No XIV Domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia recordando que “nos foi anunciado no Evangelho: ‘O Reino de Deus está próximo’. Próximo, permanece como que velado, não revelado plenamente, mas em revelação, em manifestação. Velado, por isso próximo de nós. Próximo, pois Deus sempre está próximo, está na proximidade. Jesus é a proximidade de Deus”.
Somos amados e nunca abandonados
Segundo o presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte 1), “o Reino da proximidade está plenificado com a morte e ressurreição de Jesus. Nele participamos da proximidade de Deus, pois partícipes de um novo modo de ser, de viver, de conviver. Somos participes em Jesus do mistério do Reino de Deus, pois salvos e viventes da vida da Trindade. Ele a fonte da nossa esperança e alegria: somos amados e nunca abandonados. Ele, o ressuscitado, permanece entre nós e em nós”.

“Jesus envia os discípulos em missão com uma saudação e uma mensagem”, disse o cardeal. Ele lembrou a saudação: “Que a paz esteja nesta casa”! É por isso que “em toda e qualquer casa que entrarem desejar a paz, saudar com a paz, oferecer a paz!” Isso porque “Jesus envia como embaixadores da paz. E uma mensagem: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’”.
“Como é admirável no Evangelho que Jesus sem esperar que os discípulos estejam prontos e bem-preparados, os envia em missão. Para ir em missão, anunciar a vida nova, o novo modo de viver e conviver, para lugares desconhecidos, entre pessoas desconhecidas, Jesus não diz o que levar, mas o que não levar: ‘Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias’”, refletiu o cardeal. Ele insistiu em que “o mínimo do mínimo, como se propusesse: sem bagagem, sem segurança, sem grandes projetos, sem estruturas, sem seguranças, sem apoios. Os envia na riqueza da pobreza, da força da beleza e riqueza do anúncio do Reino de Deus. Quanto mais livres e simples, pequeninos e humildes, tanto mais o Espírito Santo poderá inspirar, iluminar o caminho da missão. O envio em missão faz dos apóstolos mensageiros da riqueza do Reino, e arautos da paz, guiados pelo Espírito Santo, na força da pobreza”.
Enviados como portadores de paz
Citando as palavras de Jesus: “Que a paz esteja nesta casa”! o cardeal refletiu: “como os discípulos, também nós como seguidores e seguidoras de Jesus, somos enviados com a saudação da paz, portadores de paz; a paz que é o próprio Jesus. Somos mensageiros da paz e seremos reconhecidos como pertencentes a Jesus, como discípulos missionários, discípulas missionárias como mulheres e homens que vivem do Reino se saudarmos com a paz. A paz do Ressuscitado!”
Analisando a realidade atual, o arcebispo de Manaus disse que “no tempo de tanta violência, guerra, morte, Jesus nos envia como mulheres e homens de paz, a paz da vida nova.” O cardeal recordou as palavras de Papa Francisco: “Irmão, irmã, a paz começa por nós; começa por mim e por ti, por cada um de nós, pelo coração de cada um de nós. Se viveres a sua paz, Jesus vem e a tua família, a tua sociedade, mudará. Mudarão se primeiro o teu coração não estiver em guerra, não estiver armado de ressentimento e raiva, não estiver dividido, não for ambíguo, não for falso. Pôr paz e ordem no coração, desativar a ganância, extinguir o ódio e o rancor, evitar a corrupção, evitar a trapaça e a astúcia: é aqui que começa a paz. Gostaríamos de encontrar sempre pessoas mansas, bondosas e pacíficas, a começar pelos nossos familiares e vizinhos. Mas Jesus diz: «Leva tu a paz à tua casa, começa por honrar a tua esposa e amá-la com o coração, respeitando e cuidando dos filhos, dos idosos e dos vizinhos. Irmão e irmã, por favor, vivam em paz, acende a paz e a paz habitará na tua casa, na tua Igreja, no teu país”.
Nas palavras de Jesus, o cardeal Steiner vê “saudação e anúncio! Envia com a mensagem: ‘O reino de Deus está próximo! […] O reino de Deus está próximo’”. Segundo ele, “Jesus envia os discípulos dois a dois. A alegria que brota da proximidade de Deus, do Reino de Deus, concede a paz, mas não nos deixa em paz. Dá paz e não nos deixa em paz, pois provoca uma mudança esperançosa: enche de admiração, surpreende, transforma a vida, encanta, realiza, leva a vida à sua plenitude!”

