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Nas Catacumbas, Cardeal Maradiaga lembra Angelelli, “que derramou seu sangue por amor a Cristo e aos pobres”

A memória é um elemento importante na experiência da fé, uma memória que muitas vezes remete às origens daqueles que iniciaram a jornada. Na história do cristianismo, as catacumbas foram um lugar de grande importância nos primeiros séculos, naquela Roma em que ser cristão não era fácil, pois representava um modo de vida totalmente contrário ao que a sociedade dominante tentava impor. As catacumbas um sinal de compromisso Na história recente, as Catacumbas de Santa Domitilla se tornaram um ponto de referência. Primeiro, em 16 de novembro de 1965, quando, poucos dias antes do encerramento do Concílio Vaticano II, um grupo de bispos assinou o Pacto das Catacumbas. Mais de 50 anos depois, em 20 de outubro de 2019, em meio ao Sínodo para a Amazônia, alguns dos Padres Sinodais e muitos outros homens e mulheres que os acompanharam renovaram um Pacto que agora se concentrava no cuidado da Casa Comum. No Pacto de 1965 estava presente Enrique Angelelli, o bispo argentino mártir, hoje beato, que foi assassinado por assumir o que havia assinado, por tornar realidade uma Igreja pobre e viver de maneira pobre. Em 2019, a Eucaristia anterior à assinatura foi presidida pelo Cardeal Claudio Hummes, que dedicou os últimos anos de sua vida ao cuidado da Amazônia e de seus povos. Quatro anos e um dia depois, um novo encontro nas Catacumbas de Santa Domitila relembrou as experiências de 1965 e do Beato Angelelli, e trouxe de volta à memória de alguns de nós, que estávamos presentes em 2019, o que vivenciamos naquela data significativa. Francisco, Angelelli, Hummes e Maradiaga Nesta ocasião, a presidência coube ao cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga. É interessante observar essas três figuras e sua influência sobre o Papa Francisco. Em relação a Angelelli, a quem ele beatificou, sempre demonstrou grande respeito e admiração por seu compromisso e proximidade com o povo. Quanto a Hummes, pode-se dizer que ele é parcialmente responsável pelo nome de Francisco com sua frase agora famosa: “Não se esqueça dos pobres“. No caso de Maradiaga, que participou do Pacto de 2019, ele tem sido um dos cardeais mais relevantes do atual pontificado. Junto com o cardeal hondurenho, na celebração se fizeram presentes Dom Dante Braida, atual bispo de La Rioja, diocese de Angelelli, e Dom Shane Mackinlay, bispo de Sandhurst (Austrália), juntamente com alguns dos membros da Assembleia Sinodal, entre eles a Ir. Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo, foi uma oportunidade para lembrar Pepe Palacio, cujo centenário de nascimento está sendo celebrado este ano, e sua esposa Amalia, apresentados junto com o bispo mártir como modelos de sinodalidade. Entre os presentes estava também Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina. Uma diocese à imagem do Vaticano II Dom Dante Braida apresentou uma visão geral da figura de Angelelli, destacando sua sensibilidade para com o mundo dos pobres, que se manifestou sobretudo no acompanhamento dos trabalhadores, buscando unir o mundo universitário com o mundo dos trabalhadores. Dom Angelelli assumiu a diocese de La Rioja depois de ter vivido com grande intensidade o Concílio Vaticano II e começou a realizar assembleias onde era importante a presença de todo o povo de Deus, estabelecendo fortes linhas pastorais a partir de uma perspectiva missionária e da busca da justiça, onde os leigos viviam sua vocação no mundo, ordenando o que não estava bem e buscando seu crescimento. Como lembrou o atual bispo, seu antecessor promoveu a criação de cooperativas e sindicatos para exigir um salário justo para os trabalhadores. Em uma província com uma grande piedade popular, ele procurou conectar isso com a justiça social, com a construção de um mundo melhor. Em seu trabalho pastoral, ele abriu a Igreja para uma maior participação, o que trouxe alegria e esperança para muitas pessoas, especialmente aquelas que se sentiam negligenciadas ou sem um lugar na Igreja, mas também trouxe resistência, que ele tentou administrar em seu trabalho pastoral. Tensões internas como consequência da renovação conciliar que ele se comprometeu a realizar. O bispo Braida destacou que, nesse mesmo local onde ocorreu a celebração eucarística, o Beato Angelelli assumiu o compromisso de que a Igreja deveria se renovar e ser a casa de todos, buscando incluir aqueles que pensavam diferente. Por sua maneira de agir, foi identificado com o comunismo e o apoio à guerrilha, e muitos de seus colaboradores mais próximos foram presos, uma perseguição que se tornou mais dura com a chegada da ditadura. Ele nunca perdeu sua visão evangélica, o que o levou a tentar conversar com os detentores do poder, buscando mudanças. O assassinato de dois religiosos e um leigo foi o prelúdio de sua morte, destacou o bispo. A beatificação de Angelelli foi “um sinal de esperança para a Igreja argentina, somos gratos por seu testemunho porque nele temos uma fonte para beber“, concluiu o bispo de La Rioja. Um compromisso com grande repercussão O cardeal Maradiaga, que leu o texto do Pacto das Catacumbas de 1965, lembrou que não podemos nos esquecer, porque “esquecer seria esquecer todos os mártires e esquecer aqueles que assumiram esse compromisso aqui no final do Vaticano II“, lembrando Angelelli, Helder Cámara e Eduardo Pironio. Algo que hoje não parece tão evidente, mas em uma época em que os bispos usavam uma longa capa e os cardeais usavam arminho, esse compromisso, esse Pacto das Catacumbas, foi um sinal com grande repercussão, segundo o arcebispo emérito de Tegucigalpa. O importante, de acordo com o cardeal, é lembrar de tantos que derramaram seu sangue para serem testemunhas de Cristo, algo que continua a se repetir na Igreja hoje. Daí a importância de lembrar Angelelli, “que derramou seu sangue por amor a Cristo e aos pobres”, que ele vê como a palavra de ordem a ser seguida. Sem esquecer que Angelelli foi considerado um mártir do Concílio, o cardeal afirmou que “ainda hoje o Concílio Vaticano II não entrou em alguns e há outros que o rejeitam”. Por isso, concluiu que “o sangue dos mártires nos lembra que o Espírito Santo não tem…
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Uma Síntese profunda, honesta e clara do Sínodo para que ninguém pule do barco

