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Alea jacta est, agora é hora de votar o texto e torná-lo carne

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que iniciou sua Segunda Sessão em 2 de outubro, entra em seu momento final neste sábado, com a leitura e aprovação do Documento Final e a Missa de encerramento, que será celebrada no domingo, 27 de outubro, na Basílica de São Pedro, onde será inaugurada a restauração do Baldaquino de Bernini. O que está escrito está escrito Um documento diante do qual, neste momento, só se pode dizer: “alea jacta est” (a sorte está lançada), ou também “o que está escrito está escrito”, já que não há espaço para correções, apenas leitura no sábado de manhã e votação parágrafo por parágrafo no sábado à tarde. Um texto que é fruto de um trabalho coletivo, do “mês sinodal de caminhar juntos ouvindo o seu Espírito”, como rezaram na oração com que iniciaram o dia. Um momento em que sentiram a presença de Deus no meio da Assembleia e foram “transformados por esse processo”, sendo uma profunda “experiência espiritual e eclesial de escuta, diálogo e discernimento em comum”, onde experimentaram a fraternidade do encontro além das diferenças. Uma assembleia na qual foram chamados “a tecer a comunhão a serviço da missão, fortalecendo a participação de todos”. Missionários da sinodalidade Seguindo o pedido de “ser missionários da sinodalidade, levando ao mundo uma mensagem de paz, reconciliação e esperança”, a partir do momento em que o Documento Final é aprovado, independentemente das palavras concretas nele contidas, é hora de tomar medidas para ajudar em sua recepção, disseminação, interpretação, formação, reflexão, implementação e vinculação. Encontrar mecanismos para que todos os batizados possam aceitar o documento como seu, como um instrumento para ajudar no trabalho de evangelização, com uma linguagem que possa ser compreendida, destacando os bons elementos que ele contém, que ajudarão a aprofundar a mensagem do Concílio Vaticano II e o significado de uma Igreja sinodal. Implementar em todos os níveis da Igreja Um Documento que deve ser um veículo de formação para todo o Povo de Deus, desde os bispos até os leigos, com cursos, conferências, vídeos, postagens nas redes sociais, por todos os meios possíveis. Um texto que leve à reflexão teológica, expressa em artigos científicos, congressos, livros coletivos… Mas, sobretudo, um texto que seja implementado em todos os níveis da Igreja, nas comunidades, paróquias, dioceses, pastorais, organismos, seminários, visando a uma mudança de estruturas eclesiais, de novos planos pastorais, de métodos sinodais de discernimento, de uma ministerialidade mais explícita para todos, de uma Igreja ad extra. E todos nós juntos, ou pelo menos ligados àqueles que querem continuar remando, com mais ou menos força, com mais ou menos vontade, mas sempre em frente. Não nos esqueçamos de que o Sínodo é um ponto de partida e não um ponto de chegada, que mais do que o evento sinodal, temos que considerar o processo sinodal. Há muitas portas abertas pelas quais não podemos deixar de passar, seguindo o exemplo de um Papa a quem não falta coragem para continuar caminhando, mesmo que às vezes tenha de usar uma bengala e outras vezes seja empurrado em uma cadeira de rodas. Nada nos impede de continuar, e continuaremos a nos esforçar, cada um a seu modo, para tornar a Igreja mais sinodal, independentemente do que esteja escrito em um texto que devemos transformar em um texto vivo que encha todos de Vida. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo do Esporte: uma oportunidade para compartilhar valores de vida e superação

Na tarde de 25 de outubro, foi realizada a primeira edição do “Sínodo do Esporte, um diálogo com atletas refugiados, paraolímpicos e olímpicos”. Um momento de intercâmbio e diálogo com o apoio do Dicastério para a Cultura e a Educação e do Dicastério para a Comunicação do Vaticano. Educar no sacrifício Não podemos esquecer que falar de esporte é falar de valores e de vida, como foi dito durante o encontro sinodal. Um dos participantes do Sínodo sobre o Esporte foi o atleta olímpico italiano de origem cubana, Andy Díaz Hernández, que ganhou a medalha de bronze no salto triplo nos últimos Jogos Olímpicos de Paris. O atleta, acompanhado de seu técnico Fabrizio Donato, que também ganhou a medalha de bronze em Londres 2012, compartilhou as dificuldades que enfrentou ao chegar à Itália devido à falta de documentos que lhe permitissem competir. Campeã olímpica na marcha atlética de 20 km nos Jogos Olímpicos de Tóquio e no Campeonato Europeu de 2024 em Roma, a italiana Antonella Palmisano, que é voluntária e realiza trabalhos sociais com pessoas carentes, refletiu sobre a predisposição como forma de educar para o sacrifício envolvido no esporte, especialmente com os jovens. Um testemunho que também foi compartilhado pela velocista italiana, especialista em 400 metros, Alice Mangione. Deus me permite sorrir e seguir em frente Um dos testemunhos mais impactantes foi o de Amelio Castro Grueso, atleta paraolímpico em Paris 2024 na esgrima com a Equipe de Refugiados. Há dois anos, ele foi forçado a fugir da Colômbia, seu país natal, onde, aos 16 anos, perdeu a mãe e, pouco depois, sofreu um acidente de carro que o deixou paraplégico. Um período difícil que ele conseguiu deixar para trás com a prática do esporte, depois de quatro anos no hospital. Em seu testemunho, ele falou sobre estratégia e superação, mas também sobre a importância de Deus em sua vida, em cuja