Recordando que “Quarta-feira passada, com
o rito penitencial das cinzas, começamos nosso caminho pascal”, iniciou
sua homilia do Primeiro Domingo da Quaresma o arcebispo de Manaus, cardeal
Leonardo Ulrich Steiner. Ele explicou que “o caminho pascal se caracteriza pela
quaresma, tempo de conversão pelos exercícios da oração, do jejum e da esmola.”
No primeiro domingo da quaresma, o
cardeal lembrou que “a Palavra de Deus a nos indicar como vivermos
frutuosamente os quarenta dias que precedem a celebração da Páscoa. É o caminho
percorrido por Jesus, que antes de começar o anúncio do Reino de Deus. Jesus
voltou do Jordão cheio do Espírito Santo, que repousara sobre Ele e tendo
ouvido que Ele era o Filho amado, foi guiado ao deserto. É o mesmo Espírito que o conduz ao deserto, onde
no jejum e prece de quarenta dias é tentado. Ali, Ele enfrenta, luta, contra o
diabo.”
Segundo o
arcebispo de Manaus, “deserto o lugar da surpresa, da intimidade, que leva,
conduz! O conduz, para a solidão, para o silêncio, para o inóspito, para o
confronto da aridez, para o caminho da secura e do desverdor, para o estar a
sós com o Mistério; lugar para medir-se e deixar-se medir, tomar, pela presença
de Deus. O
deserto não só é o lugar da solidão e da desolação, da experiência de ser posto
à prova, da tentação, no confronto com o mal, do nada negativo e do destrutivo,
mas, também o lugar do encontro solitário, limpo, único com Deus; o lugar do
aprendizado de sofrer Deus”.
Continuando sua reflexão, o cardeal
Steiner disse que “o deserto é o lugar onde Deus fala ao coração do homem, e
onde brota a resposta da oração. Na solidão, o coração desapegado das coisas e
sozinho, nesta solidão, se abre à Palavra de Deus. Mas é também o lugar da
provação e da tentação. No deserto, na solidão, no
estar a sós com o todo, Jesus recebe a visita do diabo; Ele é tentado. O
inimigo, o adversário, tenta a Jesus, desejando arrancá-lo da missão de
anunciar o Reino da verdade e da graça. O espírito mau, o
inimigo do homem, tenta a Jesus para levá-lo para longe dos planos do Pai. Deseja
frustrar os planos de Deus, desviá-lo da harmonia originária da vida.”
Ele recordou que “o
Evangelho indicava como em cada tentação Jesus vai, com a Palavra de Deus,
aclarando a sua missão: diante da tentação de transformar a pedra em pão e
saciar a fome responde: ‘A Escritura diz: Não só de pão vive o homem’; diante
da tentação do poder e da glória responde; ‘A Escritura diz: Adorarás o Senhor
teu Deus, e só a ele servirás’; diante da tentação de exigir o cuidado de Deus
no precipitar-se da morte, responde: ‘A Escritura diz: não tentarás o Senhor
teu Deus’. Na fragilidade e
necessidades humanas, o diabo insinua a sua voz mentirosa, alternativa à de
Deus, uma voz alternativa que mostra outro caminho, um caminho de engano. Jesus na força do
Espírito, guiado pela Palavra, após as tentações anuncia o Reino do consolo, do
serviço, da vontade do Pai.”
O arcebispo de Manaus enfatizou que “Jesus
foi tentado, nós somos tentados. Como compreender a tentação?” Ele respondeu
com as palavras de Orígenes, que no século II afirmava: “Para algo a
tentação serve”. Nesse sentido, disse que “para Jesus foi um medir-se com a
Palavra de Deus e ser confirmado na missão de Reino. Para nós a tentação pode ser motivo de amadurecer na fé, aprofundar
o desejo da missão”. Ele citou Santo Agostinho, que nos ensina no
Comentário aos Salmos que “nossa vida é uma peregrinação. E, como tal, cheia de
tentações. Porém, nossa maturidade se forja nas tentações. Ninguém conhece a si
mesmo se não é tentado; nem pode ser coroado se não vence, se não luta”, e
junto com isso, nos ensina também: “Se rejeitas a tentação, rejeitas
também o crescimento. Coloca-te nas mãos do Artífice, sem restrições. Ele te
corrige, te lustra e te limpa. Para isso, serve-se de vários instrumentos: são
as tentações do mundo. Não fujas das mãos do Artífice e não temas: Deus permite
as tentações, não para te arruinar, mas para fazer-te mais forte”.
Ao meditarmos as nossas tentações, segundo
o cardeal Steiner, “vamos percebendo onde se encontram as nossas fraquezas e,
por isso, a Palavra nos pode orientar, e nos afastar do mal. A tentação nos
oportuniza conhecer as nossas próprias limitações e fraquezas, mas ao mesmo
tempo, nos oferece a oportunidade de caminharmos segundo a vida do Evangelho.
