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Em uma Igreja sinodal, o modo é superior ao conteúdo

Um Sínodo sem novidades, monótono, sem temas concretos, que nada vai mudar… Essas e outras mensagens semelhantes chegaram nos últimos dias, sinal de que a grande maioria não entende que, da mesma forma que para Francisco o tempo é superior ao espaço, poderíamos dizer que o modo é superior ao conteúdo. Testemunhas em vez de mestres A história nos mostra que os essencialismos deixaram os modos de lado. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o Concílio Vaticano II foi uma tentativa de recuperar a importância do modo. Paulo VI, um dos papas do Concílio, diz que “o homem contemporâneo ouve mais as testemunhas do que os mestres ou, se ouve os mestres, o faz porque eles são testemunhas”. O modo como algo superior ao conteúdo, uma dinâmica que foi posteriormente relegada. No atual pontificado, podemos dizer que Francisco deu um novo impulso à dinâmica conciliar. Ele o faz na Praedicate Evangelium, onde, no primeiro parágrafo, explicita “a missão que o Senhor Jesus confiou aos seus discípulos”, que não é outrasenão “anunciar o Evangelho do Filho de Deus, Cristo Senhor, e, através do mesmo, suscitar a obediência da fé em todos os povos”. Para isso, Francisco fala do caminho, não do conteúdo, e afirma: “a Igreja cumpre o seu mandato, sobretudo quando testemunha, por palavras e por obras, a misericórdia que ela própria gratuitamente recebeu”. Gestos e ações para se envolver na vida cotidiana O fundamental é o exemplo, colocando no texto o que Jesus fez, “lavou os pés aos seus discípulos e disse que seríamos felizes se assim fizéssemos também nós”. E, caso não tenha ficado claro, ele continua: “deste modo, ‘com obras e palavras, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo’”, explicando que, para anunciar o Evangelho, o Senhor “instou-nos a cuidar dos irmãos e irmãs mais frágeis, doentes e atribulados”. É assim que Francisco está orientando a Igreja a responder hoje aos sinais dos tempos, com modos, com testemunho, sem doutrinação. Na meditação antes do início dos trabalhos sobre o Módulo do Instrumentum Laboris que fala dos itinerários, Padre Radcliffe adverte sobre isso: “muitas pessoas querem que este Sínodo dê um Sim ou um Não imediato sobre várias questões, mas não é assim que a Igreja avança no profundo mistério do Amor Divino! Não devemos nos esquivar de perguntas difíceis”. A Igreja deve adotar modos Um Sínodo, uma Igreja, que explica detalhadamente o que deve ser feito em cada momento, é uma Igreja do Levítico e não do Evangelho. É por isso que ainda existem aqueles que defendem a Igreja do conteúdo, da doutrina, a Igreja piramidal em que alguns dizem o que deve ser feito e outros obedecem sem reclamar. Com o Sínodo, Francisco quer nos levar a entender que a Igreja deve adotar modos e, quando isso for feito, o conteúdo virá em seguida. A escuta, o diálogo, a conversa no Espírito, o discernimento comunitário são formas que ajudam a avançar o processo, um termo decisivo no Magistério do atual pontífice. Mas quando se trata de sinodalidade, parafraseando Georg Bätzing, bispo de Limburg e presidente da Conferência Episcopal alemã, “é preciso muita paciência para aprendê-la”, vendo-a como “exaustiva, às vezes árdua”, mas certamente o caminho para “apreciar a diversidade na Igreja e promover a unidade”. Para isso, Bätzing também aponta o caminho: “escutar uns aos outros e levar os outros a sério”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Itinerários: “Pensar nos processos pelos quais a Igreja muda os caminhos que devemos seguir”

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que se realiza em Roma de 2 a 27 de outubro de 2024, está dando mais um passo. Acaba de iniciar a reflexão sobre o módulo dos itinerários, com a presença de Papa Francisco, querendo assim “pensar nos processos pelos quais a Igreja muda os caminhos que devemos seguir”, como indicou o padre Timothy Radcliffe na meditação anterior ao início da apresentação, posteriormente realizada pelo Relator Geral, Cardeal Hollerich. Jesus e a mulher cananeia Para a meditação, ele usou o encontro de Jesus com a mulher cananeia, onde “à primeira vista parece que Jesus está sendo rude, chamando-a de cachorra”. Um texto que é a missão para judeus e gentios, “um momento de profunda transição”. Para o recém-nomeado cardeal, “esse silêncio não é uma rejeição”, porque “nesse silêncio, Nosso Senhor ouve a mulher e ouve seu Pai. A Igreja entra mais profundamente no mistério do Amor Divino ao se deter em questões profundas para as quais não temos respostas rápidas”, lembrando o que aconteceu no Concílio de Jerusalém. A partir daí, ele afirmou que “nossa tarefa no Sínodo é viver com perguntas difíceis e não, como os discípulos, livrar-se delas”, declarando que “devemos responder a todos os gritos de mães e pais em todo o mundo por jovens filhas e filhos presos na guerra e na pobreza. Não devemos fechar nossos ouvidos como os discípulos fizeram naquela época”. Referindo-se às discussões no salão do sínodo, ele disse: “Como homens e mulheres, feitos à imagem e semelhança de Deus, podem ser iguais e, ao mesmo tempo, diferentes? E como a Igreja pode ser a comunidade dos batizados, todos iguais, e ainda assim o Corpo de Cristo com diferentes papéis e hierarquias? Essas são perguntas profundas”. O Sínodo não dá um Sim e um Não imediatos O dominicano mostrou algumas passagens bíblicas que falam sobre cães, que para os judeus eram animais impuros, mas Jesus “transcende as limitações culturais de seu povo”. Para Radcliffe, “muitas pessoas querem que este Sínodo dê um Sim ou um Não imediato sobre várias questões, mas não é assim que a Igreja avança no profundo mistério do Amor Divino! Não devemos nos esquivar de perguntas difíceis como os discípulos que disseram: ‘Cale a boca!’ Nós nos debruçamos sobre essas perguntas no silêncio da oração e da escuta mútua. Ouvimos, como alguém disse, não para responder, mas para aprender. Expandimos nossa imaginação para novas maneiras de ser a casa de Deus, na qual há espaço para todos”. A partir daí, ela concluiu dizendo que “apesar da recepção hostil dos discípulos, a mulher permanece. Ela não desiste nem vai embora. Por favor, fique, seja qual for a sua frustração com a Igreja, continue perguntando! Juntos descobriremos a vontade do Senhor”. Itinerários para manter relacionamentos Para o cardeal Hollerich, o terceiro Módulo adota “a perspectiva dos Itinerários que sustentam e alimentam concretamente o dinamismo dos relacionamentos”, mostrando que “estamos, portanto, em continuidade com o Módulo 2, com um passo mais concreto. A riqueza da rede de relacionamentos que compõem a Igreja, que contemplamos nestes dias, é ao mesmo tempo poderosa e frágil, é um grande dom que recebemos, mas precisa de cuidados. Sem cuidado, os relacionamentos rapidamente murcham e, acima de tudo, tornam-se tóxicos para as pessoas envolvidas, como nos mostram os numerosos casos de falhas relacionais em nossas sociedades e até mesmo em nossas comunidades”. Para o relator geral, “o cuidado é, portanto, o primeiro objetivo de nosso módulo: com quais ferramentas podemos apoiar e nutrir o tecido relacional de que as pessoas e as comunidades precisam, o que pode fortalecê-las e o que, por outro lado, amortece e extingue os relacionamentos?” Partindo do fato de que “os relacionamentos são justamente o objeto de nossa contemplação e oração, bem como de nossa reflexão e elaboração teológica e até mesmo canônica”, ele agradeceu pelo tesouro inesgotável que a Igreja oferece. De acordo com o cardeal, “os relacionamentos são algo que vivemos em práticas concretas, dia após dia. Essas práticas devem ser consistentes com o que dizemos, caso contrário, as pessoas ouvirão nossas palavras, mas não acreditarão em nossas práticas, e isso tornará nosso patrimônio sem sentido e o corroerá lentamente”. As ações falam mais alto do que as palavras Nesse sentido, “as ações falam mais alto do que as palavras”. Isso o levou a perguntar: “Que articulação dos processos de tomada de decisão na Igreja é coerente com o que dizemos sobre as relações entre vocações, carismas e ministérios, sobre sua reciprocidade e complementaridade? E com o que dizemos sobre a dignidade de cada pessoa batizada?”, destacando o cuidado e a coerência como chave, para abordar os itinerários, uma seção dividida em quatro parágrafos. O primeiro trata da formação; o segundo, da profundidade espiritual; o terceiro, da necessidade de a Igreja desenvolver modos participativos de tomada de decisões, na circularidade do diálogo entre todos os membros do Povo de Deus e no respeito às diferentes funções; e o quarto, da transparência e da avaliação periódica. Tudo isso para entender que “a reflexão e o diálogo sobre o cuidado com os relacionamentos e a coerência entre as palavras e as práticas nos dão uma valiosa oportunidade de agir”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Assembleia Sinodal: um lugar onde a fraternidade transborda

No dia em que a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI do Vaticano de 2 a 27 de outubro de 2024, encerrou o módulo sobre relações, alguns membros da Assembleia Sinodal, juntamente com os que normalmente estão presentes, a secretária da Comissão de Comunicação, Sheila Pires, a vice-diretora da Sala Stampa, Cristiane Murray, e o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, compartilharam o que haviam experimentado na assembleia nos últimos dias. Os presentes em 10 de outubro foram o prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch, e, juntamente com o cardeal três delegados fraternos, o Metropolita da Pisídia, Sua Eminência Job, o Bispo Anglicano de Chichester, Dom Martin Warner, e a pastora menonita Anne-Cathy Graber. As relações com outras igrejas são um elemento importante, algo que o atual processo sinodal quer promover. Criatividade e transbordamento Entre os tópicos discutidos na Sala Sinodal nos círculos menores, Sheila Pires destacou a novidade dos fóruns realizados na tarde de quarta-feira, que o Cardeal Grech disse terem sido muito positivos. Ela também lembrou que o módulo sobre itinerários será iniciado. O trabalho realizado no módulo sobre relações foi apresentado à Secretaria do Sínodo, disse Ruffini, que destacou o estímulo à criatividade e ao transbordamento, palavra usada em Querida Amazônia pelo Papa Francisco. Nesse sentido, o prefeito do Dicastério para a Comunicação recordou o chamado do Papa a “transcender a dialética para reconhecer um dom maior que Deus nos ofereceu. A partir desse dom inesperado, uma criatividade renovada é despertada”, algo que se espera que leve a um transborde missionário. Vigília ecumênica nesta sexta-feira Uma vigília ecumênica estará sendo realizada na noite desta sexta-feira, o que pode ser visto como uma das razões para a presença dos delegados fraternos na coletiva de imprensa. Para o Cardeal Koch, um dos elementos mais importantes do atual Sínodo é a sua dimensão ecumênica, algo que está incluído no Instrumentum laboris, onde a sinodalidade aparece como um caminho para o ecumenismo. A Vigília Ecumênica é algo que já foi realizado antes do início da Primeira Sessão da Assembleia Sinodal, lembrou Koch. Este ano, ela coincide com o aniversário do início do Concílio Vaticano II e será realizada na Praça dos Protomártires Romanos, onde a tradição diz que o apóstolo Pedro foi martirizado. Para o prefeito, a oração em conjunto é muito importante para o avanço do movimento ecumênico, pois Jesus não ordena a unidade, mas reza por ela. Koch reconheceu a importância da presença maior e mais representativa de delegados fraternos na Segunda Sessão, agradecendo ao Santo Padre por aumentar seu número. O cardeal suíço destacou os elementos