graça ele encontra forças para manter um sorriso no rosto e seguir em frente, para dizer abertamente que é um privilegiado. O refugiado colombiano agradeceu o apoio da Caritas e falou sobre os valores que transmite a seu filho, a quem ensina a importância do sacrifício, de seguir em frente e sempre fazer as coisas direito. As coisas sempre podem mudar Não menos impressionante foi o testemunho da refugiada afegã Mahdia Sharifi, que hoje vive na Itália, onde os primeiros dias não foram fáceis, dada a rejeição dos migrantes por parte da sociedade, embora ela reconheça que com o passar do tempo as coisas melhoraram. Em 2021, ele deixou seu país quando tinha apenas 17 anos de idade em busca de segurança. Desde os 11 anos de idade, começou a praticar taekwondo, tornando-se uma das grandes promessas do esporte no país, entrando para a equipe nacional aos 15 anos. Mahdia, que treina com a equipe nacional italiana e é voluntária em fundações humanitárias, disse que as coisas sempre podem mudar. A refugiada afirmou que o esporte é um milagre que me permitiu salvar minha alma. Com relação ao seu país, ela enfatizou a importância de educar as mulheres para mudar a mentalidade, algo que pode ser alcançado por meio da educação. Alguém que, desde criança, sonhava em se tornar uma atleta olímpica, finalmente conseguiu isso em Paris 2024. O esporte é de todos e para todos O encontro foi concluído com a lembrança das palavras do Papa Francisco que, antes das Olimpíadas, viu o momento como “uma oportunidade para a paz”. O Papa disse na época que “minha esperança é que o esporte possa concretamente construir pontes, derrubar barreiras, promover relações pacíficas… Minha esperança é que o esporte olímpico e paralímpico – com suas histórias humanas emocionantes de redenção e fraternidade, sacrifício e lealdade, espírito de equipe e inclusão – possa ser um canal diplomático original para superar obstáculos aparentemente intransponíveis”. Para o Papa, “o esporte pertence a todos e é para todos: é um direito… O verdadeiro esporte – tecido de gratuidade, de amadorismo – é uma grande ‘corrida de revezamento’ na ‘maratona da vida’, com o bastão passando de mão em mão, cuidando para que ninguém fique sozinho. Ajustar o próprio ritmo ao ritmo do último”. Segundo ele, “quando praticamos esportes juntos, não importa de onde a pessoa vem, seu idioma, sua cultura ou religião. Isso também é uma lição para nossas vidas e nos lembra da fraternidade entre as pessoas, independentemente de suas habilidades físicas, econômicas ou sociais”. Palavras que iluminam as experiências daqueles que hoje foram os protagonistas do Sínodo. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Resetar para retornar à sinodalidade e à missionariedade originais

Quando o computador trava e não responde mais ao que o usuário deseja, a gente faz um reset. O objetivo é voltar às condições originais. Em uma das coletivas de imprensa durante a última semana da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre Sinodalidade, que será encerrada no domingo, 27 de outubro, a canonista holandesa Myriam Wijlens comparou o atual processo sinodal a um reset. A sinodalidade e a missionariedade são a base da Igreja. O sistema operacional da Igreja, aquilo que constitui sua essência, baseia-se na sinodalidade e na atividade missionária. O livro dos Atos dos Apóstolos, quando relata o modo de vida da primeira comunidade, é claro a esse respeito: “A multidão dos fiéis tinha um só coração e uma só alma”. Um modo sinodal, que tem a ver com o modo de vida, “um só coração e uma só alma”, mas também com a prática, “tinham todas as coisas em comum”. O ‘juntos’, um elemento fundamental da sinodalidade, presente no ser e no ter. Por outro lado, a ordem de Jesus aos seus discípulos para irem por todo o mundo e pregarem o Evangelho mostra que a missão é um imperativo na Igreja, não é algo negociável. Sem a missão, a Igreja vai morrendo lentamente, está se fechando em templos, em sacristias, o ambiente está ficando sobrecarregado e o mofo está sujando tudo e destruindo a obra original. O tema da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade colocou o foco na missão, em como ser uma Igreja sinodal em missão. É um retorno ao sistema operacional, para recuperar o que sabemos que fez e fará a Igreja funcionar, porque a história nos mostra que quando a missão e a comunhão são fortalecidas, a Igreja se torna uma verdadeira testemunha da presença de Deus no meio de seu povo, no meio da humanidade. Não tenha medo de reiniciar O problema quando fazemos um reset é que muitas vezes temos medo de apertar o botão, queremos nos segurar, pensando que é possível que as coisas se resolvam, quando na realidade sabemos que isso já se tornou quase impossível. Portanto, temos de nos perguntar se estamos cientes de que a Igreja precisa reiniciar o sistema operacional. Não somos capazes de correr riscos por medo de perder o pouco que temos, que na verdade nunca perderíamos. Pelo contrário, reavivaremos o ardor missionário, a comunhão levará em conta nossos relacionamentos, nossos percursos e criará raízes nos lugares, nos espaços intra e extra eclesiais. O Espírito está nos dizendo: confiemos em sua luz, sigamos seu impulso. Neste momento da história, sigamos o caminho que o Papa Francisco está nos mostrando. Entremos na dinâmica que nos leva a ter um só coração e uma só alma, que nos impele a ser missionários e missionárias até os confins da terra. Nunca nos esqueçamos das palavras de Casaldáliga: o medo é o contrário da fé. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Reunião do Grupo 5 do Sínodo com cardeal Fernández visa a impulsionar a ministerialidade das mulheres

