A prevenção
do abuso sexual na Igreja Católica é crucial devido ao impacto devastador sobre
as vítimas e a comunidade. Um caminho sem volta atrás que o Papa Francisco tem
impulsionado, sobretudo com o Motu Próprio “Vos Estis Lux Mundi”, que estabelece
diretrizes para as comissões de proteção de abusos, enfatizando transparência e
prestação de contas, sublinhado a importância de uma resposta contínua e eficaz
aos casos de abuso sexual, exigindo que os responsáveis estejam sempre
atualizados sobre as práticas e diretrizes.
Para
avançar nesse caminho é preciso formação, um passo que está sendo dado no
Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1). O
Núcleo Lux Mundi e a Conferência dos Religiosos do Brasil, em parceria com a
Faculdade Católica do Amazonas, sob a direção e empenho do bispo auxiliar de
Manaus, dom Hudson Ribeiro, e da CNBB Regional Norte 1, sob a articulação da secretária
executiva, Ir. Rose Bertoldo, após um processo de construção coletiva está
realizando o Curso: “Proteção e Prevenção de Abusos e Violências em Ambientes
Eclesiais”, com a participação de 60 pessoas das nove dioceses e prelazias do
Regional.
Os
participantes do curso, iniciado no mês de fevereiro e que será encerrado no
mês de agosto, são membros das Comissões Diocesanas de Proteção de Crianças,
Adolescentes e Adultos Vulneráveis; psicólogos e advogados voluntários que
atendem na rede de proteção; educadores das Escolas Católicas vinculados à Associação
Nacional de Educação Católica (ANEC); formadores de Seminaristas e Casas de
formação da Vida Religiosa; agentes Cáritas; padres, diáconos, religiosas (os),
leigas (os), vinculados ao programa de proteção de crianças, adolescentes e
adultos vulneráveis.
O curso é
um instrumento que permite uma compreensão profunda das complexidades dos
abusos, incluindo os aspectos psicológicos das vítimas, os procedimentos legais
e canônicos, e as estratégias de prevenção, em vista de responder de maneira
imediata e adequada às comunicações, e manter ambientes seguros e acolhedores
dentro das instituições eclesiásticas. Junto com isso, a formação se torna essencial
para assegurar a transparência e a credibilidade dos serviços/comissões de
proteção e cuidado, e assim mostrar um compromisso contínuo com a justiça, a
verdade e o apoio às vítimas.
A formação
constante permite estar preparados para lidar com novos desafios e evoluções na
legislação e nas diretrizes da Igreja, se manter informados sobre as melhores
práticas internacionais e os desenvolvimentos no campo da proteção de crianças,
adolescentes e adultos vulneráveis, fortalecendo a capacidade da Igreja de
prevenir abusos e de responder com compaixão e justiça quando eles ocorrem, alinhando-se
plenamente ao Magistério de Papa Francisco e dos Direitos Humanos.
O curso
representa um programa mais organizado, sistematizado e integrado, a partir de
um olhar bíblico, da espiritualidade, dos documentos da Igreja, da psicologia,
da antropologia, da moral, em vista de formas de intervenção, que junte iniciativas
pontuais na área da prevenção, segundo dom Hudson Ribeiro. Ele destaca que
tendo em conta a realidade do Regional Norte1, com grandes distâncias e custo
nos deslocamentos, foi feita a opção por um curso em modalidade online, onde os
participantes recebem o material para uma leitura previa que permita um maior
aproveitamento.
O bispo
auxiliar de Manaus lembra que o Regional Norte 1 construiu o Manual de Proteção
de crianças, adolescentes e adultos vulneráveis, que ele define como “uma
resposta de comunhão aqui da Igreja do Regional Norte 1”. O propósito é uma
articulação que faça com que “não haja paralelismo e a gente não fale linguagem
diferenciada”, e que ele vê como “um momento de grande esperança no Ano Jubilar”.
Um curso
que diminui custos, une forças e é construído coletivamente desde diversos
locais do Brasil tendo como referência a realidade local. Tudo isso superando
os desafios que nascem das distâncias, da dificuldade no acesso à internet, o
que faz com que o curso seja gravado e enviado a cada participante buscando a
possibilidade do acesso ao conteúdo por aqueles que não conseguiram participar
ao vivo. Trata-se de um projeto piloto, “uma proposta ousada”, ressalta dom
Hudson, que possa servir como exemplo para a Igreja do Brasil, oferecendo “uma
sistematização de um programa pensado, refletido, articulado e que é um sinal
de comunhão da nossa Igreja”, enfatiza o bispo.
Isso tudo,
segundo dom Hudson Ribeiro, “tem exigido da gente um acompanhamento
sistematizado, e que o pessoal que se prontificou para ser facilitador estude e
elabore o material dentro de uma linguagem acessível, mas não simplificado. Com
uma certa profundidade, mas que também traga presente as especificidades
amazônicas, de âmbito cultural, de desafios da territorialidade, da geografia,
do espaço onde nós ocupamos, que tenha presente também tudo aquilo que já se
construiu aqui: os valores culturais, o modo de ser Igreja, a dinâmica
eclesial, que ela tem suas particularidades.” Se busca assim, “ser um sinal
maior de esperança, com respostas um pouco mais concretas.”
Dom Hudson
coloca como exemplo um agente de pastoral, que dizia que uma das piores
sensações ao lidar com essas questões de abuso é um sentimento de impotência,
de querer fazer e não se sentir competente por falta de formação, por falta de
orientação, por dizer agora o que eu faço com tudo isso. Ao mesmo tempo, saber para
onde encaminhar as vítimas, se sentir um pouco mais seguro, um pouco mais
competente para saber como ajudar, que é um dos objetivos específicos desse
curso, criar essa sensação de esperança.
Igualmente,
o bispo auxiliar de Manaus destaca a importância da Casa Esperança, uma
iniciativa da Arquidiocese de Manaus, voltada também para o Regional Norte 1,
articulada com as igrejas locais, inaugurada recentemente. Uma casa voltada
para o atendimento de crianças, adolescentes e mulheres que sofreram a
violência sexual, com atendimento na área psicológica, jurídica e social, mas
também a lidar com pesquisas que possam gerar informações suficientes para que
haja incidência nas políticas públicas do território e haja mudança no atual
quadro em que se encontra a violência contra crianças e adolescentes, com foco
no abuso e exploração sexual.
Um
atendimento presencial e online, que possibilita chegar mais perto, onde de
fato existe uma ausência maior de um atendimento especializado para crianças e
adolescentes na psicologia, ou ainda acontece de forma precária. Uma iniciativa
que conta com o total apoio e impulso dos bispos do Regional Norte 1 em busca
de uma resposta conjunta que ajude a acompanhar as vítimas e curar as feridas.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1