O Senhor transforma sempre a nossa vida
Citando novamente as palavras de Papa Francisco, o arcebispo de Manaus disse: “E o encontro com o Senhor é um começo constante, um contínuo dar um passo em frente. O Senhor transforma sempre a nossa vida. É o que acontece com os discípulos no Evangelho: para anunciar a proximidade de Deus, partem para longe, vão em missão. Porque quem recebe Jesus sente que deve imitá-lo, fazer como Ele fez, que deixou o céu para nos servir na terra, e sai de si mesmo. Portanto, se nos perguntarmos qual é a nossa tarefa no mundo, o que devemos fazer como Igreja na história, a resposta do Evangelho é clara: a missão. Ir em missão, levar o Anúncio, dar a saber que Jesus veio do Pai”.
Igualmente, o cardeal lembrou que “o anúncio, a evangelização, dizia São Paulo VI, não é um ato individual e isolado, mas dois a dois, pois missão da Igreja! Eclesial e em comunhão. A evangelização em nome da Igreja, acontece em comunhão. Nenhuma pessoa anuncia segundo critérios e perspectivas individualistas, mas sempre em comunhão, com a comunidade, a igreja particular. A Igreja é ela toda inteiramente evangelizadora. Onde ela se encontra, a Igreja, diríamos as comunidades, se sente responsável pela missão de difundir o Evangelho, o Reino de Deus”, citando Evangelii Nuntiandi 60.
O arcebispo recordou que “Papa Francisco ao falar da evangelização, ensina que a comunidade dos discípulos de Jesus nasce apostólica, nasce missionária, não proselitista. Evangelizar não é o mesmo que fazer proselitismo, mas propor um outro modo de vida, um outro modo de viver, um outro modo de ser: viver como Jesus viveu! No Evangelho que nos foi proclamado, Jesus envia para anunciar o Reino de Deus, um modo novo de familiaridade, de fraternidade. O Espírito Santo plasma-a em saída – a Igreja em saída, que sai – para que não fique fechada em si mesma, mas seja extrovertida, testemunha contagiosa de Jesus, destinada a irradiar a sua luz até os confins da terra. Contudo, pode acontecer que o ardor apostólico, o desejo de alcançar os outros com o bom anúncio do Evangelho, diminua, se torne tíbio. Quando a vida cristã perde de vista o horizonte da evangelização, o horizonte do anúncio, adoece: fecha-se em si mesma, torna-se autorreferencial, atrofia-se. Sem zelo apostólico, a fé esmorece. Ao contrário, a missão é o oxigênio da vida cristã: tonifica-a e purifica-a (cf. Audiência Geral, (11/01/2023). Também nós somos enviados para anunciar as maravilhas e as belezas do Reino de Deus”.
Deus é proximidade
Segundo o cardeal Steiner, “somos pelo Evangelho e as leituras deste domingo, convidados a saudar com a paz e anunciar a proximidade, a compaixão e a ternura de Deus. Saudar com a paz e anunciamos uma esperança. A proximidade e o cuidado de Deus fortificam a nossa esperança, nos tornamos peregrinos, peregrinas da Esperança. Ao saudarmos com a paz e sermos enviados em missão, Jesus nos provoca a uma conversão, mudança de vida: não permanecermos fechados em nós mesmos, mas sermos indicadores, mostradores do Reino de Deus, o Reino da esperança e da paz! Deus está próximo, é proximidade, deseja que todos nós sejamos irmãos e irmãs”.
“Saudamos com a paz e anunciamos o Reino de Deus! Talvez por isso, Isaias na primeira leitura visibilizava a graça da proximidade, o modo do Reino de Deus, onde há harmonia, paz e paternidade-maternidade. “Eis que farei correr para a ela a paz como um rio. Sereis amamentados, carregados ao colo e acariciados sobre os joelhos. Como uma mãe que a caricia o filho, assim eu vos consolarei, e sereis consolados em Jerusalém. Tudo isso havereis de ver e o vosso coração exultará, e o vosso vigor se renovará como a relva do campo” (Is 66,11-14). Sim, a riqueza e esplendor do Reino de Deus que se manifestou numa verdadeira maternidade. O cuidado de Deus que Jesus anunciou e para isso enviou os apóstolos: O Reino de Deus está próximo e com a saudação: a paz esteja nesta casa”, refletiu o arcebispo.

O Reino da nova criação!
Analisando a segunda leitura, o cardeal destacou que “São Paulo, o anunciador, o evangelizador, escrevendo aos Gálatas, se gloriava somente em Jesus: Quanto a mim, que me glorie somente da cruz do Senhor nosso, Jesus Cristo. A cruz o Reino da verdade e da graça, da justiça do amor e da paz. O Reino da nova criação! Ouvíamos: que conta é a nova criação (cf. 6,14-15). Sim, conta a nova criação, o Reino novo, a vida nova que nos foi oferecido por Jesus na cruz e ressurreição”.
“A saudação da paz e o anúncio da vida nova, do novo Reino, deveria ressoar em todo o universo. Todos os povos e nações viverem na paz do |Reino novo. Essa é a nossa esperança que o Crucificado-ressuscitado nos legou!”, disse o cardeal, citando as palavras do Evangelho: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita”.
Finalmente, o arcebispo de Manaus pediu que “Jesus nos concede a graça de sermos sempre mais discípulos missionários, discípulas missionárias, para saudamos a todos com a paz do Ressuscitado e anunciarmos o Reino da verdade e da graça. Amém”.