O desafio a ser enfrentado nos próximos dias é captar de forma profunda, honesta e clara o processo vivido pelo Sínodo da Sinodalidade. Para isso, a Secretaria do Sínodo previu a elaboração do que foi chamado de Documento de Síntese, insistindo que “será breve e estará a serviço de um processo que continuará, será um texto de transição que conterá os pontos de consenso e aqueles em que não houve acordo”, bem como as questões em aberto a serem respondidas. Um instrumento para avançar As palavras de Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé e presidente da Comissão de Informação do Sínodo, em uma das últimas coletivas de imprensa, um dos poucos canais pelos quais se sabe alguma informação sobre o que está acontecendo na Sala Sinodal, enfatizam que “a Síntese não é um Documento Final e nem o Instrumentum Laboris da próxima assembleia” e terá uma redação simples. A questão é como isso tomará forma e que impacto poderá ter na vida da Igreja universal nos próximos meses, bem como até que ponto será um incentivo para que os católicos de todo o mundo continuem envolvidos em um processo que, não nos esqueçamos, está longe de terminar, pois durará pelo menos até outubro de 2024, quando ocorrerá a segunda sessão da Assembleia Sinodal, que começou em 4 de outubro. Sem novas contribuições, a sinodalidade perde sua riqueza Esse é um ponto decisivo, pois se não houver novas contribuições das igrejas locais nos próximos meses, o Sínodo será reduzido a uma reflexão de um pequeno grupo. No final das contas, 365 membros, sem subtrair a importância daqueles que estão participando como tais na Assembleia Sinodal, é um número muito distante de todos os católicos, e sinodalidade significa caminhar juntos, todos nós. Na medida em que conseguirmos nos aproximar dessa totalidade, a sinodalidade se enriquecerá cada vez mais. Não podemos esquecer que uma das grandes riquezas do atual processo sinodal, algo que já pôde ser experimentado no Sínodo para a Amazônia, são as múltiplas contribuições que são fruto de um processo de escuta que reuniu uma diversidade cultural e eclesial que nos ajudou a entender melhor o que significa catolicidade. Como Dom Tarcisio Isao Kikuchi, Arcebispo de Tóquio, destacou em uma coletiva de imprensa, “sinodalidade não significa uniformidade, sinodalidade significa caminhar juntos a partir de nossas diferentes culturas“. Abrir horizontes Mas, para isso, é decisivo reunir a riqueza da diversidade e propor elementos nos quais aqueles que terão esse Documento de Síntese em suas mãos se verão refletidos, sabendo, como disse o próprio bispo japonês, que não se pode esperar que uma solução funcione imediatamente para todos. O que ajudará a manter muitos no barco é abrir horizontes que permitirão o próximo passo, que é de grande importância, uma recepção esperançosa nos próximos meses por parte daqueles que, em suas Igrejas locais, estão atentos ao que está acontecendo na Sala Paulo VI. Sem devolver ao povo de Deus, sujeito fundamental de uma Igreja sinodal, cujo modo de ação é a circularidade, os frutos e os progressos alcançados, estando aberto a todas as contribuições que possam surgir, o processo se esvaziará. Daí a importância de um Documento Síntese que consiga envolver todos na preparação da segunda sessão da Assembleia Sinodal, que deve ser o ponto culminante dessa reforma eclesial, que só será tal se for vista como fruto do discernimento comunitário de toda a Igreja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Em uma Igreja Sinodal, “quem exerce autoridade deve fazê-lo descalço”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que está trabalhando no último módulo do Instrumentum Laboris, que tem como tema “Participação, responsabilidade e autoridade”, refletiu nas últimas horas sobre o exercício da autoridade, enfatizando, nas palavras de Paolo Ruffini, que “quem exerce autoridade deve fazê-lo descalço“. Corresponsabilidade em todos os níveis da Igreja O Prefeito do Dicastério para a Comunicação destacou o impacto da oração pelos migrantes e refugiados realizada na Praça de São Pedro na noite de quinta-feira. Ele também enfatizou a necessidade da participação de todos aqueles que fazem parte da Igreja no exercício da corresponsabilidade em todos os níveis da Igreja, insistindo que “o bispo tem a última palavra, mas não a única“. Na mesma linha, Sheila Pires, secretária da Comissão para a Comunicação do Sínodo destacou a experiência na Sala Sinodal, o compromisso de erradicar o clericalismo entre o clero e também entre os leigos. Com relação a todos os tipos de abuso, algo que fez com que a Igreja perdesse a autoridade, foi enfatizada a necessidade de exercer medidas de controle, algo em que a sinodalidade pode ajudar. Também foram abordadas a necessidade de maior controle das estruturas financeiras, a revisão do Código de Direito Canônico, o fortalecimento das estruturas sinodais existentes, sem cair no parlamentarismo, e a necessidade de ver o ambiente digital como território de missão, dada a necessidade de chegar às pessoas onde elas estão, de encontrar tantos jovens que estão nas redes sociais. Dois bispos e duas religiosas na coletiva de imprensa Dois bispos, Dom Gintaras Grušas, Arcebispo de Vilnius (Lituânia) e Presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias, e Dom Tarcisio Isao Kikuchi, Arcebispo de Tóquio e Presidente da Caritas Internacional, e duas religiosas, Mary Teresa Barron, da Irlanda, Presidente da União Internacional das Superioras Gerais, e Houda Fadoul, da Igreja Católica Grega na Síria, foram convidados para a coletiva de imprensa. Mons. Grusas destacou a importância da Etapa Continental no processo sinodal, uma novidade na Europa, uma experiência que está ajudando na Assembleia Sinodal, onde se insiste na importância da formação nesse modo de ser Igreja. Esse trabalho em nível continental como Igreja e a compreensão de como funcionam as estruturas eclesiais nesse nível é fundamental, assim como a necessidade de conversão do coração, “chegamos com a nossa mentalidade e a partilha nos ajuda a crescer, a mudar o nosso ponto de vista, a rever a nossa vida, é um processo muito forte que nos permitirá crescer como Igreja”. Experimentando a unidade na diversidade à Ir. Houda Fadoul, que agradece ao Santo Padre, a quem define como um homem de oração, pela iniciativa, a Assembleia Sinodal a ajudou a transmitir a experiência de sua Igreja Greco-Católica às outras igrejas, afirmando que “estamos experimentando a unidade e a diversidade“, e que a partilha e a oração ajudam a superar as dificuldades. Um caminho que ele espera que dê frutos para a Igreja e para o mundo inteiro. Uma sinodalidade que tem muito a ver com a cultura, de acordo com o arcebispo de Tóquio, que trabalhou como missionário na África. Em suas observações, ele enfatizou que “nós, japoneses, não