  Os 10 grupos de estudo criados pelo Papa Francisco para tratar de questões relacionadas à sinodalidade são uma ferramenta importante para fazer o processo avançar, como já ficou claro várias vezes. A questão não é se as questões de maior ou menor preocupação na Igreja serão abordadas, mas como e onde elas serão abordadas. Debate sobre os ministérios femininos Um dos grupos mais controversos foi o chamado grupo 5, que estuda “Algumas questões teológicas e canônicas em torno de formas específicas de ministério”, onde foram incluídas questões relacionadas à ministerialidade, especialmente entre as mulheres e em torno do diaconato feminino, que para alguns é uma questão decisiva, mas que podemos dizer que é mais uma realidade entre outras de igual ou maior importância para avançar no caminho da sinodalidade. Na sexta-feira, 18 de outubro, os participantes do Sínodo foram convocados pelos grupos de estudo para uma reunião de escuta e discussão. A convocação do Grupo 5 contou com a participação de mais de 100 pessoas. A ausência do Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, Cardeal Víctor Manuel Fernández, causou mal-estar entre muitos dos participantes da reunião, o que o levou a pedir desculpas, que foram aceitas, e a convocar uma nova reunião para a tarde de quinta-feira, 24 de outubro.   Mais de 100 pessoas em uma boa reunião  A reunião contou novamente com a participação de mais de 100 pessoas e foi descrita como uma boa reunião. O Grupo 5 é composto por cerca de 30 pessoas, homens e mulheres, que assumem vários ministérios e serviços na Igreja, com opiniões diversas, o que enriquece a discussão. O trabalho está sendo realizado em conjunto com os membros e consultores do Dicastério para a Doutrina da Fé, que foram consultados e cujas respostas levarão a uma nova etapa de discussão e votação. Junto com isso, deseja-se uma consulta mais aberta, com a participação de pessoas que trabalham nas comunidades, nas bases, buscando conhecer como o ministério é vivido em diferentes regiões do planeta e realidades eclesiais, que são obviamente muito diversas, e que poderão abrir caminhos para a Igreja universal a partir da realidade concreta, muitas vezes realidades que tradicionalmente não foram levadas em conta, mas que ajudam o Evangelho a continuar se encarnando nas diferentes culturas, na vida das pessoas. Nesse sentido, foi enfatizado que o objetivo é aprender com as experiências das mulheres em comunidades na Amazônia e em outros contextos, onde tanto o ministério masculino quanto o feminino têm sido uma prática comum em muitos lugares por anos, até mesmo décadas.   O diaconato feminino não está maduro, ainda está em debate O tema central dos debates nesse grupo é a participação das mulheres na Igreja, deixando claro que a questão do diaconato feminino não está entre os pontos a serem discutidos, algo que Tucho Fernández expressou em várias ocasiões, sob o argumento de que o Papa Francisco não considera essa questão madura. Ele quer se aprofundar no que apareceu no processo de escuta sinodal e ressalta que muitas mulheres não buscam o diaconato, mas sim uma maior participação em posições de autoridade e liderança dentro da Igreja. O diaconato feminino, embora o Papa o considere não maduro, não é um assunto encerrado, ainda está sendo debatido em comissões nomeadas pelo Papa e que realizam trabalhos que não dependem do Dicastério para a Doutrina da Fé. As posições estão em desacordo, com um grupo apoiando-a abertamente e o outro também rejeitando-a fortemente. Isso não impede o diálogo aberto e respeitoso, que evita divisões e condenações. Tampouco devemos ignorar a diversidade cultural presente na Assembleia Sinodal e na própria Igreja, o que enriquece o diálogo e permite que diferentes realidades pastorais sejam levadas em consideração. Nesse sentido, a distinção entre ministério ordenado e autoridade foi colocada como uma questão relevante, afirmando que eles não estão necessariamente conectados. Nesse debate, o objetivo é esclarecer qual autoridade pertence somente ao ministério ordenado e qual autoridade pertence a todos os batizados. De fato, enfatiza-se que os leigos, inclusive as mulheres, podem ter papéis de liderança e autoridade sem precisar ser ordenados.   Mudança dos estereótipos femininos e masculinos Na reunião, foi destacada a necessidade de mudar os estereótipos sobre mulheres e homens dentro da Igreja, que levam a ver as mulheres com atitudes de gentileza e proximidade, e os homens como fortes e tomadores de decisão. Isso precisa ser desmontado. Por outro lado, não há consenso teológico ou histórico. Entre as propostas, que sem dúvida ajudarão o Grupo de Estudos 5 a avançar, há um apelo para receber propostas concretas e realistas sobre como capacitar as mulheres na Igreja e promover sua participação em funções de liderança, além do diaconato. Eles querem encontrar maneiras de promover a ministerialidade com ministérios que não exijam as Ordens Sagradas, dando como exemplo o Ministério de Catequistas, que, em algumas regiões, como na Amazônia, tornaram as mulheres uma verdadeira presença eclesial na maioria das comunidades. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Apresentada Dilexit nos: “A chave para interpretar todo o Magistério deste Papa”

