uma atitude que motiva o “combate toda a indiferença e chama continuamente a consciência, como o fez incansavelmente o meu venerado Predecessor, sempre atento ao grito dos pobres, dos necessitados e dos marginalizados, bem como aos desafios que marcam o nosso tempo, desde a salvaguarda da criação até à inteligência artificial. O Santo Padre definiu a presença dos diplomatas como um dom, que permite “alcançar e abraçar a todos os povos e a cada pessoa desta terra, desejosas e necessitadas de verdade, de justiça e de paz!”. Ele fez, desde sua experiência vital, um convite a “atravessar fronteiras para encontrar pessoas e culturas diferentes”. Para isso, o Papa quer “consolidar o conhecimento mútuo e o diálogo convosco e com os vossos países”. Paz Ele apresentou três palavras-chave para o diálogo mútuo. A primeira a paz, que é mais do que ausência de conflito ou uma simples trégua, definindo-a como “o primeiro dom de Cristo”. Nessa perspectiva, ele disse que é um dom ativo e envolvente, que se constrói no coração. Ele destacou a importância do diálogo interreligioso para promover contexto de paz, o que exige “o pleno respeito pela liberdade religiosa em todos os países”. Igualmente, deve ser fomentado o diálogo e o encontro, a a diplomacia multilateral e o desarmamento. Justiça Em segundo lugar, ele falou de justiça, denunciando “os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas”, o que tem a ver com a escolha de seu nome, seguindo o exemplo de Leão XIII. O Papa chamou a remediar as desigualdades globais, a construir sociedades civis harmoniosas e pacíficas. Para isso, ele pediu investir na família, proteger “a dignidade de cada pessoa é protegida, especialmente a das mais frágeis e indefesas, do nascituro ao idoso, do doente ao desempregado, seja ele cidadão ou imigrante”, lembrando ser descendente de imigrantes. Verdade A terceira palavra que o Papa lembrou foi a verdade. Ele refletiu sobre a necessidade de palavras autêntica, e na Igreja, sobre uma linguagem franca. Uma verdade que na perspectiva cristã, “não é a afirmação de princípios abstratos e desencarnados, mas o encontro com a própria pessoa de Cristo, que vive na comunidade dos crentes. Assim, a verdade não nos aliena, mas permite-nos enfrentar com maior vigor os desafios do nosso tempo”. Finalmente, o Papa lembrou que “o meu ministério começa no coração de um ano jubilar, dedicado de modo especial à esperança. É um tempo de conversão e de renovação e, sobretudo, uma oportunidade para deixar para trás os conflitos e iniciar um novo caminho, animado pela esperança de poder construir, trabalhando juntos, cada um segundo as suas sensibilidades e responsabilidades, um mundo em que todos possam realizar a sua humanidade na verdade, na justiça e na paz”. Fotos: @Vatican Media

Cardeal Prevost – Leão XIV: Combate aos abusos e avanço na proteção dos vulneráveis

Sobre a questão do abuso “há uma continuidade absoluta, embora com nuances, nos últimos quatro papas”, diz Jordi Bertomeu, Oficial do Dicastério para a Doutrina da Fé e Enviado Pessoal para Missões Especiais. Uma luta contra os abusos que o Cardeal Robert Prevost, agora Leão XIV, assumiu, sem sombra de dúvida. São inaceitáveis as tentativas de difamá-lo e colocar em dúvida sua integridade, originadas em círculos próximos ao Sodalicio de Vida Cristã, com a colaboração da mídia relacionada, que chegou ao ponto de entrar nas congregações gerais antes do Conclave e assediar o então Cardeal Prevost. Medidas pastorais e não canônicas De acordo com Bertomeu, na década de 1980, a Igreja na América do Norte percebeu que o direito penal canônico, embora consagrado no Código de Direito Canónico de 1983, não estava sendo aplicado. Desde o Concílio Vaticano II, optou-se por resolver problemas graves de indisciplina com medidas “pastorais”, distinguindo-as das “canônicas”. Na maioria das dioceses, havia uma falta de estrutura judicial e de pessoal treinado, algo que foi percebido pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Ratzinger, a partir das visitas ad limina de bispos do mundo de língua inglesa e da Europa Central. Particularmente nos Estados Unidos, os bispos costumavam resolver os problemas causados por padres pedófilos fazendo acordos financeiros com as vítimas, mas logo perceberam que era quase impossível remover esses padres e diáconos do estado clerical. Diante dessa situação, Ratzinger pediu ao Papa João Paulo II, em 2001, uma mudança na legislação, lembrando a toda a Igreja que havia crimes muito graves reservados à Santa Sé, especificamente à Congregação para a Doutrina da Fé. O Cardeal Ratzinger estava, portanto, seis meses à frente da explosão do Spotlight em 6 de janeiro de 2002. Na primeira década do século atual, os principais casos a serem tratados serão nos Estados Unidos e na Europa Central, sociedades com maior qualidade de democracia e maior litigiosidade. Gradualmente, a inquietação das vítimas crescerá em outras partes do mundo, à medida que elas perceberem que também precisam de justiça. Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores e Vulneráveis Após o pontificado de Bento XVI, veio um papa latino-americano. Francisco, assim que chegou, deu um passo adiante e criou a Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis. Isso mostra que a Igreja leva o abuso a sério. Um divisor de águas ocorreu em 2018, com a crise que eclodiu no Chile. Lá, o Papa descobriu que, além do abuso, havia em muitos lugares um problema de encobrimento por parte de alguns bispos. Francisco, depois de conhecer pessoalmente as três vítimas de Karadima, reagiu pessoalmente. Como admitiu mais tarde a um jornalista, ele havia se convertido. Ele enviou o bispo Scicluna e o bispo Bertomeu ao Chile para investigar. Mais tarde, eles seriam seus olhos e ouvidos em muitas outras missões especiais. Em sua Carta ao Povo de Deus de 20 de agosto de 2018, Francisco colocou todos os abusos na Igreja no mesmo nível de compreensão: sejam eles sexuais, de poder ou de consciência. Depois, em fevereiro de 2019, ele também convocou os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo em Roma, talvez em uma tentativa de fazer com que toda a Igreja deixasse de ser “surda” aos abusos e reagisse imediatamente, tomando o partido das vítimas. Três temas foram abordados: transparência, responsabilidade e prestação de contas. Evitando que as alegações caiam em ouvidos moucos A partir dessa cúpula, Francisco deixou clara a necessidade de uma lei para evitar, de uma vez por todas, que as denúncias caiam em ouvidos moucos. O Papa percebe que existe uma lei, mas ela não é aplicada porque as denúncias não chegam ao público. Assim, em junho de 2019, foi emitido o Motu Proprio “Vos Estis Lux Mundi”, que obriga todas as dioceses do mundo a ter um escritório para receber, investigar e lidar com denúncias. Junto com isso, a responsabilidade criminal é estabelecida no caso de negligência no recebimento de reclamações. Da mesma forma, o Papa percebe que esse problema não pode ser deixado apenas para a hierarquia. De fato, ele percebe que todo tipo de abuso, seja de consciência, espiritual ou sexual, é fruto do clericalismo e do elitismo, daqueles que se consideram uma casta com privilégios que ninguém lhes concedeu. Uma nova fase está iniciando, na qual os abusos estão começando a ser confrontados de forma sinodal. A razão para essa nova dinâmica está no fato de que Francisco, nas palavras de Bertomeu, “percebe que a Igreja tem sido surda à realidade do abuso, que o abuso nada mais é do que o poder exercido de forma tóxica”. Abuso sexual e abuso de poder De acordo com Bertomeu, “há abuso sexual porque há abuso de poder e esse é sempre um exercício tóxico de poder que, na Igreja, deveria ser puro serviço”. Diante disso, ele ressalta a necessidade de “todo o povo de Deus entrar em uma dinâmica de repensar como o poder é exercido na Igreja”, algo que deve ser feito não de forma ideológica, mas teológica, ou seja, pensando em si mesmo como um povo de batizados que se põe a caminho, desinstalando-se de seus confortos, para olhar suas vidas à luz do Espírito Santo como um lugar de revelação de um Deus que está próximo a eles. Dessa forma, consegue entender que é “todo o povo de Deus que participa da tomada de decisões, porque todos são batizados, porque todos participam do mesmo Espírito, mesmo que haja uma parte do povo de Deus que tenha recebido um carisma especial para conduzi-lo”, enfatiza Bertomeu. Ele não tem dúvidas de que, diante dos abusos na Igreja, Leão XIV dará continuidade ao que Francisco tem feito. Ele dá como exemplo o que aconteceu com o Sodalício, onde “o problema não é tanto o abuso sexual de menores, mas um abuso de poder e de consciência de adultos muito vulneráveis”. É por isso que, nos últimos anos, querendo combater todos os tipos de abuso, a Igreja…
Leia mais