positivos existentes em todas as igrejas e a necessidade que umas têm das outras, considerando um sinal muito positivo o fato de tantas igrejas quererem se envolver na Assembleia Sinodal. O batismo como base do caminho sinodal Para Sua Eminência Job, o delegado fraterno ortodoxo, é muito bonito poder ver todo esse caminho sinodal, não como uma inovação da Igreja Católica, mas como uma implementação da eclesiologia do Concílio Vaticano II, que fez uma revolução copernicana. Partindo do Povo de Deus, uma eclesiologia baseada no batismo, o delegado ortodoxo considera isso como a base para o caminho sinodal, porque há outros batizados além da Igreja Católica, o que ajudou o diálogo entre as igrejas cristãs após o Vaticano II. O diálogo entre católicos e ortodoxos aborda a questão da autoridade, sinodalidade, primazia, ministérios na Igreja, algo que vem sendo discutido há anos em um diálogo que, além de ser um passo adiante no caminho da unidade, pode dar frutos na vida interior de cada Igreja. Ele também destacou que ficou impressionado com a convergência dos diálogos entre as diferentes confissões, que não buscam apenas um acordo, um compromisso, mas “estabelecer a base para nossa vida comum, que pode nos levar à unidade cristã”. Importância da relacionalidade Dom Warner falou das diferenças entre os sínodos anglicanos e o atual Sínodo, que “nos lembra da importância da relacionalidade”, dadas as relações profundas que estão ocorrendo, olhando uns para os outros como família, respeitando as diferenças, reconhecendo a importância da troca de presentes. Ele também lembrou que os sínodos anglicanos são deliberativos, lembrando que o Papa Francisco alertou sobre os riscos do modelo parlamentar. Nessa perspectiva, ele ressaltou a importância da conversa no Espírito para responder aos desafios e a importância da oração e do silêncio no processo sinodal, que “nos lembra que estamos sob a autoridade de Jesus Cristo”. Uma igreja comprometida com a paz A Igreja Menonita é uma igreja pouco conhecida, pertencente à tradição da reforma do século XVI, caracterizada por escolher o caminho da não violência, lembrou Anne-Cathy Graber. A pastora expressou sua alegria por ter sido convidada para o sínodo, especialmente porque a Igreja Católica não precisa da voz da Igreja Menonita, uma igreja pequena. Para ela, isso mostra que cada voz, cada cultura conta, que cada país tem a mesma importância. “A unidade cristã não é uma promessa para amanhã, é agora”, disse ela, para a qual é necessária uma recepção generosa. Junto com isso, ela insistiu que “somos delegados fraternos, não apenas observadores”, lembrando que somos feitos da mesma carne, do mesmo Corpo de Cristo, o que motiva toda voz e presença a serem bem-vindas. Ela lembrou que, como foi dito na Sala Sinodal, “estamos vivendo o transbordamento, estamos experimentando um transbordamento de fraternidade”, fazendo com que o sofrimento e a esperança das outras igrejas sejam nossos. A partir daí, é importante superar a desilusão ecumênica, não se contentar com a ideia que temos de outra igreja, porque não deve haver uma igreja que caminha acima das outras, mas todos nós devemos caminhar juntos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Relações e reações em uma Igreja sinodal

A reflexão teológica, que nos diz que ninguém se salva sozinho, como a própria vida cotidiana, nos mostra a importância dos relacionamentos. O Instrumentum laboris da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que acontece de 2 a 27 de outubro de 2024 na Sala Paulo VI, tem as relações como um dos módulos em que o documento está dividido, orientando o trabalho dos participantes. Purificando as relações Está claro que os relacionamentos determinam a missão, pois é somente quando esses relacionamentos são purificados que podemos interagir e, assim, testemunhar, escutar, dialogar e discernir. Se os relacionamentos se deterioram, a corda se quebra em algum momento, acabando com o grande objetivo: realizar a missão que nos permite construir o Reino de Deus, que é algo que deve ser feito por todos e em conjunto. A falta de escuta, a autorreferencialidade, o clericalismo são alguns dos perigos que deterioram as relações. No domingo, 6 de outubro, o Papa Francisco, em meio à Assembleia Sinodal, anunciou a criação de 21 novos cardeais para 8 de dezembro. Nove deles estão na sala sinodal e é interessante estudar as reações que se percebe, que mostram que a sinodalidade está permeando os vários estratos da vida da Igreja, incluindo o teoricamente mais alto, o Colégio de Cardeais, embora em uma Igreja onde todos se sentam em mesas redondas, parece que essas considerações piramidais estão se perdendo. Esperemos que isso não seja algo passageiro. Relações em um nível fraterno Do lugar onde nós jornalistas nos encontramos, o “curralinho” na entrada da Sala Paulo VI, ou no andar superior da própria sala, nos momentos em que a entrada é liberada, ou seja, durante as orações e a apresentação dos vários módulos, vemos os participantes da assembleia passando e interagindo uns com os outros e, neste caso, vimos aqueles que o Papa decidiu acrescentar ao Colégio de Cardeais. Relacionar-se uns com os outros em nível fraterno, conhecendo e assumindo o ministério e o serviço que cada um assume, mas sem menosprezar ninguém, é um requisito importante para que a sinodalidade seja estabelecida como uma forma de ser Igreja no século XXI. Ser um cardeal deve ser entendido como um serviço, um serviço importante, mas um serviço. À medida que a responsabilidade cresce na Igreja, a disponibilidade para escutar, com relações evangélicas e fraternas, deve aumentar na mesma medida. Servir para ser o maior A ninguém é negada a última palavra na tomada de decisões, quando é preciso tê-la, mas é importante o caminho que se percorre para chegar a esse ponto, os relacionamentos que se estabelecem com os outros para poder discernir o que nos é pedido, o que Deus espera de nós no caso da Igreja. Isso não é novidade, o Evangelho, que deve ser nossa fonte de inspiração, nos diz: “quem quiser tornar-se grande entre vocês será seu servo, e quem quiser ser o primeiro entre vocês será seu escravo”. É possível perceber essas atitudes em muitos dos cardeais nomeados pelo Papa Francisco, pessoas que não se acham, que não mudam o passo, seu modo de olhar e se relacionar com os outros. Um deles disse que na primeira noite a surpresa não o deixou dormir, mas a vida continua, de uma maneira diferente, e como ele sempre fez, sem dizer não a nada que a Igreja lhe pede. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo: “A missão é o horizonte da sinodalidade, que fortalece todo o povo de Deus como sujeito da missão”