A quarta encíclica do Papa Francisco foi publicada e apresentada em 24 de outubro na Sala Stampa do Vaticano pelo Arcebispo Bruno Forte e pela Irmã Antonella Fraccaro. De acordo com o arcebispo italiano, a encíclica “nasce da experiência espiritual do Papa Francisco, que sente o drama do enorme sofrimento causado pelas guerras e pelos muitos atos de violência em curso, e quer estar perto daqueles que sofrem, propondo a mensagem do amor divino que vem para nos salvar”. Um resumo dos pensamentos de Francisco Nas palavras de Forte, a encíclica “oferece a chave para interpretar todo o Magistério deste Papa” e, junto com isso, “uma espécie de compêndio do que o Papa Francisco quis e quer dizer a cada irmão ou irmã na humanidade: Deus o ama e lhe mostrou isso da maneira mais luminosa na história de Jesus de Nazaré; olhando para Ele, você saberá que é amado desde sempre e para sempre e poderá reconhecer os dons com os quais o Pai quis enriquecê-lo; seguindo-O, você poderá discernir a maneira de gastá-los com amor onde quer que, em Seu Espírito, Ele queira conduzi-lo”. O milagre social da construção em nós e conosco A religiosa prosseguiu detalhando alguns dos elementos presentes no documento pontifício, mostrando que nosso coração “unido ao de Cristo é capaz desse milagre social” de construir conosco e entre nós, “neste mundo, o Reino do amor e da justiça”. A partir daí, ela pediu que “caminhemos juntos com a força da esperança, que o Coração de Jesus nos dá todos os dias em nossa vida fraterna cotidiana”. Uma devoção que se torna carne A devoção ao Sagrado Coração tem sido criticada ao longo da história como “uma devoção intimista, que quase nos abstrai do compromisso histórico”, reconheceu Bruno Forte. Em contrapartida, ele destacou que “um dos aspectos mais importantes dessa encíclica é que o Papa Francisco mostra justamente o contrário, longe de ser intimista, a devoção ao Sagrado Coração nos leva a experimentar o amor revelado de Cristo, que se torna história, carne ao lado dos pobres, dos últimos, dos esquecidos”. Nesse sentido, ele ressaltou que a encíclica “vai além do intimismo, e isso me parece ser muito forte na mensagem do Papa Francisco. É um manancial, uma fonte viva da qual brota esse serviço”. A proposta do Papa Francisco nesse texto “nos revela a fonte profunda de todo o seu Magistério, de toda a sua vida”. Nessa perspectiva, falar de uma mudança de paradigma em relação à devoção ao Sagrado Coração, “tem a ver com a mudança daqueles que haviam interpretado a devoção ao Sagrado Coração antes do Magistério do Papa Francisco, que está presente em todos os seus textos”, sendo o amor a Cristo o que o motiva. Nas palavras do arcebispo, é isso que a Igreja quer lembrar ao mundo, esse amor que dá sentido, que inspira, que motiva e nos ajuda a compreender e enfrentar os desafios com confiança em Deus e com a capacidade de perdoar, mesmo aqueles que nos ferem”. A experiência do Coração de Jesus nos unifica “Essa encíclica nos ajuda a recuperar o que está no centro da experiência cristã, porque o coração unifica, eu sou o meu coração”, disse a Irmã Antonella Fraccaro. Diante da fragmentação em que vivemos, diante das relações sociais que nos levam a viver em várias frentes, ela ressaltou “a experiência do Coração de Jesus, que nos unifica, uma experiência de caridade, uma experiência de relações, de culturas diferentes, de condições diferentes, até mesmo de condições sociais”, Fraccaro afirmou que “esta encíclica nos ajuda a recuperar o centro”. Algo que, segundo a religiosa, “é muito bom para nós, cristãos e cristãs, que precisamos recuperar a unidade entre nós, que infelizmente estamos nos fragmentando, desenvolvendo o individualismo, por isso precisamos recuperar o valor dos relacionamentos, de estar juntos, de caminhar juntos”. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

“Dilexit nos”: O Coração de Jesus caminho para ir ao seu “paizinho”, ao seu “Abbá”, aos irmãos e irmãs

Uma reflexão sobre o amor, que flui do coração, dos gestos e das palavras, do coração que tanto amou. Um amor que dá de beber, que é amor por amor. A quarta encíclica do Papa Francisco nos leva à parte mais íntima de Deus, ao coração do Filho Amado, àquilo que articula o Deus Trinitário, o amor divino e humano, pois acreditamos em um Deus cuja atitude fundamental é doar-se. Recuperando a importância do coração Um amor que nos entusiasma a ponto de não querermos nos separar dele, que vem de alguém que toma a iniciativa de nos amar incondicionalmente. A encíclica Dilexit nos (Ele nos amou) (VER AQUI), tem como ponto de partida a dimensão humana, afirmando que “é necessário recuperar a importância do coração”, cujo significado é analisado a partir de diferentes perspectivas: o centro do ser humano, o mais profundo, o lugar da sinceridade, alertando contra a superficialidade que o esconde e as mentiras, porque o coração deve ser o lugar das questões decisivas, ainda mais na sociedade líquida de hoje. Francisco afirma que “em última análise, poder-se-ia dizer que eu sou o meu coração, porque é ele que me distingue, que me molda na minha identidade espiritual e que me põe em comunhão com as outras pessoas”, que me leva a “conhecer melhor e mais plenamente”. Diante da fragmentação do individualismo, o coração une, nos abre aos outros, nos doa, unifica e harmoniza nossas vidas, mantém o que a inteligência artificial não consegue captar. É um lugar de afeto, também espiritual, que nos coloca “numa atitude de reverência e obediência amorosa ao Senhor”. É um espaço a partir do qual o mundo pode mudar, pois “levar o coração a sério tem consequências sociais”, o que fará do coração a