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II Assembleia Avaliativa da Diocese de Borba: Uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão

A diocese de Borba realizou de 04 a 06 de novembro de 2024 a II Assembleia Avaliativa, com o tema “Uma Igreja Sinodal, comunhão, participação e missão“. O ponto inicial foi a formação dos secretários paroquiais sobre o sistema “Cúria on line”.  O bispo diocesano dom Zenildo Luiz Pereira da Silva, alinhou  as metas para o ano de 2025 junto aos participantes, bem como avaliou a caminhada missionária. Posteriormente, o assessor Ademir Jackson destacou que a diocese de Borba estará completando seus  dois anos de instalação.  Em suas palavras, o bispo diocesano ressaltou que Deus realizou através de nós os feitos de uma diocese ministerial, pois somos os seus instrumentos. A busca pela memória, o sentimento de gratidão, o empenho e a dedicação do povo-igreja. Dom Zenildo também frisou a máxima de que “Reinar é servir”, em comunhão com o Sínodo que encerrou em Roma. Logo, animados no processo com o apelo do Papa Francisco,  “A igreja não fique sentada, não seja muda, não seja cega.” Diante disso, o bispo questionou “Como fazer?”, respondendo que “Com esperança!” Foram  dias de intensa formação e partilha. As metas articuladas pelas quatro Foranias desta diocese foram feitas atendendo a necessidade de cada setor, coordenação de pastoral, foranias, organismos, paróquias, áreas missionária e as instituições. As ações e propostas para cada organismo eclesial estarão compondo o Calendário Diocesano do Ano de 2025.  O evento chegou ao fim após a leitura da Ata e a Celebração Litúrgica de Envio para os Leigos e leigas, missionários e missionárias envolvidos nos carismas evangelizadores desta igreja em saída. Viva o Espírito Santo que impulsiona o Povo de Deus para uma Igreja Sinodal e Ministerial! Diocese de Borba

5 Seminaristas da Arquidiocese de Manaus são admitidos às Ordens Sacras

No dia 5 de novembro de 2024, a Capela do Seminário São José acolheu um momento especial para a Arquidiocese de Manaus: a admissão de cinco seminaristas entre os candidatos às ordens sacras. Arlison Lima, Gerson Santos, Geovane Batista, Luiz Humberto e Natanael Oliveira deram mais um passo importante em sua jornada vocacional, confirmando o chamado ao presbiterado e ao serviço do Evangelho. Durante a Santa Missa, presidida pelo Cardeal Arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Ulrich Steiner, e concelebrada pelos bispos auxiliares Dom Zenildo Lima e Dom Hudson Ribeiro, além da equipe formativa e outros quatro sacerdotes, os seminaristas foram acolhidos com palavras de incentivo e uma profunda reflexão sobre a missão a que são chamados. O Evangelho de Lucas 14,15-24, proclamado na celebração, recordou-lhes a importância de responder ao convite generoso de Deus, que os chama a trabalhar pela vinha do Senhor. Cada um dos seminaristas vem de uma comunidade eclesial particular: Geovane Batista e Luiz Humberto da Área Missionária São Lucas; Gerson Santos da Paróquia São Pedro Apóstolo, em Manaquiri; Natanael Oliveira da Área Missionária Santo Antônio do Samaúma; e Arlison Lima da Paróquia Santo Afonso. Todos estão no primeiro ano da etapa da configuração, dedicando-se aos estudos teológicos e aprofundando sua espiritualidade presbiteral. Para Geovane Batista, que viveu intensamente esse momento, a admissão às ordens sacras tem um significado profundo. “Hoje, de forma especial, fui um dos que foram admitidos. Cada passo que damos no processo formativo da caminhada seminarística tem seu sentimento único. Quando eu entrei no seminário, vi que o caminho era longo; hoje, ao dar esse passo, percebi que já não está tão distante assim, e que aquilo que era um sonho chega mais próximo de se tornar realidade…” Geovane expressa ainda o valor de sua experiência pastoral no município de Careiro da Várzea, na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde vê em cada desafio a imagem do Bom Pastor que se entrega ao cuidado do rebanho. “A realidade em que o povo (ovelhas) lá se encontra, me ajuda a entender esse sentido do Bom Pastor. Diante da realidade da seca do Rio, merecem uma atenção maior. Mesmo com a dificuldade do acesso, nunca me senti intimidado, mas sim desafiado.” Este rito de admissão marca o compromisso público dos seminaristas de seguir o caminho do Senhor, com fidelidade e humildade, tornando-se sinais vivos de Sua presença. Que toda a comunidade arquidiocesana una-se em oração por esses futuros presbíteros, sustentando-os e incentivando-os nessa caminhada de serviço ao Reino de Deus. Luiz Fernando Levati, Seminário São José

Cardeal Steiner: Memória de mulheres e homens que deixaram-se iluminar pela alegria da vida nova anunciada

“A celebração de hoje une, de modo especial, a terra e o céu, céu e a terra: celebramos a todos os Santos”, afirmou o cardeal Leonardo Steiner na homilia da Solenidade de Todos os Santos. “Mulheres e homens que no seguimento de Jesus deixaram-se fecundar e transformar e agora participam do Reino definitivo. Mulheres e homens que estiveram a caminho e deixaram-se iluminar pela grandeza, pela alegria da vida nova anunciada, crucificada e ressurreta de Jesus Cristo”, segundo o arcebispo de Manaus. Segundo o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), “com a celebração de hoje somos animados a perseverar, a nos aproximar sempre mais da vida e graça do Jesus”. Comentando a primeira leitura, ele destacou que “o livro do Apocalipse nos despertava para a admiração”. O cardeal Steiner sublinhou: “marcados, pois bem-aventurados, felizes! Nas vicissitudes, injustiças, destruições da história, eles caminharam, permaneceram de pé, ‘combateram o bom combate’, passaram pela ‘grande tribulação’. E, nesse passar, permanecer na fidelidade, receberam o sopro do Espírito que purifica, pacifica, sacia, consola, alegra e