Os fóruns teológico-pastorais são uma das novidades da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada em Roma de 2 a 27 de outubro. Foram organizados dois fóruns simultâneos, um sobre “O povo de Deus como sujeito da missão” e o segundo sobre “O papel e a autoridade do bispo em uma igreja sinodal”. O Instrumentum laboris afirma que “o Povo de Deus não é a soma dos batizados, mas o nós da Igreja, o sujeito comunitário e histórico da sinodalidade e da missão”. Um ponto de partida que levou os palestrantes a responder às implicações do fato de que a proclamação do Evangelho de Jesus Cristo em palavras e ações, “a missão”, é confiada a “um povo”. Jesus, o missionário do Evangelho Thomas Söding, professor de Novo Testamento na Faculdade Católica de Teologia da Ruhr-Universität Bochum, explicou como ler o Novo Testamento hoje para interpretar a realidade a partir desse ponto de vista. O professor apresentou Jesus como um missionário do Evangelho, como aquele que queria reunir todo o povo de Deus sob o signo do Reino de Deus. Juntamente com os 12, ele enfatizou a presença e a importância de outros discípulos e de todos aqueles que vivem a fé em casa, citando exemplos de missionários entre seu povo. Söding enfatizou que Jesus busca a conversão de todo o povo de Deus, apontando que os 12 têm um problema desde o início: eles não reconhecem que não são os únicos que seguem os passos de Jesus e que não devem dominar os outros, buscar ser o maior ou impedir que as pessoas se aproximem de Jesus. Para isso, ele refletiu sobre as atitudes e a missão dos apóstolos, algo que a literatura paulina abre para o local, destacando a importância fundamental da acolhida e da solidariedade, do reconhecimento de que todos recebem carismas e que todos devem aceitar suas habilidades e reconhecer os dons dos outros para ter empatia. A vocação para a missão de toda a Igreja caracteriza todo o Novo Testamento. “O objetivo do ministério ordenado é promover o sacerdócio comum de todos os fiéis”, de acordo com o teólogo, que destacou que hoje há muitos fiéis bem formados, não apenas bispos e padres, o que é um dom para a Igreja, levando a novas formas de cooperação e participação na missão. A partir daí, os fiéis leigos esperam ser ouvidos quando o futuro de sua igreja for debatido. Portanto, “a missão é o horizonte da sinodalidade, e a sinodalidade é a forma que fortalece todo o Povo de Deus como sujeito da missão”. A Igreja como a semente do Reino de Deus Ormond Rush partiu de três perguntas: o que é missão, quem é o povo de Deus e como é o povo de Deus? Ele começou com a missão de Deus, definindo Jesus como a janela de Deus para o plano de Deus ao longo da história. Seu ministério está centrado no Reino de Deus e, de acordo com o Concílio Vaticano II, a missão da Igreja é a de Jesus, é proclamar Jesus Cristo e estabelecer o Reino entre todos os povos, sendo a Igreja a semente e o início desse Reino na Terra, um processo interativo e colaborativo. Ao falar sobre o que é a Igreja, uma questão vital para o Vaticano II, ele destacou que são todos os crentes batizados que se comprometem a ser discípulos de Jesus Cristo, independentemente de seu ministério ou posição. Um sentido inclusivo da Igreja, que é todo o povo de Deus e todo o corpo de Deus, lembrando as três categorias do povo de Deus no Concílio: Communio fidelium, Communio ecclesiarum e Communio Hierarchica. A Igreja é vista pelo padre australiano como um sujeito ativo que participa da missão de Deus. A partir daí, ele vê o Sínodo como um sujeito interpretativo que busca a orientação do Espírito para entender o Evangelho vivo e completo. A Igreja tem a responsabilidade de interpretar os sinais dos tempos à luz do Evangelho se quiser cumprir sua tarefa, portanto, o desafio para a Igreja é interpretar os sinais dos tempos, como o Sínodo está fazendo. Para isso, são importantes o lugar, a cultura e a língua, que moldam o modo como o Espírito do Evangelho é interpretado, uma realidade também presente no Sínodo, pois o Povo de Deus é um sujeito sacramental. Direito canônico e missão A partir do Direito Canônico, que mudou no último século, Donata Horak pediu que se encontre um elo entre direito, teologia e vida, em vista de que as reformas sejam mais fiéis à tradição, evitando a imposição das próprias visões. Isso é para tornar o Evangelho crível com base em relacionamentos justos em uma sociedade de irmãos e irmãs. A partir daí, ele abordou as possíveis reformas do ponto de vista do sujeito, o Povo de Deus, e como ele participa das decisões e deliberações. “A Igreja é um povo de homens e mulheres incorporados a Cristo pelo batismo, que são participantes da função sacerdotal, profética e real de Cristo, todos corresponsáveis na missão”, afirmou a canonista italiana. São apresentados os direitos e deveres fundamentais de todos os fiéis, contando alguns deles e mostrando as coincidências e os avanços do Código Latino e do Código das Igrejas Orientais. Segundo a professora, parecem coexistir duas teologias entre os documentos conciliares e o Código de 1983, com pontos de conflito, sobretudo em relação à participação no governo da Igreja, que exige reflexão, para que todo batizado tenha esse poder. Estão sendo feitos progressos, especialmente com relação às mulheres, exigindo uma reforma que não mantenha uma eclesiologia dupla. Sobre a tomada de decisões e a consulta e deliberação em relação aos conselhos, seu funcionamento e a eleição de seus membros, vendo o voto consultivo como algo depreciativo, analisando os conselhos e sínodos e seu significado, criticando o poder deliberativo exercido de forma autoritária, o que não ajuda a comunhão. Nesse sentido, afirmou que as decisões são válidas porque…