coisa mais importante e necessária diante das guerras, dos desequilíbrios socioeconômicos, do consumismo e do uso anti-humano da tecnologia. O núcleo vivo da primeira proclamação O coração é visto pelo Papa como “o núcleo vivo do primeiro anúncio”, a origem da fé e a fonte das convicções cristãs. Ele se expressa em gestos, a exemplo de Jesus, “está sempre à procura, sempre próximo, sempre aberto ao encontro”, quer iluminar a existência, inclusive a tua. Um coração que nos leva a olhar com atenção, a descobrir as preocupações e os sofrimentos dos outros, que nos fala interiormente, expressando sentimentos profundos, além de algo superficial, do puro sentimento ou alienação espiritual, pois é na cruz que ele encontra sua expressão mais plena. Além das imagens, o texto nos chama a adorar o Coração vivo de Cristo. Nessa imagem, que não é mais do que uma figura motivadora, o coração aparece como “um centro íntimo que gera unidade e, ao mesmo tempo, como expressão da totalidade da pessoa”, uma imagem que “nos fala de carne humana”. De fato, o coração, “o centro mais íntimo da nossa pessoa, criado para o amor, só realizará o projeto de Deus enquanto amar”. No caso de Jesus, esse amor é humano, divino e infinito, é um coração que, movido por uma perspectiva trinitária, é o caminho para ir ao Pai, ao seu “paizinho”, ao seu “Abbá”. Não nos esqueçamos de que, “perante o Coração de Cristo, é possível voltar à síntese encarnada do Evangelho” e viver “na infinita misericórdia de um Deus que ama sem limites e que deu tudo na Cruz de Jesus”. Um relacionamento pessoal de amor no qual os mistérios da vida são iluminados Um amor que dá de beber ao seu povo, como aparece repetidamente na Bíblia e se concretiza na história da Igreja por meio da vida dos santos, transformando suas vidas, “numa relação pessoal de amor, na qual se iluminam os mistérios da vida”, como o texto nos conta a partir da experiência de São Francisco de Sales, que “face a uma moral rigorista ou a uma religiosidade de mero cumprimento de obrigações, o Coração de Cristo lhe aparece como um apelo à plena confiança na ação misteriosa da sua graça”. O texto analisa a vida de um bom número de santos, mostrando os vários aspectos que a devoção ao Coração de Cristo produziu em sua jornada espiritual. Uma relação que levou a contemplar o coração como a fonte que levou tantos homens e mulheres a serem testemunhas de consolação. Nesse progressivo crescimento no amor que a encíclica contém, o último capítulo é o ponto alto, pois convida-nos a “procurar aprofundar a dimensão comunitária, social e missionária de toda a autêntica devoção ao Coração de Cristo”, já que “o Coração de Cristo, ao mesmo tempo que nos conduz ao Pai, envia-nos aos irmãos. Nos frutos de serviço, fraternidade e missão que o Coração de Cristo produz através de nós, cumpre-se a vontade do Pai”, a ponto de ver nisso a maneira pela qual se fecha o círculo: “Nisto se manifesta a glória do meu Pai: em que deis muito fruto” (Jo 15,8). “O pedido de Jesus é o amor”, nos diz Francisco, e isso deve levar a “prolongar o seu amor nos irmãos”, da mesma forma que os primeiros cristãos reconheciam os pobres, os estrangeiros e tantos outros descartados pelo Império Romano, os últimos da sociedade. A história da Espiritualidade nos mostra essa dinâmica, esse “ser fonte para os outros”, essa união entre “fraternidade e mística”. Nesse sentido, falando de reparação, uma dinâmica nascida da devoção ao Sagrado Coração, o texto nos convida a construir sobre as ruínas, a reparar os corações feridos, a descobrir a beleza de pedir perdão, porque “não se deve pensar que reconhecer o próprio pecado perante os outros seja algo degradante ou prejudicial para a nossa dignidade humana”. Apaixonar o mundo a partir da proposta cristã Nessa dinâmica de reparação, a encíclica nos adverte que “a nossa cooperação pode permitir que o poder e o amor de Deus se difundam nas nossas vidas e no mundo, e a rejeição ou a indiferença podem impedi-lo”, chamando-nos a descobrir que “as renúncias e os sofrimentos exigidos por estes atos de amor ao próximo unem-nos…
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Assembleia Sinodal elege 12 membros do Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo

Conforme relatado pela Secretaria Geral do Sínodo através da Sala Stampa do Vaticano, na última Congregação Geral antes da leitura e aprovação do Documento Final, que ocorrerá neste sábado, 26 de outubro, foram eleitos os novos membros do Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo. 12 dos 17 membros eleitos A nova composição introduz algumas mudanças por indicação do Papa Francisco, elevando o número para 17, dos quais foram eleitos 12 bispos, distribuídos da seguinte forma: um das Igrejas Católicas Orientais, Sua Beatitude Rev. Youssef Absi, Patriarca de Antioquia dos Greco-Melquitas, Chefe do Sínodo da Igreja Católica Greco-Melquita; um da Oceania, o Arcebispo Timothy John Costeloe, Arcebispo de Perth (Austrália); dois da América do Norte, o Bispo Daniel Ernest Flores, Bispo de Brownsville (Estados Unidos da América), e o Bispo Alain Faubert, Bispo de Valleyfield (Canadá). Dois também estão representados da América Latina, o Arcebispo de Bogotá (Colômbia), Cardeal Luis José Rueda, e o Arcebispo de Maracaibo (Venezuela), Dom José Luis Azuaje; a Europa será representada pelo Arcebispo de Marselha (França), Cardeal Jean-Marc Avelline, e pelo Arcebispo de Vilnius (Lituânia), Dom Gintaras Grusas. A África será representada pelo Cardeal Dieudonné Nzapalainga, Arcebispo