eleva na perseguição. No marchar, caminhar foi-lhes dada a graça da comunhão na pureza do ser de Deus; abraçados e acarinhados, alcançaram a limpidez do ser no seu sentido ontológico. A multidão sem fim dos bem-aventurados, dos felizes no Reio do Céu”. O arcebispo de Manaus lembrou que “a Igreja celebra, memora, os irmãos e as irmãs que receberam a graça do caminho de seguir o Mestre Jesus. Celebramos e memoramos todos os discípulos e discípulas de Jesus que foram declarados santos e santas, mas igualmente memoramos e admiramos todos os que seguindo Jesus nos tormentos, no esquecimento, na humildade, no serviço, na misericórdia, foram fiéis até o fim. Fazemos memória das irmãs e dos irmãos que testemunharam a Jesus e o seu Evangelho numa vida humilde e escondida, acolhedora e recnciliadora e que, por isso, foram vistos e reconhecidos como santos e santas. Celebramos a realidade, realíssima da Comunhão dos Santos!” Bem-aventurados!, Felizes (hebraico ashrei)! Somos convidados a ser bem-aventurados, a ser felizes! Jesus no Evangelho, nos ensinando o caminho da felicidade. Somos bem-aventurados, felizes, quando percorremos o caminho, quando perseveramos no caminho. O olhar sempre voltado para o Reino de Deus. Percorrer o caminho do Reino. Andar (Ashar), conduzir por uma vida de bondade, de retidão. Santas e santos, os irmãos e a irmãos que percorreram, perseveraram na dinâmica da salvação recebida, sempre mais alimentados pelo Espírito do Reino de Deus”, segundo o cardeal Steiner. Citando o texto do Evangelho do dia: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, o cardeal Steiner lembrou que “um poeta hebreu nos diz que pobres de espírito, deveria ser compreendido como humilhados do sopro. Os humilhados (o termo hebraico ani, próximo de anav), os humildes, aqueles que na consciência pacificada de sua miséria e de seu nada herdam a mais eminente das graças divinas, o sopro sagrado, o Espírito Santo; o sopro presente na pessoa, na casa ou no templo em que mora Deus. Estes humildes e estes humilhados são as vítimas da convivência desastrada onde são rejeitados, injustiçados e vivem escondidos, mas vivem, não deixam de viver e sempre mais desejosos do sopro vivificador. São teimosamente viventes!” “À margem da sociedade reinante, eles são vocacionados para herdar o sopro sagrado, o que faz deles membros da comunhão escatológica anunciadora e obreira do mundo vindouro. Os humilhados, são teimosamente viventes, porque na sua finitude, na humanidade finita, justamente na fraqueza, continuam a confiar em Deus e a buscar a misericórdia benfazeja. Todos a caminho, de pé, iluminados pelo Reino vindouro, porque já presente e sopro do novo reino. O Reino anunciado por Jesus e nele plenificado. É caminho a percorrer, que os humilhados trilham, pois teimosamente caminham, estão de pé. E porque humilhados e desprezados, percebem que vivem do sopro do Espírito. Aquela, aquele, que se faz bem-aventurado, deixa-se, na maior humilhação, fecundar pelo sopro do Espírito. Bem-aventurado, feliz, advém do perseverar e caminhar na força e graça do Espírito”, lembrou o arcebispo inspirado nas palavras de André Chouraqui. “Bem-aventurados os humilhados! Jesus, não tem a crueldade de declarar bem-aventurados, felizes a multidão dos deserdados, dos condenados, torturados, mortos, como genocídio pelas legiões romanas porque se opunham à presença dominadora. O Jesus faz o convite de nos pormos a caminho e participarmos da vida do Reino, na vida ou na morte, na alegria ou na tristeza, na dança ou no sofrimento. Assim experimentamos o Reino que conduz na esperança, é a fraternidade, alargando o horizonte da vida do Reino. A bem-aventurança é Reino de Deus, na realização do reino”, disse o presidente do Regional Norte1. “Jesus a nos indicar um caminho a ser percorrido, uma disposição de buscar: vida nova. Ele a nos chamar para a transformação radical do Universo. Como um profeta a anunciar um novo céu e uma nova terra onde possa desabrochar, livre de toda a servidão, uma vida nova, a transfiguração da realidade, a completude do reino de Deus. Jesus a nos provocar a uma conversão radical, ao retorno à fonte de nosso ser. A nos provocar a estar a caminho sempre, de pé, na prontidão para eliminar a raiz de tudo o que impede, trava o sopro, o impulso do sopro sagrado, criador e libertador de vida, o Espírito humilhado, o Espírito Santo”, sublinhou. Na segunda leitura, o cardeal Steiner disse que “São João a nos indicar a força, a beatitude dos daqueles e daquelas que continuam a caminhar, a estar de pé em meio a todas as aflições: ‘Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados de filhos de Deus! […] E nós já somos filhos de Deus, mas ainda nem sequer se manifestou tudo o que seremos’ (1Jo 1,1-2). Caminhar na esperança de nos encontrarmos face a face com Deus e de sermos transformados Nele, de sermos ‘cristificados’, ‘deificados’. No caminhar, no estar de pé é que nos torna santos, pacientes ou padecentes de sua Paixão…
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Na linha do Papa Francisco, Regional Norte1 avança no cuidado e proteção de crianças, adolescentes e vulneráveis