falamos muito, gostamos do silêncio, que é fundamental, para nós é difícil nos expressarmos”, o que torna a experiência dos círculos menores, algo que ele diz estar funcionando, de grande importância. Isso ajuda a experimentar a unidade na diversidade da Igreja Católica, que é universal, afirmando que não se pode esperar que uma solução funcione imediatamente para todos. “Sinodalidade não significa uniformidade, sinodalidade significa caminhar juntos a partir de nossas diferentes culturas”, enfatizou, definindo a Caritas como uma organização sinodal, envolvendo todos. Sinodalidade a partir da experiência de vida “Ninguém lê o mesmo livro que o outro, cada um lê a vida a partir de sua própria experiência”, disse Ir. Barron. A religiosa irlandesa considera que sua experiência missionária na África foi sua primeira experiência de sinodalidade, uma nova Igreja, onde havia uma comunidade de fé muito forte. “Ouvíamos uns aos outros, tomávamos decisões juntos“, destacando como vantagem em uma Igreja jovem o fato de que “as pessoas se aproximam da fé quando já são adultas, tornam-se discípulos missionários de uma forma muito consciente”. Uma experiência que ela diz ter revivido nos círculos menores, afirmando que o fundamental é decidir como viver a fé em comunidade e agir concretamente. Na África, “decidíamos juntos e cada voz tinha o mesmo peso, que é o que tenho experimentado nos círculos menores”, insistindo que é necessário escutar mais as igrejas mais jovens. A vida religiosa pode contribuir com a sinodalidade com “a maneira como vivemos como pessoas consagradas no mundo“, disse a irmã da Igreja Greco-Católica. Ela vê como uma contribuição notável o testemunho que vem de seu relacionamento com o Senhor, especialmente em momentos difíceis, quando as pessoas veem que são levadas à oração, que estão ao seu lado e que são atendidas em suas necessidades. Por sua vez, a Irmã Barron destacou o trabalho que está sendo feito pela União das Superiors Gerais para que a Vida Religiosa possa se envolver no processo sinodal, com muita formação, em colaboração com a Secretaria do Sínodo, porque “é fundamental saber o que significa ser uma Igreja sinodal, como viver essa experiência“. Nesse sentido, referindo-se à sua congregação, “as irmãs são convidadas a trabalhar nas paróquias”, uma formação que também é realizada on-line, o que permite ampliar o alcance, algo que ela também considera sinodalidade, pois permite construir comunidade e adquirir ferramentas para a missão. Buscando ser Igreja de uma maneira diferente Uma assembleia em que um dos tópicos em pauta é o diaconato feminino, algo que está sendo discernido. A esse respeito, a Ir. Houna Fadoul destacou sua experiência como superiora de uma comunidade de homens e mulheres, enfatizando a importância de cada pessoa, homem ou mulher, viver seu papel usando seus dons. O Sínodo leva a uma discussão muito mais ampla, de acordo com o Arcebispo de Vilnius, sem se concentrar em tópicos específicos e buscando viver a Igreja de uma maneira…
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Se o Sínodo não der passos concretos, se não aterrissar, corre o risco de morrer

A primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade está vivendo um momento decisivo nestes dias: é hora de concretizar. Desde o início, insistiu-se que este Sínodo é uma oportunidade para colocar a sinodalidade em prática, para caminharmos juntos, mas não podemos negar que um avião não pode estar sempre voando, que tem que chegar um momento em que ele aterrissa. Se demorar muito para fazer isso, o risco de cair e todo mundo morrer se torna cada vez mais evidente. Um momento fundamental do discernimento comunitário Enquanto se aguarda a elaboração do Documento de Síntese, que deve ser o trabalho fundamental durante a última semana, os círculos menores estão chegando ao ponto culminante do discernimento comunitário, e para isso é necessário, fundamental, decisivo, passar do eu para o outro, que é o exercício realizado na segunda rodada do processo de discernimento comunitário, e assim chegar a uma clareza absoluta do sentimento comum. O módulo B3, o quarto e último módulo do Instrumentum Laboris, tem como tema “Participação, responsabilidade e autoridade” e busca refletir sobre os processos, as estruturas e as instituições necessárias em uma Igreja sinodal missionária. Um dos grandes desafios enfrentados pelo Sínodo sobre a Sinodalidade é a mudança de estruturas, algo que algumas pessoas não gostam muito. De fato, sentar-se em uma mesa redonda, como iguais, não é algo que todos gostem. Conversão pastoral para uma revolução estrutural Essa estrutura eclesial em que todos escutam, dialogam, não repreendem o outro porque ele disse algo que não me agrada, especialmente se ele ou ela está abaixo de mim na escada eclesiástica que formei em minha cabeça, é uma revolução estrutural, que exige aquela conversão pastoral que Francisco vem pedindo desde que lançou seu programa de pontificado na Evangelii Gaudium, inspirado no Documento de Aparecida, do qual o então cardeal Bergoglio coordenou o comitê de redação. Essas estruturas de articulação em todos os níveis da Igreja são uma das grandes questões quando falamos de uma Igreja sinodal. É uma questão complexa e na qual a Igreja terá que avançar com paciência, seguindo o tempo de Deus, se quiser evitar cismas que, em vez de nos levar a uma Igreja sinodal, nos levem a uma Igreja dividida, como já aconteceu em outros momentos da longa história do cristianismo. Concentrar-se, conectar posições e seguir em frente Quando conseguimos pensar a partir do “nós”, quando permitimos que Deus trabalhe e que o Espírito Santo esteja presente, é muito mais fácil nos concentrarmos, conectarmos posições e seguir em frente. Não se trata apenas de buscar o consenso, mas de chegar a pontos que façam com que todos se sintam em paz, pois há a certeza de ter chegado aonde Deus esteve indicando ao longo do caminho. Há um senso de pertencimento, um sentimento de que vale a pena seguir em frente. Nas próximas horas, a Assembleia Sinodal enfrenta o desafio de reagir ao que está sendo expresso pelos vários círculos menores, de não se perder em discursos ideológicos preparados, que continuam a responder a interesses pessoais, locais e de grupos de pressão, algo que é perceptível até mesmo nas perguntas das coletivas de imprensa. Aí aumenta o risco de ruptura e é improvável que a Assembleia Sinodal consiga aterrissar. É hora de escrever para chegar no concreto, o que é complexo, mas que será o que fará avançar em um caminho sinodal que vai e quer ir muito além de outubro de 2024. É um sonho, um sonho de outra Igreja, com espaço para todos e todas. Essa é a pista de pouso. Esperemos que a Assembleia Sinodal, onde o piloto é o “nós”, a encontre. Luis Miguel Modino, assessor de comunicção CNBB Norte1

