“Iniciamos
o Ano Santo Jubilar na Solenidade da Sagrada Família”, disse o arcebispo de
Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, na catedral da Imaculada Conceição, na
homilia da celebração com que deu início o Jubileu da Esperança, que começo na
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios.
“Celebramos
a peregrinação da Família de Nazaré a Jerusalém, a experiência de Jesus, Maria e
José, unidos por um amor imenso e animados por uma grande confiança em Deus. Peregrinam
para a cidade santa, participam da festa da Páscoa e Jesus permanece no templo
a dialogar e discutir com os mestres da Lei. No regresso da peregrinação, os
pais dão-se conta de que o filho de doze anos não está na caravana. Depois de
três dias de busca e de temor, o encontram no templo, sentado no meio dos
doutores, escutando e fazendo perguntas. Ao ver Jesus, Maria e José ‘ficaram
admirados’ e a Mãe manifestou a sua apreensão dizendo: ‘Teu pai e eu estávamos,
aflitos, à tua procura’”, afirmou o arcebispo.
“Na
peregrinação a Jerusalém, a aflição e a admiração! Nossa Senhora e José
passaram pela aflição; a aflição os levou à procura e ao encontro. A ‘aflição’
pela perda, pelo desencontro, aflição, pois pai e mãe. Maria e José tinham
acolhido aquele Filho, dele cuidavam e viam crescer em estatura, sabedoria e
graça no meio deles. A maternidade e a paternidade, fez crescer o afeto, o amor
em relação a Jesus. Ele era o filho amado. A família de Nazaré fez-se sagrada,
pois voltada, centrada em Jesus. Dessa relação amorosa nasce a aflição:
onde está, com quem está, vivo está?”, refletiu o presidente do Regional Norte1
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1).
Segundo
o cardeal Steiner, “a aflição pode advir de uma perda, de uma desorientação, de
não encontrar a quem se ama. Vivemos num tempo de situações dramáticas que
causam tanta aflição: as guerras, a violência, a fome, a orfandade, os abusos, a
desilusão da migração. Tantas situações de aflição por que passam as famílias.
Quantas procuras sem encontrar o templo como lugar do reencontro. Mas sempre na
esperança!”
Ele
disse que “aquela aflição que eles sentiam nos três dias em que perderam Jesus,
deveria ser também a nossa aflição quando estamos distantes de Jesus.
Deveríamos sentir aflição quando esquecemos a Deus por mais de três dias, sem
rezar, sem ler a Sagrada Escritura, sem sentir a necessidade de ser sua
presença e da sua amizade consoladora. Deveríamos sentir aflição no
distanciamento de Deus e dos irmãos.”
“É
a admiração a provocar, o despertar para a esperança”, ressaltou o arcebispo. Segundo
ele, “na família de Nazaré havia ‘admiração’; nem mesmo a perda de Jesus,
deixou de causar admiração. Admiração: ‘todos os que ouviam o menino estavam
maravilhados com sua inteligência e suas respostas’”. O cardeal Steiner lembrou
as palavras de Papa Francisco na festa da Sagrada Família de 2018, onde também
pergunta e responde: “Mas que significa admiração, que significa ficar
maravilhado? Ficar admirado e maravilhar-se é o contrário de dar tudo por
certo, é o contrário de interpretar a realidade que nos circunda e os
acontecimentos da história apenas conforme os nossos critérios. E quem faz isto
não sabe o que significa maravilhar-se, o que significa ficar admirado.
Admiração é elevação, alegria, receptividade. Admirar-se significa abrir-se aos
outros, compreender as razões dos outros. A admiração cura dos prejulgamentos,
dos pré-juízos. É indispensável para curar as feridas abertas no âmbito
familiar e comunitário. A admiração se dá conta da bondade, das qualidades, dos
afetos e acolhida.”
“A sagrada família, as
nossas famílias! Como são animadoras as palavras da Carta aos Colossenses:
somos amados por Deus, somos os seus eleitos. Somos, insistentemente,
convidados a revestir-nos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão e
paciência, sendo suporte uns para com os outros. Amar-nos uns aos outros; viver
na paz, na gratidão, ajudar-nos na benevolência da sabedoria. Tudo para que as
relações familiares sejam fecundas e frutuosas, cheios de liberdade e
sabedoria. Como é admirável e desafiador a vida em família, pois é ali que
crescemos na nossa humanidade e na nossa divindade”, sublinhou.
O
cardeal Steiner recordou que “iniciamos, hoje, na Arquidiocese o Ano Jubilar da
Esperança! O Jubileu será tempo da esperança! ‘A esperança não decepciona’,
indica o caminho de seguirmos a Jesus! Nossas comunidades eclesiais, movimentos
e comunidades de vida, pastorais, serviços e organismos, vocações e
ministérios, todos animados na esperança, pois mantemos os olhos fixos em Jesus.