A Comissão Ampliada de Escuta e Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1) se reuniu vitualmente no dia 30 de outubro de 2024. Um encontro de grandes esperanças, segundo o bispo auxiliar de Manaus, dom Hudson Ribeiro, assessor da comissão. Ele disse “esperanças, no plural, porque de fato é a composição da esperança de cada um a partir daquilo que já foi realizado e vem se realizando e se realizará”. Uma cultura que deve ganhar força O bispo sublinha que “existe um empenho, existe um interesse, existe uma responsabilidade de fazer com que essa cultura do cuidado, essa proteção de crianças, adolescentes e adultos vulneráveis, ela ganhe força em cada diocese e em cada prelazia”. A reunião, muito proveitosa, cheia de esperança e de comprometimento, contou com uma boa participação e acolhida e foi momento para organizar o calendário de 2025 em nível de Regional Norte1. Estamos, segundo dom Hudson Ribeiro, diante de “uma construção de muitas mãos e de muitos corações, que nos dá muita esperança da gente avançar no cuidado de crianças e adolescentes no específico da forma de abuso, e acima de tudo abuso sexual”. O planejamento das formações para o próximo ano, contará com uma parceria com o Núcleo Lux Mundi, associado à Conferência dos Religiosos do Brasil e à CNBB, que vai realizar uma formação on-line duas vezes por mês, de fevereiro a junho de 2025, com as comissões das igrejas locais, em vista da formação da equipe e da contribuição nas atividades de prevenção. O programa perpassa a área bíblica, antropológica, psicológica e da legislação, com foco no Motu Próprio do Papa Francisco. Multiplicadores de prevenção A formação visa que aqueles que participem possam se tornar multiplicadores de atividades de prevenção e de maior articulação. Igualmente, está previsto um encontro presencial onde além do estudo e aprofundamento do Decreto, Regulamento e Manual de Proteção de Crianças, Adolescentes e Adultos Vulneráveis do Regional Norte1, será usada a metodologia de trazer casos que foram encaminhados para na prática poder aprofundar e assim conseguir ter condições de atender os casos que chegarem das prelazias e dioceses. Segundo dom Hudson Ribeiro, “isso para nós é uma grande esperança porque é um trabalho articulado numa rede maior que exige esse trabalho, um planejamento construído não de agora, mas que vai se efetivar em 2025, calendário que a gente já organizou”. Cada igreja local, nas assembleias diocesanas e prelatícias que serão realizadas durante o mês de novembro, tratará essa temática em vista de avançar nesse caminho de cuidado e proteção. Junto com isso, as formações nas dioceses e prelazias acontecerão por categorias: presbíteros, diáconos, religiosas/os, catequistas, juventudes, atendentes paroquiais, colaboradores e colaboradoras, casas de formação, escolas católicas, entre outros em um processo contínuo de formação e prevenção. Primeiro Relatório Anual sobre Políticas e Procedimentos de Proteção na Igreja O trabalho realizado pela Comissão do Regional Norte1 está na linha do Primeiro Relatório Anual sobre Políticas e Procedimentos de Proteção na Igreja recentemente apresentado ao Papa Francisco, que tem como objetivo a “conversão para uma cultura de proteção”, em vista de “um compromisso de converter-se do mal e curar os feridos”. Os passos propostos são: conversão de afastamento do mal, verdade, justiça, reparações e garantias de não reincidência. O Relatório quer ser “um novo instrumento no compromisso da Comissão” e está dividido em quatro seções: A Igreja Local em Foco; a Missão de Proteção da Igreja nas Regiões Continentais; Políticas e Procedimentos de Proteção da Cúria Romana a Serviço da Igreja Local; o Ministério de Proteção da Igreja na Sociedade.   Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O timoneiro, o orientador e a concretude da sinodalidade

A Assembleia Sinodal terminou, mas não o Sínodo, que é um processo, nem a Sinodalidade, que é uma forma de ser Igreja. Quatro semanas podem ou não valer muito, mas estou convencido de que o tempo gasto durante a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que teve lugar na Aula Paulo VI de 2 a 27 de outubro de 2024, com dois dias de retiro prévio, dará frutos, trinta, sessenta ou cem por cento. O timoneiro Depois de tudo o que vi, resta-me aquilo a que chamaria o timoneiro, o orientador e a concretude. Os anos ajudam-nos a sedimentar, sobretudo quando vivemos e contemplamos a realidade do ponto de vista de Deus. O timoneiro de tudo o que a Igreja está a viver neste momento não é outro senão o Papa Francisco. Digo-o com base nas suas duas homilias e nos seus dois discursos, na abertura e no encerramento. Na missa da manhã de 2 de outubro, convidou-nos a procurar o caminho a seguir para chegar aonde Deus nos quer levar, tarefa nada fácil, dada a diversidade de proveniências e de ministérios eclesiais dos membros. Aqueles que sentem que perderam ou ganharam não compreendem o apelo de Francisco para que a Assembleia Sinodal seja um lugar de escuta em comunhão, não um parlamento. A arrogância está presente quando, movidos pela autossuficiência, acreditamos que a nossa é a única forma de ser Igreja, com uma agenda a impor, e desprezamos aqueles que vemos como adversários; isso é superado pela fraternidade em comunhão, que leva a falar espontânea e abertamente, sem medo de rejeição, tornando-se pequenos e querendo estar entre os pequenos, nas periferias, ouvindo a voz do Espírito consolador, imagem do Deus misericordioso, que sabe e quer perdoar sempre e a todos. O timoneiro procurou que todos remassem juntos e na mesma direção, apesar dos rebeldes que insistem em desafinar para que a sinfonia não soe bem. Na Igreja, ninguém é o que é sem o outro, incluindo o bispo de Roma, que deve também escutar para melhor orientar o leme de um barco em que ninguém falta, um barco sem muros, sem rigidez, que avançará na diversidade, sem condenações, através da experiência concreta que leva a descobrir o Espírito que sopra em todo o lado. Para isso, a Igreja não pode ficar sentada, muda, cega ou estática; temos de escutar o Senhor e sair de nós mesmos para caminhar juntos atrás d´Ele e com Ele. O orientador Considero Timothy Radcliffe como um dos grandes mentores da sinodalidade. O dominicano inglês é capaz de fazer uma leitura espiritual para ajudar a avançar nesta forma de ser Igreja a partir da escuta do Espírito Santo, que gera um sentimento de liberdade, que nos permite caminhar juntos e tomar decisões, pensar, falar e escutar sem medo. Só assim a Igreja Católica se pode renovar e responder a novas situações, assumindo “novas formas de ser Igreja que nos permitem estar em comunhão uns com os outros de uma forma mais profunda em Cristo e para Cristo”. Antes de alguns o fazerem, Radcliffe já tinha avisado que “podemos ficar desiludidos com as decisões do Sínodo”, a quem deu a resposta: “pertençam à Igreja e digam Nós”. De fato, “não precisamos de ter medo do desacordo, porque nele atua o Espírito Santo”, Deus “atua suave e silenciosamente, mesmo quando as coisas parecem estar a correr mal”, como tem feito ao longo da história, “conduzindo-nos ao Reino por caminhos que só Deus conhece. A sua vontade para o nosso bem não pode ser contrariada”. De fato, “este é apenas um sínodo. Haverá outros. Não temos de fazer tudo, apenas tentar dar o próximo passo”. Haverá sempre perguntas difíceis de responder, uma delas é: como pode a Igreja ser a comunidade dos batizados, todos iguais, e, no entanto, o Corpo de Cristo com diferentes papéis e hierarquias? Uma questão colocada pelo dominicano à Assembleia Sinodal. Para Radcliffe, “muitas pessoas querem que este Sínodo dê um Sim ou um Não imediato sobre várias questões”, daí a decepção de alguns. São aqueles que veem o Sínodo como um espaço “para negociar compromissos ou para bater nos adversários”. Perante isto, uma questão fundamental: “Teremos a coragem de confiar uns nos outros, apesar de alguns fracassos?” A concretude Finalmente, descobrir o que já temos de sinodalidade, que é algo que em maior ou menor grau existe, algo que o Arcebispo de Manaus, Cardeal Leonardo Steiner, fez. De fato, a sinodalidade tem a ver com diferentes realidades, entre elas o meio ambiente, já que na “Querida Amazónia, o Papa Francisco dá-nos uma hermenêutica da totalidade que é tremendamente sinodal”. Mas a sinodalidade também se manifesta na caminhada da Igreja na Amazônia. Ali, as mulheres, um dos grandes temas deste processo sinodal, “fizeram avançar as comunidades e hoje fazem avançar as nossas comunidades”. Além disso, e aqui entra a questão das diaconisas, ele disse que “várias das nossas mulheres são verdadeiras diaconisas, sem terem recebido a imposição das mãos. E a estas diaconisas, gostaríamos de lhes chamar diaconisas, mas para não criar confusão com o ministério ordenado, ainda não encontrámos uma palavra adequada”. A partir daí, sublinhou que “é admirável, admirável, quantas mulheres são responsáveis pela nossa Igreja, é admirável”, mulheres que “estão à frente das comunidades”, ao ponto de que “a nossa Igreja não seria a Igreja que é sem a presença das mulheres”. São passos que estão a ser dados, talvez não ao ritmo que gostaríamos, mas ao ritmo de todos, um processo que nos deve levar a compreender que “o Sínodo para a Amazônia abriu a possibilidade de ter um Sínodo de Sinodalidade”, e que “a sinodalidade é um caminho sem retorno”, porque “estamos todos a entrar num movimento de ser Igreja, estamos a ser convidados a participar num modo de ser Igreja onde todos aqueles que receberam a graça do batismo e da confirmação, foram revestidos do Espírito Santo e de Jesus, se sentem responsáveis pela missão”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Francisco aos jovens de Manaus: “Não tenham medo, se comprometam com a vida, com o trabalho”

A sinodalidade é uma dinâmica muito presente na Igreja de Manaus. Depois de realizar a Assembleia Sinodal Arquidiocesana em 2022, nas Diretrizes para a Ação Evangelizadora de Igreja de Manaus, foram definidas algumas pistas de ação no caminho com a juventude, que tem por objetivo “construir junto com os jovens um caminho de aproximação e acompanhamento que contemple a escuta, a formação e o protagonismo juvenil”. A primeira pista de ação foi realizar o Sínodo Diocesano com a Juventude, e junto com isso contemplar o Projeto de Vida e o acompanhamento vocacional no itinerário de Iniciação à Vida Cristã com os jovens; incentivar o protagonismo juvenil assegurando a participação dos jovens em todos os caminhos delineados na Assembleia Sinodal; e finalmente, incentivar os grupos de base como uma forma de organização do Setor Juventude. As palavras norteadoras desse processo são encontrar, escutar, discernir, e cada uma delas é referência para cada uma das etapas em que está dividido o caminho sinodal, e o objetivo do Sínodo Arquidiocesano da Juventude é “Ajudar os jovens a encontrar o valor do Evangelho”. Depois da primeira etapa, o encontrar, que buscou despertar o protagonismo juvenil, sensibilizar os jovens para que possam compreender o valor do processo sinodal e coletar sugestões nos muitos encontros realizados, o Sínodo Arquidiocesano de Manaus está vivenciando a etapa do escutar, iniciada na Festa de Pentecostes de 2024, a grande festa da Arquidiocese de Manaus, e vai até Pentecostes de 2025, que está ajudando os jovens a assumir o papel da liderança, elaborar a síntese do que foi escutado e elaborar um Instumentum Laboris para a assembleia sinodal. Nesse caminho, os jovens receberam um impulso especial. O Papa Francisco enviou um vídeo, exibido no Dia Nacional da Juventude, com a presença de mais de 700 jovens, onde o Santo Padre diz que sabe “que vocês estão trabalhando no Sínodo”. Diante disso, Francisco disse aos jovens de Manaus: “vão em frente, façam bagunça, façam barulho, não tenham medo, se comprometam com a vida, com o trabalho”, se despedido com seu típico: “Rezo por vocês e vocês rezem por mim”, e enviando sua benção. Um grande estímulo para continuar o caminho que deve levar à Assembleia Sinodal, prevista para julho de 2025. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Francisco encerra o Sínodo apelando à Igreja para que não fique sentada, muda, cega ou estática