Francisco convoca a Assembleia Sinodal a caminhar com os mais vulneráveis

Os participantes da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que está sendo realizada na Sala Paulo VI do Vaticano de 4 a 29 de outubro, rezaram na tarde do dia 19 de outubro pelos migrantes e refugiados aos pés da imagem que os lembra, na qual está representada a Sagrada Família e que foi colocada na Praça de São Pedro anos atrás. Um sinal da necessidade de nos conscientizarmos, como Igreja, de uma das realidades que hoje causam mais dor à humanidade. Rezando pelo sofrimento dos migrantes e refugiados Com a presença do Santo Padre, a oração foi uma oportunidade para rezar por todos aqueles que perderam suas vidas ao longo das várias rotas migratórias, por suas famílias, por aqueles que sobreviveram e por todos os refugiados e migrantes que ainda estão a caminho. Na oração, Francisco pediu ao Senhor, “para quem ninguém é estrangeiro e ninguém está longe da ajuda”, que “olhe com bondade para os refugiados e exilados, para os homens e meninos separados, para que lhes conceda o retorno à sua terra natal e nos dê uma caridade eficaz para com os necessitados e estrangeiros”. A relevância da parábola do Bom Samaritano À luz da parábola do Bom Samaritano, que está no centro da encíclica Fratelli tutti, o Papa Francisco lembrou que “a estrada que levava de Jerusalém a Jericó não era um caminho seguro, assim como as muitas rotas migratórias não são seguras hoje”, questionando os muitos viajantes de hoje que se assemelham à parábola, que “partem enganados por traficantes inescrupulosos“. Lembrando os sofrimentos pelos quais passam, ele insistiu que “as rotas de migração de nosso tempo são povoadas por homens e mulheres feridos e abandonados que estão meio mortos; por irmãos e irmãs cuja dor clama pela presença de Deus”. Diante deles, “hoje, como naquela época, há aqueles que veem e passam, certamente procurando uma boa desculpa”. Para Francisco, a chave, o ponto de virada, é que “a compaixão é a marca de Deus em nossos corações“, algo que se concretiza na fraternidade. Tornando-nos próximos Seguindo o exemplo do Bom Samaritano, ele nos convidou a “nos tornarmos proximos de todos os viajantes de hoje, para salvar suas vidas, curar suas feridas, aliviar sua dor“. Nessa atitude, o Papa encontra “o significado dos quatro verbos que resumem nossa ação com os migrantes: acolher, proteger, promover e integrar”, que ele define como “uma responsabilidade de longo prazo”, pedindo que nos preparemos adequadamente para “os desafios da migração hoje, compreendendo suas criticidades, mas também as oportunidades que ela oferece, com vistas ao crescimento de sociedades mais inclusivas, mais belas e mais pacíficas”. Por fim, ele pediu para “multiplicar os esforços para combater as redes criminosas“, para “trazer as políticas demográficas e econômicas para o diálogo com as políticas de migração” e para “colocar os mais vulneráveis no centro”. Essa reflexão foi seguida por um momento de silêncio para oração pessoal e pedidos para fazer o bem e construir o Reino de Deus. Eles oraram pela Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos; por uma Igreja fiel à sua missão de Bom Samaritano e hospital de campanha para todos; pelas vítimas das rotas migratórias, para que os refugiados e migrantes não precisem mais embarcar em viagens perigosas e encontrar portas fechadas; e pela paz. Em seguida, após rezar o Pai Nosso e os participantes receberam bênção papal. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Czerny: “As estruturas hierárquicas da Igreja não têm nada a temer do processo de escuta”

Os migrantes foram os protagonistas da conferência de imprensa de 19 de outubro, dia em que a Assembleia Sinodal trabalhou em círculos menores. Estavam presentes o Cardeal Michael Czerny, Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, Dom Daniel Ernest Flores, Bispo de Brownsville (EUA), um dos presidentes delegados do Sínodo, Dom Anton Dabula Mpako, Arcebispo de Pretória e Ordinário Militar da África do Sul, e o Padre Khalil Alwan, da Igreja Maronita. Momento de oração pelos migrantes e refugiados O motivo dessas presenças está relacionado ao Momento de Oração pelos Migrantes e Refugiados em torno do monumento aos migrantes na Praça de São Pedro com a presença do Papa Francisco. Uma oração que é “uma oportunidade maravilhosa para rezar e colocar em prática o que estamos tentando entender e valorizar no Sínodo”, de acordo com o Cardeal Czerny, que destacou o simbolismo dos participantes da Assembleia Sinodal caminhando juntos até o monumento e estar “em frente a esta imagem que representa todas as pessoas vulneráveis de todos os tempos, para rezar juntos”. Uma Assembleia Sinodal que, nas palavras do prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, “concentrou-se no contexto de uma Igreja que está tentando caminhar de forma coral“, definindo o Sínodo como um caminho compartilhado que acompanha as pessoas mais vulneráveis, por exemplo, aquelas que são forçadas a se deslocar de seus locais de origem.  Migrantes nos Estados Unidos, no Líbano e na África do Sul Os presentes compartilharam a realidade dos migrantes na fronteira entre os Estados Unidos e o México, na África do Sul e no Líbano. Uma experiência compartilhada por Dom Daniel Flores, que começou destacando os dons e as experiências presentes em todas as dioceses do mundo, algo que ele compartilhou em relação à sua diocese, por onde passa um grande número de migrantes e onde a situação é muito complexa. Em uma diocese com poucos recursos materiais, “o coração das pessoas é muito generoso”, enfatizou o prelado. O bispo de Brownsville insistiu que eles agem proporcionando a todos a dignidade que lhes corresponde, querendo responder às necessidades, porque “todos merecem viver uma vida digna”. Um trabalho que realizam em conjunto com outras dioceses, porque “é importante trabalhar juntos dentro da Igreja”, enfatizou. O representante da Igreja Maronita, que está participando de seu quarto sínodo, destacou a novidade do método e do conteúdo, com a participação de todas as categorias da Igreja. Em um país de 5 milhões de habitantes, 2 milhões de sírios vivem em campos de refugiados em condições desumanas no Líbano. A partir daí, ele denunciou a política migratória da União Europeia e as duras condições que a comunidade internacional impõe a um país pobre, mas que precisa