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Assembleia sinodal: “O Sínodo deve inspirar a ação, não apenas produzir documentos”

A Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI do Vaticano, continua a debater as relações. Para aprofundar estas e outras questões relacionadas com o caminho sinodal, o Arcebispo de Nampula e Presidente da Conferência Episcopal de Moçambique, Dom Inácio Saúre, o Arcebispo de Puerto Montt (Chile), Dom Luis Fernando Ramos, e o Diácono Permanente da Diocese de Gent (Bélgica), Geert De Cubber. participaram na conferência de imprensa no dia 9 de Outubro.  Mulheres e jovens na tomada de decisões Os trabalhos têm se concentrado no tema do discernimento eclesial, segundo a secretária da Comissão para a Comunicação da Assembleia Sinodal, Sheila Pires. Nos mais de 70 discursos livres foi destacado o papel dos ministros ordenados e dos leigos, sua colaboração com os sacerdotes e bispos, o seu envolvimento nos processos de decisão. Daí a necessidade de uma maior participação dos leigos, dado que a sua presença é indispensável e cooperam para o bem da Igreja. Pires destacou a proposta realizada para consultar ao Povo de Deus sobre a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e ao episcopado, dado que numa Igreja sinodal, o Povo de Deus tem que se sentir responsável na escolha. Igualmente, foi falado sobre a possibilidade de leigos ser párocos, pois muitos sacerdotes não têm vocação de párocos. Respeito às mulheres, foram destacadas algumas propostas, como evitar qualquer tipo de discriminação sexual no acolitado, reconhecendo seu contributo nos processos de decisão. Foi falado sobre confiar às mulheres o ministério da escuta, dado que “as mulheres sabem ouvir, ouvem de forma diferente”. Finalmente, envolver mais as mulheres num mundo dividido e em guerra. Ouvindo vozes corajosas de fora da Igreja Por sua vez, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, falou da necessidade de entrar em contato com os jovens por meio da pastoral digital, e de que os jovens façam parte do discernimento eclesial na pastoral juvenil. Ele também falou da situação dramática de muitas crianças no mundo, vítimas do tráfico de pessoas. Nesse sentido, ele enfatizou que “o Sínodo precisa inspirar ações, não apenas produzir documentos”, pedindo que se escute as vozes corajosas que vêm de fora da Igreja. Ruffini destacou o testemunho de uma mãe que estava preocupada com a Iniciação Cristã das crianças e o papel dos pais na vivência da sinodalidade. Falou-se do acompanhamento das vítimas de abuso dentro da Igreja, da necessidade de a Igreja se aproximar dos vulneráveis, de uma maior proximidade com os pobres, da solidão e do isolamento dos padres, sobrecarregados de trabalho, da distância dos padres em relação à sinodalidade, o que deveria levar o Sínodo a ver como pode reavivar sua vocação de servir ao Povo de Deus. Houve também um forte apelo para o diálogo entre as Igrejas e dentro da Igreja, para a família como um modelo de sinodalidade e para que o Sínodo jogue o jogo e não apenas escreva um manual de treinamento. Confiança e respeito mútuos O Arcebispo Luis Fernando Ramos salientou que no ano passado muitas questões foram levantadas, agora eles estão se concentrando em questões mais específicas para rearticular o que entendemos por uma Igreja Sinodal. Nesse contexto, surgiu o argumento da Igreja Povo de Deus, complementado pela Igreja Povo de Cristo, destacando a importância da espiritualidade sinodal para mudar as estruturas e o modo de ser Igreja, para uma conversão pessoal, comunitária, eclesial e pastoral. Ressaltou a importância de os leigos nunca perderem sua vocação secular, e das relações entre os seres humanos e dentro da Igreja, a fim de purificar, transformar e iluminar as relações baseadas na caridade. O bispo destacou a importância dos papéis de responsabilidade para que sejam imbuídos dos critérios de sinodalidade, com roteiros para o discernimento sinodal. Isso em uma assembleia onde há confiança e respeito mútuo, algo que é valorizado positivamente por todos. O fundador canonizado durante o Sínodo Para os Missionários da Consolata, o Sínodo traz uma grande novidade, a canonização do Beato José Allamano, que será realizada dia 20 de outubro, segundo disse o arcebispo de Nampula, membro dessa Congregação. Para eles, o tema do Sínodo é muito caro porque Allamano criou um instituto missionário. O arcebispo moçambicano refletiu sobre a importância da Iniciação Cristã como encontro com Jesus Cristo, e o fenómeno que acontece na África, onde os jovens saem da Igreja depois de receber esses sacramentos, o que deve levar a refletir se teve boa Iniciação Cristã. Igualmente falou sobre a partilha de dons entre os seres humanos e entre as Igrejas numa Igreja Sinodal e da importância do conhecimento mútuo entre a Igreja Católica e a Igreja Oriental, que tem muito a nos dar nesta partilha de dons. A sinodalidade começa em casa O diácono permanente belga disse que não teria podido participar deste Sínodo sem sua família, com quem se sentou à mesa para decidir se sua presença na Assembleia Sinodal era algo conveniente, com o que todos concordaram, porque de outra forma, se alguém não tivesse concordado, ele não teria participado. A partir daí, ele destacou que “minha experiência de sinodalidade começa em casa“. Em relação à Igreja belga, suas dificuldades e a presença de pessoas cansadas, ele disse que eles estão tentando colocar a Sinodalidade em prática na Pastoral Juvenil, para levar a sinodalidade ao trabalho com os jovens, algo feito com todas as dioceses que buscam avançar como Igreja sinodal. Por isso, sublinhou o fato de que somos diferentes uns dos outros, mas temos em comum nossa catolicidade. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Papa Francisco receberá as mulheres do Sínodo no dia 19 de outubro