Agora podemos dizer que terminou a Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, não o Sínodo, que é um processo, não a Sinodalidade, que é um modo de ser Igreja. O final coincidiu com uma missa na Basílica de São Pedro, na qual o Papa Francisco foi mais uma vez preciso nas suas palavras, como tem sido nos seus discursos desde 2 de outubro. O modo de ser Igreja “Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja de pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que ouve o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva a luz do Evangelho aos outros. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo”, sublinhou na sua homilia. Francisco começou as suas palavras falando da figura de Bartimeu, “um marginal sem esperança que, no entanto, ao ouvir Jesus passar, começa a gritar-lhe”. Nesta situação, “a única coisa que lhe resta é isso: gritar a sua própria dor e levar a Jesus o seu desejo de recuperar a vista. E enquanto todos o repreendem porque a sua voz os incomoda, Jesus para. Porque Deus ouve sempre o grito dos pobres, e nenhum grito de dor lhe passa despercebido”. Não ficar parado No final da Assembleia Sinodal, um momento de ação de graças, o Papa apelou a uma pausa no que acontece a Bartimeu, que se senta a mendigar. Esta é, segundo Francisco, a postura típica de “uma pessoa fechada na sua própria dor, sentada à beira da estrada, como se nada mais lhe restasse do que esperar receber alguma coisa dos muitos peregrinos que passavam pela cidade de Jericó por ocasião da Páscoa”. Perante esta posição, afirma que “para viver verdadeiramente não podemos ficar sentados: viver é sempre mover-se, caminhar, sonhar, fazer projetos, abrir-se ao futuro”. A partir daí, sublinhou que “o cego Bartimeu representa também aquela cegueira interior que nos bloqueia, que nos faz ficar parados, imóveis à margem da vida, sem esperança”, uma reflexão que devemos fazer pessoalmente e como Igreja. Isto porque “ao longo do caminho, muitas coisas podem tornar-nos cegos, incapazes de reconhecer a presença do Senhor, incapazes de enfrentar os desafios da realidade e, por vezes, inadequados para saber responder às muitas questões que nos interpelam, como Bartimeu faz com Jesus”. Não nos acomodarmos ao nosso próprio mal-estar O Papa pediu-nos para não ficarmos sentados perante as questões, os desafios e as urgências da evangelização e as muitas feridas que afligem a humanidade, não podemos ficar sentados. “Uma Igreja que, quase sem se dar conta, se afasta da vida e se coloca à margem da realidade, é uma Igreja que corre o risco de permanecer na cegueira e de se acomodar no seu próprio mal-estar”, disse o Papa. E, continuou, “se permanecermos imóveis na nossa cegueira, continuaremos a não ver as nossas urgências pastorais e os muitos problemas do mundo em que vivemos”.  Perante isto, apelou a recordar que “o Senhor passa, o Senhor passa sempre e para, para tomar conta da nossa cegueira”. Referindo-se ao Sínodo, pediu que isso nos impulsione “a ser a Igreja como Bartimeu, isto é, a comunidade dos discípulos que, ouvindo passar o Senhor, se apercebe do choque da salvação, se deixa despertar pela força do Evangelho e começa a gritar-Lhe. E fá-lo acolhendo o grito de todos os homens e mulheres da terra: o grito daqueles que querem descobrir a alegria do Evangelho e daqueles que se afastaram; o grito silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos marginalizados; a voz quebrada daqueles que nem sequer têm força para gritar a Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram”. Por isso, afirmou com veemência que “não precisamos de uma Igreja paralisada e indiferente, mas de uma Igreja que acolhe o grito do mundo e suja as mãos para o servir”. Ser capaz de seguir Jesús Num segundo elemento, Bartimeu acaba por seguir Jesus no caminho, ou seja, torna-se seu discípulo. Agora, Bartimeu “pode ver o Senhor, pode reconhecer a ação de Deus na sua vida e, finalmente, pode segui-lo”. Algo que aplica às nossas vidas: “quando nos sentamos e nos acomodamos, quando, como Igreja, não encontramos a força, a coragem e a audácia para nos levantarmos e voltarmos a pôr-nos a caminho, lembremo-nos de regressar sempre ao Senhor e ao seu Evangelho”. Para Francisco, “sempre e de novo, quando ele passa, devemos escutar o seu chamamento, que nos põe de pé e nos faz sair da nossa cegueira. E depois segui-lo de novo, caminhar com ele ao longo do caminho”. Em “segui-lo ao longo do caminho”, reconhece uma imagem da Igreja sinodal: “o Senhor chama-nos, levanta-nos quando estamos abatidos ou caídos, dá-nos uma nova visão, para que, à luz do Evangelho, possamos ver as preocupações e os sofrimentos do mundo; e assim, postos de pé pelo Senhor, experimentamos a alegria de o seguir ao longo do caminho”. Não caminhar por conta própria Por isso, apelou a que nos lembremos sempre: “não caminhar sozinhos ou segundo os critérios do mundo, mas caminhar juntos atrás d’Ele e com Ele”. Refletindo sobre o restauro da relíquia da antiga Cátedra de São Pedro, apelou a que se recordasse que “esta é a cátedra do amor, da unidade e da misericórdia, segundo o mandato que Jesus deu ao Apóstolo Pedro, de não dominar os outros, mas de os servir na caridade. E, olhando para o majestoso baldaquino de Bernini, mais resplandecente do que nunca, redescobrimos que ele enquadra o verdadeiro ponto focal de toda a Basílica, ou seja, a glória do Espírito Santo”. Concluiu dizendo que “esta é a Igreja sinodal: uma comunidade cujo primado está no dom do Espírito, que nos torna todos irmãos em Cristo e nos eleva até Ele”. A partir daí, apelou a prosseguir “com confiança o nosso caminho juntos”, recordando as palavras do Evangelho: “Coragem, levanta-te! Ele chama-te”, e convidou-nos a “pôr de lado o manto da resignação, entregar…
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Francisco: “Testemunhar que é possível caminhar juntos na diversidade, sem condenar uns aos outros”