Os desafios postos no nos podem levar a grandes percepções que geram a
libertação e integração da nossa condição humana.”
“A tentação pode levar ao pecado,
mas pode levar à graça de despertar sempre mais para vida graciosa com Deus, no
seguimento do Evangelho. A tentação pode nos abrir sempre mais para o horizonte
de uma vida bendita, santa. É uma luta!”, disse, recordando com Santo Agostinho
que “Ninguém vence sem lutar. Por isso não pedimos a Deus que nos livre das
tentações, mas que nos preserve do mal”. Segundo ele, “no Pai nosso somos
sempre suplicantes: não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do
mal!”
Nesta Quaresma, o arcebispo de
Manaus fez um convite para que “deixemos que o Espírito Santo também nos exorte
a entrar no deserto. Não se trata de um lugar físico, mas de uma dimensão
existencial permanecendo em silêncio para escutar a Palavra de Deus, para
progredirmos no conhecimento do mistério de Cristo e corresponder-lhe por uma
vida santa”, recordando a Oração Coleta do 1º Domingo da Quaresma do Ano B. É
por isso que “não tenhamos medo do deserto, procuremos mais momentos de oração,
de silêncio, para entrarmos em nós mesmos. Não receemos. Somos chamados a
caminhar pelas veredas de Deus, renovando as promessas do nosso batismo:
renunciar a Satanás, a todas as suas obras e a todas as suas seduções”, disse,
inspirado nas palavras de Papa Francisco, no Angelus de 21 de fevereiro de 2021.
Igualmente, o cardeal
Steiner recordou que “iniciamos a reflexão, meditação e oração da Campanha da
Fraternidade neste tempo quaresmal: ‘Fraternidade e Ecologia Integral’, tendo
como lema ‘Deus viu que tudo era muito bom’ (Gn 1,31)”. Ele lembrou que “a
realidade a ser refletida, discutida e rezada, nesta quaresma é a Ecologia
integral. A integralidade da obra criada que desperta para a fraternidade. Uma
fraternidade que seja universal, pois Deus viu que tudo era bom! Na desarmonia
e tensão, o “viu que tudo era bom”, indica o caminho da conversão pela reflexão
e oração.”
“A crise ecológica é um apelo a uma profunda
conversão interior. Vivermos a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo
de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte
essencial duma existência segundo o Evangelho (LS, 217). A
Ecologia Integral pede uma conversão ecológica que, por um lado é individual e
por outro comunitária. As exigências do cuidado com a obra criada são tão
grandes, que as possibilidades das iniciativas individuais e a cooperação dos
particulares, formados de maneira individualista, não são capazes de dar uma
resposta adequada. É necessária uma união de forças e uma unidade de
contribuições. A conversão ecológica que requer um dinamismo de mudança
duradoura, é também uma conversão comunitária”, disse inspirado em Romano
Guardini.
“Preparando-nos para as celebrações fundamentais de
nossa vida de seguidoras e seguidores de Jesus, vamos nos reunir nas famílias,
em grupos, nas comunidades para refletir, rezar a Campanha da Fraternidade”,
pediu o arcebispo. Diante disso, “talvez também nós cheguemos à admiração: ‘Deus
viu que tudo era muito bom’ (Gn 1,31). Percorrendo o caminho quaresmal, a morte
e ressurreição de Jesus iluminará a vida das nossas comunidades, das nossas
famílias.”
Segundo o cardeal Steiner, “a
vida nova, a conversão, nos conduz por caminhos novos: o da Fraternidade, pois alimenta
a esperança de um tempo e mundo novo. Tempo da paz, da justiça, da abundância, da
felicidade, da fraternidade, o tempo do ‘reinado de Deus’. Somos no primeiro
domingo da quaresma levados pelo Espírito ao deserto e ali aprendermos a graça
da pertença ao Reino da vida, da verdade e do amor e da graça. Deserto é
abertura, disponibilidade, escuta, talvez a quaresma nos desperte para
superarmos as tentações da destruição da nossa Casa Comum e voltarmos
contemplar: Deus viu que tudo era muito bom!”
Finalmente, ele recordou que “o
Espírito levou Jesus para o deserto, para o lugar do encontro, lhe concedeu
discernimento, lucidez, purificação. O Espírito que levou Jesus ao
deserto, o guiou, iluminou, falou ao coração, e o devolve cheio de força e
vigor para anunciar o novo Reino. Concedeu-lhe o vigor, a essencialidade para
realizar o plano do Pai”, pedindo que “façamos o nosso
peregrinar de conversão, guiados pelo Espírito e anunciar o reino de Deus, a vida
nova.”
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1