O papel das mulheres na Igreja é algo que está cada vez mais presente no pensamento do Papa Francisco. De fato, em seu encontro com os jesuítas na recente viagem à Bélgica, quando perguntado por um jesuíta sobre “a dificuldade de dar às mulheres um lugar mais justo e adequado na Igreja”, ele não hesitou em responder que “a Igreja é uma mulher“. Nesta perspectiva, ele mostrou seu desejo de “colocar cada vez mais no Vaticano mulheres com papéis de crescente responsabilidade. E as coisas estão mudando: você pode ver e sentir isso”, enfatizando que “as mulheres, em suma, entram no Vaticano com papéis de alta responsabilidade: continuaremos neste caminho. As coisas estão funcionando melhor do que antes.” Mulheres membros da Assembleia Sinodal Na Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que realiza sua Segunda Sessão de 2 a 27 de outubro, essa presença feminina é algo que parece ter vindo para ficar. Cada vez menos pessoas questionam sua presença e muitas valorizam suas contribuições. De fato, entre os membros do Sínodo há um bom número de mulheres, com voz e voto, que trazem para a sala do Sínodo o desejo de serem cada vez mais ouvidas e reconhecidas na vida cotidiana da Igreja, abrindo espaço para elas nos espaços de tomada de decisão, que além das questões ministeriais, é o desejo da grande maioria das mulheres. O encontro do dia 19, uma iniciativa particular das mulheres participantes da Assembleia Sinodal, é mais uma prova do desejo do Papa Francisco de ouvir a todos. Alguns participantes da Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia dizem que, quando as mulheres falaram, a atenção de Francisco foi redobrada. Um momento de partilha e escuta Mais do que qualquer demanda que será levada, o encontro deve ser um momento para as mulheres se apresentarem e dizerem ao Papa as angústias, as esperanças e alegrias, apresentando muito do trabalho que as mulheres já fazem na vida das comunidades, paróquias, pastorais, movimentos, dioceses, inclusive na Cúria vaticana. Uma oportunidade para reafirmar os passos dados desde a Primeira Sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, realizada em outubro de 2023: dar visibilidade para as mulheres, o reconhecimento das mulheres na Igreja e que a Igreja possa ter esse olhar feminino. Um encontro que segundo uma das mulheres que participa da Assembleia Sinodal, “será um encontro de partilha, e ele como pastor para escutar”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O Baldaquino de São Pedro, restaurado em seu esplendor, será inaugurado no encerramento do Sínodo

O Jubileu 2025 está limpando a face de Roma e, evidentemente, do Vaticano e da Basílica de São Pedro. Estão sendo realizados trabalhos em todos os cantos, buscando restaurar o esplendor original de peças emblemáticas, incluindo o Baldaquino de Bernini, que cobre o altar-mor da Basílica e o túmulo do apóstolo, e a Cátedra de São Pedro. Mais de 100 jornalistas presentes No dia 8 de outubro, a Sala Stampa do Vaticano organizou uma visita com jornalistas, da qual participaram mais de 100 correspondentes credenciados, que fizeram uma avaliação muito positiva da visita, dada a singularidade dos espaços visitados, apesar das longas esperas, o que é compreensível dada a dificuldade de locomoção entre andaimes e peças de grande valor artístico e importância para a Igreja Católica. Recebidos pelo arcipreste da Basílica de São Pedro, Vigário Geral para a Cidade do Vaticano e presidente da Fabbrica di San Pietro, Cardeal Mauro Gambetti, ele se disse surpreso com o grande número de pessoas e descreveu a restauração como “memorável, extraordinária”. Junto com o cardeal, o diretor de comunicação da Basílica, Enzo Fortunato, que lembrou que o trabalho foi possível graças ao apoio dos Cavaleiros de Colombo, e Alberto Capitanucci, chefe do departamento técnico da Fábrica de San Pedro no Vaticano, que está dirigindo o trabalho, que compartilhou algumas das anedotas vividas por aqueles que pelos restauradores nos últimos meses. Um trabalho grandioso Um trabalho que ocorre 250 anos após a última grande restauração e que foi realizado nos últimos 9 meses. No caso do Baldaquino, criado entre 1623 e 1634, com quase 29 metros de altura e pesando 63 toneladas, acaba de completar 400 anos desde o início de sua construção, os últimos detalhes estão sendo finalizados e a inauguração oficial ocorrerá em 27 de outubro, coincidindo com a missa de encerramento da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que iniciou seus trabalhos em 2 de outubro. A conclusão da Cátedra de São Pedro está prevista para dezembro. Entre os objetos visitados, vale a pena destacar um elemento singular por sua importância, a cadeira na qual a tradição diz que Pedro, o primeiro pontífice, sentou-se. Um objeto que, com quase dois mil anos, podemos dizer que ainda está em condições mais ou menos boas e cujo significado simbólico nos leva a contemplar o significado dos 264 pontífices que ocuparam a Cátedra de Pedro desde então. Uma experiência única, pois além de contemplar com atenção e precisão todos os detalhes do baldaquino e da cadeira, ofereceu a possibilidade de ter uma visão em perspectiva da Basílica de São Pedro, uma oportunidade que provavelmente não será desfrutada por muito tempo. Não podemos nos esquecer de que a última grande restauração foi feita há 250 anos. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Dom Jaime Spengler: “Talvez tenha faltado no Instrumentum Laboris a relação com o meio ambiente, com a casa comum”

O arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-americano e caribenho (CELAM), foi um dos participantes da coletiva de imprensa do dia 8 de outubro. Ele manifestou sua surpresa diante da nomeação cardinalícia, cerimonia que será realizada dia 8 de dezembro no Vaticano, mas ao mesmo tempo lembrou um dos princípios norteadores de sua vida: “nunca dizer não ao que a Igreja me pede”. Igualmente agradeceu ao Papa Francisco pela confiança depositada nele. Testemunhas mais do que mestres Falando sobre a sinodalidade na América Latina e no Caribe, Spengler destacou que “hoje, a questão da autoridade na sociedade e no mundo, é uma questão decisiva”, afirmando que “estamos vivendo um momento de crise das democracias”, e junto com isso “uma crise nas instituições de mediação no seio da sociedade, seja internacional, global, seja também em nível continental”. Diane disso, o arcebispo de Porto Alegre fez um chamado a resgatar as palavras de Paulo VI: “o ser humano hoje, ouve com muita maior atenção as testemunhas que os mestres, e se ouve os mestres, é porque são testemunhas”. Nessa perspectiva, ele enfatizou que “a autoridade, ela não vem de um poder sociológico, mas de um testemunho ético, moral e religioso”. Inculturação dos ritos litúrgicos Com relação ao Rito Amazônico, uma possibilidade em discussão, o presidente da CNBB falou sobre a realidade de muitas comunidades na Amazônia, onde a celebração eucarística acontece uma vez por ano, inclusive menos do que isso. O Rito Amazônico está sendo estudado pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), lembrou dom Jaime Spengler. Ele disse que o Rito Romano “deve ser inculturado nas diversas realidades”, algo que exige uma sensibilidade especial. Lembrando a diversidade de povos, culturas e línguas, o futuro cardeal falou sobre a importância de um rito para a região, colocando como exemplo a Eucaristia celebrada na Assembleia da CEAMA em 2023, onde indígenas serviram o altar nas diversas funções. Ele destacou a dignidade, a reverência, o modo, o cuidado com que os indígenas desenvolviam o que fazia parte do rito, “com uma dignidade tal que as vezes não sentimos ou não testemunhamos nas nossas celebrações, por mais solenes que sejam”. Fenómenos climáticos no Brasil A Assembleia Sinodal está abordando o tema das relações, e nessa perspectiva, o presidente da CNBB, diante da realidade climática vivenciada no Brasil e em outros lugares do Planeta, disse que no grupo em que participa foi tocado esse aspecto, sendo visto que o Instrumentum laboris fala da relação horizontal e vertical, transcendente, “mas talvez tenha faltado a relação com o meio ambiente, com a casa comum, um aspecto que precisamos ter presente nas discussões nesses dias”. Ele relatou a dramática situação que vive o Brasil, com incêndios, secas na Amazônia, falando da conversa com o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, onde relatou que não pode visitar algumas comunidades que tem como único acesso os rios, agora secos. Diante disso, dom Jaime Spengler enfatizou: “o mundo, a natureza está pedindo socorro, e o cuidado que nós somos chamados a ter para com a natureza, não porque podemos perecer por falta de cuidado com o meio ambiente, o lixo que produzimos, as transformações que nós estamos assistindo”. Considerando isso muito importante, ele sublinhou que “o cuidado que nós somos chamados a desenvolver em relação ao meio ambiente, tem um grau de dignidade ainda maior, esse meio ambiente, essa vida, esse Planeta, não é fruto de obra humana, é divino. E por isso, todo cuidado, toda promoção se faz necessária”. O presidente da CNBB destacou como algo muito forte a interpelação que Papa Francisco nos faz: “Que mundo nós queremos deixar para os filhos, para os netos, para aqueles que virão depois de nós”, insistindo em que “o futuro está nas mãos de Deus”, mas também que o novo a viver “passa pelas nossas escolhas, as nossas decisões, as nossas opções”, o que demanda uma corresponsabilidade evangélica com efeitos na sociedade e no futuro melhor na vida daqueles que virão depois. Missão que constrói sociedade Sobre a missão na Igreja, tema da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, o presidente da CNBB destacou o papel destacado na evangelização do Brasil e da América Latina da parte daqueles que chegaram de outras regiões, afirmando que “se hoje nós temos uma tradição cristã vigorosa, nós devemos aos imigrantes”, mesmo diante das muitas dificuldades sofridas, vencidas com “a determinação, a coragem e sobretudo a fé, que deu forças para construir uma sociedade da qual hoje nós somos participantes”. Igualmente destacou a importância da Iniciação à Vida Cristã, um tema debatido na aula sinodal. Pontos de convergência para a transmissão da fé Dom Jaime Spengler vê como grande desafio da Igreja como fazer chegar a fé às pessoas. Afirmando que não temos claro o modo, ele disse que esse é trabalho do Sínodo, colocando o diálogo, a escuta, a sensibilidade com as diversas realidades, como caminhos, buscando “pontos de convergência diante do desafio da transmissão da fé hoje às novas gerações”, algo que demanda dos participantes da assembleia abertura de coração e capacidade intelectual e espiritual. Falando sobre a Conferência Episcopal brasileira, com mais de 450 bispos e uma grande assembleia geral, que chegou a definir como quase um Sínodo, vê esses encontros como um Pentecostes, em que pessoas de diversas culturas, línguas, conseguem chegar em pontos de convergência para responder à atual realidade política, social e eclesial. Riqueza na diversidade do Colégio Cardinalício O arcebispo de Porto Alegre falou sobre a tragédia vivida no Rio Grande do Sul no mês de maio, com cidades completamente arrasadas, que demanda construir de forma diferente. Ele destacou a onda de solidariedade nunca vista no Brasil, que deve ficar na história, sem esquecer que também apareceu o pior de alguns. Falando da catolicidade da Igreja, que tem a ver com “generosidade e magnanimidade própria de Deus, capaz de dialogar com todas as diferenças, culturas, realidades, povos”. Ele vê na diversidade do Colégio Cardinalício, uma “expressão desse modo característico…