Após três anos à escuta do Povo de Deus e à escuta do Espírito Santo para compreender melhor como ser uma “Igreja sinodal”, o Papa Francisco se dirigiu aos participantes da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidad e à Igreja toda para reconhecer que “ao convocar a Igreja de Deus em Sínodo, eu estava ciente de que precisava de vocês, Bispos e testemunhas do caminho sinodal”. O bispo de Roma precisa praticar a escuta Ele disse que também o bispo de Roma, “precisa praticar a escuta, na verdade quer praticar a escuta, para poder responder à Palavra que se repete a ele todos os dias: Confirmai vossos irmãos e irmãs… Pastoreie minhas ovelhas”. Francisco afirmou que sua tarefa, “é salvaguardar e promover – como nos ensina São Basílio – a harmonia que o Espírito continua a difundir na Igreja de Deus, nas relações entre as Igrejas, apesar de todas as lutas, tensões e divisões que marcam seu caminho rumo à plena manifestação do Reino de Deus”. “Todos, na esperança de que não falte ninguém. Todos, todos! Ninguém de fora, todos”, sublinhou, colocando como palavra-chave a harmonia, que foi o que o Espírito faz a manhã de Pentecostes, “harmonizar todas essas diferenças, todas essas línguas…”, uma dinâmica que ele vê presente no Concílio Vaticano II. Francisco insistiu em que a graça de Deus, “por meio de seu Espírito, sussurra palavras de amor no coração de cada um. É-nos dado amplificar a voz desse sussurro, sem obstruí-la; abrir portas, sem erguer muros”. Nesse ponto, o Papa denunciou ‘como fazem mal as mulheres e os homens da Igreja quando erguem muros, como fazem mal!”. A rigidez é um pecado Insistindo no todos, o Papa disse que “não devemos nos comportar como ‘distribuidores da Graça’ que se apropriam do tesouro amarrando suas mãos ao Deus misericordioso”, lembrando o perdão pedido no início da Assembleia Sinodal “sentindo vergonha, reconhecendo que somos todos misericordiosos”. Ele citou o poema de Madeleine Delbrêl, a mística das periferias, que exortava: “Acima de tudo, não sejam rígidos”, afirmando que “a rigidez é um pecado, é um pecado que às vezes atinge clérigos, homens e mulheres consagrados”. Os versos que ele leu “podem se tornar a música de fundo com a qual daremos as boas-vindas ao Documento Final. E agora, à luz do que emergiu do caminho sinodal, há e haverá decisões a serem tomadas”. Neste tempo de guerras, ele chamou a “ser testemunhas da paz, aprendendo também a dar forma real à convivência das diferenças”. Isso levou o Papa a dizer que não pretende publicar uma “exortação apostólica, o que aprovamos é suficiente. No Documento já há indicações muito concretas que podem ser um guia para a missão das Igrejas, nos diferentes continentes, nos diferentes contextos: por isso estou colocando-o à disposição de todos agora, por isso disse que deveria ser publicado. Quero, dessa forma, reconhecer o valor do caminho sinodal concluído, que, por meio deste Documento, entrego ao santo povo fiel de Deus”. Ouvir, reunir, discernir, decidir e avaliar Ele chamou os aos dez “Grupos de Estudo”, a trabalhar com liberdade, “para me oferecer propostas, há necessidade de tempo, a fim de chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja”, mostrando seu desejo de “ouvir os Bispos e as Igrejas a eles confiadas”. Algo que segundo ele, “não é a maneira clássica de adiar infinitamente as decisões. É o que corresponde ao estilo sinodal com o qual o ministério petrino também deve ser exercido: ouvir, reunir, discernir, decidir e avaliar. E, nessas etapas, são necessárias pausas, silêncios e orações. É um estilo que estamos aprendendo juntos, um pouco de cada vez. O Espírito Santo nos chama e nos apoia nesse aprendizado, que devemos entender como um processo de conversão”, confiando na ajuda da Secretaria Geral do Sínodo e todos os Dicastérios da Cúria. “O Documento é um presente para todo o povo fiel de Deus, na variedade de suas expressões. É óbvio que nem todos o lerão: serão sobretudo os senhores, juntamente com muitos outros, que tornarão acessível o que ele contém nas Igrejas locais. O texto, sem o testemunho da experiência, perderia muito de seu valor”, disse Francisco.  Escuta, diálogo e reconciliação para alcançar a paz Ele chamou a “testemunhar que é possível caminhar juntos na diversidade, sem condenar uns aos outros”. Junto com isso, o Papa, lembrando que “viemos de todas as partes do mundo, marcadas pela violência, pobreza e indiferença”, ele fez ver que “juntos, com a esperança que não decepciona, unidos no amor de Deus espalhado em nossos corações, podemos não apenas sonhar com a paz, mas nos comprometer com todas as nossas forças para que, talvez sem falar tanto em sinodalidade, a paz seja alcançada por meio de processos de escuta, diálogo e reconciliação. A igreja sinodal para a missão agora precisa que as palavras compartilhadas sejam acompanhadas de ações. E este é o caminho”. “Tudo isso é um dom do Espírito Santo: é Ele quem cria a harmonia, é Ele quem é a harmonia”, ressaltou, fazendo um convite a ler o tratado de São Basílio sobre o Espírito Santo, onde aparece como harmonia. Daí, o Papa pediu “que a harmonia continue mesmo quando sairmos desta sala, e que o Sopro do Ressuscitado nos ajude a compartilhar os dons que recebemos”. Antes de agradecer, o Papa lembrou as palavras de Madeleine Delbrêl: “há lugares onde o Espírito sopra, mas há um Espírito que sopra em todos os lugares”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo: “Caminhamos juntos e sabemos que continuaremos a caminhar juntos”