ajudar os sírios com seus próprios recursos, provocando reações duras dos cidadãos locais. Uma situação que ele não hesita em descrever como uma tragédia humana, exigindo uma reação da comunidade internacional. Por sua vez, o Arcebispo de Pretória destacou o trabalho nos círculos menores e o fato de que em diferentes lugares “já existe um terreno fértil para a sinodalidade, já temos comunidades onde as pessoas participam dos processos de tomada de decisão”. Sobre a situação dos migrantes na África do Sul, onde a maioria dos 3,9 milhões de migrantes, de acordo com dados oficiais, embora na realidade ele diga que há muitos mais, chegam fugindo da pobreza, cujo clamor é ouvido pela Igreja Católica, embora eles estejam cientes de que é difícil ajudar a todos. A maioria dos migrantes é católica e eles os tentam dar assistência pastoral e integrá-los à comunidade, acompanhados por padres que falam a língua deles. Autoridade e sinodalidade Em resposta às perguntas dos jornalistas, o Bispo Flores afirmou que “o exercício da autoridade na Igreja deve estar enraizado em uma conversão do coração“, dizendo que o que mais o preocupa é “como podemos abrir as portas para um novo estilo, como podemos nos tornar um povo em serviço mútuo enraizado em Jesus”, insistindo que “ninguém está excluído, a conversão do coração é fundamental”. Uma sinodalidade que, na opinião de Dom Anton Dabula Mpako, “tem que coexistir com a estrutura hierárquica da Igreja”, dois lados da mesma moeda para os quais é necessário buscar como trabalhar juntos de forma conjunta e coral, enfatizou o prelado sul-africano. Para ele, “a sinodalidade é algo que tem um caráter único, a sinodalidade é algo que envolve a Igreja de Pedro, e todos nós temos que caminhar no mesmo nível, na sinodalidade”. Em uma Igreja sinodal como essa, “as estruturas hierárquicas da Igreja não têm nada a temer dos processos de escuta, é impossível que isso prejudique a natureza hierárquica da Igreja“, afirmou o Cardeal Czerny. Para o cardeal jesuíta, “a fé ativa e a esperança que vêm de uma escuta radical do sopro do Espírito nos ajudarão a entender como as estruturas funcionam e como podemos melhorá-las”, enfatizando que um dos elementos que provoca maior alegria na Sala Sinodal é que “não estamos falando sobre sinodalidade, estamos vivenciando-a”. A Igreja e os grupos LGBTQI Quando perguntado sobre a posição da Igreja em relação às questões LGBTQI, o bispo sul-africano apontou que “a posição da Igreja é muito clara”, dizendo que “queremos trabalhar com compaixão, sem discriminar, sem fazer com que se sintam excluídos“, lembrando as palavras do Papa Francisco, e pedindo uma compreensão da raiz antropológica dessa realidade, o que significa que não é fácil resolvê-la logo. Acima de tudo, ele insistiu que “é importante que as pessoas da comunidade LGBTQ se sintam em casa na Igreja”. Flores insistiu que em sua diocese a missão da Igreja é acolher as famílias que enfrentam dificuldades, pedindo aos voluntários que vejam o rosto de Jesus nas pessoas que ajudam, sem fazer perguntas sobre orientação sexual ou política, como Cristo fez, chamando-os a seguir seus passos. O mesmo bispo enfatizou a importância dos esforços que estão sendo feitos na Sala Sinodal para “entender o que o meu vizinho está dizendo”, o que não é fácil, insistindo que “temos que estar cientes da…
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Coragem e criatividade do bispo que quer que as mulheres participem das decisões

Novos caminhos são percorridos quando temos a coragem e a criatividade de seguir em frente. Ser uma Igreja sinodal não é fácil, ela encontra muita resistência, muitas vezes dentro da própria Igreja, que talvez devesse repensar suas leis para adaptá-las a essa nova maneira de viver a fé, proclamar o Evangelho e construir o Reino de Deus. Quando se quer, se pode Nesse sentido, podemos dizer que há testemunhos que nos desafiam e nos ajudam a entender que, quando se quer, se pode, que sempre há maneiras de superar obstáculos e seguir em frente, que uma Igreja sinodal na qual as mulheres entram nos espaços de tomada de decisão é viável e que há lugares onde isso acontece. No início dos trabalhos de cada um dos módulos em que se divide o Instrumentum Laboris da primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, alguns dos presentes deram testemunhos mostrando como a sinodalidade se concretiza em todos os cantos do planeta, em uma Igreja que é católica, universal, presente nos confins da terra. A experiência do bispo Joly Em 11 de dezembro de 2021, o Papa Francisco nomeou Dom Alexandre Joly, até então Bispo Auxiliar de Rennes, como novo Bispo de Troyes, assumindo o cargo em 23 de janeiro de 2022. Em um momento em que o mundo se recuperava de uma de suas maiores crises das últimas décadas, causada pela pandemia de Covid-19, o jovem bispo de 52 anos, chegou a uma Igreja com uma grave situação financeira. Para enfrentar esse desafio, ele reagiu de forma sinodal, pedindo que uma decisão conjunta fosse tomada, embora tenha deixado claro que ele seria quem tomaria a decisão final. Isso, como o próprio bispo disse, porque “o que diz respeito a todos deve ser examinado por todos”. A Igreja pertence a todos, mesmo que às vezes seja difícil de entender e aceitar. Diante das dificuldades, criatividade e coragem No entanto, o que podemos considerar mais marcante no testemunho de Dom Joly foi como ele reagiu à consulta sobre a nomeação do novo Vigário Geral da diocese. Nas respostas, houve quem dissesse que um diácono ou um leigo deveria ser o vigário geral, algo que o Direito Canônico não permite e que, como eu disse antes, é algo que dificulta a realização de uma Igreja sinodal. Diante dessa situação, o bispo, com coragem e criatividade, sabendo da disponibilidade de uma leiga, que segundo o bispo “ela era reconhecida por todos por seu empenho e competência no serviço da diocese“, nomeou-a delegada geral, e ela passou a fazer parte do trio executivo da diocese, juntamente com o vigário geral e o bispo. Deixar para trás o aqui sempre foi assim O direito canônico proibia que ela fosse nomeada “vigária geral”, mas agora ela “atua como moderadora da Cúria para os serviços pastorais da diocese e supervisiona a transformação pastoral e missionária da diocese“, como enfatizou Dom Joly. Um exemplo claro de que, para avançarmos em uma Igreja sinodal, não podemos ter medo de enfrentar os desafios e deixar para trás o “aqui sempre foi assim”. O próprio bispo enfatizou para os participantes do Sínodo e para a Igreja universal – seu testemunho foi transmitido ao vivo – que “a presença de uma mulher ao meu lado, uma mulher reconhecida por todos e bem aceita em sua missão e responsabilidade, traz uma perspectiva muito positiva para a gestão da diocese“. Pouco a pouco, ele diz que estão sendo criados vínculos com o vigário geral e isso “permite uma preciosa circularidade entre nós três, mesmo que cada um tenha sua própria missão e seu próprio grau de responsabilidade”, concluiu o criativo e corajoso bispo de Troyes. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Cardeal Steiner: “Na Amazônia, as mulheres insistem em mais formação para exercer melhor o seu ministério”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade iniciou em 18 de outubro os trabalhos do quarto Módulo, que trata da “Participação, responsabilidade e autoridade“. Pouco a pouco, alguns detalhes estão sendo conhecidos, entre eles o fato de que o Documento de Síntese, como informou Paolo Ruffini, “será breve e estará a serviço de um processo que continuará, será um texto de transição que conterá os pontos de consenso e aqueles em que não houve acordo”, bem como as questões abertas a serem respondidas. Um documento de síntese e uma carta ao povo de Deus O prefeito do Dicastério para a Comunicação insistiu que “a Síntese não é um Documento Final e tampouco é o Instrumentum Laboris da próxima assembleia” e terá uma redação simples. Também foi decidido redigir uma carta-mensagem para contar a todo o Povo de Deus a experiência dos participantes da Assembleia Sinodal. A coletiva de imprensa diária contou com a presença do Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, Arcebispo de Manaus, do Arcebispo Zbigņev Stankevičs, Arcebispo de Riga (Letônia), de Dom Pablo Virgilio S. David, Bispo de Kalookan (Filipinas), e de Wyatt Olivas, que, aos 19 anos, é o mais jovem participante do Sínodo. Uma Igreja com uma longa experiência de sinodalidade O cardeal Leonardo Steiner partilhou a experiencia da Amazônia, “uma Igreja que tem uma larga experiencia de sinodalidade, sem usar a palavra sinodalidade. Uma Igreja que procurou envolver todos os ministérios e todas as vocações na evangelização, nas discussões”. O arcebispo de Manaus destacou e presença nas assembleias dos indígenas, da Vida Religiosa, presbíteros, diáconos permanentes e bispos. Ele relatou a experiência sinodal na Arquidiocese de Manaus, com uma ampla participação no processo de escuta, o que serviu no para enviar para o atual Sínodo. Ele mostrou sua alegria em ver que “o sínodo está sendo um processo, não estamos buscando logo soluções, mas estamos nos exercitando na sinodalidade”, afirmando que é claro que deverá se chegar em conclusões e decisões. Um processo sinodal onde todos estão procurando entrar, “onde todos têm oportunidade de falar, se expressar, colocar suas ideias sempre para o bem da Igreja, sempre levando em consideração a missão da Igreja, que é anunciar o evangelho, anunciar o Reino de Deus. Todos nós nesse processo”. O cardeal agradeceu ao Santo Padre por “ter convocado um Sínodo e podermos assim refletir e nos exercitar na sinodalidade”. E para a Igreja da Amazônia “um incentivo a mais para continuarmos nesse caminho de buscar ouvir a todos e envolver a todos no processo evangelizador”. O arcebispo de Manaus ressaltou o desejo da Amazônia de “ouvir as culturas da região, que são as culturas indígenas para podermos a partir da cultura apresentar o Evangelho, mas também a partir da cultura podermos fazer as nossas celebrações”. Um Espírito que quer renovar a Igreja Um Sínodo que é algo que empolga o jovem norte-americano, especialmente quando ele descobre o desejo do Papa de escutar a todos. Um processo que, no caso de Mons. Zbigņev Stankevičs, bispo em um país com dois milhões de habitantes, com 20% de católicos, apesar da relutância de alguns, o vê como “um sopro do Espírito Santo que quer renovar a Igreja”, insistindo que a principal tarefa do Sínodo é ouvir a todos, não apenas os católicos, e “tentar reconhecer o que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje“, sendo a chave os ensinamentos do Concílio Vaticano II e o chamado para despertar um senso de corresponsabilidade. Descobrir os dons e carismas de todos e ver como eles podem ser aplicados ao serviço da Igreja. Algo que ele também aplicou às mulheres e a seus dons específicos. Por sua vez, o bispo filipino se referiu aos muitos migrantes filipinos em todo o mundo e como sua presença é apreciada. Isso leva os bispos a se perguntarem se eles formaram essas pessoas em corresponsabilidade na missão, o objetivo deste Sínodo, chamando os leigos a perceberem sua corresponsabilidade na missão como o tema mais importante do Sínodo. Da mesma forma, como outros já fizeram, a disposição da Sala Sinodal em mesas redondas, ao contrário do outro Sínodo do qual ele participou, pois isso mostra “nossa igualdade, somos todos discípulos no Batismo, estamos destacando nossa igualdade como batizados“. Escutar o que as comunidades são e as necessidades Para o cardeal Steiner, “ouvir as comunidades nos dá noção do que as comunidades pensam, o que elas são, o que desejariam ser, e as necessidades que as comunidades têm”. Ele mostrou que “as nossas comunidades do interior, quase todas são dirigidas por mulheres, e as mulheres insistem em ter mais formação para poder exercer melhor o seu ministério, a sua liderança, e pedem ministérios próprios”, citando como exemplo o Ministério do Batismo, que faria possível a celebração do Batismo sem a presença do padre, destacando a cada vez maior consciências das comunidades de que “elas possam celebrar um sacramento como comunidade”. Em relação às comunidades indígenas, em Manaus há mais de 70 mil indígenas, com culturas e línguas diferentes, defendeu a necessidade de “ouvir para podermos perceber quais são as necessidades, quais são as sugestões, como fazer a celebração da Eucaristia, como estar ao lado deles, como cuidar do meio ambiente”. O cardeal denunciou a situação deplorável em que se encontra a Amazônia com a seca, onde “os grandes e famosos rios da Amazônia estão quase secos”, e junto com isso a fumaça e as queimadas. Uma Igreja ativa, samaritana, presente, misericordiosa, mas também consoladora O presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil enfatizou que “os indígenas nos ajudam a compreender essa realidade, essa relação própria com o meio ambiente. Eles nos alertam e nos ajudam a compreender a necessidade de fazer realidade o cuidado com o que o Papa Francisco chama de casa comum”. É por isso, que “ouvir as nossas comunidades desse modo sinodal nos ajuda muito a sermos uma Igreja ativa, samaritana, presente, misericordiosa, mas também consoladora”. Uma sinodalidade que “ajuda muito, porque as comunidades dizem como sermos uma Igreja, não…