de Bangui (República Centro-Africana), e pelo Arcebispo Andrew Fuanya Nkea, Arcebispo de Bamenda (Camarões), os dois únicos que repetem do anterior conselho. A Ásia será representada pelo Cardeal Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão, Arcebispo de Goa e Damão (Índia), e pelo Bispo Pablo Virgilio S. Dadid, Bispo de Kalookan (Filipinas). Responsável pela preparação e realização da Assembleia Sinodal Como o comunicado nos lembra, a eles se juntarão quatro membros nomeados pelo pontífice e, no devido tempo, o chefe do Dicastério da Cúria Romana encarregado do tema do próximo Sínodo. Esse conselho “é responsável pela preparação e implementação da Assembleia Geral Ordinária”, de acordo com a Episcopalis Communio. Eles assumem o cargo no final da Assembleia Geral Ordinária que os elegeu e deixam de exercer o cargo quando ela é dissolvida. O Conselho, presidido pelo Santo Padre, é parte integrante da Secretaria Geral. O texto também afirma que “o novo Conselho Ordinário desempenhará um papel fundamental tanto na implementação deste processo sinodal sobre sinodalidade quanto na preparação do próximo Sínodo”. O Secretário do Sínodo, Cardeal Mario Grech, desejou-lhes sucesso em seu trabalho e agradeceu aos membros que estão deixando o cargo por sua valiosa colaboração na realização do atual processo sinodal. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Sínodo: Reconfigurar a Igreja para otimizar as condições de trabalho

A última coletiva de imprensa em que foram apresentados os trabalhos da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, antes daquela que será usada para apresentar o Documento Final no final do sábado, 26 de outubro, trouxe para a Sala Stampa o que foi vivido nas últimas horas, nas quais, como lembrou a secretária da Comissão para a Comunicação, Sheila Pires, o trabalho continuou em vista das emendas ao rascunho do Documento Final, que será lido e votado no sábado, e que já foram entregues, tanto coletivas quanto individuais, à Secretaria do Sínodo. Papa Francisco pede aos jovens que caminhem O Prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, também apresentou a composição e o papel do Conselho Ordinário do Sínodo. O prefeito se referiu a um comunicado enviado aos jornalistas no qual o padre Timothy Radcliffe se posicionou sobre uma controvérsia que havia surgido durante a coletiva de imprensa do dia anterior, esclarecendo sua posição e agradecendo ao cardeal Ambongo por sua defesa. Os presentes na Sala Stampa assistiram a um vídeo do Papa Francisco dirigindo-se aos jovens, no qual ele lhes disse que “uma das coisas mais importantes é caminhar, quando um jovem caminha tudo vai bem”, o que ele comparou à água, que quando estagna se corrompe, algo que ele aplicou aos jovens. Por isso, ele os convidou a “caminhar sempre, com coragem e alegria”. Também foi informado que o Papa entregou aos participantes da Assembleia Sinodal o livro de Luis Miguel Castillo Gualda sobre Santo Agostinho e sua concepção do bispo no povo de Deus, um tema muito abordado neste processo sinodal. Autoridade e função do bispo A autoridade e o papel do bispo na diocese e a seleção dos bispos foi tema de debate no Sínodo, de acordo com o prefeito do Dicastério dos Bispos, Cardeal Robert Francis Prevost, que falou sobre o papel do núncio na identificação dos candidatos ao episcopado. A Assembleia Sinodal questionou como conduzir um processo de busca de candidatos mais sinodal, aberto e participativo. Essa é uma orientação que os núncios recebem, de acordo com o cardeal, que insistiu que os bispos não são apenas administradores, eles têm que ser pastores que caminham com o povo de Deus, caminhando juntos, com alegria. Mas também, os bispos são chamados a serem juízes em vários assuntos relacionados à disciplina, dando origem a uma tensão entre ser pastor e juiz, o que faz parte do papel dos bispos. “A única autoridade que temos como bispos é a do serviço”, disse o prefeito, lembrando as palavras do Papa Francisco. Um chamado para passar do poder ao serviço, para criar órgãos consultivos, para trabalhar em conjunto para alcançar o maior número de fiéis. É necessário que os bispos conheçam seu rebanho, encontrem tempo para se encontrar com as pessoas e ouvir suas preocupações, formas de ir ao encontro das pessoas que estão à margem, para convidá-las a entrar na Igreja, todos, todos, todos, porque “a Igreja está aberta a todos, temos que ampliar nossa tenda, para que as pessoas saibam que todos são bem-vindos e bem-vindas”, que “todos são convidados a fazer parte da comunidade da Igreja”. Questões canônicas sobre sinodalidade Myriam Wijlens comparou o atual processo sinodal com o fato de reiniciar um computador, o sistema é reconfigurado para otimizar as condições de trabalho. Esse é o convite do Papa Francisco, sob a orientação do Espírito Santo, para otimizar sua tarefa missionária. Inspirada pelo Concílio Vaticano II, a Igreja está refletindo sobre como os vários membros do Povo de Deus, levando em conta diferentes elementos, podem discernir melhor, juntos como a missão confiada à Igreja pode ser mais credível e eficaz, disse a canonista, que destacou como única a participação de todos desde o início. Um processo que precisa de normas canônicas, segundo a professora da Universidade de Erfurt (Alemanha), enfatizando alguns aspectos, como a necessidade de conferências eclesiais que levem a um discernimento de todo o Povo de Deus, a natureza obrigatória dos conselhos, bem como estruturas permanentes em nível de províncias