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Assembleia Sinodal: “Todos se reconhecem, ninguém quer impor sua visão”

Três dos que serão criados cardeais no próximo dia 8 de dezembro, anunciados no domingo passado pelo Papa Francisco no Angelus, estavam presentes neste dia 8 de outubro na Sala Stampa. Foram eles o arcebispo de Porto Alegre (Brasil), presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM), Dom Jaime Spengler, o arcebispo de Tóquio (Japão), Dom Tarcisio Isao Kikuchi, e o arcebispo de Abidjan (Costa do Marfim), Dom Ignace Bessi Dogbo. 62.000 euros enviados a Gaza Paolo Ruffini, relatando o que aconteceu na Sala do Sínodo, informou que foram arrecadados 32.000 euros para a paróquia de Gaza dos participantes da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI de 2 a 27 de outubro, além de outros 30.000 euros do Limosneria Apostólica. 62.000 euros já estão à disposição da paróquia, algo que foi agradecido em um vídeo, exibido na sala do Sínodo e depois para os jornalistas, no qual o pároco e os jovens agradeceram ao Papa e aos participantes do Sínodo pela ajuda. Sete dos 14 membros da comissão para a elaboração do Documento Final da Assembleia foram eleitos, um para cada região em que o processo sinodal foi dividido. São eles o Cardeal Ambongo pela África, o Cardeal Rueda pela América Latina e o Caribe, Catherine Clifford pela América do Norte, o Padre Clarence Sandanaraj Davessan pela Ásia, o Cardeal Aveline pela Europa, Dom Mounir Khairallah pelas Igrejas Orientais e Dom Mackinlay para a Oceania. A eles se juntam os membros natos, os Cardeais Hollerich e Grech, e os Padres Riccardo Battochio e Giacomo Costa, e os três nomeados pelo Papa, o Padre Giuseppe Bonfrate, o Cardeal Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão e a Irmã Leticia Salazar. Mesas linguísticas e intervenções livres Seguiu-se o relatório das mesas linguísticas, uma novidade da Segunda Sessão, que destacou o que havia sido dito nos círculos menores, falando da Iniciação à Vida Cristã, da necessária conversão sinodal e da conversão das relações entre carismas e ministérios, de evitar o narcisismo clerical, de destacar o importante papel da Vida Religiosa, da instituição do ministério da escuta. Além disso, a importância da missão e dos contextos culturais. Entre as intervenções livres, como relatou Sheila Pires, destacou-se a importância da conversão relacional e da cura das feridas dos escândalos na Igreja, a começar pelo abuso, sublinhando a importância da confiança para o fortalecimento do caminho sinodal. Também foi destacada a importância da teologia do Povo de Deus, da caridade, do amor pelos pobres e do valor da Eucaristia. Além disso, a importância da Iniciação Cristã em um mundo secularizado e da profecia, algo que envolve toda a comunidade. Mais uma vez, a assembleia foi desafiada a falar sobre o papel das mulheres na Igreja e um maior compromisso de acompanhar os recém-batizados. Por fim, a necessidade de uma linguagem compreensível para todos nos documentos da Igreja e do próprio Sínodo. Bom ambiente na sala sinodal Com relação à atmosfera desta Segunda Sessão, Mons. Dogbo enfatizou a importância dos relacionamentos, enraizados no batismo, que nos identifica com Cristo e nos permite relacionamentos fraternos. “O Sínodo nos permite viver essas relações com força, e estamos experimentando uma boa atmosfera”, destacou o arcebispo de Abidjan, sublinhando que nas mesas “todos se reconhecem, ninguém quer impor sua visão”, o que definiu como uma atmosfera eclesial. “Cada um reconhece no outro a presença de Cristo, e essa é a base do processo sinodal que estamos vivendo”, em uma Igreja onde cada um tem um lugar, vivendo a comunhão em vista da missão, algo que ele pediu para levar às dioceses e paróquias. Necessidade de entender a sinodalidade O arcebispo de Tóquio falou sobre o tempo entre as duas sessões no Japão, um tempo para “lançar as bases da sinodalidade”, insistindo na necessidade de entender o que é a sinodalidade como base sobre a qual construir, algo que não pode ser feito às pressas. Nesse sentido, Dom Kikuchi contou o que aconteceu na assembleia realizada no Japão, com a presença de representantes das 15 dioceses japonesas, praticando a conversação no Espírito, algo que ele considera necessário para construir as bases da compreensão de uma Igreja sinodal. Nunca dizer não à Igreja Por sua vez, Dom Jaime Spengler falou sobre a surpresa da notícia do último domingo. Ele disse que estava em seu quarto lendo um livro do cardeal Martini quando começou a receber mensagens de felicitações. O presidente da CNBB disse que não esperava essa nomeação, lembrando que o Brasil tem hoje 6 cardeais. O presidente do CELAM mostrou sua disposição em servir da melhor maneira possível. Nesse sentido, afirmou que ao ingressar na Ordem Franciscana assumiu algo que tem norteado sua vida: “nunca dizer não ao que a Igreja me pede”, promessa mantida ao longo de sua vida, algo que em alguns momentos foi muito difícil, às vezes levando-o a chorar, “mas com o passar do tempo, a promessa se mostrou algo saudável”, agradecendo ao Papa Francisco pela confiança depositada nele. Ele disse que espera poder colaborar com o Povo de Deus e com a Igreja neste momento complicado da história que estamos vivendo, que exige respostas adequadas. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1