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Participação, responsabilidade e autoridade: “Apresentando propostas concretas para avançar”

No dia 18 de outubro, a primeira sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade entrou em seu quarto Módulo, que aborda o tema “Participação, responsabilidade e autoridade“, refletindo sobre os processos, as estruturas e as instituições necessárias em uma Igreja sinodal missionária. Como na abertura de cada Módulo, a Basílica de São Pedro foi palco de uma celebração, uma missa presidida por Dom Gintaras Grušas, Arcebispo de Vilnius (Lituânia) e Presidente do Conselho das Conferências Episcopais Europeias. O Espírito Santo é o protagonista do crescimento da Igreja Em sua homilia, ele começou destacando a mentalidade sinodal da vida e obra de Lucas, a quem definiu como fiel, algo que desafia “a permanecermos fiéis em nosso compromisso de caminhar juntos na vida da Igreja”. Da mesma forma, o evangelista mariano por excelência, “frequentemente enfatiza o importante papel das mulheres na vida da Igreja e na proclamação da Boa Nova“, e “as características do coração de Jesus, que nos revela a imensidão da misericórdia divina de Deus”, de acordo com Dom Grusas. Para o arcebispo lituano, nos escritos de Lucas “o Espírito Santo é o protagonista na vida e no crescimento da Igreja, como deve ser na direção de nosso processo sinodal“. Analisando o texto do Evangelho do dia, destacou que “na proclamação do Reino, a igualdade de todos os batizados vem à tona”, refletindo sobre as instruções de Jesus aos discípulos. Finalmente, ele insistiu que “a sinodalidade, incluindo suas estruturas e reuniões, deve estar a serviço da missão evangelizadora da Igreja e não se tornar um fim em si mesma”. Devolvendo os frutos da Assembleia Sinodal à Igreja O Cardeal Hollerich, relator geral do Sínodo, já na Sala do Sínodo, pediu para devolver às Igrejas locais os frutos do trabalho, reunidos no Relatório de Síntese, e para reunir os elementos para concluir o discernimento no próximo ano, carregado de uma consciência mais clara do Povo de Deus sobre o que significa ser uma Igreja sinodal e os passos a serem dados para sê-lo. Isso se deve ao fato de que nossa Igreja “não é muito sinodal” e muitos “sentem que sua opinião não conta e que alguns ou uma única pessoa decide tudo”. O Arcebispo de Luxemburgo analisou as cinco planilhas do Módulo, insistindo que “essas são questões delicadas, que exigem um discernimento cuidadoso“, “porque tocam a vida concreta da Igreja e o dinamismo do crescimento da tradição”. Para dar continuidade, ele fez um apelo à participação, alertando que “a concretude também implica o risco de dispersão em detalhes, anedotas, casos particulares”. Tudo isso para “chegar a expressar convergências, divergências, questões a serem exploradas e propostas concretas para avançar”. O Concílio de Jerusalém e o Sínodo A passagem que narra o Concílio de Jerusalém foi fonte de inspiração para o padre Timothy Radcliffe em sua reflexão espiritual, “chamado a enfrentar a primeira grande crise da Igreja depois de Pentecostes“. Uma Igreja profundamente dividida, em uma crise de identidade. Comparando o que experimentou lá com o Sínodo, ele mostrou que o Espírito nos reúne “para descobrir a paz entre nós e para sermos enviados a proclamá-la ao nosso pobre mundo, crucificado por uma violência cada vez maior”. De acordo com o frade dominicano, “se nos reunirmos no nome forte da Trindade, a Igreja será renovada, embora talvez de maneiras que não sejam imediatamente óbvias”. A partir daí, ele falou de uma Igreja “na qual as mulheres já estão assumindo responsabilidades e renovando nossa teologia e nossa espiritualidade”, onde “os jovens de todo o mundo, como vimos em Lisboa, estão nos levando em novas direções, em direção ao Continente Digital”. Isso porque “a história da Igreja é uma história de criatividade institucional sem fim”, questionando: “O que está acontecendo com a voz profética das mulheres, que muitas vezes ainda são consideradas ‘hóspedes em sua própria casa’?“. Dignidade dos batizados antes das funções A introdução do campo da teologia foi feita por Dario Vitali, que começou com a afirmação da Lumen Gentium, que define a Igreja como “sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade do gênero humano”, enfatizando que “a primeira participação enfatizada pelo Concílio Vaticano II não é, de fato, a dos indivíduos, mas a de toda a Igreja, o Povo de Deus a caminho da realização do Reino“, refletindo sobre a importância de uma Igreja “sinal e instrumento da paz entre os povos”. Uma Igreja que quer ser um sacramento universal de salvação, de unidade salvífica. Analisando a eclesiologia do Vaticano II, lembrou que “antes das funções está a dignidade dos batizados; antes das diferenças, que estabelecem hierarquias, está a igualdade dos filhos de Deus”. Uma reflexão que leva ao entendimento de que “colocar o sacerdócio comum antes do sacerdócio ministerial significa romper uma relação assimétrica de autoridade-obediência que estruturou a Igreja piramidal“, defendendo a complementaridade e os ministros ordenados “a serviço do povo santo de Deus, que finalmente volta a ser o sujeito ativo da vida eclesial”. A partir daí, ele definiu a sinodalidade como “a própria communio da Igreja como o povo santo de Deus“. Daí a importância deste Módulo B3, “que mostra o caminho para iniciar a renovação de processos, estruturas e instituições em uma Igreja sinodal missionária”, em uma unidade dinâmica. Um processo que Vitali define como de saída e de entrada, afirmando que “não há contradição entre a dimensão sinodal e a dimensão hierárquica da Igreja: uma garante a outra e vice-versa”. Portanto, enfatizou o teólogo italiano, “o Sínodo é o ‘lugar’ e o ‘espaço’ privilegiados para o exercício da sinodalidade”. Por essa razão, ele pediu uma reforma teológica, para repensar a Igreja em chave sinodal, e uma reforma institucional, para garantir o exercício da sinodalidade, pensando – com paciência e prudência – nas reformas institucionais e decisórias necessárias. Experiências de sinodalidade Por fim, a Assembleia ouviu três testemunhos. Dom Alexandre Joly, bispo de Troyes (França), que começou contando as dificuldades financeiras que enfrentou quando foi nomeado bispo, o que exigiu uma decisão sobre os bens imobiliários da diocese, algo…
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Padre Radcliffe: “O que está acontecendo com voz profética das mulheres, consideradas hóspedes em sua própria casa?”