eclesiásticas e em nível continental. Ele também se referiu à responsabilidade e à transparência em relação a abusos de todos os tipos, que levaram a uma falta de confiança, e ao planejamento pastoral e aos métodos de evangelização. Procedimentos apropriados precisam ser implementados para isso. Autoridade doutrinária das conferências episcopais Sobre a autoridade doutrinária das conferências episcopais, Gilles Routhier fez uma revisão histórica, falando da necessidade de um debate em todas as direções. A esse respeito, o teólogo canadense esclareceu que isso não significa que cada conferência episcopal tenha autoridade absoluta, mas apenas com limitações, em comunhão com a Igreja, enfatizando que “a conferência episcopal não é autônoma, ela tem que estar em coerência com as outras conferências e com a Sé de Pedro”. Isso porque não se trata de uma fragmentação da Igreja, mas de ensinar a fé comum de uma forma autêntica, que não permanece em um nível abstrato, mas que responde às necessidades de um povo em particular e ajuda a oferecer uma posição adequada. A riqueza da diversidade da Igreja universal Por fim, Khalil Alwan destacou que, pela primeira vez, uma Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos convida participantes não-bispos como membros plenos, uma novidade muito apreciada pelos leigos, o que permitiu que ela fosse a melhor expressão do sensus fidei da Igreja universal. O sacerdote maronita contou sobre a especificidade das Igrejas Católicas Orientais e que elas estão em plena comunhão com o Bispo de Roma. Ele especificou os países de onde eles vêm, “para trazer as preocupações de nossas igrejas que estão sofrendo por causa da tragédia das guerras e da hemorragia dos migrantes”. Ele também enfatizou na Assembleia a riqueza da diversidade da Igreja universal, que leva a tecer relacionamentos e construir pontes de diálogo para promover a compreensão mútua e buscar o bem comum, destacando os gestos do Papa Francisco neste momento, que gerou esperança. Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB 

Encontro no Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral leva a Roma a voz dos Yanomami, das periferias

A canonização de São José Allamano, fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata, juntamente com a celebração da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, tornou possível que a voz da Amazônia e de seus povos, a voz das periferias, estivesse presente em várias instituições italianas e vaticanas. O apoio do Papa aos Yanomami Uma dessas reuniões aconteceu no Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, onde a voz da Terra Indígena Yanomami foi levada por um de seus líderes, Julio Ye’kwana. Foi nesse território, na Missão Catrimani, onde os Missionários e as Missionárias da Consolata estão presentes desde 1965, que aconteceu o milagre que levou a Igreja Católica a reconhecer a santidade de São José Allamano em 20 de outubro de 2024, Dia Mundial das Missões. No final das canonizações, o Papa Francisco disse: “O testemunho de São José Allamano nos lembra da necessidade de cuidar das populações mais frágeis e vulneráveis. Penso em particular no povo Yanomami da floresta amazônica brasileira, entre cujos membros ocorreu o milagre ligado à canonização de hoje. Faço um apelo às autoridades políticas e civis para que garantam a proteção desses povos e de seus direitos fundamentais e contra qualquer forma de exploração de sua dignidade e de seus territórios”. Tornar conhecido o sofrimento desses e de outros povos, dentro e fora do Brasil, é o caminho para que sua dignidade seja reconhecida e respeitada. Grave crise na Terra Indígena Yanomami Os Yanomami vêm sofrendo, especialmente desde 2019, com a precariedade de suas condições de vida, o que levou à morte por causas evitáveis de mais de 500 crianças com menos de 4 anos de idade. Tudo isso é consequência do garimpo ilegal, que desmatou a floresta, poluiu os rios com mercúrio, aumentou as doenças e levou a fome ao território, o que foi confirmado de várias maneiras. Situações que levaram o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral a apoiar e acompanhar os povos indígenas na defesa de sua cultura, língua e saúde, algo em que sempre contaram com o apoio do Santo Padre. O Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral está empenhado em levar a Roma a voz dos povos indígenas, dos migrantes, das periferias. Eles estão presentes nos territórios para escutar os clamores do povo, algo que consideram um presente e um processo a ser continuado. Não se pode ignorar que a Igreja Católica tem uma forte influência na defesa dos direitos humanos em nível internacional. Isso é fortalecido quando esse trabalho é realizado em uma rede, em conjunto, por meio de alianças entre territórios e bispos, de forma sinodal. Por essa razão, o dicastério se oferece aos territórios como uma presença no território para influenciar, discernir e servir. Realidade da Terra Indígena Yanomami Os participantes da reunião ouviram de Julio Ye’kwana a realidade da Terra Indígena Yanomami, demarcada em 1992, onde vivem 33.000 indígenas em 350 comunidades. É um território que atravessa as fronteiras entre Brasil e Venezuela, pois para os indígenas não há fronteiras. A situação é dramática devido ao garimpo ilegal, que tem ferido a terra e os povos indígenas, que estão sendo constantemente corrompidos. Soma-se a isso o fato de que, no Brasil, os povos indígenas sofrem com a ameaça do Marco Temporal, claramente inconstitucional, que os mobilizou em uma luta