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade terminou, só falta a missa de encerramento neste domingo na Basílica de São Pedro. Uma vez concluídos os trabalhos, alguns dos que podem ser considerados os principais atores do atual processo sinodal se fizeram presentes em coletiva de imprensa: o Secretário Geral da Secretaria do Sínodo, Cardeal Mario Grech, o Relator Geral, Cardeal Jean-Claude Hollerich, S.I., uma das presidentas delegadas, Ir. María de los Dolores Palencia, e os secretários especiais, Padre Giacomo Costa e Mons. Riccardo Battocchio. Início da fase de implementação Um encontro com os jornalistas que começou com o agradecimento do prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, por tantos dias de trabalho, insistindo que o Sínodo continua, que já está na fase de implementação, como o Papa havia indicado alguns minutos antes, momento em que também disse que não publicaria uma exortação pós-sinodal, mas que seguiria um documento que, nas palavras de Rufffini, é fruto de um imenso trabalho. Em resposta às perguntas dos jornalistas, o Cardeal Grech afirmou que o papel de guiar a Igreja é do pastor, algo compartilhado com os padres e os leigos. O secretário do Sínodo lembrou a existência de comunidades na Europa onde a presença do sacerdote é muito limitada, de modo que já é uma experiência que as comunidades sejam lideradas por leigos, enfatizando que não é uma resolução da assembleia sinodal, que aprecia esses ministérios e espera continuar a reconhecer esses dons. Com relação à não publicação de uma exortação, ele disse que isso não significa que não haverá momentos em que o Papa falará diretamente sobre questões discutidas e propostas na assembleia. Isso se junta ao fato de que a sinodalidade é algo que toca a todos. É algo previsto na Episcopalis Communio, lembrou Battochio, que falou que o texto dá orientações em algumas situações. Sobre a questão da ordenação de diaconisas, que foi muito discutida na imprensa, o Cardeal Hollerich, considerando o assunto muito delicado, insistiu que o Papa aceitou todo o documento, que diz que essa questão continuará a ser estudada, enfatizando o papel das mulheres ao longo da história e que a comissão para o diaconato feminino continuará a estudar uma questão que ainda está em aberto. Os 10 grupos de estudo não significa adiar decisões Com relação aos 10 grupos de estudo que foram criados, Battochio falou sobre a participação de não clérigos na formação nos seminários. Giacomo Costa destacou as fortes conexões entre os grupos de estudo, enfatizando que, em alguns tópicos, o Papa quer ouvir o maior número possível de bispos. Continuar o trabalho desses grupos não significa deixar as coisas de lado ou adiar decisões, enfatizou o jesuíta. Há muitas questões a serem tratadas nesses grupos, disse Hollerich, grupos chamados pelo Papa para trabalhar sinodalmente, de acordo com Grech, que insistiu que não há bispos sem pessoas, um bispo tem que ouvir e levar a voz de seu povo à conferência episcopal. Esses são grupos para os quais os membros do Sínodo puderam fazer contribuições, disse Maria Dolores Palencia, por meio de um diálogo sinodal com possíveis contribuições que permitirão ao Papa ter uma visão mais ampla e completa. O documento é importante, mas muito mais importante é assumir esse estilo sinodal nas igrejas locais, como uma chave para orientar outras questões, segundo Grech. Não se pode esquecer a diversidade de contextos e culturas e que esta não é uma reunião política para alcançar a maioria, mas um discernimento em conjunto, movido por um clima de alegria, o que o levou a dizer que “caminhamos juntos e sabemos que continuaremos caminhando juntos”, sendo o desafio agora compartilhar essa experiência para ser uma verdadeira igreja sinodal em missão. Foi uma experiência que nos permitiu ampliar o nosso olhar, disse Battochio, que enfatizou o fato de devolver às igrejas, por meio do documento, as experiências vividas e os pontos que podem ser fermento, que podem parecer menores, mas que podem fazer crescer essa dimensão missionária, por meio do testemunho de uma nova realidade de encontro. Abrir-se para o outro A assembleia nos ajudou a perceber que não podemos nos fechar em nossas próprias realidades, que não podemos construir muros, disse Giacomo Costa. Algo que se concretiza, por exemplo, no caso dos migrantes, uma realidade que aparece no Documento Final. Sobre esse ponto, Dolores Palencia lembrou que a assembleia refletiu sobre a importância das redes que estão sendo tecidas entre as igrejas e entre as conferências episcopais, nesse campo, porque a migração está transcendendo todas as fronteiras, é algo que exige profundo respeito, diálogo inter-religioso, abertura para uma nova visão. A estrutura do Sínodo dos Bispos é algo que transcende a Assembleia Sinodal, disse Grech, lembrando que este Sínodo envolveu todos os batizados desde 2021, um aspecto abordado pelo Papa em seu discurso de abertura, onde ele pediu para superar o agora é a nossa vez e desafiou a fazer uma sinfonia a serviço da misericórdia de Deus de acordo com os diferentes ministérios e carismas. Ministerialidade para reconhecer os carismas Com relação à ministerialidade, Batocchio disse que não se trata de substituir a falta de ministros ordenados, mas de reconhecer os carismas de cada um e torná-los disponíveis a todos, partindo de contextos concretos que levam a novas figuras ministeriais. Para Hollerich, trata-se de analisar como a comunidade pode viver a fé em conjunto, sabendo que há coisas que podem ser feitas pelos leigos, ser mais criativos. “Não podemos esperar que tudo tenha sido definido de forma clara e definitiva, há questões que precisam ser mais aprofundadas“, disse Grech. O secretário do Sínodo agradeceu aos jornalistas, “porque vocês também nos ajudam a proclamar o Evangelho”, ajudando a traduzir a linguagem para que as pessoas possam entendê-la, reconhecendo que “chegamos até aqui também com a ajuda de todos vocês”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Documento final: Na Igreja Sinodal, “a missão envolve todos os batizados”