O Concílio de Jerusalém tem sido a fonte de inspiração para o Pe. Timothy Radcliffe em sua reflexão espiritual em preparação para o quarto Módulo da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade, que refletirá sobre “Participação, Responsabilidade e Autoridade“, abordando a questão dos processos, estruturas e instituições necessárias em uma Igreja sinodal missionária. Enfrentando a primeira grande crise da Igreja O dominicano refletiu sobre um Concílio “chamado a enfrentar a primeira grande crise da Igreja depois de Pentecostes”. Uma Igreja profundamente dividida, em uma crise de identidade. A partir daí, ele lembrou as palavras de Francisco em Lisboa, onde ele disse que “amadurecemos através das crises”, na medida em que as abraçamos com esperança. Igreja significa reunião, enfatizou Radcliffe, que questionou a necessidade de nos reunirmos “não apenas fisicamente, mas também em nossos corações e mentes”, se “estamos dispostos a ser atraídos para além de mal-entendidos e suspeitas mútuas“, se somos como o irmão mais velho “que fica do lado de fora, recusando-se a se reunir na alegria do retorno de seu irmão”. Trazendo paz a um mundo crucificado pela violência Em sua opinião, o Espírito Santo “nos reúne e nos envia, oxigenando a força vital da Igreja“, afirmando que “estamos reunidos para descobrir a paz entre nós e somos enviados para proclamá-la ao nosso pobre mundo, crucificado pela violência cada vez maior, na Ucrânia, na Terra Santa, em Mianmar, no Sudão e em tantos outros lugares”. A partir daí, ele refletiu sobre como ser um sinal de paz se estivermos divididos entre nós. Fazendo uma comparação entre o Concílio de Jerusalém e o Sínodo, reunidos em nome do Senhor, ele disse que isso “significa ter confiança de que a graça de Deus está atuando poderosamente em nós“. Para aqueles que lhe disseram que “este Sínodo não mudará nada”, ele disse que “isso é falta de fé no nome do Senhor”, pois “se nos reunirmos no forte nome da Trindade, a Igreja será renovada, embora talvez de maneiras que não sejam imediatamente óbvias”, vendo isso não como otimismo, mas como “nossa fé apostólica”. Uma identidade que reúne toda a Igreja dividida A partir do pensamento de Cornelius Ernst, ele observou que “a Igreja é sempre nova, como Deus, o ancião e a criança recém-nascida”. Analisando o Concílio de Jerusalém, o padre Radcliffe afirmou que “os discípulos se reuniram porque viram que Deus já estava fazendo algo novo. Deus os havia precedido. Eles precisavam alcançar o Espírito Santo. Ali ele destacou a atitude de Tiago, que baseou sua identidade “em um relacionamento de sangue com o Senhor”, por isso considerou maravilhoso “que seja ele quem proclama essa nova identidade”, considerando de grande valor e fé dizer “nós, uma identidade que reúne toda a Igreja dividida”, uma Igreja de judeus e gentios, o que, de acordo com o dominicano, “levou tempo para ele, assim como levou para nós”. Um novo sentido de “nós”, que ele disse ter experimentado durante a guerra civil em Burundi, celebrando a Eucaristia quando viajou pelo país com dois de seus irmãos, um hutu e um tutsi. Nesse sentido, “nosso Deus já está dando vida a uma Igreja que não é mais primordialmente ocidental: uma Igreja que é católica oriental, asiática, africana e latino-americana”. Uma Igreja, insistiu ele, “na qual as mulheres já estão assumindo responsabilidades e renovando nossa teologia e nossa espiritualidade“. Uma Igreja na qual “os jovens de todo o mundo, como vimos em Lisboa, estão nos levando em novas direções, em direção ao Continente Digital”. Abraçando a graciosa novidade de Deus Radcliffe insistiu que, em vez de perguntar o que fazer, precisamos questionar o que Deus está fazendo, se aceitarmos sua graciosa novidade. A partir daí, observando a atitude de Tiago, ele afirmou que “o novo é sempre uma renovação inesperada do antigo”, de modo que “qualquer oposição entre tradição e progresso é totalmente estranha ao catolicismo“. “A história da Igreja é uma história de criatividade institucional sem fim”, enfatizou, citando exemplos ao longo da história. A partir daí, ele perguntou sobre as instituições necessárias “para expressar quem somos como homens e mulheres de paz em uma era de violência, habitantes do Continente Digital”. A partir do fato de que toda pessoa batizada é um profeta, ele perguntou como reconhecer e abraçar o papel da profecia na Igreja hoje, e mais concretamente: “O que está acontecendo com a voz profética das mulheres, que muitas vezes ainda são consideradas como ‘hóspedes em sua própria casa’?“. Por fim, ele lembrou que o Concílio de Jerusalém libertou os gentios de fardos desnecessários, de uma identidade dada pela antiga Lei. A partir daí, ele questionou “como tiraremos os fardos dos ombros cansados de nossos irmãos e irmãs de hoje, que muitas vezes se sentem desconfortáveis na Igreja”. Por exemplo, “aquela jovem que cometeu suicídio porque era bissexual e não se sentia bem-vinda”, dizendo esperar que “isso tenha nos mudado” e nos identifique com a Igreja na qual “todos são bem-vindos: todos, todos, todos“, lembrando as palavras de Francisco. Um caminho de volta à Igreja, à casa do Reino que cada pessoa começa onde quer que esteja. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1