contra. O Pe. Corrado Dalmonego, missionário e antropólogo da Consolata, que viveu por muitos anos entre os Yanomami na Missão Catrimani tem realizado um trabalho de pesquisa e desenvolvimento. Ele reconhece a redução da presença de garimpeiros e vê a necessidade de reativar as bases da proteção etno-ambiental. Denuncia também que a mortalidade infantil e a desnutrição, embora reduzidas, continuam, pois falta capilaridade e regularidade nos serviços de saúde. Ressalta ainda que, uma vez que a terra e os rios estejam contaminados pelo mercúrio, não será possível retornar ao território, pois a população sofrerá problemas neurológicos. O missionário entregou material sobre os Yanomami aos membros do Dicastério, solicitando que encontrassem canais para rastrear o ouro que sai da Terra Yanomami para vários países. O trabalho do CIMI Diante da situação dos povos indígenas, a Igreja no Brasil criou o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), como lembrou o arcebispo de Porto Velho e ex-presidente do CIMI, Dom Roque Paloschi. Dessa forma, ele destacou o trabalho de Dom Erwin Kräutler e de Dom Luciano Mendes de Almeida para que a Constituição Brasileira de 1988 reconhecesse os direitos indígenas. Da mesma forma, o Relatório de Violência contra os Povos Indígenas que o CIMI produz todos os anos.  O bispo, que já pastoreou a Igreja de Roraima, definiu a Missão Catrimani como resultado do Concílio Vaticano. Do Dicastério, seu prefeito, o cardeal Michael Czerny, insistiu que sua missão é “acompanhar e ajudar se necessário”, questionando como podem ajudar e pedindo que sejam mantidos informados sobre o trabalho que está sendo realizado na Amazônia e, assim, compartilhar essas boas práticas. Os povos indígenas estão organizados Nesse sentido, o Arcebispo de Manaus e Presidente do CIMI, Cardeal Leonardo Steiner, refletiu sobre a preocupação de todos os governos com sua imagem, algo que não aconteceu com o governo brasileiro anterior. Em seu discurso, ressaltou a importância das palavras do Papa no Angelus em apoio aos Yanomami, como algo importante para os povos indígenas, pois repercutem em todo o mundo.  O Cardeal Steiner agradeceu ao Dicastério por seu apoio e pediu apoio contínuo em termos de cultura, língua e saúde, enfatizando que “sempre contamos com o apoio do Santo Padre”. Ele também enfatizou que os povos indígenas estão bem organizados: com advogados, enfermeiros, criando consciência de seus direitos. Um grande desafio, porque “existe a possibilidade de que os povos desapareçam”, especialmente por causa do mercúrio. A Ir. Sofia Quintans Bouzada agradeceu ao Dicastério por “levar a Roma a voz dos povos indígenas, dos migrantes, das periferias”, convidando seus membros a irem aos territórios, escutar os clamores e levar seus sentimentos a Roma.  Ela reafirmou as palavras sobre a influência da Igreja Católica em termos de direitos humanos em nível…
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Imagem de Nossa Senhora da Amazônia entregue ao Papa Francisco expressa gratidão pelo seu carinho

A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade conta com a participação de dois representantes da Amazônia brasileira, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, que é membro do Sínodo, eleito pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e o jesuíta nascido em Manaus, padre Adelson Araújo dos Santos, professor da Universidade Gregoriana de Roma, que é um dos facilitadores. Papa Francisco envia uma benção à Igreja da Amazônia Em um dos intervalos da assembleia, os dois entregaram ao Papa Francisco uma imagem de Nossa Senhora da Amazônia, enviada por uma comunidade de Manaus que a tem como padroeira. A imagem revela os traços caboclos e indígenas próprios do povo da Amazônia, segundo explicou a Santo Padre o cardeal Steiner, agradecendo-lhe em nome de todos os católicos da Amazônia pelo apoio, pelo amor, pelo carinho que ele tem pela região amazônica. Um presente que o Papa Francisco agradeceu enviando uma benção para a comunidade que enviou a imagem e para todas as comunidades da Igreja da Amazônia. Esse carinho do Papa Francisco pela Amazônia e pelos povos que habitam a região é algo evidente. Ao longo do seu pontificado tem manifestado essa proximidade, uma atitude iniciada nos primeiros meses de seu papado. No encontro com o episcopado brasileiro com motivo da Jornada Mundial da Juventude de Rio de Janeiro em 2013, ele definiu a Amazônia “como teste decisivo, banco de prova para a Igreja e a sociedade brasileiras”. Uma presença diferente da Igreja na Amazônia Segundo o Papa, “a Igreja está na Amazônia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área”. Naquela ocasião, Francisco chamou, inspirado no Documento de Aparecida, a “salvaguardar toda a criação que Deus confiou ao homem, não para que a explorasse rudemente, mas para que tornasse ela um jardim”. Igualmente, ele falou da importância de cuidar da formação do clero autóctone, em vista de consolidar o “rosto amazônico” da Igreja. Essas dinâmicas cobraram maior relevância com o decorrer do tempo, especialmente com o Sínodo para a Amazônia, que realizou sua Assembleia Sinodal cinco anos atrás, em outubro de 2019, e que muitos consideram de particular importância para o momento histórico que a Igreja está vivenciando no atual processo sinodal. De fato, o discurso do Papa ao episcopado brasileiro pode ser considerado um primer impulso para os passos dados ao longo dos mais de 11 anos de pontificado.   Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1