Depois de quase um mês de intenso trabalho, além de um longo processo de três anos, em que se avançou, às vezes com dificuldade e risco, o documento reconhece a resistência, foi publicado o Documento Final da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, “um tempo para contemplar o Ressuscitado e ver as feridas do mundo”. Um texto fundamental, dado que o Papa anunciou que não terá exortação pós-sinodal. Todo o povo de Deus é sujeito do anúncio do Evangelho. Um documento que dá um novo passo na vida da Igreja, a partir de “um retorno à fonte”, como diz o texto em suas primeiras palavras, depois de muitos passos dados por muitas pessoas, porque “todo o povo de Deus é sujeito do anúncio do Evangelho“. Em um processo sinodal que vai além da Assembleia Sinodal, um exemplo disso são os 10 grupos de estudo que foram criados e a insistência em que a fase de implementação está começando agora, chamando os participantes a “serem missionários da sinodalidade”. Para isso, “o Espírito Santo nos impulsiona a avançar juntos no caminho da conversão pastoral e missionária, que implica uma profunda transformação das mentalidades, das atitudes e das estruturas eclesiais”. O povo de Deus no coração da sinodalidade O texto tem como ponto de partida o coração da sinodalidade, o Povo de Deus, que caminha em comunhão dos fiéis, das Igrejas, dos bispos, no fundamento do ministério petrino e nos pobres. É a partir desse coração da sinodalidade que o Espírito Santo nos chama à conversão, atitude decisiva para sermos cristãos, para sermos discípulos. Todo o caminho sinodal “se desenvolveu à luz do magistério do Concílio” e “está colocando em prática o que o Concílio ensinou sobre a Igreja como Mistério e Povo de Deus”. A sinodalidade está enraizada nos sacramentos da Iniciação Cristã, não é um fim em si mesma, ela aponta para a missão e a impulsiona, o que tem a ver com o estilo, as estruturas, os processos e os eventos sinodais, o que leva à reflexão sobre a autoridade dos pastores. Na sinodalidade, a unidade leva à harmonia, sabendo que os processos nem sempre são respeitados, à unidade dos carismas e ministérios, das Igrejas locais e seu patrimônio, dos povos, línguas, ritos, disciplinas, heranças teológicas e espirituais, vocações, carismas e ministérios a serviço do bem comum. Todos os contextos, culturas, diversidades e relacionamentos são valorizados como “a chave para crescer como uma Igreja sinodal missionária e caminhar sob o impulso do Espírito Santo em direção à unidade visível dos cristãos”, para se abrir a novas perspectivas. Pois “a sinodalidade é, acima de tudo, uma disposição espiritual que permeia a vida cotidiana dos batizados e todos os aspectos da missão da Igreja”. Isso significa fazer da sinodalidade uma profecia social na prática dos relacionamentos. A conversão de relacionamentos A conversão é abordada em três dimensões, seguindo o esboço do Instrumentum Laboris: conversão de relacionamentos, de processos e de vínculos. Novas relações, evitando exclusões, assumindo as atitudes de Jesus, em um bom entendimento entre homens e mulheres, reconhecendo as riquezas de cada contexto, buscando a paz e a superação de todo tipo de mal por meio da prática do perdão e da escuta e do acolhimento dos marginalizados e excluídos. As relações entre carismas, vocações e ministérios em vista da missão e da unidade, dada a participação comum no mesmo Batismo, que confere a todos “igual dignidade no Povo de Deus”, recordando os obstáculos encontrados pelas mulheres “para obter um reconhecimento mais pleno de seus carismas, de sua vocação e de seu lugar nos diversos âmbitos da vida da Igreja”. Isso também se aplica às crianças e aos jovens, que têm uma contribuição a dar para a renovação sinodal da Igreja. Para esse fim, deve-se promover a corresponsabilidade na missão de todos os batizados. O papel dos esposos, da vida consagrada e da teologia é mencionado, sublinhando que “a missão envolve todos os batizados“. O texto faz referência ao ministério ordenado, “a serviço do anúncio do Evangelho e da edificação da comunidade eclesial”, aos bispos, princípio visível de unidade e vínculo de comunhão com todas as Igrejas, em um serviço na, com e para a comunidade. Junto com eles, os sacerdotes e os diáconos, chamados a colaborar e a estar juntos em resposta às necessidades da comunidade e da missão, favorecendo a escuta e a participação dos leigos. A conversão de processos A conversão dos processos baseia-se no discernimento, na prestação de contas e na avaliação do resultado das decisões. Tudo isso em vista de sustentar e orientar a missão da Igreja, sabendo que “o discernimento eclesial não é uma técnica organizacional, mas uma prática espiritual a ser vivida na fé”, que parte da escuta da Palavra de Deus e se desenvolve por etapas, em um contexto concreto, e a partir de vários enfoques e metodologias, sendo necessária uma articulação desses processos decisórios, em uma corresponsabilidade diferenciada, que os leve a ser frutíferos e a contribuir “para o progresso do Povo de Deus em uma perspectiva participativa”. A partir daí, fala-se em transparência, a fim de gerar confiança e credibilidade; responsabilidade, nas ações e decisões; e avaliação dos resultados da missão. Para isso, são criados vários instrumentos e mecanismos, diferentes órgãos participativos, que garantem a adoção de uma metodologia de trabalho sinodal, favorecendo “um maior envolvimento de mulheres, jovens e pessoas que vivem em condições de pobreza ou marginalização“. A conversão de vínculos Sobre a conversão dos vínculos, o ponto de partida é que “a Igreja não pode ser entendida sem estar enraizada em um território, espaço e tempo específicos”, sem ignorar a nova realidade social marcada pelo contexto urbano, pela mobilidade humana, pela cultura digital, alertando que “as redes sociais podem ser usadas para interesses econômicos e políticos que, manipulando as pessoas, difundem ideologias e geram polarizações agressivas“, o que “exige que dediquemos recursos aos encontros digitais”. Também reflete sobre o significado e a dimensão da Igreja local, vista como uma casa, acolhedora e inclusiva, e as articulações…
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