Tendo como horizonte o Reino de Deus, nossa esperança, nos empenhamos pela vida
em plenitude para toda realidade criada. A nossa confiança em Jesus, que veio ‘para
que tenham vida, e a tenham em abundância’ (Jo, 10,10).”
Explicando
o Jubileu, o arcebispo disse que “o Ano da Esperança, convida a redescobrir a
alegria do encontro com Jesus, pois somos chamados a uma renovação espiritual e
compromete-nos na transformação do mundo, para que este se torne
verdadeiramente um tempo jubilar: que seja assim para a nossa mãe Terra,
desfigurada pela lógica do lucro; que seja assim para os países mais pobres,
sobrecarregados de dívidas injustas; que seja assim para todos aqueles que são
prisioneiros de antigas e novas escravidões. A esperança cristã é precisamente
o “algo mais” que nos pede para avançarmos e nos deixarmos encontrar por Jesus,
o nascido em Belém, e pelos irmãos e irmãs que mais necessitam. Discípulas e discípulos
do Senhor, somos convidados a encontrar em Jesus a nossa maior esperança e a
levá-la sem demora, como peregrinos de luz nas trevas do mundo”, lembrando as
palavras de Papa Francisco na Abertura do Ano Santo 2025.
“O
Ano Jubileu é uma ocasião privilegiada para a experiência do amor
misericordioso de Deus e da mesma forma, nos dá a oportunidade para superarmos as
marcas do pecado que enfraquecem nossas relações. Ano da Esperança, tempo de
conversão! A Indulgência Jubilar, a experiência da misericórdia sem limites,
nos dá a possibilidade de alcançarmos o perdão e evitar que os efeitos do
pecado deixem suas marcas na nossa história pessoal e eclesial. Façamos a
experiência da compaixão e da misericórdia de Deus para conosco neste ano da
Esperança”, disse o cardeal.
Segundo
ele, “Jesus é a nossa esperança, Ele a expressão da Misericórdia do Pai, pede
que sejamos sinais de esperança. Somos, na solenidade da Sagrada Família, na
abertura do ano da Esperança, convidados a gestos humildes e simples de
acolhimento e de perdão. O cuidado mútuo e a entrega tornam-se fundamento de
uma relação madura, sólida e suave. Uma vida madura, sólida e de sabedoria.”
O
presidente do Regional Norte1 pediu que “as nossas comunidade e famílias possam
ser o lugar de encontro com Deus, espaço do amor que impulsiona e revigora. Oferecer
gestos, palavras e silêncio que são boa notícia, que edificam, transformam,
maturam, iluminam esperança. As comunidades e as famílias podem ser lugar da
superação dos desertos, da secura, da solidão, pois lugar do aconchego, da
acolhida, da oração. Na comunidade, na família se faz a experiência da pertença
do Reino de Deus, caminho da terra da promessa, da liberdade, iluminado pela
esperança que não decepciona.”
“A
Esperança, visibilizada nas obras de misericórdia, visibilizada nas pastorais
sociais da Arquidiocese, principalmente no que diz respeito às populações em
situação de rua, aos encarcerados, aos migrantes, aos idosos, às pessoas com
deficiência e aos povos originários. Esperança visibilizada na inauguração da
Casa da Esperança como marco de atenção aos pequenos, vítimas de abusos e
outras agressões”, enfatizou o arcebispo.
Ele
insistiu em que “assumamos, irmãs e irmãos o dom e o
compromisso de levar a esperança onde ela se perdeu: onde a vida está
ferida, nas expectativas traídas, nos sonhos desfeitos, nos fracassos que
despedaçam o coração; no cansaço de quem já não aguenta mais, na solidão amarga
de quem se sente derrotado, no sofrimento que consome a alma; nos dias longos e
vazios dos encarcerados, nos aposentos estreitos e frios dos pobres, nos
lugares profanados pela guerra e pela violência. Levar esperança nestes
lugares, semear esperança nesses locais. Levantar o estandarte da Esperança:
Deus nasceu, Jesus vive como ressuscitado no nosso meio”, inspirado nas
palavras de Papa Francisco na Abertura do Ano Santo 2025.
Finalmente, o cardeal
Steiner fez um chamado para que “rezemos por todas a famílias, especialmente
por aquelas nas quais, por vários motivos, falta a paz, a harmonia, chegou a
desesperança. Hoje louvamos a Deus pela família Igreja de Manaus que peregrina
na esperança. Com a aflição e a admiração da proteção da Sagrada Família de
Nazaré celebremos nosso ano jubilar, oferecendo a esperança a todos os irmãos e
irmãs necessitadas no corpo e no espírito. Viemos da celebração do nascer da
Criança de Belém que se fez nossa esperança. Sabemos que a Esperança não
decepciona. Amém!”